Eric Ribeiro: da curiosidade infantil aos sonhos aeroespaciais

Natural de Caieiras, em São Paulo, Eric Ribeiro atualmente cursa Engenharia Aeroespacial na University of Notre Dame, nos Estados Unidos. Aos 19 anos, ele foi um dos selecionados da primeira edição do programa de bolsa de estudos de graduação para estudantes negros do Fundo Baobá, o Black STEM — iniciativa que apoia a presença e a permanência de pessoas negras nas áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) em universidades internacionais.

Na fotografia, Eric Ribeiro que atualmente cursa Engenharia Aeroespacial na University of Notre Dame, nos Estados Unidos. Aos 19 anos, ele foi um dos selecionados da primeira edição do programa de bolsa de estudos de graduação para estudantes negros do Fundo Baobá, o Black STEM, é
um homem negro jovem aparece sorrindo enquanto fala ao microfone. Ele usa óculos de armação redonda, camisa branca e calça em tom verde oliva. Sobre os ombros, está com um suéter bege, criando um visual elegante e descontraído. Ele está sentado em uma cadeira branca, participando de um painel ou mesa de conversa em ambiente institucional, com fundo azul e telão ao fundo. Sua expressão transmite entusiasmo e segurança, em um momento de partilha e escuta ativa.
Eric Ribeiro, no evento de boas-vindas do Edital Black STEM 2024.

“Desde pequeno, sempre fui apaixonado por máquinas. Foi assim que aprendi a ler, pois queria entender sobre ônibus e carros. Com o tempo, essa curiosidade se voltou para aviões e foguetes. Eu conseguia identificar qualquer avião que passasse no céu. Essa paixão persiste e se transformou no motor que me move até hoje: estudar engenharia aeroespacial”, afirma.

Mergulhado nos estudos, ele transforma a curiosidade da infância em projetos inovadores. Entre cálculos complexos, simulações e projetos de foguetes, destaca-se por sua dedicação e desejo de contribuir com o futuro da aviação e da exploração espacial.

O estudante conheceu o programa de bolsas por meio de uma amiga, que compartilhou a oportunidade. Como já havia sido aprovado na universidade, ele não hesitou em se inscrever. Hoje, a bolsa oferecida pelo Fundo Baobá, em parceria com a B3 Social, garante a estabilidade financeira necessária para que Eric possa se dedicar integralmente aos estudos e à vida acadêmica. Isso também permite que ele participe com mais liberdade de atividades extracurriculares, sem a necessidade de buscar outras fontes de renda durante o semestre.

Nova edição do programa amplia oportunidades

A diretora de Programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes, destaca a importância da iniciativa:

“A presença negra na ciência é relevante para a humanidade. Por isso afirmamos que o Black STEM não é ‘apenas’ um programa de bolsas complementares para apoiar a permanência de estudantes negros em cursos de graduação completa em instituições estrangeiras. Ele é a recuperação da memória das contribuições negras para a ciência e tecnologia mundial.” Ela reitera que, no futuro, grandes descobertas e avanços também poderão ser protagonizados por pessoas negras.

A segunda edição do Programa Black STEM foi lançada em 27 de março e oferecerá três bolsas complementares de R$ 35 mil a estudantes negros aprovados em cursos de graduação no exterior na área de STEM. As inscrições estão abertas até 30 de abril.

Eric deixa uma mensagem para outras pessoas estudantes que também querem estudar no exterior:

“Quando você sonha por você, você também sonha por todos que vieram antes e por aqueles que ainda virão. E quando você realiza, nós todos — eu, você e milhares de jovens negros periféricos — realizamos juntos”, afirma.

Para mais informações sobre a segunda edição do Black STEM, acesse:
https://bit.ly/BS-2edicao 

Como as doações impulsionam projetos de equidade racial no Brasil

Como as doações impulsionam projetos de equidade racial no Brasil

Garantir a sustentabilidade de ações que promovem a equidade racial é um desafio que exige planejamento financeiro sólido e estratégias de longo prazo. 

Nesse cenário, o Fundo Baobá, com mais de 13 anos de atuação, tem se destacado pelo uso do modelo de fundo patrimonial para apoiar iniciativas que contribuem para a educação, o desenvolvimento econômico, o bem viver e a memória da população negra em todo o Brasil.

Ao investir em iniciativas de enfrentamento ao racismo, o Fundo Baobá busca fortalecer ações que geram resultados concretos para a promoção da equidade racial. 

O que é um Fundo Patrimonial?

Os fundos patrimoniais, conhecidos como endowments, funcionam como uma reserva financeira que assegura a sustentabilidade de projetos e organizações ao longo do tempo. 

O princípio é simples: o valor inicial do fundo, chamado de capital principal, é mantido, e apenas os rendimentos desses investimentos são utilizados para financiar editais e iniciativas. Dessa forma, o fundo se torna uma fonte constante e previsível de recursos, sem consumir o valor original.

Este modelo cria uma fonte de recursos constante, permitindo que organizações mantenham suas ações ao longo do tempo, mesmo em cenários de instabilidade econômica. No caso do Fundo Baobá, por conta deste instrumento financeiro, é possível viabilizar ações que promovam a equidade racial de forma planejada e sustentável. 

Como é a atuação do Fundo Baobá?

O Fundo Baobá, junto de parcerias de impacto e também com recursos próprios, investe em iniciativas de diversas cidades do Brasil, abrangendo áreas como educação, preservação cultural e desenvolvimento econômico, sempre com o objetivo de fortalecer a população negra e promover a equidade racial.

Exemplos de iniciativas apoiadas incluem:

Movimento Nação Marabaixeira (Amapá)

Assista o vídeo e confira um pouco mais da iniciativa Marabaxeira

Iniciativa que atua na preservação e valorização da cultura do Marabaixo, uma expressão cultural tradicional do Amapá. Além disso, promove oficinas em escolas, conectando a história local com o cotidiano de jovens estudantes e capacitando lideranças comunitárias

Saiba mais sobre o Movimento!

Associação Retratores da Memória de Porteiras (Ceará)

Preservação da memória em Porteiras, no sertão do Ceará, recebe apoio do Fundo Baobá
Carliane Ventura conta histórias e positiva a autoestima preta. Crédito: Nívia Uchõa

Através de seu projeto Educar para Aquilombar, a Associação fortalece a participação de jovens quilombolas em políticas culturais, preservando a memória e desenvolvendo ações que impactam diretamente a comunidade.

Conheça a Associação REMOP!

Como você pode contribuir?

O fundo patrimonial do Fundo Baobá é construído a partir de contribuições que servem como base sólida para apoiar iniciativas voltadas à equidade racial no Brasil. 

Esse modelo de instrumento financeiro permite que os rendimentos gerados pelo fundo sejam utilizados para financiar projetos como o Movimento Nação Marabaixeira e a Associação Retratores da Memória de Porteiras. Ao contribuir, você ajuda a garantir que essas e outras iniciativas continuem transformando realidades e criando oportunidades para a população negra em todo o país.

Saiba mais informações no link: https://baoba.org.br/doacao/

Preservação da memória em Porteiras, no sertão do Ceará, recebe apoio do Fundo Baobá

Preservação da memória em Porteiras, no sertão do Ceará, recebe apoio do Fundo Baobá

“Um povo sem o conhecimento de sua história passada, origem e cultura é como uma árvore sem raízes”. A frase do ativista político jamaicano Marcus Garvey define muito bem o sentimento que tomou conta de um grupo de 10 pessoas da cidade de Porteiras, na região do Cariri cearense, distante 540 km da capital Fortaleza.

Eles se uniram em torno da  preservação da história da cidade em que nasceram ou vivem. Para isso, fundiram-se em um núcleo para fomentar a cultura no  local. Assim, criaram o grupo Retratores da Memória de Porteiras. 

Um retrator de memória pode ser definido como uma pessoa que se dedica a resgatar lembranças que foram esquecidas em algum canto. Dessa forma, essas dez pessoas — incluindo dois quilombolas, duas pessoas com deficiência e quatro integrantes da comunidade LGBTQIAP+ — se definem e atuam para combater o esquecimento que cerca a cidade de 17 mil habitantes.

Carliane Ventura conta histórias e positiva a autoestima preta.
Crédito: Nívia Uchõa

No dia 21 de setembro, os Retratores da Memória de Porteiras estavam em festa e, com eles, boa parte da cidade. Comemoravam os 17 anos de sua primeira grande conquista: a fundação da Casa da Memória de Porteiras, onde funciona o Museu Comunitário, e os 10 anos desde que o grupo se transformou em Associação Retratores da Memória de Porteiras.

Essa transformação proporcionou, entre outras coisas, a possibilidade de receberem doações e apoio financeiro, viabilizando assim seus projetos e a preservação cultural.

Um desses apoios veio do Baobá – Fundo para Equidade Racial. Em agosto de 2022, a Associação dos Retratores de Porteiras fez sua inscrição para o edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial. Apresentaram o projeto Educar para Aquilombar, focado nos cinco eixos de trabalho da Associação: Memória e Museologia Social; Educação Patrimonial, Ambiental e Antirracista; Artes e Cidadania; História Regional e Práticas de Leitura; Gênero e Direitos Humanos. 

Como resultado de sua aprovação no edital, a organização cearense foi beneficiada com R$ 175 mil que permitiram o avanço em várias frentes. Por exemplo, formações de educação patrimonial quilombola e antirracista para crianças, adolescentes e jovens da comunidade quilombola dos Souza de Porteiras, visando a construção da identidade negra e quilombola, e a valorização da cultura da infância negra.

O trabalho tem por meta também fortalecer a construção da autoestima positiva quilombola, mediante o reconhecimento do patrimônio cultural quilombola. Os recursos também permitiram estimular a recuperação de objetos que colaborem nas ações educativas inclusivas e antirracistas, e que fortaleçam a atuação social dos Retratores da Memória de Porteiras (Remop) em ações afirmativas.

Perpetuando a cultura em Porteiras.
Crédito: Lino Fly Kariri

Como parceiro da Associação Retratores da Memória de Porteiras, o Fundo Baobá foi convidado a participar das comemorações de aniversário do Espaço Aberto à Cultura, o Espacult, onde está inserida a Casa da Memória de Porteiras. A coordenadora de Projetos do Baobá, Taina Medeiros, Cientista Social graduada pela Universidade Federal de São Paulo, e a assistente de Programas e Projetos, Edmara Pereira, também Cientista Social  graduada pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, estiveram em Porteiras e participaram das comemorações.

“Foi importante estar lá para conhecer, por exemplo, a Casa da Memória, que é um espaço dedicado à preservação de vários itens ligados à história e às pessoas que tiveram histórias inusitadas e viraram personagens ilustres da cidade”, afirmou Taina Medeiros. 

Para Edmara Pereira, a visita ao sertão cearense e o trabalho de preservação cultural feito pela Associação dos Retratores da Memória de Porteiras trouxe reminiscências de sua infância e adolescência. Acontece que os objetos que compõem a Casa da Memória vieram de doação dos moradores. O que fez Edmara ter recordações foi uma plantadeira, também conhecida por matraca.

“Era o objeto que meu pai usava para plantar feijão. Essa lembrança trouxe à tona imagens da minha infância e adolescência no interior da Bahia, revelando como a memória se transforma em uma ferramenta educativa essencial para preservação de histórias, tradições e valores que definem uma cultura, contribuindo assim para a valorização da identidade negra”, disse.  

O mesmo efeito ocorrido com Edmara é o que o grupo formador da Associação dos Retratores da Memória de Porteiras quer que ocorra com as crianças, adolescentes e jovens negros da cidade para que valorizem e preservem a história do lugar em que nasceram ou vivem. 

Edmara Pereira e Tainá Medeiros, representantes do Baobá no Porteiras (CE)
Crédito: Lino Fly Kariri

“Ao longo dos nossos 20 anos de atuação, estabelecemos muitas parcerias para realização das nossas atividades e o projeto Educar para Aquilombar, do Edital Educação e  Identidades Negras foi fundamental para que pudéssemos desenvolver, junto à comunidade Quilombola dos Souza, formações dos jovens e crianças, ampliando a participação de jovens negros nas políticas culturais, além do fortalecimento institucional da Associação REMOP. Criamos a partir desse projeto o Núcleo IDA (Núcleo de Inclusão, Diversidade e Ações Afirmativas) com o intuito de fortalecer as lideranças juvenis e a construção das identidades negra e quilombola. Agora após a finalização do projeto, pretendemos dar continuidade ao funcionamento no Núcleo, promovendo ações educativas e formativas e a continuidade do projeto Brincando no Quilombo”, detalhou Lucilene Inocência da Silva, empresária que ocupa a posição de tesoureira na Associação Retratores da Memória de Porteiras. 

Primeiros estudantes selecionados pelo programa Black STEM para bolsas de estudo no exterior são apresentados em evento na B3 Social

Primeiros estudantes selecionados pelo programa Black STEM para bolsas de estudo no exterior são apresentados em evento na B3 Social

Em grande celebração, no dia 6 de agosto, o Baobá – Fundo para Equidade Racial e a B3 Social apresentaram os primeiros estudantes selecionados pelo edital Black STEM, voltado para jovens negros e negras brasileiros que alcançaram o objetivo de cursar uma graduação no exterior.  

O Black STEM é uma iniciativa que apoia a presença e permanência de pessoas negras nas áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) em universidades internacionais. No Brasil, pessoas negras (pretos e pardos) constituem 56% da população, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas representaram apenas 36% dos formados em cursos superiores em 2020 e 32% dos formados em STEM. Essas áreas têm uma ligação histórica com a população negra, responsável por importantes desenvolvimentos científicos e tecnológicos. E o programa faz com que essa ligação histórica se perpetue, pois promove formação acadêmica para esses estudantes e contribui para a produção de conhecimento negro dentro da academia global.  

A apresentação de cinco estudantes selecionados pelo programa Black STEM foi feita no auditório da B3 (região central de São Paulo), apoiadora do programa criado pelo Fundo Baobá – Fundo para Equidade Racial, que teve como parceiro a BRASA (Brazilian Student Association). O processo seletivo, composto por quatro etapas, contou com especialistas das áreas de STEM, Psicologia e Educação com diferentes conhecimentos e experiências sobre graduação no exterior. Cada um dos selecionados receberá o equivalente a R$35 mil anuais para cobrir despesas de moradia, alimentação, transporte, entre outros, com a possibilidade de essas bolsas serem renovadas anualmente até a conclusão do curso. 

