Fundo Baobá divulga a lista de projetos e organizações selecionadas para a última etapa do Edital

A lista de organizações selecionadas para a Terceira Etapa do edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial está sendo divulgada hoje (01/11). Da lista fazem parte 24 organizações de 11 estados brasileiros e do distrito federal. O objetivo do edital é o enfrentamento ao racismo na educação por meio de ações, projetos, programas e políticas de equidade racial. Imaginable Futures e Fundação Lemann são os parceiros do Fundo Baobá nessa iniciativa. Imaginable e Lemann, juntas, aportaram R$ 2,5 milhões que serão  destinados a 10 organizações, grupos ou coletivos negros atuantes na educação e ativos nas questões referentes ao racismo. 

As inscrições para o edital aconteceram entre os dias 3 de agosto e 6 de setembro. Nesse período, 181 inscrições foram feitas por organizações, grupos ou coletivos liderados por, no mínimo, 85% de pessoas pretas. Dessas 181 inscrições, 83 foram consideradas aptas para ir à segunda etapa. Hoje (01/11), após análise das 83 propostas participantes dessa segunda etapa, 24  (vinte e quatro) foram selecionadas e vão à etapa final, quando as 10 organizações selecionadas serão definidas. 

Para visualizar as 24 organizações selecionadas para a Etapa 3 do edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial, você deve acessar este link. A divulgação do resultado final do processo seletivo acontece no dia 10 de novembro. Nesta ocasião a lista ficará disponível no site e redes sociais do Baobá, após as 19h. 

Sueli Carneiro: “A missão institucional do Fundo Baobá é o fortalecimento do sujeito político movimento negro e as suas organizações”

Presidenta do Conselho Deliberativo fala sobre política, desafios do Baobá para o presente e perspectivas para o futuro

          Por Wagner Prado

Aparecida Sueli Carneiro, 72 anos, nasceu em 24 de junho de 1950. O Brasil estava em festa. A Seleção Brasileira estreava na primeira Copa do Mundo realizada no país vencendo o México por 4 a 0. Vencer seria o verbo que iria marcar a trajetória dessa brasileira festeira, nascida na Lapa e criada na Vila Bonilha, região de Pirituba, bairros da cidade de São Paulo. Sueli se impôs frente às adversidades da vida, fez do estudo a sua mola propulsora até se formar filósofa pela Universidade de São Paulo (USP), doutora em Educação, tornar-se escritora, ativista do movimento negro e uma das vozes mais fortes do movimento pelos direitos das mulheres, em especial, das mulheres negras. Sueli, que deve ter um máximo de 1,65m de altura,  transforma-se em gigante quando começa a falar. Suas ideias são nítidas, contundentes e ela não se detém sobre como e de que forma deve falar. Doa a quem doer. 

Sueli Carneiro, presidenta do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá

Sueli Carneiro, como ela própria diz, aprendeu a “pensar preto” lendo e ouvindo o ator, poeta, escritor e dramaturgo Abdias Nascimento (1914/2011), um dos grandes intelectuais negros brasileiros, assim como aprendeu a pensar como uma mulher negra lendo e ouvindo a antropóloga, política e professora Lelia Gonzalez (1935/1994).    

Dona de prêmios muito prestigiados, como o Bertha Lutz, em 2003 (oferecido a mulheres que tenham dado grande contribuição na defesa dos direitos da mulher);  Prêmio Direitos Humanos da República Francesa, em 1998 (pela contribuição à defesa dos direitos humanos), Prêmio Vladimir Herzog, em 2020 (pela defesa da democracia, cidadania e direitos humanos), Sueli Carneiro tornou-se neste ano de 2022 a primeira mulher negra a receber o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Brasília (UnB). 

Sueli é fundadora e diretora do Geledés – Instituto da Mulher Negra e está à frente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá para Equidade Racial. No dia 14 de outubro, ela parou suas atividades no Geledés para receber a equipe executiva do Fundo Baobá. Nesse dia, Sueli Carneiro concedeu a entrevista que segue abaixo. 

