Produção Acadêmica, Combate ao Racismo e Filantropia Negra

Por Ingrid Ferreira

O livro “Consolidando Capacidades e Ampliando Fronteiras: Filantropia Para Equidade Racial No Brasil”, foi lançado recentemente, no formato de e-book, em versão bilíngue, como uma coletânea de textos inéditos selecionados no edital Chamada Para Artigos – Filantropia para Promoção da Equidade Racial no Brasil no Contexto Pós-pandemia da Covid-19. 

A importância dessa publicação foi destacada durante as entrevistas realizadas com Georgia Nunes, especialista em Docência do Ensino Superior e em Design Estratégico, a idealizadora da “Amor.a – Brinquedos Pra Uma Educação Antirracista!”, que atualmente se dedica a promover e fomentar o ecossistema de empreendedorismo feminino e é autora do artigo “O brinquedo como ferramenta de (re)construção de identidade e autoestima da criança negra na escola”, e Tássia Nascimento que é Professora, Doutora em Ciência da Literatura (UFRJ), Mestre em Estudos Literários (UEL) e autora do artigoVozes afrofemininas na literatura: memórias e significados”.

Georgia Nunes – autora do artigo “O brinquedo como ferramenta de (re)construção de identidade e autoestima da criança negra na escola”
Tássia Nascimento – Autora do artigo “Vozes afrofemininas na literatura: memórias e significados”

A conversa foi conduzida para nos deixar conhecer, e compartilhar, a percepção das autoras em relação ao trabalho que o Fundo Baobá exerce.

Fundo Baobá: Para vocês o que é filantropia negra?

Georgia Nunes

Vivemos em um país racista, profundamente marcado pela colonização de séculos, que deixou marcas em todas as esferas sociais. Por conta de todo esse histórico de exploração do povo negro, a filantropia negra constitui uma importante ferramenta de reparação, que destina recursos necessários para promover a equidade racial na sociedade.  Os recursos provindos da filantropia negra são um importante combustível para impulsionar pequenos empreendedores que, por falta de capital de giro, não conseguem competir em pé de igualdade com empresas brancas, capitalizadas; são combustível para investir na carreira de mulheres negras que só precisam de oportunidade para mostrar todo o seu potencial; e são combustível também para acelerar ideias de negócios de alto impacto, que estão adormecidas por falta de investimento. 

Tássia Nascimento

Acredito que o princípio da filantropia seja o trabalho voltado para o outro. Quando falamos em comunidade negra, é imprescindível nos sentirmos conectados com uma comunidade. É esse sentimento de comunhão que nos fortalece. Pensar em filantropia negra significa projetar algo para a melhoria da qualidade de vida das comunidades negras. Esse processo deve focar na construção de uma sociedade igualitária, o que significa que a noção de equidade racial deve fazer parte. 

Fundo Baobá: como vocês julgam que a produção do conhecimento científico na sua área pode subsidiar ações da filantropia para equidade racial?

Georgia Nunes

A minha área de atuação é a infância. Eu atuo para que as crianças possam crescer tendo acesso a uma Educação libertadora e antirracista. Produzir conhecimento sobre as infâncias é primordial para entender os impactos do racismo no começo da vida, e mais que isso, entender de que forma podemos (e devemos) lutar contra as práticas pedagógicas racistas, eurocentradas que estão instauradas sobretudo no ambiente escolar. 

Tássia Nascimento

Sempre que falamos em construir uma sociedade antirracista, precisamos considerar como parte do processo a necessidade constante do letramento da população para a desconstrução da lógica racista, para a ressignificação de uma série de estereótipos engessados ao longo do tempo. Precisamos desaprender os significados racistas construídos a respeito do corpo negro. Para isso, a produção científica é fundamental, não a única, mas uma parte do acervo para esse processo. A divulgação de artigos também.  

Fundo Baobá: Vocês acreditam que os seus artigos possam ter contribuído para realizar ações de filantropia negra que promova equidade racial?

Georgia Nunes

Acredito que meu artigo joga luz sobre uma temática que muitas vezes não é discutida, que é o racismo na infância. Trazer esse cenário pra conversa nos convida a olhar com perspectiva pra importância da Educação Antirracista para a promoção da equidade racial. É na infância, sobretudo na primeira infância, que se constroem as identidades, é onde nos construímos enquanto seres humanos, e é portanto, nesse estágio da vida, que a gente consegue promover transformações na sociedade. 

Tássia Nascimento

Sim, sem dúvidas. O meu artigo fala sobre literatura negra e, de alguma maneira, nosso imaginário foi construído de maneira racista justamente porque alguns personagens ou a própria narrativa se constituiu dentro de uma lógica racista. Outro fator se relaciona com o perfil dos autores, grande parte dos escritores considerados clássicos, são homens brancos. Analisar a literatura negra nos permite conhecer essa poética voltada para a construção de uma discursividade que caminha na contracorrente dos estereótipos estabelecidos pela literatura canônica. 

Fundo Baobá: Ter um artigo seu publicado pelo Fundo Baobá, em português e inglês. impacta sua vida profissional, pessoal e acadêmica?

Georgia Nunes

Ter uma grande organização voltada para Equidade Racial como o Baobá validando e publicando o meu artigo é um grande reconhecimento, poderia dizer que é o maior reconhecimento da área e eu me sinto muito honrada em ter tido essa oportunidade. 

Tássia Nascimento

O meu artigo impacta nas três áreas mencionadas. Pessoalmente, conseguir finalizar um artigo e publicá-lo já é por si uma tarefa árdua. O prêmio acaba sendo um reconhecimento da importância da minha pesquisa e do próprio papel da literatura negra em nossa sociedade. Tudo isso me fortalece bastante. Academicamente e profissionalmente eu sinto a publicação como uma forma de compartilhar a minha leitura sobre a literatura negra. 

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