Celebração do dia 6 de agosto, em que o Baobá – Fundo para Equidade Racial e a B3 Social apresentaram os primeiros estudantes selecionados pelo edital Black STEM


Os selecionados pelo Black STEM foram:  

  • Camila Ribeiro Martins (Vitória, ES): Pilotagem na Escola Superior Náutica Infante Dom Henrique, Portugal. 
  • Diovanna Stelmam Negeski de Aguiar (São Paulo, SP): Ciência da Computação, na New York University (NYU), na China. 
  • Eric Souza Costa Ribeiro (Caieiras, SP): Engenharia Aeroespacial na University of Notre Dame, EUA. 
  • Melissa Simplicio Silva (Rio de Janeiro, RJ): Ciência da Computação na New York University (NYU), EUA.

“O Black STEM é um programa de incentivo financeiro e educacional para adolescentes e jovens negros que desejam estudar ciências exatas fora do Brasil. Esta iniciativa não é um projeto de curto prazo, mas um programa duradouro desenvolvido pelo Fundo Baobá e pela B3 Social. Os resultados do primeiro processo seletivo mostram que estamos no caminho certo. Por isso, continuaremos a investir e a trabalhar para ampliar as perspectivas e horizontes dos alunos de escolas públicas e privadas que promovem a diversidade étnica por meio de ações afirmativas”, celebra Giovanni Harvey, Diretor Executivo do Fundo Baobá. 

A jornalista Adriana Couto fez a condução da cerimônia, transmitindo muita emoção para todos os presentes. Familiares e amigos dos estudantes tiveram a oportunidade de presenciar uma cerimônia recheada de alegria e comemorações. 

As histórias pessoais dos estudantes encantaram os presentes. Camila Ribeiro Martins, por exemplo, decidiu cursar Pilotagem depois de servir por dois anos à Marinha brasileira. “Servi como técnica no Rio de Janeiro e trabalhei em uma ilha. Tive muito contato com embarcações. O sonho de pilotar nasceu ali. Existe uma escola aqui no Brasil. Mas é escola militar e tem limite de idade. Então, as oportunidades existem, mas por vários motivos elas nos são negadas”, disse.     

Diovanna Aguiar se destaca desde a infância. “Amo ler. Aos 11 anos cheguei à marca de 300 livros lidos. Um dia, porém, minha avó me alertou para o fato de eu estar perdendo a corrida da vida. Ela se referia ao fato de eu não estar em uma boa escola. Eu sou de Itaquera e passei a querer estar nas melhores escolas. Entrei na Federal de São Paulo, uma das melhores instituições de ensino que temos. Nem que seja à força, temos que ocupar esses espaços”, afirmou Diovanna.  

Eric Souza começou a demonstrar ser uma criança fora da curva logo cedo. A mola propulsora de sua ida para a Notre Dame University é sua mãe. “Minha mãe, com a cara de pau dela, passou a ir às escolas particulares de Caieiras pedindo uma vaga para mim, sem ter nenhum dinheiro para pagar. Ela conseguiu. Passei a pensar em ser astronauta. Em 2021, fui o primeiro negro a representar o Brasil na Olimpíada Internacional de Ciência”, festejou.  

Melissa Simplicio Silva já está em Nova York e participou do encontro pela internet. Ela afirmou que a experiência como estudante no exterior faz com que enxergue melhor o Brasil: “Quando colocamos o pé para fora, a gente aprende a dar muito mais valor ao nosso país”, revelou.  

Os familiares estavam extremamente emotivos e a fala de Andressa Martins, mãe da estudante Camila, traduziu o pensamento de todos: “Não se trata só do dinheiro para eles permanecerem nesses países. Agradeço muito a isso, mas agradeço muito mais ao suporte. Isso é muito importante e vocês, Fundo Baobá e B3 Social,  estão dando”, concluiu.   

Fabiana Prianti, Head da B3 Social, enalteceu o fato de os estudantes estarem efetuando um resgate. “Vocês estão realizando os sonhos de seus familiares. Precisamos desses talentos negros. Portanto, voltem para o Brasil e assumam seus lugares de liderança”, disse. A fala de Fabiana reforça o que foi dito por Alexandre Moysés Nascimento, diretor de Governança da B3: “Esse é um dia histórico para nós. Celebramos aqui nossas vitórias e honramos os nossos ancestrais. Temos capacidade e competência, o que nos falta são oportunidades. É isso que a B3 quer proporcionar”, falou Alexandre.  

Outro momento de grande emoção foi com as participações do Professor Hélio Santos, membro da Assembleia Geral do Fundo Baobá e Presidente do Conselho da OXFAM, e André Lázaro, membro do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá. Santos exaltou a perseverança dos estudantes: “O maior delito da elite brasileira foi impedir a juventude de sonhar. Não há investimento maior do que investir na juventude. Por isso, ousem! Ousar nada tem a ver com irresponsabilidade. Ousem! Duas mulheres negras deram duas medalhas de ouro ao Brasil nas Olimpíadas de Paris. Então, ousem, porque não queremos apontar apenas os riscos que a população jovem negra sofre. Queremos mostrar as oportunidades que eles têm também”.  

O também professor André Lázaro encerrou o evento dizendo: “Estar aqui hoje é ver mais uma oportunidade. O Fundo Baobá está olhando para as pessoas e para o compromisso que tem com elas. Esse encontro revela compromissos transformadores. O Movimento Negro civilizou o Brasil. Ter a  B3 comprometida com a equidade é um grande passo que a nossa sociedade também tem para dar”, disse. Para os estudantes, Lázaro deixou o seguinte recado: “Não levem com vocês o peso da responsabilidade. Aceitem o direito de errar”, alertou.   

Baobá investe em Educação para melhores oportunidades às pessoas negras

Em uma manhã do final de fevereiro de 2023, uma moça de então 27 anos, mãe solo, faz uma revelação agradecida: “Sou preocupada com o meu futuro e com o da minha filha. Sei que o futuro dela será outro quando eu concluir um curso superior. Quero mostrar que é possível. Preciso estudar e trabalhar por mim e pela minha filha”, disse Thauany Aniceto de Souza, estudante de Enfermagem das Faculdades Metropolitanas Unidas, as FMU, em São Paulo. Na mesma manhã, Karina Leal de Souza comemorava a sua entrada no curso de Arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), da Universidade de São Paulo (USP). Uma grande força veio da mentoria que Karina recebeu: “Minha mentora buscou um curso superior dez anos após ter concluído o Ensino Médio. Senti que tinha muito o que aprender com ela”, disse.  

As trajetórias de vida de Thauany Aniceto e Karina Leal são semelhantes. Ambas alcançaram o objetivo de entrar em uma instituição de ensino superior. Além de sua dedicação, contaram com o apoio do Programa Já É. Entre 2021 e 2022, o Baobá – Fundo para Equidade Racial, com apoio da MetLife Foundation,  implementou o Já É, um programa com o objetivo de ampliar oportunidades para jovens negros e negras de até 26 anos, moradores de São Paulo ou da Região Metropolitana. O programa financiou cursos preparatórios para o vestibular, além de vale alimentação, vale transporte, e um notebook com acesso à internet visando aulas online, dadas as necessidades impostas pela pandemia da Covid-19. A turma de 2021/2022 teve 85 estudantes inscritos. Ao final do período, 32 deles foram aprovados nos vestibulares, sendo que 12 em instituições públicas (USP, UNIFESP, UNESP e UFRJ) e 20 em privadas.  

Os depoimentos de Thauany e Karina foram colhidos durante um encontro que juntou estudantes beneficiados pelo Já É e colaboradores da MetLife que fizeram trabalho de mentoria para eles. O Já É contou também com uma mentoria em formato de encontros virtuais. Cada sessão tinha duração de 1 hora e poderia ser quinzenal ou mensal, dependendo do acordo estabelecido entre mentores e mentorados. As conversas foram pautadas por temas como: ingresso no mercado de trabalho, habilidades socioemocionais e comportamentais, carreira e projeto de vida. 

Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam por que o apoio do Já É para o acesso da juventude negra ao ensino superior é necessário. Com relação ao ensino superior, as pessoas brancas com graduação completa equivalem a 6,5% da população brasileira entre 18 e 24 anos. Entre os pretos e pardos, apenas 2,9% da população entre 18 e 24 anos tem graduação completa. Já se o recorte for feito com base no Ensino Médio, são 9 milhões de brasileiros que não o completaram. Desses, 71,6% são pretos e pardos. Entre brancos, a porcentagem cai para 27,4%. A pesquisa também revelou que entre os 48,5 milhões de pessoas com idade entre 15 e 29 anos, 19,8% nem trabalham nem estudam. Pretos e pardos equivalem a 22,4% enquanto brancos são 15,8%. As discrepâncias são grandes e de alguma forma têm que ser eliminadas. 

O Dia Internacional da Educação, 28 de abril, foi criado no ano 2000 durante o Fórum Mundial da Educação, no Senegal, em uma reunião de 180 países que discutiram sobre quais metas alcançar para seus povos em termos educacionais. A Educação tem como objetivo o crescimento das pessoas e a possibilidade de melhorar as suas vidas e a dos seus, porque além de trabalhar o desenvolvimento de suas competências, potencialidades e habilidades, contribui para ascensão de uma parte da população ainda invisibilizada. Ela é um direito de todos, independentemente de raça, cor, origem, gênero ou religião e acontece por meio da conexão ensino-aprendizagem e não necessariamente em espaços formais, como escolas.

Embora a Educação seja um direito de todos e um dever do Estado, na prática brasileira não é bem assim que isso acontece. E, por isso, ter acesso a ela é uma forma de ampliar o ideal democrático. A nação que investe na educação de seu povo está contribuindo para que ocorra crescimento econômico, redução da pobreza, maior oferta de trabalho e maior entendimento sobre o que são os direitos individuais. Ela permite que os indivíduos ampliem sua capacidade para modificar a realidade de suas comunidades.

Organizações do Terceiro Setor, como o Baobá, têm atuado e feito trabalho fundamental para que a desigualdade no que se refere ao acesso à Educação seja banida de nosso cotidiano. O Baobá priorizou a Educação como um de seus pilares para, e principalmente, promover o enfrentamento ao racismo institucional nos ambientes escolares; contribuir para a ampliação das capacidades socioemocionais de jovens e adolescentes; incrementar a entrada e contribuir para a permanência de negros e negras no ensino superior, além de incentivar a formação de novas lideranças negras nas ciências, na tecnologia e na inovação. Nos últimos quatro anos, além do Programa Já É, o Fundo lançou também o Educação em Tecnologia, o  Educação e Identidades Negras e o BlackStem.  Ao todo, foram investidos mais de R$ 2 milhões como dotação a esses programas.

Edital Educação em Tecnologia: Resultado da segunda fase é divulgado

Edital Educação em Tecnologia: Resultado da segunda fase é divulgado

O Baobá – Fundo para Equidade Racial divulga nesta quarta-feira (5), a relação de empresas e organizações escolhidas para a etapa final do edital Educação em Tecnologia. A iniciativa tem como objetivo oferecer suporte a negócios e organizações negras que atuam na expansão ou desenvolvimento das habilidades técnicas de indivíduos negros na área de tecnologia. A iniciativa conta com a parceria do MOVER (Movimento pela Equidade Racial) e investimento no valor de R$4.000.000,00 (quatro milhões de reais) que serão destinados a apoiar até 16 iniciativas.  A lista final será divulgada em 26 de abril.

Nesta segunda fase 8 propostas, entre 17 analisadas, foram validadas e seguem para a terceira e última etapa do programa. Para conferir a lista completa com os selecionados para a terceira fase do edital Educação em Tecnologia clique aqui.

É importante ressaltar que os projetos selecionados receberão um aporte financeiro que pode variar de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais) a R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), além de assessoria e suporte técnico para o desenvolvimento e fortalecimento institucional. Estão sendo valorizadas as propostas que venham de organizações e empresas das regiões Nordeste e Norte, e que tenham como foco jovens negres periféricos, pessoas com 40 anos ou mais, população LGBTQIAP+, pessoas com deficiência, jovens em cumprimento de medida socioeducativa, pessoas egressas do sistema prisional, migrantes e refugiados africanos ou afrodescendentes, população quilombola, ribeirinha ou outras comunidades tradicionais. Saiba mais sobre o programa aqui

Sobre o Fundo Baobá:

O Fundo Baobá para Equidade Racial é o primeiro e único fundo patrimonial dedicado, de forma exclusiva, à promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. Criado em 2011, o Baobá é uma organização sem fins lucrativos cujo objetivo é  mobilizar pessoas e recursos, no Brasil e no exterior, para apoiar projetos e iniciativas negras para o enfrentamento ao racismo e a promoção da equidade racial. 

Sobre o Mover:

Com o objetivo de extinguir a desigualdade e o racismo no mercado de trabalho, um grupo de empresas com atuação em vários setores da economia juntou-se para criar ações de promoção da diversidade, da equidade e da inclusão. Esse foi o início do Mover (Movimento pela Equidade Racial), que atualmente agrupa 47 empresas que proporcionam postos de trabalho para 1,3 milhão de pessoas. 

Programa Já É tem dia de celebração com o  encontro entre estudantes e mentores 

Mentoria foi exercida por colaboradores da MetLife, apoiadora do Fundo Baobá na iniciativa do programa

Por  Wagner Prado

Um dia de celebração. Essa foi a tônica do encontro que reuniu na tarde de segunda-feira (27/02) estudantes do Programa Já É com suas mentoras e  mentores. O Programa, que está em seu segundo ano de realização, é uma iniciativa do Fundo Baobá para Equidade Racial com apoio da MetLife Foundation. O Já É foi iniciado em 2021 com o suporte de outros parceiros. O trabalho de mentoria individual começou em setembro de 2022 e foi todo feito por colaboradores e colaboradoras da MetLife, que se voluntariaram para dar um direcionamento sócio-educacional aos estudantes. 

O objetivo é aumentar as chances dos estudantes do ensino médio afro-brasileiro de ter acesso ao ensino superior e conseguir melhores oportunidades de emprego. Essa proposta  integra a estratégia de sustentabilidade do Programa Já É para fornecer até 50 bolsas de estudo de um curso preparatório para o vestibular.vestibular..

