Filantropia e equidade racial no Brasil

 

O Brasil é um país de dimensões continentais cuja população se distribui por 5.570 cidades. De acordo com a PNAD-C (IBGE, 2016), cerca de 54,9% da população do País se autodeclara preta e parda, o que resulta em pouco mais de 111 milhões de pessoas.   

É notável que a redução da pobreza não tenha refletido de modo equivalente na redução das desigualdades. Apesar da melhoria dos indicadores de desenvolvimento do País, ainda existe uma grande distância a separar os ricos dos pobres. A desigualdade, para analistas de diferentes perfis, constitui um óbice para o desenvolvimento com sustentabilidade social no Brasil. Assim, continua havendo um alto grau de iniquidade entre as regiões, estados e municípios brasileiros, mas também entre os grupos sociais. Isso significa que a sociedade brasileira continua convivendo cotidianamente com um abismo social entre os que têm acesso a serviços públicos de qualidade e os que não têm, entre os que desfrutam de oportunidades para o desenvolvimento de seu pleno potencial e os que vivem à margem dessa possibilidade.  

Apesar de ostentar um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,744, próximo ao padrão que o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) estabelece como o mínimo para considerar o país desenvolvido (0,800), o Brasil é apontado como um dos países mais desiguais do mundo. Para auxiliar a explicação esse fenômeno, é importante destacar que, entre os 10 países mais ricos, o Brasil é o único de maioria negra. A desigualdade é, de longe, o aspecto que melhor demarca a sociedade brasileira. Importantes e reconhecidos estudos reiteram o fato de que a desigualdade brasileira tem cor (THEODORO, 2008; PNUD, 2005).  

Na avaliação das desigualdades entre os grupos sociais, é necessário considerar também a variável de gênero, o que torna necessário dividir a população brasileira em quatro grupos principais: mulheres negras, que somam 26,54% da população; mulheres brancas, que representam 24,36% da população; homens negros e homens brancos, que respondem, respectivamente, por 26,43% e 21,86% do povo brasileiro (CONCEIÇÃO, 2014).  

A diferença entre os rendimentos dos homens brancos e os das mulheres negras aumenta à medida que se eleva os anos de estudo de cada grupo. Assim, para o ano de 2011, por exemplo, um homem branco com zero a um ano de estudo recebia 1,5 vez o que recebia uma mulher negra com o mesmo grau de instrução. Já os homens brancos com mais de 11 anos de escolaridade recebiam 2,4 vezes mais que a mulher negra com o mesmo grau de instrução. Evidência–se que o retorno do investimento em educação para a mulher negra é bem menor do que o do homem branco. Os dados analisados também apontam que o rendimento para os trabalhadores e trabalhadoras com menos de 11 anos de escolaridade tem uma nítida fronteira estabelecida pelas variáveis gênero e raça, determinando os maiores vencimentos para os homens e os menores para as mulheres. Vale destacar a hierarquização salarial observada em todos os níveis de escolaridade, na qual primeiro comparecem os homens brancos, secundados pelas mulheres brancas, vindo a seguir os homens negros e, por último, as mulheres negras. Merece destaque também o fato de que as mulheres brancas e negras têm maior escolaridade do que os homens de seus respectivos segmentos (CONCEIÇÃO, 2014).  

Os dados demonstram a magnitude do abismo sociorracial brasileiro, pois revelam uma história construída a partir de um escravismo de três séculos e meio de duração – o mais longo da história colonial mundial –, o qual acabou por deixar marcas no modo de funcionamento da sociedade brasileira.  

O País tem em seu DNA a desigualdade e a hierarquização de seres humanos, o que afetou, de forma determinante, a construção de um modelo de sociedade no qual o que estrutura o desequilíbrio de acesso às oportunidades é o padrão racial.  

O panorama brasileiro evidencia historicamente que a desigualdade tem cor e, por isso, os negros estão mais sujeitos às consequências das injustiças de uma sociedade que internalizou práticas racistas de maneira institucional nas diferentes instâncias de poder. Enfim, numa sociedade em que as oportunidades são radicalmente favoráveis aos não negros, nada é mais desigual do que tratar todos igualmente. A palavra-chave para o desenvolvimento sustentável no Brasil passa a ser equidade, o que corresponde a um quadro de efetivas oportunidades iguais.  

Contudo, diante dos indicadores negativos que evidenciam profunda desigualdade, há esperança. A resistência da população negra ao longo do tempo demonstra a sua capacidade de superar obstáculos, e indica um tipo especial muito particular de conhecimento. Atualmente, é comum ouvir, especialmente entre mulheres negras, a expressão que se tornou lema e que ganhou visibilidade na escrita e na voz de Jurema Werneck: “Nossos passos vêm de longe”. Trata-se da mais absoluta verdade. A população negra no Brasil apresenta inúmeros exemplos de estratégias para a prática da filantropia – notadamente com a criação das irmandades negras. O caso mais emblemático é o da Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD), que comemorou 185 anos em 2017. A instituição baiana, que tem esse nome em função da padroeira Nossa Senhora dos Desvalidos, é responsável pela criação da prática hoje conhecida por crowdfunding. Foi a primeira instituição a trabalhar com fundo mútuo no Brasil. Honra, até hoje, compromissos com cerca de 20 famílias que ainda recebem pensão. Durante o escravismo, diversos ex-escravizados se cotizavam para comprar a alforria de pessoas escravizadas. 

A solidariedade das organizações negras começou há muito tempo. Os primeiros relatos de irmandades negras no Brasil são datados de meados do século XVII, com uma significativa expansão no século XVIII – ápice do tráfico escravista no Brasil. Entraram em declínio na segunda metade do século XIX, com a interrupção do tráfico e a abolição oficial da escravatura.   

As irmandades negras foram criadas na Europa e se expandiram para países colonizados pelos portugueses, como o Brasil. O agrupamento em irmandades foi uma estratégia encontrada pela população negra para a construção da solidariedade diante de uma sociedade hostil em pleno escravismo colonial. Todas as irmandades tinham uma relação direta com o sagrado (santos católicos), e esse tipo de associação foi uma estratégia encontrada pelo povo negro para fortalecer suas identidades e diversidades étnicas em tempos de escravidão, servindo como espaço para resistir à opressão, praticar a fé, estimular a solidariedade e manter práticas e costumes ancestrais.  

As irmandades desempenhavam um papel estratégico na sociedade da época, pois possibilitavam aos negros ocuparem e definirem formas de atuação social e de resistência. Notava-se que, nesses grupos, a equidade de gênero era um valor importante, pois os relatos históricos apontam para o equilíbrio da composição dos poderes, especialmente acerca do modelo de governança para as irmandades, com participação das mulheres negras em cargos estratégicos. 

 


 

Os campos de destaque da atuação das irmandades negras no Brasil são:  

  • a organização de grandes festas sagradas com ampla participação coletiva;  
  • a realização de cerimônias fúnebres para os associados – possibilitando o culto aos mortos;  
  • o desenvolvimento de ações para o auxílio mútuo;  
  • o desenvolvimento de grupos de auxílio e amparo material;  
  • a organização de cunho cooperativista para a compra de cartas de alforria (crowdfunding). 

