Em 2024, Fundo Baobá fortaleceu caminhos que levam à Equidade Racial

Visita da Kellogg Foundation ao Fundo Baobá

2024 foi repleto de conquistas e reafirmação do compromisso do Fundo Baobá em promover a equidade racial e apoiar iniciativas transformadoras, a exemplo dos editais BlackSTEM e Carreiras em Movimento. 

Este ano, o Fundo Baobá deu passos importantes no fortalecimento de instituições históricas, na ampliação de oportunidades para a juventude negra e no diálogo com movimentos globais de equidade racial. Foi um ano de conquistas significativas, refletindo nosso compromisso com a transformação social. Confira os destaques:

Doação para a Marcha das Mulheres Negras

A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, ato político-social que pretende reunir um milhão de mulheres negras em Brasília (DF), em 25 de novembro de 2025, vai contar com o maior apoio financeiro da história do Baobá – Fundo para Equidade Racial. A organização doou R$1.250.000 (um milhão e duzentos e cinquenta mil reais) para a mobilização, logística, articulação e engajamento de mulheres negras em todas as regiões do país, com atenção especial às mulheres quilombolas. 

O anúncio foi feito no dia 8 de dezembro durante o Encontro Regional de Mulheres Negras do Nordeste rumo à Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, que aconteceu em Recife (PE). 

Representando o Fundo Baobá, Caroline Almeida, Gerente de Articulação Social, enfatizou o compromisso da organização com a mobilização nacional: “Este apoio é resultado do nosso compromisso com a luta das mulheres negras e com a construção de um futuro mais justo e digno para todas. Este é um esforço coletivo, com a confiança de que as mulheres negras terão voz ativa em cada etapa do processo até a grande Marcha em 2025.”

BlackSTEM: Formação Acadêmica Global e Liderança Negra

Em agosto, conhecemos os cinco primeiros estudantes selecionados pelo programa BlackSTEM, em parceria com a B3 Social. O edital oferece bolsas anuais de R$ 35 mil para a permanência de jovens negros e negras em áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) em universidades internacionais.

Alunos do Edital Black STEM
Alunos do Programa Black STEM 2024. Crédito: Thalita Guimarães

Camila Ribeiro Martins, que segue carreira em Pilotagem em Portugal, Diovana Stelman Negeski de Aguiar cursa Ciência da Computação na New York University (Campus China); Melissa Simplicio Silva também faz Ciência da Computação, mas na New York University em Nova York; Rilary Oliveira Torres é estudante de Medicina na Universidad Nacional de Rosario, na Argentina; e Eric Souza Costa Ribeiro, primeiro negro brasileiro a representar o país na Olimpíada Internacional de Ciência, entrou na Notre Dame University para cursar Engenharia Aeroespacial, exemplificam o potencial transformador do programa. 

De acordo com Giovanni Harvey, diretor executivo do Fundo Baobá, “o BlackSTEM é mais que um programa educacional, é uma ponte para a ocupação de espaços de liderança pela juventude negra.”

Conferência da Diáspora Africana nas Américas

Salvador, na Bahia, foi palco da Conferência da Diáspora Africana, um marco para o movimento pan-africano. O evento reuniu lideranças globais para discutir temas como reparação histórica e o papel da África no cenário mundial. 

Giovanni Harvey representou o Fundo Baobá na elaboração da Carta de Recomendação à União Africana, defendendo que as reparações sejam o próximo passo no combate às desigualdades estruturais. A conferência na Bahia serviu como ponte para o 9º Congresso Pan-Africano, que ocorreu em Lomé, no Togo. 

Impactos do Programa “Carreiras em Movimento”

O programa Carreiras em Movimento trouxe resultados transformadores para os 317 apoiados entre os 688 que se inscreveram para concorrer ao edital — uma oportunidade de desenvolvimento de competências e habilidades entre pessoas negras em início de suas carreiras ou que estivessem buscando mobilidade dentro do setor privado.        

✅ 61% das pessoas sem emprego conseguiram trabalho
✅ 54% dos trabalhadores informais migraram para empregos formais
✅ 48% dos participantes relataram aumento de renda, atribuindo os resultados ao programa

Além disso, houve avanços em autoconhecimento, gestão de tempo, planejamento e liderança, fortalecendo trajetórias profissionais e pessoais.

Celebrando a Resistência: 192 anos da Sociedade Protetora dos Desvalidos 

Grupo de senhores negros celebrando a Resistência: 192 anos da Sociedade Protetora dos Desvalidos
Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD). Crédito: Hugo Martins

A Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD), a mais antiga associação negra em atividade do Brasil, comemorou 192 anos de luta e resiliência em setembro, em Salvador (BA). Fundada por homens negros libertos, a entidade continua sendo um pilar na busca por justiça social e igualdade. 

Com o apoio  histórico de R$ 500 mil do Fundo Baobá, viabilizado em 2023, a SPD reafirmou seu papel como símbolo de resistência. Giovanni Harvey destacou a importância de apoiar instituições centenárias, garantindo que suas ações e valores permaneçam vivos para as próximas gerações.

Reconhecimento: Selo de Direitos Humanos e Diversidade e Selo Igualdade Racial

O edital Educação em Tecnologia, inscrito pelo Fundo Baobá, foi reconhecido com o Selo de Direitos Humanos e Diversidade, outorgado pela Prefeitura de São Paulo em sua 7ª edição. Este reconhecimento destaca o compromisso do Fundo Baobá em estimular a produção de conhecimento, fortalecer o ambiente educacional e preparar a juventude negra para o futuro por meio da tecnologia.

A outra outorga foi dada ao próprio Fundo Baobá, que ganhou o Selo Igualdade Racial. Instituído em 2015 pela Lei Municipal 16.340 e Decreto 57.987, de 2017. Este selo é concedido a organizações que têm, pelo menos, 20% de profissionais negros distribuídos em diferentes níveis hierárquicos e funções, incluindo prestadores terceirizados. No Baobá, a equipe executiva é composta majoritariamente por pessoas negras em cargos de direção, gerência, coordenação e assistência.”.  

Participação no G20 Social

O Fundo Baobá foi convidado a integrar debates importantes no G20 Social, com destaque para a mesa “Rotas Negras e o Projeto Cais do Valongo”. O G20 Social foi um evento que correu em paralelo ao fórum de cooperação econômica que reuniu no Rio de Janeiro nações desenvolvidas e outras emergentes, além da União Europeia e da União Africana. Giovanni Harvey enfatizou como memória, justiça racial e economia caminham juntas, reforçando o protagonismo negro nas pautas globais.

Giovanni Harvey com Adriana Barbosa, do Preta HUB, na mesa “O papel das políticas públicas para o empoderamento econômico dos afrodescendentes na América Latina” do G20 Social

Visita da Kellogg Foundation

O Fundo Baobá tem uma forte e histórica ligação com a Kellogg Foundation, organização que contribuiu para a formação do Baobá construindo os primeiros diálogos com o movimento negro brasileiro e designando os primeiros aportes financeiros para que o Fundo fosse constituído. Isso teve início em 2006. Em 2024, o Baobá recebeu a visita de integrantes da Kellogg que estiveram no Brasil em 2018. Seis anos depois, eles receberam informações sobre as realizações do fundo nos seus 13 anos oficiais de existência. 

Visita da Kellogg Foundation

As informações foram centradas no trabalho de Articulação Social, Investimento Programático e Mobilização de Recursos. Além disso, foi enaltecido o aprendizado que o Baobá recebeu da Kellogg sobre gestão financeira e pensamento de longo prazo. Essas características levaram o Baobá a alcançar a autonomia financeira que hoje possibilita a criação de editais como o BlackSTEM e o Quilombolas em Defesa; ações como a Saúde Mental Quilombola e o investimento de contribuição para a realização da Marcha das Mulheres Negras, que acontecerá em novembro de 2025.

Espalhando sementes e enraizando futuros com o Fundo Baobá

Espalhando sementes e enraizando futuros com o Fundo Baobá

O Fundo Baobá renova seu compromisso com a equidade racial e convida você a fazer parte desta transformação. Há 13 anos, mobilizamos recursos para investir exclusivamente em iniciativas de enfrentamento ao racismo e promoção da equidade racial no Brasil.

Assim como a árvore baobá, nosso trabalho é sustentado por raízes profundas que geram impacto duradouro. Afinal, cada doação é uma semente lançada ao solo fértil, que, com o tempo, se transforma em oportunidades reais para pessoas reais.

O Fundo Baobá opera com o modelo de endowment, ou fundo patrimonial, que garante apoio contínuo e a longo prazo para iniciativas voltadas à equidade racial. 

Um fundo patrimonial (ou endowment) é uma reserva financeira criada para garantir a sustentabilidade de uma organização ou causa a longo prazo. Dessa forma, o capital principal do fundo é investido, e apenas os rendimentos gerados pelos investimentos são utilizados para financiar projetos ou operações. Esse modelo permite que a organização tenha recursos contínuos e previsíveis, garantindo estabilidade e impacto duradouro.

Por meio de editais e investimentos estratégicos, apoiamos iniciativas lideradas por pessoas e organizações negras que promovem a educação, o desenvolvimento econômico, a preservação da memória e tantas outras áreas essenciais para o fortalecimento da população negra.

Essa abordagem possibilita que nossas ações sejam sustentáveis, criando uma base permanente para o desenvolvimento de indivíduos e comunidades. É por isso que a sua doação tem tanto poder: ela não apenas apoia iniciativas imediatas, mas também gera um impacto que atravessa gerações.

Ao longo dos anos, o Fundo Baobá lançou 22 editais e apoiou mais de 1.200 iniciativas. Esses projetos transformaram a vida de quase 3 mil pessoas, reforçando nossa missão de promover a equidade racial no Brasil. 

Entre os destaques estão ações como o edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça, que apoiou iniciativas que combatem a violência sistêmica e às injustiças criminais com perfilamento racial no Brasil com o apoio do Google.org, e o Black STEM, que apoia a permanência de estudantes negros brasileiros em instituições de ensino internacionais.

Essas iniciativas mostram que, com o apoio necessário, pessoas e comunidades negras podem protagonizar mudanças reais e produzir mais conhecimento. 

Hoje, convidamos você a se unir a nós. O Fundo Baobá precisa de pessoas que compartilhem da nossa visão e estejam dispostas a investir no futuro. A sua doação é uma semente que pode transformar vidas, fortalecer iniciativas transformadoras e multiplicar ações por equidade pelo país.

Por que doar para o Fundo Baobá?