Sueli Carneiro e equipe executiva do Fundo Baobá. Giovanni Harvey, diretor Executivo (à esq.); Amalia Fischer, vice-presidente do Conselho (no centro, de verde) e Fernanda Lopes, diretora de Programa (última á dir.)

Dia 30 de outubro o Brasil elege seu presidente para os próximos 4 anos. Como o Fundo Baobá vai atuar frente às diretrizes políticas que serão implementadas? 

Não acho que era um cenário em que tivéssemos duas opções ou duas perspectivas. Não existia isso. Só existia uma.  Só existe alguma perspectiva para a nossa agenda com a eleição do Lula. Porque o Bolsonaro, nos quatro anos do governo dele, manifestou com muita clareza, com muita transparência, que ele não tem  nenhum compromisso conosco, muito pelo contrário. Ele tem compromisso com o nosso abandono social, com a nossa extinção, com o nosso genocídio. Então, a pergunta para mim não se coloca. Só existe uma perspectiva: a eleição do Lula. Fora dela, nossa comunidade estará em muita dificuldade, como a própria democracia no Brasil estará em um  risco absoluto de retrocesso.  Então, só existe esse caminho. A situação do risco democrático é tão dramática, que eu espero que  o Lula restabeleça aquela velha democracia, que é insuficiente, é de baixa intensidade, mas que nos assegura poder voltar a colocar pautas em disputa na sociedade.  É a primeira responsabilidade. 

Eu acho preocupante a situação em que o país se encontra. Estamos sob  a égide de uma perspectiva fascista. O fascismo é uma doutrina que a gente conhece, e nela não tem lugar para nós (pretos). O fascismo é formado pela concepção do supremacismo branco, que está em ascensão no mundo inteiro. Então, não há projeto para nós que não seja um projeto perigoso, perverso e ameaçador. Com o Lula, o que nós esperamos, primeiro, é que o estado democrático de direito seja restabelecido. Esse é o primeiro requisito para que a gente volte a disputar,  a propor, a formular proposições, sobretudo de políticas públicas que venham a incidir sobre a desigualdade racial, no campo da saúde, da educação, no campo das representações políticas. Ou seja, em todas as dimensões da vida social o recorte racial precisa ser observado para que a gente possa corrigir. 

O que importa é que precisamos da ambiência democrática indispensável para poder pautar nossos temas. E o Baobá também depende disso. Caso não se efetive essa perspectiva, nós teremos trevas para enfrentar. E o Baobá terá que se preparar para dar suporte à resistência negra,  para fazer a travessia nesse momento que poderá ser de trevas e que  não desejamos. Mas se ele ocorrer, é este papel que terá que ser feito: apoiar nossa gente nas estratégias de resistência e sobrevivência ao abandono social. 

Que análise pode ser feita dos últimos quatro anos sob o olhar da governança de um fundo que trabalha pela Equidade Racial no Brasil? 

Tenho orgulho de ter estado no Baobá num momento de grande complexidade. Num momento de agravamento da questão racial no Brasil. Momento que também foi fortemente atravessado por um elemento impensado que foi a pandemia. Isso teve um grande impacto sobre o próprio Baobá. Isso é um sintoma do que poderia vir a ser o agravamento da questão política no nosso campo. O Baobá rapidamente se reciclou durante a pandemia. Rapidamente se localizou naquilo que deveria fazer. Naquilo em que deveria atuar. E foi um momento curioso, paradoxal, porque o problema era de extrema gravidade, mas também foi a oportunidade que o Baobá teve de se enraizar mais na população negra, de se fazer presente na população negra que está em territórios mais vulneráveis. Foi paradoxal neste sentido, porque a pandemia nos empurrou para ir ao encontro dos grotões em que a nossa gente  estava padecendo mais e fazer lá o que era necessário fazer: levar algum alívio, algum amparo.  