O que fica evidente nessas ações é a ideia de solidariedade, identificando uma particular ética dos escravizados. Um breve olhar pela história das irmandades constata que a luta da comunidade negra pela igualdade de oportunidades e de direitos não é uma causa recente. A Lei Áurea, para muitos um divisor de águas na construção de uma sociedade mais justa e equânime, não foi capaz de produzir cidadania no sentido de reparar os danos causados por três séculos e meio de escravismo. O dia 14 de maio de 1888 – dia seguinte à promulgação do fim da escravidão – se revela o dia mais longo da história, e os efeitos ruinosos da escravidão alcançam, ainda hoje, parcelas significativas da população brasileira.  

As práticas de gestão pública e privada ao longo do tempo reforçaram a exclusão dos negros, e o resultado do acúmulo histórico se apresenta hoje, no Brasil, como um abismo sociorracial extenso e profundo. O tipo de gestão pública praticada na maior parte do tempo no Brasil pós-Abolição não foi capaz de proporcionar igualdade de oportunidades. Pelo contrário, a ação do Estado criou e aprofundou desigualdades. O racismo institucional vem a ser a incapacidade de as políticas públicas convencionais alcançarem, de forma equânime, todas as pessoas, independentemente de seu perfil étnico-racial.  

Em um país com desigualdades acumuladas em função de passivos históricos que impedem a construção de um desenvolvimento sustentável, é mais que urgente o direcionamento das organizações públicas, privadas e sociais para ações afirmativas que contribuam para a redução das desigualdades raciais. É estratégico para o País desenvolver ações específicas que promovam uma sociedade mais equânime, com sustentabilidade sociorracial. Para ter sucesso nessa empreitada, é fundamental promover e efetivar a equidade racial. É em virtude dessa carência que setores comprometidos com a edificação de uma sociedade como a citada criaram no Brasil o Baobá – Fundo para Equidade Racial. Baobá – árvore africana de duração secular que emblematiza a perenidade da iniciativa. 

 


 

Por que um fundo voltado para a equidade racial no Brasil?   

A origem do Fundo Baobá parte da visão de que a equidade racial é um requisito essencial para o desenvolvimento inclusivo e sustentável no Brasil. Ou seja, para o Fundo Baobá, a democracia brasileira depende desse tipo de desenvolvimento. Essa visão deriva do reconhecimento dos seguintes elementos:  

  • a alta representatividade da população afrodescendente no Brasil (54,9%) e, em especial, no Nordeste;  
  • o racismo como um elemento estruturante das desigualdades existentes na sociedade brasileira;  
  • a educação e a violência apresentam, recorrentemente, indicadores que evidenciam as desvantagens para a população negra e denunciam, de maneira gritante, uma realidade cruel, marcada pela falta de perspectivas entre as/os jovens negras/os das periferias; 
  • entre as mulheres negras e os homens negros existem também peculiaridades. A violência policial, por exemplo, acomete prioritariamente os homens negros, ao passo que a violência sexista torna as mulheres negras mais vulneráveis à violência doméstica;  
  • os estudos acerca das relações raciais brasileiras já deram conta de vários diagnósticos. É preciso, agora, criar cenários que permitam o exercício da cidadania entre as juventudes e a formulação de políticas que revertam esse quadro de omissão do Estado, um dos principais instrumentos de reprodução do racismo no Brasil.  

 

1. A construção do Fundo Baobá  

 O Fundo Baobá foi criado a partir de um intenso processo de mobilização social que envolveu diversos atores e atrizes do movimento social negro e se baseou em uma sólida estratégia de envolvimento com diferentes organizações da sociedade civil, especialmente as do Nordeste do país. Os desafios mapeados pelas organizações e ativistas do movimento negro envolvidos na concepção do Baobá resultaram numa estratégia que apresentou quatro eixos para o investimento programático:  

  • Imagem e inserção política.  
  • Fortalecimento das organizações negras.  
  • Think tank para aprofundar o debate sobre “temas estruturais, vinculando-os a iniciativas que tenham como foco questões centrais como: saúde, educação, terra e território, moradia, segurança alimentar, violência, mortalidade precoce, em especial o homicídio que vitima jovens negros, na sua maioria do sexo masculino”.  
  • Gestão do endowment e captação de recursos.  

Transcorridos seis anos, é possível identificar 74 projetos e 11 apoios pontuais realizados pelo Fundo Baobá em nível nacional. A atuação do Fundo Baobá, entre os anos de 2011 e 2016, foi sistematizada em cinco áreas temáticas: 

2. Mobilização e fortalecimento do movimento negro  

 A partir de 2013, competiu ao Fundo Baobá atuar como secretaria executiva do fórum que reúne um conjunto de relevantes organizações da sociedade civil (OSCs), representativas em vários níveis e atuantes no campo de defesa de direitos, em torno do tema da promoção da igualdade racial. O Fórum Permanente para a Igualdade Racial (Fopir) é uma coalização de organizações antirracistas que visa desenvolver estratégias e ações de diagnóstico, mobilização, comunicação e incidência política capazes de deflagrar um debate amplo e democrático em prol do enfrentamento do racismo e na defesa das políticas de promoção da igualdade racial e de gênero. O Baobá vem contribuindo para o fortalecimento do movimento negro desde o processo de sua criação, o qual suscitou reflexões importantes sobre a sustentabilidade do movimento.  

3. Educação  

A política de reserva de vagas para estudantes negros e negras nas universidades públicas, previstas em lei, é resultado de décadas de luta do movimento negro. Porém, não será suficiente para assegurar avanços significativos para a população negra se persistirem os baixos resultados educacionais dos jovens negros no ensino médio. Este representa, hoje, um gargalo para os avanços educacionais da população negra no Brasil, motivo pelo qual o Baobá entende que atenção especial deve ser dada a essa etapa da educação básica.  

Nossa primeira iniciativa nesse sentido foi o lançamento do Edital Gestão Escolar para a Equidade – Juventude Negra, em parceria com o Instituto Unibanco, o instituto privado com mais ampla atuação no ensino médio, e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), uma referência no tema de educação e relações raciais. Filantropia de justiça social, sociedade civil e movimentos sociais no Brasil 145.

4. Empoderamento econômico da população negra  

O Baobá, em 2015, investiu numa importante pesquisa sobre os avanços e desafios do empreendedorismo para os afro-brasileiros, numa parceria com o Instituto Arapyaú. Além disso, o Baobá contribuiu para um dos maiores eventos de empreendedores negros e negras do País e em dois outros eventos locais de menor porte. Esse é um setor que faz parte da estratégia do Fundo Baobá e do qual se espera muito no futuro.  

Em 2009, foi elaborado pelo Iceafro um mapeamento de políticas e movimentos relativos à equidade racial e inclusão social na região Nordeste com o intuito de dar subsídios à Fundação Kellogg para a sua atuação nessa área. No que diz respeito aos movimentos sociais, observou-se: a) uma predominância das mulheres negras entre as lideranças; b) diversidade e predominância em expressões artístico-culturais. Essa informação já apontava dois eixos de investimento do Baobá, que vêm se solidificando ao longo dos anos: mulheres negras e cultura.  

 5. Mulheres negras  

As mulheres negras são um grupo-chave para as ações do Fundo Baobá. Ao mesmo tempo que acumulam as opressões de gênero e raça, o que as coloca como o grupo com pior acesso a bens e serviços públicos e o que mais sofre violência, observa-se um vigoroso protagonismo delas nas organizações do movimento social negro.  