O encontro na sede da MetLife Brasil, no Brooklin Novo (zona sudoeste de São Paulo), foi pautado por muita emoção. Jovens do Já É e seus mentores e mentoras não se conheciam pessoalmente. Os encontros entre eles aconteceram todos de forma virtual. Cada sessão tinha duração de 1 hora e poderia ser quinzenal ou mensal, dependendo do acordo estabelecido entre mentores e mentorados. As conversas foram pautadas por temas como: ingresso no mercado de trabalho, habilidades socioemocionais e de comportamento, carreira e projeto de vida. Isso fez com que a aproximação entre eles se fizesse grande. 

Estudantes do Já É reunidos com seus mentores no escritório da MetLife

Um dos muitos casos de grande empatia ocorreu entre o gerente de treinamento Marcelo Fares e a estudante Flavia Martins de Santana.  “Ela me trouxe experiência de vida, mesmo eu tendo 55 anos e ela bem menos. Quando a mentoria começa, a gente pensa que só vai ofertar. Mas é impossível entrar em uma sala de aula e não sair com um conhecimento novo”, afirmou Fares. O mentor fez questão de reiterar algo que já havia reforçado para a mentorada nos encontros: “Se ela tiver foco, vai voar longe. Algumas coisas do paralelo a gente tem que deixar de lado para colocar os sonhos em prática”, afirmou o mentor.

A estudante Thauany Aniceto de Souza, 27 anos, está cursando Enfermagem nas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Antes da chegada ao prédio da MetLife, sua expectativa era por conhecer seu mentor, Alvaro Lucas Gondim.  Thauany é mãe-solo de uma menina. Segundo ela, desde o início do contato, Alvaro mostrou-se compreensivo e entendedor das preocupações que a cercavam. “Sou preocupada com o meu futuro e com o da minha filha. Sei que o futuro dela será outro quando eu concluir um curso superior. Quero mostrar que é possível. Preciso estudar e trabalhar por mim e pela minha filha”, disse. Alvaro Gondim procurou definir a conexão entre ele e Thauany. “Ao certo, não sei dizer. Foi algo emotivo. Senti que eu precisava estar mais próximo dela. Eu não passei pelas mesmas coisas que ela passou e passa. mas consegui ouvir muito dela. Daí, passou a ser uma relação facilmente construída”, afirmou Gondim. 

Mentor Álvaro Gondim e sua mentorada, Thauany de Souza

Edna Alcântara, colaboradora da MetLife há 17 anos, fez sua primeira incursão na área de mentoria a partir da proposta apresentada pelo Fundo Baobá. Formada em Turismo, ela tem seu próprio histórico com relação à chegada ao curso superior. Somente após 10 anos da conclusão do Ensino Médio foi que ela decidiu cursar uma faculdade. “Minha família tinha poucos recursos e estudo. Eu sabia que não podia perpetuar aquilo. Fui fazer Turismo na Universidade de Santo Amaro (Unisa)”, afirmou.  Edna fez a mentoria de Karina Leal de Souza, aprovada em 2022 para o curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP). “Gostei dela por conta de ter ido buscar um curso superior dez anos após ter feito o Ensino Médio. Senti que tinha o que aprender com ela”, disse Karina. 

A gerente de Comunicação Interna e Responsabilidade Social da MetLife Brasil, Thais Catucci, fez questão de salientar que o futuro das e dos estudantes do Já É poderia estar ligado à empresa para além do Programa. “Nosso papel aqui é olhar para as oportunidades internas e ver se ocorre o fit (encaixe), colocando alguns desses estudantes para trabalhar com a gente”, disse. Dirigindo-se em específico aos colaboradores presentes e que faziam parte do departamento dos Recursos Humanos, Thais Catucci foi enfática: “Peço ao nosso setor de RH que fique atento!” 

Thais Catucci – Gerente de Comunicação Interna e Responsabilidade Social da MetLife Brasil

O dia foi tão especial que também celebrou duas novas conquistas. Com a divulgação das notas do Sistema de Seleção Unificada (SISU), os estudantes Isabella Alcantara, 19 anos, e Eduardo Souza comemoraram, respectivamente, suas entradas no curso de Psicologia da Universidade Estadual Paulista (UNESP) e Educação Física na Universidade de São Paulo (USP). A conquista de Isabella e Eduardo reafirma o que foi dito pela diretora de Programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes: “Cada vez que a gente se movimenta, a gente se transforma”. O Programa Já É é uma forma de promover o desenvolvimento, o movimento das pessoas e sua transformação. 

Baobá na Imprensa 

Por Ingrid Ferreira

No mês de novembro e dezembro de 2022 o Fundo Baobá para Equidade Racial teve presença notável na mídia a começar pela participação de Hélio Santos, membro da Assembleia Geral do Baobá, no Programa Roda Viva da TV Cultura, sendo notícia no Portal TV Streaming, O Universo da TV, Africas e Z1 Portal. A TV Cultura também contou com a participação da Diretora de Programa, Fernanda Lopes falando, entre outros temas, sobre como as políticas afirmativas podem trazer grandes transformações para a população negra no Brasil e para o país como um todo.

A Diretora de Programa também foi citada pelo Jornal da USP na matéria “Medicina da USP participa de edição especial de revista científica discutindo racismo e xenofobia na saúde”, no evento que lançou a série de materiais desenvolvidos por pesquisadores brasileiros e internacionais debatendo a saúde a partir de uma perspectiva humanizada.

O Jornal Dia Dia, Times Brasilia, Geledés, Observatório do Terceiro Setor e a Revista Raça noticiaram o lançamento do nosso edital em materias intituladas “Fundo Baobá e MOVER investem R$ 4 milhões em educação tecnológica visando ampliação de oportunidades para a população negra”. E o site Ponto da Pauta mencionou um dos projetos apoiados pelo Fundo Baobá no edital  “Vidas Negras, Dignidade e Justiça”.

O Fundo Baobá esteve presente na COP 27 que aconteceu no Egito e foi mencionado nas publicações dos seguintes veículos: D24am Amazônia, Clima Info, Fundação Amazônia Sustentável, Amazonas Notícias, Fato Amazônico, Tupi.fm / 96.5, Portal Amazônia, Correio Paraense, Nexo Jornal e Mercado de Notícia.

A Rede Comuá publicou a matéria “O metaverso da Filantropia: construindo realidades transformativas a partir de justiça social”, e dedicou uma página para falar a respeito do Baobá como parceiro, além de mencionar o Baobá na publicação “Aliança entre Fundos: por uma outra filantropia colaborativa em construção no Brasil”; o site Brasil 247 mencionou o Baobá na matéria “Transição sem retrocesso” e a General Mills mencionou o Fundo como seu parceiro em seu site oficial.

A Imaginable Futures citou o edital “Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial” na publicação Renovando Nosso Compromisso com a Equidade Racial no Brasil. O edital é uma parceria entre a Imaginable, Fundação Lemann e Fundo Baobá e também foi citado pelo Portal C3.

O Estadão e o site Head Topics publicaram a matéria “Fundo Baobá: Investimento em equidade racial não é aposta, é respeito”. Na matéria o Diretor Executivo, Giovanni Harvey, fala sobre investimento social privado e a agenda da equidade racial. Giovanni também foi mencionado pelo Mundo Negro como um dos palestrantes na “1ª Conferência Empresarial ESG Racial”.

O blog Juruá Online, mencionou o Fundo Baobá como um dos integrantes da Aliança Entre Fundos no título “Com sistema agroflorestal, indígenas apostam em projeto para recuperar 305 hectares de área degradada no AC”. E a Gabacom citou o Fundo como uma das três organizações de enfrentamento ao racismo no Brasil para conhecer.

O Insper comunicou a participação de Hélio Santos no debate “Persistência histórica da desigualdade racial”. O Meio e Mensagem referiu-se ao Fundo como uma das 11 instituições que apoiam e incentivam os negócios de pessoas negras. A Folha referiu-se ao Baobá em seu matéria “Estados mais ricos veem desequilíbrio de renda entre negros e brancos piorar”.

O Clube de Criação, ND Mais, Revista Marie Claire e Vermelho comunicaram o título de Personalidade do Ano” recebido por Sueli Carneiro, Presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá. 

Apoiadas do Fundo Baobá:

O site Todas as Notícias apresentou o livro “História Social da Beleza Negra” escrito pela Giovana Xavier, uma das mulheres apoiadas pelo Baobá no Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras Marielle Franco. A Casa da Cultura de Canaã dos Carajas em seu evento Cinema na Casa, exibiu o documentário  “Não Serei Interrompida”, projeto apoiado pelo Fundo.

O Centro Feminista de Estudos e Assessoria divulgou o Lançamento – Racismo, Violência e Estado: Três faces, uma única estrutura de dominação articulada, realizado por CRIOLA com financiamento do Baobá no edital Vidas Negras. A Casa da Cultura de Canaã dos Carajas em seu evento Cinema na Casa, exibiu o documentário  “Não Serei Interrompida”, projeto apoiado pelo Fundo.

Na Coletiva Negras que Movem, foram publicados os seguintes artigos: “A hora é agora! Apoie a realização do 1º Festival Pernambucano de Literatura Negra” da autora Jaqueline Fraga e “Fim do pesadelo: Mulheres Negras e as eleições presidenciais” escrito por Josi Souza.

Retrospectiva de 2022 do Fundo Baobá para equidade racial

Por Ingrid Ferreira

Ano novo pode significar novas oportunidades, novas chances, novas metas, mas olhar para o ano que se despede e analisar os desafios superados, as mudanças experimentadas, os acontecimentos e feitos que o marcaram, é crucial. É  nesse clima de ano novo que o Fundo Baobá para Equidade Racial relembra alguns dos momentos importantes para a instituição no ano de 2022.

Já no começo do ano, o Fundo passou por uma grande mudança, com Sueli Carneiro assumindo a presidência do conselho deliberativo da organização, e Giovanni Harvey assumindo como Diretor Executivo

Giovanni representou o Fundo Baobá na “Live do Valor”: “Engajamento com causas é tendência no setor”. E o Fundo também foi destaque nos canais de televisão Globo Roraima e SBT Pará ao falar sobre o edital Negros, Negócios e Alimentação. Ainda na televisão, o Baobá foi representado pela Diretora de Programa, Fernanda Lopes, no programa Estação Livre, da TV Cultura falando sobre equidade racial em várias áreas.

Em 2022, dois editais foram lançados pelo Fundo Baobá: O  Negros, Negócios e Alimentação, voltado para o apoio de empreendimentos gastronômicos de Recife e Região Metropolitana e o Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial, que apoia iniciativas de enfrentamento ao racismo e consolidação de práticas de promoção da equidade racial no setor Educação (espaços formais e não formais). 

Alguns editais foram iniciados e outros continuados em 2022. O Quilombolas em defesa, teve seu “Primeiro Encontro com Organizações Selecionadas no edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça”; o Programa Já é teve atividades presenciais; assim como participaram de um encontro presencial realizado em REcife/PE, donatárias (os/es) do edital Negros, Negócios  e Alimentação, a equipe do Fundo Baobá e da Futuros Inclusivos. 

Também estivemos presentes no evento da comunidade quilombola Associação dos Moradores Amigos e Amigas da Fazenda Santa Justina no Rio de Janeiro; e terminamos o ano no interior no Pará, com a primeira atividade do projeto Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência.

O Fundo Baobá deu segmento ao seu projeto do Círculo de Doação liderado por pessoas negras no Brasil, fortalecendo a importância do ato de doar para transformar e promover justiça social. Em 2021, o resultado de nossas ações de captação junto a indivíduos foi uma arrecadação de R$ 276.889,46 — (US$ 49.822,66).

O Fundo também fechou uma parceria com o MOVER, Verizon, Imaginable Futures (apoiador do edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial), Fundação Lemann (apoiador do edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial), Wellspring, Silicon Valley e com a Johnson & Johnson (apoiador do projeto Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência). 

O Baobá filiou-se ao GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas),  organização  que congrega 160 associados. A filiação levou o Baobá a ser convidado para a COP 27,  que aconteceu no Egito. A Diretora de Programa, Fernanda Lopes, esteve presente em duas mesas, sendo a “#PhilanthropyForClimate: Um movimento global da filantropia para enfrentar a crise climática” e no Debate sobre mulheres na ação climática,   que abriu as atividades do Brazil HUB na COP 27. O site Brazil Climate Hub também disponibilizou material com avaliações sobre os resultados da Conferência do Clima do Egito. O Fundo Baobá aderiu ao movimento global sobre filantropia para mudança climática, reiterando que, no Brasil, a população negra, os povos originários e outros grupos racializados, são os que mais perdem com as injustiças climáticas, por isso a importância estratégica de incorporar mais esta dimensão entre as prioridades de investimento programático. 

O ano também foi marcado pela doação da filantropa Mackenzie Scott, que destinou um aporte financeiro de US$ 5 milhões para o Fundo Baobá, doação que gerou grande repercussão na mídia nacional e internacional e deflagrou, no ecossistema de investimento social privado nacional, uma reflexão sobre confiança, movimentos disruptivos no exercício do poder econômico e filantropia.

Fundo Baobá divulga a lista de projetos e organizações selecionadas para a última etapa do Edital

A lista de organizações selecionadas para a Terceira Etapa do edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial está sendo divulgada hoje (01/11). Da lista fazem parte 24 organizações de 11 estados brasileiros e do distrito federal. O objetivo do edital é o enfrentamento ao racismo na educação por meio de ações, projetos, programas e políticas de equidade racial. Imaginable Futures e Fundação Lemann são os parceiros do Fundo Baobá nessa iniciativa. Imaginable e Lemann, juntas, aportaram R$ 2,5 milhões que serão  destinados a 10 organizações, grupos ou coletivos negros atuantes na educação e ativos nas questões referentes ao racismo. 

As inscrições para o edital aconteceram entre os dias 3 de agosto e 6 de setembro. Nesse período, 181 inscrições foram feitas por organizações, grupos ou coletivos liderados por, no mínimo, 85% de pessoas pretas. Dessas 181 inscrições, 83 foram consideradas aptas para ir à segunda etapa. Hoje (01/11), após análise das 83 propostas participantes dessa segunda etapa, 24  (vinte e quatro) foram selecionadas e vão à etapa final, quando as 10 organizações selecionadas serão definidas. 

Para visualizar as 24 organizações selecionadas para a Etapa 3 do edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial, você deve acessar este link. A divulgação do resultado final do processo seletivo acontece no dia 10 de novembro. Nesta ocasião a lista ficará disponível no site e redes sociais do Baobá, após as 19h. 