Pela rapidez com que o Baobá agiu, pelos editais que foram criados para atender  a emergência sanitária e alimentar, a questão da sofrência que nossas famílias estavam, ter conseguido alcançar e levar algum alívio  foi uma coisa que a gente não esperava que fosse acontecer da maneira que aconteceu e que tivéssemos uma resposta com prontidão para fazer frente àquela situação.  E foi algo que a sociedade civil brasileira grandemente abraçou e se fez presente nessa situação. O Baobá foi um ator importante nesse processo. De lá para cá acho que ficou o saldo de referência de uma instituição negra, voltada para a equidade racial, mas que está atenta para as urgências da sua população e é capaz de responder de acordo.  

Eu me sinto orgulhosa de fazer parte do Baobá, num momento tão delicado que a gente teve que atravessar. E estamos alcançando índices interessantes no campo da filantropia, porque 85% das comunidades que a gente atinge (organizações, coletivos ou grupos) nunca foram financiados antes. Então, nós estamos chegando à nossa gente. Estamos chegando nos invisíveis. Essa é a parte mais importante da nossa missão.  

O Fundo Baobá não é um captador e repassador de recursos. Ele se fez para além disso. Criou uma forma de atuar dentro desse ambiente da filantropia pela justiça social. O Baobá virou referência? O Fundo é hoje inspiração para outros que estão vindo atuar nesse mercado? 

O Baobá é pioneiro no Brasil em ser um fundo voltado exclusivamente para esse tema. É um mandato único dentro do contexto mais amplo das organizações negras. E a minha visão é que a função prioritária de um fundo é captar e doar. O Baobá pode ser um ator político estratégico onde as organizações do movimento negro não têm poder de incidência. Mas a missão institucional é o fortalecimento do sujeito político movimento negro e as suas organizações, que são aquelas organizações que constroem a luta antirracista e a luta feminista no Brasil. Esse é o foco principal do Baobá: o fortalecimento da  luta contra o sexismo e o racismo na sua articulação de gênero e raça. Nessa missão, o Baobá não pode ser concorrente das organizações negras. Ele não substitui o protagonismo das organizações. Ele não deve fazer isso. Pelo contrário: ele é um agente de  fortalecimento dessas organizações. Mas há dimensões da questão racial em que pode não haver um ator político em condições de incidir nessa dimensão. Aí eu acho que o Baobá tem uma contribuição a dar. Sobretudo em questões mais estratégicas, que envolvem grandes decisões de Estado ou que envolvem estratégias de parcerias no âmbito internacional, mas nunca em concorrência com a sociedade civil negra. Jamais! Porque isso é enfraquecer o principal sujeito político que sustenta nossa luta.

A captação de recursos é o grande gargalo do Baobá. Você concorda com essa visão? 

O desafio da captação é real e não apenas para o Fundo Baobá. A sociedade civil tem esse desafio permanentemente. O que eu acho que para o Baobá pode ser um agravante é o tema. A tradição de doar para a causa racial é muito nova no Brasil.  Isso é um desafio adicional. Ter um Fundo voltado exclusivamente para essa dimensão é um projeto extremamente radical e desafiador. Ele é desafiador porque justamente desafia consensos. O consenso, por exemplo, da democracia racial. Um país que demorou o que nós demoramos para aceitar discutir o tema racial ter um Fundo voltado para esse fim é muito mais desafiador do que qualquer outra temática.  Um tema como o dos direitos humanos é um tema estigmatizado na sociedade brasileira, porque foi estigmatizado como defesa de bandidos. Da mesma maneira, com agravantes, um fundo como o Baobá, que está voltado para a equidade racial em um país que não aceita que há racismo historicamente, é um drama adicional. Depois, você tem a complicação de, mesmo quando o possível doador entende que o problema existe, se é um doador com muita visibilidade, com reconhecimento público, dificilmente ele quer associar a sua imagem a um tema desses. 