 O primeiro apoio do Fundo Baobá para esse público foi direcionado a um grupo de comunicadoras negras para acompanhar, na Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (2009), os aspectos pertinentes à questão de gênero. Posteriormente, no primeiro edital do Baobá, foram apoiados diversos projetos que tinham como público direto as mulheres negras. Apoiou-se ainda o protagonismo do feminismo negro a partir de projetos apresentados por organizações lideradas por mulheres cujos temas eram variados, como democratização da comunicação, direitos de mulheres quilombolas e cultura, por exemplo.  

O mais recente investimento no tema aconteceu em 2016, com a parceria com o Instituto Lojas Renner mediante um edital direcionado às mulheres empreendedoras, sendo que grande parte das beneficiárias são negras. Dentre 15 organizações, oito contam com mulheres negras na diretoria. Além da formação em gestão do negócio, foi oferecido um módulo para que as mulheres pudessem discutir temas como diversidade no mundo do trabalho e iniquidades de gênero e raça.146 Filantropia e equidade racial no Brasil  

6. Cultura  

Uma parceria com a unidade de comunicação da ONU para promover uma ideia positiva e diversa da África foi a primeira iniciativa na qual o Baobá investiu. No edital, o apoio passou a ser concedido para projetos de maior duração: 12 meses. Ancestralidade, memória e educação foram temas trabalhados pela perspectiva cultural em escolas e terreiros como forma de combater o racismo.   

Em 2016, em parceria com a Coca-Cola Brasil, o Fundo Baobá lançou um edital específico para a cultura negra e recebeu 900 propostas para financiar 10 projetos. Essa expressiva procura evidência não só a grande representatividade de organizações negras que atuam no campo da cultura, mas também uma escassez de financiamento para esse tema.  

 Por outro lado, merece destaque o esforço desenvolvido no realinhamento programático para o decênio 2017-2027. Para esse período, o Conselho Deliberativo do Fundo Baobá decidiu focar os investimentos em três eixos programáticos: 1) Direito a viver; 2) Educação; 3) Mundo do trabalho e desenvolvimento econômico. O Conselho decidiu trabalhar prioritariamente para dois públicos transversais: mulheres e juventude. Decidiu-se ainda que os investimentos vão operar com duas abrangências territoriais prioritárias: a região Nordeste e os municípios classificados como de maior risco de letalidade por homicídios contra a juventude negra.  

 


 

Três aspectos determinaram a escolha dos eixos programáticos:  

  • a coerência com os resultados da pesquisa, em 2009, que embasou a estrutura programática original do Fundo Baobá;  
  • o alinhamento da atuação institucional do Fundo Baobá com as demandas dos movimentos negros tendo como referência as propostas e resoluções aprovadas, de forma recorrente, nas três Conferências Nacionais de Promoção da Igualdade Racial (Conapir) realizadas em 2005, 2009 e 2013;  
  • a interface dos temas com os vetores: políticas públicas estratégicas para o enfrentamento ao racismo; áreas de interesse do investimento social privado; agenda da Rede de Justiça Social; e, finalmente, compromissos da filantropia nacional e internacional.  

 


 

Considerações finais  

O cenário da filantropia e do investimento social privado é similar ao de diversos outros setores, nos quais não se reconhece que o racismo é um obstáculo para o desenvolvimento inclusivo e sustentável do País. Ainda que o reconhecimento da existência do racismo no Brasil tenha sido incorporado ao discurso de Filantropia de justiça social, sociedade civil e movimentos sociais no Brasil 147 importantes setores da sociedade, as práticas frequentes continuam ignorando o fato de que o enfrentamento do racismo é condição essencial para um efetivo desenvolvimento.   

É necessária uma mudança de paradigma, o que depende de avanços que passam pelo movimento social negro, mas que têm de ecoar na sociedade como um todo.  

Apesar do conceito de democracia racial ter sido questionado e mesmo desmoralizado, ainda resta como desafio na luta antirracista quebrar resquícios desse ideário, no qual, segundo essa visão de mundo, não há um problema objetivo a ser enfrentado com relação às desigualdades que atingem majoritariamente a população negra. O resultado dessa miopia implica a necessidade, por parte do movimento negro, de construir alianças para a promoção de uma filantropia que considere relevante as ações para promoção da cidadania da população negra. Tal filantropia atua para fortalecer a democracia no Brasil, possibilitando, assim, um país mais justo. O Fundo Baobá entende que, para que a sua atuação seja eficaz, precisa focar nessas metas específicas:  

Fortalecimento das organizações negras.  

Alavancagem do nível de renda da população negra brasileira.  

Promoção da cultura local para a filantropia voltada para questões de direitos civis. 

Indução, por meio de ações socioculturais e de legislação específica, do investimento de recursos financeiros públicos diretos para a efetivação da equidade racial no país.  

Em síntese, a criação de um fundo focado na equidade racial se justifica pelo contexto de desafios que incluem a saída das fundações internacionais do Brasil, a inexistência de interesse das empresas, fundações e institutos privados no tema racial e as dificuldades de mobilização de recursos por parte das organizações negras de forma isolada. Um fundo profissionalizado na captação e doação de recursos, criado a partir de um endowment inicial doado pela Fundação Kellogg e liderado por pessoas conhecidas e reconhecidas no movimento negro tem o potencial de contribuir para a superação desses desafios.  

O Baobá, na condição de fundo independente, aposta na promoção da cultura de doação voltada para a justiça social. Acredita que as organizações da sociedade civil que trabalham com a promoção de direitos como estratégia para uma sociedade democrática devem receber investimentos da sociedade. O Baobá utiliza a sua expertise na seleção, no monitoramento e na avaliação de projetos de forma a garantir resultados satisfatórios e eficazes para o/a doador/a, 148 Filantropia e equidade racial no Brasil que, muitas vezes, deseja contribuir para a transformação sociorracial, mas não necessariamente tem experiência nesse campo.   

No caso do Fundo Baobá, o investimento tem um efeito duplo: primeiro, no projeto específico que se deseja apoiar e desenvolver; e, ao fazer essa aplicação social, gera-se um segundo impacto, contribuindo na construção do endowment, que, no médio/longo prazo, financiará outras ações na temática da equidade racial. 

 

Artigo escrito por Hélio Santos e Selma Moreira em 2018 para a publicação “Filantropia de justiça social, sociedade civil e movimentos sociais no Brasil”, organizada por Graciela Hopstein 

 


 

  • Hélio Santos é Ph.D. em Administração pela Universidade de São Paulo (USP). Ensina e coordena pesquisas no Programa de Pós-graduação em Educação do Instituto Superior de Educação Ocidemnte (Iseo) em Salvador, Bahia. Foi presidente do Conselho Deliberativo do Baobá – Fundo para Equidade Racial. CEO do Instituto Brasileiro para a Diversidade (IBD), consultor empresarial, responsável pelo blog Brasil de Carne e Osso e autor de diversa produção acadêmica.  

 

  • Selma Moreira foi diretora executiva do Baobá – Fundo para Equidade Racial. Tem MBA Executivo em Gestão e Empreendedorismo Social pela Faculdade de Administração e Negócios (FIA), especialização em Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional e Relações Públicas pela Universidade de São Paulo (USP) e graduação em Administração pela Fundação Instituto Tecnológico de Osasco (Fito). 