  • Sustentabilidade: o modelo de endowment garante que sua doação terá um impacto duradouro
  • Impacto concreto: cada real doado é transformado em oportunidades e soluções para a população negra
  • Fortalecimento comunitário: suas contribuições apoiam iniciativas comprometidas com o enfrentamento ao racismo, com a promoção da equidade racial e da justiça social 

Doe e enraíze futuros

Plantar uma semente é o primeiro passo para criar raízes fortes e impactar gerações. 

Toque no link abaixo e faça parte dessa transformação. Cada valor doado faz a diferença.

Quero plantar a minha semente hoje!

Alunos do Instituto Federal do Triângulo Mineiro participam, em São Paulo, de encontro para conhecer ações promovidas pelo Fundo Baobá

Alunos do Instituto Federal do Triângulo Mineiro participam, em São Paulo, de encontro para conhecer ações promovidas pelo Fundo Baobá apresentar seu trabalho e conhecer organizações filantrópicas mundiais

Um grupo de 25 alunos do Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM), campus de Uberlândia (MG), movimentou-se para ter uma viagem em que o objetivo era único: ativar o direito de sonhar. Depois de promoverem ações para angariar a quantia necessária para a viagem, eles vieram a São Paulo. A iniciativa foi articulada e desenvolvida pelo professor Fernando Caixeta e uma das atividades deles na capital paulista foi um encontro com as ações promovidas pelo Baobá – Fundo para Equidade Racial.

Um dos eixos de atuação do Baobá é o da Educação. Nele, o Fundo procura incentivar  ações de enfrentamento ao racismo institucional nos ambientes escolares, apoia projetos de vida e ampliação de capacidades socioemocionais entre adolescentes e jovens, além de ampliar a entrada e a permanência no ensino superior, o que resulta na formação de lideranças e novos quadros em ciência, tecnologia e inovação. 

Os 25 alunos do IFTM estão em fase de conclusão do ensino médio, a última etapa de aprendizado antes do acesso ao ensino superior. Vivem, com certeza, um momento de decisão com relação ao futuro. Uma coisa, porém,  é certa: apostam na educação como a principal ferramenta para transformar suas vidas. 

Professor Fernando Caixeta, do IFTM. Foto: Thalita Guimarães

O professor Fernando Caixeta participou da banca de seleção do edital BlackStem, promovido pelo Baobá em parceria com a B3 Social. O BlackStem é um programa de graduação voltado a estudantes negros e negras que tenham sido aceitos para fazer sua formação em universidades estrangeiras dentro das carreiras STEM (Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática). Os alunos do IFTM, além de conhecerem alguns dos selecionados do  BlackStem, também conheceram participantes do Programa Já É, cujo objetivo é a ampliação das oportunidades de acesso ao ensino superior para estudantes negros e negras,  e do Carreiras em Movimento,  que gera oportunidades para o desenvolvimento de competências e habilidades entre pessoas negras que estejam no início de sua trajetória profissional. 

Os assistentes de programas e projetos, Alan Santos e Edmara Pereira, contaram um pouco sobre cada um dos editais. Giovanni Harvey, diretor executivo, também conversou com os estudantes do Instituto Federal do Triângulo Mineiro focando nas possibilidades e habilidades acadêmicas de cada um deles e no apoio que o Baobá pode dar a isso: “Muitas vezes, vocês têm a competência para entrar na faculdade, mas não reúnem as condições. Entre outros programas, nós temos o BlackStem, que dá uma bolsa de R$ 35 mil como forma de ajudar estudantes brasileiros que almejam fazer seus cursos de graduação em instituições de ensino fora do Brasil. O que objetivamos com isso? Nosso objetivo é ter uma visão mais realista da nossa história, para que tenhamos uma verdadeira democracia neste país”, afirmou. 

Alunos do IFTM atento à fala do Giovanni Harvey, Diretor Executivo do Fundo Baobá. Foto: Thalita Guimarães

Ao citar democracia, o diretor executivo do Baobá tocou num ponto crucial. A democracia, em termos de proteção de direitos, prevê a livre participação, entre outros aspectos, na vida cultural de uma sociedade. Por conta da busca por essa livre participação, os estudantes criaram o coletivo Sancofa como ferramenta de luta. 

Além da apresentação feita pelos porta-vozes do Baobá, os estudantes mineiros ouviram falas potentes, como a do graduado em Humanidades pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Alajobi Silva, 26 anos, apoiado pelo edital Carreiras em Movimento. Nascido em Salvador, ele se mudou do Nordeste para São Paulo há menos de seis meses para tentar a carreira na área. “O edital Carreiras em Movimento caiu como uma luva. Eu já visualizava algumas coisas como passos na minha carreira. Mas para que elas fossem executadas eu precisava de dinheiro. Uma das minhas preocupações era como eu conseguiria dar os passos que eu estava visualizando, sem ter como financiar isso. Então, quando o edital abriu e eu vi a proposta, considerei ser o ideal para o meu momento de construção de carreira”, afirmou.

O professor do IFTM, Fernando Caixeta, definiu a importância de os alunos terem vindo a São Paulo e terem esse encontro com o Fundo Baobá. “Desde que conheci o Fundo, a gente fica compartilhando as histórias, principalmente com os meus alunos. Eles ficaram interessados nos editais lançados. Então, num primeiro momento, iríamos ver como estão os editais ou as oportunidades que o Baobá proporciona para esses alunos. Mas o que a gente encontrou aqui é muito maior que os resultados, muito maior que as conquistas que qualquer auxílio financeiro possa dar: é aquilombamento, é acolhimento, é saber que existem pessoas pretas que trabalham, que desempenham suas funções, que têm as suas formações reconhecidas, valorizadas e bem pagas. Isso não tem preço. Saio daqui com o sentimento de que foi ótimo”, afirmou o mentor da viagem.  

Fundo Baobá Abre Vaga para Consultoria em Pesquisa Qualitativa para Programa de Lideranças Femininas Negras

O Fundo Baobá está em busca de uma consultoria qualificada para realizar uma pesquisa qualitativa que irá subsidiar o 2º edital de apoio coletivo do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. Esta é uma oportunidade única para organizações com expertise em temas de equidade racial e de gênero contribuírem para o fortalecimento de lideranças femininas negras no Brasil.

O Baobá – Fundo para Equidade Racial é uma organização que se dedica ao investimento no desenvolvimento de lideranças e iniciativas que promovam a equidade racial e de gênero no Brasil. Com um histórico de apoio a organizações de mulheres negras, o Fundo Baobá busca continuamente criar oportunidades que fortaleçam as capacidades institucionais dessas organizações e ampliem seu impacto nas comunidades.

O objetivo principal desta consultoria é a realização de grupos focais, entrevistas semiestruturadas e a aplicação de questionários auto responsivos junto a organizações de mulheres negras. A pesquisa deverá mapear necessidades e expectativas dessas organizações em áreas como:

  • Planejamento e gestão
  • Captação de recursos
  • Comunicação estratégica
  • Registro e memória
  • Atuação em rede
  • Fortalecimento de lideranças e formação de novos quadros
  • Mobilização de parceiros para atuar em defesa da equidade racial e de gênero

O resultado dessa pesquisa será fundamental para a elaboração do 2º edital de apoio coletivo do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco.

O edital de apoio coletivo do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco tem como objetivo investir no desenvolvimento institucional de organizações de mulheres negras que atuam para o enfrentamento ao racismo e ao sexismo. As organizações selecionadas receberão um apoio financeiro total de R$ 375.000,00, além de investimentos diferenciados para suas dirigentes e acesso a uma rede de lideranças femininas negras.

Estamos em busca de uma consultoria que atenda aos seguintes critérios:

  • Experiência comprovada de pelo menos 5 anos em condução de pesquisas qualitativas e em temas relacionados à equidade racial e de gênero.
  • Capacidade de conduzir grupos focais e entrevistas em ambiente virtual.
  • Equipe diversa em termos de identidade de gênero, raça/cor e faixa etária.
  • Bom planejamento, organização e compromisso com prazos.

Além disso, a consultoria deve ser uma empresa registrada, com pelo menos 5 anos de atuação, que não seja pessoa física e que possua experiência comprovada em projetos semelhantes.

As organizações participantes do edital terão acesso a diversos benefícios, incluindo:

  • Contato com outras lideranças femininas negras, fortalecendo redes e colaborações.
  • Participação em atividades formativas organizadas pelo Fundo Baobá.
  • Aumento da visibilidade e oportunidades de desenvolvimento de habilidades políticas e de liderança.

Como se Candidatar

Os interessados devem enviar suas propostas até 16 de outubro de 2024, às 17h (horário de Brasília). A proposta deve incluir informações gerais sobre a empresa, uma proposta orçamentária detalhada, mini bio dos membros da equipe e três cartas de referência.

  • Data de início do contrato: 30 de outubro de 2024
  • Data de término do contrato: 31 de março de 2025

Para mais detalhes sobre os requisitos e especificações do projeto, faça o download do Termo de Referência completo no link abaixo:

Não perca a oportunidade de fazer parte desse projeto transformador que apoia o desenvolvimento de lideranças femininas negras no Brasil!

Consultoria para Pesquisa Qualitativa no Programa de Lideranças Femininas Negras: Oportunidade do Fundo Baobá

O Fundo Baobá, comprometido com a promoção da equidade racial no Brasil, está em busca de uma consultoria especializada para realizar uma pesquisa qualitativa que será fundamental para o desenvolvimento do 2º edital do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. Este artigo detalha os requisitos, objetivos e especificações do serviço, além de explicar o impacto dessa iniciativa para as mulheres negras e como você pode contribuir.

A consultoria contratada será responsável por realizar grupos focais, entrevistas semiestruturadas e aplicar questionários auto responsivos a mulheres negras cis, trans e travestis. O objetivo é mapear suas necessidades e expectativas relacionadas ao desenvolvimento de competências técnicas, políticas, socioemocionais e comportamentais de liderança. Esse estudo qualitativo fornecerá insights essenciais para a elaboração e implementação do próximo edital de apoio individual do programa.

Este programa visa ampliar as oportunidades de desenvolvimento para mulheres negras (pretas e pardas) cis, trans ou travestis que lideram ou atuam em organizações da sociedade civil, movimentos sociais, instituições públicas, setor privado e outras áreas estratégicas. Serão selecionadas 35 mulheres para receber uma bolsa mensal de R$ 3.100,00 por 18 meses, mentoria coletiva, contato com outras lideranças femininas e participação em atividades formativas.

