Selecionado na primeira edição do Programa Já É, João Pedro carrega até hoje as lembranças das trocas adquiridas com outros participantes

João Pedro Araújo, 27 anos, foi um dos jovens selecionados na primeira edição do Programa Já É – uma iniciativa do Fundo Baobá que apoia jovens negros no acesso ao ensino superior no Brasil. Atualmente, ele cursa Ciências e Tecnologias na Universidade Federal do ABC (UFABC), com previsão de formatura em 2027.

Morador do bairro do Grajaú, na Zona Sul de São Paulo, João Pedro enfrentou uma realidade de poucas oportunidades. Para ele, o Programa Já É foi essencial para transformar a trajetória marcada pela simplicidade e pelos desafios da vida periférica. Egresso da rede pública de ensino durante a maior parte de sua vida escolar, precisou conciliar trabalho e estudos, como tantas outras pessoas jovens negras periféricas do país.

Mesmo com tantas dificuldades, teve na mãe a maior fonte de inspiração — uma mulher batalhadora que, com um salário mínimo, sustentou a casa e alimentou os sonhos do filho. “Ela me ensinou que é possível sonhar alto e mudar a realidade, mesmo quando tudo parece difícil”, afirma.

Como funciona o Programa Já É: educação e equidade racial?

O Programa Já É: Educação e Equidade Racial oferece apoio financeiro, educacional e psicossocial a jovens negros, com o objetivo de promover o acesso ao ensino superior e ampliar oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional. Em sua primeira edição, realizada em 2021, o programa selecionou 85 estudantes. Destes, 32 foram aprovados em vestibulares — 12 em universidades públicas e 20 em instituições privadas como bolsistas do ProUni (Programa Universidade para Todos).

Políticas afirmativas como caminho para a transformação social

Naquele mesmo ano, João se inscreveu em todos os projetos possíveis, em busca de alternativas, já que a pandemia dificultou o acesso a oportunidades de emprego. Foi então que, por indicação de uma amiga, conheceu o Já É. A motivação veio do desejo de ser o primeiro da família a cursar uma universidade pública — e, mais do que isso, de abrir caminhos para seus amigos e sua comunidade, mostrando que o acesso à educação de qualidade também é possível para quem não teve privilégios.

“Quando conheci o Já É, já achei a proposta interessante. Mas, ao participar, percebi que aquilo era só a ponta do iceberg. As trocas e aprendizados com os outros participantes foram transformadores e carrego comigo até hoje”, relembra João.

No início, ele confessa que duvidava de si mesmo. “É difícil acreditar que alguém está investindo em você quando se vem da periferia. Eu me perguntava se era realmente capaz. Mas, logo na primeira reunião com os outros selecionados, senti como se já nos conhecêssemos. Foi um acolhimento imediato.”

João destaca a importância de políticas afirmativas e programas como o Já É para ampliar o acesso de jovens negros ao ensino superior. “Mesmo com iniciativas como essa, ainda somos minoria nas universidades, e essa presença diminui ainda mais nas instituições públicas. Precisamos ocupar esses espaços para inspirar outros a acreditarem que também é possível.”

Para ele, estar na universidade vai muito além de uma conquista individual — representa um sonho coletivo. Em um país ainda marcado por desigualdades estruturais, a presença de pessoas jovens negras no ensino superior é símbolo de resistência, transformação e esperança.

Segunda edição do Programa Já É tem inscrições abertas

As inscrições para a segunda edição do Programa Já É estão abertas até o dia 06 de junho. Para mais informações, acesse: Programa Já É.

Edital Educação e Identidades Negras provoca transformações significativas nas organizações apoiadas

O edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial foi encerrado com um saldo bastante positivo. Após dois anos de vigência, ele resultou em um impacto de transformação para as 12 organizações que receberam, cada uma, R$ 175 mil para implementar seus projetos. 

As transformações foram possíveis tanto pelo apoio financeiro quanto pelo suporte técnico oferecido nas oficinas organizadas pelo Fundo Baobá. As organizações tiveram acesso a recursos para aquisição de equipamentos e capacitação em gestão, o que gerou aumento da visibilidade de cada uma delas, além do fortalecimento institucional.

Ações antirracistas e fortalecimento institucional

Uma característica comum entre as organizações participantes do processo seletivo foi o desenvolvimento de estratégias para enfrentar o racismo em instituições educacionais — formais e não formais — e promover maior representação de pessoas negras nos espaços de decisão na educação. 

Das 12 organizações apoiadas, 9 nunca haviam recebido qualquer tipo de financiamento para seus projetos. Isso reflete a missão do Fundo Baobá, que realiza uma busca ativa por organizações que atuam em territórios desassistidos.

O papel do Fundo Baobá na descentralização de recursos

A diretora de Programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes, analisa esse cenário:

“Algumas das organizações apoiadas atuam na luta antirracista há uma ou duas décadas e, ainda assim, não haviam acessado recursos da filantropia. Alcançá-las com bons critérios de seleção é um indicador de sucesso. Aos poucos, estamos chegando a organizações de diferentes regiões do país, saindo das capitais dos estados. Descentralizar o acesso aos recursos financeiros e ampliar o acesso às assessorias técnicas que contribuam com o fortalecimento das lideranças, organizações, grupos e coletivos negros é parte da nossa missão”, afirma.

Fernanda Lopes, Diretora de Programa do Fundo Baobá, que é uma mulher negra, com cabelos longos em dreadlocks e óculos de armação clara, sorri enquanto participa de uma conversa em ambiente interno iluminado. Ela veste uma blusa preta sem mangas e calça com estampa colorida. Está sentada em uma cadeira de escritório bege, com postura aberta e expressiva, demonstrando atenção e receptividade. Ao fundo, vê-se uma parede clara e uma planta em vaso, o que reforça o clima acolhedor do espaço. Simulando a fala sobre  edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial
Fernanda Lopes, Diretora de Programa do Fundo Baobá. Crédito: Thalita Novais 

Um dos critérios para seleção das organizações era a atuação na promoção efetiva do que determinam as Leis 10.639/2003 e 11.645/2008. Essas legislações tornam obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena nas escolas, modificando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). Apesar da determinação legal, muitas instituições de ensino — tanto públicas quanto privadas — ainda a ignoram, uma realidade que precisa ser transformada.

“As organizações apoiadas no edital contribuíram para reduzir o desconhecimento, subsidiar e cobrar a implementação. Promoveram diálogos que, na maioria das vezes, são incomuns, envolvendo movimento social e unidades formais de educação básica ou universitária. Ver os resultados e saber que mais de 15 mil pessoas tiveram acesso a conteúdos anteriormente vetados em função do racismo é um bom indicador de que estamos no caminho certo de investimento”, completa Fernanda Lopes.

Afoxé Omô Nilê Ogunjá: cultura, autonomia e educação

O edital apoiou organizações, coletivos e grupos negros de nove estados brasileiros. Uma delas foi o Afoxé Omô Nilê Ogunjá, uma associação cultural de tradição afro-brasileira da cidade de Recife, em Pernambuco. Assim como as demais, o Afoxé enfrentou desafios relacionados à gestão de projetos e à prestação de contas. Mas as dificuldades apenas reforçaram o desenvolvimento das habilidades nessas áreas, contribuindo para a autonomia operacional da associação.

Com essa autonomia consolidada, o Afoxé Omô Nilê Ogunjá estabeleceu parcerias para difundir, entre estudantes e educadores da Educação Básica ao Ensino Superior, conhecimentos importantes sobre a cultura afro-brasileira e a história do Brasil, por meio da dança, da música e dos saberes ancestrais.

“Firmamos parcerias com instituições de ensino acadêmico, como a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e com instituições de educação básica, que são o nosso público-alvo, o nosso grande público. Firmamos também parcerias com quatro escolas do bairro do Ibura, escolas públicas e uma escola de capital misto. Trabalhamos, através da Lei 10.639, aspectos da cultura e identidade afro-brasileira, passando pela questão da educação etnicorracial. Tivemos formações para professores, atividades com estudantes e levantamentos diagnósticos”, relata Manoel Neto, representante da organização pernambucana.

Manoel Neto é um homem negro, com barba cheia e cabelo raspado, veste uma camisa clara de linho com o primeiro botão aberto. Ele usa óculos de armação redonda e sorri levemente para a câmera. Ao fundo, vê-se um mural colorido com figuras humanas e elementos da cultura afro-brasileira, trazendo um ar vibrante e artístico à composição. A iluminação suave valoriza a expressão serena e confiante do retratado. Ele é representante da organização pernambucana Afoxé Omô Nilê Ogunjá
Manoel Neto, representante da organização pernambucana Afoxé Omô Nilê Ogunjá.