 


 

Referências  

CONCEIÇÃO, Eliane B. Mulher negra em terra de homem branco: mecanismos organizacionais de reprodução de desigualdades. In: CARRIERI, Alexandre; TEIXEIRA, Juliana (Orgs.). Gênero e trabalho: perspectivas, possibilidades e desafios no campo dos estudos organizacionais. Belo Horizonte: UFMG, 2014.  
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO (PNUD). Relatório de Desenvolvimento Humano: racismo, pobreza e violência. Brasília: PNUD, 2005. 
THEODORO, Mário (Org.). As políticas públicas e a desigualdade racial no Brasil: 120 anos após a Abolição. Brasília: Ipea, 2008.  
WERNECK, Jurema. Nossos passos vêm de longe! Movimentos de mulheres negras e estratégias políticas contra o sexismo e o racismo. In: VERSCHUUR, Christine (Dir.). Vents d’Est, vents d’Ouest. Mouvements de femmes et féminismes anticoloniaux. Genebra: The Graduate Institute, 2009. Disponível em: http://books. openedition.org/iheid/6291. Acesso em: 13 out. 2016. 

1 ano do Governo Interino. Como as mudanças impactam na vida das mulheres negras?

Foto: Lula Marques/ Agência PT

 

Ao longo de toda a história do Brasil, o país foi impactado por inúmeras crises que não possuíam como prioridade o aspecto social, mas sim, o mercadológico. Nos anos 90, houve uma profunda crise econômica, onde viveu-se com o capital estagnado e o temor do fantasma da hiperinflação era constante. Os países latino-americanos estavam em frente a um enorme endividamento e o Brasil chegou a ponto de ter 70% de dívida estatal, e a partir desse momento, o gasto público se torna desequilibrado.

Para escapar desse cenário, resgatou-se a reforma que havia se iniciado nos anos 70, que previa a reestruturação da administração pública a fim de estabilizar o crescimento da economia, defendendo o ponto de que o problema seria do Estado e que por isso seria preciso reduzir o gasto do Estado com as políticas públicas, o que não se difere de hoje.

O Estado passou a se somente regulador, reduzindo os gastos na área social e transferindo os gastos para o setor privado e para a sociedade civil.
Foi no governo do Presidente Collor que as privatizações tomaram forma, onde se entregou uma parcela significativa do patrimônio público ao capital estrangeiro, principalmente a grupos norte-americanos. É a partir da reforma do Estado que o mercado ficou entendido como primeiro setor, o Estado seria o segundo setor e a junção do Estado com a sociedade civil seria o terceiro setor, além de ONGs executando políticas públicas através de trabalho voluntário e ações sociais.

Os Direitos Sociais (garantidos pela Constituição Federal de 88) são uma conquista que se obteve ao longo do desenvolvimento social, com o objetivo de garantir condições mínimas aos indivíduos, eles tiveram seu ápice no século XX, e trata-se de uma regulação que permite resolver os conflitos sociais com o objetivo de corrigir desigualdades entre as classes sociais.

A Constituição Federal de 1988 assegura ao indivíduo o básico necessário para a sua existência digna, onde a maior parte dos Direitos Sociais depende da atuação do Estado. Na Constituição os Direitos Sociais são garantidos no CAPÍTULO II, dos artigos 6º ao 11º.

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.  (Brasil, 1988).


A constituição Federal de 1988 introduz no seu artigo 194, o parágrafo único que diz:

Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade com base nos objetivos de: universalidade de cobertura e do atendimento; uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; seletividade e distribuição das prestações dos benefícios e serviços; irredutibilidade do valor dos benefícios; equidade das formas de participação no custeio; diversidade da base de financiamento; caráter democrático e descentralização da gestão administrativa com participação da comunidade, em especial, de trabalhadores, empresários e aposentados. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988 apud CABRAL, 1995, pag. 124).


Também foram introduzidas modificações nos planos de benefícios, incorporando novos direitos e recompondo valores. Dentre as alterações, destaca-se: licença maternidade de 120 dias, extensiva aos rurais e domésticos; direito à pensão para maridos e companheiros; redução do limite de idade – 60 anos para homens e 55 para mulheres; aposentadoria proporcional para as mulheres aos 25 anos de serviço; direito de contribuição independente do exercício de atividade; recomposição das aposentadorias e pensões pelo número de salários mínimos da época da concessão; integralidade do 13º salário, e correção das últimas 36 contribuições para efeito de cálculo do salário de benefício.

A tríade da Seguridade Social no Brasil é composta por: Saúde, Assistência e Previdência. Sendo a  Previdência Social uma seguradora social do Governo Federal, em regime contributivo, portanto, para ter direitos aos benefícios, o trabalhador precisa estar inscrito e manter o pagamento das contribuições em dia.


Proposições do Governo Temer e rebatimentos nos direitos sociais

No final do ano passado com 53 votos a favor e 16 contra, o Senado aprovou em segundo turno, o texto base da Proposta de Emenda à Constituição do Teto de Gastos (PEC 55, PEC 241 ou PEC do Fim do Mundo), que congela todos os gastos públicos para os próximos 20 anos. A medida já vinha tramitando desde o início do governo do presidente Michel Temer (PMDB).

O caráter elitista do congelamento de gastos ocorre pelo esvaziamento da concretização de direitos sociais previstos na Constituição Federal e segundo o Defensor Público Federal, Fernando Antonio Holanda Pereira Junior, “os direitos sociais, a exemplo da saúde, educação, moradia, previdência social, entre outros expressos ou não no texto constitucional, por constituírem ações positivas do Estado, carecem para a sua concretização, de dispêndio de recursos financeiros. Acontece que as principais medidas de austeridade divulgadas pelo Governo, encabeçadas pela PEC 55, são direcionadas à redução do papel assistencial do Estado, imprescindível à manutenção da teia de segurança da população mais carente, dependente do bom e regular financiamento das políticas sociais não usufruídas na mesma escala pelos entusiastas do ajuste fiscal”.

As consequências para os trabalhadores serão sentidas também no desmonte da Justiça do Trabalho promovida pela PEC, a Juíza do Trabalho, Valdete Souto Severo afirma que ao contrário do que nos dizem, o objetivo da PEC 55 não é conter gastos e com isso enfrentar a crise. Trata-se de um movimento de desmonte do Estado Social. O que a aprovação da PEC 55 propiciará concretamente, será o fechamento da Justiça do Trabalho, dos hospitais públicos, das escolas e faculdades.

Segundo matéria escrita por Gil Alessi e publicada pelo Jornal El País:

“A proposta também inclui um mecanismo que pode levar ao congelamento do valor do salário mínimo, que seria reajustado apenas segundo a inflação. O texto prevê que, se o Estado não cumprir o teto de gastos da PEC, fica vetado a dar aumento acima da inflação com impacto nas despesas obrigatórias. Como o salário mínimo está vinculado atualmente a benefícios da Previdência, o aumento real ficaria proibido. O Governo tem dito que na prática nada deve mudar até 2019, data formal em que fica valendo a regra atual para o cálculo deste valor, soma a inflação à variação (percentual de crescimento real) do PIB de dois anos antes. A regra em vigor possibilitou aumento real (acima da inflação), um fator que ajudou a reduzir o nível de desigualdade dos últimos anos”.

