Primeiro ícone negro da imprensa brasileira, morre no Rio a jornalista Glória Maria

A jornalista Glória Maria, primeira repórter negra a ser conhecida e reconhecida nacionalmente no Brasil, morreu na manhã desta quinta-feira, 2 de fevereiro, no Rio de Janeiro. Glória estava internada desde o início deste ano para tratamento de complicações de um câncer de pulmão que atingiu o seu cérebro.

Glória Maria Matta da Silva era carioca de Vila Isabel e morou também no Méier. Filha de um alfaiate (Cosme Braga da Silva) e uma dona de casa (Edna Alves Matta), trabalhou como telefonista na Empresa Brasileira de Telecomunicação (Embratel) enquanto concluía seus estudos de Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio).

A jornalista iniciou sua carreira no Grupo Globo na função de radioescuta no ínício dos anos 1970. A radioescuta é uma função inicial básica da carreira. Como radioescuta, o profissional sintoniza, principalmente, as faixas utilizadas pela polícia para saber em primeira mão o que está ocorrendo e alertar a redação. Sua primeira grande reportagem ocorreu na queda do Elevado Paulo de Frontin, em 20 de novembro de 1971, há 51 anos. Com isso, ela se tornava a primeira repórter negra a aparecer no Jornal Nacional.

A partir daí, Glória passou a ser repórter obrigatória na cobertura dos principais fatos do cotidiano, da cultura, do esporte e da política do Brasil. Entrevistou inúmeras personalidades dos mais variados segmentos. Fez reportagens em visita a mais de 100 países. Tornou-se, também, uma personalidade nacional.

A menina negra, torcedora do Botafogo, que teve sua formação em escolas públicas, queria apenas ser jornalista e não tangibilizava a notoriedade que isso poderia trazer e que ela refutava. Enfrentou o racismo sempre de frente. Em 1981, por ser negra, foi impedida de entrar em um hotel em sua própria cidade. Não teve dúvidas. O ato racista virou matéria que foi para o ar no Jornal Nacional.

Em recente entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, ela foi questionada sobre mazelas que o racismo poderia ter causado nela. Glória respondeu: “Hoje, isso não dói. Nessa altura da vida, não posso sentir dor por conta do racismo quer está no outro. Ele que se corroa com seu racismo”.

Glória deixa as filhas Laura e Maria.

Aliança entre Fundos lança site oficial e infográfico com resultados da estratégia inédita no campo da filantropia para justiça social

A Aliança entre Fundos – iniciativa que reúne o Fundo Baobá para Equidade Racial, o Fundo Brasil de Direitos Humanos e o Fundo Casa Socioambiental – está lançando o site oficial (aliancaentrefundos.org.br) onde reúne as narrativas sobre os primeiros projetos apoiados pelo grupo em 19 estados brasileiros.  Também está disponível na página o infográfico “Aliança entre Fundos: uma nova proposta de filantropia colaborativa no país”. O documento mostra numa linguagem acessível resultados alcançados ao longo de 2022.

A nova página traz informações estratégicas para que investidores, parceiros/as e sociedade civil entendam como surgiu a iniciativa, o que motivou os 3 Fundos a estarem em aliança e qual o conceito de filantropia colaborativa tem norteado essas ações.

Também fortalece as narrativas dos quilombolas e indígenas, ampliando a visibilidade das ações e estratégias dos projetos apoiados para superar os obstáculos socioeconômicos agravados durante a pandemia da COVID-19. Os primeiros resultados podem ser conferidos no Infográfico disponibilizado no site.

Governança

Ao navegar pelo site da Aliança entre Fundos, entende-se o porquê esta iniciativa oferece um novo caminho para a governança colaborativa no campo da filantropia para a justiça social:  “esta ação colaborativa é inédita por colocar a colaboração como eixo estratégico desde a captação dos recursos financeiros até a governança a fim de alcançar eficiência e potencializar os resultados com foco na transformação social. Unidos no propósito de contribuir para a justiça social, racial e ambiental, criamos um modelo de governança, em constante aprimoramento, com base em esforços e resultados coletivos. Tudo pensado e implementado em conjunto, respeitando as singularidades de operação grantmaker de cada Fundo e a relação que temos com os donatários”, afirmam os 3 Fundos que compõem esta iniciativa.

De acordo com os Fundos, trata-se de uma proposta de longo prazo. “Num primeiro momento, elegemos trabalhar com povos indígenas e quilombolas, vislumbrando reduzir os danos e o impacto das desigualdades agravadas pela pandemia. Sabemos que caminhos colaborativos necessitam de tempo para sua construção; e esta pandemia não é a primeira e nem a última crise aguda que tem ameaçado o mundo e afetado de forma diferenciada essas populações, basta pensarmos no lugar que ocupam as necessidades e expectativas destes grupos na agenda de mudanças e justiça climática”, explicam.

Infográfico

O infográfico “Aliança entre Fundos: uma nova proposta de filantropia colaborativa no país”, disponível no site, mostra como o que foi construído pelos Fundos em aliança, as oportunidades geradas, as inovações e os investimentos. Também mostra o resultado de uma ação inédita de comunicação, liderada pelo Coletivo de Comunicação da CONAQ e Coletivo de Comunicação Mídia Índia. Respectivamente, esses coletivos representam os principais protagonistas da comunicação quilombola e indígena atualmente no país.

A Aliança entre Fundos surgiu em 2021 no âmbito da Rede de Filantropia para a Justiça Social, atualmente identificada como Rede Comuá. A ação estratégica e inovadora foi forjada nas trocas e diálogos entre os Fundos sobre os obstáculos e aprendizados surgidos no fortalecimento da agenda para justiça social durante a pandemia da COVID-19. Atualmente, a iniciativa apoia 78 projetos de comunidades quilombolas e povos indígenas localizados em 19 estados brasileiros.