Eu sou diretora do Geledés e nós vivemos,  em muitas situações, ofertas de apoio que viriam de igrejas ou instituições renomadas, desde que a gente não falasse em racismo, a gente teria o financiamento. Se a gente falasse em criança, mas não falasse no racismo que atinge a criança negra, a gente teria o financiamento. Então, havia oferta de apoio mediante a renúncia. Mas nós temos que dizer para essa sociedade que o racismo é a mãe e o pai de todas as desigualdades. Que o racismo é o elemento estruturante de todas as desigualdades e violências.  E quando a gente pensa em mulheres negras, a gente diz: racismo e sexismo, quando se articulam recortados por raça, são o pai e a mãe de todas as violações de direitos humanos nesse país. Então, é difícil apoiar um Fundo com essas características, sabendo que ele é sustentáculo da luta que combate essas duas perversidades que existem na sociedade brasileira,  é ter que aceitar que existe um problema que é um problema sério, grave, que constrói uma apartação extraordinária nesse território, ao ponto de os índices de desenvolvimento entre brancos e negros terem diferenças abismais.

A diferença dos índices de desenvolvimento humano desses dois segmentos chega a ser grotesca. Porque a última imagem que um de nossos economistas criou é que existe um país aqui que tem o mesmo índice de desenvolvimento da Bélgica, povoado por gente branca, e um outro país, também aqui dentro, que está em uma posição, em termos de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), abaixo de muitos países africanos. E nós estamos falando de um país muito rico, que tem por marca a desigualdade, porque o drama aqui não é um país pobre. É um país com muita riqueza, mas com a concentração dessa riqueza nas mãos de um segmento racial. 

Saúde, Empreendedorismo, Recuperação Econômica, Auxílio a Populações em Situação de Vulnerabilidade, Justiça Criminal. Que outros terrenos  o Baobá ainda necessita semear? 

Acho que existe uma questão que é crítica, que ainda nós precisamos desenvolver uma estratégia de grande envergadura, que é em relação ao genocídio da juventude negra. Isso é um tema em que ainda precisamos de uma estratégia. Mas não acho que seja um tema que possa ser abraçado por uma única instituição. Não apenas nós (Fundo Baobá) desenvolvermos uma estratégia potente para lidar com essa questão. Temos que envolver muitos outros parceiros que estão conosco na luta antirracista, para enfrentarmos essa questão de frente, para assumir a responsabilidade com relação a essa problemática, que é de todas a mais perversa. Acho que esse é um tema que nos desafia e que permanece pendente, carecendo de uma incidência vigorosa por parte do Baobá e seus parceiros. 

O Baobá vai existir enquanto perdurar a questão do racismo em nosso país. A existência do Baobá vai até aí. Você acredita que isso, o racismo, poderá acabar em nosso país?  

Cada geração que se apresenta tem que cumprir o seu papel nesse combate. Essa gestão do  Baobá está comprometida com a responsabilidade de construir as condições necessárias para a permanência do Baobá o máximo possível no tempo para o cumprimento da sua missão. Enquanto existir racismo, o Baobá é necessário. Então, fortalecer o Baobá para cumprir essa missão é responsabilidade dessa gestão e das que virão. Estou muito animada com o que nós estamos sendo capazes de enriquecer o nosso endowment, o nosso fundo patrimonial, que eu espero permita atender as necessidades identificadas pela gestão atual e as vindouras. Estamos trabalhando arduamente nessa direção.  

Edital Quilombolas em Defesa: Fundo Baobá investe em organizações comunitárias e em seus projetos 

Por Wagner Prado

Há 14 meses, o Fundo Baobá para Equidade Racial, em parceria com a Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) e apoio financeiro da IAF (Inter-American Foundation) abria as inscrições para o edital Quilombolas em Defesa: Vidas Direitos e Justiça. O Brasil vivia a pandemia da Covid 19 e o Quilombolas em Defesa destinava recursos diretamente para comunidades quilombolas e povos indígenas em situação de vulnerabilidade. 