Ele também destaca o salto de qualidade obtido com o apoio técnico do Fundo Baobá: “Foi um ganho muito grande para a nossa instituição. Nós tivemos muitas mudanças corroboradas por esse processo de participação no edital. Passamos a ter um planejamento mais institucional. A elaboração desse planejamento, realizada durante a parceria com o Fundo Baobá, foi muito importante para definir os horizontes que agora estamos trilhando — e que são os que gostaríamos de trilhar. Foi importante para definir onde vamos chegar e aonde queremos chegar. Foi importante, inclusive, para conseguirmos uma parceria com uma nova instituição. Conseguimos um financiamento para 2025 de R$ 300 mil para dar continuidade às ações e garantir a permanência das atividades”, conclui.

Parceria com Imaginable Futures e Fundação Lemann

O Fundo Baobá para Equidade Racial contou com apoio financeiro das instituições Imaginable Futures e Fundação Lemann para a realização do edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial, que teve um aporte de aproximadamente R$ 2,5 milhões e resultou no apoio a 12 organizações.

A Imaginable Futures participou, pela primeira vez, de uma iniciativa dedicada exclusivamente a organizações negras e reconhece a importância dessa participação:

“Historicamente, organizações negras têm acumulado experiências valorosas que as colocam em um lugar central para propor práticas e políticas públicas para promover a equidade no ensino e melhorar a qualidade da educação. No entanto, elas enfrentam desafios para acessar recursos e recebem apenas uma pequena parcela do capital filantrópico no Brasil. Em razão dessa assimetria, temos nos juntado a iniciativas que destinam recursos para essas organizações. A iniciativa com o Baobá foi uma experiência inaugural e transformadora para a Imaginable Futures — não apenas pela legitimidade que o Baobá já tem no campo, mas porque nos permitiu aprender e evoluir enquanto organização. Foi uma parceria de muita aprendizagem, que fortaleceu a nossa estratégia e nos ajudou a melhorar a forma como atuamos em prol da equidade racial na educação”, diz Samuel Emílio, Gerente de Programa da Imaginable Futures.

Samuel Emílio, Gerente de Programa da Imaginable Futures, pessoa negra, com cabelo volumoso em estilo afro e barba bem cuidada, sorri enquanto olha para o lado, transmitindo leveza e naturalidade. Usa óculos de armação arredondada e brinco geométrico pendente, além de uma camiseta sem mangas em tom terroso. O fundo neutro e levemente desfocado valoriza sua presença e expressão, em uma composição simples e elegante.
Samuel Emílio, Gerente de Programa da Imaginable Futures.

Como apoiar o Fundo Baobá

Para contribuir com ações transformadoras como essa, acesse o site do Fundo Baobá e faça sua doação.

Para saber mais sobre o edital Educação e Identidades Negras, clique aqui.

Estudar fora do Brasil: a atitude faz a diferença

Selecionados do Black STEM 2024

Especialista e familiares dos bolsistas do Black STEM falam sobre desafios e conquistas no exterior

O senso comum diz que, para estudar no exterior, é necessário ser alguém especial – o famoso ponto fora da curva. Quem dissipa esse mito é o professor Fernando Caixeta, titular do Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM), Campus Uberlândia, que atua com mentoria em programas de internacionalização e foi convidado a ser um dos mentores dos estudantes do programa Black STEM.

Essa iniciativa, promovida pelo Fundo Baobá para Equidade Racial, apoia a presença e permanência de pessoas negras em universidades fora do Brasil. No início de julho de 2024, cinco estudantes negros foram selecionados – quatro mulheres e um homem. Desde então, esses pioneiros vêm sendo acompanhados e apoiados por professores e suas famílias.

“Não tem que ser gênio e não tem que ter nota acima da média. Isso é uma grande ilusão. Eu acredito muito que são fatores que contam, mas não são o principal. O principal é o fator atitude”, sintetiza Caixeta, ao comentar o que levou esses jovens a serem selecionados por instituições de ensino no exterior. 

“Muitas universidades estrangeiras consideram o ponto de onde você partiu até o ponto em que você chegou. Se você teve acesso a estudo de línguas, fez várias viagens, você tem uma bagagem cultural e de experiência muito maior que aqueles que não tiveram essa chance.”

“Então, é muito mais o que você fez com aquilo que você tinha do que as notas que você alcançou. Tem que ter vontade e estar habilitado a receber não. A vida de quem se candidata a uma oportunidade no exterior é de muitos nãos até que se obtenha um sim. É importante entender que isso faz parte do processo”, diz.

O impacto do Black STEM na vida dos estudantes negros

O Black STEM tem foco em Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM). Também conhecidas como ciências exatas, essas áreas têm uma ligação histórica com a população negra, responsável por importantes desenvolvimentos científicos e tecnológicos. 

O programa foi criado pelo Fundo Baobá, com apoio da B3 – Social e parceria do BRASA (Brazilian Student Association). 

Camila. bolsista Black STEM, é uma mulher negra, de cabelos cacheados e sorriso radiante, está posicionada atrás de um balcão azul com o logotipo iluminado da B3 Social, iniciativa de impacto social da Bolsa de Valores. Ela veste uma camisa preta e um blazer colorido com estampas geométricas vibrantes. No fundo, uma grande tela exibe gráficos de variação do mercado financeiro e cotações de ações, reforçando o ambiente corporativo e tecnológico.
Camila Ribeiro, bolsista Black STEM. Crédito: Thalita Novais.

Camila Ribeiro está em Portugal. Ela optou por cursar Pilotagem na Escola Superior Náutica Infante Dom Henrique. A Marinha Mercante surge como uma grande alternativa profissional quando estiver formada. 

Eric Ribeiro está nos Estados Unidos cursando Engenharia Aeroespacial na Universidade Notre Dame. Os desafios que ambos têm que enfrentar são duros e não estão apenas dentro das instituições em que estudam. 

“Tenho conversado com os estudantes do BlackSTEM com alguma frequência. O que eles relatam de maneira geral é que o início é complicado, no sentido de se entender em uma sociedade que não é a deles.  E o que a gente entende como prioridade é que se encontre quem pode nos ajudar nesse processo. Grupos de pessoas pretas nos ajudam bastante. Aquilombar, nessa hora, pode ser um fator essencial”, diz o professor Caixeta. 

O impacto familiar e os desafios da distância

Camila é capixaba de Vitória (ES). Sua mãe, Andressa Ribeiro, fala sobre como é estar longe da filha, que não voltou para o Brasil no período de Natal e Réveillon: 

“Nos preparamos para esse momento, é um sonho se realizando, então há um misto de sentimentos. Muita saudade, mas também orgulho pelo protagonismo dela. Há o receio com relação ao clima, ao racismo, que buscamos mitigar com informação, muita fé e sorte. A tecnologia tem sido aliada nesse processo. Nos falamos com frequência”, afirma Andressa.

A rotina de Camila em Portugal é puxada. “Ela tem aulas diariamente, pela manhã e à tarde; tem excelentes professores, que focam o ensinamento mais na parte prática da matéria. Ou seja, no que ela realmente vai aplicar no dia a dia da profissão.”

“Está integrada com os colegas, formaram grupos de estudos e recebeu orientação da instituição para obter alguns  documentos que precisava. Ela mora no alojamento e faz as refeições na própria faculdade. Quando possível,  aproveita para conhecer um pouco mais a cidade”, revela Andressa Ribeiro. 

Eric, bolsista Black STEM, é um homem negro jovem, de cabelos crespos e óculos redondos, sorri enquanto posa atrás de um balcão azul com o logotipo iluminado da B3 Social. Ele veste uma camisa branca e tem um suéter claro sobre os ombros. O fundo é azul, com detalhes metálicos, criando um ambiente moderno e corporativo.
Eric Ribeiro, bolsista Black STEM. Crédito: Thalita Novais.

Joelma Ribeiro, mãe de Eric, de 18 anos, e moradora de Caieiras, na Grande São Paulo, relata que a vida de seu filho não tem sido muito diferente da vida de Camila. E seu coração vive tão apertado quanto o da mãe da colega.

“Tenho um misto de sentimentos: saudade, orgulho e felicidade. Às vezes, ver o Eric alcançando seus objetivos tão jovem é uma realização, mas também é desafiador conciliar os sentimentos, justamente por causa da distância e da sensação de ‘deixar ir’. Mas é lindo ver como ele está crescendo cada vez mais e desbravando o mundo”, diz.

Eric está na Universidade de Notre Dame, de olho em seu maior sonho: entrar na NASA (Agência Espacial Norte-Americana). Ele quer chegar lá e se tornar astronauta.

“Ele está se adaptando e lidando com as novas experiências de forma responsável, e isso é uma grande conquista! Suas preocupações, como não ficar doente e cuidar de si mesmo, são sinais de que está amadurecendo e aprendendo a ser independente, o que é um passo muito importante nessa fase da vida. Ele parece estar em um ótimo caminho”, diz Joelma.