Navegue no novo site www.aliancaentrefundos.org.br

Conheça o infográfico “Aliança entre Fundos: uma nova proposta de filantropia colaborativa no país” disponível aqui

Saiba mais sobre os Fundos que compõem esta aliança:

Fundo Baobá para Equidade Racial https://baoba.org.br/

Fundo Brasil de Direitos Humanos https://www.fundobrasil.org.br/

Fundo Casa Socioambiental https://casa.org.br/

Conversa com donatárias (os): Evidências da importância do Fundo Baobá na realização de sonhos

Por Ingrid Ferreira

Começar um novo ano é sempre um momento  de relembrar o que foi feito no ano que se passou e desenhar as perspectivas do que está por vir e, dentro de uma organização como o Fundo Baobá para Equidade Racial, isso não poderia ser diferente.  

A missão do Baobá de mitigar os impactos do racismo, ampliando oportunidades para o desenvolvimento da população negra, impõe à instituição uma atuação diversa, que vai do apoio a jovens estudantes para o acesso e permanência em universidades e organizações quilombolas em defesa de terra, direitos, renda, saúde e desenvolvimento sustentável. Apoio a organizações, grupos, coletivos, movimentos que atuam no enfrentamento ao racismo religioso e às injustiças raciais no sistema criminal até as pessoas negras que empreendem.  Compreender como, por meio de diferentes editais, o Fundo Baobá contribui para promover mudanças individuais e coletivas no ano que se findou, influenciando o presente e o futuro, é o objetivo desta matéria.  

Confira as entrevistas com donatárias e donatários dos editais Negros, Negócios e Alimentação; Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial e Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça, que foram lançados ou que tiveram sua execução iniciada em 2022.

Conte para nós sobre o seu negócio. 

Edital  Negros, Negócios e Alimentação

Rivaneza Silva – Dona Terra 

Rivaneza Silva – Dona Terra – Recife/PE

Somos a Dona Terra, produzimos alimentos fermentados com uso de técnicas ancestrais para enriquecimento nutricional e conservação dos alimentos, como a kombucha, requeijão vegetal fermentado, mel e melitos, iogurtes naturais, biomassa de macaxeira.

Manoelly Vera Cruz – Mamê Comidinhas 

Manoelly Vera Cruz – Mamê Comidinhas – Paulista/PE

MaMê surgiu em 2017, da necessidade de obter uma renda e participar da educação de meus filhos de perto. Começamos eu e Gabriel, meu filho mais velho, vendendo Brownies e bolos, depois seguimos acompanhando o calendário das festas e participando de feiras e eventos na região metropolitana do Recife. Atualmente a produção e administração da empresa é toda feita por mim. Confeccionamos itens da confeitaria tradicional pernambucana, entre outros produtos doces e salgados sob encomenda ou personalizados para venda em feiras e eventos.

Marileide Alves de Lima – Xêro Café e Arte 

Marileide Alves de Lima – Xêro Café e Arte – Olinda/PE

Trata-se de uma cafeteria que tem como proposta trazer um cardápio de comida afetiva, café especial e atendimento humanizado. Costumo dizer que a cafeteria Xêro Café é um lugar de carinho e afeto.

Isamara Costa Cruz – Acarajé da Tia Joana 

Lucivânia (tia Joana) – Fundadora do Acarajé da Tia Joana  – Recife/PE

O Acarajé da Tia Joana é uma empresa familiar, localizada no bairro da Madalena no Recife. Ele foi fundado há mais de 20 anos pela minha mãe Lucivânia (mais conhecida como tia Joana), na praça da Várzea. Força inspiradora para que eu conquistasse espaços que antes eu achava que não poderia. Mulher negra, recém separada e com dois filhos para criar. Após uns 4 anos, ela recebeu um convite para se mudar para o bairro da Madalena, onde trabalhou mais de 15 anos sozinha. Em 2018, perto de concluir a graduação em Engenharia de Produção, decidi aplicar meus conhecimentos para continuar o legado de minha mãe.

Maria da paixão de Brito – Capibaribe Doces e Salgados 

Maria da paixão de Brito – Capibaribe Doces e Salgados – São Lourenço da Mata/PE

O meu  projeto  é o Capibaribe  Doces  e Salgados. Começou  com a venda de lanches  na  rua, mas logo as solicitações de encomendas passaram a ser feitas, então a partir desse desejo dos meus clientes, eu fui me aprofundando  e estudando para  oferecer  o serviço  e atualmente trabalho inclusive com serviços  de buffet.

Conte-nos um pouco sobre o seu projeto.

Edital Quilombolas em Defesa

Vanusia Santos – Associação Comunitária dos Moradores das Comunidades de Carrapicho, Mutuca, Sítio Dos Pereiras e Capão

Vanusia Santos –  A Casinha do Licuri – Piatã/BA

A ideia do Projeto A Casinha do Licuri surgiu nas atividades de Cartografia Social realizada na comunidade. O projeto foi escrito com objetivo de valorizar o trabalho das mulheres quilombolas, aumentar a renda e gerar autonomia através da produção de derivados do licuri. Durante o ano de 2022, houve oficinas sobre a potencialidade e a viabilidade econômica dos produtos e cozinha experimental. Foi realizado um workshop de empoderamento feminino e, em parceria com o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), realizamos o curso Negócio Certo Rural, que incentivou as mulheres a elaborarem o seu próprio negócio.

Francisca das Virgens Fonseca – Associação Comunitária De Desenvolvimento Do Candeal II

Francisca das Virgens – Feira das Marias – Feira de Santana/BA

O projeto Feira das Marias tem como principal objetivo fortalecer e fomentar a produção de alimentos realizada por mulheres rurais quilombolas, visando a autonomia financeira feminina. Dessa forma, com o apoio financeiro do Fundo Baobá se tornou possível a realização da Feira das Marias, que é um projeto comunitário. 

