Programa de Recuperação Econômica completa um ano

Baobá - Fundo para Equidade Racial

30 de novembro de 2021

Duas iniciativas apoiadas pelo edital de Recuperação Econômica mudam a vida de empreendedoras e empreendedores e das pessoas ao redor delas  

Por Wagner Prado

Transformar (verbo transitivo). Significado: alterar, variar, tornar diferente do que era. Uma jornada de transformação depende de alguns fatores. Alguns deles, internos, pois dependem de vontade pessoal. Outros, externos, pois parte da disposição de outro, pessoa física ou jurídica, que propicia ferramentas de apoio ao  desenvolvimento de quem está precisando. 

Vamos abordar aqui exemplos de trajetórias de transformação. Transformação que atingiu não só aquelas e aqueles que querem empreender no Brasil, mas também todos os que são impactados pelas ações desses empreendedores. 

O momento de transformação, para muitos, teve início quando o Fundo Baobá para Equidade Racial lançou o edital Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de  Empreendedores Negros e Negras, em novembro de 2020. A Coca-Cola Foundation, o Instituto Coca-Cola Brasil, o Banco BV e o Instituto Votorantim foram parceiros do Baobá nessa iniciativa, cujo objetivo foi apoiar pequenos empreendimentos liderados por pessoas negras, priorizando aqueles que fossem localizados em comunidades periféricas ou territórios em contexto de vulnerabilidade socioeconômica.

O Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores Negros e Negras beneficiou 46 iniciativas, cada uma delas compostas por três parceiras ou parceiros. Não era necessário possuir o CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica), e cada uma das iniciativas recebeu R$ 30 mil (R$ 10 mil para cada empreendedor/empreendedora). Como premissa, o fato de não ser apenas um edital de transferência de recursos e sim uma oportunidade para promover também uma trajetória de aprendizado para que essas empreendedoras e esses empreendedores pudessem melhorar a gestão de seus negócios. 

Uma das 46 iniciativas beneficiadas pelo edital foi a Pescadoras Artesanais Beneficiárias e lntegradas, do Rio de Janeiro. As parceiras Luciana Oliveira Machado, Dayanna Barros de Souza Oliveira e Erlineia Barros de Souza Oliveira Viana decidiram promover ações que agregassem outras pescadoras como elas e, com isso, batalharem pela valorização do produto que vendem: o peixe. 

A primeira iniciativa do trio, conta Luciana Machado, foi dividir o aprendizado obtido no curso de formação realizado pela ong Fa.Vela e oferecido aos 137 empreendedores e empreendedoras que tiveram seus negócios selecionados  para esse edital. Segundo Luciana, o compartilhamento de informações e de aprendizado chegou a um número de 40 pessoas dos seguintes perfis:  adultos de 30 a 59 anos; idosos (60 ou +); negros (pretos e pardos); homens; mulheres; pessoas transgêneres; travestis e pessoas não binárias (que não se identificam nem como homem nem como mulher). 

A superação de desafios não foi esquecida. Fazer a melhor gestão do tempo e a falta do conhecimento tecnológico tiveram que ser superados. “Ter tempo para estarmos juntas e desenvolver nosso trabalho, além do domínio tecnológico, foi muito difícil para nós três. Superamos isso com as aulas do Fa.Vela e com as teorias passadas pelo Fundo Baobá”, afirmou Luciana. 

Para Dayanna Oliveira, parceira de Luciana Machado, incrementar a potencialidade de seu negócio era primordial. Para isso, um item se fazia muito necessário: um carro. Com ele, a possibilidade de, literalmente, alcançar outros públicos seria real. O recurso de R$ 10 mil recebido por ela tornou isso possível. “Além de ter investido na aquisição de computador, instalação de internet, um novo aparelho celular, mesa de trabalho para investir em atividades de publicidade, comunicação, divulgação, marketing e vendas, investi na compra de um carro para fazer as entregas do quiosque que mantenho. Antes, eu fazia as entregas de bicicleta”, disse. 

A terceira componente do Pescadoras Artesanais Beneficiárias e Integradas é Erlineia Barros de Souza Oliveira Viana. Ela conta que junto com Luciana e Dayana estão pensando em uma virada nos negócios. “Estou pensando em me juntar com as meninas em um só quiosque para trabalhar juntas. Eu aprendi a não ver os outros como concorrentes. A melhorar a união entre a gente para nos ajudar cada vez mais”, afirmou. 

Ao ser perguntada se recomendaria a outras pessoas que fizessem suas inscrições em editais promovidos pelo Fundo Baobá, Erlineia Barros de Souza Oliveira Viana é taxativa: “Sim, porque no Brasil temos muitas pessoas negras e mulheres que estão precisando só de uma oportunidade pra poder mostrar o seu talento e trabalhar”. 

Tijolos sustentáveis para mudar realidades 

A transformação do negócio e seu fortalecimento foram as respostas mais dadas pelos empreendedores quando questionados sobre os motivos que os levaram a participar do  edital Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores Negros e Negras. Essas também foram as motivações de três amigos do estado do Rio, que decidiram investir em algo que possa facilitar o sonho de uma gama infinita de brasileiros: ter a casa própria.  Além disso, eles também não esqueceram de algo importante para o país e para o mundo: as mudanças climáticas. Moradias sustentáveis podem, e muito, contribuir para que o clima não sofra as interferência do Homem. 

Na recente COP 26 (Conferência das Partes para Discussão das Mudanças Climáticas), realizada na primeira quinzena de novembro em Glasgow (Escócia), um dos principais temas foi o das construções sustentáveis. Os edifícios residenciais e comerciais espalhados pelo mundo são responsáveis pela emissão de 40% da emissão de gases estufa no planeta, além de, infelizmente, contribuírem com o consumo de 50% de toda energia produzida no planeta. Soluções sustentáveis têm que ser buscadas. 

Embora dados de 2019 da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontem que a maioria dos brasileiros residam em imóveis próprios (85,6%), dados de pesquisa realizada feita pela Fundação João Pinheiro, de Minas Gerais,  indicam um déficit habitacional de aproximadamente 6 milhões (5,876 milhões) de moradias no país. 

Com o objetivo de construir casas populares sustentáveis e com baixo custo,  três pequenos empresários se juntaram. Gilberto Muniz, Ronaldo Rodrigues e Igor Fernandes de Souza encabeçam o projeto Casas Populares e Sustentáveis. “Nossa Iniciativa visa facilitar o acesso a casas através do método de construção com bloco solo cimento. Pretendemos atuar nas seguintes frentes: treinamento de pessoal para uso do bloco, fabricação e venda do bloco, execução e venda de projetos para uso deste bloco e construção e venda de casas”, afirma Gilberto Muniz.  “Somos uma iniciativa para movimentar a construção civil, atendo as classes de baixa renda”, afirma Igor Fernandes de Souza. 

Igor (à esquerda), Gilberto (no meio) e Ronaldo (à direita)

O principal desafio apontado por Ronaldo Rodrigues para alavancar o projeto do Casas Populares e Sustentáveis estava nas vendas do produto que fabricam: os blocos de tijolos. 

O desafio de incrementá-las está sendo vencido com o aprendizado de itens estudados nos cursos de formação do edital, como planejamento e gestão do negócio; planejamento financeiro; gestão e controle financeiro;  comunicação e marketing; precificação e vendas on line e offline. “O Programa abriu meus olhos para as redes sociais, mostrando que temos que fazer delas uma ferramenta forte para divulgação do nosso projeto”, afirma Ronaldo Rodrigues. 

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