Fundo Baobá divulga organizações selecionadas para Etapa 2 do edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial

O Fundo Baobá para Equidade Racial divulga a primeira lista de classificados para o edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial, após análise das propostas feitas até 6 de setembro, última data de inscrições. 

 

O Educação e Identidades Negras tem como objetivo prioritário o enfrentamento ao racismo que vem impedindo que ações voltadas ao estabelecimento da equidade racial no segmento da Educação sejam estabelecidas. O edital é apoiado pela  Imaginable Futures e Fundação Lemann que, juntas, vão aportar R$ 2,5 milhões. Estes recursos,  ao final do processo seletivo, irão apoiar 10 organizações, grupos ou coletivos negros que atuem na Educação e realizem ações de enfrentamento ao racismo, valorização das identidades negras e outras. 

 

O edital foi criado para oferecer apoio a organizações, grupos e coletivos negros na identificação e enfrentamento ao racismo no segmento educacional;  valorizar e promover as diferentes identidades culturais negras dentro desse segmento; além de fortalecer a liderança e representação de negros que atuam nos espaços de poder e de tomada de decisão dentro da esfera educacional.

 

Para Fabio Tran, Venture Partner da Imaginable Future, o racismo tem impacto total no desempenho educacional de estudantes negros. “Em todos os estados brasileiros, a diferença entre o percentual de estudantes negros e brancos com níveis adequados de aprendizagem é significativa e se mantém mesmo dentro do mesmo nível socioeconômico (dados do SAEB). Está evidente que a desigualdade racial tem afetado o direito à aprendizagem e, por diversos motivos, o estudante negro tem sido levado a aprender menos. O racismo, enraizado enquanto modelo mental na sociedade, impacta os estudantes negros e suas famílias e os submetem ao preconceito cotidianamente. Esses e outros fatores, que são reflexo do racismo estrutural, afetam diretamente a autoestima e o senso de pertencimento de estudantes negros, impactando na sua performance acadêmica”, afirma.  

 

Foram recebidas 181 propostas, das quais 83 foram consideradas válidas. Todas as organizações que avançaram para a Etapa 2 do processo seletivo declararam ser formadas e coordenadas/dirigidas por 85% ou mais de pessoas negras; comprovaram atuação no setor Educação desde 2019 ou antes; por meio de um video, explicaram a importância do apoio ao fortalecimento institucional; elaboraram propostas cujos objetivos dialogam com o edital e enviaram planos de ação e orçamento seguindo as orientações.  

 

Neste link você poderá ter acesso à lista de selecionados para a Etapa 2 do edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial. As próximas etapas classificatórias acontecem em 24 de outubro (Etapa 2); 07 de novembro (Resultado Final). 

Edital com apoio da Imaginable Futures e Fundação Lemann busca projetos para enfrentar o racismo na educação

Por Wagner Prado

Duas importantes organizações se juntam ao Fundo Baobá para Equidade Racial em uma iniciativa voltada à Educação. O edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial, elaborado pelo Baobá, tem na Imaginable Futures e na Fundação Lemann suas apoiadoras. O foco do edital está em incentivar organizações, grupos e coletivos negros que atuam no combate ao racismo e na promoção da equidade racial no segmento Educação. É notório que o acesso à Educação e a permanência nas instituições de ensino é diferente para brancos e negros no país. O caminho para a solução dessa e outras fontes de exclusão está na adoção de ações afirmativas. Imaginable Futures e Fundação Lemann assumem tais ações como parte de suas politicas públicas e, juntas, estão aportando R$ 2,5 milhões que vão contribuir para que 10 organizações, grupos e coletivos negros ampliem e fortaleçam suas intervenções em espaços educacionais formais e não formais. Imaginable Futures, por intermédio de seu Venture Partner, Fabio Tran, e a Fundação Lemann, por meio de sua Gerente de Equidade Racial, Deloise Bacelar de Jesus, expõem aqui os motivos que as levam a apoiar o edital, a importância de se investir em Educação no Brasil e também como promovem o combate ao racismo dentro de suas próprias instituições e levam esse tema aos seus diferentes grupos  de interesse.  

O edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial é uma forma de suprir a defasagem que existe no mecanismo de ensino oficial do Brasil?

Fabio Tran – Em todos os estados brasileiros, a diferença entre o percentual de estudantes negros e brancos com níveis adequados de aprendizagem é significativa e se mantém mesmo dentro do mesmo nível socioeconômico (dados do SAEB). Está evidente que a desigualdade racial tem afetado o direito à aprendizagem e, por diversos motivos, o estudante negro tem sido levado a aprender menos. O racismo, enraizado enquanto modelo mental na sociedade, impacta os estudantes negros e suas famílias e os submetem ao preconceito cotidianamente. Esses e outros fatores, que são reflexo do racismo estrutural, afetam diretamente a autoestima e o senso de pertencimento de estudantes negros, impactando na sua performance acadêmica.

Entendemos que se trata de um fenômeno complexo e, para entender e agir com maior profundidade sobre ele, em 2021 a Imaginable Futures realizou um processo de escuta e construção junto a mais de 50 educadores e ativistas negros. Ao final, chegamos em três principais áreas que podem ser alavancadas na busca por uma realidade livre do racismo estrutural, sendo uma delas a razão por que estamos fazendo este edital: garantir a implementação de políticas educacionais que valorizam as identidades e culturas negras, indígenas e quilombolas, aumentando a legitimidade destes grupos dentro do sistema educacional, bem como o seu desempenho e permanência escolar.

As duas outras áreas são: (i) elevar o nível de entendimento sobre questões étnico raciais a fim de alcançarmos uma negritude consciente e uma branquitude crítica, fazendo com que as políticas e as práticas não sejam desenhadas de maneira universalista e (ii) elevar as vozes negras, indígenas e quilombolas através de acesso e representação em posições de liderança, assegurando que essas lideranças possuam conhecimento aprofundado sobre equidade racial e recebam todo o suporte necessário para que consigam permanecer com saúde mental e física dentro desses ambientes. 

Deloise Jesus  A aprendizagem de alunos brancos e alunos pretos é desigual. A diferença é expressiva em todos os estados brasileiros, tanto para alunos de nível socioeconômico alto quanto baixo, revelando os reflexos do racismo estrutural também no processo de aprendizagem. Realizar ações como o edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial é muito estratégico para promover equidade racial. Acreditamos que diferentes esforços são necessários para transformar essa realidade e diminuir as desigualdades, por isso o lançamento do edital é tão bem vindo. 

Que iniciativas educacionais podem contribuir para o combate ao racismo?  

Fabio Tran – Para além do trabalho relevante e direto de combate ao racismo realizado por diversas organizações como o Fundo Baobá, CEERT, Geledés, IBEAC, dentre tantas outras, é preciso considerar também a influência das políticas públicas governamentais na manutenção ou quebra de estruturas racistas. As políticas públicas educacionais hoje são predominantemente universalistas, desconsiderando o contexto extremamente desigual de que partem estudantes brancos e negros. Sendo assim, uma das formas de combater o racismo estrutural é assegurar, na tomada de decisão das políticas educacionais, o reconhecimento dessas diferenças e desigualdades e o entendimento que equidade não significa necessariamente igualdade. A Lei de Cotas e a Lei 10639 são excelentes exemplos de como romper essas estruturas. E esperamos que as iniciativas apoiadas por esse edital permitam identificar novas formas de combater o racismo e o racismo estrutural. 

Fabio Tran – Venture Partner da Imaginable Future

Deloise JesusCombater o mito da democracia racial passa por promover estratégias para que educadores e estudantes possam atuar de forma antirracista. Fortalecer o ecossistema de organizações que atuam no combate às desigualdades raciais é essencial para trilhar este caminho. 

Como sua organização, interna e externamente, vem abordando o racismo? Há ações direcionadas aos colaboradores e diferentes comunidades nas quais vocês atuam?

Fabio Tran – Como uma organização de investimento social privado, entendemos nossa responsabilidade, dado nossa posição de privilégio em um sistema fundamentado sobre a supremacia de pessoas brancas e sobre outras formas de injustiça. 

A equidade racial está no centro da estratégia programática da Imaginable Futures. Temos trabalhado para isso diretamente com organizações comunitárias, através das práticas de educação libertadora das organizações que apoiamos e por meio de recomendações de políticas de apoio para práticas de reparação antirracista, entre outras iniciativas. Além disso, entendemos que o combate ao racismo passa também por uma transformação interna e de como trabalhamos, por isso desde 2019 temos aumentado o letramento racial da equipe e a equidade racial na sua composição, incluindo nossos prestadores de serviço e consultores. A partir de um esforço de diversificar o nosso time, hoje somos uma organização internacional e a maioria dos nossos colaboradores não se identifica como branca. Por fim, como indivíduos, trabalhamos para mudar nossas próprias mentalidades, comportamentos e abordagens. E apesar de todos os nossos esforços, entendemos que, como organização, estamos apenas no começo da nossa jornada antirracista. Temos muito que avançar ainda.

Deloise Jesus –  A Fundação Lemann tem estabelecido metas para promover a equidade racial nas escolas, viabilizando ações que garantem uma trilha de formação para educadores e gestores escolares, realização de pesquisas de engajamento de lideranças educacionais no tema, produção de guias diagnósticos de equidade racial nas redes de ensino; entre outras ações que fomentam parcerias estratégicas pela promoção da equidade racial na educação brasileira.

Além disso, buscamos aumentar a diversidade dentro do nosso próprio time. Com iniciativas centradas na redução de vieses para atração, retenção, inclusão e desenvolvimento de talentos, aumentamos a presença de pessoas negras na composição da nossa equipe – hoje, já representam pouco mais de ⅓ da organização (35%). A Rede de Lideranças da Fundação Lemann também passou a contar com um processo seletivo estruturado e focado na ampliação da representatividade entre os membros e viabilizamos programas como o Alcance, que busca promover mais equidade racial e econômica no acesso a programas de mestrado profissional em algumas das melhores universidades do mundo. 

Deloise de Jesus – Gerente de Equidade Racial da Fundação Lemann

O edital vai alcançar organizações, grupos e coletivos negros. Que elementos estatístico-sociais levaram sua organização a direcionar esse investimento para a população negra?

Fabio Tran – O racismo estrutural permeia o sistema educacional brasileiro, levando a resultados de aprendizagem muito diferentes. Não surpreende que haja uma sub-representação significativa de grupos de pessoas negras e indígenas em posições de poder. Boa parte dos recursos do investimento social privado no Brasil é destinado à Educação, e boa parte dos estudantes que estão no sistema de ensino público são negros. Apesar disso, há pouco investimento no tema equidade racial na Educação e menos ainda  para organizações com lideranças negras. Achamos fundamental direcionar mais investimento social privado para essas organizações.

Deloise Jesus  Diversos indicadores sociais demonstram como o racismo prejudica a população negra. Na Educação, as desigualdades na aprendizagem são contundentes. Um estudo feito pelo Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), analisando dados da avaliação nacional oficial (o Saeb) mostra que, em todos os estados brasileiros, o percentual de crianças pretas com aprendizado adequado é inferior ao de crianças brancas da mesma classe social. Também fica evidente que, quanto mais alto o nível socioeconômico, maior é a diferença entre os aprendizados entre alunos  pretos e não pretos.

Se o fator socioeconômico não explica sozinho tais diferenças, então é preciso reconhecer que também – e sobretudo – a Educação precisará olhar para o racismo que está presente nas práticas educacionais, assim como em tantas outras instâncias da sociedade. Na gestão pública, por exemplo, isso se reflete na representatividade em cargos de liderança. No poder executivo federal, apenas 15,2% dos cargos de segundo e terceiro escalões, nas pastas de Educação, Saúde e Economia, são ocupados por pessoas negras. No poder executivo como um todo, nos mesmos escalões, são 17,7%, de acordo com dados do IPEA (2020). 

Em termos de política pública, a implementação desse edital poderá gerar alguma base de trabalho que possa ser adotada oficialmente (pelo Governo) e melhorar a política educacional no país?

Fabio Tran – O tema do desenvolvimento das identidades e culturas negras e quilombolas é trabalhado por organizações negras há muito tempo no Brasil. Esse edital vem como um reconhecimento da luta histórica desses grupos pelos seus direitos. Temos a expectativa que, a partir desses projetos, possamos sistematizar melhor e dar mais luz ao trabalho dessas organizações para que elas possam seguir cada vez mais pautando a construção de políticas públicas de equidade, dentro e fora do ambiente de educação formal. 

Deloise Jesus –  Como país, é urgente chegarmos ao consenso mínimo de que políticas públicas precisam ser construídas a partir da premissa que seus impactos terão efeitos diferentes nas populações brancas e negras. A gestão pública – que elabora, implementa e monitora essas políticas – precisa refletir com mais justiça nossa demografia, ampliando a representatividade de pessoas negras em cargos de liderança. 

É possível projetar o que poderá ser alcançado por esse edital em termos sociais? 

Fabio Tran – O valor concedido para as organizações contempladas no edital não é só para as ações programáticas dessas organizações. Ele também é destinado ao fortalecimento institucional e desenvolvimento das lideranças das organizações selecionadas. Além do impacto direto das 10 organizações selecionadas na aprendizagem das comunidades em que elas trabalham, esperamos que essas organizações, juntas, influenciem o sistema na direção do que precisa ser feito – e trabalharemos junto ao Fundo Baobá para que essa conexão e esse trabalho em rede aconteça.

Quando vemos as estatísticas da desigualdade social e racial no Brasil podemos ficar desesperançosos com relação ao tema, mas a partir das organizações esperamos enxergar a força e a riqueza da diversidade que a população negra traz para o Brasil, sem ignorar e tentar remediar as consequências negativas do racismo e da opressão desses grupos no país.

Deloise Jesus – Estamos confiantes que a iniciativa é capaz de contribuir com o fortalecimento de  organizações para desenvolver novas tecnologias sociais e para ampliar o leque de estratégias disponíveis para a promoção da equidade racial.

Como sua organização define Equidade Racial? 

Fabio Tran – Justiça. Equidade. Diversidade. Inclusão. O que chamamos de princípios “JEDI” direcionam tudo o que fazemos. Orientam nossas crenças, embasam nossa estratégia e moldam nossa cultura, operações e ações. Equidade racial para nós significa promover justiça, imparcialidade e equidade nos processos, distribuição de recursos e resultados em instituições e sistemas de educação. 