Andressa e Joelma enaltecem a iniciativa do Fundo Baobá em criar um programa que possibilita a estudantes negros brasileiros ingressarem em universidades no exterior.

“A aprovação da Camila no edital foi de grande relevância. A bolsa tem sido essencial para viabilizar sua permanência em Portugal e a conclusão do curso.”

Joelma completa: “Foi um alívio ver o Eric conquistando essa oportunidade, ainda mais em um momento de tantas mudanças. Saber que ele conseguiu se organizar financeiramente e que está se virando sozinho em tantas questões, desde as mais práticas até as acadêmicas, é uma grande conquista para ele e também um grande alívio para mim.”

Conheça mais sobre o edital Black STEM aqui.

Conheça um pouco da Cultura Marabaixeira, uma das ricas manifestações deste país continental chamado Brasil

A cultura do Marabaixo é uma das mais autênticas expressões culturais do estado do Amapá, vinculada à história de resistência e preservação da identidade negra na região. Ela tem raízes profundas no período colonial e na luta dos povos afrodescendentes pela manutenção de suas tradições e costumes, sobretudo nos territórios quilombolas.

O Marabaixo envolve música, dança, cânticos e rituais que celebram a ancestralidade e a cultura africana, sendo praticado principalmente durante festividades populares em comunidades negras do estado.

Dentro desse contexto cultural e de resistência, o Movimento Nação Marabaixeira foi fundado em 2016 como um coletivo de pessoas de diversas áreas profissionais, todas unidas pelo mesmo propósito: fortalecer a identidade negra, empoderar lideranças e preservar a cultura ancestral nos territórios pretos do Amapá.

O movimento tem como foco principal proporcionar o conhecimento histórico-cultural do Marabaixo às comunidades escolares, utilizando essa tradição como ferramenta pedagógica para combater o racismo e valorizar a diversidade cultural amapaense.

Um dos projetos mais significativos do movimento nesse sentido é o Projeto Cantando Marabaixo nas Escolas. O projeto adota uma abordagem lúdica e pedagógica para divulgar a cultura do Marabaixo sob a ótica de uma educação antirracista e anticolonialista, disseminando a manifestação tanto dentro quanto fora do ambiente escolar.

Ao promover a integração entre os saberes populares e formais, o movimento busca tornar o Marabaixo uma prática comum no cotidiano escolar, criando um espaço para a valorização da cultura negra e o combate às desigualdades sociais e raciais.

O crescimento institucional do Movimento Nação Marabaixeira foi impulsionado pelo edital Educação e Identidades Negras, que ampliou o alcance do projeto para além do esperado inicialmente. Com essa oportunidade, o movimento conseguiu beneficiar um número maior de pessoas, consolidando-se como uma referência na promoção da cultura afro-amapaense e na luta por uma educação mais inclusiva.

Representantes da Nação Marabaixeira, dançarinos do Marabaixo e Equipe Baobá

“Poder contar com o apoio educacional, organizacional e financeiro de instituições como o Baobá proporciona a várias organizações desenvolver a sua autonomia, e poder se estruturar de maneira mais profissional. Esse apoio foi o pontapé inicial para nosso  fortalecimento enquanto organização. Não podemos deixar de evidenciar o aprendizado através de vídeos e orientações dos consultores. É interessante ainda frisar que conseguimos ter capacidade para alcançar mais escolas, educandos, municípios, públicos diferentes e, assim, salvaguardar e propagar nossa manifestação cultural”, disse a professora Lizia Celso, uma das gestoras do Movimento Nação Marabaixeira.  

Vale destacar que, apesar de suas raízes africanas, a cultura do Marabaixo não tem ligação direta com religiões de matrizes africanas, o que permitiu que muitos praticantes de denominações religiosas, como os pentecostais, se apropriassem dessa manifestação cultural. 

Baobá no Amapá

Fazer a conexão com as necessidades do outro, e entender as principais mensagens levou o Baobá – Fundo para Equidade Racial ao estado do Amapá no mês de outubro para ver de perto as realizações do Projeto Marabaixo nas Escolas, promovido pelo Movimento Nação Marabaixeira. 

O Diretor Executivo do Baobá, Giovanni Harvey, a Gerente de Comunicação e Mobilização de Recursos, Janaina Barbosa, a Gerente de Articulação Social, Caroline Almeida, e a Assistente de Projetos, Camila Santos estiveram no Amapá. Além da aproximação com o Movimento Nação Marabaixeira, também realizaram encontros e conversas com representantes de movimentos negros amapaenses. 

A importância do Baobá ter ido a campo – estratégia que compõe o plano de ações do Fundo – é definida por Rosivaldo da Silva Gomes, mais conhecido por Dinho Paciência, Coordenador de Projetos Pedagógicos e Elaboração de Projetos do Movimento Nação Marabaixeira: “A importância da vinda do Baobá aqui, junto a nós, é a ratificação do nosso fazer, enquanto movimento preto, pela visibilidade, protagonismo e formação de lideranças da nossa gente. Pelo que o Fundo Baobá é, pela representatividade que tem, ele é o nosso selo de validade, de qualidade e de abertura de portas. A partir dessa vinda, as pessoas visualizaram aquilo que a gente faz,  porque nós tivemos o Baobá aqui para confirmar isso”, afirmou Dinho.

Para o idealizador e fundador do Nação Marabaixeira, João Carlos do Rosario Souza, o Carlos Piru, o trabalho feito pelo Baobá contribui para que a cultura amapaense, mais especificamente, a Marabaixeira, tenha alcançado outros pontos do país.

“O Estado do Amapá sempre esteve isolado do resto do Brasil, em todos os aspectos. Com o advento das redes sociais isso acabou, pois podemos interagir com o mundo. Foi assim que conhecemos o Baobá e o Baobá nos conheceu. Recebê-los aqui foi histórico, desafiador e gratificante. Nos deu a certeza de que estamos no caminho certo e que podemos conduzir nossa própria história a partir dos nossos projetos. O projeto Cantando Marabaixo nas Escolas começou em 2017 e desde então nossa luta é bastante intensa na busca de apoio em todos os sentidos. Porém,  nunca fomos tratados dessa forma, mesmo o projeto alcançando essa expressão nacional e alcançando o Amapá adentro. Portanto,  gratidão ao Fundo Baobá”, concluiu. 

Orumverso: plataforma conecta saberes e impulsiona negócios negros

Criada por três mulheres negras engenheiras, a Oficina de Inovação e Ancestralidade (OIA) lançou dia 02/08, a plataforma digital Orumverso,

Criada por três mulheres negras engenheiras, a Oficina de Inovação e Ancestralidade (OIA) lançou dia 02/08, a plataforma digital Orumverso, que visa a troca de saberes periféricos, a partir de uma ótica ancestral-futurista potencializada pelo uso da tecnologia. A plataforma é uma oportunidade para fazer a conexão em rede para co-criar futuros possíveis, rompendo barreiras territoriais e linguísticas, além de oferecer aos empreendedores negros ferramentas poderosas para superar barreiras históricas e acelerar o crescimento de seus negócios.

Na prática, na plataforma digital é possível se conectar com projetos e negócios de pessoas negras através de e-commerce e até de ferramentas de gestão financeira e marketing digital, por exemplo. Funciona como uma vitrine digital para que empreendedores negros possam exibir seus produtos e serviços, em um ambiente que favorece o movimento de colocar a mão na massa e criar coletivamente projetos, ferramentas e soluções tecnológicas. 

A ferramenta também se destaca pela inovação tecnológica, impacto social e potencial de público, pois proporciona a oportunidade de atingir um vasto mercado no qual o empreendedorismo negro está em ascensão e em busca por inovação e acessos. É ainda uma maneira de ampliar a discussão e o desenvolvimento de ciências e tecnologia que levem em conta características socioculturais e periféricas que, muitas vezes, distanciam a população negra de fazer e produzir tecnologia.

A Oficina de Inovação e Ancestralidade surgiu em 2017, nos corredores da Universidade Federal Fluminense (UFF), onde as três engenheiras se conheceram, formando um coletivo que questionava e movimentava o meio acadêmico, debatendo a temática de tecnologias sociais e ancestrais, além de estimular na periferia discussões e produções afrofuturísticas.
 