Edital Educação e Identidades Negras

Irailda Leandro de Carvalho – Associação dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo

Irailda Leandro de Carvalho – Educação Quilombola do Mundo Novo para o Fortalecimento da Identidade Negra –  Buíque/PE

Pretendemos com o Projeto “Educação Quilombola do Mundo Novo para o Fortalecimento da Identidade Negra” construir uma proposta pedagógica de educação  quilombola em conjunto com professores quilombolas, que possuem formação superior, mesmo que não estejam lecionando no território atualmente, com a participação dos mais  velhos, as lideranças e jovens da comunidade, estudantes de graduação que fazem parte no núcleo de estudos da Autarquia de Ensino Superior de Arcoverde, e aplicar as atividades no contraturno da escola. A proposta será vivenciada por professores quilombolas em formação e pelas crianças quilombolas que frequentam a escola localizada no território.

Dario Pereira – Associação Cultural de Tradição Afro-Brasileira Afoxé Omô Nilê Ogunjá 

Dario Pereira – Projeto Agogô: o enunciado que faz acontecer – Recife/PE

O “Projeto Agogô: o enunciado que faz acontecer”, é uma iniciativa do Afoxé Omô Nilê Ogunjá, uma associação cultural de tradição afro-brasileira. Em nossa proposta objetivamos a formação da Rede de Vivências Formativas Agogô, sob a perspectiva da Lei 10.639 de 2003, que completa 20 anos de existência (lei que estabelece a obrigatoriedade do ensino de “história e cultura afro-brasileira” dentro das disciplinas que já fazem parte das grades curriculares dos ensinos fundamental e médio), a partir da articulação de instituições inseridas em contextos formais e não formais, que atuam no enfrentamento ao racismo, na comunidade do Ibura (Recife/PE).

Almerinda de Souza Cunha Oliveira – Associação de Mulheres Negras do Acre e seus Apoiadores 

Almerinda de Souza Cunha Oliveira – Educação na Desconstrução do Racismo – Rio Branco/AC

O nosso projeto vem em resposta a nossa luta pela implementação da Lei 10.639 /11.645 (lei que estabelece a obrigatoriedade do ensino de “história e cultura afro-brasileira” dentro das disciplinas que já fazem parte das grades curriculares dos ensinos fundamental e médio). O projeto visa sensibilizar e articular parceiros para a criação dos Fóruns de Educação Étnico Racial nos municípios do Acre. Nosso sonho é combater o racismo, o machismo , a homofobia e a intolerância religiosa através da educação, lutamos por isso desde 2003 através de vários movimentos sindicais, CUT, e hoje através da Associação de Mulheres Negras. 

Qual foi a importância de ter o seu projeto selecionado pelo Fundo Baobá e a execução dele no ano de 2022?

Edital Negros, Negócios e Alimentação

Rivaneza Silva – Dona Terra 

O apoio do Fundo Baobá foi primordial para que conseguíssemos avançar enquanto negócio, nos possibilitou tirar do papel as ideias para melhoria da produção com a aquisição de equipamentos novos e com maior capacidade, contratar uma consultoria para nos orientar nas diretrizes para implementação de uma unidade de beneficiamento e fábrica de Kombucha de acordo com a legislação. E as orientações para gestão de negócios através da jornada formativa que nos fez repensar e buscar reestruturar nosso administrativo e financeiro para que a empresa caminhe de acordo com as metas que planejamos. A formação possibilitou a construção de uma rede de relacionamentos com os demais participantes do Programa, e nos impulsionou na busca por novas parcerias com pessoas e instituições, o que enriqueceu em muito nossa prática e nos possibilitou um novo olhar sobre o negócio.

Manoelly Vera Cruz – Mamê Comidinhas 

Em 2022, devido a algumas dificuldades, eu estava prestes a desistir do negócio. Quando através de amigos, recebi informações sobre o edital Negros, Negócios e Alimentação e me veio a esperança de que dias melhores estavam por vir. A cada etapa que eu passava, pude ter mais certeza que o trabalho tinha que continuar, esse projeto ampliou meus horizontes em vários aspectos. Só o fato de ter sido entrevistada por uma pessoa preta durante a seleção, já me deu uma satisfação e uma sensação de pertencimento, que só confirmavam que o sucesso também nos pertence, me fazendo sentir contemplada mesmo que não chegasse até a etapa final. Toda estrutura do processo formativo, os profissionais envolvidos, poder compartilhar as experiências com os demais contemplados, e tudo que tenho vivenciado, proporcionaram para mim e para o negócio, oportunidades que provavelmente não se apresentariam sem o apoio do Fundo Baobá. Dito isso, não me refiro apenas ao apoio financeiro que é de fato muito importante, principalmente depois do período de pandemia, mas através dessa oportunidade, pude contratar o trabalho de pessoas, seguindo a linha do edital. Priorizando mulheres pretas, pequenos negócios e pessoas da comunidade LGBTQIA+.

Marileide Alves de Lima – Xêro Café e Arte

Foi de grande importância, pois o comércio é um universo que ainda não domino completamente. E com o projeto foi possível fazer uma formação em áreas essenciais para um bom gerenciamento do meu negócio, como a área financeira. Tenho aprendido bastante sobre temas que não tinha muito conhecimento e isso tem me ajudado a organizar minha cafeteria.

Isamara Costa Cruz – Acarajé da Tia Joana 

O Fundo Baobá para o Acarajé tem sido um divisor de águas, o apoio financeiro deu condição ao Acarajé de realizar compras diretamente com fornecedores, pois antes não se tinha em caixa o valor mínimo para efetuar as compras com preço de atacado, o que levou a termos uma margem de lucro maior e, consequentemente, um capital de giro. Além das aquisições com maquinário e utensílios, o que facilita a produção diária dos quitutes. Sem falar do apoio de mentoria que tivemos durante alguns meses, os professores das aulas foram de suma importância para o desenvolvimento e organização da empresa.

Maria da paixão de Brito – Capibaribe Doces e Salgados 

Quanto a ser selecionada pelo Fundo Baobá, está sendo uma grande oportunidade  na minha vida de empreendedora, tanto no investimento  como nas capacitações.

Edital Quilombolas em Defesa

Vanusia Santos – Associação Comunitária dos Moradores das Comunidades de Carrapicho, Mutuca, Sítio Dos Pereiras e Capão 

O Fundo Baobá ter aprovado o nosso projeto em  2022 foi providencial, pois estávamos passando por momentos delicados na comunidade.

