Editais marcam uma década de trajetória do Fundo Baobá (Parte I)

Por Vinícius Vieira

No mês de outubro de 2021, o Fundo Baobá para Equidade Racial celebra 10 anos de atuação. As primeiras sementes da organização foram plantadas no ano de 2006, pelo movimento negro nordestino, aliadas e aliados em diálogo com a Fundação Kellogg. 

Mas foi em 2011 que o Fundo Baobá foi criado formalmente. Com um ambicioso modelo, que inclui um fundo patrimonial, demonstrando ser essencial desenvolver formas de funcionamento específicas para gestão e estratégias de autogestão.

Inicialmente o Fundo Baobá assumiu o compromisso de apoiar iniciativas de curta duração que tenham fins coletivos dentro da temática da promoção da equidade racial. Essa ação também é conhecida como apoio pontual. O primeiro apoio pontual realizado pela organização aconteceu no ano de 2012, por meio da 6ª edição do Prêmio “Educar para a Igualdade Racial”.

Após uma série de apoios pontuais, em 2014 o Fundo Baobá lançou o seu primeiro edital:  1ª Chamada para projetos de Organizações Afro-Brasileiras da Sociedade Civil teve como objetivo apoiar, por 12 meses, 22 organizações pequenas e médias da sociedade civil afro-brasileira de todo o país na implementação de projetos para a promoção da equidade racial. 

Desde então, ao longo de uma década de história, os números confirmam a atuação da organização na promoção da equidade racial no país, através de eixos programáticos em áreas priorizadas para doação, como viver com dignidade, educação, desenvolvimento econômico, comunicação e memória.  

Foram ao todo:

14 milhões investidos
21 parcerias conquistadas
16 editais realizados
553 iniciativas individuais apoiadas
279 organizações apoiadas

Como forma de celebrar os 10 anos de atuação do Fundo Baobá, vamos relembrar alguns editais e ouvir histórias de pessoas e organizações que receberam o apoio da entidade, no passado recente.

A Cidade que Queremos

Lançado no dia 9 de maio de 2018, o edital A Cidade que Queremos, teve a parceria da Fundação OAK e era voltado para grupos e organizações Pró Equidade Racial com projetos que visavam fomentar e desenvolver cidades mais inclusivas e justas para todes.

O edital foi exclusivo para as regiões metropolitanas do Nordeste brasileiro, incluindo os nove estados da região. Foram selecionadas 10 organizações que receberam um aporte financeiro, totalizando R$ 450 mil de investimento.

Entre os selecionados estava a “Associação Artística Nóis de Teatro”, de Fortaleza (CE), que foi apoiada com o projeto “Periferias Insurgentes”. O grupo realizou diversos eventos artísticos, entre eles noites culturais, saraus e seminários, que reuniram vozes que compõem as resistências das periferias de Fortaleza, construindo paralelo com o trabalho da associação. Desses encontros, surgiu a peça Ainda Vivas, com três horas de duração.

Para o ator, diretor, produtor e coordenador do Nóis de Teatro, Altemar Di Monteiro, o suporte do Fundo Baobá tem sido fundamental, até hoje, para as ações do grupo na periferia de Fortaleza, considerando que este apoio foi realizado em três oportunidades distintas: “Em uma delas fizemos a circulação do espetáculo Todo Camburão Tem Um Pouco de Navio Negreiro pelas periferias de Fortaleza, contribuindo para o debate sobre o extermínio da juventude negra e a militarização da nossa polícia e da nossa política”. Na sequência veio Ainda Vivas, segundo Altemar, inspirado nesse giro pela periferia da capital: “Circular pelas diversas favelas de Fortaleza foi importante para que pudéssemos compreender o grande número de jovens e práticas culturais que pulsam nas periferias e sua forte contribuição para desativar o pensamento militarizado que habita a cidade. São saraus, rolezinhos, movimentos do passinho, do reggae, do teatro que inventam outras cidades, outras periferias. A partir da grande força dessa juventude foi que o espetáculo ‘Ainda Vivas’ nasceu”.

Nóis de Teatro, grupo da periferia de Fortaleza (CE)

Para Altemar, receber o apoio do Fundo Baobá para a realização do espetáculo foi muito importante porque contribuiu para a continuidade das ações do grupo e do fortalecimento de práticas antirracistas na cidade: “Num contexto de escassez de políticas públicas da cultura, além de contribuir para a manutenção de um grupo de teatro que resiste há 20 anos na periferia, o Baobá reafirma a cultura como um valor de desenvolvimento social e humano, a arte como direito de todos e todas”.

Com a chegada da pandemia da Covid-19, o grupo recebeu o terceiro aporte financeiro e deu continuidade ao espetáculo Ainda Vivas, mas dessa vez no formato virtual. Para Altemar, esse processo contribuiu para o fortalecimento do elo com o movimento de saraus da periferia, além da valorização da cultura diante do contexto de isolamento social: “Destaco a importância da arte e da cultura na luta antirracista no momento que vivemos. Acredito fortemente que é pelo sensível, pela articulação de outros saberes e práticas que poderemos construir um outro mundo. E sobre isso, me parece que o Fundo Baobá tem entendido bem”, finaliza.

Editais voltados para o desenvolvimento e fortalecimento de mulheres negras

O fortalecimento das mulheres negras sempre foi uma pauta trabalhada no Fundo Baobá. Em duas oportunidades, a organização lançou editais voltados para o público feminino negro: Empodera, lançado em 2016 em parceria com o Instituto Lojas Renner e ONU Mulheres, apoiou 15 empreendimentos de mulheres negras cujos negócios estivessem vinculados à cadeia produtiva do setor têxtil e de moda. Enquanto o edital Negras Potências, lançado em 2018, em parceria com Instituto Coca-Cola Brasil, Movimento Coletivo e Benfeitoria, apoiou 16 iniciativas de impacto para o empoderamento de meninas e mulheres negras, focados na redução das desigualdades raciais e sociais.

Mas foi no dia 2 de setembro de 2019 que o Fundo Baobá lançou o seu edital mais ousado, o primeiro do Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, que contou com a parceria com a Fundação Kellogg, Ford Foundation, Instituto Ibirapitanga e Open Society Foundations. Concebido  para acontecer ao longo de cinco anos, incluindo 2 editais de apoio individual e 2 editais de apoio a organizações, grupos e coletivos, a principal premissa do Programa é que as mulheres negras apoiadas tenham mais subsídios para acessar espaços de poder e tomada de decisão, atuar contra o racismo e em defesa da justiça, equidade social e racial e transformar o mundo a partir de suas experiências.

Em 53 dias de inscrições abertas foram recebidas 314 candidaturas individuais e 86 coletivas de mais de 20 estados do país e do Distrito Federal. No dia 10 de dezembro de 2019 foram anunciadas as 63 lideranças e 15 organizações selecionadas pelo edital. Entre elas estava a produtora musical, Andressa Ferreira, do Rio Grande do Sul, que foi selecionada com o projeto Mulheres Negras e Tecnologia – Produção Musical Enegrecida: “Este período em que tive o apoio do Fundo Baobá, através do Programa Marielle Franco, foi de muito crescimento e de muita colheita. Esse apoio me ajudou a passar pela pandemia,  conseguindo enxergar novos horizontes e possibilidades”, afirma.

Andressa Ferreira, produtora musical

O projeto de Andressa foi fundamentado diante da baixa representação feminina (cis/trans), negra e indígena no campo da produção musical, sua principal área de atuação: “A possibilidade de acessar os conhecimentos em relação a áudio e tecnologia é algo que atualmente está mais acessível, porém ainda existem vários desafios que enfrentamos diariamente para poder ocupar esse espaço que é majoritariamente branco e masculino”, descreveu Andressa Ferreira no relatório final do Programa Marielle Franco.