O Quilombolas em Defesa faz parte das ações da Aliança Entre Fundos por Justiça Racial, Social e Ambiental. A Aliança é uma iniciativa de filantropia colaborativa entre o Fundo Baobá, o Fundo Brasil de Direitos Humanos e o Fundo Casa Socioambiental. As três organizações fazem parte da Rede Comuá

Pela primeira vez o Brasil realiza um Censo Quilombola. Entre 1 de agosto e 29 de agosto, o IBGE já havia recenseado 386.750 pessoas de origem quilombola. De acordo com o órgão, a população quilombola está distribuída em cerca de 6 mil comunidades espalhadas pelo país. A coleta de dados do Censo foi prorrogada para dezembro. Em princípio, iria até 31 de outubro. Os estados com maior contingente populacional quilombola, até agosto, eram Bahia (116.437), Maranhão (77.683) e Pará (42.439). 

Dos 34 projetos apoiados, pinçamos dados apresentados em relatório narrativo elaborado por três organizações. São elas:  Associação Comunitária Quilombola dos Agricultores Familiar de Patos II, da cidade de Campo Formoso, na Bahia, que tem o projeto Quintais Produtivos: Fortalecimento de Iniciativas Agroecológicas Realizadas por Jovens e Mulheres. Sua líder é Aliete Alves da Gama. A segunda coleta foi com a  Associação de Remanescentes de Quilombolas da Praia de Sabauma, em Tibau do Sul, no Rio Grande do Norte.  Firmino Gomes de Castro Neto é quem responde pela coordenação do projeto Raízes Ancestrais do Sabor e Saber: Cultivando Alimentos Ecológicos e Biodiversos. A Comunidade Kilombola Morada da Paz Território de Mãe Preta (CoMPaz),  cujo responsável é  Baoga Babá Kinni, seu conselheiro gestor, foi a terceira. O projeto é o  Kanzuá Comida Sagrada no Território da Mãe Preta. A economia quilombola está bem centrada na produção agrícola, que é feita visando alimentar de forma interna (comunidade) e externa (venda para a arrecadação de fundos). 

É possível descrever alguma influência do apoio recebido por meio desse edital nas ações que a Associação realiza? 

Associação Comunitária Quilombola dos Agricultores Familiar de Patos III (Aliete Alves da Gama) – Ocorreu a ampliação da relação de confiança entre a direção e os associados por conta da transparência do serviço prestado. Credibilidade nos trabalhos prestados pela comunidade, fortalecimento da associação e melhoria na comunicação, principalmente após a compra de um notebook, o que tem facilitado a comunicação interna e a divulgação para fora das ações da associação. 

Associação de Remanescentes de Quilombolas da Praia de Sabauma (Firmino Gomes de Castro Neto) – Houve uma maior sensibilização para a questão da segurança alimentar entre os membros da equipe interna e também a comunidade. Também ocorreu o aprendizado no sentido do planejamento, da gestão desse planejamento, prestação de contas e documentação. Documentamos cada etapa do que foi feito. Passamos a entender melhor a questão de contratação legal de serviços e também de profissionais externos (prestadores de serviços). O projeto passou a mobilizar interesses para o plantio agroecológico, o que gerou a ativação de espaços coletivos anteriormente em desuso. 

Comunidade Kilombola Morada da Paz Território de Mãe Preta (Baoga Babá Kinni) – CoMPaz (RS) – Consideramos que o apoio recebido nos potencializou na nossa organização interna, nos auxiliando na escrita de novos projetos e na escrita dos relatórios de prestação de contas. Hoje nos sentimos muito mais empoderados para nos candidatarmos ao recebimento de recursos. Estamos potencializando o empreendedorismo sócio-comunitário na CoMPaz com as oficinas e feiras que estamos desenvolvendo. Neste sentido, o apoio que tivemos e estamos tendo do Fundo Baobá tem sido muito significativo. 

Para garantir que os resultados do projeto fossem alcançados, que desafios vocês tiveram que superar? 

Associação Comunitária Quilombola dos Agricultores Familiar de Patos III (Aliete Alves da Gama) –   Tínhamos poucos recursos financeiros. A estratégia para superar isso foi utilizar mão de obra familiar e aproveitamento de materiais disponíveis na comunidade. A questão do transporte para a coordenação fazer a mobilização das famílias no território foi difícil de solucionar, mas conseguimos isso com a potencialização do veículo utilizado pelo projeto. Outro fator vencido foi o da distância de entrega dos produtos e equipamentos pelos fornecedores. O trajeto da loja até a comunidade. A estratégia foi considerar o frete no valor global da  licitação.