Francisca das Virgens Fonseca – Associação Comunitária De Desenvolvimento Do Candeal II 

A seleção do Projeto Feira das Marias, para nossa instituição revela a importância de iniciativas que possibilitem a geração de renda familiar, fortalecimento de organização comunitária e melhor organização na gestão da instituição.

Edital Educação e Identidades Negras

Irailda Leandro de Carvalho – Associação dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo

Eu não tenho palavras que consigam expressar o tamanho da importância de nosso projeto ser selecionado neste edital. E são vários os motivos que me possibilitam dizer o quanto foi, é, e será importante conseguir chegar até aqui. Primeiro, o tema tem a nossa cara porque há alguns anos estamos lutando por educação escolar quilombola no território. Não conseguimos até agora sensibilizar o poder público para acessar esse direito. Segundo, acreditamos que a nossa liberdade acontecerá quando todos tivermos acesso a educação formal de qualidade e específica quilombola para ocupar os postos de poder da sociedade. Terceiro, construir a identidade quilombola das nossas crianças e jovens, passando pelo conhecimento da força e da história dos nossos antepassados. Quarto, a política pública, garantida por lei, demora décadas para chegar até nós,  precisamos sempre procurar outros caminhos e esse edital nos oferece todas essas possibilidades para driblar o sistema, duelar com o racismo institucional e estrutural da sociedade brasileira e oferecer oportunidades ao povo preto quilombola do Mundo Novo, em Buíque-PE.

Dario Pereira – Associação Cultural de Tradição Afro-Brasileira Afoxé Omô Nilê Ogunjá

A nossa instituição vem trabalhando no desenvolvimento de ações educativas que exaltam a cultura, história e identidades negras. Nesse sentido, o projeto contribui para o fortalecimento de ações de enfrentamento ao racismo, articulando grupos coletivos e instituições de educação formal e não formal, empoderando a cultura e identidade afro-brasileira, além de promover a articulação entre instituições, na comunidade do Ibura (Recife/PE). 

Quais são as expectativas para o ano de 2023?

Edital Negros, Negócios e Alimentação

Rivaneza Silva – Dona Terra 

Nesse ano de 2023 a meta é finalizar a fábrica e unidade de beneficiamento, faltam 30% para deixar o espaço estruturado, posteriormente seguir com as licenças e aumentar a produção. Planejamos aumentar nossa presença nas redes, espalhar nossa filosofia e inspirar uma alimentação saudável e consciente.

Manoelly Vera Cruz – Mamê Comidinhas 

Para 2023, além da ampliação do negócio, também pretendo garantir a presença da Mamê Comidinhas na elaboração de ações que estejam ligadas ao incentivo do empreendedorismo preto e/ou indígena e de pessoas da minha comunidade.

Marileide Alves de Lima – Xêro Café e Arte 

As expectativas para 2023 são as melhores possíveis. Tenho certeza que, com o que aprendi até o momento, poderei organizar melhor meu estoque, fichas técnicas de produtos, meu fluxo de caixa, entre outras coisas, além de otimizar meu tempo para alavancar as vendas e me tornar mais conhecida na área de cafeteria. 

Isamara Costa Cruz – Acarajé da Tia Joana 

A expectativa para esse ano de 2023 é que possamos continuar aplicando tudo o que foi adquirido em questão de conhecimento com as mentorias que o Fundo Baobá nos proporcionou e não parar por aí. Ir em busca de mais conhecimentos e novidades para que o nosso negócio venha alavancar ainda mais.

Maria da Paixão de Brito – Capibaribe Doces e Salgados 

E para  o ano de 2023 continuarei trabalhando e crescendo para melhorar cada dia mais a minha vida e da minha família.

Edital Quilombolas em Defesa

Vanusia Santos – Associação Comunitária dos Moradores das Comunidades de Carrapicho, Mutuca, Sítio Dos Pereiras e Capão 

O ano de 2023, com certeza será um ano marcante para o projeto. Agora no mês de janeiro será o lançamento dos nossos produtos “Balai, o licuri da Bocaina”, na feira da VII Jornada de Agroecologia da Bahia. Ainda este ano iremos levar o projeto de lei de preservação da área de licuri para a câmara de vereadores do município de Piatã.

Francisca das Virgens Fonseca – Associação Comunitária De Desenvolvimento Do Candeal II

Para o ano de 2023, estamos com o propósito de aumentar nossas atividades produtivas, ampliando a feira para os formatos virtual e presencial, assim como criar fundos de trocas de produtos da roça, a exemplo de aproveitar as frutas sazonais para fazer polpas, bem como sementes naturais existentes na comunidade. Com isso, objetivamos dinamizar a produção e comercialização da comunidade, proporcionando melhor geração de renda para as Marias do Quilombo.

Edital Educação e Identidades Negras

Irailda Leandro de Carvalho – Associação dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo  

As expectativas são muitas, 2023 será o ano de receber as maiores parcelas do recurso para investir e colocar em prática as principais ações do projeto. O meu principal compromisso será com o sucesso do trabalho.

Dario Pereira – Associação Cultural de Tradição Afro-Brasileira Afoxé Omô Nilê Ogunjá 

Desenvolver nossas ações educativas com estrutura financeira, para materializar produtos e ferramentas que edifiquem a formação de uma rede de produção de conhecimento anti-racista, que constam nas diretrizes da lei 10.639/03.

Almerinda de Souza Cunha Oliveira – Associação de Mulheres Negras do Acre e seus Apoiadores 

Em 2023 pensamos em executar o projeto e consolidar o nosso sonho. Acabamos de realizar a Jornada de Formação em Gênero e Raça em todos os municípios do Acre. Nosso projeto consiste em sensibilizar gestores e movimentos sobre a necessidade da implementação da Lei 10.639 da forma correta, através de ações online e algumas presenciais. Criar parcerias e formar um comitê de criação dos fóruns municipais, realizar um seminário estadual com dois representantes por município, dos que criarem os Fóruns. Nesse processo vamos fortalecer lideranças negras no protagonismo de combater o racismo através da educação. Essa é a nossa luta pela vida e direitos das mulheres.