Thalita Lopes – Diretora de comunidade da OIA. Créditos: Laís Reverte


O projeto teve apoio do Baobá – Fundo para Equidade Racial que acreditou ser possível a construção da OIA e do projeto Orumverso. Através do Edital Educação e Identidades Negras, lançado em 2022 e com o apoio da Imaginable Futures e da Fundação Lemann, o projeto se apresentou como um esforço conjunto para o enfrentamento ao racismo e a consolidação de práticas de promoção da equidade racial no setor educação 

 Para Karina Karin, diretora de tecnologia da OIA Hub, a Orumverso é uma jornada direcionada e intencional, assim como foram os sete primeiros anos da OIA. Para ela, todo ser humano deve se entender como um ser tecnológico, um ser que produzia tecnologia em um passado escravagista marcado por diversos apagamentos. É necessário que se pense em erradicar essa distância e que se produzam novas tecnologias e saberes a partir das experiências ancestrais e da subjetividade sociocultural da população periférica. Para além disso, Karina Karin, uma das desenvolvedoras, foi selecionada para representar o Brasil no Global Peace Summit, em Nova York, entre os dias 09 e 12 de dezembro de 2024, onde poderá discutir o uso da inteligência artificial e suas aplicações como uma das ferramentas para promover a paz no mundo.

A aplicação de tecnologias sociais pelo Orumverso pode amplificar esse movimento, oferecendo aos empreendedores negros as ferramentas necessárias para prosperar em um mercado globalizado, pois não só apoia o desenvolvimento de negócios negros, mas também serve como um exemplo de como a tecnologia pode ser utilizada para promover a igualdade e a inclusão social.

Para saber mais sobre a plataforma, acesse: OrumVerso.


Educação em Tecnologia: o promissor caminho para a equidade racial

Educação em Tecnologia: o promissor caminho para a equidade racial

Educar para transformar: essa é uma das chaves para fomentar a equidade racial no Brasil. Inúmeras pesquisas, censos e levantamentos comprovam como a falta ou dificuldade de acesso à educação tem sido um dos mecanismos de desigualdade racial no Brasil. Em uma época marcada pela disseminação da tecnologia e digitalização dos processos, lacunas educacionais são ainda determinantes para a qualidade de vida das pessoas.

Um bom exemplo de enfrentamento desse desafio vem do Espírito Santo, onde o Instituto Oportunidade Brasil (IOB) tem desenvolvido um trabalho educacional com forte viés para o digital. O IOB criou o Programa Oportunidade Tech para que, por intermédio da qualificação educacional na área de Tecnologia da Informação, os jovens pudessem entrar e/ou permanecer nos postos de trabalho. 

O instituto foi uma das 16 organizações selecionadas pelo edital Educação em Tecnologia, do Baobá – Fundo para Equidade Racial, que tinha como objetivo apoiar iniciativas e empresas negras que pudessem contribuir, por meio de processos de formação, para a ampliação da capacidade de pessoas negras serem inseridas no mercado de trabalho na área tecnológica.

Mais de um ano após a implementação do Programa Oportunidade Tech, o Fundo Baobá conversou com a diretora do IOB, Verônica Lopes, para saber como estão as atividades e realizações da instituição. 

Que projetos o IOB está tocando que poderão impactar ainda mais positivamente o cenário social no Espírito Santo? 

Em agosto, realizamos o nosso II Fórum, que teve como tema “Educação e Trabalho para Quem? Do Discurso à Ação”. O evento contou com a participação de especialistas e empreendedores locais e nacionais para discutir os desafios e as boas práticas em diversidade, inclusão e combate ao racismo no trabalho e na educação. No dia 29,  tivemos um evento muito especial chamado Inovação Periferia. Nesse evento, os formandos do Oportunidade Tech, após dois anos de intensa dedicação, apresentaram os três aplicativos inovadores que desenvolveram para beneficiar suas comunidades. Recebemos empresários da área de tecnologia, mentores e apoiadores. Além disso, no início do mês, lançamos uma nova turma de Marketing Digital, com o apoio do Instituto Localiza. Em cinco meses, jovens de 15 a 29 anos estarão capacitados a utilizar um celular para criar vídeos, tirar fotos, fazer posts no Instagram, usar o Canva e outras ferramentas digitais. O curso também inclui empreendedorismo e uma trilha de preparação para a entrada no mercado de trabalho.

Dentro da premissa de potencializar as oportunidades para jovens negros alcançarem um futuro promissor, é possível traduzir em números a atuação do IOB? 

Fechamos o ano de 2023 com mais de 1.500 atendimentos a beneficiários. Começamos 2024 com uma jornada formativa em liderança e finanças para mais de 40 mulheres. Atualmente, temos quatro turmas em formação, das quais três são em Tecnologia da Informação.

Recentemente, você ganhou um prêmio dedicado a mulheres empreendedoras que têm contribuído para o desenvolvimento social no estado. Esse reconhecimento a você está relacionado de que maneira ao IOB? 

O prêmio destaca a importância das iniciativas promovidas pelo IOB, evidenciando a relevância do trabalho da instituição na promoção da inclusão e da igualdade racial. Este reconhecimento enfatiza o impacto positivo e a contribuição contínua do IOB para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.

No campo das vitórias pessoais, há nomes de jovens apoiados pelo IOB que podem ser citados aqui? Quem são e o que estão fazendo?  

Maylon Viana ingressou na universidade federal este ano e já está desenvolvendo trabalhos como empreendedor na área de tecnologia. Ele é aluno do instituto desde 2021.

Samyla Santana foi contratada como efetiva ainda enquanto cursava o programa do instituto, tem se destacado muito na empresa em que está atuando. Recebemos vários feedbacks positivos da empresa.

Haynnan Seibert, que se formou em tecnologia no IOB, já atua como instrutor na instituição e como empreendedor na área de tecnologia.

No que esse reconhecimento a você como empreendedora contribui para as atividades do IOB? 

O reconhecimento contribui significativamente para as atividades do Instituto Oportunidade Brasil (IOB) de várias maneiras:

 1. Validação do Impacto Social: Valida a importância e a relevância do trabalho que o Instituto realiza na capacitação e inclusão de jovens negros em situação de vulnerabilidade.

2. O reconhecimento aumenta a visibilidade do IOB e reforça sua credibilidade como uma organização comprometida com a transformação social. Isso pode atrair mais parceiros, patrocinadores e apoiadores

3. O prêmio serve como uma fonte de inspiração e motivação para a equipe do IOB e para os jovens beneficiados pelos programas da instituição. Ele demonstra que o esforço e a dedicação têm um impacto real e podem levar a reconhecimentos importantes.

4. Fortalecimento da Missão do Instituto:  O reconhecimento reforça a missão do IOB de promover a inclusão e a igualdade racial, alinhando-se com os valores e objetivos da organização. Ele ajuda a consolidar o compromisso do Instituto com sua causa e reforça a importância de continuar nosso trabalho transformador.

Primeiros estudantes selecionados pelo programa Black STEM para bolsas de estudo no exterior são apresentados em evento na B3 Social

Primeiros estudantes selecionados pelo programa Black STEM para bolsas de estudo no exterior são apresentados em evento na B3 Social

Em grande celebração, no dia 6 de agosto, o Baobá – Fundo para Equidade Racial e a B3 Social apresentaram os primeiros estudantes selecionados pelo edital Black STEM, voltado para jovens negros e negras brasileiros que alcançaram o objetivo de cursar uma graduação no exterior.  

O Black STEM é uma iniciativa que apoia a presença e permanência de pessoas negras nas áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) em universidades internacionais. No Brasil, pessoas negras (pretos e pardos) constituem 56% da população, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas representaram apenas 36% dos formados em cursos superiores em 2020 e 32% dos formados em STEM. Essas áreas têm uma ligação histórica com a população negra, responsável por importantes desenvolvimentos científicos e tecnológicos. E o programa faz com que essa ligação histórica se perpetue, pois promove formação acadêmica para esses estudantes e contribui para a produção de conhecimento negro dentro da academia global.  

A apresentação de cinco estudantes selecionados pelo programa Black STEM foi feita no auditório da B3 (região central de São Paulo), apoiadora do programa criado pelo Fundo Baobá – Fundo para Equidade Racial, que teve como parceiro a BRASA (Brazilian Student Association). O processo seletivo, composto por quatro etapas, contou com especialistas das áreas de STEM, Psicologia e Educação com diferentes conhecimentos e experiências sobre graduação no exterior. Cada um dos selecionados receberá o equivalente a R$35 mil anuais para cobrir despesas de moradia, alimentação, transporte, entre outros, com a possibilidade de essas bolsas serem renovadas anualmente até a conclusão do curso. 

Celebração do dia 6 de agosto, em que o Baobá – Fundo para Equidade Racial e a B3 Social apresentaram os primeiros estudantes selecionados pelo edital Black STEM


Os selecionados pelo Black STEM foram:  

  • Camila Ribeiro Martins (Vitória, ES): Pilotagem na Escola Superior Náutica Infante Dom Henrique, Portugal. 
  • Diovanna Stelmam Negeski de Aguiar (São Paulo, SP): Ciência da Computação, na New York University (NYU), na China. 
  • Eric Souza Costa Ribeiro (Caieiras, SP): Engenharia Aeroespacial na University of Notre Dame, EUA. 
  • Melissa Simplicio Silva (Rio de Janeiro, RJ): Ciência da Computação na New York University (NYU), EUA.