Associação de Remanescentes de Quilombolas da Praia de Sabauma (Firmino Gomes de Castro Neto) –  Tivemos insuficiência de recursos humanos qualificados para cumprir etapas burocráticas. Mas nossa equipe passou a dedicar mais tempo para o aprendizado e para para cumprir as tarefas existentes. A reabertura do processo de titulação de terra quilombola por parte do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) causou uma ruptura entre os membros da associação e a comunidade. Isso fez com que decidíssemos nos manter afastados dessa questão e optamos por colocar nosso foco na temática da segurança alimentar e nutricional. 

Comunidade Kilombola Morada da Paz Território de Mãe Preta (Baoga Babá Kinni) – Tivemos excesso de chuvas no período de inverno. Fizemos uma necessária reprogramação das atividades. Houve dificuldades para conseguir mudas e sementes de qualidade próximo ao nosso território. A solução foi vencer a distância de 50km e buscar essas mudas e sementes em Porto Alegre. 

O edital ofereceu algumas atividades de formação. Como esses conhecimentos  estão sendo postos em prática? 

Associação Comunitária Quilombola dos Agricultores Familiar de Patos III (Aliete Alves da Gama) –  Sim, porque conseguimos ampliar e potencializar os sistemas produtivos já integrados, já existentes no quilombo com a aquisição de materiais para o melhoramento das estruturas de hortifruticultura e avicultura das famílias.  Compramos 9 telas de galinheiro, arame e estacas para esticar as telas. Isso contemplou 9 famílias da comunidade. Compramos 90 saquinhos de sementes diversificadas (coentro, alface, cebolinha, rúcula) e 135 mudas de goiaba, manga, laranja, pinha e acerola. Realizamos  roda de aprendizado sobre Soberanias e Segurança  Alimentar e Nutricional. Houve o comparecimento de 13 pessoas. Compramos 18 sacas de milho,  que serviram de ração para as galinhas de 9 pessoas beneficiadas pelo projeto. Fizemos uma oficina teórico-prática sobre manejo sanitário e alimentação alternativa de aves. A oficina foi ministrada por técnico agrícola e alcançou 12 pessoas. Por fim, efetuamos a compra de notebook que vai facilitar a comunicação, a participação do grupo em eventos virtuais, além de servir como ferramenta de arquivamento dos arquivos digitais da associação. 

Associação de Remanescentes de Quilombolas da Praia de Sabauma (Firmino Gomes de Castro Neto) – Sim. Estamos em fase de execução do objetivo específico, que é estruturar cultivos de alimentos da cultura quilombola (raízes, macaxeira, batata doce, inhame) através do incentivo de práticas tradicionais agroecológicas e modelos comunitários. Estamos realizando reuniões para apresentar o projeto para colaboradores e instituições. Fazendo visita técnica aos produtores, além do cadastramento dos mesmos e relatórios de campo.  As visitas técnicas têm apoio da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte e do IFRN (Instituto Federal Rio Grande do Norte) para levantar dados para projeto de compostagem e gestão de resíduos sólidos que gerem insumos agrícolas e sejam utilizados no plantio. Também estamos mais tecnológicos, com a compra de equipamentos eletrônicos, compra de cadeiras e mesas e instalação de rede de acesso à internet. 

Comunidade Kilombola Morada da Paz Território de Mãe Preta (Baoga Babá Kinni) –  Na medida em que o projeto avança, estamos nos sentindo melhor para potencializar o cultivo de ervas fitoterápicas e a articulação da produção de verduras e legumes agroecológicos. Realizamos um curso de construção de estufa, de 26 a 30/09,  para fortalecer o cultivo agroecológico. Tivemos o comparecimento de 12 pessoas. Fizemos uma feira na Morada Portal, em Porto Alegre. Foram levados produtos da CoMPaz, como fluidos, pomadas e  sabonetes. Público alcançado foi de 35 pessoas., Também fizemos uma feira no Terreiro de Chão Batido da CoMPaz, que teve público de 40 pessoas. Os produtos comercializados foram todos produzidos pela CoMPaz. Temos tido boa receptividade do público, boa articulação da liderança da comunidade, o trabalho vem sendo feito com muita unidade, com  planejamento estratégico e grande cooperação das nossas redes de apoio.