Com o apoio fornecido pelo edital, Andressa Ferreira fez um curso de produção musical, iniciou os estudos de inglês, comprou equipamentos para produção de áudio, como computador, microfones, interface de áudio, cabos, entre outros, esteve à frente da “Oficina Online Mulheres Afro-amerindias: Áudio e Tecnologia”, voltada para mulheres negras e indígenas (cis/trans), além de ter trabalhado na produção musical do disco Força e Fé, do grupo Imani, formado por quatro mulheres negras de Florianópolis e ter feito também a mentoria musical no projeto AMPLIA+, no qual envolvia a produção de showcases de quatro artistas LGBTQIAP+ de Porto Alegre.

Com todas essas atividades realizadas, Andressa ressalta a importância de participar também das formações políticas junto com as outras lideranças apoiadas: “Esses encontros foram de extrema importância para que eu alcançasse meu objetivo e conseguisse realizar meu Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) com sucesso, além de fortalecer a minha caminhada profissional e pessoal”. 

Andressa Ferreira afirma que o Programa Marielle Franco cumpre o seu papel de fortalecer lideranças femininas negras em espaços de tomadas de decisões: “Termino esse ciclo estando cada vez mais atenta às questões raciais e de gênero. Mais conectada e consciente do legado que carrego, muito agradecida a todas as mulheres negras que abriram os caminhos para que hoje, eu e todas as mulheres contempladas por esse edital,  pudéssemos estar aqui construindo o nosso futuro e potencializando não só a nossa trajetória como as das próximas gerações”.

Hoje, Andressa integra uma equipe preta de uma agência de publicidade de São Paulo, sendo contratada como freelancer para realizar a produção musical de vídeos publicitários. Sendo assim, ela demonstra gratidão ao trabalho do Fundo Baobá na promoção da Equidade Racial: “Agradeço imensamente a organização e friso a importância das ações realizadas por esse Fundo, que realiza mudanças efetivas na nossa sociedade, conseguindo fomentar projetos que contribuem de fato na construção de uma sociedade mais equânime”.

Já É: Educação e Equidade Racial

A educação é uma das áreas priorizadas para receber investimentos do Fundo Baobá.

No ano de 2014, a organização, em parceria com o Instituto Unibanco, com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e com a colaboração técnica do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), lançou o edital Gestão Escolar para a Equidade – Juventude Negra, com o objetivo de promover a implementação de práticas de gestão escolar voltadas para a elevação de indicadores como acesso, conclusão, frequência e rendimento escolar. O edital, voltado para escolas públicas de Ensino Médio, recebeu a inscrição de 124 projetos de todas as regiões do Brasil. Destes, foram selecionadas 10 iniciativas. No ano de 2016, houve a segunda edição do edital, que recebeu 184 propostas e no final contemplou mais 10 projetos de sete estados do país.

Porém, foi com a premissa de apoiar a entrada de jovens negros no ensino superior que, no dia 10 de julho de 2020, o Fundo Baobá lançou o Programa Já É: Educação e Equidade Racial.  Ele conta com apoio do Citi Foundation, Demarest Advogados e Amadi Technology. Além de custear um curso pré-vestibular, as despesas comtransporte e alimentação para jovens negros da cidade de São Paulo e Região Metropolitana, o edital prevê também atividades voltadas para o enfrentamento dos efeitos psicossociais do racismo e para a ampliação das habilidades socioemocionais e vocacionais, bem como mentoria com profissionais de diferentes formações acadêmicas e vivências.

Em um mês, o programa recebeu 245 inscrições, desse número foram selecionados 84 jovens de 12 municípios da região metropolitana. Entre eles, estava Isaque Rodrigues, de São Paulo, que soube da sua aprovação no programa faltando dois dias para seu aniversário de 22 anos: “Quando recebi o e-mail de aprovação para participar do Programa Já É, eu percebi que uma grande oportunidade tinha surgido para mim, oportunidade essa de escrever uma nova história e ter um novo começo”.

Isaque Rodrigues, aluno apoiado

Hoje, aluno do curso pré-vestibular, Isaque afirma que a bolsa de estudos tem sido de grande valia, considerando que a cada dia se aprende algo diferente: “São conteúdos que de fato irão me auxiliar a tirar boas notas em provas e nas atividades que eu irei fazer um dia”. Porém, ele faz questão de dizer que o que mais tem agregado valor são as interações com a equipe do próprio Fundo Baobá: “A Tainá Medeiros [assistente de projetos] é muito proativa e sempre se prontificou a nos auxiliar em qualquer coisa, e a Fernanda Lopes [diretora de programa] me proporcionou uma nova visão, que me fez entender que o nosso lugar de protagonistas neste mundo existe e precisamos ocupá-lo”.

Isaque reforça também a importância das mentorias realizadas e o quanto isso é inspirador em sua vida: “Hoje me sinto inspirado, motivado a fazer a diferença, a ajudar os meus e todos os que estão ao meu redor. Meus olhos brilham cada vez que lembro que olharam para mim e perceberam um potencial de ir além do que eu imaginava ir. Posso dizer que encontrei a minha identidade e hoje tenho orgulho de contar a minha história de vida e de superação”.

Com planos de cursar Publicidade e Propaganda, Isaque Rodrigues é muito grato ao Programa Já É: “Eu vejo que esse edital tem em sua essência transformar a vida de pessoas, que como eu sofrem pela desigualdade, sofrem por serem julgadas pela sua cor, não enxergando a nossa grandeza. É justamente isso que nossa juventude precisa entender: somos grandiosos e só conseguimos derrubar as barreiras juntos”, finaliza.

Editais marcam uma década de trajetória do Fundo Baobá (Parte II)

 Por Wagner Prado

Ao longo dos seus 10 anos de atuação no campo da filantropia, completados neste 2021, o Fundo Baobá para Equidade Racial tem procurado o protagonismo no que se refere ao trabalho pela busca de uma sociedade equânime no Brasil, onde a equidade racial esteja presente e as oportunidades estejam, o mínimo, em equilíbrio para todos. Essa é a busca. E persegui-la requer muito esforço. A resiliência pede isso: esforço, adaptação e antevisão. O Fundo Baobá tem sido resiliente. No esforço de chegar e ouvir as vozes do campo. Na adaptação de seu modo de gestão.  Na antevisão das áreas prioritárias em que pode atuar e melhorar pessoas.

Foi no sentido de antever questões prioritárias que em abril de 2020, um mês após a decretação da Pandemia pela Organização Mundial da Saúde  (OMS), em 11 de março, que o Fundo Baobá lançou o edital Doações Emergenciais, em parceria com a Ford Foundation. Com uma dotação de R$ 870 mil, o edital foi destinado ao suporte a comunidades vulneráveis, mulheres, população negra, idosos, povos originários e comunidades tradicionais. O Doações Emergenciais recebeu 1.037 inscrições e teve 350 selecionados (215 indivíduos e 135 organizações). 

Uma das apoiadas foi Amanda Queiroz de Moraes, de Ananindeua, no estado do Pará. Ela faz parte da Associação Centro Social Estrela Dalva e ressalta a importância da iniciativa naquele momento. “A ajuda veio em um momento em que a comunidade estava, mais do que nunca, necessitando de apoio social, visto que estávamos em um período muito crítico da Pandemia”, afirmou. 

