Primeiro ícone negro da imprensa brasileira, morre no Rio a jornalista Glória Maria

A jornalista Glória Maria, primeira repórter negra a ser conhecida e reconhecida nacionalmente no Brasil, morreu na manhã desta quinta-feira, 2 de fevereiro, no Rio de Janeiro. Glória estava internada desde o início deste ano para tratamento de complicações de um câncer de pulmão que atingiu o seu cérebro.

Glória Maria Matta da Silva era carioca de Vila Isabel e morou também no Méier. Filha de um alfaiate (Cosme Braga da Silva) e uma dona de casa (Edna Alves Matta), trabalhou como telefonista na Empresa Brasileira de Telecomunicação (Embratel) enquanto concluía seus estudos de Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio).

A jornalista iniciou sua carreira no Grupo Globo na função de radioescuta no ínício dos anos 1970. A radioescuta é uma função inicial básica da carreira. Como radioescuta, o profissional sintoniza, principalmente, as faixas utilizadas pela polícia para saber em primeira mão o que está ocorrendo e alertar a redação. Sua primeira grande reportagem ocorreu na queda do Elevado Paulo de Frontin, em 20 de novembro de 1971, há 51 anos. Com isso, ela se tornava a primeira repórter negra a aparecer no Jornal Nacional.

A partir daí, Glória passou a ser repórter obrigatória na cobertura dos principais fatos do cotidiano, da cultura, do esporte e da política do Brasil. Entrevistou inúmeras personalidades dos mais variados segmentos. Fez reportagens em visita a mais de 100 países. Tornou-se, também, uma personalidade nacional.

A menina negra, torcedora do Botafogo, que teve sua formação em escolas públicas, queria apenas ser jornalista e não tangibilizava a notoriedade que isso poderia trazer e que ela refutava. Enfrentou o racismo sempre de frente. Em 1981, por ser negra, foi impedida de entrar em um hotel em sua própria cidade. Não teve dúvidas. O ato racista virou matéria que foi para o ar no Jornal Nacional.

Em recente entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, ela foi questionada sobre mazelas que o racismo poderia ter causado nela. Glória respondeu: “Hoje, isso não dói. Nessa altura da vida, não posso sentir dor por conta do racismo quer está no outro. Ele que se corroa com seu racismo”.

Glória deixa as filhas Laura e Maria.

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