“O Black STEM é um programa de incentivo financeiro e educacional para adolescentes e jovens negros que desejam estudar ciências exatas fora do Brasil. Esta iniciativa não é um projeto de curto prazo, mas um programa duradouro desenvolvido pelo Fundo Baobá e pela B3 Social. Os resultados do primeiro processo seletivo mostram que estamos no caminho certo. Por isso, continuaremos a investir e a trabalhar para ampliar as perspectivas e horizontes dos alunos de escolas públicas e privadas que promovem a diversidade étnica por meio de ações afirmativas”, celebra Giovanni Harvey, Diretor Executivo do Fundo Baobá. 

A jornalista Adriana Couto fez a condução da cerimônia, transmitindo muita emoção para todos os presentes. Familiares e amigos dos estudantes tiveram a oportunidade de presenciar uma cerimônia recheada de alegria e comemorações. 

As histórias pessoais dos estudantes encantaram os presentes. Camila Ribeiro Martins, por exemplo, decidiu cursar Pilotagem depois de servir por dois anos à Marinha brasileira. “Servi como técnica no Rio de Janeiro e trabalhei em uma ilha. Tive muito contato com embarcações. O sonho de pilotar nasceu ali. Existe uma escola aqui no Brasil. Mas é escola militar e tem limite de idade. Então, as oportunidades existem, mas por vários motivos elas nos são negadas”, disse.     

Diovanna Aguiar se destaca desde a infância. “Amo ler. Aos 11 anos cheguei à marca de 300 livros lidos. Um dia, porém, minha avó me alertou para o fato de eu estar perdendo a corrida da vida. Ela se referia ao fato de eu não estar em uma boa escola. Eu sou de Itaquera e passei a querer estar nas melhores escolas. Entrei na Federal de São Paulo, uma das melhores instituições de ensino que temos. Nem que seja à força, temos que ocupar esses espaços”, afirmou Diovanna.  

Eric Souza começou a demonstrar ser uma criança fora da curva logo cedo. A mola propulsora de sua ida para a Notre Dame University é sua mãe. “Minha mãe, com a cara de pau dela, passou a ir às escolas particulares de Caieiras pedindo uma vaga para mim, sem ter nenhum dinheiro para pagar. Ela conseguiu. Passei a pensar em ser astronauta. Em 2021, fui o primeiro negro a representar o Brasil na Olimpíada Internacional de Ciência”, festejou.  

Melissa Simplicio Silva já está em Nova York e participou do encontro pela internet. Ela afirmou que a experiência como estudante no exterior faz com que enxergue melhor o Brasil: “Quando colocamos o pé para fora, a gente aprende a dar muito mais valor ao nosso país”, revelou.  

Os familiares estavam extremamente emotivos e a fala de Andressa Martins, mãe da estudante Camila, traduziu o pensamento de todos: “Não se trata só do dinheiro para eles permanecerem nesses países. Agradeço muito a isso, mas agradeço muito mais ao suporte. Isso é muito importante e vocês, Fundo Baobá e B3 Social,  estão dando”, concluiu.   

Fabiana Prianti, Head da B3 Social, enalteceu o fato de os estudantes estarem efetuando um resgate. “Vocês estão realizando os sonhos de seus familiares. Precisamos desses talentos negros. Portanto, voltem para o Brasil e assumam seus lugares de liderança”, disse. A fala de Fabiana reforça o que foi dito por Alexandre Moysés Nascimento, diretor de Governança da B3: “Esse é um dia histórico para nós. Celebramos aqui nossas vitórias e honramos os nossos ancestrais. Temos capacidade e competência, o que nos falta são oportunidades. É isso que a B3 quer proporcionar”, falou Alexandre.  

Outro momento de grande emoção foi com as participações do Professor Hélio Santos, membro da Assembleia Geral do Fundo Baobá e Presidente do Conselho da OXFAM, e André Lázaro, membro do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá. Santos exaltou a perseverança dos estudantes: “O maior delito da elite brasileira foi impedir a juventude de sonhar. Não há investimento maior do que investir na juventude. Por isso, ousem! Ousar nada tem a ver com irresponsabilidade. Ousem! Duas mulheres negras deram duas medalhas de ouro ao Brasil nas Olimpíadas de Paris. Então, ousem, porque não queremos apontar apenas os riscos que a população jovem negra sofre. Queremos mostrar as oportunidades que eles têm também”.  

O também professor André Lázaro encerrou o evento dizendo: “Estar aqui hoje é ver mais uma oportunidade. O Fundo Baobá está olhando para as pessoas e para o compromisso que tem com elas. Esse encontro revela compromissos transformadores. O Movimento Negro civilizou o Brasil. Ter a  B3 comprometida com a equidade é um grande passo que a nossa sociedade também tem para dar”, disse. Para os estudantes, Lázaro deixou o seguinte recado: “Não levem com vocês o peso da responsabilidade. Aceitem o direito de errar”, alertou.   

Liderança negra e feminina se destaca por atuação frente às necessidades de mulheres negras após tragédia climática no RS

Saiba como uma liderança negra, do Coletivo Atinúké, enfrentando os desafios impostos por tragédias climáticas e promovendo igualdade racial e de gênero no RS.

Nina Fola é militante do movimento negro, socióloga, produtora cultural e doutoranda em sociologia. Atualmente é a liderança negra que coordena o Coletivo Atinúké – Pensamento de mulheres negras, um grupo de formação que apoia, estuda e fomenta a produção de conhecimento das mulheres negras desde 2016. O grupo surgiu a partir da iniciativa de três mulheres negras acadêmicas que identificaram que as necessidades da população negra e feminina do Rio Grande do Sul não eram consideradas.

Nina Fola é militante do movimento negro, socióloga, produtora cultural e doutoranda em sociologia. Atualmente é a liderança negra que coordena o Coletivo Atinúké. Ela é uma mulher negra de cabelo crespo com luzes loiras e na foto está de óculos de sol e camiseta amarela.
Nina Fola, liderança negra que coordena o Coletivo Atinúké

A atuação do Coletivo, um dos selecionados no edital Educação e Identidades Negras, do Baobá – Fundo para Equidade Racial, vem se destacando com maior incidência e suprindo cada vez mais as necessidades emergenciais da população negra e feminina após um dos maiores eventos climáticos extremos no Brasil, ocorrido em maio no RS. Elas vêm enfatizando o desfavorecimento em termos salariais, profissionais e acadêmicos da população negra que representa 21,19% dos habitantes do estado segundo o IBGE.

Anteriormente a uma das maiores catástrofes climáticas da história do estado do RS, o coletivo atuava principalmente na formação de mulheres negras a partir de leituras e discussões de produções escritas e artísticas de autoria  das mesmas. Atinúké, nome que significa, em Iorubá, “aquela que merece carinho desde o ventre”, faz um resgate ancestral da potencial intensidade do que é o amor, o carinho e a força transmitida no ventre de uma mulher negra. São forças oriundas da resistência ancestral que as fazem enfrentar desafios de uma sociedade patriarcal, racista e misógina.

No levantamento realizado pelo Observatório das Metrópoles de Porto Alegre, pode-se visualizar que um contingente expressivo da população pobre e preta foi afetado durante as fortes chuvas do mês de maio em bairros populosos da cidade, como o Sarandi, na região Norte, nas ilhas e na região metropolitana, a exemplo de Canoas, Cachoeirinha, Alvorada, Gravataí, Sapucaia do Sul e São Leopoldo. A água tomou conta também de praticamente toda a cidade de Eldorado do Sul e Guaíba. 

Nina explica que nos bairros mais afetados, onde o estado não opera prontamente nem os torna visíveis, são as comunidades de quilombo e terreiros que atuam para identificar e amenizar os impactos oriundos das chuvas que impossibilitam a população negra de viver com dignidade e respeito. São também os quilombos e os terreiros que estão na linha de frente acolhendo, monitorando e fornecendo alimentos básicos e moradia para parte dessa população, pois alguns têm medo de ir até os abrigos e serem vítimas de violências raciais e de gênero nesses locais.

Ao relembrar diversos desafios desse cotidiano, Nina afirma que as necessidades que vieram após o evento climático extremo são muito particulares e ao mesmo tempo muito similares às da pandemia de Covid-19, em 2020. Ela relata que a experiência que obteve participando do edital Educação e Identidades Negras a fez conduzir com maestria todas as adversidades impostas pelas fortes chuvas. Para ela, foi de extrema importância vislumbrar o Fundo Baobá, não só como financiador do recurso recebido, mas também pela base sólida de aprendizado e conhecimento que adquiriu com as várias palestras, assessorias e assistências necessárias nesse processo.

