Baobá na imprensa em Agosto

Por Ingrid Ferreira

O mês de agosto é o mês da filantropia negra, e o Fundo Baobá esteve fortemente presente na mídia, sendo mencionado por veículos como Yahoo, Valor Econômico, Folha, Jornal Hoje, Crazy Kiwi, Estadão e além de participar  do evento “Mês da Filantropia Negra 2022” do GIFE.

E o Baobá também foi bastante comentado pelo lançamento do seu novo edital Educação e Identidades Negras, que conta com o apoio da Imaginable Futures e Fundação Lemann, sendo notícia no Linkedin da Fundação Lemann, Captadores, Filantropia, Leia Já, Brasil 247, Mundo Negro, Terra, Associação Paulista de Fundações, Observatório do Terceiro Setor, Diário de Petrópolis, GIFE, R7, Correio Braziliense, Folha, Geledés, Escola Aberta 3º Setor, Alma Preta, TV periferia em foco, Gueto Hub do Pará, Fundo iratapuru do Amapá, Exprex Capital, Agência Patrícia Galvão, Programa Integrar +, Jornal de Brasília, Diário da Manhã, Notícias São Sebastião, Folha de BV e Voz das Comunidades.

O Fundo promoveu em Recife (PE) uma Jornada Formativa para empreendedorxs do edital Negros, Negócios e Alimentação, ganhando destaque nos veículos Revista Afirmativa, Folha de Pernambuco, UOL, Notícia Preta e Brasil 247.

O UOL publicou a matéria “Entidade busca na Justiça ação bilionária de reparação pela escravidão”, e mencionou a Diretora de Programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes, que integrou o encontro em que a pauta foi discutida, a Diretora também foi mencionada na publicação “Escola Nacional de Saúde Pública celebra 68 anos” da Fio Cruz

E o Diretor Executivo do Fundo, Giovanni Harvey, palestrou no evento “Ibase e ABIA realizam homenagem a Betinho” divulgado pela Abong e Brasil de Fato, sendo mencionado também pela Latam Journalism Review e o 17º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo ao ter participado do painel “Longa vida ao jornalismo independente: mas quem pagará por ele?”.

Em sua matéria “Instituto Unibanco Apresenta Sistema de Gestão para Equidade Racial nas Escolas na Semana de Inovação 2022”, o Instituto Unibanco relembrou o Edital Gestão Escolar para a Equidade – Juventude Negra em parceria com o Baobá.

Apoiadas do Fundo Baobá:

Na coluna Coletiva Negras que Movem do Portal Geledés foi publicado o artigo “Quase um ano depois, servidora negra exonerada pela UFPE não reaveu cargo e relata meses de incertezas e vulnerabilidade”, escrito por Nívia Tamires de Souza Cruz, Vítori da Silva foi a responsável pela publicação “Política, marketing digital e você” e a matéria “Futuro Black: não naturalize nossas ausências. Sigamos criando e ocupando espaços!” escrita por Jaqueline Fraga.

Produção Acadêmica, Combate ao Racismo e Filantropia Negra

Por Ingrid Ferreira

O livro “Consolidando Capacidades e Ampliando Fronteiras: Filantropia Para Equidade Racial No Brasil”, foi lançado recentemente, no formato de e-book, em versão bilíngue, como uma coletânea de textos inéditos selecionados no edital Chamada Para Artigos – Filantropia para Promoção da Equidade Racial no Brasil no Contexto Pós-pandemia da Covid-19. 

A importância dessa publicação foi destacada durante as entrevistas realizadas com Georgia Nunes, especialista em Docência do Ensino Superior e em Design Estratégico, a idealizadora da “Amor.a – Brinquedos Pra Uma Educação Antirracista!”, que atualmente se dedica a promover e fomentar o ecossistema de empreendedorismo feminino e é autora do artigo “O brinquedo como ferramenta de (re)construção de identidade e autoestima da criança negra na escola”, e Tássia Nascimento que é Professora, Doutora em Ciência da Literatura (UFRJ), Mestre em Estudos Literários (UEL) e autora do artigoVozes afrofemininas na literatura: memórias e significados”.

Georgia Nunes – autora do artigo “O brinquedo como ferramenta de (re)construção de identidade e autoestima da criança negra na escola”
Tássia Nascimento – Autora do artigo “Vozes afrofemininas na literatura: memórias e significados”

A conversa foi conduzida para nos deixar conhecer, e compartilhar, a percepção das autoras em relação ao trabalho que o Fundo Baobá exerce.

Fundo Baobá: Para vocês o que é filantropia negra?