Acreditamos que o acesso equitativo à aprendizagem é fundamental para sociedades saudáveis, justas e prósperas. Cada pessoa, independentemente de raça, formação, etnia, gênero, orientação sexual, religião, renda, saúde e habilidades, deve ter a oportunidade de aprender e tornar o futuro que imagina uma realidade. Sabemos que o racismo, o colonialismo e a cultura patriarcal incorporados nos sistemas educacionais ao redor do mundo fazem com que nem todos tenham a mesma oportunidade de prosperar. Entendemos que o nosso trabalho é sermos parceiros de organizações como o Baobá para eliminar essas barreiras sistêmicas e cocriar soluções para as crianças e jovens e suas respectivas famílias.

Deloise Jesus –  Na iniciativa privada e no terceiro setor, precisamos ser mais explícitos e propositivos no enfrentamento dessas desigualdades raciais profundas e sistêmicas. Muito conscientes do tamanho desse desafio, aqui na Fundação Lemann trouxemos o combate às desigualdades raciais para o centro de todas as nossas frentes de atuação. Assim, traçamos uma visão de futuro que conecta nossos objetivos nas frentes de educação e desenvolvimento de lideranças com conquistas de equidade racial. 

Promover esse edital é contribuir para a promoção da Equidade Racial?

Fabio Tran – Sim, serão selecionadas até 10 organizações, grupos ou coletivos cujas propostas contribuam para o desenvolvimento, aprimoramento e/ou a implementação de políticas educacionais de identificação e enfrentamento do racismo e para o fortalecimento das identidades e culturas negra, quilombola e indígena, com atenção especial para iniciativas focadas em políticas educacionais para crianças, adolescentes e jovens.

Deloise Jesus – O racismo é uma estrutura social complexa e difícil de combater, por isso diferentes estratégias articuladas entre si são necessárias. Acreditamos que o edital é parte importante desse processo. Temos certeza de que tudo isso é só um começo. E de que há muito o que refletir, aprender, planejar, executar e corrigir para que a pauta ganhe mais prioridade, profundidade e consistência dentro da gestão da nossa organização, e de tantas outras instituições e governos. Esperamos poder somar forças e aprender com quem já está há muito mais tempo à frente dessa agenda e incentivar muitos outros a entrar nela também. Nosso sonho de um Brasil que acredita nas pessoas e de pessoas que acreditam no Brasil certamente depende disso. 

Textos selecionados no edital Chamada de Artigos são compilados em publicação bilíngue

Fundo Baobá publica livro com artigos de donatários(as) e conta com a participação de Mel Adún proprietária da editora Ogum’s Toque na sua edição

Por Ingrid Ferreira

Em 2020, o Fundo Baobá fez uma chamada para artigos para subsidiar  a sua atuação no contexto da pandemia da Covid-19, integrando o projeto “Consolidando Capacidades e Ampliando Fronteiras”, realizado em parceria com a Fundação Ford. Foram selecionados 19 artigos, que receberam um apoio de R$ 2,5 mil cada.

O Baobá se comprometeu com uma publicação eletrônica, bilíngue. Uma publicação amigável, embora seguindo regras editoriais rigorosas, cuidadosamente aplicadas.  A  editora escolhida para realizar esse trabalho foi a Ogum’s Toque,  que nasceu oficialmente em 2014, em Salvador, Bahia, mas cuja  movimentação na cena literária começou em 2011.

A proprietária Mel Adún conta como aconteceu o processo de criação da empresa.  “Em 2011,  levamos à Bahia mais de 60 escritoras e escritores negros de diversas partes do país, e fora, para falar da sua produção literária no evento Ogum’s Toques do/a Escritor/a (OTE), atividade cujo objetivo principal era formação de público leitor. Contamos com nomes importantes da literatura negra brasileira e internacional como Abelardo Rodrigues, Oswaldo de Camargo, Miriam Alves, Isabel Ferreira entre tantos outros. Contudo,  é a partir da participação fatídica do Brasil na Feira de Frankfurt em 2013 – quando a Feira homenageava a diversidade brasileira e o governo mandou 70 escritores para representar o país, sendo 1 negro, 1 indígena e 68 brancos – que resolvemos nos publicar. No mesmo ano escrevemos uma nota de repúdio que foi traduzida para o inglês e para o alemão e assinada por mais de cem escritoras negras e escritores negros e lançamos a Coletânea Poética Ogum’s Toques Negros,  com 22 poetas de diferentes gerações da Literatura Negra brasileira. Daí percebemos que não havia outro caminho e, em 2014/15, lançamos o livro Encantadas,  do poeta José Carlos Limeira (1951/2016).  De lá pra cá, publicamos mais de 20 livros e seguimos publicando, em ritmo de ijexá, textos que acreditamos que precisam ser publicados”.

Mel Adún – Proprietário da editora Ogum’s Toque

Mel conta que cresceu em uma casa onde seus pais valorizavam muito os livros.  Ao relembrar suas memórias de infância, ela conta que a sala tinha suas paredes recheadas de estantes de madeira que abrigavam os livros que, desde cedo, tornaram-se seus companheiros. Um  dos frequentadores de sua casa era José Carlos Limeira e que ele foi a pessoa que leu seus escritos e a aconselhou que ela os enviasse para participar dos Cadernos Negros.

Ao ser questionada sobre como o mercado nacional e internacional se comporta frente à literatura negra, Mel afirma que: “Se hoje o termo Literatura Negra é recebido com reservas pelo mercado editorial hegemônico, quando começamos a Ogum’s era pior ainda. Contudo, atualmente,  a escrita negra foi descoberta enquanto nicho, enquanto commodities, pelas editoras hegemônicas e vinculadas ao grande capital, o que dá a falsa impressão de que não existem mais problemas no campo editorial nesse sentido. Curiosamente, essas mesmas editoras que se mostram sensíveis à escrita negra hoje – mesmo que esse montante não alcance 10%  dos seus catálogos – não se manifestaram ou esboçaram qualquer reação perante aquela lista da Feira de Frankfurt. Ou seja, como afirma a escritora Zadie Smith, o capital é pragmático e quando necessário nos transforma em commodities preservando os mecanismos de controle. Enquanto houver racismo, enquanto pessoas negras forem desumanizadas, enquanto o racismo sistêmico fizer parte da sociedade brasileira ou de qualquer outra, estaremos sempre em desvantagem no campo editorial assim como em todos os outros campos. E enquanto essa for a nossa realidade, nosso trabalho e nossa arte é nicho para apreciação de terceiros, mas a riqueza gerada a partir do nosso labor nunca será igualmente compartilhada entre os iguais a nós. Não serão as nossas futuras gerações que estarão com o futuro garantido”.

A fala da Mel Adún reitera a complexidade do racismo estrutural e sobre como impacta as pessoas e a sociedade em diferentes aspectos. Fica nítido que trabalhar com uma editora dedicada à produção negra é resistir e lutar para que os saberes compartilhados estejam acima do capital e do ideário hegemônico  imposto por uma estrutura racista de sociedade.  E, neste sentido, Mel destaca que é a primeira vez que a editora publica um livro com conotações mais científicas e, com base nessa experiência afirma: “Nós temos publicações teóricas e críticas no campo literário e essa experiência com o “Consolidando Capacidades e Ampliando Fronteiras: Filantropia para Equidade Racial no Brasil” foi muito boa. Temos que enfrentar o genocídio da população negra e também o epistemicídio dos nossos saberes. Iniciativas como essas do Fundo Baobá são muito importantes”.

Programa Já É: Mentoria contribui para fortalecer potencialidades

Estudantes  do Programa que incentiva o acesso ao ensino superior, além das aulas contam com orientação de especialistas para alcançar o objetivo de chegar à universidade e permanecer nela

                                          Por Wagner Prado

Quando é que surge em alguém o sentimento de pertencimento? A resposta é simples: quando a pessoa identifica a si mesma como parte de uma comunidade já estabelecida ou que está se estabelecendo. Apesar da simples resposta, a engrenagem que move sentimentos e sentidos e faz a pessoa alcançar a tal sensação de pertencimento é que é um tanto complicada. Mas não é intransponível. 

Estudantes  do Programa Já É, do Fundo Baobá para Equidade Racial, estão sendo orientados para alcançar a sensação de pertencimento. São jovens negras, negros e negres da cidade de São Paulo e da região metropolitana, moradores de bairros e/ou comunidades periféricas, do sexo masculino e feminino, cis (pessoa que se identifica com o gênero que foi atribuído a ela no nascimento), trans (pessoa que não se identifica com o gênero que foi atribuído a ela no nascimento)  e não binários (pessoa designada como menino ou menina ao nascer, mas que não tem identificação com nenhum desses dois gêneros)

O Já É é um programa de acesso e permanência no ensino superior, de preferência em universidades públicas, para esses jovens negros . Ele procura ampliar as oportunidades de acesso ao ensino de nível superior em algumas das melhores instituições de ensino do país, quer sejam elas gratuitas ou pagas. Acontece que esse grupo de jovens, ao longo de suas trajetórias pessoais, não foi contemplado com o melhor ensino no nível básico. Portanto, carregam algumas defasagens que precisam e estão sendo superadas. O Programa Já É está em seu segundo ano de execução. Neste segundo ano é apoiado pela empresa MetLife, que fez aporte de R$ 1 milhão para o desenvolvimento dos e das estudantes. 

Caminhos da superação

Mas como superar disparidades que colocam quem teve maior poder aquisitivo e pôde frequentar as melhores instituições particulares de ensino, desde a base, no caminho preferencial? O estabelecimento de políticas públicas não governamentais, que sejam afirmativas e gerem oportunidades de desenvolvimento de potencialidades. 

O Fundo Baobá, na elaboração do projeto do Programa Já É, estabeleceu que os estudantes selecionados teriam mentorias de caráter coletivo e de caráter individual com foco na ampliação de suas potencialidades acadêmicas e também suas potencialidades socioemocionais. 

Essa atividade de mentorias é metodologicamente  voltada para pessoas pretas. Ela aborda, de forma sistêmica o processo de estudo que será empregado, considerando os efeitos psicossociais do racismo como algo de extrema singularidade na experiência educacional de cada pessoa. É uma jornada de autoconhecimento em busca de transformação, que reforça as positividades existentes e procura dirimir as negatividades. O resultado pode ser observado em aspectos como a importância de se organizar para a concretização de projetos pessoais, para reter as informações trazidas pelo estudo e também para a realização dos afazeres profissionais. 

A primeira, das 12 sessões de mentoria coletiva foi presencial e aconteceu em 11 de junho. A equipe de mentoria é formada por Ellen Piedade (Gestora de Políticas Públicas pela Universidade Candido Mendes e bacharel em Ciências Políticas pela Universidade de Brasília); Juliana Lima (Pós-Graduada em Direito Empresarial pela Legale Educacional e graduada em Direito pelo Centro Universitário Cesmac, de Alagoas); Jussiara Leal (Graduada em Psicologia pela Universidade de Pernambuco) e Glauber Marinho (Pedagogo pela Universidade de Brasília).

Juliana Lima

Jussiara Leal

Glauber Marinho

Serão feitos outros 11 encontros até o final do segundo semestre, com periodicidade quinzenal e temas variados, como: Planejamento, autoconsciência, autogestão e plano de estudos na prática. Outros dois encontros presenciais estão agendados. 

Ellen Piedade, que coordena o time de mentores,  fala sobre o objetivo acompanhamento e mentoria para o Programa Já É.  “Temos como propósito combater o racismo, por meio de capacitação de alta qualidade e estímulo ao desenvolvimento de habilidades socioemocionais em pessoas negras. Especificamente na mentoria para estudantes, atuamos a partir de uma metodologia afrocentrada,  que oferece ferramentas para lidar com o desafio pré-universitário  e universitário”, diz. 

Fazer com que estudantes negros não represem suas potencialidade e deixem aflorar até as que não tinham conhecimento é fundamental. “A mentoria trabalha a partir de quatro pilares: intelectual, emocional, físico e espiritual. É uma proposta de olhar sistêmico para os recursos necessários para desenvolvimento de competências que impactam diretamente na vida profissional desses jovens. A mentoria trabalha desde métodos de estudo, os efeitos psicossociais do racismo, sustentabilidade e ecologia de projetos profissionais, quilombismo e consciência social. O foco é investir no protagonismo delas e deles como estudantes e profissionais”, afirma Ellen Piedade. 

Ellen Piedade

As variáveis que podem afetar um bom desempenho estudantil e, posteriormente, profissional, são levadas em conta e analisadas. “Além de revelar métodos de estudos que normalmente não foram ensinados de forma explícita para esses alunos, a mentoria tem uma abordagem que considera outras variáveis que afetam a adesão aos estudos: a sensação de pertencimento, as aspirações e o empoderamento dessas e desses jovens. É um olhar real do trajeto que é necessário percorrer para alcançar a universidade, se formar e entrar no mercado de trabalho”, declara Ellen. 

Jovens negras, negros e negres lutando para alcançar um nível educacional que muitos em suas famílias e entre seus amigos não têm. Como lidar com as dificuldades que isso pode trazer? Ellen Piedade explica: “Na mentoria, o coaching é uma metodologia que ampara a organização do projeto profissional definido (entrada na universidade, a permanência nela  e a colocação profissional). É necessário identificar onde se está e para onde se quer ir e,  a partir desse diagnóstico, constroem-se os caminhos possíveis para a realização do objetivo, estimulando uma tomada de decisão coerente. Dessa forma, essa é uma metodologia orientada ao estímulo, ao protagonismo necessário e maior eficiência das ações que levam ao alcance do objetivo. Tudo isso em uma lógica sustentável e que considera a realidade de cada estudante, sem fórmulas mágicas absurdas e irreais”.

Calendário do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco

Investir na promoção da equidade racial, por meio de aportes financeiros em iniciativas individuais ou coletivas direcionadas exclusivamente para a população negra é a missão do Fundo Baobá e dialoga com os esforços na luta contra o racismo e pela eliminação da discriminação racial.

O Fundo Baobá acredita que, com mais estrutura, investimentos e oportunidades, as mulheres negras líderes que atuam em diversos campos poderão:

  • acessar espaços de poder (simbólico e material);
  • mobilizar mais pessoas para a luta contra o racismo, por equidade racial e justiça social; e
  • transformar o mundo a partir de suas experiências.

Juntando esforços para investir nessas potências, o Instituto Ibirapitanga, Ford Foundation e Open Society Foundation, doaram juntos U$ 3 milhões ao Fundo Baobá, que lançará o Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. A maior parte do recurso, cerca de R$10 milhões, será aplicada no apoio direto às organizações, grupos, coletivos e lideranças femininas negras.

