Edital Primeira Infância valorizou a autoestima de mães periféricas

Por Eliane de Santos

Em dezembro de 2019 a assistente social Aline Brauna dos Santos, de 33 anos, deu à luz João Artur, um bebê forte e saudável. Era o seu primeiro filho, mas o período de gestação foi difícil:

“Senti as mudanças no corpo e na mente, além de uma grande necessidade de suporte biopsicossocial, para mim e minha família. Optei pela gravidez independente e com isso tive muitas críticas. Por alguns momentos ficava triste e cheia de dúvidas.”

Aline é assistente social, mora em Freixeiras, na cidade de Paracuru, Ceará. Quando descobriu o Edital Primeira Infância,  lembrou-se da própria experiência complexa com a maternidade e pensou nas aflições de muitas mães e futuras mamães, agravadas pelo contexto da Covid-19:

“A minha localidade tem muitas gestantes em situação de vulnerabilidade social. Minha amiga e vizinha tinha comentado de fazermos um projeto para distribuir roupas para recém-nascidos. Com o apoio do Fundo Baobá realizamos o nosso sonho”, comemora.

Projeto de Aline Brauna dos Santos – Paracuru (CE)

Esse é o espírito do edital, lançado em parceria com a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, a Porticus América Latina e a Imaginable Futures: selecionar iniciativas de apoio às famílias que, em seu núcleo, tenham mulheres e adolescentes grávidas, mulheres que deram à luz e homens responsáveis e corresponsáveis pelo cuidado de crianças de 0 a 6 anos.

Aline formou uma equipe que de novembro de 2020 a janeiro deste ano confeccionou e distribuiu fraldas, roupinhas e sapatinhos de bebê para 100 gestantes cadastradas.  As mesmas puderam participar de ao menos oito lives com enfermeiro, psicólogo e nutricionista, entre outros profissionais da saúde.

Uma das lives realizadas pelo Projeto de Aline Brauna dos Santos – Paracuru (CE)

O projeto também olhou para 50 meninos e meninas, dando suporte às suas famílias e divulgando os direitos dos pequenos em outros dois encontros simultâneos.

“As crianças merecem os cuidados primordiais nesta fase da vida, com este projeto fomentamos esses direitos, também para as gestantes e parturientes.”

Projeto de Aline Brauna dos Santos – Paracuru (CE)

 

Apostando no trabalho social como ferramenta para a construção de uma sociedade mais igualitária, Thays Fernanda da Silva, 31, assistente social de formação, com especialização em Saúde Pública e Sanitarismo, buscou as doações do edital em prol de 25 gestantes do bairro do Prado, na comunidade Sítio do Berardo; em Recife, Pernambuco.

Projeto da Thays Fernanda da Silva – Sítio do Berardo, em Recife (PE)

“Por quase dez anos atuei como agente comunitária de saúde e sempre atendi esses grupos populacionais, realizando visitas domiciliares, ações de promoção à saúde, palestras etc. Uma experiência que me mostrou o quanto as mulheres e adolescentes grávidas e puérperas são fragilizadas por diversas questões – do fator socioeconômico ao sofrimento psicológico, com o abandono paterno ou familiar. Atualmente, trabalho como Conselheira Tutelar e também observo o grande número de grávidas que pedem ajuda. Agora,  ainda mais desprotegidas com a pandemia”, conta.

Projeto da Thays Fernanda da Silva – Sítio do Berardo, em Recife (PE)

Thays conseguiu parceiros e criou o projeto Acolher Gestante, que ao todo impactou 82 pessoas, direta e indiretamente, com atendimentos individualizados (presenciais e remotos), diálogos sobre gestação em tempos de pandemia; e a entrega dos enxovais:

“Amigos me ajudaram. Tivemos ainda uma psicóloga e a parceria de uma assistente social da Ong CCB-Social, que nos cedeu um espaço para a entrega dos enxovais e um laboratório de informática para as atividades on-line. Manter as mulheres conectadas foi o maior desafio, porque nem todas tinham aparelho celular, tablet ou computador próprio. Algumas sequer sabiam manuseá-los e lidar com a internet. Mas, sem dúvida,  repetiria a experiência. E desejo participar de outros editais aprimorando essas ideias ou executando novas.”

Projeto da Thays Fernanda da Silva – Sítio do Berardo, em Recife (PE)

Se é nos momentos de dificuldade que surgem as melhores oportunidades, Marlise Silva Lemos, 34, estava atenta e viu na iniciativa do Fundo Baobá a chance de fortalecer a trajetória de 11 mulheres negras moradoras de territórios de extrema pobreza: os bairros Restinga e Ponta Grossa, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

Projeto da Marlise Silva Lemos – Porto Alegre (RS)

Marlise é psicopedagoga, possui habilitação clínica e institucional, além de experiência com trabalhos sociais. Ela trabalha para uma Organização da Sociedade Civil, coordenando um serviço de convivência para crianças em situação de violência. A partir do edital, ela sentiu-se estimulada a ampliar sua atuação, alcançando também as mães:

“Refleti sobre a trajetória de inúmeras mães solteiras, que ficam diante dos dilemas e anseios inerentes à maternidade; mulheres expostas a diferentes cenários de violência e violações. Realizamos com elas três encontros presenciais nos quais trabalhamos temáticas referentes à maternidade e ao desenvolvendo infantil na primeira infância, mais atividades práticas em um curso de culinária saudável”, enumera, lembrando que as práticas ocorreram em locais abertos. Nas aulas de culinária, especificamente no momento de uso do forno, houve um revezamento entre as participantes.

Projeto da Marlise Silva Lemos – Porto Alegre (RS)

E desses momentos, aliás, saíram fornadas generosas de esperança. O Natal estava se aproximando e duas mulheres produziram e comercializaram panetones, com os conhecimentos adquiridos nas aulas. Uma delas atualmente já comanda um quiosque de lanches.

A despedida do grupo ocorreu no dia 06 de janeiro e Marlise pôde medir o sucesso do projeto:

“As participantes demonstraram em palavras e empenho o quanto se sentiram beneficiadas e valorizadas. Eu certamente repetiria a experiência, considerando o impacto extremamente significativo para a sociedade, a ampliação das minhas capacidades enquanto profissional”, avalia.

Lindos panetones feitos através do Projeto da Marlise Silva Lemos – Porto Alegre (RS)

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