Georgia Nunes

Vivemos em um país racista, profundamente marcado pela colonização de séculos, que deixou marcas em todas as esferas sociais. Por conta de todo esse histórico de exploração do povo negro, a filantropia negra constitui uma importante ferramenta de reparação, que destina recursos necessários para promover a equidade racial na sociedade.  Os recursos provindos da filantropia negra são um importante combustível para impulsionar pequenos empreendedores que, por falta de capital de giro, não conseguem competir em pé de igualdade com empresas brancas, capitalizadas; são combustível para investir na carreira de mulheres negras que só precisam de oportunidade para mostrar todo o seu potencial; e são combustível também para acelerar ideias de negócios de alto impacto, que estão adormecidas por falta de investimento. 

Tássia Nascimento

Acredito que o princípio da filantropia seja o trabalho voltado para o outro. Quando falamos em comunidade negra, é imprescindível nos sentirmos conectados com uma comunidade. É esse sentimento de comunhão que nos fortalece. Pensar em filantropia negra significa projetar algo para a melhoria da qualidade de vida das comunidades negras. Esse processo deve focar na construção de uma sociedade igualitária, o que significa que a noção de equidade racial deve fazer parte. 

Fundo Baobá: como vocês julgam que a produção do conhecimento científico na sua área pode subsidiar ações da filantropia para equidade racial?

Georgia Nunes

A minha área de atuação é a infância. Eu atuo para que as crianças possam crescer tendo acesso a uma Educação libertadora e antirracista. Produzir conhecimento sobre as infâncias é primordial para entender os impactos do racismo no começo da vida, e mais que isso, entender de que forma podemos (e devemos) lutar contra as práticas pedagógicas racistas, eurocentradas que estão instauradas sobretudo no ambiente escolar. 

Tássia Nascimento

Sempre que falamos em construir uma sociedade antirracista, precisamos considerar como parte do processo a necessidade constante do letramento da população para a desconstrução da lógica racista, para a ressignificação de uma série de estereótipos engessados ao longo do tempo. Precisamos desaprender os significados racistas construídos a respeito do corpo negro. Para isso, a produção científica é fundamental, não a única, mas uma parte do acervo para esse processo. A divulgação de artigos também.  

Fundo Baobá: Vocês acreditam que os seus artigos possam ter contribuído para realizar ações de filantropia negra que promova equidade racial?

Georgia Nunes

Acredito que meu artigo joga luz sobre uma temática que muitas vezes não é discutida, que é o racismo na infância. Trazer esse cenário pra conversa nos convida a olhar com perspectiva pra importância da Educação Antirracista para a promoção da equidade racial. É na infância, sobretudo na primeira infância, que se constroem as identidades, é onde nos construímos enquanto seres humanos, e é portanto, nesse estágio da vida, que a gente consegue promover transformações na sociedade. 

Tássia Nascimento

Sim, sem dúvidas. O meu artigo fala sobre literatura negra e, de alguma maneira, nosso imaginário foi construído de maneira racista justamente porque alguns personagens ou a própria narrativa se constituiu dentro de uma lógica racista. Outro fator se relaciona com o perfil dos autores, grande parte dos escritores considerados clássicos, são homens brancos. Analisar a literatura negra nos permite conhecer essa poética voltada para a construção de uma discursividade que caminha na contracorrente dos estereótipos estabelecidos pela literatura canônica. 

Fundo Baobá: Ter um artigo seu publicado pelo Fundo Baobá, em português e inglês. impacta sua vida profissional, pessoal e acadêmica?

Georgia Nunes

Ter uma grande organização voltada para Equidade Racial como o Baobá validando e publicando o meu artigo é um grande reconhecimento, poderia dizer que é o maior reconhecimento da área e eu me sinto muito honrada em ter tido essa oportunidade. 

Tássia Nascimento

O meu artigo impacta nas três áreas mencionadas. Pessoalmente, conseguir finalizar um artigo e publicá-lo já é por si uma tarefa árdua. O prêmio acaba sendo um reconhecimento da importância da minha pesquisa e do próprio papel da literatura negra em nossa sociedade. Tudo isso me fortalece bastante. Academicamente e profissionalmente eu sinto a publicação como uma forma de compartilhar a minha leitura sobre a literatura negra. 