Editais

Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Liderança Femininas Negras: Marielle Franco, com vigência de 2019 a 2024, tem como foco ampliar e consolidar a participação de lideranças femininas negras em posições de poder e influência por meio do investimento em formação política e técnica, fortalecer organizações, grupos e coletivos de mulheres negras e, ao mesmo tempo, fazer um tributo à trajetória e à vida de Marielle Franco, brutalmente assassinada aos 14 dias de março de 2018.

O programa começa com o lançamento de dois editais. No primeiro, “Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras”, aproximadamente 60 mulheres negras terão seu desenvolvimento acelerado, por meio da oferta das ferramentas essenciais para que elas, que já são lideranças em diversos campos de atuação, possam acessar espaços de poder – simbólico e material, transformando o mundo a partir de suas experiências, por justiça e equidade social e racial.
Já no edital “Fortalecimento de capacidades de organizações, grupos e coletivos de mulheres negras”. cerca de 10 organizações da sociedade civil, grupos e coletivos de mulheres negras também poderão ser apoiadas.

Lançamento

Os editais serão lançados em 03 de setembro de 2019. A seleção e divulgação das propostas escolhidas acontecerá até novembro de 2019. Veja o novo cronograma abaixo e assine nossa newsletter para ver todas as novidades! 

Para saber mais

O Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em memória ao Massacre de Shaperville, que ocorreu na mesma data em 1960, na África do Sul.

Seleção de Projetos Negras Potências

É com muita felicidade, que anunciamos o resultado do Edital Negras Potências!
Ao todo, foram selecionados 16 projetos de impacto de diversas regiões do Brasil.

O canal Negras Potências é uma parceria entre Fundo Baobá e Benfeitoria, com apoio de Coca-Cola Brasil e Movimento Coletivo. Juntos, reunimos projetos de impacto que contribuem para o empoderamento de meninas e mulheres negras que agora vão contar com a sua contribuição!

Lista de Projetos selecionados:

Afreektech

O projeto desenvolverá ações voltadas para a transmissão de conhecimento de ferramentas de gestão e alavancagem de negócios como Marketing Digital e Modelagem de Negócios com foco em mulheres negras.

Afrolab

O projeto buscará fortalecer as habilidades empresariais de mulheres negras a partir de um processo de autoconhecimento voltado para aprimoramento da sua capacidade decisória.

Afroricas

O projeto desenvolverá material audiovisual voltado para a difusão de informações relevantes para o desenvolvimento das mulheres negras no mercado de trabalho.

Amora

Tem como proposta a inserção da identidade étnica e racial, de maneira positiva, no universo infantil feminino através de brinquedos, bonecas, que reflitam a estética negra. Em 2017 ganhou o Prêmio Laureate Brasil Jovem Empreendedor Social.

Casa das pretas

Através de atividades como oficinas de fomento à economia solidária; rodas de estudo e leitura sobre feminismo negro; cursos para desenvolvimento acadêmico (acesso a mestrado e doutorado); cursos de dança e percussão; todos voltados para o público feminino negro, o projeto tem por objetivo o fortalecimento político e econômico das mulheres negras a fim de impactar na redução das violências de gênero e situação de desigualdade econômica por elas experenciadas.

Circuladô de oya

Tem por objetivo fomentar a divulgação e discussão da discriminação interseccional de gênero, raça e classe que atinge as mulheres negras a partir do fomento à participação deste público em espaços de formação e atuação política junto a comunidades, instituições e em redes sociais. As ações terão núcleos de Educação Popular como lócus de desenvolvimento e propagação.

Cores Femininas

O projeto tem por objetivo o empoderamento de mulheres negras através de ações culturais – grafite e hip hop – a serem realizadas de maneira colaborativa e comunitária. A troca de experiências, conscientização para enfrentamento das várias formas de violência bem como autonomia financeira também estão presentes em seus objetivos. O recurso arrecadado durante a campanha de crowdfunding será utilizado, principalmente, para a compra de materiais.

Corpos Invisíveis

O projeto tem por objetivo principal a realização de longa metragem no qual serão discutidos temas como racismo, seu aspecto estruturante das relações sociais no Brasil, da invisibilização e inviabilização das mulheres negras em uma sociedade machista.

Costurando redes

O objetivo principal centra-se na realização de oficinas de costura buscando o fortalecimento econômico de mulheres negras e seu empoderamento, autoestima e autonomia de maneira que sejam instrumentalizadas para lidar com questões cotidianas como a violência doméstica e a desigualdade de acesso a oportunidades profissionais e de renda.

Costurando sonhos

O projeto tem por objetivo o fomento de capacidades técnicas que possibilitem a inserção de mulheres negras no mercado de trabalho através de oficinas na área de costura.

Doula a quem quiser

O projeto tem por objetivo promover o acesso à informação de qualidade sobre gestação, parto e puerpério, salientando a questão da violência obstétrica vivenciada por mulheres. O acompanhamento presencial por doulas para mulheres em situação de privação de liberdade também está presente nas ações a serem realizadas.

Editora Nasurdina

O projeto objetiva a consolidação de uma editora que potencialize jovens autoras negras, independentes, oferecendo-lhes infraestrutura para criação e produção de material.

Investiga Menina

O projeto tem por objetivo, através da articulação com professoras e pesquisadoras negras, brasileiras, fomentar o interesse de meninas negras pelas áreas das ciências exatas no campo do conhecimento tendo em vista esta carecer de representatividade negra, feminina.

Revista Arquitetas Negras Vol.1

O projeto tem por objetivo a produção de publicação (revista) especializada em arquitetura e urbanismo a fim de dar visibilidade ao trabalho e o contexto social no qual se dá o trabalho de mulheres negras que atuam na profissão.

Sororidade
Uma nova forma de relação

O projeto pretende realizar a montagem de espetáculo artístico, circo-teatro, a ser apresentado em escolas públicas de ensino médio na periferia da cidade de Recife com o objetivo de mobilizar mulheres jovens articulando-as para que enfrentem as violências experienciadas por este público naquela região.

Sou Negra e quero falar

O projeto tem como objetivo principal o fomento da discussão de temas como racismo, combate ao machismo, violência de gênero, direitos reprodutivos, descriminalização do aborto, feminismo negro por mulheres negras, blogueiras. A proposta é a realização de workshop cujo conteúdo centra-se em subsidiar tecnicamente jovens negras, produtoras de conteúdo em meios alternativos, para que propaguem a discussão destes temas.

Esses são os 16 projetos selecionados. Nosso muito obrigada a todas que enviaram suas iniciativas.

Mulheres na STEM

A inserção de meninas e mulheres na área das exatas, em qualquer estágio do ensino – seja no médio técnico ou superior – (ainda) é muito pequena, principalmente porque é associado às ciências a racionalidade, enquanto às mulheres por meio de alegorias de gênero são estereotipadas como sentimentais demais, emotivas demais. Some um fato ao outro e o resultado é: As ciências não são para as mulheres.

Repensar as práticas escolares com foco em equidade, de acordo com a professora e física Katemari Rosa, do Instituto de física da UFBA (Universidade Federal da Bahia), também passa pela construção de ações afirmativas que garantam maior representatividade na ciência. “As mulheres mais excluídas do processo científico no país são as mulheres negras”, diz a docente, ao mencionar que o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) só adicionou o box raça no currículo Lattes em 2013. O que temos? A falta de dados sobre quantas mulheres negras estão fazendo ciências.  

Existe uma naturalização das desigualdades de oportunidades, incentivos e perspectivas entre homens e mulheres que por muitas vezes, a consequência é a falta e a negação das mulheres em quererem partilhar esses espaços. Depois de formadas, essas mulheres tem que lidar com atitudes de menosprezo, desconfiança das suas capacidades e ainda o diferença salarial para o mesmo serviço prestado, quando homens cientistas costumam ganhar até R$2.000 a mais do que as mulheres que ocupam o mesmo cargo.

São esses alguns dos motivos que levam as mulheres a desistirem da carreira, mesmo depois de passarem pelos percalços nada fáceis para se formarem em uma área que o tempo todo, parece salientar que elas estão ocupando um espaço que não às pertence.

Uma das questões mais recorrentes quando apontamos uma perspectiva de gênero e racial a falta de mulheres, em especial de mulheres negras dentro das ciências, é: Qual a importância disso?

A resposta não requer grandes elaborações, já que foi comprovado que a inserção de mulheres nas áreas em que geralmente elas não são bem vindas é uma questão de direitos humanos e justiça social e resulta em espaços e empresas mais diversas e portanto mais lucrativas. Diversidade nos espaços de poder, resulta na geração de uma melhor ciência, que pode ser entendida como: outras formas de produção de conhecimento e multiplicidade dos pontos de vista.  

” Valorizamos o que medimos, mas nem sempre medimos o que valorizamos”, pesquisas setorizadas do Capes e do CNPq não possuem dados sobre gênero e menos ainda sobre raça na STEM (acrônimo em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática).

“Nós precisamos de dados. Não apenas dados do governo, mas das escolas. Temos que saber a quantidade de diretoras, professoras de física e alunos que ganharam prêmios”, exemplifica a pesquisadora brasileira Márcia Barbosa, professora titular da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e integrante da Academia Brasileira de Ciências, a pesquisadora defendeu que as escolas precisam repensar a forma como trabalham seus conteúdos. “A construção social que determina que o cientista é um homem barbudo, de jaleco branco e com uma caneta no bolso não tem nada a ver com a construção do conhecimento. Temos que mudar tudo.”

Há dois fatores em comum entre todas as grandes empresas: a falta de liderança feminina, apenas 9% das CEOs do mundo são mulheres e uma grande disparidade entre mulheres em cargos iniciais e aquelas que chegam no topo.

O funil vai ficando cada vez menor, por uma série de fatores que já são bastante conhecidos: divisão desigual de afazeres domésticos e cuidados com a família, o que dificulta e muito a conciliação de carreira e responsabilidades familiares; a questão da maternidade, que ainda torna a contratação de mulheres menos vantajosas aos olhos de muitos empregadores; e não menos importantes que esses dois primeiros pontos, temos os viéses inconscientes, as chamadas “crenças” que influenciam os processos de seleção, avaliação e promoção dentro das organizações, tais quais: o pensamento cultural que faz com que mulheres e homens acreditem que existem atividades e funções ‘para eles’ e ‘para elas’.

Alice de Paiva Abreu, professora emérita da UFRJ (Universidade Federal do rio de Janeiro) e diretora do GenderInSITE, um programa internacional que estuda STEM (acrônimo em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática) e equidade de gênero, afirma que: “Se os países não puderem aproveitar todos os seus talentos, certamente eles sofrerão em termos de desenvolvimento econômico.” e alerta para o fato de estamos pautando em 2018 a mesma agenda de mudanças que foi construída em 1995 e até o presente momento segue com as mesmas demandas:
1. Equidade de gênero na educação científica e tecnológica.
2. Remover obstáculos nas carreiras científicas e tecnológicas de mulheres.
3. Tornar a ciência receptiva às necessidades da sociedade.
4. Fazer com que o processo decisório de ciência e tecnologia seja mais atento à questão de gênero.
5. Ter um melhor relacionamento com sistemas de conhecimento locais.
6. Enfrentar questões éticas em ciências e tecnologia.
7. Melhorar a coleta de dados desagregados por sexo para os tomadores de decisão.
8. Promover igualdade de oportunidades nos grandes sistemas de ciência, tecnologia, engenharia, matemática e inovação.

Katemari Rosa enfatiza a importância de políticas públicas que incentivem as meninas negras (políticas públicas focalizadas que se desdobrem em ações afirmativas), “Nós precisamos de políticas públicas de inserção de mulheres e de pessoas negras nas ciências. Precisamos de políticas públicas para se garantir que as pessoas desses grupos sub-representados consigam permanecer quando entrarem nas universidades e tenham sucesso nos cursos. Políticas também para que esses grupos tenham sucesso nas suas carreiras profissionais, tenham possibilidade de ascensão profissional. Não basta nós ampliarmos o acesso de mulheres negras, de pessoas indígenas, dos grupos que estão sub-representados na ciência de maneira geral, a gente precisa trabalhar também pela permanência e pela ascensão”

Suelaine Carneiro, socióloga e coordenadora do programa de educação do Geledés Instituto da Mulher Negra, reiterou o apagamento dos saberes negros nas ciências ( no ensino fundamental e médio) e de como isso se solidifica na “Falta de possibilidades de sonhar”, se não se sabe que é possível chegar, como almejar estar lá?

O Fórum Econômico Mundial estipulou no seu relatório de 2016, The Future of Jobs, que empregos na área de informática e matemática terão um aumento de 3,21% até 2020, influenciada principalmente pela urbanização, pelo crescimento de países em desenvolvimento e por avanços tecnológicos. Para esse fenômeno, ele deu o nome de Quarta Revolução Industrial.

Como estamos preparando, estimulando e incentivando as meninas e mulheres negras a seguirem no caminho das STEM (acrônimo em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática) para estarem aptas as vagas que surgirão em 2020? Como diminuir esse gap de gênero?

Hoje já existem algumas iniciativas, comunidades e programas para mulheres em tecnologia, dentre eles:

PrograMaria: Atua em São Paulo e oferece curso de introdução à programação com foco em desenvolvimento web
PretaLab: iniciativa do Rio de Janeiro que atua no protagonismo das meninas e mulheres negras e indígenas nos campos da inovação e tecnologia
Reprograma: atua em São Paulo inspirando, empoderando e educando mulheres, por meio de conhecimentos de computação e ferramentas de capacitação profissional
MariaLab: coletivo em São Paulo que tem como objetivo encorajar, empoderar e unir mulheres através do interesse pela cultura hacker
PyLadies: comunidade mundial que foi trazida ao Brasil com o propósito de instigar mais mulheres a entrarem na área tecnológica
Django Girls: comunidade que oferece workshops de desenvolvimento web para mulheres iniciantes
Meninas Digitais: programa que apresenta as áreas de TI para alunas do ensino médio/tecnológico
Mulheres na Tecnologia: organização sem fins lucrativos que contribui para o protagonismo feminino na era digital

Fontes:
Parte das falas das mulheres nessa matéria foram colhidas durante o Seminário Elas nas Exatas, realizado pelo Fundo Elas, no Rio de janeiro no mês de março.

http://porvir.org/referencias-na-escola-sao-importantes-para-trazer-mais-mulheres-paras-as-exatas/

https://www.napratica.org.br/carreira-em-tecnologia-para-mulheres/

https://www.napratica.org.br/como-e-carreira-para-mulheres-em-ciencias-tecnologia-engenharia-e-matematica/

http://www.cienciaecultura.ufba.br/agenciadenoticias/entrevistas/katemari-rosa/

Lutas Negras – Passado, presente e perspectiva de futuro.