Coletivo Atinúké

Nina constatou que as dificuldades das mulheres negras e, consequentemente, da população negra no RS, ficaram muito mais evidentes e são desproporcionais em relação ao restante da população. Os desafios encontrados por esse grupo são maiores, especialmente as mulheres negras, que sofrem com a falta de acesso a abrigos seguros, cuidados médicos, medicamentos, alimentos adequados e a reestruturação de suas vidas, empregos e renda futuros, além de acesso às políticas públicas.

Diante desses fatos, ela questiona a dificuldade em acessar e identificar as políticas públicas necessárias para enfrentar esse momento caótico. Para suprir as necessidades básicas, é crucial ter dados sobre essa parte da população. Atualmente, o possível e viável é atuar nas questões mais urgentes, como fornecer alimentação e moradia para garantir a sobrevivência dessas pessoas.

“Se é interesse político atender a esse público, é fundamental que sejam implementadas medidas afirmativas de urgência, que mobilizem a sociedade civil, mas também a imediata criação de políticas públicas voltadas para a promoção da igualdade racial e de gênero, visando a garantia de direitos fundamentais, financiamentos, oportunidades de emprego e renda, assim como justiça social para as mulheres negras no Rio Grande do Sul”, afirma Nina. Para ela, é essencial uma ação emergencial direcionada a estas mulheres que, ela acredita, vai ter um reflexo positivo para as pessoas. Quando atuam direcionadas, as mulheres negras modificam um contexto social e não somente uma mulher ou uma família.


“Se é interesse político atender a esse público, é fundamental que sejam implementadas medidas afirmativas de urgência, que mobilizem a sociedade civil, mas também a imediata criação de políticas públicas voltadas para a promoção da igualdade racial e de gênero, visando a garantia de direitos fundamentais, financiamentos, oportunidades de emprego e renda, assim como justiça social para as mulheres negras no Rio Grande do Sul”, afirma Nina. Para ela, é essencial uma ação emergencial direcionada a estas mulheres que, ela acredita, vai ter um reflexo positivo para as pessoas. Quando atuam direcionadas, as mulheres negras modificam um contexto social e não somente uma mulher ou uma família.

Siga o Coletivo Atinúké para acompanhar o trabalho que elas realizam: https://www.instagram.com/coletivoatinuke/

Créditos: Arquivo Pessoal

Retrospectiva 2023

O ano de 2023 foi marcante na história do Baobá – Fundo para Equidade Racial. Ao longo dos últimos 12 meses, lançamos editais, firmamos parcerias e aderimos a compromissos cruciais para a equidade racial.

Logo nos primeiros meses de 2023, o Baobá divulgou o resultado do Edital Educação e Tecnologia, que teve como objetivo apoiar organizações e empresas negras que atuassem no desenvolvimento ou ampliação das capacidades técnicas das pessoas negras na área de tecnologia. Com parceria do MOVER – Movimento pela Equidade Racial, foram investidos e destinados R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais) para 16 iniciativas negras de educação em tecnologia. Ainda nos primeiros meses, lançamos uma aliança entre o Fundo Brasil de Direitos Humanos e o Fundo Casa Socioambiental, em que foi possível reunir narrativas sobre os primeiros projetos apoiados pelo grupo em 19 estados brasileiros. O objetivo principal foi apresentar resultados da estratégia inédita no campo da filantropia para justiça social. Os resultados podem ser conferidos no site (aliancaentrefundos.org.br). 

Em março, um dos pontos altos do ano: o primeiro encontro de estudantes e mentores do Edital Já É, que visa favorecer a entrada e permanência de adolescentes e jovens no ensino superior. Os estudantes visitaram a sede do MetLife Foundation, apoiadora do edital,e puderam se conhecer pessoalmente, visto que todos os encontros da mentoria realizada pela MetLife ocorreram virtualmente. Conversas sobre ingresso no mercado de trabalho, habilidades socioemocionais e comportamento foram valorosas para os estudantes.

Outro encontro que vale mencionar foi a primeira reunião presencial com os participantes do Edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial. O encontro ocorreu em Recife e foi uma excelente oportunidade de conhecer os projetos de perto e apreciar as brilhantes iniciativas de enfrentamento ao racismo e valorização da identidade e cultura negra no campo da educação.

Nos meses de abril, maio e junho o Baobá participou do 12º Congresso GIFE – “Desafiando estruturas de desigualdades”, do Fórum Interconselhos para construção do Plano Plurianual Participativo (PPA) e do evento que reuniu B3 Social e  Pacto de Promoção da Equidade Racial para discutirmos sobre Investimento Social Privado. Ambos foram uma ótima oportunidade para reconhecer as raízes da desigualdade e intervir em favor de oportunidades justas, para que o desenvolvimento seja pleno em sua forma individual, social, econômica, cultural, ambiental e política, como ressalta a diretora de Programas do Baobá, Fernanda Lopes.

Outro ponto alto desse ano foi o fortalecimento de uma instituição centenária que nos ensina, através do seu legado, como fazer filantropia negra no Brasil: a Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD), importante instituição que esteve à frente das principais conquistas da população negra brasileira, recebeu uma doação de R$ 500 mil do Baobá – Fundo para Equidade Racial. “Esta é a primeira vez que o Baobá decide, politicamente, sem edital, fazer uma doação e faz isso com dinheiro próprio. Dinheiro gerado pelas operações do Baobá, que nos propiciam fazer uma doação expressiva”, relata Giovanni Harvey, diretor executivo do Fundo. 

Em 2023 o Baobá aderiu ao Compromisso Internacional da Filantropia sobre as Mudanças Climáticas (International Philanthropy Commitment on Climate Change), movimento global liderado pela WINGS, formado por organizações filantrópicas dedicadas a discutir soluções para os desafios climáticos que a humanidade enfrenta, mas que atinge de maneira desproporcional as populações mais vulneráveis. Desta forma, o Baobá honra seu objetivo por uma vida com dignidade e por um desenvolvimento econômico justo para a comunidade negra. 

Juntamente com a Rede Comuá, o Baobá participou também do movimento dedicado a refletir sobre os contextos e práticas das filantropias comunitárias e de justiça socioambiental, o Mês da Filantropia Que Transforma, na qual foi realizada a live “Transformando com Propósito: Medindo o Impacto na Filantropia Negra”, com o  objetivo de contextualizar as diferentes práticas da filantropia, discutir como a medição de impacto fortalece iniciativas sociais, além de compartilhar as experiências vividas e alcançadas pelo Baobá.

O último trimestre do ano coincidiu com a finalização do projeto Saúde Mental Quilombola; Direitos, Resistência e Resiliência com a exibição de um minidocumentário em Oeiras do Pará, com a participação da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), Coordenação Estadual das Associações de Comunidades Remanescentes de Quilombo (Malungu/Estado do Pará) e a Associação das Comunidades Remanescente de Quilombo de Igarapé Preto à Baixinha (ARQIB). O audiovisual idealizado pelo Baobá e executado pela Negritar Produções traz reflexões dos quilombolas no que diz respeito a um resgate de autoconhecimento, empoderamento e identidade racial.

A finalização do Edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça,  em outubro de 2023, também proporcionou ao Fundo Baobá  a premiação com o Selo Direitos Humanos e Diversidade,  da Prefeitura de São Paulo. O selo é um reconhecimento anual a iniciativas de empresas privadas, órgãos públicos, organizações da sociedade civil e coletivos de todos os portes que promovam e defendam os direitos humanos e a diversidade na cidade de São Paulo. Para Tainá Medeiros, coordenadora de Programas, a premiação não só demonstra a necessidade de promover ações semelhantes no campo da filantropia, mas também evidencia a carência e necessidade de ampliação de políticas públicas que garantam a interrupção dessas violações de direitos. Além da premiação, o Baobá finda o ciclo do Edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça com um minidocumentário com depoimentos de representantes de algumas das organizações beneficiadas. 

O ano também foi marcado pelo fortalecimento da parceria entre o Baobá e o Mover, que juntos lançaram o Edital Carreiras em Movimento. Ele visa ampliar o acesso de pessoas negras ao mercado de trabalho, através de atividades voltadas para o desenvolvimento ou ampliação de habilidades socioemocionais e comportamentais. Os selecionados foram prioritariamente pessoas negras, com 18 anos ou mais, ensino superior concluído até 2019, e que atuassem ou desejassem atuar nos setores privado, público ou terceiro setor. Além de estarem no início de suas carreiras profissionais ou buscando mobilidade na carreira, incluindo transição ou ascensão. 