Tendo a possibilidade de falar em um local acolhedor sobre suas vivências, algumas das pessoas donatárias dos editais sentiram-se à vontade para complementar as suas respostas, falando sobre os seus sentimentos ao participar dos editais do Fundo Baobá. Confira abaixo: 

Edital Negros, Negócios e Alimentação

Rivaneza Silva – Dona Terra 

Gratidão por todo apoio e que mais empresas de sucesso se inspirem em apoiar projetos que possibilitem a transformação na vida das pessoas.

Manoelly Vera Cruz – Mamê Comidinhas 

Quero agradecer a todes envolvides, sejam pessoas ou empresas pela oportunidade, exaltar a organização e estrutura do projeto, que traz para o povo preto, mulheres e pessoas da comunidade LGBTQIA+, a possibilidade de se potencializar e potencializar seus negócios, gerando emprego, renda e a acima  de tudo combater o racismo e o preconceito. 

Marileide Alves de Lima – Xêro Café e Arte 

Quero dizer o quanto fiquei impressionada e satisfeita com o tratamento que recebemos de todos os profissionais que fazem o Fundo Baobá. A atenção recebida, o material disponibilizado, as dicas. O aprendizado que adquirimos vai do campo profissional ao campo pessoal e isso é algo que não tem preço.

Edital Quilombolas em Defesa

Francisca das Virgens Fonseca – Associação Comunitária De Desenvolvimento Do Candeal II 

A partir da realização da Feira das Marias na Comunidade Quilombola de Candeal II, percebemos a importância de atividades como essa para contribuir para o fortalecimento da identidade quilombola. Com isso, notamos a necessidade de ampliar a discussão sobre o reconhecimento do território quilombola para as demais comunidades que compõem o distrito de Matinha, em Feira de Santana, visando o fortalecimento e preservação de todo território quilombola de Matinha.

Baobá na Imprensa 

Por Ingrid Ferreira

No mês de novembro e dezembro de 2022 o Fundo Baobá para Equidade Racial teve presença notável na mídia a começar pela participação de Hélio Santos, membro da Assembleia Geral do Baobá, no Programa Roda Viva da TV Cultura, sendo notícia no Portal TV Streaming, O Universo da TV, Africas e Z1 Portal. A TV Cultura também contou com a participação da Diretora de Programa, Fernanda Lopes falando, entre outros temas, sobre como as políticas afirmativas podem trazer grandes transformações para a população negra no Brasil e para o país como um todo.

A Diretora de Programa também foi citada pelo Jornal da USP na matéria “Medicina da USP participa de edição especial de revista científica discutindo racismo e xenofobia na saúde”, no evento que lançou a série de materiais desenvolvidos por pesquisadores brasileiros e internacionais debatendo a saúde a partir de uma perspectiva humanizada.

O Jornal Dia Dia, Times Brasilia, Geledés, Observatório do Terceiro Setor e a Revista Raça noticiaram o lançamento do nosso edital em materias intituladas “Fundo Baobá e MOVER investem R$ 4 milhões em educação tecnológica visando ampliação de oportunidades para a população negra”. E o site Ponto da Pauta mencionou um dos projetos apoiados pelo Fundo Baobá no edital  “Vidas Negras, Dignidade e Justiça”.

O Fundo Baobá esteve presente na COP 27 que aconteceu no Egito e foi mencionado nas publicações dos seguintes veículos: D24am Amazônia, Clima Info, Fundação Amazônia Sustentável, Amazonas Notícias, Fato Amazônico, Tupi.fm / 96.5, Portal Amazônia, Correio Paraense, Nexo Jornal e Mercado de Notícia.

A Rede Comuá publicou a matéria “O metaverso da Filantropia: construindo realidades transformativas a partir de justiça social”, e dedicou uma página para falar a respeito do Baobá como parceiro, além de mencionar o Baobá na publicação “Aliança entre Fundos: por uma outra filantropia colaborativa em construção no Brasil”; o site Brasil 247 mencionou o Baobá na matéria “Transição sem retrocesso” e a General Mills mencionou o Fundo como seu parceiro em seu site oficial.

A Imaginable Futures citou o edital “Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial” na publicação Renovando Nosso Compromisso com a Equidade Racial no Brasil. O edital é uma parceria entre a Imaginable, Fundação Lemann e Fundo Baobá e também foi citado pelo Portal C3.

O Estadão e o site Head Topics publicaram a matéria “Fundo Baobá: Investimento em equidade racial não é aposta, é respeito”. Na matéria o Diretor Executivo, Giovanni Harvey, fala sobre investimento social privado e a agenda da equidade racial. Giovanni também foi mencionado pelo Mundo Negro como um dos palestrantes na “1ª Conferência Empresarial ESG Racial”.

O blog Juruá Online, mencionou o Fundo Baobá como um dos integrantes da Aliança Entre Fundos no título “Com sistema agroflorestal, indígenas apostam em projeto para recuperar 305 hectares de área degradada no AC”. E a Gabacom citou o Fundo como uma das três organizações de enfrentamento ao racismo no Brasil para conhecer.

O Insper comunicou a participação de Hélio Santos no debate “Persistência histórica da desigualdade racial”. O Meio e Mensagem referiu-se ao Fundo como uma das 11 instituições que apoiam e incentivam os negócios de pessoas negras. A Folha referiu-se ao Baobá em seu matéria “Estados mais ricos veem desequilíbrio de renda entre negros e brancos piorar”.

O Clube de Criação, ND Mais, Revista Marie Claire e Vermelho comunicaram o título de Personalidade do Ano” recebido por Sueli Carneiro, Presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá. 

Apoiadas do Fundo Baobá:

O site Todas as Notícias apresentou o livro “História Social da Beleza Negra” escrito pela Giovana Xavier, uma das mulheres apoiadas pelo Baobá no Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras Marielle Franco. A Casa da Cultura de Canaã dos Carajas em seu evento Cinema na Casa, exibiu o documentário  “Não Serei Interrompida”, projeto apoiado pelo Fundo.

