“Temos que pensar a questão racial atravessando tudo o que a gente faz. Isso é mudança de pensamento”. A fala de Ana Letícia Silva, representante da Rede de Filantropia para Justiça Social, permeou a segunda mesa do evento Filantropia e Justiça Racial, que teve como tema “Filantropia no Brasil: eficiência, compromisso com a mudança e a justiça social” e contou também com a participação de Maria Alejandra Oltra, assessora de Filantropia do Philanthropy Center JP Morgan, e Tricia Calmon, membro do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá. 

As representantes das três entidades estabeleceram suas falas a partir de três questões propositivas: 1) Como a filantropia para a justiça social pode ser mais eficiente?  2) Como deve ser o comportamento de um filantropo(a)? 3) Como as instituições filantrópicas devem medir suas doações e investimentos sociais, considerando a equidade racial como uma meta?  Com esse guia introdutório, discorreram sobre a importância do trabalho filantrópico;  a destinação correta dos recursos da filantropia no Brasil; o povo negro relegado a segundo plano e buscando, por conta própria, os apoios financeiros; a questão do não tratamento igualitário, que acaba gerando privilégios. 

Para Tricia Calmon, a agenda da Justiça Social no Brasil vem se revisitando para pensar o lugar que a discussão do racismo tem ocupado nessas agendas, pois em muito tempo ocupou lugar algum, “obedecendo a um raciocínio que nos educou na história do Brasil, que é o mesmo raciocínio que construiu o projeto de nação brasileira a partir de um pacto de desenvolvimento que partiu da eliminação física e simbólica do sujeito negro”, sintetizou.  “A sociedade brasileira e sua parcela negra têm se reinventado ao longo da história por conta própria e, muitas vezes, encontrando mãos e braços no campo da  filantropia, sobretudo nas comunidades empobrecidas”, completou.

Tricia Calmon – Membro do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá para Equidade Racial

Nesse contexto, Ana Letícia Silva deu ênfase à necessidade de mudança de pensamento na destinação de recursos, por conta de um fato marcante no Brasil. “Temos 56% da população negra. Temos que fazer essa questão, a racial,  passar pela nossa atuação enquanto entidade”, afirmou. Para ela, o tema da destinação de recursos e de atuação transformadora passa por algo de extrema simplicidade. “Se eu for o Fundo X, que não está ligado à questão da equidade racial, tenho que incorporar esse pensamento da equidade ao que eu fizer todos os dias.” 

A questão da filantropia voltada para a equidade racial não encontra problema de direcionamento de recursos apenas no Brasil. Para Maria Alejandra Oltra, assessora  de Filantropia do Philanthropy Center J.P. Morgan, o problema envolve muitos outros países do continente americano. “Há  países na América Latina que têm políticas tributárias voltadas para a filantropia  Porém, esse não é um traço comum que contribua para que a destinação de recursos nos diferentes países aconteça. Muitos países não possuem essa política tributária, o que dificulta que as iniciativas oficiais de auxílio sejam alcançadas.” 

Maria Alejandra Oltra – Vice President The Philanthropy Center J.P. Morgan

A não existência de uma política voltada para a arrecadação tributária, e a consequente destinação de recursos a entidades filantrópicas, acaba por gerar um grande déficit de recursos. Nesse contexto, coube às grandes entidades colocarem foco sobre o que gerava esse déficit e tentar trazer soluções. 

A Rede de Filantropia para a Justiça Social acabou surgindo da necessidade de fazer com que os recursos da grande filantropia alcançassem quem mais necessitava. “A Rede de Filantropia para a Justiça Social congrega, neste momento, 12 organizações. Esperamos que muitas mais venham para perto da Rede, porque a gente sabe que há instituições de filantropia para  justiça social, filantropia comunitária, que estão aí escondidas pelo Brasil, ainda não reconhecidas. Sabemos que muito do que as pessoas conseguem sobreviver tem a ver  com a filantropia de justiça social, mesmo que essas organizações não estejam ligadas à Rede. São as solidariedades que acontecem diariamente que fazem com que as pessoas possam sobreviver”, afirmou Ana Letícia Silva. 

Ana Leticia Silva – Rede de Fundos para Justiça Social

E como lembrou Maria Alejandra Oltra, do Philanthropy Center J.P. Morgan, a questão da sobrevivência está intimamente ligada à questão da equidade. “Se todos queremos ser iguais, temos que pensar que nem todos são tratados como iguais. E é difícil na filantropia ajustar isso para sermos mais eficientes. Acredito, que ao longo do tempo, a filantropia tentou ser o melhor para todos. Mas é impossível fazer o melhor para todos sem identificar diferenças.”

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