Olhar o passado para direcionar o nosso futuro é uma das ferramentas mais utilizadas pelo Baobá no decorrer desses 12 anos de existência. E é assim que chegaremos em 2024, dispostos a observar os aprendizados e experiências do que foi esse 2023.

Fundo Baobá faz primeiro encontro presencial com participantes do Edital Educação e Identidades Negras

Entre os dias 24 e 26 de agosto, o Baobá – Fundo para Equidade Racial, proporcionou um momento valioso para os projetos apoiados no  Edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial, na cidade de Recife. Nesses dias aconteceu o primeiro evento presencial com as instituições selecionadas, que teve como objetivo proporcionar um espaço único para compartilhar experiências, aprendizados, avanços e os próximos desafios de cada projeto. 

Ao todo foram 12 organizações, grupos e coletivos selecionados, de oito estados brasileiros mais o Distrito Federal. Cada  um recebeu R$ 175.000,00 de apoio financeiro para a implementação de projetos de enfrentamento ao racismo e valorização da identidade e cultura negra no campo da educação, além de aumentar a representação de pessoas negras dentro da esfera educacional formal e não formal. O edital é uma parceria com a Imaginable Futures e Fundação Lemann e integra o Programa de Educação e Equidade Racial do Fundo Baobá.

O Edital Educação e Identidades Negras reforça o compromisso do Fundo Baobá com a educação antirracista do país e a cobrança no cumprimento efetivo da lei 10.639/03, que determina o ensino da história e cultura afro-brasileira na educação básica. Ao todo são 20 anos da lei 10.639, os desafios são inúmeros e os avanços escassos. Muitas instituições não cumprem a designação da lei por falta de formação, compromisso político ou até mesmo desconhecimento da obrigatoriedade. A implementação da lei é uma oportunidade ímpar para ampliar o debate sobre reconhecimento, justiça, desenvolvimento, memória e transformação social. A ausência de monitoramento e avaliação por parte das autoridades estaduais e municipais de educação, reitera o descompromisso com o enfrentamento ao racismo e com o exercício dos direitos da população negra, afirma a diretora de programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes.

Durante o encontro, as instituições tiveram a oportunidade de se conhecer melhor através de dinâmicas simples, mas que carregavam em si uma memória materializada em palavras e objetos que representavam a história e o legado de cada uma das organizações. Essas trocas fomentaram um olhar mais atento sobre os desafios vividos nas unidades escolares formais, sobre a necessidade de  aprimoramento e/ou implementação de novas propostas pedagógicas, capazes de fazer dialogar o formal e o informal na educação. Segundo Dinho Paciência, representante do Movimento Nação Marabaixeira, o Baobá é muito mais que uma instituição financeira: é um mecanismo de antecipação de propostas que só aconteceriam a longo prazo. 

Para Fernanda Lopes, diretora de Programa do Baobá, “Transformar as manifestações culturais negras, as práticas tradicionais de ensino e aprendizagem, em algo que o sistema formal reconheça e incorpore, é uma das maneiras de contribuir para  a construção de uma sociedade democrática”. Para ela, o Edital Educação e Identidades Negras é um marco, pois ele reitera a necessidade de produzir e divulgar conhecimentos e práticas negras populares, tradicionais e eruditas, ao mesmo tempo em que promove  novas atitudes e valores, pautados nos direitos humanos e na pluralidade étnico-racial, que devem permear  toda e qualquer ação educativa. Além disso, Fernanda destaca o fato de as instituições donatárias reconhecerem que a atuação em rede será um grande diferencial, reforçando o que, para o Fundo Baobá, é um indicador de sucesso, as parcerias estabelecidas entre donatários como estratégia de enfrentamento ao racismo, resistência e resiliência em todas as áreas de atuação. 



Investiga Menina!: Produção de Mulheres Negras nas Ciências

Por Mariane Euzebio

Segundo o Censo da Educação Superior de 2019, mulheres ocupam menos de 15% das cadeiras universitárias em todas as áreas pesquisadas. Dos jogos digitais às engenharias, os homens sempre representam mais de 85% entre o total de estudantes. Além das disparidades no que diz respeito ao acesso nas universidades, a visão ainda reforça a hegemonia colonial de compreender o mundo. As mulheres participam em praticamente todas as grandes áreas do conhecimento, porém são, em sua maioria, nas áreas ligadas ao cuidado e minoria nas áreas de ciências. 

No artigo “A relação entre as discussões de gênero e o ensino de ciências: a criação de um grupo de pesquisa no ensino médio”, a autora Paloma Santos afirma que não se discute a mulher em sala de aula, não se dá visibilidade às questões pertencentes ao feminino, nem a influência e participação de mulheres nas ciências, na sociedade, nas artes, nas religiões e na vida. A química, a física e a matemática são reafirmadas, principalmente pela prática dos educadores, como essencialmente masculinas.

Para mudar essa situação, foi criado o Projeto Investiga Menina!, do Coletivo Negro(a) Tia Ciata. Ele surgiu dentro da UFG – Universidade Federal de Goiás em 2009 a partir de uma demanda social para inserir mais meninas negras, sobretudo periféricas, dentro das carreiras de Ciências, Exatas e Tecnologias.  Seu objetivo principal é desenvolver propostas pedagógicas buscando estabelecer o diálogo entre o corpo feminino negro e o conhecimento químico, de modo a contemplar o Ensino de Ciências, Exatas e Tecnologias a partir de uma matriz cultural não eurocêntrica, pois ainda há uma norma colonizadora, branca e masculina nas produções científicas. 

O projeto enfatiza a urgência de cultura africana e afro-brasileira nos ensinos de Ciências, Exatas e Tecnologia, pois acreditam que quanto mais diverso e plural, elas conseguem aumentar o número de modelos de produção de ciências e respostas que podem dar para a sociedade brasileira. Por esse motivo, o Projeto Investiga Menina! foi um dos contemplados no Edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial, que faz parte do Programa de Educação e Equidade Racial do Fundo Baobá,  apoiado pelas instituições Imaginable Futures e Fundação Lemann. A intenção principal do edital é a promoção ao enfrentamento ao racismo no campo da educação, a valorização da identidade e cultura negra no segmento educacional, além do fortalecimento das lideranças e o aumento da representação de pessoas negras dentro da esfera educacional.

A instituição selecionada recebeu um aporte de R$175 mil, e segundo Anna Benite, coordenadora do Projeto Investiga Menina!, foi uma parceria bastante significativa, pois deu a possibilidade das atividades serem executadas, além de poder ter vivenciado um diálogo franco e aberto com o Fundo Baobá.

“Transformar esse modelo significa atuar diretamente no investimento dos currículos. Se a gente vê dentro dos modelos de produção, na própria difusão do conhecimento científico, a gente vai estar investindo em novas janelas de futuro.” afirma Anna Benite.

O projeto Investiga Menina! vem desenvolvendo ações no decorrer de 2023 com o aporte recebido do Fundo Baobá e segue proporcionando novos olhares no que contempla o ensino de química brasileiro. A profa. Dra. Simone Maria de Moraes, que foi estudante de escola pública de periferia, afirma que vem conseguindo desenvolver novas práticas em suas aulas de matemática abordando os jogos africanos e outros elementos da cultura africana. Dessa maneira é possível transmitir a herança ancestral dentro da sala de aula e o fortalecimento da utilização da Lei 10.639/03, que estabelece o ensino obrigatório da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental até o ensino médio.

Ainda este ano, no mês de setembro, o Projeto Investiga Menina! realizará o III Colóquio Ensino de Ciências para as relações Étnico-raciais: Políticas de Ações Afirmativas. A coordenadora Anna Bennite afirma que essa também será uma das consolidações sólidas para a continuidade e crescimento do projeto. Ela acredita que, uma vez que semeamos na Educação Básica, teremos um futuro melhor de pais com o olhar de cientistas negras.

Edital Educação em Tecnologia: Resultado da segunda fase é divulgado

Edital Educação em Tecnologia: Resultado da segunda fase é divulgado

O Baobá – Fundo para Equidade Racial divulga nesta quarta-feira (5), a relação de empresas e organizações escolhidas para a etapa final do edital Educação em Tecnologia. A iniciativa tem como objetivo oferecer suporte a negócios e organizações negras que atuam na expansão ou desenvolvimento das habilidades técnicas de indivíduos negros na área de tecnologia. A iniciativa conta com a parceria do MOVER (Movimento pela Equidade Racial) e investimento no valor de R$4.000.000,00 (quatro milhões de reais) que serão destinados a apoiar até 16 iniciativas.  A lista final será divulgada em 26 de abril.

