Fingir que nada está acontecendo não adianta. Promover Justiça Social e Equidade Racial é um imperativo de consciência

“Se eu fechar a janela do meu carro, que tenha um vidro muito escuro, isso não me atinge. Se eu mudar de bairro, isso também não me atinge”. Com esta fala, Selma Moreira, diretora-executiva do Fundo Baobá para Equidade Racial, iniciou a quarta e última mesa do evento, cujo tema foi: “Juntos por uma sociedade justa e sem racismo!”

Selma Moreira – Diretora Executiva do Fundo Baobá para Equidade Racial

A diretora se referia aos negros, especialmente, e aos excluídos que, por séculos, foram mantidos à distância dos olhos e das políticas públicas que dão acesso a direitos fundamentais e essenciais. Segundo ela, a sociedade brasileira é composta por diversas populações e se, individualmente, as pessoas pensarem que uma determinada parte pode evoluir e conseguir acesso e pleno direito à saúde, à educação, ao emprego e à justiça, e o restante se não conseguir, está tudo bem é preciso lembrar que “o restante não é o restante, pois falamos de 56% do povo brasileiro”, completou.

Selma Moreira destacou ainda que aquele encontro fora pensado justamente para construir alianças para que todos os envolvidos ali contribuíssem na consecução da missão do Fundo Baobá, que é exclusivamente fortalecer lideranças, organizações, grupos e coletivos negros. “Vocês já sabiam e hoje puderam ouvir diferentes sujeitos que, juntes, podem fazer mais e melhor”. 

Na sequência, Laura Martini Zellmeister, oficial de Programa da JP Morgan Chase Foundation para a América Latina, assumiu a palavra. Em sua apresentação, destacou que o evento foi de muito aprendizado e trocas. Explicou que, quando se fala de equidade racial, o tema é urgente, uma dívida. 

Ela aproveitou para contar a experiência da J.P. Morgan Chase Foundation que,   embora mantivesse projetos apoiados, com participantes negros, especialmente no campo da empregabilidade, não tinha programas exlcusivamente voltados para eles. “Há três anos, tivemos o olhar para perceber que não é uma questão estratégica, mas estrutural. Então, estabelecemos uma parceria com a Faculdade Zumbi dos Palmares e a Febraban. Foi um programa específico para jovens negros com foco nos setor financeiro e apoio à empregabilidade”, destacou. 

Laura Martini Zellmeister – Global Philanthropy Associate, covering Latin America

Foi tão sob medida, que o processo seletivo foi pensado e desenhado para a(o) jovem negro(a). “Muitos deles, que depois entraram no banco e se tornaram analistas, falaram que se inscreveram no programa porque se sentiram chamados e porque aquele era um espaço para eles”. 

A pauta da equidade racial, segundo Laura Zellmeister, não tem dono. É uma questão coletiva, que precisa envolver organizações do Terceiro Setor, iniciativa privada e governo. “Nesse contexto, demos uma série de passos e agora, mais recentemente, começamos a trabalhar com projetos para olhar resultados de impacto e empregabilidade, com questões como: os jovens negros estão tendo os mesmos resultados e permanência no emprego que os jovens brancos?”, indagou.

Para ela, uma das parcerias mais exitosas, entre todas estabelecidas com a fundação, foi com o Fundo Baobá. Ator de longa data de vários projetos, recebeu aporte do J.P. Morgan em seu fundo patrimonial quando o banco investiu mundialmente depois da morte do americano George Floyd.

“Com a morte de Floyd e a Covid-19 houve um grande impacto e as empresas estabeleceram uma aliança para fazer doações a várias organizações nos Estados Unidos, em outros mercados e no Brasil. Aqui, optamos pelo Fundo Baobá por estar cem por cento focado na questão da equidade racial”, alega. “Para nós, é muito importante saber que esses recursos serão usados por muitos anos para causar impacto na vida de pessoas e organizações.” 

Sua fala foi encerrada com um chamado para que as pessoas unissem talentos, investimentos e tempo, de forma intencional e coordenada, a favor da filantropia para a justiça e a equidade racial. 

Selma Moreira encerrou a mesa agradecendo todas as presenças e participações. Disse estar especialmente feliz e tocada com o diálogo estabelecido ali. “Venho de uma trajetória da iniciativa privada e faço parte do Fundo Baobá desde 2014. Tem sido uma trajetória muito desafiadora. Este é um lugar de muitas conquistas e desafios.” Confirmou que o racismo é um tema difícil para quem é negro e para quem não é. Mas, pretos e pardos, além de acharem o tema difícil, vivem essa realidade em seu dia a dia. Por isso, a importância de construir caminhos. “Vimos, este ano, tanta coisa acontecendo de maneira tão evidente, e não dá mais para fingir que não aconteceu ou não é com a gente.”

Selma explicou que, com essa divisão desigual, não tem economia nem país que se sustente. “A sociedade civil está correndo, as organizações do movimento negro estão correndo, mas a gente não dá conta de cuidar disso tudo sozinho. Precisamos fazer juntos. Acho que é esse o convite. Esse é o chamado: precisamos de aliados”. Por isso, o Fundo Baobá está aberto a discutir, pensar caminhos e construir, junto com parceiros, soluções para a equidade. “Pode ser difícil, mas talvez seja porque nunca foi feito”, argumenta.

A diretora-executiva explicou que vivemos um momento em que a sociedade está acelerada com a Covid-19, a tecnologia e o ritmo rápido de mudanças. “Então, não é possível que a gente siga pensando que as temáticas relacionadas à promoção da equidade racial podem seguir outro modelo. Acho que hoje, aqui, todas as falas evidenciaram essa urgência e como é estratégica para termos um país mais justo e equânime”. Destacou a necessidade de construir alianças. “Hoje me senti parte de uma constelação, vendo e ouvindo essas estrelinhas que são parceiros e estão conosco nesta jornada. E isso já faz desse diálogo um canal de irmandade. Agradeço a todos pelo desejo de mudar este país para todo mundo.”

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