Amanda de Moraes, de Ananindeua, no estado do Pará

Cada organização ou indivíduo recebeu R$ 2,5 mil.  Amanda conta o que foi possível fazer com o recurso recebido. “No Centro Social Estrela Dalva nós atendemos crianças e mães adolescentes. Promovemos rodas de conversa sobre sexualidade e fazemos distribuição de gêneros alimentícios, material de higiene e limpeza e máscaras de proteção. Aquele foi um momento desafiador para nossa comunidade. Não é fácil se aproximar de adolescentes grávidas, sem nenhum tipo.de assistência, seja ela na área da saúde ou familiar”, disse. Apesar dos problemas, a experiência de Amanda Queiroz de Moraes foi única: “Apesar de toda dificuldade e desafios que nos foram postos, foi uma experiência que ficará marcada na história do Centro Estrela Dalva”, finalizou. 

Ainda dentro do contexto de quem estava sofrendo com os dissabores causados pela Pandemia do Coronavírus, temos os pequenos empreendedores que foram atingidos diretamente em seus negócios. Muitos fecharam de forma definitiva. Outros tantos tiveram que fechar temporariamente, o que fez cessar a entrada de recursos. O edital Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores Negros e Negras foi lançado em novembro de 2020, para apoiar esses negócios e seus proprietários. 

Com apoio do Instituto Coca-Cola Brasil, Instituto Votorantim e Banco BV, o  Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores Negros e Negras teve dotação de R$ 1,6 milhão, alcançou 700 inscrições e deu apoio a 47 iniciativas, cada uma composta por 03 empreendimentos. Como premissa do edital, os empreendimentos deviam ser constituídos por três associados, cabendo a cada um deles o valor de R$ 10 mil, perfazendo R$ 30 mil por iniciativa. Todas as pessoas empreendedoras receberam mentoria técnica para que pudessem atualizar processos e incrementar a gestão, com o objetivo de alcançar melhores resultados.  

Uma das iniciativas apoiadas pelo Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores Negros e Negras foi a Casas Ecológicas e Sustentáveis, do Rio de Janeiro. O objetivo os associados é baixar o custo de construção de moradias populares com o uso de tijolos ecológicos. Porém, fato comum entre empreendedores, o fôlego inicial sempre é o mais difícil de se obter. Ronaldo Lemos, um dos três empreendedores da  Casas Ecológicas e Sustentáveis. “Nos buscávamos iniciar a nossa fabricação de tijolos ecológicos, mas o custo do maquinário era muito alto. Graças ao Fundo Baobá,  nós pudemos fazer a compra do maquinário e montar uma estrutura para a fabricação dos tijolos. Nosso maior objetivo é nos consolidarmos como um dos grandes fabricantes de tijolos ecológicos do Brasil.  Já fechamos com alguns parceiros e iniciamos a fabricação”, afirmou Ronaldo Lemos. “A equipe Casas Ecológicas e Sustentáveis é imensamente grata ao Fundo Baobá”, completou. 

Ronaldo Melo, Casas Ecológicas e Sustentáveis

Em maio de 2021. o Fundo Baobá para Equidade Racial e o Google.org, braço financeiro do Google para apoios filantrópicos, fecharam acordo para o lançamento do edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça. Acima de tudo, o Vidas Negras é uma oportunidade para a população negra brasileira reforçar planos de ativismo e resistência diante das injustiças advindas do racismo. O público foco foram organização que mantêm trabalhos voltados ao combate contra a violência sistêmica sobre o povo negro e injustiças criminais que ocorrem dentro do sistema jurídico do Brasil. 

O Google.org destinou R$ 1,2 milhão para a escolha de 12 organizações. Cada uma irá receber R$ 100 mil ao longo de 12 meses. As organizações apresentaram inciativas a serem desenvolvidas nas seguintes áreas:  a) Enfrentamento à violência racial sistêmica; b) Proteção comunitária e promoção da equidade racial; c) Enfrentamento ao encarceramento em massa entre adultos e jovens negros e redução da idade penal para adolescentes; d) Reparação para vítimas e sobreviventes de injustiças criminais com viés racial. 

Um dos projetos selecionados dentro do eixo “Enfrentamento ao encarceramento em massa entre adultos e jovens negros e redução da idade penal para adolescentes” foi o da Associação Elas Existem – Mulheres Encarceradas. A iniciativa foi inscrita pelo estado do Rio de Janeiro, mas está de mudança para o Acre, onde o projeto será desenvolvido. “O maior impacto do edital nesse momento,  em nossa organização,  é que estamos iniciando nossa segunda sede no local em que o racismo é predominante, assim como a ausência de discussões sobre direitos humanos e acesso a direitos. O Norte do país, fronteira com diversas nações, possui um alto índice de prisões por  tráfico de drogas,  sendo urgente questionar essas e outras situações que fazem com que o Brasil permaneça no ranking dos que mais encarceram mulheres”, afirmou Caroline Mendes Bispo. da Associação Elas Existem. Na semana em que conversamos com Caroline,  ela estava de mudança para Cruzeiro do Sul (AC), onde vai se estabelecer para coordenar as ações do projeto.

Caroline Bispo, Associação Elas Existem

A Associação Elas Existem vai utilizar a destinação que irá receber para promover as ações que já implementa nos estados do Rio de Janeiro e Mato Grosso. “A Associação atua buscando promover discussões sobre  a situação das pessoas privadas de liberdade e a melhoria das condições intramuros, além de incentivar o debate sobre as causas e consequência do encarceramento em massa, principalmente de mulheres (cis e trans), observando como o racismo opera na seletividade do sistema de justiça criminal de jovens negras. Desse modo, desde 2016 organizamos eventos em que arrecadamos doações de absorventes e demais materiais de higiene, que são entregues nas unidades prisionais, de acordo com a disponibilidade e necessidade de cada instituição. Fazemos também diversas campanhas virtuais para demonstrar que um rolo de papel higiênico faz muita diferença na vida de uma mulher.”, disse Caroline Mendes Bispo.

O trabalho da Associação Elas será intenso no Acre. Já estão listadas oito atividades fundamentais para projeto: Estudo sobre o efetivo carcerário;  Mapear e acompanhar normativas, ações e projetos de lei, além de outros instrumentos de políticas públicas; Elaborar e distribuir materiais educativo em ambiente carcerário intramuros e extramuros; Fazer o intercâmbio de conhecimento e aprendizado entre as equipes que atuam no estado do Rio e no estado do Acre;  Promover Rodas de Conversa sobre direitos e oficinas para o desenvolvimento de potencialidades (intramuros); Promover plantões de orientação sociojurídicas (intra e extramuros); Promover grupos de leitura e rodas de conversa (extramuros).    

 

 

10 Anos do Baobá: Selma Moreira e Fernanda Lopes projetam a próxima década

Por Wagner Prado

Duas mulheres com uma grande missão: ajudar a transformar. Ambas exercem isso para muito além dos cargos que ocupam, porque contribuir na transformação não é um trabalho, é uma missão. Selma Moreira é a diretora executiva. Fernanda Lopes, a diretora de programa. Ambas trabalham para o Fundo Baobá para Equidade Racial. Ambas se alternam na função de arco e flecha do primeiro fundo exclusivo para a promoção da  equidade racial para a população negra no Brasil. Arco e flecha porque têm a função de impulsionar e sair ao ataque certeiro na busca por recursos, pois sem eles as coisas não acontecem. 

O Fundo Baobá para Equidade Racial está completando 10 anos. O que irá acontecer nos próximos dez está sendo plantado pela governança do Fundo e orquestrado por Selma e Fernanda, que estão à frente de uma equipe de 14 pessoas entre colaboradores diretos e indiretos. 