O Centro Feminista de Estudos e Assessoria divulgou o Lançamento – Racismo, Violência e Estado: Três faces, uma única estrutura de dominação articulada, realizado por CRIOLA com financiamento do Baobá no edital Vidas Negras. A Casa da Cultura de Canaã dos Carajas em seu evento Cinema na Casa, exibiu o documentário  “Não Serei Interrompida”, projeto apoiado pelo Fundo.

Na Coletiva Negras que Movem, foram publicados os seguintes artigos: “A hora é agora! Apoie a realização do 1º Festival Pernambucano de Literatura Negra” da autora Jaqueline Fraga e “Fim do pesadelo: Mulheres Negras e as eleições presidenciais” escrito por Josi Souza.

“Brasil volta a ser território no qual todas as expressões democráticas terão fala”

Giovanni Harvey, diretor Executivo do Fundo Baobá para Equidade Racial, acaba de retornar da edição 2023 do Fórum Social Mundial, realizada entre 23 e 27 de janeiro na cidade de Porto Alegre (RS). Harvey participou de várias edições do FSM, no Brasil e no exterior. Neste ano, o tema principal do FSM foi o envelhecimento da população mundial.  

Estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU) dão conta de que em 2047 (menos de 25 anos), o mundo terá 2 bilhões de pessoas com 60 anos ou mais. Esse número, ainda com base em estimativas da ONU, vai saltar para 3,1 bilhões de idosos em 2100, o que vai significar 30% da população em todo mundo. A reviravolta da pirâmide etária criou o que o mercado publicitário classificou como “Gray Power” (Poder Grisalho, em português). São as pessoas com 50 anos ou mais, hoje representando quase ¼ da população do planeta.

Lançando um olhar mais específico sobre o Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2021, pessoas com 60 anos ou mais representavam 14,7% da população. Isso era o equivalente a 31,23 milhões de pessoas.  Desse total, 48% são pessoas idosas negras. 

O principal fator para o envelhecimento da população é a queda na taxa de natalidade. Porém, por mais paradoxal que possa parecer, o decréscimo na taxa de natalidade está ligado a um fator positivo: o aumento da longevidade das pessoas. Dentro de 77 anos, portanto em 2100, a expectativa de vida no mundo vai subir para 82 anos. No Brasil, essa mesma expectativa será de 88 anos. Portanto, alcançar objetivos será algo mais tangível. Mas essa longevidade também poderá marcar um compromisso mais extenso de contribuição das pessoas no que se refere aos avanços sociais.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do IBGE, a população idosa no Brasil no segundo semestre de 2022 era de 31,7 milhões de pessoas. Entre essas 31,7 milhões, 48% são pessoas idosas negras. Devido às discrepâncias sociais que ocorrem e marcam a existência negra, nem todas as pessoas pretas têm experienciado o direito de envelhecer. A culpa por isso está no racismo estrutural, tão arraigado na sociedade brasileira. Além disso, fatores discriminatórios como dificuldade de acesso a serviços de saúde pública, o machismo, atendimento discriminatório nos locais que prestam atendimento em saúde e a falta de políticas públicas protetivas para a população negra contribuem para mortes precoces e para o não envelhecimento negro. 

O  diretor, um homem de 59 anos, falou um pouco sobre  as  perspectivas de fortalecimento e incidência dos movimentos sociais tendo em vista o cenário político e social que se desenha no Brasil para os próximos anos. 

O que o Fórum Social Mundial significa para você?

Giovanni Harvey – O Fórum Social Mundial é uma das principais plataformas de articulação, mobilização e troca de experiências por parte dos movimentos sociais, tanto sob o ponto de vista nacional quanto sob o ponto de vista internacional. A realização do FSM em 2023 foi produto do esforço de várias pessoas e instituições que tiveram o entendimento de que era preciso dar uma inequívoca sinalização para os movimentos sociais que o ambiente, de fato, mudou e o Brasil voltou a ser um território no qual todas as expressões sociais democráticas terão espaço para fala e serão ouvidas. O diálogo e a troca de experiências entre as gerações será imprescindível para alcançar as mudanças que queremos. 

O Fundo Baobá participou de alguma atividade específica?

Giovanni Harvey – Sim. Fomos convidados para participar da mesa “Lutas Antirracistas, Populares e Periféricas”, que aconteceu em 26 de janeiro. A mesa reuniu várias expressões do movimento negro e do movimento indígena. Ativistas de várias gerações, gêneros e origens territoriais. O Fundo Baobá mantém estreitos laços com os movimentos sociais desde que o “grupo impulsor”, responsável pela sua fundação, articulou-se há 15 anos. A instituição participa de várias redes e dialoga com todos os setores do movimento social negro e tem buscado garantir, por meio de seus editais,  que os recursos alcancem as comunidades e as periferias. 

Qual é o papel do Fundo Baobá neste contexto?

Giovanni Harvey – O papel institucional do Fundo Baobá é financiar iniciativas lideradas por pessoas, movimentos sociais, coletivos e instituições negras que fazem a luta cotidiana de enfrentamento ao racismo e promoção da equidade racial. A retomada das políticas públicas de Promoção da Igualdade Racial, das Políticas para as Mulheres e todas as demais políticas públicas de promoção e garantia dos Direitos Humanos nos impõe uma reflexão sobre a natureza das demandas que iremos priorizar, dentro do entendimento de que o Fundo Baobá não deve concorrer com as políticas públicas existentes e sim contribuir para o fortalecimento das demandas sociais que ainda não foram contempladas, inclusive aquelas que são apresentadas há anos, por pessoas que iniciaram seu ativismo na década de 1970, 1960, e que hoje são idosas. O reconhecimento destas demandas amplia e qualifica o enfrentamento e define estratégias de superação do racismo, nas mais variadas dimensões da vida social.