Johnson & Johnson apoia iniciativa de promoção da saúde mental em comunidades quilombolas no estado do Pará

Por Wagner Prado 

O Fundo Baobá para Equidade Racial e a Johnson & Johnson reeditam parceria iniciada em 2017 com o projeto Abordando a Mortalidade Materna entre Comunidades Quilombolas do Estado do Amapá. A iniciativa estendeu para além do eixo sul-sudeste do Brasil a questão do cuidado que merecem ter as populações menos favorecidas. Nesse caso, comunidades quilombolas do estado do Amapá, em especial as gestantes negras. Agora, com a ação Saúde Mental e Resiliência em Comunidades Quilombolas no Estado do Pará  o que se pretende é promover a educação em saúde, com ênfase em saúde mental; contribuir para que estratégias de resiliência sejam estabelecidas; levar esse conhecimento a pelo menos cinco comunidades negras quilombolas; democratizar o acesso a informações sobre direito à saúde e contribuir para que o diálogo entre profissionais da saúde e comunidades quilombolas seja ampliado. 

O projeto está em fase de planejamento, com reuniões envolvendo o Fundo Baobá, a Coordenação Estadual das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Pará – MALUNGU, e outros atores locais estratégicos. O ano de 2023 vai marcar o início da ação Saúde Mental e Resiliência em Comunidades Quilombolas no Estado do Pará. Sobre ela, o gerente de Impacto na Comunidade Brasil da Johnson & Johnson, Ewerton Nunes, deposita as mais positivas expectativas.  

Ewerton Nunes – Gerente de Impacto na Comunidade Brasil da Johnson & Johnson

Lideranças quilombolas e parceiros locais, em parceria com o Fundo Baobá,  irão implementar a ação Saúde Mental e Resiliência em Comunidades Quilombolas no estado do Pará. O que levou  a Johnson & Johnson a voltar sua atenção para essa localidade e para essas comunidades? 

Ewerton Nunes – A Johnson & Johnson, por meio do seu centro em inovação para trabalhadores da saúde, está comprometida a apoiar o bem-estar e resiliência de enfermeiros e agentes comunitários de saúde em todo o mundo. Assim, a empresa está trabalhando para combater a injustiça racial e social no planeta, especialmente na saúde pública.

A Johnson & Johnson se comprometeu a investir US$ 100 milhões nos próximos cinco anos para promover soluções de equidade racial e social em saúde.

Junto com o Fundo Baobá, identificamos o impacto negativo que a pandemia do COVID-19 teve na saúde mental das comunidades quilombolas e assim co-criamos esta iniciativa de promoção de saúde mental e resiliência com foco na instrumentalização das lideranças comunitários de saúde,  agentes de influência positiva para promoção de saúde e bem estar mental dos residentes destas comunidades.   

A escolha da população quilombola foi realizada pelo próprio Fundo Baobá,  que fez a análise dos dados de vulnerabilidade social e acesso à saúde pela população negra em diversas regiões do Brasil. O Pará foi escolhido tendo em vista ser um dos estados com a maior concentração de populações quilombolas do Brasil, e o estado onde houve maior número de vítimas fatais por COVID-19.

Vocês têm ideia de quantas pessoas serão alcançadas por essa ação no Pará? 

Ewerton Nunes – Esperamos que o projeto promova educação em saúde mental e contribua para estratégias de resiliência em 5 comunidades negras quilombolas rurais localizadas no Pará. Com base nos dados apresentados pelas lideranças locais foi escolhida  a região Tocantina como o foco das atenções do projeto.

Essa iniciativa tem um lado educacional forte, que é promover a educação popular em saúde. Existe carência desse tipo de conhecimento no Brasil?  Essas informações que serão passadas poderão levar as pessoas a lidar melhor, conhecer e talvez evitar que tipos de doenças?

Ewerton Nunes – As práticas de promoção a educação popular em saúde levam em conta a produção de novos conhecimentos e a sistematização de saberes com diferentes perspectivas teóricas e metodológicas, produzindo ações comunicativas, conhecimentos e estratégias para o enfrentamento dos desafios.

Neste sentido, o projeto Saúde Mental e Resiliência em Comunidades Quilombolas no Estado do Pará tem muito a ganhar ao propor espaços para que os usuários da rede de saúde,  junto aos profissionais desse segmento, possam elaborar novas formas de organização em saúde, em práticas que consideram outros saberes de cura e cuidado.  

Os quilombolas descendem dos povos negros escravizados aqui no Brasil. A J&J enxerga essa iniciativa como, também, uma ação reparadora? 

Ewerton Nunes – A Johnson & Johnson entende que ações reparatórias são urgentes e necessárias para alcançarmos a equidade racial e social. Nosso esforço é focado na área da saúde, que como em todas as áreas da sociedade no Brasil e no mundo é também desigual com as populações negras. Por isso, criamos globalmente o programa Our Race to Health Equity (Nossa Corrida pela Equidade na Saúde), que engloba diversas ações que a J&J está executando em diferentes locais do mundo, com foco em gerar mais acesso à saúde a populações afrodescendentes.