Origem

O 21 de março foi instituído pelas Nações Unidas como o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, pois foi nesse mesmo dia,  58 anos atrás que ocorreu um dos maiores genocídios negros da história: o Massacre de Sharpeville, na província de Gauteng na África do Sul. Nesse mesmo dia em 1960, o Congresso Pan-Africanista organizou um protesto contra a Lei do Passe, um documento que continha foto, dados pessoais, números e registros profissionais, além de anotações sobre imposto de renda e ficha criminal, que todas as pessoas negras tinham que carregar sempre e apresentar às autoridades quando solicitadas, sendo sumariamente detidas se estivessem sem ele.

No fim de 1959, o Congresso Nacional AfricanoCNA, em sua conferência anual anunciou que o ano seguinte seria o ano da luta contra o passe, marcando para 31 de março a manifestação, o Congresso Pan-Africanista, que era uma dissidência do CNA, resolveu se antecipar e marcou um protesto pacífico para o dia 21. O líder do CNA, Robert Subukwe, ordenou uma manifestação não-violenta para provocar um pane no sistema político e econômico do país, já que os negros deixariam seus passes em casa, compareceriam a delegacia para serem presos e assim superlotariam as prisões e causariam uma grande falta de mão de obra ocasionando o caos. No entanto a força policial sem aviso ou qualquer organização, abriu fogo contra a manifestação e no final de minutos de disparos, o massacre estava concluído: 69 mortos e mais de 180 pessoas negras feridas.

massacre de Sharpeville

O massacre de Sharpeville foi um divisor na história do apartheid na África do Sul e foi também o acontecimento que fez com que Nelson Mandela abandonasse a política de não violência, sendo preso em junho de 1964.   

Passado

Durante o regime escravocrata no Brasil, os espaços de socialização dos negros escravizados eram restritos aos limites das fazendas e dos engenhos, quando não muito somente dentro das senzalas e nos espaços de trabalho forçados. O que se tentava evitar eram as reuniões entre os negros e assim evitava-se também o planejamento de rebeliões e fugas. Ainda hoje é propagada uma ideia bem errônea de que os africanos que foram sequestrados para fins de escravização, ficaram a espera de alguém que os tirasse dessa situação, quando houve muitos levantes e situações de revoltas e debandadas. Uma das formas de se reunir sem levantar suspeitas, pois o motivo aparente era a comemoração de feriados católicos, eram através das Irmandades Negras que foram uma estratégia encontrada para fortalecer suas identidades e diversidades étnicas em tempos de escravidão, servindo como um espaço para resistir a opressão, praticar a fé, estimular a solidariedade e manter práticas e costumes ancestrais frente a uma sociedade hostil em pleno escravismo colonial.

As irmandades desempenhavam um papel estratégico na sociedade da época pois possibilitava aos negros ocuparem e definirem formas de atuação social e de resistência. Notava-se que nestes grupos a equidade de gênero era um valor importante, pois os relatos históricos apontam o equilíbrio da composição dos poderes, especialmente acerca do modelo de governança para as irmandades com a participação das mulheres negras em cargos estratégicos. Os associados contribuíam com jóias e taxas anuais e em troca recebiam assistência quando doentes, quando presos, quando famintos, mortos e também se cotizavam para comprar a alforria de pessoas escravizadas.

A Irmandade representava um espaço de relativa autonomia negra, na qual seus membros – em torno das festas, assembleias, eleições, funerais, missas e da própria assistência mútua – construíam identidades sociais significativas, no interior de um mundo sufocante e sempre incerto. A Irmandade era uma espécie de família ritual, em que africanos desenraizados de suas terras viviam e morriam solidariamente. Idealizada pelos brancos escravocratas como um mecanismo de domesticação do espírito africano, através da africanização da religião dos senhores, elas vieram a constituir um instrumento de identidade e solidariedade coletivas.  

Festa da Boa morte foto União dos municípios da Bahia

Essas duas manifestações, a primeira na África do Sul de 1960 e a outra no Brasil do século XIX, foram duas das várias lutas negras por emancipação que são pouco difundidas, que não constam nos livros e muitas vezes são sequer mencionadas e lembradas, porém elas aconteceram, foram documentadas e serviram como estímulo e inspiração para as manifestações e lutas do século XXI, como por exemplo, a Marcha das Mulheres Negras contra o racismo, a violência e pelo bem viver, que aconteceu pela primeira vez em 2015 em Brasília.

A marcha teve como propósito maior marcar a luta contra o racismo, a luta pela igualdade de direitos, por um país mais justo e democrático e pela defesa de um novo modelo de desenvolvimento baseado na valorização dos saberes e da cultura afro-brasileira. No final da marcha foi a entregue a presidente em exercício, Dilma Rousseff, um manifesto em que foi cobrado do estado brasileiro, entre outras pautas, medidas emergenciais para reduzir a mortalidade de mulheres em especial, de mulheres negras, pois na pesquisa feita pelo Mapa da Violência de 2015, foi percebido um aumento de 54% em dez anos no número de homicídios de mulheres negras. Além disso, a diretora executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka reconhecida internacionalmente por ter atuado na luta contra o apartheid e pelo fim do racismo na África do Sul, participou de uma reunião com as organizadoras da marcha.  

A Marcha foi uma iniciativa de diversas organizações e coletivos do Movimento de Mulheres Negras e do Movimento Negro, contando com o apoio de importantes intelectuais, artistas, ativista, gestores e gestoras que são referência das mais diversas áreas no Brasil, América Latina e do Continente Africano.

Marcha das Mulheres Negras

A Marcha criou a partir de sua mobilização, a oportunidade de diálogo real entre mulheres negras de diferentes vertentes políticas, ideológicas, religiosas, com o fortalecimento mútuo das pautas, permitindo assim a construção a partir dos que as une e não do que as separa. Segundo Juliana Gonçalves em matéria para a revista Carta Capital: “Ao localizar historicamente o que significa ter uma marcha nacional de mulheres negras na trajetória percorrida pelas nossas ancestrais, pelas nossas mais velhas em solo brasileiro, encontramos outro ponto que dá sentido à marcha que está inserida neste contexto histórico de resistência feminina negra que rememora Aqualtune, Acotirene, Luisa Mahin, Dandara, Maria Firmino dos Reis, Carolina de Jesus, Maria Brandão dos Reis, Antonieta de Barros, Lélia Gonzáles, Beatriz Nascimento, Laudelina Campos, Theresa Santos, e tantas outras que aqui chegaram e nasceram. Dar visibilidade a essa luta histórica é fundamental para munir as novas gerações de ferramentas para o combate ao privilégio branco que estrutura a sociedade racista que vivemos”.

O Bem Viver – Futuro

De acordo com Juliana Gonçalves, o conceito de Bem Viver foi reivindicado pelo Movimento de Mulheres Negras, esse conceito não tem nada a ver com prosperidade financeira e sim é uma crítica forte ao modelo desenvolvimentista de sociedade que vivemos. A apropriação do conceito foi feito pelo Movimento de Mulheres Negras em diálogo com político e economista equatoriano Alberto Acosta no seu livro “O Bem Viver – Uma oportunidade para imaginar outros mundos”.

A teoria do Bem Viver nasceu da prática histórica e da resistência dos povos indígenas da América Latina. Ela apresenta uma forma diferente de relacionamento entre os seres humanos, as sociedades e a natureza. Acosta afirma que “o Bem Viver é uma filosofia em construção, e universal, que parte da cosmologia e do modo de vida ameríndio, mas que está presente nas mais diversas culturas”. E cita a ética e a filosofia africana do Ubuntu – “eu sou porque nós somos”.

A noção do Bem Viver propõe também abandonar a ideia de progresso, porque considera que essa noção é discriminatória e violenta. Seus princípios são relacionalidade, complementaridade, reciprocidade e correspondência. O Bem Viver surge para descolonizar a democracia e devolver-lhe seu sentido original, de governo do povo e para o povo. O autor propõe o Bem Viver para evitar a destruição provocada pelos mercados, o capitalismo e a modernidade, ele apresenta o bem Viver não como uma alternativa, mas como a única via que de fato pode se contrapor ao capitalismo. Diferentemente do socialismo, que apresenta a diversidade enquanto recorte dentro da luta contra o capitalismo, O Bem Viver traz a diversidade como fundamento.

Fontes: Artigo Identidade e diversidade étnicas nas irmandades negras no tempo da escravidão de João José Reis, Portal Por dentro da África, Carta Capital, Revista Calle.

Abordando a Mortalidade Materna entre Comunidades Quilombolas do Estado do Amapá.

O que é morte materna?

Segundo a Classificação Internacional de Doenças – CID – (9ª Revisão, 1975), é “a morte de uma mulher durante a gestação ou dentro de um período de 42 dias após o término da gestação, independentemente da duração ou localização da gravidez ou por medidas tomadas em relação a ela, porém não devida a causas acidentais ou incidentais”.  

A Organização Mundial de Saúde (OMS) revelou que cerca de 830 mulheres morrem diariamente no planeta devido a causas evitáveis relacionadas à gravidez, ressaltando que 99% dos óbitos ocorrem em países em desenvolvimento, como o Brasil. A investigação se estende e a OMS afirma que 85% das mortes maternas foram por causas evitáveis, como a doença hipertensiva específica da gestação e as hemorragias. E mais, 71% dos óbitos estavam relacionados à atenção de saúde dada no pré-natal, parto e pós-parto.

O Fundo Baobá articulou junto com a Johnson & Johnson, a Associação Cultural de Mulheres Negras/ACMUN que co-elaborou e o Instituto de Mulheres Negras do Amapá/IMENA que desenvolveu, o projeto Abordando a Mortalidade Materna entre Comunidades Quilombolas do Estado do Amapá.

O Projeto foi realizado durante o ano de 2017 ampliando o olhar de cuidado para além do eixo sudeste e chegando a territórios esquecidos pelos serviços públicos de saúde, com ações que beneficiaram três Comunidades Quilombolas: Curiaú, Tessalônica e Carmo do Maruanum, focando na saúde das gestantes negras dessas comunidades e destacando três eixos: Serviço de saúde, capacitação profissional e desenvolvimento comunitário.

Para a elaboração da proposta, o Fundo Baobá realizou uma pesquisa de mapeamento sobre mortalidade infantil e saúde da mulher entre os grupos de mulheres destas comunidades. A construção coletiva da proposta e sua execução permitiu o intercâmbio de experiências, vivências e capacitação de trabalhadores da área de saúde e de ativistas do movimento social sobre a temática da saúde da população negra, em especial no que se refere à mortalidade materna e infantil e sua articulação com o racismo institucional praticado no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

O projeto realizou atividades focadas para as mulheres ativistas e profissionais de saúde que foram capacitadas para a multiplicação de informações específicas sobre o tema; garantiu a qualificação de profissionais de saúde para um melhor atendimento, com um olhar diferenciado para as questões de desigualdade racial e levou informações e orientações para pais e responsáveis sobre a melhoria da qualidade de vida das crianças, que envolve incentivo à higiene e saúde infantil, aleitamento materno, vacinação e nutrição, lembrando sempre da importância do pré-natal, do atendimento livre de preconceito e da eliminação da violência obstétrica.

Além das organizações citadas, as demais organizações envolvidas no projeto foram: Associação Mãe Venina do Quilombo do Curiaú, Rede Fulanas – NAB/Negras da Amazônia Brasileira, Organização dos Advogados do Brasil/OAB Amapá, Instituto AMMA PSIQUE e Negritude.

De acordo com Simone Cruz – ACMUN/Associação Cultural de Mulheres Negras, existe uma relação intrínseca entre racismo institucional e mortalidade materna de mulheres negras:

“O  racismo institucional é definido como a incapacidade de uma instituição em prover um serviço apropriado às pessoas em razão de sua cor, cultura, ou origem étnica, ou seja, qualquer sistema de desigualdade que se baseia em raça e ocorra em instituições, sejam elas públicas ou privadas pode-se afirmar ser racismo institucional. No que se refere ao campo da saúde não é diferente, muitos são os estudos em relação a saúde da população negra que apontam que a população negra tem maior predisposição a doenças como hipertensão, por exemplo. Esta é uma das razões que coloca as mulheres negras no topo das causas por mortalidade materna, justamente por não ter acesso a um tratamento adequado que reconheça e dê conta dessa especificidade, evitando a morte materna. Por outro lado o racismo institucional se apresenta através do tratamento oferecido às mulheres negras no SUS, que também é apontado em estudos que as mulheres negras são menos tocadas em consultas ginecológicas assim como a ideia de também as mesmas suportam mais a dor por serem mulheres “mais fortes’, o que ocorre em quaisquer circunstâncias, inclusive na hora do parto. Situações como essa que podemos afirmar como tratamento inadequado, desigual e racista, uma vez que tais condições, de serem fortes e suportarem a dor, são atribuídos somente às mulheres negras”.

Simone Cruz segue ressaltando a importância do projeto para às Comunidades Quilombolas e as mudanças advindas:   
“A realização deste projeto em comunidades quilombolas justifica-se pela necessidade recorrente no Brasil de se debater as condições desiguais a que são submetidas as mulheres negras em nosso país. Isso significa que o fato de fazer parte de uma comunidade quilombola soma-se a uma condição de subordinação a que as mulheres negras são submetidas, as colocando em uma condição de vulnerabilidade social. Atuar em Comunidades Quilombolas no estado do Amapá  nos permitiu ter uma  dimensão das desigualdades raciais relacionadas à saúde vivenciadas por mulheres negras quilombolas. O Estado do Amapá, localizado no Norte do Brasil, tem uma alta taxa de mortalidade materna, cerca de 20 mortes por mês, e a relevância dos números desta fatalidade ocorre entre as comunidades quilombolas. O resultado evidente deste projeto é o conhecimento obtido por parte das mulheres que foram obtidos a partir de vivências da realidade das suas próprias comunidades e do trabalho que lá já desenvolviam, como no caso das profissionais de saúde. As mudanças no atendimento a outras mulheres e a proposição de ações com abordagem de gênero e raça na comunidade é algo que incluíram em seu cotidiano. Com isso, nossa perspectiva é a melhoria do acesso e a melhor qualificação dos serviços para as mulheres que vivem nas comunidades quilombolas”.