A PEC 55 colocará limite em gastos que historicamente crescem todos os anos em um ritmo acima da inflação, como educação e saúde. Além disso, gastos com programas sociais também podem ser afetados pelo congelamento. A medida prejudicará o alcance e a qualidade dos serviços públicos oferecidos e aumentará a problemática no cumprimento dos mecanismos já em vigor, como os investimentos do Plano Nacional de Educação. Aprovado em 2014, o PNE tem metas de universalização da educação e cria um plano de carreira para professores da rede pública, uma das categorias mais mal pagas do País. A medida também sucateará o Sistema Único de Saúde (SUS), utilizado principalmente pela população de baixa renda que não dispõe de plano de saúde.

Subfinanciado desde a sua criação, o SUS já tinha a sua sustentabilidade ameaçada pelas transformações que o País passa: um acelerado envelhecimento da população, acompanhado do aumento da prevalência de doenças crônicas, a demandar tratamentos prolongados e dispendiosos. De acordo com o médico José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde do governo Lula, a PEC 241 apenas agrava o problema, com a perspectiva de perda real de recursos.

Temporão afirma que “a decisão do Congresso é uma condenação de morte para milhares de brasileiros que terão a saúde impactada por essa medida irresponsável”, para o ex-ministro, o País renuncia ao seu futuro ao sacrificar a saúde e a educação no ajuste fiscal: “Estamos falando de fechamento de leitos hospitalares, de encerramento de serviços de saúde, de demissões de profissionais, de redução de acesso, de aumento da demora no atendimento. Se existe um problema macroeconômico a ser enfrentado, do ponto de vista dos gastos públicos, há outros caminhos. Mas este governo não parece disposto a enfrentar a questão da reforma tributária. Temos uma estrutura tributária regressiva no Brasil, que penaliza os trabalhadores assalariados e a classe média, enquanto os ricos permanecem com seus privilégios intocados”.

De acordo com o australiano Philip Alston, relator especial da Organização das Nações Unidas para a Pobreza Extrema e os Direitos Humanos, a aprovação da PEC 55 é um erro histórico e que provocará um retrocesso social: “Eu acredito que quando mudanças dramáticas são propostas, é essencial que haja um debate público, com a as informações detalhadas a respeito das consequências dessas medidas. Eu não acho apropriado acelerar essa discussão no Congresso e acho particularmente inapropriado que um governo que não foi eleito proponha medidas tão radicais e imutáveis nas políticas econômicas e sociais”.

Outra medida que provoca um duro golpe nos direitos sociais conquistados é a PEC 287 ou PEC da Reforma da Previdência, que prevê, entre outras propostas, o estabelecimento de idade mínima de 65 anos para os contribuintes homens e 62 anos para contribuintes mulheres, reivindicarem aposentadorias. As novas regras irão atingir os trabalhadores dos setores público e privado e de acordo com o governo, a única categoria que não será afetada pelas novas normas previdenciárias é a dos militares. Pelas regras propostas pela gestão Temer, o trabalhador que desejar se aposentar recebendo a aposentadoria integral deverá contribuir por 49 anos.

 

Imagem: Jornal da Paraíba
Imagem: Jornal da Paraíba

 

O estudo do Ipea “Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça” divulgado no início de março, tendo como base os indicadores extraídos da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE, relativos ao período de 1995 a 2015, comprovam que a desigualdade de gênero é histórica e pode se agravar, tendo em vista o cenário de redução de direitos e de políticas públicas no atual governo Além das mulheres trabalharem mais em atividades precarizadas e acumular com funções domésticas, outros dados que chamam atenção são: a proporção de mulheres que chefiam os domicílios aumentou de 24,8% para 43% nos últimos 20 anos; e mulheres negras possuem o menor rendimento em relação a homens brancos e negros e mulheres brancas, variando entre
R$ 1.027,5 a R$ 2.509,7.

De acordo com Jucimeri Isolda Silveira, coordenadora do núcleo de Direitos Humanos e professora do Curso de Serviço Social e do Mestrado em Direitos Humanos e Políticas Públicas da PUCPR, “ as políticas pontuais e meritocráticas fracassaram no Brasil desde a década de 1930. Do mesmo modo, as ilusões neoliberais que apostam na capacidade do mercado de reduzir desigualdade se mostram ineficazes. Não há outra forma de reduzir vulnerabilidades e violações de direitos que não sejam por políticas públicas universais, integradas, redistributivas, afirmativas e de qualidade, associadas às políticas econômicas que gerem emprego e renda, e que promovam desenvolvimento territorial. A redução de direitos e de políticas públicas tem sido a medida adotada pelo governo Temer como justificativa para o ajuste fiscal. A lógica é simples e trágica: menos direitos e políticas sociais, mais pobreza e desigualdade. O cenário será de aumento da pobreza que afeta especialmente as mulheres negras, a infância e a juventude, com aprofundamento da desigualdade social, racial e de gênero no Brasil”.

As desigualdades aumentam e aprofundam os riscos de violência. 59,4% dos registros de violência doméstica na Central de Atendimento à Violência – Ligue 180 são de mulheres negras (2013). 62,8% das vítimas de morte materna são negras, uma situação que poderia ser perfeitamente evitada com acesso à informação e atenção no pré-natal e parto. (SIM/Ministério da Saúde, 2012). As maioria das mulheres que afirmam ter passado por algum tipo de violência obstétrica também são mulheres negras, compondo 65, 9% dos dados (2014). Ainda, as mulheres negras têm duas vezes mais chances de serem assassinadas do que as mulheres brancas (Ministério da Justiça/2015), entre 2002 e 2013 houve um aumento de 54,2% dos homicídios de mulheres negras (ONU Mulheres e SPM/2015) e entre 2000 e 2014 houve crescimento de 567% da população carcerária feminina, sendo 68% de mulheres negras e em situação de prisão por crimes que poderiam, sem dúvidas, ter utilizadas alternativas penais que não o cárcere (Ministério da Justiça/2015).

E no dia 28 de abril o País parou, quando o povo decidiu que mostraria sua insatisfação a esse pacote de retrocessos com a Greve Geral nas ruas. Com transportes públicos parados, estradas e avenidas bloqueadas, 26 estados mais o Distrito Federal, cruzaram os braços numa união para muitos inédita do sindicalismo brasileiro e dos movimentos sociais, junto aos setores significativos da igreja católica e outros segmentos. Essa união produziu um movimento que não se tem notícia desde 1917, quando ocorreu a primeira Greve Geral no Brasil.

O presidente interino possui a rejeição de 92% dos brasileiros e isso foi comprovado nas ruas com a Greve Geral, através de marchas, piquetes, bloqueios de rodovias e atos culturais em todo o País.

A PEC 241 e a PEC 287 rasgam a Constituição Federal de 1988 e consolidam a perda de direitos duramente conquistados pelos trabalhadores durante décadas, quando colocam em curso pacotes de medidas irresponsáveis que visam para manutenção de privilégios dos mais abastados e promoção do status quo, a retirada de benefícios que foram conquistados a duras penas pela classe que é colocada à margem e que sustenta esse país nas costas. As PECs citadas acima ou o Pacote da Maldade é um período marcado pelo retrocesso, pelo conservadorismo e pela ganância desmedida daqueles que com o poder nas mãos, usam dele para enriquecer a custa da educação, saúde e por fim, da vida do povo que foi posto na base da pirâmide econômica e social do país.