Localmente, nós também contamos com outras iniciativas que buscam reparar as iniquidades raciais. Como o nosso grupo de colaboradores que trabalham para implementar processos e políticas de inclusão e equidade para pessoas negras, chamado SoulAfro. Este grupo criou a iniciativa Axé, que tem como objetivo contribuir com o desenvolvimento educacional e profissional de pessoas negras, oferecendo oportunidade de treinamento, empregabilidade e carreira. O programa está trabalhando com 60 estudantes negros, de ensino médio e universitário, e 30 profissionais negros, que são colaboradores da companhia.

Como a J&J tem trabalhado o tema do Racismo e da Equidade Racial com seu público interno (colaboradores e terceirizados) e com os diferentes públicos externos que alcança? 

Ewerton Nunes – A J&J promove ações e debates internos por meio do SoulAfro, grupo de afinidade da Johnson & Johnson que busca a equidade étnico-racial, atuando nos pilares de cultura, comunicação e carreira.

Em 2022, uma de suas iniciativas foi o lançamento do programa SoulAfro Axé. A iniciativa surgiu como uma forma de enfrentamento ao racismo existente no país e sua proposta é desmontar a pirâmide de desigualdade e promover equidade racial.

O programa é destinado a estudantes de ensino médio e graduação, residentes na cidade de São Paulo, e profissionais negros que são colaboradores da empresa. O intuito é dar todo suporte para que essas pessoas possam crescer no âmbito educacional e profissional. Para isso, a J&J oferece um suporte 360º aos participantes, disponibilizando as ferramentas necessárias para seu desenvolvimento. Os benefícios ofertados são:

Para estudantes: 

Educação e Saúde: reforço escolar, orientação vocacional, aulas de inglês, incentivo à cultura, acompanhamento psicológico e incentivo à atividade física.

Infraestrutura e Segurança: fornecimento de mobiliário, acesso à internet, computador, suporte de TI, auxílio alimentação, auxílio farmácia e auxílio maternidade/paternidade.

Empregabilidade e Desenvolvimento: palestras, mentoria para PDI (Plano de Desenvolvimento Individual), trilhas de desenvolvimento, visita às fábricas da J&J e engajamento em grupo.

Para colaboradores:

Os colaboradores têm direito a passar por uma trilha de aprendizado com foco em aceleração de carreira, desenvolvido em parceria com a área de treinamento da J&J e a Tree, empresa de consultoria e educação em Diversidade e Inclusão.

Edital Vidas Negras Apoia Organizações que Defendem os Direitos de Pessoas Privadas de Liberdade e de seus Familiares

Por Ingrid Ferreira

Lançado em 5 de maio de 2021 pelo Fundo Baobá para Equidade Racial com o apoio do Google.org, o edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça é voltado para apoiar entidades negras que atuam no enfrentamento do racismo, da violência racial e incorreções que ocorrem dentro do sistema de Justiça Criminal no Brasil. 

Entre as organizações cujo projeto foi aprovado no eixo III do edital “Enfrentamento ao encarceramento em massa entre adultos e jovens negros e redução da idade penal para adolescentes”, encontram-se o Instituto Negra do Ceará e a Associação de Mães e Familiares de Vítimas de Violências do Estado do Espírito Santo. 

Segundo o G1 “Em 15 anos, a proporção de negros no sistema carcerário cresceu 14%, enquanto a de brancos diminuiu 19%. Hoje, de cada três presos, dois são negros”. E a BBC News Brasil, publicou uma matéria no ano de 2021 sobre o sistema socioeducativo no país, em que consta que: “Segundo o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), 46 mil menores de idade em conflito com a lei foram atendidos pelo órgão no ano de 2020. Ao todo, 59% dos adolescentes eram negros e 22%, brancos”.

O Instituto Negra que, em parceria com o Coletivo Vozes de Mães e Familiares do Socioeducativo e Prisional, implementa o projeto Levante Pretas: Resistências Coletivas, e a Associação de Mães e Familiares que implementa o projeto Rede de Familiares em Luta Contra a Violência de Estado e Racismo tiveram suas vozes ampliadas em um diálogo com a equipe do Fundo Baobá. Alêssandra Félix fundadora e Coordenadora do Coletivo Vozes e a Patrícia Oliveira integrante da Rede, foram entrevistadas. Confira abaixo:

Fundo Baobá: O que motiva pessoas/familiares a se organizar em associações como a que vocês integram?