Os desafios têm sido muitos nesses 10 anos de busca pela consolidação do Baobá. A busca vai continuar pelos próximos anos. Os desafios não serão menores. Neste encontro com Selma Moreira e Fernanda Lopes temos a visão de ambas sobre os caminhos traçados para a gestão futura do Fundo Baobá, sua importância no trabalho de busca pela equidade racial e por uma sociedade igualitária no Brasil. 

Selma Moreira (diretora executiva) e Fernanda Lopes (diretora de programa)

Conte como você chegou ao Baobá ou como o Baobá chegou até você?  

Selma Moreira – Eu conheci o Fundo Baobá em função de uma conexão feita pelo Fábio Santiago, atual membro do Conselho Fiscal, no período do processo seletivo para a posição de diretora executiva, cargo que ocupo hoje na organização.

Fernanda Lopes – Cheguei ao Fundo Baobá como consultora. Em 2018 fui responsável pela elaboração do plano estratégico do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. Em 2019,  após aprovação do plano estratégico do Programa e após avaliação do Conselho Deliberativo, recebi o convite, aceitei e passei a compor o time. 

 

Que desafios você enxergou à época? 

Selma Moreira – Prioritariamente,  desafios de gestão, com foco em governança interna e externa (pessoas) e administração de finanças. A consequência dos itens anteriores conectarem-se com o desenho de estratégia para constituição do endowment (recurso financeiro). 

Fernanda Lopes – Naquele momento tínhamos desafios de gestão relacionados ao aprimoramento dos processos, fluxos, instrumentos e mecanismos de monitoramento.  Precisávamos aprimorar nossa comunicação, reposicionar nossa marca e fazer do Baobá uma instituição conhecida e reconhecida,  no campo da filantropia por justiça social, como a única a atuar neste ecossistema exclusivamente para apoiar e ampliar oportunidades de desenvolvimento para organizações e lideranças negras. Era necessário reafirmar os editais como o mecanismo mais eficiente para ampliar oportunidades de apoio para organizações, grupos, coletivos e lideranças negras de todo o Brasil.  Também se apresentava como desafio produzir mais e melhores evidências e ampliar nosso diálogo com o campo para subsidiar nossas decisões acerca dos investimentos prioritários.

Esses desafios se concretizaram?

Selma Moreira – Sim. Governança: o Fundo Baobá é benchmarking (referência) no terceiro setor com um robusto corpo de governança. Temos Assembleia Geral, Conselho Deliberativo, Conselho Fiscal, Comitê de Investimentos, Comitê de Ética, Comitê Executivo e Diretora Executiva. Este desenho demonstra um conjunto de mecanismos de compliance (observância) para garantir pesos e contrapesos nas tomadas de decisão, de forma a zelar pelas melhores práticas de governança, cumprindo os princípios de transparência, equidade na  comunicação das informações, prestação de contas e responsabilidade institucional com todos os públicos de relacionamento

Fernanda Lopes –  Trata-se de um processo. E todas as vezes que superamos alguns desafios, passamos a enfrentar novos. Porque a filantropia responsiva se dá desta forma. É preciso muita atenção aos contextos para atuar de modo tempestivo e responsivo. Sempre há algum ponto a ser melhorado. Em 2019, tínhamos dois editais em fase de finalização, 23 projetos no total, todos implementados por organizações formais (com CNPJ). Iniciamos 2020 com 78 projetos sendo implementados por organizações e, pela primeira vez na história do Baobá, também por grupos, coletivos informais e ainda por indivíduos. 2020 foi um ano de muitos aprendizados. Foram seis editais lançados, mais de 470 projetos selecionados, a maioria iniciativas de ações coletivas executadas por indivíduos.  Adotamos o meio eletrônico para receber os projetos, iniciamos o processo de gestão de dados e produção de informações para subsidiar a tomada de decisões, fomos revisando os fluxos, definindo políticas, processos, procedimentos. Criamos diferentes espaços de diálogo com o campo e outros atores estratégicos e investimos em comunicação.  Eu diria que o mais importante ganho, até agora, foi tornar nítido que a forma de o Baobá atuar como grantmaker (concedente)  é diferenciada. A natureza do Baobá não permite ser visto, ou se ver, como um ator que capta e repassa recursos. Nosso modo de operar precisa deixar nítido que, para organizações e lideranças negras vivenciarem a transformação social justa, sustentável e sistêmica, os recursos financeiros e orçamentários são extremamente necessários, mas não são suficientes. É preciso desenvolver competências, habilidades, capacidades. 

Quais desafios ainda estão por se concretizar? 

Selma Moreira –  Expandir e aprofundar o diálogo com toda sociedade brasileira; programa de doação individual recorrente; aprimorar a  comunicação estratégica,  potente e diversa nas redes sociais e outras mídias;  encontro de organizações e lideranças apoiadas pelo Fundo Baobá no período dos últimos 10 anos; influência no setor nacional e internacional acerca do contexto de relações raciais no Brasil. 

Fernanda Lopes – Neste momento, outubro de 2021,  temos dois editais em fase de finalização, quatro editais em curso e dois para serem lançados. Os aprendizados estão sendo convertidos em medidas corretivas. Estamos avançando em análises de dados e produção de informações para evidenciar os valores agregados pelo Baobá no campo. Sabemos que a pandemia, apesar de toda a sua crueldade, gerou alguns efeitos positivos. Em um único edital, lideranças femininas negras apoiadas por 18 meses realizaram ações que alcançaram mais de meio milhão de pessoas. Isso é semeadura. Há muitos solos férteis e, com certeza, muitas sementes foram fertilizadas em todo o país, na zona rural ou urbana; nas periferias ou nos centros. Nas instituições públicas governamentais ou privadas; nas comunidades ou nas universidades. E, embora eu tenha dado um exemplo quantitativo, ele não é suficiente. Para fazer filantropia para justiça social, para promover equidade racial por meio de ações filantrópicas, é preciso ir além. Relatar esforços, narrar pequenas ou grandes mudanças, mobilizar e engajar mais pessoas e instituições. Estes seguem sendo desafios cotidianamente experimentados por nós.  

Como você avalia os caminhos percorridos pelo Baobá nestes 10 anos? 

Selma Moreira – O caminho é de fortalecimento, amadurecimento no diálogo com o campo das organizações e lideranças negras.  Aprimoramos os diálogos com representantes de organizações que investem em ações sociais via Fundações, Institutos e Empresas. Estamos promovendo editais em todo território nacional e esses editais são estratégicos. Investimos na formação de equipe interna e parceiros estratégicos para a operação.  Até o momento temos números bem interessantes, que comprovam nosso crescimento, abrangência e influência nesses 10 anos de atividades: R$ 14 milhões investidos; 21 parcerias conquistadas; 16 editais realizados; 553 iniciativas individuais apoiadas e 279 organizações apoiadas. 

 Fernanda Lopes – Cheguei há pouco no Baobá,  mas conheço a instituição e sua missão desde o início. Muitas das pessoas que participaram de sua criação foram de suma importância para minha formação como pessoa, militante e profissional. Estamos crescendo e nos consolidando. Estamos nos aproximando, a meu ver, daquilo que era a proposta inicial, quando ainda não estava definido o formato, o modo de operar e de ser governado.  Não se trata apenas de ampliar o volume captado, o volume investido no campo. Trata-se do modo como nos apresentamos e como somos vistos pela sociedade. O modo como operamos, a forma como escutamos, como realizamos nossos ajustes de rota, como compartilhamos nossos aprendizados, como influenciamos,  como transformamos e nos deixamos transformar. Tudo isso tem relação direta com os 10 anos de atuação do Baobá como grantmaker (concedente de apoios financeiros).