Referências Bibliográficas:

BOSCHETTI, I; SALVADOR, E. da S. Orçamento da seguridade social e política econômica: perversa alquimia. Serviço Social e Sociedade, São Paulo, v.87, p.25-57, 2003

CABRAL,M.S.R.  As políticas brasileiras de seguridade social. Previdência Social. 1995

http://justificando.cartacapital.com.br/2016/12/14/10-materiais-do-justificando-para-entender-o-que-significa-aprovacao-da-pec-241/

http://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/10/politica/1476125574_221053.html

http://www.cartacapital.com.br/politica/toda-uma-geracao-esta-condenada-diz-relator-da-onu-sobre-a-pec-55

http://www.cartacapital.com.br/politica/201cpec-241-e-condenacao-de-morte-para-milhares-de-brasileiros201d

http://g1.globo.com/economia/noticia/veja-as-mudancas-que-o-governo-propoe-com-a-reforma-da-previdencia.ghtml  

https://www.nexojornal.com.br/ensaio/2017/O-destino-das-mulheres-pobres-e-negras-no-Brasil-de-Temer

http://www.redebrasilatual.com.br/trabalho/2017/04/greve-geral-de-28-de-abril-ja-esta-na-historia-mas-promete-desdobramentos

 


O Fundo Baobá, em parceria com a Ri-Happy e a Estrela desenvolveu uma linha de bonecas negras, a Adunni

“Ela é tão linda! Parece uma boneca!” Esta frase é muito popular, principalmente quando falamos de bebês ou crianças pequenas. Parece (e pode até ser) uma frase completamente despretensiosa, mas você já parou para pensar no significado político e social que esta simples frase carrega? Será que essa frase é dita com a mesma frequência para crianças brancas e negras?

Entendendo a necessidade social de oferecer às crianças negras uma boneca que dialogue com suas identidades, fortaleça sua autoestima e também propicie uma conexão comportamental real com o brinquedo, o Baobá – Fundo para Equidade Racial – em parceria com a Ri-Happy e a Estrela lançam no mercado a linha Adunni, que é composta por três bonecas (uma bebê e duas fashion doll), que buscam reforçar a representatividade das culturas e identidades negras em um país onde negros aparecem 7 vezes menos do que modelos brancos em campanhas publicitárias – segundos dados da agência de propaganda Heads, mesmo sendo um país majoritariamente negro (53% da população, segundo o IBGE), dificultando a formação e a reafirmação de estereótipos positivos de pessoas negras, especialmente entre crianças.

“Para uma menina, ganhar uma boneca negra que reflete suas características físicas, que via de regra não são vistas como padrão ou sinônimo de beleza pela sociedade, vai muito além de um simples brinquedo.. Esta boneca pode gerar uma conexão afetiva que vai além do conceito lúdico; ela vai reflete a identidade da criança, fazendo com que ela se sinta representada na boneca negra. Reconhecer a própria identidade em um brinquedo é fortalecer a autoestima da criança. Estes foram os motivadores para a criação da linha Adunni, que na Língua Iorubá significa a doçura chegou ao lar”, explica Selma Moreira, Diretora Executiva do Fundo Baobá.

A linha Adduni terá venda exclusiva nas lojas Ri-Happy em todo o Brasil a partir do dia 15 de dezembro com o foco de venda na principal data comercial brasileira para o público infantil, que é o Natal. Para cada boneca vendida a Ri-Happy vai destinar um percentual para o Fundo Baobá investir em iniciativas que promovam a equidade racial.

As Bonecas podem ser compradas nas lojas da Ri Happy e na loja virtual: https://goo.gl/vq7Mrn

O resgate histórico feito através do 20 de novembro

 

Não precisamos mais consultar ninguém para concluirmos
da legitimidade dos nossos direitos, da realidade angustiosa de
nossa situação e do acumpliciamento de várias forças
interessadas em nos menosprezar e condicionar,
mesmo, até o nosso desaparecimento!

Manifesto da Convenção Nacional do Negro Brasileiro (A Gazeta, 13 nov. 1945)

 

Durante todo o período em que o regime escravista foi vigente, os negros que foram escravizados¹ empreenderam diversas formas de escaparem daquilo que ficou conhecido como um período marcado pela repressão, pela violência e pelo controle. Dentre as mais variadas manifestações de resistências, os quilombos, também conhecidos como mocambos, funcionavam como comunidades de negros escravizados fugidos que conseguiam escapar do  domínio de seus captores.

Sendo os quilombos locais de refúgio e resistência, os negros escravizados escolhiam localidades de difícil acesso que impedissem uma possível recaptura. Um dos quilombos mais conhecidos da história do Brasil foi Palmares, instalado na Serra da Barriga, atual região de Alagoas. Com o passar do tempo, Palmares se transformou em uma espécie de confederação, que abrigava os vários quilombos que existiam naquela localidade.

A prosperidade e a capacidade de organização desse imenso quilombo representaram uma séria ameaça para a ordem escravocrata vigente, não sendo por acaso, que os vários governos que controlavam a região organizaram diversas expedições que tinham por objetivo estabelecer a destruição definitiva de Palmares. Contudo, os negros escravizados – agora quilombolas, resistiram de maneira eficaz e, ao longo de oitenta nos, conseguiram derrotar aproximadamente trinta expedições militares organizadas com esse mesmo objetivo.

No comando de algumas dessas batalhas onde as expedições militares foram derrotadas, estava Zumbi, que quer dizer “a força do espírito presente”. Zumbi era filho de guerreiros angolanos e  nasceu livre, mas foi capturado ainda criança e aos 15 anos foge e volta ao quilombo, onde permanece lutando até a sua morte em 20 de novembro de 1695. Por sua forte e intensa resistência ao regime escravocrata, tornou-se símbolo de luta e combate ao racismo.

O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra é celebrado nesta data (20 de novembro) e foi instituído oficialmente pela lei 12.519 de 10 de novembro de 2011 após intensa articulação de organizações do Movimento Negro Brasileiro. A data é utilizada como gancho para a reflexão a cerca do papel das negras e negros na construção do país, para discutir as violações aos direitos da população negra, o enfrentamento ao racismo, sobre mais oportunidades para ascensão socioeconômica dos afro-brasileiros e demais aspectos da questão racial no Brasil.
Segundo Elisa Larkin do nascimento, em seu livro O Sortilégio da Cor (2003), O movimento negro surge no início do século XX como herdeiro e continuação de uma luta já em movimento desde os primórdios da constituição do Brasil. A luta quilombola atravessa todo o período colonial e o do império, resistindo e contribuindo para a derrocada das estruturas da economia escravocrata.

A abolição é assinada em 1888, as relações econômicas e os modos de produção mudam, contudo a população negra, que segundo dados do IBGE soma53,6% do povo brasileiro, continua em situações de risco e desigualdade, ocupando as funções menos qualificadas no mercado de trabalho, sem acesso as terras ancestralmente ocupadas no campo e na condição de maiores agentes e vítimas da violência nas periferias das grandes cidades.

“É verdade corrente que o Brasil, mesmo tendo findado formalmente seu passado escravista, com a promulgação, em 1888, da Lei Áurea, não conseguiu ainda saldar a dívida histórica com os descendentes dos homens e mulheres africanos feitos cativos ao longo de mais de três séculos. Isto porque, aos escravos libertos naquela ocasião, assim como a seus descendentes, não foram asseguradas garantias que os livrassem das amarras econômicas, sociais e políticas que continuam a caracterizar a existência de negras e negros brasileiros até hoje”, avalia o ex-ministro da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Eloi Ferreira de Araujo.
 