Alessandra Félix,  Coletivo Vozes

Nós nos organizamos para combater a pauta narrativa que o Estado prega. Existe um conjunto de leis, aplicado pelo judiciário nas pessoas que cometem alguma infração e existe os espaços de privação de liberdade que é para onde essas pessoas são mandadas. Mas qual é a narrativa do Estado? O Estado recorre por uma questão de ordem social, e a proposta é que essas pessoas percam a liberdade, se repensem e saiam melhores, só que a proposta que existe lá, é completamente diferente da que é colocada em prática, porque a punição piora as pessoas. E, quando nós familiares passamos a visitar, a gente vê o desserviço dos espaços. Começa na falácia da proposta da educação, ali não está para ressocializar os adolescentes, o espaço os transforma em futuros moradores de presídios. Os adolescentes, quando não são assassinados voltando para os seus territórios, que é uma outra discussão, eles vão morar em presídios. Então nós nos organizamos para desconstruir essa narrativa e também porque entendemos que o Estado, dentro de suas práticas,  nega, oprime, viola e destrói toda condição de sociabilidade que existe dentro dessas pessoas. Nós somos a humanização, é preciso que se ressalte que somos nós, mulheres negras. Existe uma cor da mulher que visita e que humaniza os espaços de privação de liberdade; a gente se organiza a partir daí. Nossa experiência começou na socioeducação do Coletivo Vozes, e vimos que o Estado nos devolvia um outro filho, um adolescente sem sonhos, sem perspectivas, mais violento. Então, quando nos tornamos mães do sistema prisional nós nos percebemos, dentro dessa construção de defensoras dos direitos humanos, por conta de todas as violações de direitos que existem dentro desses espaços, então a gente passou a se organizar para a desconstrução dessa narrativa e dessa falácia do Estado.

Alêssandra Félix – Fundadora e Coordenadora do Coletivo Vozes – Ceará

Patrícia Oliveira, Associação de Mães e Familiares de Vítimas de Violências do Estado do Espírito Santo

As  pessoas são atingidas  pela  violência  do Estado  e  muitas  não  sabem  como  agir, por isso é tão importante o trabalho realizado pela Rede.

Fundo Baobá: O que está em jogo caso um movimento como este não seja forte?

Alessandra Félix,  Coletivo Vozes

O que sempre esteve colocado é esse projeto político de encarceramento dos nossos. Se nós não estivermos fortes, se não tivermos essa coragem de ceder voz e corpo para essa luta… Eu costumo dizer que somos as vozes e corpos silenciados pelo Estado e suas práticas. Somos os ecos das violações e das desumanizações que acontecem nas senzalas modernas que são os presídios. E nisso o que fica em jogo também é o futuro dos adolescentes autores de atos infracionais. Existe um filme que eu gosto de referenciar: “O Ódio que Você Semeia”. Eles falam que o ódio que você semeia nas crianças, prejudica a todos. E esse  projeto de punitivismo, do encarceramento que segue seu curso livre porque temos uma sociedade punitivista; se nós enfraquecemos, não há esse debate, que inclusive algo que nos tem deixado assustadas é a discussão da redução da maioridade penal; se enfraquecemos, essas pautas não são levadas para a academia, para os fundos, projetos e que inclusive politiza as mulheres, porque hoje nós não queremos socialização para essas pessoas, queremos prevenção. Queremos que essas crianças não cheguem nesses espaços, queremos chegar antes da bala e da algema. Essa é nossa coletividade que debate o encarceramento do povo preto, falamos muito sobre muitas coisas, inclusive que os nossos tenham a possibilidade de sonhar e estar em outros espaços de afirmação que não seja só esse da privação.

Patrícia Oliveira, Associação de Mães e Familiares de Vítimas de Violências do Estado do Espírito Santo

O que  está  em jogo em  primeiro  lugar são  as  vidas  das pessoas. Em  segundo plano  o tratamento igualitário.

Patrícia Oliveira (Coordenadora de Projeto) e Maria das Graças Nascimento Nacort (Presidenta) da Associação de Mães e Familiares de Vítimas de Violências do Estado do Espírito Santo

Fundo Baobá: E existe o direito ao direito de defesa?

Alessandra Félix,  Coletivo Vozes

Dentro da estrutura do sistema judiciário, há muitas injustiças e violações, que começam desde a apreensão do adolescente ou a prisão de uma pessoa porque é permeada pela violência por parte da polícia. Essas pessoas passam pelo seu julgamento, são sentenciadas e mandadas para lá (presídios), e eu sempre trago as duas idades, da adolescência, e da fase adulta, porque são os caminhos carcerários que nós conhecemos então, quando você pergunta se há o direito ao direito de defesa, pelo caminho da socioeducação, é possível. Tem algumas pautas que conseguimos bater, tem um grande parceiro nosso que é o Centro de Defesa a Criança e ao Adolescente, onde a gente consegue, de fato, legitimar que ali há um espaço de defesa dos direitos da criança e do adolescente, mas no sistema prisional a gente tem mais dificuldade. Tem as especializadas que são direcionadas para presos provisórios e sentenciados, e existe a estrutura da defensoria pública. Em sua maioria somos assistidos por ela, mas precisamos de uma defensoria mais atuante e combatente. Existe um número muito assustador de presos provisórios que poderiam estar em casa aguardando essa sentença. São presos com sentenças vencidas mas que, pela lentidão do sistema, não têm o direito de defesa. Eu e muitas mães somos assistidas pelo sistema de defensoria pública, só que a gente deseja, dentro de todas as nossas pautas, que seja mais atuante e combatente, porque o que prevalece é o punitivismo, são poucas as portas de saída.