Simone Cruz também pontuou algumas ações que em continuidade ao projeto desenvolvido pela parceria Fundo Baobá + Johnson & Johnson + IMENA + ACMUN podem ajudar a diminuir os índices de mortalidade materna de mulheres negras, como:

– A capacitação dos profissionais de saúde, todos, inclusive e, principalmente, xs médicxs;
– A informação porta a porta, trabalho comunitário;
– As campanhas publicitárias;
– A produção e divulgação dos dados.

A enfermeira e integrante do IMENA, Suzana Cristina Pontes deu seu depoimento sobre a importância do Fundo Baobá na implementação do projeto:

“Quando veio a proposta do projeto, eu achei de extrema importância, porque o estado do Amapá está entre os cinco estados em que a mortalidade materna tem sido crescente, e a gente viu isso. Também foi importante o debate sobre a coleta do quesito raça/cor que foi um ganho muito grande, porque existe uma grande dificuldade da população se autodeclarar a partir dos critérios oficiais do IBGE. A troca de experiência foi muito importante no que se refere ao poder da fala. Então o ganho foi muito grande. Geralmente os projetos têm início, meio e fim e este não tem fim, tem reticências, por que ficou para uma continuidade”.

Além do investimento na atenção primária, nas instalações de saúde e na capacitação profissional, uma das formas de auxiliar na redução dos números quando falasse de mortalidade materna é a estratificação das gestantes e crianças. Essa estratificação consiste na classificação das mulheres grávidas em risco habitual (quando não apresentam fatores de risco individual, sociodemográfico, de história reprodutiva anterior ou doença), risco intermediário (fatores relacionados à raça, etnia, idade, baixa escolaridade e história reprodutiva) ou risco alto (condições pré-existentes como trombose ou doenças específicas da gestação, como infecção urinária de repetição).

Após a estratificação, a atenção a gestante é dada conforme a classificação com acompanhamento de uma equipe multidisciplinar que inclui enfermeiros, obstetras, psicólogos, assistentes sociais, farmacêuticos e outras especialidades e também a gestante sabe antecipadamente onde terá seu bebê, gerado assim muito mais tranquilidade durante a gestação.

Onde isso acontece? No Paraná, que em seis anos reduziu em 30% a mortalidade materna e agora serve de modelo para a América Latina.
fonte.


Enquanto alguns Estados brasileiros são modelos para outros países, outros estados e mesmo as Comunidades Quilombolas seguem sendo esquecidos pelos serviços públicos de saúde e pelas políticas públicas de assistência, fazendo com que seja cada vez mais importante a participação da sociedade civil e de outras instituições – como o Fundo Baobá e a Johnson & Johnson – na capacitação de profissionais e na ampliação ao acesso às informações sobre saúde e bem viver e fica assim cada vez mais visível perceber como são tomadas as decisões dos gestores de saúde pública sobre quem tem acesso aos direitos básicos, incluindo o primário: O de viver.

Negras Potências – Nós Podemos

“Ensine a sua menina que papéis de gênero são totalmente absurdos. Nunca lhe diga para fazer ou deixar de fazer alguma coisa ‘porque você é menina’. ‘Porque você é menina’ nunca é razão para nada. Jamais”
Chimamanda Ngozi Adichie

 

A população brasileira, segundo dados do último censo demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010, ultrapassou o total de 207,7 milhões de pessoas. Mais da metade deste total (53,6%) é composto por pessoas que se autodeclaram negras e neste grupo metade são mulheres.

Contudo, fazer parte do grupo racial quantitativamente majoritário da população não significa, para homens e mulheres negras, igualdade de acesso a direitos. Da mesma forma que a paridade proporcional entre os gêneros no interior deste grupo não impede que as mulheres negras ocupem a base da pirâmide no que se refere a rendimentos no mercado de trabalho ou recebam atendimento de saúde qualitativamente inferior ao disponibilizado às mulheres brancas nos postos do Sistema Único de Saúde (SUS).

Dados do Ministério da Saúde revelam que o percentual de mortalidade materna entre as mulheres negras no SUS chega a 60%. Entre as mulheres brancas este índice é de 34% e enquanto o atendimento pré natal alcança 74,5% nesse grupo, para as mulheres negras o percentual é de 55,7% no sistema de saúde público. Outro dado que compõe este quadro de desigualdade se refere aos níveis de mortalidade de crianças negras e brancas, cuja assimetria passou de 21% para 40% nos últimos vinte anos.

Em se tratando de distribuição de renda, segundo dados do IBGE divulgados em 2015, dentre os 10% mais pobres no Brasil, 76% são negros o que significa que de cada quatro pessoas que se encontram nesta categoria econômica três são negras. Por outro lado na faixa dos 1% mais ricos, 79% são brancos.

Ao voltar o olhar para o mercado de trabalho, a “Pesquisa Mulheres e Trabalho: breve análise do período 2004-2014” realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) aprofunda a informação acerca de rendimentos ao revelar que as mulheres negras recebem a menor remuneração em comparação com a do grupo homens brancos: menos de 40% da renda média calculada em R$ 2.393,00. Ainda de acordo com a mesma pesquisa citada, o desemprego também atinge de maneira proporcionalmente maior as mulheres negras em comparação com os homens brancos tendo alcançado o nível de 10,2% em 2014 para o primeiro grupo frente 4,5% para o segundo.

As trabalhadoras negras são maioria no mercado de trabalho informal,  atuando em atividades reconhecidas como autônomas, além de corresponderem a 39,08% da força de trabalho empregada na execução de atividades laborais consideradas precárias.

No acesso ao ensino as assimetrias permanecem, apesar dos avanços e conquistas resultantes das Políticas de Ação Afirmativas que vêm sendo implementadas nos país nos últimos cinco anos. O percentual de pessoas brancas com 25 anos (ou mais) com menos de um ano de estudo é de 7,4%, negras 14,4%. O percentual de analfabetos negros ultrapassa os 4% ao passo que as pessoas brancas somam 1,8%.

As pessoas negras correspondem a 78,9% dentre os 10% da população com maiores chances de serem vítimas de homicídios e possuem 23,5% mais chances de sofrer assassinato em comparação aos indivíduos brancos. A cada cem (100) pessoas assassinadas no Brasil, setenta e uma (71) são negras.

Esses dados são resultado de séculos de acúmulo de desigualdades que se iniciaram ainda no período da escravidão e se mantiveram com a ausência de políticas públicas para inserir a população negra como parte fundamental para o desenvolvimento do país, seja por uma perspectiva humanitária ou econômica.

Todos esses dados juntos apontam para um fato no tocante econômico: Somente em 2089, daqui a pelo menos 71 anos, negros e brancos terão uma renda equivalente no país. Essa conta é feita com base em dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), considerando rendimentos como salários, benefícios sociais, aposentadoria, aluguel de imóveis e aplicações financeiras, entre outros.

Ilustração Talita Marques


Mulheres trabalham em média
7,5 horas a mais do que os homens por semana.No carnaval do Rio de Janeiro de 2017, uma mulher foi agredida a cada quatro minutos. Meninas passam mais tempo nos afazeres domésticos do que meninos. Uma pesquisa realizada por algumas universidades americanas aponta que a partir dos seis anos, a menina introjeta a desigualdade de gênero e passa a entender que somente meninos podem ser gênios. Pesquisas apontam que o Brasil é um dos piores países da América do Sul para ser menina.

Esses dados são indicativos assustadores de uma realidade urgente, a necessidade de se discutir a igualdade de gênero desde criança, a discriminação contra a menina hoje é a violência contra a mulher de amanhã, e perpetua um ciclo que fortalece o agressor – seja ele o homem, o Estado que não protege a mulher ou a política que deslegitima – e desune as próprias mulheres, vítimas primeiras de um pensamento social e historicamente construído de que ser mulher é ser menos.

E é aqui que entra o empoderamento das mulheres e meninas negras como forma de mudança dessa realidade, como meio para transformar quem é número de estatística em agente da mudança, quem é vista como problema em peça fundamental da resolução.

O educador Paulo Freire foi o pioneiro no uso do termo “Empoderamento” no Brasil, ele fez a tradução da palavra criada em 1977 pelo psicólogo americano Julian Rappaport, que transformou o verbo “to empower” (dar poder) no substantivo “empowerment”.

O uso do termo foi crescendo desde então e ganhou forças em 2013 com o boom das causas sociais na internet e fazendo uma busca rápida no Google, o termo aparece em mais de 5 milhões de resultados em português e mais de 84 milhões de resultados se a pesquisa for pelo termo em inglês.

Empoderamento: É a ação social coletiva de participar de debates que visam potencializar a conscientização civil sobre os direitos sociais e civis. Essa consciência possibilita a aquisição da emancipação individual e também da consciência coletiva necessária para a superação da dependência social e dominação política. O empoderamento devolve poder, dignidade e principalmente liberdade de decidir e controlar seu próprio destino, com responsabilidade e respeito ao outro.  

Empoderamento feminino: Consiste na concepção do poder das mulheres como forma de exigir equidade de gênero nos variados tipos de atividades sociais, de modo democrático e responsável, é um desafio às relações patriarcais, em relação ao poder dominante do homem e a manutenção dos seus privilégios de gênero e a autonomia no que se refere ao controle dos corpos femininos, das sexualidades e das liberdades.

Empoderamento é então a consciência coletiva que se expressa por meio de ações concretas para fortalecer as mulheres e alcançar a equidade de gênero.  

Muito se discute o empoderamento pelo viés estético/imagético, a partir principalmente da aceitação dos seus traços capilares, ampliando para o vestuário, os acessórios, ou seja, a forma como o mundo enxerga mulheres e meninas negras, afinal, se reconhecer como um ser humano pleno – não feio e subalternizado – está ligado diretamente a autoestima e orgulho e quando se tem orgulho de quem se é, é mais fácil impactar e influenciar os seus pares e muito mais fácil entender as amarras das estruturas racistas.

O termo empoderamento é muita vezes mal interpretado, visto como algo individual e como a continuação da perpetuação das opressões, porém bell hooks o define como algo com significado coletivo, pois trata-se de empoderar a si e aos outros e colocar as mulheres negras como sujeitos ativos de mudança, diz respeito a mudanças sociais numa perspectiva anti racista, anti elitista e anti sexista através de mudanças das instituições sociais e consciência individuais, sendo necessário criar estratégias de empoderamento no cotidiano, em experiências habituais no sentido de reivindicar direito a humanidade.

É necessário o apontamento de que quando falamos de empoderamento de mulheres e meninas negras estamos falando em luta pela equidade, em fortalecer mulheres negras com o objetivo de promover uma sociedade mais justa, afinal a conquista de uma mulher negra não pode ser descolada de seu papel político como exemplo e espelho para diversas outras mulheres. Empoderar aqui, significa tomar consciência dos problemas que afligem as mulheres e meninas negras e criar mecanismos para combatê-los.

Mulheres e meninas negras empoderadas são referências para outras mulheres, são líderes políticas, agentes de transformação, são emblemáticas no desenvolvimento de suas comunidades, na defesa de direitos, na manutenção das tradições culturais e religiosas e se tornam mulheres e meninas negras fortes, engajadas, preparadas para levantar questões, apontar problemas, propor alternativas, liderar processos e se empenhar nas mudanças que são urgentes para alterar os alarmantes dados que assolam a comunidade negra.

Criar novos modelos de projetos colaborativos e participativos, possibilitar a movimentação na estrutura social e econômica em contextos locais, explorar as possibilidades de parceria com as demais organizações, facilitar a mobilização política de mais mulheres, intervir na negociação de interesses, engajar uma articulação coletiva. Esses são apenas alguns dos passos que uma mulher e uma menina negra podem dar ao adquirirem consciência das suas potencialidades, ao se empoderar.

Então, não. Quando falamos de mulheres negras e, principalmente de meninas negras, não estamos falando de algo no campo individual, estamos falando de mudanças na coletividade e consequentemente na sociedade.

Empoderar-se também é tomar pra si o poder da palavra, é quebrar a barreira do silêncio e sobretudo sair do lugar de silenciada. Audre Lorde é categórica quando afirma que “Temos medo, porque a transformação do silêncio em linguagem de ação é um ato de auto revelação e isso sempre parece estar cheio de perigos… No silêncio, cada uma de nós desvia o olhar de seus próprios medos – medo do desprezo, da censura, do julgamento, ou do reconhecimento, do desafio, do aniquilamento. Mas antes de mais nada acredito que tememos a visibilidade, sem a qual entretanto não podemos viver, não podemos viver verdadeiramente. Nesse país em que a diferença racial cria uma constante – ainda que não seja explícita – distorção da visão, as mulheres negras têm sido visíveis por um lado, enquanto que por outro lado nos fizeram invisíveis pela despersonalização do racismo. Ainda dentro de movimento de mulheres tivemos que lutar, e seguimos lutando, para recuperar essa visibilidade que ao mesmo tempo nos faz mais vulneráveis: a de ser negras. porque para sobreviver nesta boca de dragão que chamamos de América, tivemos que aprender esta primeira lição, a mais vital, e não se supunha que fossemos sobreviver. Não como seres humanos. E essa visibilidade que nos faz tão vulneráveis é também a fonte de nossa maior fortaleza. Porque a máquina vai tratar de nos triturar de qualquer maneira, tenhamos falado ou não. Podemos nos sentar num canto e emudecer para sempre enquanto nossas irmãs e nossas iguais são desprezadas, enquanto nossos filhos são deformados e destruídos, enquanto nossa terra está sendo envenenada, podemos ficar quietas em nossos cantos seguros, caladas como se engarrafadas, e ainda assim seguiremos tendo medo”.

E seguindo os ensinamentos de Audre Lorde, que façamos mais tentativas de quebrar o silêncio por entender que é ele que nos imobiliza e ainda restam muitos silêncios para romper!

Negras Potências – nosso edital que está no ar – é a busca por iniciativas e soluções de impacto que contribuam para o empoderamento de meninas e mulheres negras, que ajudem na visibilidade dos múltiplos fazeres que as agentes da sociedade civil estão pensando e produzindo para a mudança no cenário nacional, quando falamos de desigualdades raciais e sociais.
Acesse e saiba mais: https://benfeitoria.com/canal/negraspotencias