Editais marcam uma década de trajetória do Fundo Baobá (Parte II)

 Por Wagner Prado

Ao longo dos seus 10 anos de atuação no campo da filantropia, completados neste 2021, o Fundo Baobá para Equidade Racial tem procurado o protagonismo no que se refere ao trabalho pela busca de uma sociedade equânime no Brasil, onde a equidade racial esteja presente e as oportunidades estejam, o mínimo, em equilíbrio para todos. Essa é a busca. E persegui-la requer muito esforço. A resiliência pede isso: esforço, adaptação e antevisão. O Fundo Baobá tem sido resiliente. No esforço de chegar e ouvir as vozes do campo. Na adaptação de seu modo de gestão.  Na antevisão das áreas prioritárias em que pode atuar e melhorar pessoas.

Foi no sentido de antever questões prioritárias que em abril de 2020, um mês após a decretação da Pandemia pela Organização Mundial da Saúde  (OMS), em 11 de março, que o Fundo Baobá lançou o edital Doações Emergenciais, em parceria com a Ford Foundation. Com uma dotação de R$ 870 mil, o edital foi destinado ao suporte a comunidades vulneráveis, mulheres, população negra, idosos, povos originários e comunidades tradicionais. O Doações Emergenciais recebeu 1.037 inscrições e teve 350 selecionados (215 indivíduos e 135 organizações). 

Uma das apoiadas foi Amanda Queiroz de Moraes, de Ananindeua, no estado do Pará. Ela faz parte da Associação Centro Social Estrela Dalva e ressalta a importância da iniciativa naquele momento. “A ajuda veio em um momento em que a comunidade estava, mais do que nunca, necessitando de apoio social, visto que estávamos em um período muito crítico da Pandemia”, afirmou. 

Amanda de Moraes, de Ananindeua, no estado do Pará

Cada organização ou indivíduo recebeu R$ 2,5 mil.  Amanda conta o que foi possível fazer com o recurso recebido. “No Centro Social Estrela Dalva nós atendemos crianças e mães adolescentes. Promovemos rodas de conversa sobre sexualidade e fazemos distribuição de gêneros alimentícios, material de higiene e limpeza e máscaras de proteção. Aquele foi um momento desafiador para nossa comunidade. Não é fácil se aproximar de adolescentes grávidas, sem nenhum tipo.de assistência, seja ela na área da saúde ou familiar”, disse. Apesar dos problemas, a experiência de Amanda Queiroz de Moraes foi única: “Apesar de toda dificuldade e desafios que nos foram postos, foi uma experiência que ficará marcada na história do Centro Estrela Dalva”, finalizou. 

Ainda dentro do contexto de quem estava sofrendo com os dissabores causados pela Pandemia do Coronavírus, temos os pequenos empreendedores que foram atingidos diretamente em seus negócios. Muitos fecharam de forma definitiva. Outros tantos tiveram que fechar temporariamente, o que fez cessar a entrada de recursos. O edital Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores Negros e Negras foi lançado em novembro de 2020, para apoiar esses negócios e seus proprietários. 

Com apoio do Instituto Coca-Cola Brasil, Instituto Votorantim e Banco BV, o  Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores Negros e Negras teve dotação de R$ 1,6 milhão, alcançou 700 inscrições e deu apoio a 47 iniciativas, cada uma composta por 03 empreendimentos. Como premissa do edital, os empreendimentos deviam ser constituídos por três associados, cabendo a cada um deles o valor de R$ 10 mil, perfazendo R$ 30 mil por iniciativa. Todas as pessoas empreendedoras receberam mentoria técnica para que pudessem atualizar processos e incrementar a gestão, com o objetivo de alcançar melhores resultados.  

Uma das iniciativas apoiadas pelo Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores Negros e Negras foi a Casas Ecológicas e Sustentáveis, do Rio de Janeiro. O objetivo os associados é baixar o custo de construção de moradias populares com o uso de tijolos ecológicos. Porém, fato comum entre empreendedores, o fôlego inicial sempre é o mais difícil de se obter. Ronaldo Lemos, um dos três empreendedores da  Casas Ecológicas e Sustentáveis. “Nos buscávamos iniciar a nossa fabricação de tijolos ecológicos, mas o custo do maquinário era muito alto. Graças ao Fundo Baobá,  nós pudemos fazer a compra do maquinário e montar uma estrutura para a fabricação dos tijolos. Nosso maior objetivo é nos consolidarmos como um dos grandes fabricantes de tijolos ecológicos do Brasil.  Já fechamos com alguns parceiros e iniciamos a fabricação”, afirmou Ronaldo Lemos. “A equipe Casas Ecológicas e Sustentáveis é imensamente grata ao Fundo Baobá”, completou. 