O edital destina-se exclusivamente a mulheres negras que atuam em diversas áreas, desde organizações da sociedade civil até o setor privado. Também haverá um foco em lideranças femininas quilombolas, mulheres negras em altos postos de governo, no terceiro setor, no judiciário, no empreendedorismo e em outros setores estratégicos. O objetivo é garantir uma ampla representatividade, com participantes de todas as regiões do Brasil, especialmente do Norte e Nordeste.

A empresa ou instituição interessada deve ter, no mínimo, cinco anos de experiência comprovada na condução de pesquisas qualitativas sobre equidade racial e de gênero, além de expertise em grupos focais e entrevistas virtuais. A equipe de trabalho deve ser diversa em termos de identidade de gênero, raça/cor e faixa etária, demonstrando compromisso com os princípios de direitos humanos e eliminação da discriminação racial.

A consultoria terá início em 30 de outubro de 2024 e término previsto para 31 de março de 2025. Entre os principais produtos a serem entregues estão:

  • Plano de Trabalho: Detalhamento do cronograma, metodologia e perfil da equipe.
  • Mapeamento de Iniciativas: Identificação de outras ações voltadas ao desenvolvimento de lideranças negras.
  • Relatórios e Apresentações: Compilação dos resultados das pesquisas em documentos que incluam dados coletados, perfis das participantes e recomendações.
  • Apresentações Visuais: Criação de materiais de apoio para divulgar os achados da pesquisa.

Os pagamentos serão realizados em parcelas conforme a entrega e aprovação dos produtos descritos.

A seleção da empresa será baseada na qualidade da proposta e no custo-benefício. É fundamental que as candidaturas incluam uma proposta orçamentária detalhada, mini bios dos membros da equipe e três cartas de referência de projetos semelhantes realizados nos últimos cinco anos. Apenas empresas com, pelo menos, cinco anos de experiência na condução de pesquisas qualitativas serão consideradas.

Este projeto é uma oportunidade única para apoiar a formação de novas lideranças femininas negras, proporcionando recursos e capacitações para mulheres que já ocupam ou pretendem ocupar posições estratégicas em diversos setores. Ao mapear as necessidades e expectativas dessas mulheres, o Fundo Baobá busca potencializar suas competências e promover uma rede de apoio para o desenvolvimento de suas habilidades políticas, técnicas e socioemocionais.

Se você é uma empresa com experiência em pesquisa qualitativa e um compromisso real com a promoção da equidade racial e de gênero, esta é a sua chance de contribuir para um projeto que fará a diferença na vida de muitas mulheres negras no Brasil.

Clique no link abaixo para baixar o PDF com todos os detalhes da vaga e enviar sua proposta orçamentária até o dia 16 de outubro de 2024, às 17h (horário de Brasília).

Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD) Comemora 192 Anos e Reforça que a Luta pela Causa Negra Continua

Fundada por homens negros libertos com o objetivo de conquistar a liberdade para seus irmãos e irmãs ainda escravizados, a Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD) celebrou 192 anos no dia 16 de setembro. Durante a comemoração em Salvador, Bahia, a entidade fez uma reflexão importante: a comunidade negra alcançou suas metas ou ainda há muitos desafios pela frente? Se considerarmos os princípios que nortearam a criação da SPD — combate ao racismo, liberdade religiosa e igualdade social —, as lutas de hoje ainda ecoam os desafios enfrentados em 1832. A caminhada continua.

A História da SPD e Suas Lutas Desde sua fundação, a SPD tem sido um pilar na luta pela igualdade racial no Brasil. Nomes como Luiz Gama e José do Patrocínio, figuras centrais no combate à escravidão e ao racismo, integraram a organização. Apesar dos avanços em quase dois séculos, as demandas da população negra permanecem praticamente as mesmas. Na época, a filantropia era o principal recurso para angariar fundos e comprar cartas de alforria para libertar escravizados.

Neilto Barreto, bibliotecário e publicitário aposentado, assumiu a presidência da Assembleia Geral da SPD e destacou o legado de luta dos membros da organização. “Em todo esse período, nunca dependemos de apoio governamental, seja municipal, estadual ou federal, desde 1832”, declarou Barreto, que liderará a entidade até 2027.

O Apoio do Fundo Baobá A continuidade das ações sociais da SPD ao longo dos anos não significa que a entidade não tenha necessitado de apoio. Um marco importante foi o suporte financeiro de R$ 500 mil do Fundo Baobá em novembro de 2023. Para Giovanni Harvey, diretor executivo do Fundo, esse apoio foi fundamental para abrir precedentes no auxílio a organizações negras centenárias. “Como pode uma instituição como a SPD, em quase dois séculos de existência, não ter recebido apoio institucional significativo? A SPD nos inspira a apoiar mais instituições centenárias”, afirmou Harvey.

A conexão entre o Fundo Baobá e a SPD foi articulada em 2022 por Tricia Calmon, da Assembleia Geral do Fundo Baobá, que identificou a necessidade de assistência à entidade e levou a demanda ao Conselho Deliberativo. Sueli Carneiro, presidente do Conselho Deliberativo, sugeriu a concessão de apoio, que evoluiu para a primeira doação sem edital da história do Fundo, fruto de recursos próprios.

Transformações ao Longo dos Séculos Assim como a sociedade mudou ao longo dos séculos 19, 20 e 21, a SPD também passou por transformações. Originalmente, apenas homens negros africanos podiam ser diretores da organização. Hoje, mulheres também são admitidas. Ligia Margarida Gomes, psicóloga e ex-presidente da Assembleia Geral, destacou essa mudança, e Neilto Barreto complementou, afirmando que, embora associados não negros sejam admitidos, eles precisam estar comprometidos com a causa da entidade.

O Futuro da SPD A comemoração de 192 anos da SPD reuniu membros do movimento negro baiano e foi marcada por uma celebração tradicional, incluindo iguarias da culinária africana como caruru, acarajé e pirão. Um dos principais objetivos da entidade para o futuro é atrair jovens para integrar o quadro associativo, que hoje conta com cerca de 250 membros. “Nosso maior desafio é a renovação. A juventude precisa se conscientizar da importância de se juntar a nós”, afirmou Ligia Gomes. Para ela, a grande contrapartida é o privilégio de fazer parte da luta por uma causa maior.

Conclusão A SPD, com seus 192 anos de história, continua a ser um símbolo de resistência e luta pela igualdade racial no Brasil. A busca por justiça social, combate ao racismo e liberdade religiosa iniciada no século 19 permanece mais viva do que nunca, lembrando que ainda há muitos passos a serem dados nessa jornada.

Rede Comuá realiza atividades de enfrentamento às mudanças climáticas no mês da filantropia que transforma

Mês da Filantropia que Transforma 2024

A Rede Comuá, da qual o Fundo Baobá é parte, faz um chamado em setembro: existem caminhos possíveis para o financiamento de soluções climáticas locais. Neste ano, destaca-se a atuação das organizações da filantropia comunitária e de justiça socioambiental no financiamento, desenvolvimento e/ou cocriação destas soluções.

Como parte da programação do Mês da Filantropia que Transforma 2024, foi realizado o lançamento da “Iniciativa Comuá pelo Clima: financiamento de soluções climáticas locais”, que traça o perfil da atuação dos membros da Rede nessa agenda, de modo interseccional, e destaca ações e iniciativas desenvolvidas e financiadas na área de filantropia e clima.

O levantamento tem potencial para se tornar uma referência para o campo da filantropia, contribuindo para incidir na construção de agendas e no desenvolvimento de estratégias de financiamento para organizações e grupos da sociedade civil que atuam na linha de frente. Além de ser imprescindível para o enfrentamento da crise climática, o foco local é que traz a perspectiva da exclusão e das injustiças sociais. As mudanças climáticas em curso no planeta afetam todos os territórios, grupos e comunidades. Mas não da mesma forma. Minorias políticas como comunidades indígenas, negras, quilombolas, LGBTQIAPN+, mulheres, agricultores e agricultoras familiares e populações de territórios periféricos urbanos, atravessados pelas desigualdades sociais e econômicas, são atingidas de modo mais extremo pelos efeitos da crise climática.

Apesar disso, esses grupos não têm lugar garantido em fóruns de tomadas de decisão relativas à definição dos projetos e de políticas públicas que os afetam diretamente. Sua presença em agendas de financiamento climático também está aquém do necessário. Mesmo sendo os que menos contribuem para o agravamento do aquecimento global e, em muitos casos, os que mais atuam na conservação e na preservação do meio ambiente, grupos racializados estão entre os mais prejudicados pela mudança do clima, segundo pesquisa realizada pelo geógrafo Diosmar Filho para a Associação de Pesquisa Iyaleta.

Pensar o clima a partir de uma perspectiva de proteção e promoção dos direitos humanos é fundamental, especialmente se tiverem como foco estratégias de mitigação, adaptação e financiamento climático para a redução da pobreza e o fortalecimento dos direitos. Atualmente, porém, essa não é a realidade. Mesmo considerando-se uma perspectiva mais ampla, que vai além da questão climática, a filantropia tradicional ainda destina poucos recursos para grupos racializados. No Brasil, segundo dados da última edição do Censo GIFE, as organizações do investimento social privado (ISP) têm perfil majoritariamente executor de projetos e menos doador para outras organizações da sociedade civil. De acordo com o Censo, o montante de recursos financeiros para áreas de preservação ambiental no período 2022-2023 foi de 13% do investimento realizado. O percentual menor era destinado às comunidades remanescentes de quilombos (10%), terras indígenas (7%) e assentamentos (3%).

O Baobá – Fundo para Equidade Racial é um dos membros da Rede Comuá e participou em uma das etapas do processo de formalização da Rede que teve início em 2022, quando completou 11 anos de atuação. A Rede busca fortalecer a capacidade de atuação conjunta dos seus membros potencializando seu papel nos processos de transformação social, e o Fundo Baobá considera a plataforma é importante, pois apoiar financeiramente iniciativas da sociedade civil lideradas por minorias políticas é uma estratégia crucial para promover e construir agendas focadas no reconhecimento e na defesa de direitos.

Liderança negra e feminina se destaca por atuação frente às necessidades de mulheres negras após tragédia climática no RS

Saiba como uma liderança negra, do Coletivo Atinúké, enfrentando os desafios impostos por tragédias climáticas e promovendo igualdade racial e de gênero no RS.

Nina Fola é militante do movimento negro, socióloga, produtora cultural e doutoranda em sociologia. Atualmente é a liderança negra que coordena o Coletivo Atinúké – Pensamento de mulheres negras, um grupo de formação que apoia, estuda e fomenta a produção de conhecimento das mulheres negras desde 2016. O grupo surgiu a partir da iniciativa de três mulheres negras acadêmicas que identificaram que as necessidades da população negra e feminina do Rio Grande do Sul não eram consideradas.

