Edital Primeira Infância – Oportunidade e Mobilização para o Acolhimento

Lançado pelo Fundo Baobá para Equidade Racial, em parceria com a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, a Porticus América Latina e Imaginable Futures, o Edital Primeira Infância no Contexto da Covid-19 estabeleceu regras para a realização de doações emergenciais com valores de R$ 2.500,00 a R$ 5.000,00.

 Foram consideradas propostas para seis tipos de ações de apoio às famílias com crianças de 0 a 6 anos e em situação de vulnerabilidade socioeconômica. As iniciativas deveriam ser implementadas entre os meses de novembro de 2020 e janeiro de 2021. 

Pessoas físicas atuantes nas áreas de saúde, educação e assistência social puderam optar entre ações: para o cuidado integral de crianças nessa faixa etária; de suporte biopsicossocial de mulheres ou adolescentes grávidas ou puérperas; ações voltadas para homens responsáveis ou corresponsáveis pelo cuidado integral das crianças na primeira infância; de apoio a adultos responsáveis por zelar e preparar os pequenos, para os desafios presentes e futuros. Outras duas possibilidades foram: iniciativas de prevenção à violência intrafamiliar e doméstica contra mulheres, idosos, crianças e adolescentes de famílias que tivessem em seu núcleo meninos e meninas de até seis anos, e ações de assistência à essas vítimas. 

E não é que surgiram candidatos para atuar em todas as frentes? Profissionais como Edaildes Aparecida Rocha, de 51 anos. Formada em Serviço Social e com especialização na área da saúde, ela previu os impactos negativos que os protocolos de isolamento poderiam causar à saúde e à segurança da população carente de Cotia, São Paulo, e de localidades vizinhas.

Projeto da Edaildes Aparecida Rocha – Cotia (SP)

Ela envolveu outros especialistas em saúde e psicologia, definiu o público-alvo, traçou um cronograma de atividades, distribuiu cartões de atendimento e impactou (direta e indiretamente) 101 pessoas, por meio de atendimentos psicológico, oftalmológico, ginecológico e dentário, em pelo menos três unidades de saúde da região. Fora a oferta de kits de higiene para os pacientes e a entrega de cestas básicas mensais. 

Parte do trabalho ocorreu de forma remota, com o envio de vídeo e folder informativos sobre saúde e a importância da família. O maior desafio, segundo ela, foi lidar com a equação: tempo versus resultados.

Projeto da Edaildes Aparecida Rocha – Cotia (SP)

“Pacientes e seus núcleos familiares trouxeram questões complexas, como ansiedade, luto, violência sexual e doméstica, a serem resolvidas num curto espaço de tempo. Se fez necessário acompanhamento semanal com eles, além de intervenções para elevar a autoestima, cuidados para com o corpo, a mente e o espírito”, conta.

Edaildes pensou em detalhes para fidelizar os atendimentos: lembretes eletrônicos, chamando para as consultas; lanchinhos para recepcionar os pacientes, doces e cartões como presentes de Natal para as famílias. 

Projeto da Edaildes Aparecida Rocha – Cotia (SP)

“Muitas vezes o paciente chegava triste, cheio de dores e angústias, mas após algumas sessões se mostrava sorridente e fortalecido. Ouvi relatos de pessoas que aguardavam pela consulta uma vez por semana e que passaram a dormir melhor. Isso não tem preço.” 

Também não é possível precificar o bem-estar que Aristanan Pinto Nery da Silva, 35, proporcionou a cerca de 300 famílias do Distrito de Pataiba, em Água Fria, Bahia.

“Sou servidor municipal na área da saúde, categoria endemias, e sei da real necessidade de ações para a primeira infância e para a proteção humana, na localidade onde atuo”, comenta.

Aristanan Pinto Nery da Silva – Distrito de Pataiba (BA)

A verba do edital permitiu que Aristanan e uma equipe de profissionais – envolvendo professores, mobilizadores culturais e sociais – ampliassem um projeto que já vinham realizando de forma remota: a Rede de Articulação e Mobilização no enfrentamento ao Covid-19, com recorte para a primeira infância.

“Mobilizamos as pessoas pelas redes sociais e a primeira ação executada, no período de novembro a dezembro, foi a distribuição de kits de higiene contendo máscaras, álcool em gel e folders informativos. Também enviamos cartilhas virtuais com temáticas voltadas para a saúde e a educação de crianças de 0 a 6 anos durante a pandemia”. 