O grande gargalo para o Baobá é a captação de recursos?  

Selma Moreira – Captação para o endowment (fundo patrimonial) é um gargalo nacional e internacional. 

Fernanda Lopes – Os impactos do racismo são vivenciados em todas as dimensões do desenvolvimento – individual, social, econômico, político, cultural e ambiental. O Baobá se propõe a atuar como grantmaker (concedente),  apoiando iniciativas negras que respondam a todas estas dimensões.  A captação de recursos é a via para garantir que estes apoios ocorram. Contudo, sabemos que,  para que a ação filantrópica do Baobá seja sustentável, ela não pode ser apenas para ações programáticas. Precisamos captar para o endowment (fundo patrimonial). Os recursos captados para o endowment nos permitem autonomia de investimento, de acordo com necessidades e expectativas advindas do campo. Por exemplo, no auge da pandemia todos os recursos captados tinham destino certo. A liberdade oferecida,  tanto para organizações quanto para lideranças, em nosso primeiro edital de apoio emergencial no contexto da pandemia, só foi possível porque utilizamos recursos oriundos dos rendimentos do fundo patrimonial. Ou seja,  recursos próprios do Baobá. Com isso,  pudemos receber propostas com demandas por ações e insumos que melhor respondessem às necessidades e expectativas das bases. Não nos vimos motivados a indicar o que poderia constar ou o que priorizar. Era livre. As comunidades, as organizações, as lideranças decidiam o que e como fazer naquele momento. Ter recursos captados para o endowment, além de garantir autonomia nos investimentos programáticos  permite tempestividade e sustentabilidade em nossa ação de grantmaker (concedente).  

Financiadores do exterior têm uma visão mais apurada socialmente sobre o que venha a ser o trabalho de filantropia para equidade racial? 

Selma Moreira – A cultura de doação está mais consolidada no exterior (Estados Unidos e Europa), no que tange a diversos temas. Mas a equidade racial ainda é incipiente. De todo modo, há  mais abertura para construção de soluções perenes, assim como o endowment.

Fernanda Lopes – No Brasil, a negação do racismo e de seus efeitos nas condições de vida e saúde e nas oportunidades efetivamente disponíveis para as pessoas negras, em diferentes setores, impede o reconhecimento estratégico da filantropia para a equidade racial como instrumento para o alcance do desenvolvimento com equidade no país e para consolidação da democracia. No exterior, ainda que haja uma suposta maior abertura, as instituições e pessoas desconhecem as iniquidades raciais que existem no Brasil. Logo, há uma certa dificuldade em reconhecer a importância estratégica da filantropia para equidade racial entre aqueles que doam.    

Qual a grande satisfação em executar o trabalho feito pelo Fundo Baobá? 

Selma Moreira – O Fundo Baobá é uma organização essencial para promoção de uma sociedade mais justa e equânime. Fazer parte das estratégias de mudança e transformação, com as lentes e ações de liderança desta organização, é um desafio ímpar e uma alegria imensa em cada passo dado por um mundo melhor.

Fernanda Lopes – O Baobá é uma instituição que incide no ecossistema de filantropia para garantir que mais recursos, de diferentes fontes, sejam canalizados para o reconhecimento e o desenvolvimento da população negra como sujeito de direito e agente de sua própria história e destino. Uma instituição orientada pelas lentes da justiça racial, cuja missão e propósito estão voltados para promover mudanças estruturais, para intervir na raiz das desigualdades sociorraciais que é o racismo.  Mas para isso tudo é preciso inovar e aprimorar todos os dias, e aqui não falamos de tecnologia, falamos de sociologia, antropologia, política, relações institucionais, relações interpessoais.  Porque esta é a base para a mudança que vem do e para o coletivo. Isso é algo que, particularmente, me anima. É um lugar onde posso colocar à disposição tudo o que aprendi nos diferentes espaços por onde passei e, sobretudo, que me dá oportunidade de aprender, trocar, me revisitar, reorientar, reordenar, cocriar. Não deixa de ser um espaço de militância. Você pode ter uma bagagem técnica e muitas articulações, conexões, mas aqui só se dispõe a enfrentar toda sorte de desafios quem está disposto a defender a causa.

Formação de lideranças femininas, Primeira Infância, Recuperação Econômica, Direito à Cidade, Auxílio a Populações em Situação de Vulnerabilidade, Apoio à População Quilombola, Acesso a Cursos Superiores em Universidades Públicas, Dignidade e Justiça. Falta algum segmento em que o Baobá ainda não atuou com seus editais? 

Selma Moreira – Não consegui identificar. Mapeamos nossas estratégias a fim de sermos responsivos para todas as áreas de atuação da população negra. De todo modo, vale ressaltar que ainda há muito aprimoramento no que tange à construção de estratégias que permitam alianças estruturantes e mudanças sistêmicas na sociedade, envolvendo os diversos atores do sistema.

Fernanda Lopes – Cada área que priorizamos tem um leque de possibilidades. Ter diferentes editais não significa que estamos contemplando tudo o que pode estar contido dentro de uma área.  Por exemplo, investir em equidade racial na educação exige que atuemos na educação básica (educação infantil, ensino fundamental e médio), no ensino superior, na pós-graduação e na formação de quadros. Tem iniciativas que podem focar a gestão, o corpo docente, o corpo discente; podem acontecer em unidades escolares, instituições de ensino, pesquisa e extensão  ou outros espaços onde as ações educativas ocorrem.  Se focamos na comunicação podemos pensar na mídia negra, na educomunicação, no fortalecimento da pauta e ampliação da participação de profissionais negros nos veículos tradicionais e nas mídias independentes nao negras. Naquilo que se faz em diferentes plataformas e formatos.  Arte e Cultura é um nicho no qual ainda não conseguimos  investir e sabemos que a representação social do negro e o imaginário coletivo se transformam por meio do estímulo ao conjunto de sentidos, tão bem explorado por pessoas, organizações, grupos e coletivos que atuam nessa área e também navegam pela comunicação, arte e cultura, as mais eficientes estratégias de buscar o que, por ventura, pode-se ter esquecido. A memória que nos orienta a ver o hoje, construir um futuro diferente, pautado pelas conquistas, pelos erros e acertos do passado. Isto sem contar a ciência e a tecnologia.  Enfim, temos muito a fomentar. E o campo cada dia tem deixado isso mais nítido. A transformação e o desenvolvimento para a população negra têm diferentes matizes e matrizes.

Como instituição, o Baobá vem se internacionalizando. Qual a importância disso? 

Selma Moreira – Apoios internacionais com foco nos investimentos programáticos e na construção do fundo patrimonial são de importância estratégica fundamental. Essa internacionalização do Fundo Baobá, que vem já da sua fundação, é uma forma de levar para os países do exterior um maior conhecimento sobre o Brasil. E isso é uma via de mão dupla, pois ter conhecimento envolve o saber de fatos negativos e de fatos positivos também. 

Fernanda Lopes – Para além de ampliar a sua capacidade de mobilização de recursos, estabelecimento de parcerias estratégicas e, por consequência, contribuir para mudanças sustentáveis no processo de desenvolvimento integral da população negra, acredito que a internacionalização do Baobá contribua para ampliar a discussão sobre equidade racial no sul global,  dentro e fora do ecossistema filantrópico.

O Baobá já alcançou o propósito para o qual foi criado? 