O Edital

As propostas selecionadas pelo edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça tinham que estar alicerçadas em um dos três eixos temáticos estabelecidos. 1) Recuperação e Sustentabilidade Econômica nas Comunidades Quilombolas; 2) Promoção da Soberania e Segurança Alimentar nas Comunidades Quilombolas e 3) Resiliência Comunitária e Defesa dos Direitos Quilombolas.  O Eixo Temático 1 prioriza iniciativas de aquisição de equipamentos e mercadorias, além da produção e comercialização de produtos quilombolas; o incentivo à criação de metodologias coletivas de planejamento, além da gestão de compras e vendas e a geração de empregos. No Eixo 2, organizações com foco no fortalecimento da cultura e tradição na produção de alimentos; agricultura de subsistência; segurança alimentar por intermédio de novos arranjos entre campo e cidade; fortalecimento da perspectiva agroecológica quilombola e agroecologia a partir da perspectiva quilombola. O Eixo 3 visa o fortalecimento de ações solidárias que contemplem necessidades das comunidades quilombolas , frente ao problemas advindo da Covid-19; fortalecimento de soluções criativas em torno da mobilização de recursos financeiros, técnicos e humanos para promover transformações na comunidade e uso da tecnologia para mobilizar e engajar quilombolas na busca por seus direitos. 

Desenvolvimento de Habilidades Socioemocionais e Capacidades Técnicas entre  Alunes do Programa Já É

Por Ingrid Ferreira

O Programa Já É: Educação e Equidade Racial que está no seu segundo ano de execução, para além de prover bolsa de estudos em curso pré-vestibular, também proporciona acompanhamento psicológico e atividades focadas no aprimoramento de habilidades socioemocionais e comportamentais em sessões coletivas e individuais entre pessoas participantes. 

Segundo o Ipea: “A população negra corresponde a apenas 32% dos habitantes com nível superior, ao passo que somente 9,3% dos negros completaram esse nível educacional (versus 22,9% da população branca, com 25 anos ou mais)”. Por isso, estudantes que foram aprovades e iniciaram a universidade em 2022, seguem integrando o programa.  

Como afirma Ellen Piedade, coordenadora do time de mentores do Já É: “Temos como propósito combater o racismo, por meio de capacitação de alta qualidade e estímulo ao desenvolvimento de habilidades socioemocionais em pessoas negras. Especificamente na mentoria para estudantes, atuamos a partir de uma metodologia afrocentrada,  que oferece ferramentas para lidar com o desafio pré-universitário  e universitário”.  Ellen é Gestora de Políticas Públicas pela Universidade Cândido Mendes e bacharel em Ciências Políticas pela Universidade de Brasília. Ela e o time de mentores falam mais sobre o trabalho que realizam com estudantes apoiados pelo Baobá na matéria “Programa Já É: Mentoria contribui para fortalecer potencialidades”.

As evidências das desigualdades na permanência de pessoas negras e pessoas brancas na universidade são nítidas, por essa razão o Fundo Baobá realiza um apoio mais integral aos estudantes negres participantes do Já É. “Esforços de fortalecimento da auto estima, auto gestão,  planejamento, aprendizagem reversa (aprendendo com os erros) faz-se crucial, sabemos que no futuro próximo estes jovens poderão se converter em importantes agentes de transformação social, poderão ocupar  espaços que a estrutura social racista insiste em exclui-les. Este pensamento estratégico de investir no presente para mudar o futuro sempre dialoga com as diretrizes do movimento negro”, explica Fernanda Lopes Diretora de Programa.  E ela continua, “para além desses esforços contamos ainda com funcionários da Metlife Brasil que atuam como mentores voluntários. Elas e eles compartilham suas experiências de vida, carreira, formação, fazendo com que o grupo de estudantes, no contato com realidades e experiências diversas, também possa se inspirar no delineamento de seus projetos de vida”. 