Nina Fola é militante do movimento negro, socióloga, produtora cultural e doutoranda em sociologia. Atualmente é a liderança negra que coordena o Coletivo Atinúké. Ela é uma mulher negra de cabelo crespo com luzes loiras e na foto está de óculos de sol e camiseta amarela.
Nina Fola, liderança negra que coordena o Coletivo Atinúké

A atuação do Coletivo, um dos selecionados no edital Educação e Identidades Negras, do Baobá – Fundo para Equidade Racial, vem se destacando com maior incidência e suprindo cada vez mais as necessidades emergenciais da população negra e feminina após um dos maiores eventos climáticos extremos no Brasil, ocorrido em maio no RS. Elas vêm enfatizando o desfavorecimento em termos salariais, profissionais e acadêmicos da população negra que representa 21,19% dos habitantes do estado segundo o IBGE.

Anteriormente a uma das maiores catástrofes climáticas da história do estado do RS, o coletivo atuava principalmente na formação de mulheres negras a partir de leituras e discussões de produções escritas e artísticas de autoria  das mesmas. Atinúké, nome que significa, em Iorubá, “aquela que merece carinho desde o ventre”, faz um resgate ancestral da potencial intensidade do que é o amor, o carinho e a força transmitida no ventre de uma mulher negra. São forças oriundas da resistência ancestral que as fazem enfrentar desafios de uma sociedade patriarcal, racista e misógina.

No levantamento realizado pelo Observatório das Metrópoles de Porto Alegre, pode-se visualizar que um contingente expressivo da população pobre e preta foi afetado durante as fortes chuvas do mês de maio em bairros populosos da cidade, como o Sarandi, na região Norte, nas ilhas e na região metropolitana, a exemplo de Canoas, Cachoeirinha, Alvorada, Gravataí, Sapucaia do Sul e São Leopoldo. A água tomou conta também de praticamente toda a cidade de Eldorado do Sul e Guaíba. 

Nina explica que nos bairros mais afetados, onde o estado não opera prontamente nem os torna visíveis, são as comunidades de quilombo e terreiros que atuam para identificar e amenizar os impactos oriundos das chuvas que impossibilitam a população negra de viver com dignidade e respeito. São também os quilombos e os terreiros que estão na linha de frente acolhendo, monitorando e fornecendo alimentos básicos e moradia para parte dessa população, pois alguns têm medo de ir até os abrigos e serem vítimas de violências raciais e de gênero nesses locais.

Ao relembrar diversos desafios desse cotidiano, Nina afirma que as necessidades que vieram após o evento climático extremo são muito particulares e ao mesmo tempo muito similares às da pandemia de Covid-19, em 2020. Ela relata que a experiência que obteve participando do edital Educação e Identidades Negras a fez conduzir com maestria todas as adversidades impostas pelas fortes chuvas. Para ela, foi de extrema importância vislumbrar o Fundo Baobá, não só como financiador do recurso recebido, mas também pela base sólida de aprendizado e conhecimento que adquiriu com as várias palestras, assessorias e assistências necessárias nesse processo.

Coletivo Atinúké

Nina constatou que as dificuldades das mulheres negras e, consequentemente, da população negra no RS, ficaram muito mais evidentes e são desproporcionais em relação ao restante da população. Os desafios encontrados por esse grupo são maiores, especialmente as mulheres negras, que sofrem com a falta de acesso a abrigos seguros, cuidados médicos, medicamentos, alimentos adequados e a reestruturação de suas vidas, empregos e renda futuros, além de acesso às políticas públicas.

Diante desses fatos, ela questiona a dificuldade em acessar e identificar as políticas públicas necessárias para enfrentar esse momento caótico. Para suprir as necessidades básicas, é crucial ter dados sobre essa parte da população. Atualmente, o possível e viável é atuar nas questões mais urgentes, como fornecer alimentação e moradia para garantir a sobrevivência dessas pessoas.

“Se é interesse político atender a esse público, é fundamental que sejam implementadas medidas afirmativas de urgência, que mobilizem a sociedade civil, mas também a imediata criação de políticas públicas voltadas para a promoção da igualdade racial e de gênero, visando a garantia de direitos fundamentais, financiamentos, oportunidades de emprego e renda, assim como justiça social para as mulheres negras no Rio Grande do Sul”, afirma Nina. Para ela, é essencial uma ação emergencial direcionada a estas mulheres que, ela acredita, vai ter um reflexo positivo para as pessoas. Quando atuam direcionadas, as mulheres negras modificam um contexto social e não somente uma mulher ou uma família.


“Se é interesse político atender a esse público, é fundamental que sejam implementadas medidas afirmativas de urgência, que mobilizem a sociedade civil, mas também a imediata criação de políticas públicas voltadas para a promoção da igualdade racial e de gênero, visando a garantia de direitos fundamentais, financiamentos, oportunidades de emprego e renda, assim como justiça social para as mulheres negras no Rio Grande do Sul”, afirma Nina. Para ela, é essencial uma ação emergencial direcionada a estas mulheres que, ela acredita, vai ter um reflexo positivo para as pessoas. Quando atuam direcionadas, as mulheres negras modificam um contexto social e não somente uma mulher ou uma família.

Siga o Coletivo Atinúké para acompanhar o trabalho que elas realizam: https://www.instagram.com/coletivoatinuke/

Créditos: Arquivo Pessoal

Edital Carreiras em Movimento aproxima estudante de engenharia da profissional que a inspira

Descubra como o edital "Carreiras em Movimento" pode transformar sua trajetória profissional através do depoimento inspirador de Lívia Mello.

Conhecimento é poder e isso ninguém te tira, filha!

Com os olhos marejados, Livia contou a história da sua família, em especial de seu pai que, infelizmente, não vai ver essa potência brilhando dentro e fora de terras brasileiras. Sim, ele não está mais conosco, mas, assim como eu, ela recebeu de seus pais a semente da paixão pelo estudo, que desbrava caminhos, abre fronteiras e nos faz ver além do óbvio.

A futura engenheira contribui com suas ações para o desenvolvimento do setor de petróleo e gás, focando na transição energética justa e inclusiva e já coleciona vitórias, que vão desde a sua nomeação como Student Energy 2024 Fellow até sua emocionante ida para os Emirados Árabes como uma das poucas selecionadas a participar do importante fórum juvenil de energia, o Irena Youth Forum.

No nosso bate-papo eu vi uma moça cheia de sonhos e pronta para fazer diferença no mundo para sua geração e para as outras que virão e é disso que o mundo precisa, de diversas Livias, movimentando a roda que vai além do óbvio, que nos coloca como protagonistas de uma história que nem sempre foi de sucesso para nós mulheres e principalmente para nós mulheres negras e engenheiras. Que essa Livia inspire outras e outras e outras! Estamos esperando por vocês nesse mundo desafiador, mas extremamente gratificante! Parabéns, Livia. É uma honra poder fazer parte de um capítulo de sua história. Voe!”

O relato acima foi escrito pela engenheira Denise Santos, de 49 anos, que construiu sua carreira na Shell do Brasil. O texto surgiu após conhecer a estudante de Engenharia Livia Mello, 24 anos, de Fortaleza (CE). O primeiro encontro entre elas ocorreu por conta da inscrição de Livia no edital Carreiras em Movimento, do Baobá – Fundo para Equidade Racial. As duas têm histórias que passam por pontos em comum, como a origem humilde e a determinação para quebrar barreiras e alcançar um sonho aparentemente impossível. 

Livia Mello é estudante na Universidade Federal do Ceará. Está no sétimo semestre de Engenharia, o que equivale ao quarto ano de um curso com cinco anos de duração. Sua intenção é especializar-se no segmento de energias não renováveis, ligadas ao petróleo e ao gás natural. O curso é em período integral, o que representa  mais um obstáculo  em sua vida pessoal. A estudante mora com a mãe, Aurilia, e com a irmã, Lilian. As três têm uma vida difícil e Livia teria que contribuir para suprir os gastos da casa, mas o curso em período integral a impede de trabalhar. 

Aurilia tem formação em Gestão Ambiental, mas está desempregada. Lilian, a irmã, é formada em Ciências Sociais e atua como pesquisadora. “É bem difícil para mim, porque o meu curso é integral, tenho aula de manhã e à tarde e eu acabo não conseguindo pegar um trabalho. É difícil ver as contas chegando e eu não ter como ajudar no momento. Já pensei até em desistir da minha graduação. Estamos nos virando da forma que a gente consegue”, afirma. Livia e Lilian perderam o pai há 12 anos. Gilson era um homem da roça que acreditou no sonho e conseguiu alcançá-lo: “Ele teve que estudar muito, formou-se em Engenharia e chegou a engenheiro projetista na Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica). Meu pai e minha mãe são as duas figuras que me ensinaram que o caminho que eu teria que trilhar seria dentro da educação”, diz a futura engenheira. 

E é na educação que os caminhos de Livia Mello e Denise Santos se cruzam. Ao ser perguntada sobre a presença de mulheres na área de atuação que pretende seguir, Livia foi enfática: “São poucas mulheres. É difícil entrar e é mais difícil ainda ficar. Costumo fazer uma análise de quantas mulheres têm na sala de aula e quantos negros. Geralmente, sou a única mulher negra”, afirma. Com tão poucas mulheres, ela revelou em quem se inspirava no projeto de construção de sua carreira: “Eu me inspiro na Denise, que trabalha na Shell”. Livia passou a acompanhar Denise nas redes sociais a partir de entrevistas dadas pela engenheira, palestras e artigos escritos. 

Denise Santos é a atual gerente de suprimentos da Shell do Brasil. Ela é de Nova Iguaçu, município da Baixada Fluminense. Filha de uma empregada doméstica (Laura) e de um motorista (Manoel), Denise fez sua formação universitária no Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckov da Fonseca, o CEFET, e acabou beneficiada pelo programa de intercâmbio que a entidade mantinha com universidades ao redor do mundo. 

Por seu bom desempenho, Denise foi aceita para fazer sua especialização em Engenharia de Automação (Robótica) na Universitè de Technologie de Compiègne, na França. O domínio do francês e a vida longe de Nova Iguaçu eram as principais barreiras a serem vencidas. Para se manter, Denise recebeu uma subvenção do CEFET para poder viajar, além de uma quantia na caderneta de poupança, arrecadada entre professores e alunos da instituição. No seu retorno ao Brasil, depois de um semestre de estudos e um estágio de seis meses na fábrica da Renault, iniciou sua carreira em outra montadora francesa, a Peugeot-Citroen, que se instalou no Brasil no início dos anos 1990. 