Nota: ¹ Optamos por usar o termo escravizado, por entender que “escravo” é condição inerente e imutável e escravizado, ao contrário, é uma pessoa que antes fora livre.

Fontes: Brasil escola, UNE, EBC e o livro O sortilégio da cor de Eliza Larkin do Nascimento.

Coluna Ubuntu: Projeto “Saúde da População Negra em foco”

O Fundo Baobá já apoiou mais de 30 projetos ao longo de sua existência e, para mostrar os resultados, perspectivas e dificuldades que cada organização enfrentou para que seu projeto fosse concretizado, decidiu criar a coluna “Ubuntu” realizando entrevistas com coordenadores/idealizadores das iniciativas para entender um pouco melhor sobre cada instituição e suas atividades.

A entrevista a seguir foi realizada com uma das coordenadoras da Associação Cultural de Mulheres Negras – ACMUN, Simone Cruz, que desenvolve um trabalho de conscientização da população negra porto-alegrense sobre um direito que pouquíssimos conhecem e utilizam: a Política de Saúde da População Negra em Porto Alegre.

A seguir, leia a entrevista completa que o Fundo Baobá fez com a ACMUN.

Fundo Baobá (FB): O que é a Associação Cultural de Mulheres Negras? Como ela surgiu?

Simone Cruz (SC): A Associação Cultural de Mulheres Negras – ACMUN foi fundada no dia 05 de junho de 1994, por um grupo de mulheres negras na Vila Maria da Conceição, periferia de Porto Alegre, vinculadas as Agentes Pastorais Negras (APNs) com a missão de desenvolver ações para o fim da discriminação de gênero, raça e etnia a partir da valorização e promoção da população negra, em especial das mulheres negras.

FB: Por que o foco da ACMUN são mulheres? Qual foi a necessidade de envolver esse público específico neste projeto?

SC: A ACMUN foi criada por mulheres negras, à qual sempre houve o entendimento de que essa população necessitava de um olhar especifico sobre suas questões devido ao fato de vivenciar inúmeras formas de discriminações por ser mulher e negra. Por fazerem parte dos dois grupos, somente as mulheres negras são capazes de saber e sentir o que é viver com o racismo e machismo simultaneamente.

FB: Quais são as principais atividades realizadas pelo projeto da ACMUN?

SC: Durante o desenvolvimento do projeto, as principais ações realizadas foram a aplicação de enquetes junto à comunidade negra e usuárixs do SUS, a fim de saber dessxs pessoas se elxs tinham conhecimento sobre a existência da Política de Saúde da População Negra em Porto Alegre e qual a avaliação sobre a mesma. Também realizamos entrevistas no centro da cidade com a população negra para elaboração de um vídeo que foi postado no Facebook (clique aqui para assistir), assim como uma publicação online com os dados coletados das enquetes, e um seminário de lançamento tanto do vídeo quanto da publicação.

FB: Quais foram as principais dificuldades que a Associação encontrou/encontra?

SC: Durante o desenvolvimento do projeto não tivemos grandes dificuldades para sua execução. A não ser o fato de que, inicialmente, havíamos definido trabalhar com usuários e trabalhadores da saúde, entretanto estes últimos foram excluídos da proposta devido a burocracia para a realização das entrevistas no seu ambiente de trabalho. O mais importante foi o fato de que, priorizando o projeto com os usuários, não perdemos o principal objetivo do projeto que foi contribuir com a implementação da Política de Saúde da População Negra em Porto Alegre.

FB: Quais foram/foi a(s) maior(es) surpresa(s) que o projeto trouxe para a Associação?

SC: Talvez não foram exatamente surpresas, mas verificamos que durante as enquetes realizadas com a população negra nas oito regiões de saúde de Porto Alegre, 75% das pessoas entrevistadas foram mulheres, o que confirmou que são as mulheres que mais utilizam o serviço de saúde público. Também o fato de que 79% das pessoas entrevistadas nunca tinham escutado falar sobre a política – isso já era previsto –, mas 86% avaliaram que a existência dessa política como “boa” ou “ótima”.

FB: Como vocês souberam do Fundo Baobá e do parceiro TIDES?

SC: Ficamos sabendo do Fundo Baobá através de outras entidades do movimento negro, mais especificamente quando foi criado. Foi uma noticia muito importante para todas as organizações negras! Já o parceiro TIDES, a ACMUN teve conhecimento pelo Fundo Baobá, a partir deste apoio.

FB: De onde surgiu a necessidade de apresentar um projeto como o da ACMUN para o Fundo Baobá?

SC: A não implementação da Política de Saúde da População Negra sempre foi uma questão que os movimentos sociais negros lutam desde a criação da Política. No entanto, uma vez que os governos realizam ações que entendem e implementam a Política, mas, de fato, não atingem a população negra usuária do SUS, foco desta política. Os dados não modificam (não baixam), o que significa que a Política, ao entendimento da ACMUN, apesar de ter sido criada há exatamente 10 anos atrás, não tem sido implementada efetivamente, pois ainda há uma grande parte da população que desconhece o benefício. Por isso, nossa proposta foi comprovar esse desconhecimento e mostrar para a gestão da saúde que são necessárias estratégias de implementação que atuem diretamente com xs usuárixs.

FB: Por que é importante levar a informação da Política de Saúde da População Negra para usuários do SUS?

SC: Porque entendemos que a população, por ser beneficiária direta desta Política, tem o direito de saber de sua existência para que possa exigir seus direitos. Nossa estratégia com essa proposta é só o inicio para levar o conhecimento desta Política à população. Precisamos que a gestão crie estratégias para que de fato a política faça diferença positiva na vida e na saúde da população negra.

FB: O que dificulta o acesso à essas informações?

SC: Acreditamos que seja o fato da própria existência do racismo em nossa sociedade. Ainda é muito difícil o reconhecimento da população de que exista racismo no SUS, fato que determinou a criação da Política. É complicado porque uma parte da população nega a existência do racismo, mas o pratica e isso não é diferente no âmbito da saúde. A mesma prática é utilizada pelos trabalhadores de saúde (médicxs, enfermeirxs, técnicxs e todos os demais trabalhadorxs envolvidos no atendimento).

FB: Qual era o cenário da comunidade antes da doação e da implementação do projeto e qual é o cenário atual?

SC: Este projeto realizou intervenções e abordagens com a população negra, residente de Porto Alegre e de todas as regiões de saúde da capital. Pelo fato de ter sido executado com 400 pessoas, em média, não temos como medir ainda o impacto que ele teve. Mas temos um dado que para nós é importante sobre o alcance da informação que levamos sobre a existência da Política: ao verificarmos no Facebook o vídeo que postamos a respeito da Política – no qual são entrevistadas pessoas nas ruas dizendo se a conhecem ou não –, verificamos que já tivemos um alcance de mais de 7 mil pessoas alcançadas.

FB: Como você vê o futuro das pessoas envolvidas nesse projeto a médio/longo prazo?

SC: Apesar de entendermos que esta tenha sido uma ação com resultados a longo prazo e que necessita de várias outras ações, um prognóstico positivo de que as pessoas, população negra, usuária do SUS, passarão a questionar mais a execução da política na sua prática diária, sobretudo a partir da qualidade do atendimento.

FB: Qual a sua expectativa para esse projeto?