Selma Moreira – Avançamos muito em 10 anos, mas ainda há muito a ser feito.  Infelizmente,  o contexto de desigualdade e racismo recrudesceu com a pandemia. As soluções precisam ser cada vez mais sob medida para as diferentes demandas, tempos e especificidades dos públicos apoiados.

Fernanda Lopes – O Baobá ainda tem muito a realizar. O Baobá pode contribuir para transformar o imaginário coletivo. Pode contribuir influenciando a tomada de decisão das instituições públicas, privadas e do terceiro setor e,  sobretudo, fortalecer a sociedade civil organizada negra, o movimento social negro, o movimento de mulheres negras, o movimento LGBTQIA+, o movimento de pessoas negras com deficiência, o movimento quilombola na busca por equidade racial  e justiça social.

Que projeção você faz para os próximos 10 anos do Baobá?

Selma Moreira – Dez anos de inúmeros desafios. Desejo que o Baobá se consolide como referência e possa expandir seu impacto a partir da execução da sua missão em apoio a organizações e lideranças negras, a fim de contribuir para uma sociedade mais justa. Ainda desejo que tenham mais organizações engajadas em parceria com o Baobá para promoção de ações para e com a população negra em todo Brasil. E, por fim, desejo que tenhamos possibilidade de expandir os diálogos no eixo sul / sul, a fim de trocar, aprimorar e fortalecer alianças estratégicas conectadas com a nossa missão.

Fernanda Lopes – O plano de ação de Durban completa 20 anos neste 2021. Houve avanços,  mas há desafios persistentes. As reparações são parte deste conjunto que, os compromissos assumidos no âmbito da Década de Afrodescendentes ou mesmo da Agenda de Desenvolvimento Sustentável, não contemplam. O Baobá foi criado como um mecanismo capaz de captar recursos e convertê-los em benefícios para a população negra, financeiros e outros. Na vigência do racismo,  a ausência de proteção e garantia de direitos é reiterada e esta ausência afeta pessoas e coletivos. Os efeitos são generalizados. Por isso trago o tema reparações. Quando falamos em reparações estamos falando em políticas afirmativas, em investimentos das mais diversas ordens, em recursos financeiros. Para os próximos 10 anos sonho com o Baobá sendo um ator relevante na cena global de enfrentamento ao racismo e promoção da equidade racial, além de ser  um mecanismo por meio do qual se possa concretizar  ações ou políticas de reparação.

Outubro Rosa e a saúde da mulher negra

Por Vinícius Vieira

No mês de abril de 2020, durante a gestação da sua segunda filha, a empresária e esteticista Zarah Flor Rizzo descobriu um nódulo no seio esquerdo enquanto fazia um auto exame durante o banho: “Relatei para minha médica obstetra que havia encontrado um nódulo, a médica me examinou e me tranquilizou falando que era um nódulo de leite empedrado, não me senti confortável pois eu conhecia meu corpo e sabia que tinha algo errado”.

A insistência da empresária em relação àquele nódulo levou Zarah a pedir a realização de um exame ultrassom: “Eu sabia que tinha algo de errado, mas a médica achou melhor não fazer porque poderia afetar as glândulas mamárias”. Zarah não desistiu e decidiu ligar no laboratório solicitando o exame: “A atendente também informou que era melhor não realizar o exame pelo mesmo motivo”. Zarah ligou novamente em outra oportunidade e insistiu com a ideia até que o exame fosse feito: “A médica realizou o exame de mama e falou que não era nada, apenas a mama que estava com uma pequena inflamação e com um pouco de líquido por conta das minhas próteses mamárias”.

Após o nascimento da filha, Zarah Flor retornou à obstetra para realização de exames de rotina pós parto e comentou sobre o aumento do nódulo. A médica pediu para ela não se preocupar, mas mesmo assim ela não desistiu de investigar: “Saí do consultório e no estacionamento mesmo eu liguei no meu convênio e perguntei se poderia marcar um mastologista sem encaminhamento médico. A resposta foi sim. Marquei uma consulta com o mastologista e marcamos a biópsia”. Em novembro de 2020, saiu o resultado da biópsia.  Zarah Flor estava com câncer de mama. 

Zarah Flor Rizzo, empresária e esteticista

Segundo um estudo apresentado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de mama é o segundo tipo que mais acomete as mulheres brasileiras, representando em torno de 25% de todos os tipos de câncer que afetam o sexo feminino no país. Por isso, o mês de outubro é dedicado à conscientização e controle do câncer de mama, conhecido popularmente como Outubro Rosa.

O movimento foi criado no início da década de 1990 pela Fundação Susan G. Komen for the Cure, nos Estados Unidos e é celebrado anualmente no mundo todo. O Brasil aderiu à campanha do Outubro Rosa em 2010, com o apoio do Inca, como forma de conscientizar a população feminina sobre a importância do autocuidado. 

Ao aprofundar as estatísticas da doença no país, desagregando os dados por raça/cor, no ano de 2019 o Inca apresentou evidências de que a taxa de mortalidade por câncer de mama entre as mulheres negras era maior: 10% superior à observada para  mulheres não negras. O Instituto classifica uma das causas que leva a mais mortes, o diagnóstico tardio da doença.

No caso de Zarah, mesmo com todas as interpelações médicas, o diagnóstico precoce da doença proporcionou a ela um tratamento em tempo hábil: “Hoje eu estou curada! Fiz cirurgia, que foi realizada no quadrante. Sigo em tratamento ainda. Ele acaba em Fevereiro de 2022”.

Câncer de mama e as mulheres negras

Para a médica ginecologista Ligia Santos, é preciso compreender que os estudos mostram que o câncer de mama não acomete mulheres negras de forma mais prevalente que as não negras. Porém, quando uma mulher negra apresenta câncer de mama precocemente (antes dos 50 anos, mais especificamente antes dos 45 anos),  a doença tende a ser mais grave e com prognóstico pior,  e isso está atrelado ao fator social: “Os determinantes sociais de saúde são importantes fatores para a pior evolução da doença,  pois eles atuam dificultando o diagnóstico e o tratamento precoce das mulheres negras. Sabemos que a maioria das mulheres negras está na base da pirâmide social e dependem muito do SUS,  que é um sistema fundamental para a nossa sociedade, mas possui muitas falhas. Logo, essas mulheres tendem a fazer menos mamografias de rastreamento, passam em menos consultas médicas e com especialistas e com isso podem ter o diagnóstico mais tardio e, consequentemente, mais mortes”.

Ligia Santos, médica ginecologista

Mariana Ferreira, outra médica que atua na área da ginecologia e obstetrícia, também afirma que, no que diz respeito a diagnóstico precoce, a partir do rastreio com mamografia, ainda há uma grande disparidade quando avaliamos o acesso por raça/cor e classe: “Mulheres negras e com escolaridade mais baixa são aquelas que mais têm dificuldade em acessar o rastreio. Isso acaba atrasando o diagnóstico e, consequentemente, o prognóstico se torna mais reservado”.

Os dados do Inca mostram que, enquanto 66,2% das mulheres brancas fizeram o exame da mamografia, somente 54,2% das negras fizeram no mesmo período. Para a médica Ligia Santos, o acesso à saúde é um benefício que embora seja legal é negado a muitas pessoas: “Os mais pobres vivem nas periferias que, geralmente, acabam ficando para segundo plano quando se pensa em políticas públicas em geral ou que não possuem a estrutura que deveriam ter para que o atendimento seja equânime”, segundo a médica. Isso é visível na escassez de equipes, de especialistas e equipamentos de saúde em alguns bairros: “Como a falta de mamógrafos, além da dificuldade em agendar consulta com especialista, entre outros tantos fatores. Sendo assim, uma mulher que deveria fazer o diagnóstico/tratamento precoce acaba perdendo muito tempo entre idas e vindas para poder ‘entrar’ no sistema”.