Fundo Baobá: Os grupos se articulam localmente? Existe uma articulação nacional?

Alessandra Félix,  Coletivo Vozes

O Coletivo Vozes surgiu em 2013, foi um coletivo matriarcal durante muito tempo, mas com o tempo fomos abrindo para os familiares que precisavam de acolhimento, e a gente se organizou para discutir a respeito do direito da criança e adolescente. A nossa primeira bandeira surge decorrente a violência contra os corpos dos nossos filhos, que era de garantia de direitos, para que parassem de bater neles, que garantisse as visitas, que se cessasse aquelas opressões que aconteciam. Em 2014 e 2015 foi um ano de perversas rebeliões aqui no estado do Ceará, inclusive com mortes nos centros, com isso precisamos de fato nos manter organizadas e dialogar sobre o que estava acontecendo; porém em 2016 e 2017 quando os meninos foram saindo (dos Centros socioeducativos), foi o período que os grupos armados e facções chegaram no Ceará e eles começaram a ser assassinados, os que não foram assassinados, migraram para o sistema prisional, e nesse período a gente sai do luto pra ir pra luta, porque os nossos filhos foram para o sistema prisional, e lá foi preciso a gente debater, porque no socioeducacional a gente ainda tem mais entrada, no sistema prisional é mais difícil. Então nós nos encontramos mensalmente para nos fortalecer, indicamos para as mulheres os espaços onde elas podem recorrer para acompanhar o processo, a gente direciona onde são as defensorias, as especializadas. Localmente, por conta da legitimidade da nossa fala e entrada no debate, a gente construiu o Fórum Popular de Segurança Pública, a Rede de Mulheres Negras do Ceará, estamos na frente estadual pelo desencarceramento, compomos o conselho estadual de direitos humanos. Agora, no âmbito nacional estamos inseridas na Rede Nacional de Mães e Familiares de Vítimas do Terrorismo do Estado, porque o que acontece também dentro dos espaços da privação de liberdade é terrorismo. E, enquanto discussão do desencarceramento, a gente compõem a agenda nacional.

Patrícia Oliveira, Associação de Mães e Familiares de Vítimas de Violências do Estado do Espírito Santo

A associação  vem  se  articulando com  varios  outros  coletivos, inclusive  faz  parte  da Rede Nacional de Mães e Familiares Vitímas de Terrorismo do estado.

Fundo Baobá: Ao longo destes anos de atuação, quais foram as conquistas? 

Alessandra Félix,  Coletivo Vozes

Eu costumo sempre dizer que éramos mães convencionais, e passamos a ser mães institucionais. Uma das nossas maiores conquistas foi nos politizar, entender nosso lugar de mãe nesses espaços, nos tornamos defensoras dos direitos humanos, a partir daí fomos ganhando reconhecimento na nossa caminhada, na academia quando vão  pautar segurança pública ou alguma coisa voltado para o aprisionamento, sempre somos chamadas e, para nós, isso é uma conquista, pois nos tira do lugar de marginalização que o Estado nos coloca. Também hoje temos o apoio do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente, um lugar de muito respeito aos nossos olhos e nós conseguimos nos reunir lá mensalmente, acolhemos mulheres dos dois sistemas, socioeducativo e prisional. E a nossa maior conquista, foi nos submeter aos editais, nosso primeiro edital foi com o Fundo Brasil e agora estamos com o Fundo Baobá, quando o recurso vem, ele nos possibilita segurança de passagem, alimentação e de formação. Nós somos divididas, nós temos familiares, pioneiras que vem desde o início do grupo, temos mães da memória, que perderam seus filhos em 2015, 2016 e infelizmente vem perdendo, e temos mães com filhos tanto em medida socioeducativa quanto no sistema prisional, e essas mães nunca nos deixam, têm as mães que se identificam com a nossa luta e para nós isso é uma vitória. 

Patrícia Oliveira, Associação de Mães e Familiares de Vítimas de Violências do Estado do Espírito Santo

Nossa  conquista vem da  articulação e do  fortalecimento  do  coletivo, ao levar  um  pouco  da  nossa  experiência para o fortalecimento da  nossa luta.