Assim como Denise Santos, Livia Mello sonhou e realizou o projeto de ir para o exterior. O principal problema era o domínio do inglês. Foi para tentar resolver a  pendência com a língua estrangeira que ela fez sua inscrição no edital Carreiras em Movimento, do Fundo Baobá, no qual 298 pessoas foram classificadas. Como parte do Programa Presente e Futuro em Movimento, o edital foi lançado em setembro de 2023, e objetiva promover a ampliação de oportunidades no mercado de trabalho para pessoas negras em empresas privadas. Um recurso que poderia variar entre R$5 mil e R$10 mil foi designado para cada um dos selecionados, que poderão usar esse valor para desenvolver suas carreiras com cursos, compra de equipamentos, intercâmbios e outros itens que possam contribuir para o desenvolvimento pessoal e profissional.  

O foco de Livia Mello foi a participação no Irena Youth Forum: The New Generation of Decision Makers (Irena Fórum  da Juventude: A Nova Geração de Tomadores de Decisão), que aconteceu no mês de abril em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, e discutiu a questão das energias renováveis com jovens representantes de várias partes do mundo. “Eu me inscrevi! Passei na primeira fase, que foi a análise curricular.  Achei que ia ser só isso, mas não foi. Teria a entrevista por vídeo. Foi terrível, porque foi em inglês. Deram 60 segundos para eu me apresentar e falar do projeto. Fiquei super nervosa”, disse.

Em 12 de março, alguns dias após os testes, Livia ficou sabendo de sua aprovação para estar em Abu Dhabi representando o Brasil. Mas o não domínio do inglês ainda era o seu principal obstáculo. A solução veio com o recurso doado pelo Fundo Baobá. Ela investiu parte do que recebeu em algumas aulas extras de inglês. “Fiquei seis dias em Abu Dhabi. No início, as pessoas perguntavam coisas em inglês e eu respondia em português. Depois, fui me adaptando. Foram 6 dias ótimos. Tive contato com gente de várias partes do mundo, como Jordânia e Índia. Ver as expectativas de cada um com relação aos processos energéticos em seus países foi transformador”, afirmou. 

Além de seguir nas aulas de inglês, Livia pretende fazer outros dois cursos para melhorar suas chances no mercado de trabalho: Excel e Power BI. Ela está se qualificando e sabe que este é o caminho para melhores oportunidades.

Quer saber mais sobre o edital que vai apoiar as carreiras de Livia e tantas outras pessoas? Conheça o Carreiras em Movimento.

Créditos: Arquivo Pessoal

Dança, Corpo e Ancestralidade conectados em prol da cura de um povo

Apostar na dança como ferramenta de ascensão das diversas potências negras é o que a Leandra Silva e a Juliana Jardel, ambas bailarinas e professoras, acreditam. Para elas, a dança é um dos instrumentos mais ricos para a cura e a conexão do corpo negro. Além disso, o movimento corporal, entendido como universal, está presente na história de cada povo, reescrevendo tradições, contando histórias e saberes. E constitui, assim, um denominador comum, que é a conexão que os entrelaça através de oralidade, mitos, danças, cantos, gestos e ritmos, o que resulta na cura de um povo tão sofrido.

A dança ancestral é também um dos temas contemplados na 1ª turma do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. A potência negra na arte brasileira, principalmente na dança, é um grande fator de resistência e contribui com a construção histórica e cultural desse país. As relações que envolvem o negro na sociedade estão inteiramente ligadas ao enfrentamento do racismo, discriminações, intolerâncias, homofobias e diversas outras formas de discriminação que perpassam significativamente pelo o que é ser um artista negro. Por isso, se torna urgente revelar e inserir novos corpos negros e suas diversas ações de militância e ativismo nas artes, culturas, educação, politica etc.

Foi com os projetos Movimentos Atlânticos e Verve-Déjà Vu Afrofuturista 1º Ato – Ancestralidade High Tech, respectivamente propostos pela bailarina, professora de dança e doutoranda em Antropologia Social na Universidade Federal de Goiás (UFG), Juliana Jardel, e pela também bailarina, professora e jornalista Leandra Silva, que ambas conseguiram receber investimento e desenvolver processos criativos que possibilitaram crescimento pessoal e profissional.

Leandra Silva explica que fazer parte do Programa foi uma das melhores coisas que poderia ter acontecido, pois foi a primeira vez que ela vivenciou esse nível de investimento profissional. Ela acredita que a iniciativa do Baobá, em querer formar lideranças negras, vai na contramão do que o Brasil está acostumado. “Essa bolsa me deu um chão e essa é uma das coisas mais revolucionárias que eu vejo na proposta do Baobá, que é o investimento financeiro direto e real em mulheres negras; aí eu tive a dimensão do quanto eu posso chegar simplesmente tendo um investimento mínimo”, relata a coreógrafa. 

A paulistana dança e atua como professora há 20 anos e reconhece ali um lugar de cura, no qual a partir das tecnologias ancestrais consegue fundamentar processos criativos que fortalecem ainda mais a sua autoestima e as dos seus, o que nos leva a cada vez mais a refletir sobre o papel do corpo negro na dança contemporânea.

“O desenvolvimento do projeto se deu com muitas transformações, e altos e baixos. Tive assessoria de um coach do Baobá, oficinas, reflexões e muitas trocas com outras mulheres negras agraciadas pelo Fundo. Foi bastante inspirador estar com essas mulheres de tanta criatividade e coragem. Mulheres gigantes de distintas trajetórias”, recorda Leandra. A dançarina conquistou, além de formação e conhecimento, a aprovação em outros editais. O dinheiro captado não foi para o próprio benefício, todavia trouxe paz, alegria e trabalho para todos da sua comunidade de dança. 

Nestes cinco anos, o programa se destacou como uma das mais importantes iniciativas lideradas pelo Baobá – Fundo para Equidade Racial, que atua há mais de 12 anos em prol da ascensão e do acesso da população negra a capacitações. Essa ação, desenhada e implementada por muitos parceiros e colaboradores, deixou como legado experiências inesquecíveis e duradouras não só para as mulheres negras donatárias, mas também para as que desenvolveram o projeto desde sua concepção.

Para as participantes da primeira edição do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, o Fundo Baobá possibilitou uma estrutura pessoal que permitiu a dedicação delas em outros projetos que somaram na melhoria da Cia de Dança. A realização do festival ‘Déjà vú Afrofuturista Ancestralidade HighTech’ é fruto e legado desse investimento.  

Para mais detalhes e resultados do Programa de Aceleração de Lideranças Femininas: Marielle Franco, acesse este link.

Conheça a sergipana Glória Stefany, futura comissária de voo, uma das selecionadas no edital Carreiras em Movimento

Na noite de 4 de agosto de 1996, em Atlanta, capital do estado da Georgia, nos Estados Unidos, acontecia a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos. A mais de 7.000km de distância, em Aracaju, capital do estado do Sergipe, no nordeste brasileiro, Maria Patricia Santos, grávida, assistia ao lado da mãe, Maria Helena, o momento em que a cantora cubana naturalizada norte-americana Gloria Estefan cantava a música Reach (Alcançar), que era tema dos Jogos. A performance encantou Maria Helena que disse: “Se nascer uma menina, vai se chamar Gloria Estefan. Não deu outra. Mas, por obra do cartório, o Estefan se transformou em Stefany. 

Glória Stefany, a menina que nasceu em 1996, hoje é uma mulher de 27 anos que carrega um sonho: tornar-se comissária de bordo. Para isso, ela vem enfrentando uma difícil batalha. Glória ficou desempregada durante a pandemia da Covid-19. A função de merendeira que exercia em uma escola foi descontinuada quando as aulas foram interrompidas. Casada com Leonardo, um atendente de farmácia que dá todo apoio e incentivo ao desejo profissional da mulher, ela não mede esforços e, entre outros trabalhos, tem feito faxinas. 

A sergipana é uma das 298 pessoas classificadas pelo edital Carreiras em Movimento, lançado pelo Baobá – Fundo para Equidade Racial em setembro de 2023. Como parte do Programa Presente e Futuro em Movimento, o edital objetiva promover a ampliação de oportunidades no mercado de trabalho para pessoas negras em empresas privadas. Um recurso de R$ 5 mil a R$ 10 mil foi designado para cada um dos selecionados, que poderão usar esse valor para desenvolver suas carreiras com cursos, compra de equipamentos, intercâmbios e outros itens que possam contribuir para o desenvolvimento pessoal e profissional. 

Acostumada a uma vida de luta, Glória cresceu em uma família de 10 irmãos,  filhos de uma mãe solo. Aos 14 anos já trabalhava em uma feira livre e também estudava. Quando a família começou a enfrentar problemas financeiros, sua vida passou por uma mudança radical. “Precisei sair da escola. Parei de estudar e comecei a trabalhar como babá. Tive um convite para trabalhar em Navegantes, Santa Catarina, tomando conta de um bebê. Saí de Sergipe e fui para lá. Minha primeira viagem de avião”, diz.

A viagem foi o ponto de inflexão na vida dela. A movimentação nos aeroportos, o glamour das aeromoças e pilotos, a magia das aeronaves plantaram um desejo na cabeça da então jovem de 17 anos: ser uma comissária. “Aquela foi a experiência que mudou totalmente meu ponto de vista. Uma menina simples, para quem andar de ônibus não era uma coisa acessível, estava andando de avião. Fiquei admirada com tudo aquilo e me apaixonei pela aviação”, afirma.

A paixão virou quase uma obsessão. Ela passou a pesquisar tudo sobre aviação, principalmente os temas relativos à formação de uma comissária. Também sabia que para tentar alcançar seu objetivo teria que ter uma boa formação. Portanto, concluir o Ensino Fundamental e o Ensino Médio era obrigação. Para recuperar o tempo que ficou sem estudos, cursou o Ensino para Jovens e Adultos, o EJA, modalidade educacional voltada àqueles que não tiveram oportunidade de fazer o Ensino Fundamental e o Ensino Médio na idade prevista. Depois de concluir, Glória Stefany foi além: conseguiu a aprovação para o curso de Letras na Universidade Federal de Sergipe, onde está no sétimo período, restando dois para a conclusão do curso. 