Para a empresária Zarah Flor, a falta de acesso a direitos básicos por parte da população negra, sendo eles cada vez mais escassos, impacta diretamente no aumento do índice de mortalidade de doenças como o câncer de mama: “A falta da inclusão acaba refletindo na comunidade negra e limitando o mínimo para viver em sociedade. E os números estão aí para comprovar que somos as mais afetadas pela desigualdade onde não temos o mínimo para sobreviver”.

Mariana Ferreira também acredita que, para a mulher que ainda se encontra ativa economicamente, o acesso vai impactar. Por outro lado, a médica também afirma que o medo do diagnóstico também afasta algumas mulheres: “Por se tratar de uma doença ainda cercada de muitos estigmas, acaba fazendo com que muitas mulheres, mesmo após apalparem tumor na mama, acabam por postergar a busca por atendimento. Por isso que estratégias e campanhas que tragam conscientização sobre a doença são tão importantes”.

Cuidado com a saúde da mulher negra para além do Outubro Rosa

Apesar de outubro ser dedicado à prevenção e à conscientização sobre o câncer de mama, tanto Mariana quanto Ligia reforçam a importância dos cuidados de outras enfermidades que são letais para a população negra de modo geral: “Não podemos esquecer que a população negra é mais suscetível à hipertensão e diabetes,  que contribuem para o surgimento e piora das doenças cardiovasculares, que são as que mais matam no mundo, além da depressão, que é a doença que mais incapacita pessoas”, afirma Ligia.

Mariana Ferreira, ginecologista e obstetra – Foto: Gabriella Maria

Mariana reforça a importância de campanhas preventivas como a do Outubro Rosa, considerando que as estratégias de prevenção em saúde da mulher negra passam por vários aspectos: “Desde avaliação de risco para doenças cardiovasculares, tentativa de controle de fatores de risco como diagnóstico e controle de condições como hipertensão, diabetes, obesidade, estímulo à prática de atividade física”. Porém, a médica afirma que ainda há campos na saúde da mulher que também requerem atenção e conscientização:  “O rastreio de acordo com a faixa etária para câncer de colo do útero e mama; a garantia dos direitos sexuais e reprodutivos, através do acesso a métodos contraceptivos, assim como acesso à pré-natal de qualidade e acompanhamento ao parto,  para desta forma prevenir desfechos negativos. São várias as intervenções que podem ser feitas no que diz respeito à saúde da mulher negra”, finaliza.

Recentemente, Zarah Flor integrou uma campanha publicitária de uma famosa loja de departamentos, no qual ela e outras mulheres reais contam como venceram a doença. No vídeo, Zarah diz:

“Eu fui me reconectando, eu consegui trazer a minha autoestima de volta, eu quero estar sempre presente, não deixo nada pra depois, eu quero fazer hoje e agora, eu me sinto uma nova mulher”

Para o Fundo Baobá, Zarah explica o significado desta frase: “Essa afirmação eu levo para vida. Com ela, eu me renovo todos os dias e com a cura do câncer de mama, só me fez enxergar ainda mais o quanto as coisas simples da vida precisam ser valorizadas. Estar com a família, com meu marido e minhas filhas, acabam nos encorajando para lutar contra a doença”. Finaliza.

Edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça consolida parceria entre Fundo Baobá e Google.org

Por Wagner Prado

O estado de ebulição em que o mundo entrou quando do assassinato do negro George Floyd pelo então policial, o branco Derek Chauvin, na cidade de Minneapolis, no estado de Minnesota (Estados Unidos), provocou posicionamentos sociais por parte de várias empresas em todo mundo. O assassinato de Floyd, infelizmente, fez despertar em milhões a atenção sobre os problemas causados pelo racismo, muito mais observado pelos que são vítimas dele no cotidiano. 

Uma das corporações mundiais a se manifestar foi o Google, por intermédio de seu  CEO, Sundar Pichai. “No ano passado, o CEO Sundar Pichai falou sobre a importância de reconhecer o racismo como um problema global e sistêmico e assumiu compromissos de aumentar a proporção de pessoas negras em cargos de liderança e dedicar esforços não só no processo de contratação, mas de retenção e promoção. Na ocasião, nos comprometemos globalmente a investir cada vez mais esforços  em equidade racial, por meio de iniciativas internas e externas de combate à injustiça racial e construção de sustentabilidade social”, afirmou Flavia Garcia, Head de Diversidade, Equidade e Inclusão do Google na América Latina. 

O comprometimento global do Google fez com que ações no sentido do combate ao racismo e busca pela equidade fossem realizadas também no Brasil. Uma dessas ações foi o apoio dado ao Fundo Baobá para Equidade Racial no edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça, lançado em maio de 2021 com dotação de R$ 1,2 milhão. Os recursos vieram do Google.org, braço filantrópico do Google, que tem como uma de suas premissas apoiar entidades negras cuja atuação no enfrentamento ao racismo seja o foco. 

O edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça selecionou 12 organizações negras brasileiras que apresentaram projetos com os seguintes direcionamentos:  Enfrentamento à Violência Racial Sistêmica; Proteção Comunitária e Promoção da Equidade Racial; Enfrentamento ao Encarceramento em Massa entre Adultos e Jovens Negros e Redução  da Idade Penal para Adolescentes; Reparação para Vítimas e Sobreviventes de Injustiças Criminais com Viés Racial

O objetivo do Vidas Negras é ir de encontro a inúmeras arbitrariedades que têm sido relatadas e documentadas dentro do sistema de Justiça do Brasil, que em inúmeros casos procura desqualificar o povo negro impondo a ele decisões sem embasamento que culminam em penas injustificáveis. “Reforçamos nosso compromisso em continuar avançando na redução das desigualdades estruturais raciais, por meio de ações de equidade de oportunidades de acesso, desenvolvimento e liderança para a comunidade negra. Trabalhamos promovendo oportunidade econômica para a população negra e apoiando o trabalho de organizações que atuam no front,  realizando ações de combate ao racismo e à desigualdade racial, como é o caso do apoio do Google.org ao Fundo Baobá, primeiro e único fundo filantrópico brasileiro dedicado exclusivamente à equidade racial”, disse Flavia Garcia. 

Flavia Garcia, Head de Diversidade, Equidade e Inclusão do Google na América Latina

Um dos objetivos do Google como único apoiador do edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça foi o de alcançar o maior número de pessoas possível com as ações implementadas. O objetivo foi alcançado. “Por meio do Fundo Baobá, o apoio do Google se multiplicou, beneficiando 12 organizações com trabalhos com foco no enfrentamento ao racismo em suas regiões de atuação. Além do Fundo Baobá, o Google.org destinou recursos para o Núcleo de Pesquisa em Justiça Racial e Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV) com o objetivo de apoiar a pesquisa e coleta de informações sobre o estado da justiça racial no Brasil, a partir da análise de estudos de caso, dados e visualização das dimensões raciais da violência policial no país”, revelou a executiva de Diversidade, Equidade e Inclusão do Google para a América Latina. 