Retrospectiva de 2022 do Fundo Baobá para equidade racial

Por Ingrid Ferreira

Ano novo pode significar novas oportunidades, novas chances, novas metas, mas olhar para o ano que se despede e analisar os desafios superados, as mudanças experimentadas, os acontecimentos e feitos que o marcaram, é crucial. É  nesse clima de ano novo que o Fundo Baobá para Equidade Racial relembra alguns dos momentos importantes para a instituição no ano de 2022.

Já no começo do ano, o Fundo passou por uma grande mudança, com Sueli Carneiro assumindo a presidência do conselho deliberativo da organização, e Giovanni Harvey assumindo como Diretor Executivo

Giovanni representou o Fundo Baobá na “Live do Valor”: “Engajamento com causas é tendência no setor”. E o Fundo também foi destaque nos canais de televisão Globo Roraima e SBT Pará ao falar sobre o edital Negros, Negócios e Alimentação. Ainda na televisão, o Baobá foi representado pela Diretora de Programa, Fernanda Lopes, no programa Estação Livre, da TV Cultura falando sobre equidade racial em várias áreas.

Em 2022, dois editais foram lançados pelo Fundo Baobá: O  Negros, Negócios e Alimentação, voltado para o apoio de empreendimentos gastronômicos de Recife e Região Metropolitana e o Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial, que apoia iniciativas de enfrentamento ao racismo e consolidação de práticas de promoção da equidade racial no setor Educação (espaços formais e não formais). 

Alguns editais foram iniciados e outros continuados em 2022. O Quilombolas em defesa, teve seu “Primeiro Encontro com Organizações Selecionadas no edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça”; o Programa Já é teve atividades presenciais; assim como participaram de um encontro presencial realizado em REcife/PE, donatárias (os/es) do edital Negros, Negócios  e Alimentação, a equipe do Fundo Baobá e da Futuros Inclusivos. 

Também estivemos presentes no evento da comunidade quilombola Associação dos Moradores Amigos e Amigas da Fazenda Santa Justina no Rio de Janeiro; e terminamos o ano no interior no Pará, com a primeira atividade do projeto Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência.

O Fundo Baobá deu segmento ao seu projeto do Círculo de Doação liderado por pessoas negras no Brasil, fortalecendo a importância do ato de doar para transformar e promover justiça social. Em 2021, o resultado de nossas ações de captação junto a indivíduos foi uma arrecadação de R$ 276.889,46 — (US$ 49.822,66).

O Fundo também fechou uma parceria com o MOVER, Verizon, Imaginable Futures (apoiador do edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial), Fundação Lemann (apoiador do edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial), Wellspring, Silicon Valley e com a Johnson & Johnson (apoiador do projeto Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência). 

O Baobá filiou-se ao GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas),  organização  que congrega 160 associados. A filiação levou o Baobá a ser convidado para a COP 27,  que aconteceu no Egito. A Diretora de Programa, Fernanda Lopes, esteve presente em duas mesas, sendo a “#PhilanthropyForClimate: Um movimento global da filantropia para enfrentar a crise climática” e no Debate sobre mulheres na ação climática,   que abriu as atividades do Brazil HUB na COP 27. O site Brazil Climate Hub também disponibilizou material com avaliações sobre os resultados da Conferência do Clima do Egito. O Fundo Baobá aderiu ao movimento global sobre filantropia para mudança climática, reiterando que, no Brasil, a população negra, os povos originários e outros grupos racializados, são os que mais perdem com as injustiças climáticas, por isso a importância estratégica de incorporar mais esta dimensão entre as prioridades de investimento programático. 

O ano também foi marcado pela doação da filantropa Mackenzie Scott, que destinou um aporte financeiro de US$ 5 milhões para o Fundo Baobá, doação que gerou grande repercussão na mídia nacional e internacional e deflagrou, no ecossistema de investimento social privado nacional, uma reflexão sobre confiança, movimentos disruptivos no exercício do poder econômico e filantropia.

População quilombola do Pará será priorizada em projeto de promoção da saúde mental

Por Wagner Prado

O Fundo Baobá para Equidade Racial, com apoio da  Johnson & Johnson, deu início a uma ação colaborativa em torno de comunidades quilombolas do estado do Pará. O projeto, intitulado Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência, foi elaborado frente a uma demanda da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) e juntou, pela primeira vez, uma equipe multidisciplinar que vai atuar em 12 comunidades da região Tocantina com a missão de promover a educação em saúde, fortalecer as estratégias de resistência e resiliência nessas comunidades negras quilombolas. 

Equipe multidisciplinar montada pelo Fundo Baobá no aeroporto Val de Cans, em Belém (Pará) – Crédito: Tay Silva

Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil há  5.972 comunidades quilombolas. O número exato será divulgado quando forem  revelados oficialmente os dados do Censo 2022, cuja coleta de dados foi encerrada em 31 de dezembro. Até agosto, porém, os números já coletados pelo IBGE indicavam três estados liderando o contingente populacional quilombola no Brasil: Bahia, com 116.437 pessoas; Maranhão, com 77.683 e Pará, com 42.439. 

A equipe multidisciplinar conta com profissionais das áreas de Enfermagem, Psicologia, Jornalismo, Publicidade, História, Administração e Direito. Profissionais do Pará juntaram-se e, no mês de janeiro, darão início às ações que vão acontecer até o mês de maio de 2023. A região Tocantina abrange as seguintes localidades: Abaetetuba. Acará, Baião, Barcarena, Cametá, Igarapé-Miri, Limoeiro do Ajuru, Mocajuba, Moju, Oeiras do Pará, Tailândia e Tucuruí, o equivalente a, aproximadamente, 35 mil km2. 

O projeto Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência objetiva promover o protagonismo e a soberania quilombola em defesa de sua cultura, tradições e saberes. Para isso, faz-se necessário e essencial a adoção de políticas públicas governamentais e não governamentais também, principalmente políticas como essa estabelecida pelo Fundo Baobá  e apoiada pela Johnson & Johnson, que possam fortalecer as comunidades formadas pela população quilombola. 