Ronaldo Melo, Casas Ecológicas e Sustentáveis

Em maio de 2021. o Fundo Baobá para Equidade Racial e o Google.org, braço financeiro do Google para apoios filantrópicos, fecharam acordo para o lançamento do edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça. Acima de tudo, o Vidas Negras é uma oportunidade para a população negra brasileira reforçar planos de ativismo e resistência diante das injustiças advindas do racismo. O público foco foram organização que mantêm trabalhos voltados ao combate contra a violência sistêmica sobre o povo negro e injustiças criminais que ocorrem dentro do sistema jurídico do Brasil. 

O Google.org destinou R$ 1,2 milhão para a escolha de 12 organizações. Cada uma irá receber R$ 100 mil ao longo de 12 meses. As organizações apresentaram inciativas a serem desenvolvidas nas seguintes áreas:  a) Enfrentamento à violência racial sistêmica; b) Proteção comunitária e promoção da equidade racial; c) Enfrentamento ao encarceramento em massa entre adultos e jovens negros e redução da idade penal para adolescentes; d) Reparação para vítimas e sobreviventes de injustiças criminais com viés racial. 

Um dos projetos selecionados dentro do eixo “Enfrentamento ao encarceramento em massa entre adultos e jovens negros e redução da idade penal para adolescentes” foi o da Associação Elas Existem – Mulheres Encarceradas. A iniciativa foi inscrita pelo estado do Rio de Janeiro, mas está de mudança para o Acre, onde o projeto será desenvolvido. “O maior impacto do edital nesse momento,  em nossa organização,  é que estamos iniciando nossa segunda sede no local em que o racismo é predominante, assim como a ausência de discussões sobre direitos humanos e acesso a direitos. O Norte do país, fronteira com diversas nações, possui um alto índice de prisões por  tráfico de drogas,  sendo urgente questionar essas e outras situações que fazem com que o Brasil permaneça no ranking dos que mais encarceram mulheres”, afirmou Caroline Mendes Bispo. da Associação Elas Existem. Na semana em que conversamos com Caroline,  ela estava de mudança para Cruzeiro do Sul (AC), onde vai se estabelecer para coordenar as ações do projeto.

Caroline Bispo, Associação Elas Existem

A Associação Elas Existem vai utilizar a destinação que irá receber para promover as ações que já implementa nos estados do Rio de Janeiro e Mato Grosso. “A Associação atua buscando promover discussões sobre  a situação das pessoas privadas de liberdade e a melhoria das condições intramuros, além de incentivar o debate sobre as causas e consequência do encarceramento em massa, principalmente de mulheres (cis e trans), observando como o racismo opera na seletividade do sistema de justiça criminal de jovens negras. Desse modo, desde 2016 organizamos eventos em que arrecadamos doações de absorventes e demais materiais de higiene, que são entregues nas unidades prisionais, de acordo com a disponibilidade e necessidade de cada instituição. Fazemos também diversas campanhas virtuais para demonstrar que um rolo de papel higiênico faz muita diferença na vida de uma mulher.”, disse Caroline Mendes Bispo.

O trabalho da Associação Elas será intenso no Acre. Já estão listadas oito atividades fundamentais para projeto: Estudo sobre o efetivo carcerário;  Mapear e acompanhar normativas, ações e projetos de lei, além de outros instrumentos de políticas públicas; Elaborar e distribuir materiais educativo em ambiente carcerário intramuros e extramuros; Fazer o intercâmbio de conhecimento e aprendizado entre as equipes que atuam no estado do Rio e no estado do Acre;  Promover Rodas de Conversa sobre direitos e oficinas para o desenvolvimento de potencialidades (intramuros); Promover plantões de orientação sociojurídicas (intra e extramuros); Promover grupos de leitura e rodas de conversa (extramuros).    

 

 

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