SC: O projeto já foi finalizado e esperamos que ele alcance cada vez mais a população negra de forma direta, na qualidade do atendimento da saúde pública.

FB: Quais são os próximos passos?

SC: Recebemos apoio adicional para execução de mais seis meses do projeto, na qual criaremos pequenos vídeos de 5 a 7 minutos explicado sobre doenças que afetam de maneira diferente a população negra. Os vídeos serão temáticos sobre Diabetes e Hipertensão; Tuberculose; HIV/AIDS; e Doença Falciforme.

FB: Existem novos projetos já em planejamento ou até mesmo em andamento?

SC: Os vídeos citados acima estão sendo elaborados e serão divulgados até o final de 2016, mais especificamente no mês de outubro, uma vez que o dia 27 é marcado pela Mobilização Nacional da Saúde da População Negra, e no mês de novembro, pois dia 20 é comemorado o da Consciência Negra.

FB: Qual a importância de um Fundo como o Baobá para a equidade racial para a sociedade?

SC: A criação do Fundo Baobá é importante para toda a sociedade brasileira uma vez que, por termos um fundo que apoia especificamente organizações negras, existe o reconhecimento por parte de financiadores e apoiadores tanto do racismo como da necessidade de garantir o apoio para instituições negras se consolidarem institucionalmente e, consequentemente, o fortalecimento da população como um todo.

Coluna Ubuntu: é uma palavra de origem africana e exprime a ideia de que o ser humano está ligado à sua humanidade, e, portanto, deve buscar uma sociedade igualitária. Para isso, deve colocar os ideais de respeito, cortesia, compartilhamento, comunidade, generosidade, confiança e desprendimento. O Fundo Baobá, por meio de apoio a projetos, busca praticar o Ubuntu para alcançar uma sociedade mais justa com iguais oportunidades a todas e todos.

Feira Baobá Festival Afreaka selecionou afroempreendedores e artistas para expor e vender seus trabalhos

Iniciativa integra o “II Festival Afreaka: encontros de Brasil e África Contemporânea” e será realizada na Galeria Olido, de 1º a 25 de junho

O Fundo Baobá, apoia a primeira edição da Feira Baobá, que será realizada na Galeria Olido (Avenida São João, nº 473 – República, São Paulo/SP.) e selecionou afroempreendedores e artistas para expor e vender seus trabalhos no evento, como produtos e serviços que exaltem a riqueza da cultura afro-brasileira e africana.

A feira integra o “II Festival Afreaka: encontros de Brasil e África Contemporânea”, que acontece entre os dias 1º e 25 de junho, em diversos centros culturais da cidade de São Paulo, em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura, e conta com representantes de países como Quênia, Nigéria, Uganda, Zimbábue, Egito, África do Sul, Gana, Moçambique e Angola que vêm para trocar experiências, sonhos e reflexões com pensadores e artistas afro-brasileiros.

A programação inclui palestras e debates inéditos, uma mostra de cinema contemporâneo, seis exposições de arte, uma feira de empreendedorismo negro, apresentações de dança, música, grafite e performances.

Os vencedores da chamada Feira Baobá e que irão expor seu são:

De 1 a 12 de junho:

  • Beleza Já (SP);
  • By MAIA (SP);
  • Iná Livros (SP);
  • Israel Kasongo (Congo/SP);
  • Leila Garcia Acessórios (SP);
  • Lucineide Fashion África (SP);
  • Ewaci e RZ Arte e Decoração (SP);
  • Resisto OPM (SP);
  • Uzuri (RJ);
  • Marcelo Smile (SP).

De 13 a 23 de junho:

  • Acorda Acessórios (RJ);
  • Saboaria Mais Produtos Artesanais (SP);
  • África Arte (SP);
  • Inaiá Araújo (SP);
  • Livraria Africanidades (SP);
  • Nenê Surreal (SP);
  • Renee Londja (SP);
  • Wilton Nascimento (BA);
  • Xongani (SP);
  • Yaraobá (SP).

Mais informações: festivalafreaka@afreaka.com.br ou conheça a programação completa no evento https://goo.gl/kPft1k

Livro sobre o Fundo Baobá será lançado na Feira Afreaka

Obra relata o esforço de representantes da Fundação Kellogg e de lideranças do movimento negro brasileiro para criar mecanismo pioneiro no País

O Fundo Baobá, lança no dia 3 de junho, o livro “Memórias do Baobá – Raízes e Sementes na Luta por Equidade Racial no Brasil” (Kitabu Editora, 144 páginas), com a participação do Presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá, Hélio Santos, da Diretora Executiva do Fundo Baobá, Selma Moreira, e de um dos organizadores do livro, Amilcar Pereira, como parte da programação do II Festival Akreaka (Galeria Olido ‒ Avenida São João, nº 473, República, São Paulo/SP).

A Feira Baobá de empreendedorismo negro é um dos eventos que integram o “II Festival Afreaka: encontros de Brasil e África Contemporânea”, que acontece entre os dias 1º e 25 de junho, em diversos centros culturais da cidade de São Paulo, em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura.

O evento conta com representantes de países como Quênia, Nigéria, Uganda, Zimbábue, Egito, África do Sul, Gana, Moçambique e Angola e inclui palestras e debates inéditos, uma mostra de cinema contemporâneo, seis exposições de arte, apresentações de dança, música, grafite e performances.

Por tratar-se de uma iniciativa multidisciplinar que exalta a riqueza da cultura afro-brasileira e africana, o Festival Afreaka é o ambiente ideal para o lançamento do livro que conta a história do Fundo Baobá, criado em 2011 a partir da iniciativa da Fundação Kellogg, uma fundação privada e filantrópica norte-americana, que resolveu apoiar com recursos a criação de um mecanismo inédito para promoção da equidade racial no Brasil e deixar um legado para o País.

Na época, para colocar isso em prática, um comitê programático foi formado com diferentes atores sociais envolvidos com a causa e líderes do movimento negro. Como um documentário escrito, a obra materializa a trajetória da organização por meio de 18 depoimentos de ativistas da área, integrantes do processo de construção do Fundo Baobá, seja como líderes ou participantes de grande relevância, além de consultores da Fundação Kellogg.

As entrevistas buscam mostrar como, por diferentes caminhos, cada entrevistado chegou ao processo de constituição do Baobá, considerando uma pluralidade de percepções, perspectivas e experiências.

Os organizadores do livro Amilcar Araújo Pereira, Julio Cesar Correia de Oliveira e Thayara Cristine Silva de Lima, optaram por dividi-lo em três capítulos: Articulações; Construções; e, por fim, Avaliações e Expectativas. Dessa forma, o leitor consegue enxergar a gama de articulações, debates e reflexões necessários para tornar o Fundo Baobá uma realidade. Outro recurso também permite ao leitor ter uma visão geral dos princípais marcos da luta pela equidade social: uma Linha do Tempo, desde 1888 até os dias atuais.

Os entrevistados do livro são: Ana Toni; Andrés Thompson; Antônio Nascimento; Cristina Lopes; Elias Sampaio; Hélio Santos; Joe Stewart; Luiz Alberto de Oliveira Gonçalves; Luiza Bairros; Maria do Socorro Guterres; Maria Nazaré Mota de Lima; Rosana Fernandes; Roseni Sena; Rui Mesquita Cordeiro; Selma Moreira; Silvio Humberto; Sueli Carneiro e Tarry Cristina Santos Pereira.