Fundo Baobá:  Quais são as principais  pautas e os principais desafios desse movimento hoje?

Alessandra Félix,  Coletivo Vozes

As nossas principais pautas são: a prevenção, desenternamento de adolescentes autores de atos infracionais e a problematização do sistema prisional. Os nossos maiores desafios são permanecer nessa luta, ter saúde mental e seguridade. Inclusive para pautar isso aqui no Ceará. A gente não tem direito a cidade, somos perseguidas e marginalizadas. Algumas de nós está no programa de proteção, o atual governo piorou muito nosso lugar de defensoras dos direitos humanos.

Patrícia Oliveira, Associação de Mães e Familiares de Vítimas de Violências do Estado do Espírito Santo

Recursos e a articulação nacional dos  familiares de pessoas privadas de liberdade, muitos não  conhecem  seus  direitos e não sabem como recorrer a apoio.

Fundo Baobá:Sabemos que vocês listaram desafios, mas é possível imaginar os desafios futuros?

Alessandra Félix,  Coletivo Vozes

Sim, é possível! Poucas são as conquistas, mas a gente fica feliz quando um deles volta vivo e consegue se reerguer. Mas para os desafios futuros, nós temos muito receio do endurecimento das leis e das pautas de segurança pública que os políticos podem apresentar. Nós como abolicionistas desejamos um mundo sem prisões, mas o Ceará é um estado extremamente violador e encarcerador, temos só em Fortaleza mais de 8 centros  socioeducativos, no complexo de Taitinga temos quase 14 presídios, e o empecilho é essa legitimidade que ele nos tiram, porque nós temos, nós perdemos nossos filhos, muitas dessas mães enterraram seus filhos.

Patrícia Oliveira, Associação de Mães e Familiares de Vítimas de Violências do Estado do Espírito Santo

Os desafios são muitos, é a falta  de  trabalho, vulnerabilidade alimentar, além da questão psicológica, pois muitos familiares ficam doentes depois da  perda de seus filhos e isso é um grande desafio para  todos nós.

Fundo Baobá: Como o edital contribuiu com a  causa?

Alessandra Félix, Coletivo Vozes:

Tudo que nos possibilita resistir é muito bem-vindo, e é preciso que se referencie a Inegra que topou estar conosco, a importância que há para a gente é a garantia de que podemos executar algumas ações e no período da pandemia, muitas de nós ficaram desempregadas, e muitas encontram-se em vulnerabilidade social, e o projeto nos apoia nessas ações, fortalecendo como é chegar nessas mulheres, nessas famílias, porque também não é só sobre assistência, a maioria das atividades desenvolvidas foi de fortalecimento, politização, discussão sobre o que está acontecendo. Como a partir dessa dor a gente ressignifica e administra a ida aos presídios, como a gente se porta lá, como a gente fortalece uma mulher preta que está ao nosso lado, como levamos essa pauta para dentro das nossas famílias e nossa comunidade, então o projeto auxiliou no fortalecimento dessa árdua pauta e no fortalecimento enquanto organização, porque quando conseguimos receber um recurso que nos auxilia a apoiar famílias, isso retorna para a gente. E a gente vai construindo outros caminhos que não seja o cárcere ou o cemitério.

Patrícia Oliveira, Associação de Mães e Familiares de Vítimas de Violências do Estado do Espírito Santo

O projeto veio num momento muito importante para o fortalecimento da associação  e  dos  coletivos  de  familiares de pessoas privadas de liberdade em  todo  o Brasil.

Programa  “Recuperação Econômica de Pequenos Negócios”: Dois anos depois, donatários e donatárias falam de suas conquistas 

Coletivo Pretá, de Pernambuco e ConectAfro, do Paraná, foram organizações selecionadas e falam aqui sobre vitórias e transformações

Por Wagner Prado

Em junho de 2020, momento em que crescia a pandemia da Covid-19 no Brasil, o Fundo Baobá para Equidade Racial lançou um olhar sobre questões cruciais que estavam envolvendo o empreendedorismo negro no país. Era necessário promover uma ação que pudesse dar a esses empreendedores e empreendedoras negras o incentivo necessário para que pudessem tocar seus negócios e influenciar o meio-ambiente em que estavam localizados. Em parceria com a The Coca-Cola Foundation, o Instituto Coca-Cola Brasil, o Banco BV e o Instituto Votorantim foi lançado o Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de  Empreendedores Negros e Negras, que destinou R$ 30 mil para cada uma das 46 iniciativas selecionadas. As iniciativas tinham que ser formadas por 3 (três) emprendedimentos negros que atuassem em um mesmo territorio. Cada um recebeu R$ 10 mil. 