A estudante Alice Silva Gomes,  ao nos contar sobre a mentoria individual com colaborador da Metlife,  explica que: “A mentoria foi muito boa para reflexão e conhecimento sobre a vida e mercado de trabalho”. E ao ser questionada a respeito das mudanças que ela tem experimentado em sua vida associando com as habilidades que adquiriu nos encontros do Black Coach, Método Abayomi de mentorias coletivas, a afirmação foi a seguinte: “Está me ajudando a organizar melhor o tempo e me adaptar a minha rotina, fazendo o que é possível dentro da minha realidade”.

Se organizar para fazer tudo o que é necessário dentro do tempo que se tem disponível  é sempre um grande desafio. Neste contexto, a estudante Ana Cláudia Rocha de Souza afirma que: “A questão da gestão do tempo está me ajudando bastante, principalmente na faculdade e no trabalho”. Ana Claudia está cursando Psicologia, na Universidade São Judas Tadeu.

João Gabriel Ribeiro, que ingressou no curso de Pedagogia, na mesma universidade que Ana Claudia, ao ser questionado a respeito das mudanças que observou em sua vida a partir das mentorias, conta que: “Tem me ajudado muito com as habilidades socioemocionais que o mercado tem exigido, além de saber me impor, enquanto profissional negro, diante das situações de racismo velado no meu trabalho ou na faculdade, as quais eu nem sempre conseguia perceber.”

Para o Fundo Baobá o Programa Já É e os investimentos em educação são mais uma oportunidade para desenhar novas perspectivas de futuro no presente, enfrentar os efeitos psicossociais do racismo e contribuir para o desenvolvimento de pessoas negras. 

Baobá na imprensa em Setembro

Por Ingrid Ferreira

No mês de setembro o Fundo Baobá experimentou várias oportunidades na  mídia com a repercussão do edital  Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial, que conta com apoio da Imaginable Futures e Fundação Lemann, sendo notícia no Diário do Amapá, Meio Norte, Folha BV, Tribuna do Norte, Blog Suébster Neri, Blog do Seridó, O Imparcial, Diário da Manhã, G1, Instituto Unibanco, Prosas, O Popular, TV 247, TV Globo, SBT, Correio Nagô e Mundo Negro.

O Fundo Brasil publicou a matéria “Aliança entre Fundos participa do evento de 10 anos da Rede de Filantropia para a Justiça Social”, a Aliança Entre Fundos é composta pelo Fundo Baobá, Fundo Brasil e Fundo Casa e estiveram presentes em uma mesa para compartilhar a experiência de filantropia colaborativa durante o  evento. A Aliança também foi mencionada  em publicação da Revista Filantropia com o seguinte título “Aliança Entre Fundos Apoia Projetos Quilombolas e Indígenas no Enfrentamento da Pandemia da Covid-19”.

E a Câmara Brasileira do Livro e Publish News mencionaram a  Presidenta do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá, Sueli Carneiro, homenageada como Personalidade Literária de 2022 pelo Prêmio Jabuti / CBL, sendo Sueli a primeira Personalidade Literária do Prêmio não proveniente do eixo literatura.

O Baobá também foi mencionado pelo Sonho Seguro e Segs, que publicaram matérias  sobre a parceria entre MetLife  e Fundo  no Programa Já É. O IDIS citou a participação do Diretor Executivo do Fundo Baobá, Giovanni Harvey, na 11ª edição do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais.

Apoiadas do Fundo Baobá:

Em setembro na Coluna Negras que Movem do Portal Geledés, houve a publicação dos seguintes artigos: “Meu voto é para mudar a história e o seu?” escrito por Carolina Brito, “Uma lição de reverência: Iza no Rock in Rio” por Josi Souza e “Mês de Conscientização da dor: uma ação de interesse público” pela autora Evânia Maria Vieira.