O líder quilombola Magno Nascimento, representante do Quilombo África,  é coordenador de projetos da Coordenação Estadual das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Pará – MALUNGU, organização que vai articular toda a ação que será feita no campo. Magno ressalta a importância do projeto.  “Discutimos muito para qual território faríamos a parceria. Tivemos casos de suicídio na região em que o projeto vai  ser aplicado. Em meio à pandemia, mas também devido ao empobrecimento, houve muita dificuldade de deslocamento e tudo. As comunidades quilombolas da região Tocantina estão entre as que têm a menor assistência por parte do Estado. Por muitos motivos. Porque é uma pena dizer isso, mas o estado do Pará sempre teve esse tamanho desde que o Brasil é Brasil. Não sabemos por que os políticos vivem alegando dificuldade logística e limitação de recursos. Na prática, isso é o racismo institucionalizado e muito latente contra os direitos dessa população. Esse trabalho que será feito vai ser muito importante para reverberar, como denúncia, aquilo que nós, infelizmente, passamos”, afirmou.   

A diretora de Programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes, enaltece a importância das comunidades para o alcance dos resultados esperados. “Trata-se de uma iniciativa que vai contribuir com as estratégias de resistência da comunidade e, ao mesmo tempo, promover saúde, estimular e valorizar as diferentes práticas de cuidado. Todas as pessoas importam. O projeto também reforça o que chamamos de força de trabalho em saúde pública, que não é composta  só por pessoas com nível superior de ensino. Envolve as parteiras, benzedeiras, agentes comunitários de saúde, auxiliares de enfermagem, técnicos, aquelas pessoas que fazem comunicação para promover saúde. Usar a arte e a educação, junto à comunicação, para democratizar o acesso à informação em saúde é muito importante”, afirmou. Ao longo da execução da ação, espera-se que, além da melhoria da qualidade da saúde mental,  núcleos de influência sejam formados ou fortalecidos nas comunidades, núcleos que saibam ainda mais sobre o direito à saúde, reivindiquem por acesso e melhores serviços   para a população quilombola.”, completou Lopes.

A fala da diretora do Fundo Baobá vai ao encontro do que é descrito pelo estudante de  Enfermagem Djalma Pereira Ramalho, que trabalha como técnico na Unidade Básica de Saúde na comunidade do Igarapé Preto. Djalma, que também é secretário de Cultura da  Associação dos Remanescentes Quilombolas de Igarapé Preto a Baixinha (ARQIB), iniciou na saúde a partir de conhecimentos práticos que depois foram incrementados com uma formação técnica. Atualmente ele também se dedica ao ensino superior na área de enfermagem e obstetrícia. “Quero continuar meu trabalho aqui na comunidade, porque fomos abandonados aqui, principalmente no período da Pandemia. Acredito muito nessa ação. Ela vai dar um norte sobre os primeiros passos que devemos dar com relação à melhora da saúde. A nossa integração, como profissional, como o conhecimento daqueles que vêm com o conhecimento técnico, vai melhorar bastante a situação da saúde aqui”, afirmou Djalma Ramalho.

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Primeira Pessoa

Até chegar à Comunidade Quilombola do Igarapé Preto, uma das 12 que fazem parte da Associação das Comunidades Remanescente de Quilombo de Igarapé Preto a Baixinha (ARQIB), eu nunca havia pisado em um quilombo, embora a trajetória do povo preto, meu povo, esteja ligada a eles. Para chegar lá, percorremos 265km de Belém à cidade de Baião, que fica às margens do Rio Tocantins. Baião é uma cidade pequena, com menos de 50 mil habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Representantes quilombolas reunidos na comunidade do Igarapé Preto com equipe multidisciplinar montada pelo Fundo Baobá

Para quem é urbano e criado em São Paulo, maior cidade do país, algumas coisas acabam não fazendo parte do nosso cotidiano, como fazer a travessia de um rio. E que rio é o Tocantins! Um mundo de água. Já estávamos em uma das margens antes da 6h da manhã. A travessia duraria uma hora. A temperatura era agradável, o que dava um sabor meio romântico àquela travessia em uma balsa de nome Camila. 

Quando alcançamos a margem oposta, fizemos um percurso de mais 30 minutos de carro por uma estrada de terra batida. A sede da ARQIB, que fica na comunidade de Igarapé Preto, tem um grande galpão, que logo soube ser uma construção quase comum nos quilombos. É no galpão da Associação que são feitas as reuniões, os comunicados que devem ser ouvidos e sabidos por todos e as grandes festas. A nossa chegada estava envolta em um clima de festa. As lideranças das comunidades atenderam de pronto ao chamado da ARQIB. 

Conversa no Galpão da Comunidade do Igarapé Preto, em Baião (Pará)

Fomos recebidos com um super e calórico café da manhã: sucos de cupuaçu e maracujá; bolo de chocolate, mandioca cozida, pão de queijo, bananas colhidas na plantação do local. Enfim, uma verdadeira festa. E como a conversa iria ser longa, o negócio foi comer bem para conseguir aguentar até a hora do almoço. 

A conversa para levantar as expectativas das lideranças comunitárias quilombolas sobre a ação de saúde foi bem produtiva. As experiências vividas por eles no período mais forte da pandemia da Covid-19 foram expostas e vão servir para balizar o que será feito na implantação da ação Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência. Os quilombolas tiveram perdas irreparáveis por conta da dificuldade de acesso ao teste diagnóstico, aos serviços, ao tratamento, aos kits de higiene e proteção individual, da demora em receber a vacinação.

Enquanto a conversa sobre experiências, expectativas e diretrizes acontecia, na cozinha o trabalho corria a todo vapor. Um feijão com mocotó foi preparado, com arroz branquinho, macarronada, guisado de pato e farofa. Difícil foi conter o sono depois de comer tudo isso, que estava muito bom. 

Deixamos a comunidade do Igarapé Preto por volta das 16h para retornar a Belém. A gama de informações colhidas foi muito grande. Ficam a expectativa da volta ao Pará para rever as pessoas e dar início às ações do projeto. Que será gratificante, não tenho a menor dúvida!