O edital Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores Negros e Negras, assim como todos os outros elaborados pelo Fundo Baobá, não se caracterizou por apenas transferir o recurso para os donatários. O objetivo foi além disso. O que se buscou foi a construção de uma trajetória de conhecimento para que empreendedores e empreendedoras pudessem melhorar a gestão de seus negócios, a divulgação de seus produtos e, a médio e longo prazos, aumentar seu faturamento. 

O Programa está completando dois anos desde seu lançamento em 2020. O aporte financeiro foi de R$1,6 milhão. As iniciativas selecionadas foram 46, com 137 pessoas que empreendem beneficiadas. 

Durante a realização do edital, alguns números foram levantados: 46 iniciativas e 137 empreendedores(as) foram impactados diretamente; 3020 pessoas ligadas às comunidades dos empreendimentos foram impactadas indiretamente; 77% das iniciativas estavam concentradas nas periferias e 88% dos empreendedores afirmaram utilizar parte do recurso para aquisição de equipamentos eletrônicos para participação nas atividades virtuais do programa e para as vendas. 

Dois desses empreendimentos foram procurados para uma conversa. O objetivo foi saber das transformações que experimentaram no período da pandemia, que dificultou o estabelecimento de negócios em vários setores. Como esses negócios e seus administradores estão agora? 

A primeira organização procurada foi o Coletivo Pretá, do estado de Pernambuco, uma associação entre Johne Roberto de Souza Santos (que empreende na gastronomia com um restaurante delivey),  Maria Izadora Silva Sousa (que produz pães de diversos tipos, geleias e compotas a partir de fermentação natural) e  Taylla Alves Gomes (fotógrafa que atua com design e vídeos). Johne falou pelo grupo. “O apoio recebido do Fundo Baobá foi muito bom para nós todos. Tivemos muita instrução e o apoio financeiro foi de suma importância. Minha empresa vai fazer dois anos e consegui abrir um espaço físico, mas ainda enfrento alguns problemas por conta da crise econômica, que é real”, afirma o empreendedor. 

Johne Roberto Santos -Coletivo Pretá

Johne Roberto Santos coloca as mentorias feitas pelo Fa.Vela, parceiro implementador do Baobá na jornada formativa, como essenciais para o seu desenvolvimento pessoal. “As mentorias me edificaram. Consigo desempenhar todas as funções dentro do meu negócio. Minha expectativa futura é analisar todos os déficits que estão fazendo a crise econômica ficar cada vez mais difícil, e conquistar um público que pague o nosso trabalho da maneira que ele vale”, afirma.  Johne,  do Coletivo Pretá,  fez questão de lembrar o momento que mudou sua trajetória no empreendedorismo. “Eu soube do edital pelo Google. Minhas parceiras não acreditaram a princípio, porque um benefício para um empreendimento negro e do interior do sertão, tendo mulheres gays, era quase que uma utopia. Mas nós insistimos e conseguimos”, diz. 

A segunda organização foi a ConectAfro, do estado do Paraná, que juntou em parceria Carolina de Fatima Monteiro, Olenka Borba dos Santos e Roberta Kisy Lourenço. A ConectAfro é uma plataforma digital com o objetivo de ampliar a visibilidade de empreendedores visando a geração de renda entre profissionais negros e negras. Carolina Monteiro fala sobre o atual momento da plataforma. “Estamos buscando uma reestruturação para o ConectAfro, que é um projeto lançado em parceria com o meu coletivo. Mas poder iniciar um novo empreendimento, sem sombra de dúvidas,  foi o passo mais importante que demos. Contudo, descobrimos também que empreender não é fácil. Por esse motivo estamos reprojetando nossa ConectAfro”, afirma. 

Carolina Lopes Monteiro – ConectAfro

Para Olenka Borba dos Santos, o aprendizado que recebeu foi a principal ferramenta para enxergar e empreender de forma mais assertiva. “A principal transformação pela qual passei foi ter adquirido conhecimento sobre gestão do negócio e  finanças. A mentoria que tivemos foi incrivelmente útil”, diz.

Olenka Borba dos Santos – ConectAfro

Roberta Kisy Lourenço define a importância do edital Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de  Empreendedores Negros e Negras para as três. “É a primeira vez que o nosso projeto é contemplado. A transformação foi de acreditar. Veio uma força. Uma fé maior. Acreditar no projeto, que é de inovação e voltado para um público bem nichado, que é o afroempreendedor. Então, isso nos deu um gás. Uma vontade de continuar”, relata. 

Roberta Kisy Lourenço – ConectAfro