As organizações selecionadas estão recebendo um amplo treinamento para que alcancem 100% da potencialidade de seus projetos. Como apoiador, o Google vem monitorando e tem apreciado o trabalho que vem sendo feito pelo Baobá. “O Google.org entende que as pessoas mais próximas do problema são as que estão em melhor posição para resolvê-lo. E esse é o caso dos treinamentos que o Fundo Baobá disponibilizou para todo o ecossistema de organizações, o que inclui ferramentas de governança, recursos humanos, monitoramento e avaliação de programas, finanças, saúde e sustentabilidade, estratégia de comunicação e desenvolvimento de competências digitais; essenciais para seu fortalecimento institucional. Estamos entusiasmados em ver que as organizações selecionadas criarão uma rede onde terão interações mais profundas para compartilhar as lições aprendidas umas com as outras, com o objetivo de fortalecer uma rede nacional com representantes de organizações lideradas por pessoas negras de cada região”, finalizou Flavia Garcia.

Fundo Baobá na Imprensa em Setembro

Por Vinícius Vieira

Dois editais do Fundo Baobá para Equidade Racial foram destaques na imprensa no mês de setembro em momentos distintos. Enquanto o Edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça, divulgava a sua lista final com as 12 iniciativas selecionadas, no dia 9, o Edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça, por sua vez, foi lançado no dia 23.

Com apoio do Google.Org, braço filantrópico do Google, o edital Vidas Negras teve a sua lista de selecionados noticiada em portais de notícias como: Valor Econômico, Terra, Metrópoles, Correio Braziliense, IP News, Capital Digital, Tribuna do Agreste e Tribuna do Sertão, e também nos portais da mídia negra como: Revista Raça, Cultura Preta, Ceará Criolo e Instituto Geledés da Mulher Negra. Além do próprio Google que destacou o tema no seu blog institucional.

Enquanto isso, o Quilombolas em Defesa, lançado em parceria com a Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas), apoio da Fundação Interamericana (IAF) e ação integrada da Aliança Entre Fundos, foi destaque no Yahoo, Cedefes, Bahia.ba, Jornal do Sudoeste, Notícias de Contagem, Rede GN e no portal Notícia Preta.

A participação da diretora executiva e do presidente do conselho deliberativo do Fundo Baobá em eventos virtuais, também foi tema na imprensa no mês de setembro. O Correio Braziliense divulgou a presença do presidente do conselho deliberativo da organização, Giovanni Harvey, no webinar “Políticas Públicas para a Igualdade Racial”, organizado pelo Insper – Centro de Gestão e Políticas Públicas.

O evento, que aconteceu no dia 21 de setembro, contou também com as participações de Rosane Borges (ECA-SP) e Ricardo Henriques (Instituto Unibanco), teve a mediação de Laura Machado (Insper) e a abertura institucional feita pelo coordenador do Núcleo de Estudos Raciais, Michel França.

Em sua fala, Giovanni Harvey ressaltou a percepção que as pessoas brancas tem em relação a desigualdade racial no Brasil e o quanto que ela é estruturante nas relações sociais: “Na condição de um velho militante do movimento negro, eu sempre procuro refletir à respeito da capacidade que o racismo no Brasil tem de se transformar para preservar os privilégios da branquitude. Entendendo a branquitude não como uma característica fenotípica, mas como uma forma de pensar a organização da sociedade brasileira”.

Giovanni afirmou que não acredita na implementação da agenda antirracista por pessoas brancas de forma imediata: “A gente tem que tomar cuidado com iniciativas de grupos que, em busca da manutenção de seus privilégios, tem aderido formalmente a agenda antirracista. De uma hora pra outra, todas as pessoas que nunca falaram de desigualdade racial estão colocando nas suas redes sociais que são antirracistas. Eu não acredito em gente antirracista da noite pro dia”.

O presidente do conselho deliberativo do Fundo Baobá também fez uma crítica a chamada mercantilização da militância negra: “Eu tenho 57 anos de idade e sou militante do movimento negro desde a adolescência. De repente, todo esse conhecimento que nós adquirimos, em anos de luta, começa a ser negociado com ofertas de prestação de serviço de gestão de crise de empresas”, disse Giovanni, fazendo uma revelação: “Eu não vou fazer gestão de crise de empresa racista e, muito menos, mitigação de dano de reputação de instituição racista. É muito mais fácil eu utilizar o que eu aprendi nesses anos de militância, à serviço do movimento social, justamente para denunciar isso. Porque senão nós corremos o risco de esquecer tudo que aconteceu e criar uma democracia racial de faz de conta”, finaliza.

O evento completo pode ser assistido na íntegra aqui.

No dia 20 de setembro, foi a vez do portal do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) divulgar o evento virtual “ESG na Prática: Parcerias e Negócios para um mundo em transformação”, que contou com a participação da diretora-executiva do Fundo Baobá, Selma Moreira, e também com as presenças de Adriana Machado (Fundadora do Briyah Institute), Ricardo Batista (CEO do Tribanco),  Tarcila Ursini (EB Capital), além da mediação de Graziella Comini (professora associada da FEA/USP e vice-presidente do IPÊ).

A cobertura completa da mesa virtual “Como evitar o ESG Washing?” pode ser conferida na matéria especial no site do Fundo Baobá.

Selma Moreira também ganhou destaque no portal Estágios e Mercado de Trabalho, que divulgou, no dia 27, a sua participação na Conferência Juntos, que aconteceu entre os dias 2 e 3 de outubro. Realizada pela McKinsey & Company, a conferência virtual tinha a premissa de influenciar a formação de uma geração de jovens profissionais negros no ambiente corporativo. A diretora-executiva do Fundo Baobá participou da mesa “Governança ambiental, social e empresarial: impacto holístico e responsabilidade corporativa”, que também teve a participação de Alberto Cordeiro (McKinsey & Company) e Valquíria Tonello (Superintendente no Jurídico do Itaú Unibanco).

Coletiva Negras que Movem – Portal Geledés 

Enquanto isso, a tradicional coluna “Coletiva Negras que Movem”, do Instituto da Mulher Negra Geledés, com as apoiadas do Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, publicou no dia 4, o texto Filosofia da Lata Vazia – O Peso de Todas as Coisas, de autoria da dançarina, DJ e performer, Laura Sancos.

A psicóloga doutoranda e mestre em Psicologia, gestora de Políticas Públicas de Juventude, Gênero e Raça e integrante da atual gestão do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG), Larissa Amorim Borges, com a graduanda em Ciências Aeronáuticas, pilota em formação, comissária de voo gestora da página Voe Como Uma Negra, membro do Comitê de Tripulantes negros do SNA e cofundadora do Quilombo Aéreo, Laiara Amorim Borges, ao lado da bacharel em Direito, coach de desenvolvimento pessoal afrocentrado, defensora popular, coordenadora cultural e de eventos e integrante do coletivo Juventude de Terreiro Cenarab (MG), Lorena Amorim Borges, escrevam juntas o artigo Intersecção de saberes: Movimento Negro, Direito, Psicologia, Terreiro e outras Pretitudes

Outro artigo escrito em parceria foi Precisamos olhar com carinho para nossas trajetórias, antes que o racismo acabe com o que resta de nós, de autoria de Carolina Brito, pós-graduanda em História e Cultura Afro-brasileira, MBA em produção de conteúdo para mídias digitais e Bacharela em Arte e Mídia, produtora cultural, além de diretora e idealizadora da Enegrecida, em parceria com historiadora, mestranda em História, Coordenadora do Grupo de Estudos Literários em Escrituras Negras e a autora do livro O Pensamento de Angela Davis, Bruna Santiago. 

Por fim, o texto Lutemos pela educação, ela é espaço de luta e resistência!, foi escrito pela graduada em Serviço Social, pós-graduada em Política de Assistência Social e MBA em Administração Pública e Gerência de Cidades, Sibele Gabriela dos Santos.