Os desafios nos estudos têm se mostrado superáveis. As considerações preconceituosas feitas pelas pessoas são tentativas frustradas de impor obstáculos. E as principais têm a ver com o cabelo de Stefany. “Mas eu nunca vi aeromoça de cabelo cacheado; “Será que você vai se adaptar ao uniforme?”; “Nordestina pode ser aeromoça?”; “Você já está com 27 anos. Aeromoça tem que ser jovem!”. Porém, como canta Gloria Estefan em Reach: “Alguns sonhos vivem para sempre no tempo (Some dreams live on time forever).” E o sonho da Glória brasileira está bem vivo.  

Ela fala da importância do edital Carreiras em Movimento na busca pelo seu objetivo. “O edital me dá a possibilidade de eu não ficar só no sonho. Eu passei a ter a prática da coisa. Passei a ter um espaço maior para aprender. Aqui em Sergipe não tem escola para essa formação, o curso é semipresencial e os testes são feitos em São Paulo. Fiz meus testes em São Paulo, fiquei três dias por lá. O edital me proporciona poder pagar o curso com o recurso que recebi”, afirma. 

Em tempo: A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), órgão que regula e fiscaliza as atividades da aviação civil no Brasil, publicou em seu site oficial que após os testes feitos em São Paulo, Glória está apta a voar, restando apenas conseguir certificações complementares. Glória Stefany acaba de decolar em direção ao seu sonho!

Alunos adolescentes do Instituto Oportunidade Brasil (IOB) lançam no Espírito Santo livro com relatos de suas experiências com o racismo

Um jovem negro de nome Justyce sofre uma abordagem policial no momento em que ajudava sua ex-namorada, que estava embriagada, a voltar para casa. Os policiais suspeitam que o rapaz iria cometer algum ato criminoso contra a moça. Justyce é tratado com crueldade pelos policiais. Nenhum de seus direitos como cidadão é respeitado. A sua palavra é negada. O fato o revolta. Para se livrar do trauma, ele decide escrever cartas para Martin Luther King Jr, o grande ícone da luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. O principal questionamento de Justyce ao pastor King era sobre o que ele, King, faria se sofresse aquele tipo de violência racial. 

O enredo acima, similar ao que acontece com jovens pretos no Brasil,  é a base do livro Cartas para Martin (veja aqui a resenha), da escritora norte-americana Nic Stone, 38 anos, publicado em 2017. Ele foi utilizado pelos alunos do Instituto Oportunidade Brasil (IOB), de Vitória, no Espírito Santo, na oficina Clube da Leitura. A proposta dada a eles, todos oriundos da periferia de Vitória, foi que se colocassem no lugar de Justyce, fizessem uma análise da realidade que vivem, principalmente a da questão racial, e colocassem no papel as suas impressões. Dos participantes da oficina, dez tiveram os trabalhos escolhidos. Seus textos acabaram se transformando no livro Relatos de Reexistência, lançado na noite de 13 de maio de 2024. 

Relatos de Reexistência é resultado da proposta apresentada pelo Instituto Oportunidade Brasil para o edital Educação em Tecnologia, do Baobá – Fundo para Equidade Racial. O edital, lançado em maio de 2023, foi a primeira parceria entre o Fundo e o MOVER – Movimento pela Equidade Racial. Ele apoiou organizações e empresas negras que têm como objetivo contribuir, por intermédio de processos de formação educacional, com o aumento da capacidade de pessoas negras se inserirem no mercado de trabalho na área tecnológica ou dentro de suas aptidões. 

O trabalho de construção do livro a partir dos depoimentos escritos em cartas pelos alunos foi coordenado por Juliana Ferrari, doutora em Educação. Seu objetivo era estimular o gosto pela leitura, aprimorar a escrita e desenvolver o pensamento crítico, fundamental para fazer a análise sobre a sociedade em que vivemos. 

Para a fundadora e presidente do IOB, Veronica Lopes, mestre em Administração pela Fucape, a importância do livro está na sua representatividade como peça de resistência. “Estamos em um local (o Espírito Santo) em que não há muito espaço para esse tipo de literatura. É uma vitória ter um livro escrito por jovens negros falando justamente sobre a resistência”, afirma. 

Veronica Jesus. presidente e fundadora do IOB (Instituto Oportunidade Brasil)

Veronica Jesus. presidente e fundadora do IOB (Instituto Oportunidade Brasil)

Relatos de Reexistência teve tiragem inicial de 100 exemplares. A aquisição pode ser feita pelo instagram do Instituto Oportunidade Brasil ao preço de R$ 45,00. 

Baobá investe em Educação para melhores oportunidades às pessoas negras

Em uma manhã do final de fevereiro de 2023, uma moça de então 27 anos, mãe solo, faz uma revelação agradecida: “Sou preocupada com o meu futuro e com o da minha filha. Sei que o futuro dela será outro quando eu concluir um curso superior. Quero mostrar que é possível. Preciso estudar e trabalhar por mim e pela minha filha”, disse Thauany Aniceto de Souza, estudante de Enfermagem das Faculdades Metropolitanas Unidas, as FMU, em São Paulo. Na mesma manhã, Karina Leal de Souza comemorava a sua entrada no curso de Arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), da Universidade de São Paulo (USP). Uma grande força veio da mentoria que Karina recebeu: “Minha mentora buscou um curso superior dez anos após ter concluído o Ensino Médio. Senti que tinha muito o que aprender com ela”, disse.  

As trajetórias de vida de Thauany Aniceto e Karina Leal são semelhantes. Ambas alcançaram o objetivo de entrar em uma instituição de ensino superior. Além de sua dedicação, contaram com o apoio do Programa Já É. Entre 2021 e 2022, o Baobá – Fundo para Equidade Racial, com apoio da MetLife Foundation,  implementou o Já É, um programa com o objetivo de ampliar oportunidades para jovens negros e negras de até 26 anos, moradores de São Paulo ou da Região Metropolitana. O programa financiou cursos preparatórios para o vestibular, além de vale alimentação, vale transporte, e um notebook com acesso à internet visando aulas online, dadas as necessidades impostas pela pandemia da Covid-19. A turma de 2021/2022 teve 85 estudantes inscritos. Ao final do período, 32 deles foram aprovados nos vestibulares, sendo que 12 em instituições públicas (USP, UNIFESP, UNESP e UFRJ) e 20 em privadas.  

Os depoimentos de Thauany e Karina foram colhidos durante um encontro que juntou estudantes beneficiados pelo Já É e colaboradores da MetLife que fizeram trabalho de mentoria para eles. O Já É contou também com uma mentoria em formato de encontros virtuais. Cada sessão tinha duração de 1 hora e poderia ser quinzenal ou mensal, dependendo do acordo estabelecido entre mentores e mentorados. As conversas foram pautadas por temas como: ingresso no mercado de trabalho, habilidades socioemocionais e comportamentais, carreira e projeto de vida. 

Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam por que o apoio do Já É para o acesso da juventude negra ao ensino superior é necessário. Com relação ao ensino superior, as pessoas brancas com graduação completa equivalem a 6,5% da população brasileira entre 18 e 24 anos. Entre os pretos e pardos, apenas 2,9% da população entre 18 e 24 anos tem graduação completa. Já se o recorte for feito com base no Ensino Médio, são 9 milhões de brasileiros que não o completaram. Desses, 71,6% são pretos e pardos. Entre brancos, a porcentagem cai para 27,4%. A pesquisa também revelou que entre os 48,5 milhões de pessoas com idade entre 15 e 29 anos, 19,8% nem trabalham nem estudam. Pretos e pardos equivalem a 22,4% enquanto brancos são 15,8%. As discrepâncias são grandes e de alguma forma têm que ser eliminadas. 

O Dia Internacional da Educação, 28 de abril, foi criado no ano 2000 durante o Fórum Mundial da Educação, no Senegal, em uma reunião de 180 países que discutiram sobre quais metas alcançar para seus povos em termos educacionais. A Educação tem como objetivo o crescimento das pessoas e a possibilidade de melhorar as suas vidas e a dos seus, porque além de trabalhar o desenvolvimento de suas competências, potencialidades e habilidades, contribui para ascensão de uma parte da população ainda invisibilizada. Ela é um direito de todos, independentemente de raça, cor, origem, gênero ou religião e acontece por meio da conexão ensino-aprendizagem e não necessariamente em espaços formais, como escolas.

Embora a Educação seja um direito de todos e um dever do Estado, na prática brasileira não é bem assim que isso acontece. E, por isso, ter acesso a ela é uma forma de ampliar o ideal democrático. A nação que investe na educação de seu povo está contribuindo para que ocorra crescimento econômico, redução da pobreza, maior oferta de trabalho e maior entendimento sobre o que são os direitos individuais. Ela permite que os indivíduos ampliem sua capacidade para modificar a realidade de suas comunidades.

Organizações do Terceiro Setor, como o Baobá, têm atuado e feito trabalho fundamental para que a desigualdade no que se refere ao acesso à Educação seja banida de nosso cotidiano. O Baobá priorizou a Educação como um de seus pilares para, e principalmente, promover o enfrentamento ao racismo institucional nos ambientes escolares; contribuir para a ampliação das capacidades socioemocionais de jovens e adolescentes; incrementar a entrada e contribuir para a permanência de negros e negras no ensino superior, além de incentivar a formação de novas lideranças negras nas ciências, na tecnologia e na inovação. Nos últimos quatro anos, além do Programa Já É, o Fundo lançou também o Educação em Tecnologia, o  Educação e Identidades Negras e o BlackStem.  Ao todo, foram investidos mais de R$ 2 milhões como dotação a esses programas.

O Impacto de um edital no crescimento da capacidade de intervenção do Coletivo Filhas do Vento

Para Mariana Paz e Emanuele Nascimento, do Coletivo Filhas do Vento (PE), uma das quinze organizações selecionadas no apoio coletivo, a iniciativa do Baobá foi de extrema importância para o desenvolvimento político e para a capacidade de intervenção das lideranças dentro das suas comunidades. Segundo elas, através das jornadas formativas realizadas foi possível repensar as estratégias de atuação e aproximação com as mulheres negras da comunidade, além de desenvolver novos contatos e novas parcerias que surgiram como consequência da participação no programa.

“O projeto foi, na perspectiva profissional, minha principal descoberta. Revelou que eu sou boa em gestão financeira e que a gente tem potencial de fazer aquilo que tem vontade na área dos projetos”, diz Emanuele Nascimento.