Projeto de Aristanan Pinto Nery da Silva – Distrito de Pataiba (BA)

As redes sociais também foram o caminho para compartilhar oficinas de contos virtuais e promover uma significativa ação de enfrentamento à Covid-19: o seminário virtual “Proteção da Primeira Infância em Tempos de Pandemia”. 

“Contamos com a presença de Emerson Almeida, ex-coordenador do Programa Primeira Infância em Água Fria, e de Adailton de Cerqueira, presidente do CMDCA em Biritinga. Transmitimos ao vivo pelo Facebook, oscilando entre 10 e 15 participantes. Mas com os acompanhamentos, calculamos o alcance de 50 pessoas. O momento foi de orientação e troca de experiências relacionadas à contaminação pelo novo coronavírus e violações sofridas pelas crianças no isolamento.”

Imagens do seminário virtual “Proteção da Primeira Infância em Tempos de Pandemia”

Os participantes do Edital Primeira Infância deveriam executar as propostas preferencialmente no ambiente virtual, reduzindo as chances de disseminação do novo coronavirus nas comunidades envolvidas. Um desafio que Lela Queiroz, 57, assumiu para nunca mais esquecer.

Coordenadora do Projeto de Pesquisa e Extensão interação cognitiva BMCª (Body Mind-Centering) na Escola de Dança da UFBA, ela desafiou a si mesma e moradores de duas comunidades quilombolas e de uma aldeia indígena Tupinambá, na Bahia, com duas tarefas remotas: realizar duas oficinas de brinquedos eco sustentáveis para crianças de 0 a 2 anos em três semanas, a tempo de serem entregues às crianças no Natal, e coletar cantorias originais (indígenas e africanas) que pudessem acompanhar o brincar da criança com esses objetos.

Projeto de Lela Queiroz de BMC e Bebê – Aldeia Tupinambá (BA)

Não se tratava de uma gincana, mas de um projeto que também contemplava a educação parental, desenvolvendo nos adultos a visão do protagonismo da criança no seu próprio desenvolvimento integral. Para ela ser feliz primeiro.

Para a missão, ela escalou três multiplicadores:

 “Eu e outra desenvolvedora do projeto, pesquisamos materiais de baixa tecnologia, de baixo custo e que não oferecessem riscos às crianças. Substituímos facas e estiletes por tesouras, por exemplo. Nós orientamos os multiplicadores através de um grupo no WhatsApp (o Baobá Tronco) e eles por sua vez replicaram as tarefas para as famílias cadastradas nas suas respectivas comunidades, também por meio de um grupo (o Baobazinho), no mesmo aplicativo de mensagem. As famílias então montavam as peças em suas casas”, explica Lela.

Equipe de colaboradores do Projeto BMC e Bebê – Aldeia Tupinambá (BA)

“Os recursos do Fundo Baobá serviram para compra de material e para subsidiar as ações. As comunidades então criaram uma linha de brinquedos de 0 a 2 anos, mas o objetivo final era fomentar a produção no futuro, replicando os modelos em maior escala, para crianças de até 4, vendendo esses brinquedos on-line, em feiras, distribuindo em escolas etc”.

Confeccionados papelão, garrafas pet e sementes, os brinquedos deveriam sons suaves que remetessem ao xequerê (instrumento musical de percussão africano) e ao pau-de-chuva (instrumento musical idiofônico indígena), para não abalar o sistema nervoso da criança.  Os bebês precisam do estímulo auditivo e a oficina levou esse entendimento para as famílias. 

Projeto de Lela Queiroz de BMC e Bebê – Aldeia Tupinambá (BA)

“O projeto extrapolou as comunidades, ganhou um canal no YouTube onde mais de 100 pessoas se inscreveram para acompanhar as oficinas de instrumentos. Nas comunidades calculamos ter impactado de 20 a 30 pessoas.”, diz Lela. 

“Foi lindo, mas foi difícil. Fizemos um mês de prospecção junto aos agentes em comunidades e após escuta e seleção de sete comunidades, somente três encontraram jeito de participar. Os desafios foram desenvolver todo o escopo da ação do projeto on-line, com a outra ponta sem acesso à internet por dificuldades ligadas a transmissão em áreas remotas, falta de equipamentos e de wifi, falta de condições tecnológicas associado à falta de compreensão ou entendimento. Mas as comunidades adoraram. Plantamos uma sementinha”.

Conheça o projeto BMC e Bebês

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