Com o recurso destinado pelo  programa, o Coletivo Filhas do Vento realizou, para o dia Dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, o lançamento de uma série de vídeos com temas relevantes, como: “Aláfia: Revoluções Feministas Negras”, sobre as lutas das mulheres negras; “Jovens Insurgências”, sobre juventude negra; e “Enraizando Saberes Ancestrais”, sobre educação antirracista. Além de apresentar a trajetória dos até então quase cinco anos de atuação do coletivo no vídeo “Ventania”, o coletivo também abordou a experiência na execução do projeto do Programa de Aceleração em meio ao contexto da pandemia de covid-19, no vídeo “Travessias”

Há cinco anos, o Baobá – Fundo para Equidade Racial criou o Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. Lançado em setembro de 2019, com o apoio da Kellogg Foundation, Ford Foundation, Instituto Ibirapitanga e Open Society, o programa contou com dois editais. O primeiro foi voltado para o apoio de grupos, coletivos e organizações de mulheres negras. O segundo para apoio individual a lideranças negras. Ambos tinham como principal objetivo ampliar habilidades de mulheres que já desempenhavam papel de liderança em suas comunidades em instituições públicas, organizações da sociedade civil ou no mundo corporativo.

Nestes anos, o programa se destacou como uma das mais importantes iniciativas lideradas pelo Baobá – Fundo para Equidade Racial, que atua há mais de 12 anos em prol da ascensão e do acesso da população negra a capacitações. 

Essa ação, desenhada e implementada por muitos parceiros e colaboradores, deixou como legado experiências inesquecíveis e duradouras não só para as mulheres negras donatárias, mas também para as que desenvolveram o projeto desde sua concepção.

Nos dois editais, no coletivo e no apoio individual, foram investidos 4 milhões de reais diretamente e 400 mil indiretamente que foram direcionados a assessorias, jornadas formativas e treinamentos realizados por especialistas e por membros da equipe do Baobá. Ao todo, foram selecionadas 15 instituições no apoio coletivo e 63 mulheres no apoio individual, sendo realizadas 42 horas de formação política, 15 horas no enfrentamento dos efeitos psicossociais do racismo, 300 sessões de coach individual, 45 sessões de coach institucional, 200 beneficiárias diretas, 520 beneficiários indiretos e mais de 1.000 atividades realizadas para compartilhamento de conhecimento.

Comemorar esse feito depois destes anos é, sem dúvida, ter a certeza de que com os resultados alcançados foi possível estabelecer um compromisso com diversas trajetórias de mulheres que hoje ocupam posições de poder e influência, através de investimentos em seus planos de desenvolvimento individual e no fortalecimento coletivo das organizações que são lideradas por elas.

Para o Baobá – Fundo para Equidade Racial a eficiência do programa e sua influência nos territórios de atuação deixa um legado importante no que se propôs, contribuindo assim para o desenvolvimento social e para o bem viver de uma parte da população ainda invisibilizada. Para mais detalhes e resultados do Programa de Aceleração de Lideranças Femininas: Marielle Franco, acesse este link.

Baobá – Fundo para Equidade Racial e B3 Social lançam edital de bolsas no exterior para estudantes negros brasileiros

Conseguir uma bolsa de ensino superior pode ser desafiador, especialmente para estudantes negros. Para o Baobá – Fundo para Equidade Racial e B3 Social, isso não deve ser um obstáculo para que jovens negros realizem o sonho de estudar nas melhores universidades ao redor do mundo. Por isso, estas duas instituições estão unindo forças para apoiar financeiramente jovens negros aprovados em cursos de graduação STEM (ciências, tecnologia, engenharia e matemática), que correspondem a ciências exatas, em universidades estrangeiras.

As inscrições para o edital Black STEM já estão abertas e podem ser feitas pelo link https://baoba.org.br/blackstem/ até 15 de abril de 2024.  São cinco bolsas de estudo de até R$ 35 mil por um período de 12 meses a partir de 2024, com a possibilidade de renovação anual até a conclusão de seus cursos. O objetivo é apoiar a permanência do aluno no exterior com despesas operacionais, como aluguel, transporte, alimentação e material acadêmico.

O edital conta também com o apoio da BRASA (Brazilian Student Association), uma instituição sem fins lucrativos que visa empoderar e conectar a próxima geração de líderes brasileiros por um país melhor. A BRASA é liderada por estudantes que estudam no exterior e oferece bolsas de estudo para jovens que desejam estudar fora do Brasil, já tendo mais de 45 bolsistas em sua história. 

Segundo dados da pesquisa Selo Belta 2023, da Associação Brasileira de Agências de Intercâmbio, o mercado brasileiro de educação internacional registrou um crescimento de 18% em 2022 em comparação a 2019, consolidando em 455.480 estudantes.

Para Tainá Medeiros, coordenadora de projetos do Fundo Baobá, “o programa busca ser reconhecido como uma oportunidade que inspire cada vez mais jovens, em especial aqueles oriundos da rede pública de ensino, que nunca consideraram estudar nas áreas de STEM, especialmente no exterior, ou que achavam isso impossível.” Ela afirma que “o Fundo Baobá não visa apenas apoiá-los individualmente, mas também deseja incentivar mudanças profundas que possam criar oportunidades mais justas para futuras gerações de jovens negros que desejem ingressar nessas áreas.”

A contribuição da população negra para o avanço das ciências e da tecnologia é inegável. No entanto, ainda existem barreiras que podem dificultar o acesso a oportunidades no exterior. O objetivo deste edital é justamente reduzir essas barreiras e promover a inclusão de talentos negros em áreas STEM, onde estão subrepresentados. Dados do Censo da Educação Superior, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, o Inep, evidenciam a importância de iniciativas que visam a entrada e permanência de pessoas negras nesses espaços. 

Além de buscar aumentar a diversidade étnica nesses espaços, o edital Black STEM quer também enriquecê-los com a perspectiva e o pensamento crítico dos estudantes negros brasileiros.

Confira o site do edital e faça a sua inscrição: https://baoba.org.br/blackstem/

Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial

Sharpeville, bairro de Vereeniging, África do Sul, 21 de março de 1966. Vinte mil pessoas negras realizavam um protesto pacífico contra a Lei do Passe, uma determinação do governo sul-africano da época, que obrigava negros a portarem cartões de identificação constando os locais para onde eles poderiam ir. A África do Sul vivia sob o regime do apartheid, que determinava a separação do povo negro. A polícia local, armada, interveio de forma violenta. 69 pessoas foram mortas. 186 ficaram feridas. O fato ficou conhecido como o Massacre de Sharpeville. A ONU – Organização das Nações Unidas instituiu em 21 de março de 1979 o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial como homenagem aos mortos e feridos.

O parágrafo I da Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, define o seguinte: “toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto ou resultado anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício em um mesmo plano (em igualdade de condição) de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública é discriminação racial”. 

Segundo o censo de desigualdades sociais de 2022,  levantado pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2021, a linha de pobreza monetária de pessoas pobres no país era de 18,6% entre os brancos e praticamente o dobro entre os pretos (34,5%) e entre os pardos (38,4%), enquanto a taxa de informalidade da população ocupada era 40,1%, sendo 32,7% para os brancos, 43,4% para os pretos e 47,0% para os pardos, e o rendimento médio dos trabalhadores brancos (R$ 3.099) superava muito o de pretos (R$1.764) e pardos (R$1.814).

Diante dos dados apresentados acima, é inevitável não apontar a necessidade de reparação histórica e ações que promovam a pessoas negras a possibilidade de viver um dia 21 de março que faça jus à Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, e que ações promovidas e ofertadas, como as do Baobá – Fundo para Equidade Racial, sejam cada vez mais frequentes e visibilizadas diante da necessidade de evidenciar as vulnerabilidades que envbolvem a vida de pessoas negras (pretas e pardas).

Em 2021, Baobá – Fundo para Equidade Racial  lançou o Programa Já É: Educação e Equidade Racial, com o objetivo de ampliar as oportunidades de jovens negros de acessar o ensino superior, priorizando as universidades públicas. O Programa foi dirigido a jovens de até 26 anos, residentes na cidade de São Paulo e região metropolitana, tendo 75 estudantes presentes até dezembro de 2021. 43% deles foram aprovados em vestibulares.

O Baobá – Fundo para Equidade Racial é uma organização que vem abrindo caminhos para apoiar pessoas negras em diferentes exercícios sociais há 13 anos. Durante esse período, muitos editais foram colocados minuciosamente em prática no intuito de possibilitar que pessoas negras ocupem seus locais de direito na sociedade, que por intervenção do racismo as exclui de espaços de autonomia e liderança.

Edital Carreiras em Movimento: Baobá promove primeiro encontro para orientar os 337 selecionados

Representantes de 20 estados mais o Distrito Federal receberam orientações sobre edital que promove conhecimento em busca da empregabilidade

A participação em um edital do Baobá – Fundo para equidade Racial é o início de uma jornada de transformação e conhecimento. Para as 337 pessoas selecionadas pelo edital Carreiras em Movimento, a nova jornada foi iniciada em fevereiro com a realização da 1ª Reunião de Orientações Gerais do edital. Resultado de  uma parceria entre o Fundo Baobá e o Mover – Movimento pela Equidade Racial, o edital faz parte do Programa Presente e Futuro em Movimento, que tem como objetivo o desenvolvimento de pessoas negras em competências técnicas, habilidades socioemocionais e comportamentais, além de elevar o potencial de empregabilidade das mesmas nos setores privado, público e no terceiro setor. 

O edital Carreiras em Movimento foi lançado pelo Baobá – Fundo para Equidade Racial em setembro de 2023. Sua dotação é de R$ 5 a R$ 10 mil que deverão ser usados pelos beneficiados de forma estratégica para ampliar seus potenciais de empregabilidade por intermédio de, por exemplo, cursos de formação, aquisição de equipamentos, intercâmbios e formas de aprendizado ou investimento  que possam catapultar suas carreiras. 

As 337 pessoas selecionadas representam 20 estados brasileiros mais o Distrito Federal. O encontro aconteceu de forma virtual em dois períodos, e a mediação ficou a cargo da coordenadora de Projetos do Baobá, Tainá Medeiros. Ela iniciou o encontro colocando os propósitos. “Teremos algumas reuniões, alguns encontros reservados para que a gente tire dúvidas, converse e dê detalhes sobre as atividades que estão previstas. Quero dizer que é uma alegria ter esse momento com vocês e aproveito para dar as boas-vindas”, disse. 

As perguntas eram encaminhadas pelos beneficiados para um chat para respostas posteriores. Algumas das dúvidas giraram em torno dos seguintes temas: entrega de documentação, emissão do contrato; abertura de conta bancária; data de depósito para as parcelas de R$ 5 mil e de R$ 10 mil; obrigatoriedade de participação nas jornadas formativas e prestação de contas. 

Tainá Medeiros encerrou o encontro falando sobre prioridades do Baobá.: “O intuito do Baobá ao construir um edital é conseguir organizar possibilidades que possam contribuir para o enfrentamento dos impactos do racismo e para a ampliação de oportunidades justas para a população negra”. E concluiu: “Nós vamos estar juntos, sempre dialogando, apoiando vocês para informar o que vai ser feito e como terá que ser feito”. 

As dúvidas dos selecionados poderão ser sanadas a partir desses contatos:  

email: programa_presente_futuro_em_movimento@baoba.org.br

 whatsapp: (11) 9 6062-0978 

Iniciativas do Baobá têm como foco principal a Justiça Social

O Dia Mundial da Justiça Social, comemorado no último dia 20 de fevereiro, foi estabelecido pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em novembro de 2007, com o objetivo de desenvolver um diálogo entre os países para garantia de justiça, dignidade e direitos humanos de modo equânime para todas as pessoas. A data também está atrelada a vários aspectos urgentes da sociedade, como igualdade de oportunidades, acesso à educação e à saúde, inclusão e respeito à diversidade, justiça criminal e econômica, direitos humanos, entre outros.

Para o Baobá, justiça Social é uma importante bússola. Ao longo de seus 12 anos de atuação, a organização vem desenvolvendo estratégias assertivas para perpetuar esse pacto coletivo em promoção de uma reparação social. Essa atuação consiste em transferir recursos, através de editais, para que agentes de transformação social selecionados possam promover transformações e mudanças reais. É através desses agentes que o Baobá amplia seu escopo de atuação, alcançando lugares, territórios e organizações onde a filantropia tradicional ainda não opera.

Na prática, o modus operandi do Baobá é o de uma agenda filantrópica baseada nos valores da ética, efetividade na gestão, transparência e justiça social, que é fortalecida através de doadores no Brasil e no exterior, os quais acreditam que é urgente discutir a justiça social como uma agenda prioritária na busca constante por políticas públicas internacionais e nacionais. 

Até 2022, foram mais de 870 iniciativas apoiadas, que tiveram impacto direto nas vidas de mais de 1 milhão de pessoas e reforçam o compromisso do Baobá – Fundo para Equidade Racial com as organizações e lideranças negras que protagonizam essa importante transição e realizam grandes ações de enfrentamento ao racismo estrutural. Um exemplo é o Edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça, que faz parte do programa Equidade Racial e Justiça, aberto em 2023. Por meio dele, o Baobá apoiou 10 projetos em todo território nacional. Eles tiveram a oportunidade de fortalecer estratégias de ativismo, resistência e resiliência frente às injustiças raciais recorrentes. 

Segundo a diretora de Programa, Fernanda Lopes, para se pensar a Equidade Racial e Justiça, é necessário reconhecer que a justiça é um conjunto de mecanismos que busca harmonizar pretensões e interesses conflitantes de uma sociedade. E ao exercer tais direitos através do edital, foi possível alinhar a justiça com o cenário de dignidade plena para a população negra, contando com o apoio dessas 10 instituições selecionadas que são comprometidas com o bem viver de uma parcela da sociedade que ainda é invisibilizada.

Ao realizar esse movimento o Baobá – Fundo para Equidade Racial garante o acesso aos direitos, previstos em lei, na tentativa de corrigir qualquer desigualdade e ilegalidade não combatida pelo Estado. Essa forma de agir faz do Baobá um dos protagonistas na perpetuação da filantropia participativa e um forte aliado para que as organizações e instituições comunitárias consigam mapear determinados problemas e difundir possíveis soluções, diminuindo o cenário atual de desigualdade social e provendo a justiça social entre todos.

Ato de doar humaniza as pessoas e mobiliza a sociedade por mudanças

As psicólogas canadenses Elizabeth Warren Dunn e Lara Beth Aknin, junto com o também psicólogo norte-americano Michael Irwin Norton, realizaram uma pesquisa que determinou que o sentimento de felicidade de algumas pessoas era maior quando elas destinavam parte do dinheiro que ganhavam na promoção do bem estar para terceiros. Ou seja: promover o bem para outras pessoas é tão ou mais compensador que fazer algo em causa própria. 

Quando se estimula o bem de alguma forma, regiões do cérebro que geram a sensação de prazer são ativadas, o que produz o sentimento de felicidade. A importância dessa pesquisa para quem atua no terceiro setor está diretamente ligada à ação de doar. O terceiro setor vive do que é ofertado por pessoas físicas e por pessoas jurídicas (empresas de grande, médio e pequeno porte).   

Os agentes que atuam no terceiro setor no Brasil têm uma preocupação em comum: como motivar muito mais gente a fazer doações que propiciem bem estar para um sem número de outras pessoas em situação de necessidade? Como chegar a esses potenciais doadores? Como falar com eles e elas? Como incentivar?

A recente pesquisa realizada pelo IDIS (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social), em 2022, determinou que entre os brasileiros com idade superior a 18 anos, 84% fizeram algum tipo de doação: dinheiro, tempo dedicado (trabalho voluntário) ou mesmo bens. As pessoas dentro dessas características tinham rendimento que ultrapassava um salário mínimo, atualmente em R$ 1.412,00 (vigente desde 1.º de janeiro de 2024).  

Ao serem perguntados sobre se as organizações do terceiro setor dependiam da colaboração das pessoas para funcionar, 58% responderam que sim. Ainda se aprofundando no mesmo tema, 44% reconheceram a importância do trabalho do terceiro setor na busca de solução para problemas sociais e ambientais no Brasil. Outro dado interessante é que o ato de doação direta para ONGs ou projetos socioambientais foi feito por 36% dos entrevistados na pesquisa do IDIS.   

O Baobá – Fundo para Equidade Racial, que se direciona, de forma exclusiva, à promoção da equidade racial para a população negra no Brasil, vem realizando seu trabalho de captação de recursos há 12 anos. Tem firmado importantes parcerias com empresas, fundações e institutos, parceiros que têm dado importante apoio  financeiro. O Baobá já investiu mais de R$ 20 milhões em 19 editais, 861 iniciativas e ações ao longo dessa jornada. Já são mais de 800 mil pessoas impactadas, com investimentos nas cinco regiões do país. 

O Fundo Baobá já conta com doações mensais de pessoas aliadas à nossa missão. Esse número, entretanto, precisa crescer. É necessário alcançar muito mais gente que acredite que o enfrentamento ao racismo é primordial para que o Brasil seja um país justo, de oportunidades igualitárias e que promova o acesso ao ensino, à saúde e ao trabalho. Portanto, divulgar e promover a filantropia para a equidade racial é fundamental.  

Confiança, conexão, empatia, desejo de igualdade e justiça são sentimentos que motivam alguém a se engajar em algo. Não há transformação social sem mobilização. 

Mercado de trabalho brasileiro ainda reproduz o racismo da nossa sociedade

Basta olhar as publicações e editorias especializadas em economia e negócios da imprensa brasileira para constatar que os dirigentes empresariais ainda são maciçamente brancos. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) comprovam essa impressão. Embora correspondam a 56,1% da população em idade de trabalhar, os negros ocupam apenas 33,7% dos cargos de direção e gerência. De forma geral, a remuneração mensal de um profissional negro é 39,2% menor que a de uma pessoa não negra. Fora do mercado de trabalho, a situação é oposta: 65,1% das pessoas desocupadas são negras.

Esses números, referentes ao segundo trimestre de 2023, não trazem qualquer novidade em relação a levantamentos anteriores. O paradigma colonial, segundo o qual quem manda tem uma cor e quem obedece, outra, permanece presente no século 21, gerando uma incompatibilidade com a garantia de empregabilidade formal e autonomia financeira para a população negra.

A contradição acontece em várias camadas e talvez a constitucional seja a mais óbvia. Ao condenar o racismo, a Constituição Federal implicitamente sugere que ele precisa ser combatido – e uma das formas mais eficientes é justamente a presença de pessoas negras no mercado de trabalho. Esse, aliás, tem sido um dos pilares da atuação do Fundo Baobá desde sua criação, em 2011. A mais recente iniciativa nesse sentido foi o edital Carreiras em Movimento que visa apoiar pessoas negras que atuam no setor privado, auxiliando  no desenvolvimento e aperfeiçoamento de suas formações e nas mais diversas habilidades socioambientais existentes. No decorrer de 2024 será possível conhecer os selecionados e saber mais sobre suas experiências acompanhando as nossas redes sociais.

Nesse movimento, as empresas têm um papel estratégico, que começa pela seleção e contratação, mas que vai além. Vale ressaltar que quando uma empresa contrata ou promove um profissional, ela faz uma seleção dos melhores. Portanto os negros que fazem parte do mercado de trabalho superaram os inúmeros funis que deixaram milhares de outros jovens para trás. Esses funis começam no acesso à educação, que nem sempre está disponível e na própria qualidade do ensino, além de itens básicos como alimentação, material didático, computador e internet. O apoio do setor privado à educação com equidade pode contribuir muito para acelerar esse processo. Equidade racial no ambiente de trabalho formal começa antes, com o apoio para que a população negra consiga alcançar as vagas oferecidas, e deve ir além, criando condições internas de acolhimento aos profissionais negros. 

O mercado de trabalho passa por inúmeras mudanças e o que foi chamado de proletariado no século 19 agora constitui o precariado, no qual a remuneração permanece espremida, exigindo extensas horas de prestação de serviços. Um estudo feito pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) a pedido da Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec) constatou que mais de 60% dos profissionais que prestam serviço aos principais aplicativos de entregas e transporte no Brasil se autodeclaram negros e mais da metade não tem outra fonte de renda além do serviço que prestam a essas empresas. Esse novo modelo de relação de trabalho, fortemente dominado pelo avanço da tecnologia e que se sustenta com muita similaridade ao período escravocrata, está em total contradição com a promoção da dignidade humana preconizada pela Constituição. 

Seja no mercado formal ou pelo empreendedorismo, pessoas negras ainda enfrentam barreiras que reforçam séculos de exclusão, opressão e desigualdade. O enfrentamento deste desafio é responsabilidade de qualquer organização que esteja comprometida com a promoção de um mundo melhor, onde os negros possam protagonizar determinados espaços, contribuindo assim com toda a sua riqueza de conhecimento e suas experiências de vida. Não há como construir reparação e reputação das grandes empresas brasileiras sem um envolvimento ativo no combate às causas do racismo.

O conceito e a prática do desenvolvimento de pessoas negras promovidos pelo Fundo Baobá nos editais que fomentam essa forma de inserção econômica prevê o apoio para a formação de um mundo melhor, além de garantir a promoção da diversidade racial nas empresas.