Nesta segunda fase 8 propostas, entre 17 analisadas, foram validadas e seguem para a terceira e última etapa do programa. Para conferir a lista completa com os selecionados para a terceira fase do edital Educação em Tecnologia clique aqui.

É importante ressaltar que os projetos selecionados receberão um aporte financeiro que pode variar de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais) a R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), além de assessoria e suporte técnico para o desenvolvimento e fortalecimento institucional. Estão sendo valorizadas as propostas que venham de organizações e empresas das regiões Nordeste e Norte, e que tenham como foco jovens negres periféricos, pessoas com 40 anos ou mais, população LGBTQIAP+, pessoas com deficiência, jovens em cumprimento de medida socioeducativa, pessoas egressas do sistema prisional, migrantes e refugiados africanos ou afrodescendentes, população quilombola, ribeirinha ou outras comunidades tradicionais. Saiba mais sobre o programa aqui

Sobre o Fundo Baobá:

O Fundo Baobá para Equidade Racial é o primeiro e único fundo patrimonial dedicado, de forma exclusiva, à promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. Criado em 2011, o Baobá é uma organização sem fins lucrativos cujo objetivo é  mobilizar pessoas e recursos, no Brasil e no exterior, para apoiar projetos e iniciativas negras para o enfrentamento ao racismo e a promoção da equidade racial. 

Sobre o Mover:

Com o objetivo de extinguir a desigualdade e o racismo no mercado de trabalho, um grupo de empresas com atuação em vários setores da economia juntou-se para criar ações de promoção da diversidade, da equidade e da inclusão. Esse foi o início do Mover (Movimento pela Equidade Racial), que atualmente agrupa 47 empresas que proporcionam postos de trabalho para 1,3 milhão de pessoas. 

Trilhando caminhos de aprimoramento, transformação e igualdade com a Educação 

          Organizações apoiadas pelo edital Educação e Identidades Negras promovem ações para impulsionar a equidade racial na educação

         Por Wagner Prado

No início de dezembro de 2022, o Fundo Baobá para Equidade Racial divulgou a lista de organizações selecionadas para serem apoiadas pelo edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial. A iniciativa, estabelecida em parceria com a Imaginable Futures e a Fundação Lemann, aportou R$ 2,5 milhões para incentivo financeiro a 12 organizações de oito estados brasileiros mais o Distrito Federal. O objetivo: enfrentar o racismo na educação, promovendo políticas, ações e programas que passem pelas esferas governamentais e não governamentais; valorizando as culturas e identidades negras e fazendo crescer o número de negres, negros e negras na educação formal e não formal. Cada uma das organizações está recebendo R$ 175 mil para o desenvolvimento de seus projetos, que terão 18 meses para serem implantados. 

Na busca pelo objetivo a ser alcançado, o que as organizações almejam é que ocorra o cumprimeto das Leis 10.639/2003  e 11.645/2008 (que tornam obrigatório o ensino da História e Cultura Africana e Afro-Brasileira no currículo escolar); que a perspectiva racial seja introduzida dentro do sistema socioeducativo; que ocorra o incremento do número de mulheres negras em cursos de pós-graduação; que ocorra o incremento do número de pessoas negras na docência universitária; maior engajamento e fortalecimento de lideranças juvenis negras com a temática educacional; uso ampliado da tecnologia em territórios periféricos e comunidades tradicionais como forma de combate ao racismo.   

Abaixo, algumas das organizações selecionadas compartilham suas experiências sobre os benefícios que essa jornada de aprendizado, desafios e soluções tem trazido para elas.

Como ser contemplado com o aporte financeiro de R$175.000,00 potencializa a atuação da sua instituição?

Dario Junior (Afoxé Ómi Nile Oginja): Ser contemplados com esse valor é termos a oportunidade de realizar a nossa missão, dentro da visão de mundo de um coletivo negro, e isso nos dá tranquilidade. 

Dario Junior – Diretor presidente do Afoxé Ómi Nile Oginja

Quais são os investimentos que vocês pretendem fazer na organização e nas suas lideranças para fortalecer as capacidades institucionais? 

Igo Ribeiro (Anpsinep – Articulação Nacional de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadores): Os investimentos serão voltados para atividade presencial de imersão institucional, na qual serão realizadas avaliações de processos, revisão do planejamento estratégico e da teoria de mudança.  A imersão institucional nos dará pistas dos novos desafios a serem enfrentados.

Igo Ribeiro, Coordenador geral da Anpsinep

Vocês já haviam recebido recursos para este fim?

Irailda Leandro de Carvalho (Quilombolas do Mundo Novo): Não. Nunca conseguimos antes, apesar de termos tentado. Esta é a primeira vez que aprovamos um projeto em edital. As desigualdades entre os cidadãos brasileiros têm cara e cor. Em uma fileira nós lutamos por política pública que nos atenda com dignidade. Pois o Estado deveria colocar, igualitariamente, em seu guarda-chuva, educação, moradia, acesso à terra, assistência, saúde e trabalho para todos, como diz a Constituição dita “cidadã” de 1988. Como retrocedemos nesse processo de conquistas visivelmente, nesses últimos anos corremos atrás de todas as possibilidades que surgem,  para driblar o sistema e acessar esses recursos para investir no desenvolvimento das nossas comunidades.

Qual a importância de contar com esse tipo de apoio?

Nina Fola (Coletivo Atinuké): A importância é de ser incentivada e fazer com que a gente acredite ainda mais na nossa proposta. Quando a gente passa um edital desses, é uma malha fina. Tantas outras organizações, algumas muito experientes, e a gente é selecionado, a gente acredita que o nosso projeto faz sentido para outras pessoas. Então, é uma importância que nos fortalece de dentro para fora. 

Nina Fola – Coletivo Atinuke

Quais são as mudanças esperadas com a realização do projeto, nas pessoas, no território, nas comunidades onde vocês irão realizar as atividades?

Lizia Celso (Movimento Nação Marabixeira): Através do desenvolvimento das atividades espera-se que o Movimento Nação Marabaixeira consiga alcançar mais comunidades e pessoas, para que estas conheçam e se reconheçam na cultura do Marabaixo na prática, através da realização de palestras, no movimentar da dança, no aprendizado da musicalidade e do ritmo.

Como tem sido a experiência dos integrantes da coordenação com esta fase de preparação para o início do projeto?

Almerinda Cunha Oliveira (Mulheres Negras do Acre): as experiências estão sendo boas, mas muito trabalhosas. por mais que eu seja da educação, do fórum, do movimento negro e sindicalista, há muitos anos, estou com dificuldade de colocar as ideias na planilha, nas propostas, para que os que vão nos financiar entendam quais são nossas ideias. Foi dentro dessa assessoria e formação do Baobá que percebemos que nós precisamos contratar uma assessoria para elaboração do planejamento estratégico. Acho que essa formação do Baobá tem sido muito interessante e muito importante. Quando terminarmos esse projeto, seremos outras pessoas. 

Almerinda Cunha Oliveira, coordenadora geral da Associação Mulheres Negras do Acre

Programa Já É tem dia de celebração com o  encontro entre estudantes e mentores 

Mentoria foi exercida por colaboradores da MetLife, apoiadora do Fundo Baobá na iniciativa do programa

Por  Wagner Prado

Um dia de celebração. Essa foi a tônica do encontro que reuniu na tarde de segunda-feira (27/02) estudantes do Programa Já É com suas mentoras e  mentores. O Programa, que está em seu segundo ano de realização, é uma iniciativa do Fundo Baobá para Equidade Racial com apoio da MetLife Foundation. O Já É foi iniciado em 2021 com o suporte de outros parceiros. O trabalho de mentoria individual começou em setembro de 2022 e foi todo feito por colaboradores e colaboradoras da MetLife, que se voluntariaram para dar um direcionamento sócio-educacional aos estudantes. 

O objetivo é aumentar as chances dos estudantes do ensino médio afro-brasileiro de ter acesso ao ensino superior e conseguir melhores oportunidades de emprego. Essa proposta  integra a estratégia de sustentabilidade do Programa Já É para fornecer até 50 bolsas de estudo de um curso preparatório para o vestibular.vestibular..

O encontro na sede da MetLife Brasil, no Brooklin Novo (zona sudoeste de São Paulo), foi pautado por muita emoção. Jovens do Já É e seus mentores e mentoras não se conheciam pessoalmente. Os encontros entre eles aconteceram todos de forma virtual. Cada sessão tinha duração de 1 hora e poderia ser quinzenal ou mensal, dependendo do acordo estabelecido entre mentores e mentorados. As conversas foram pautadas por temas como: ingresso no mercado de trabalho, habilidades socioemocionais e de comportamento, carreira e projeto de vida. Isso fez com que a aproximação entre eles se fizesse grande. 

Estudantes do Já É reunidos com seus mentores no escritório da MetLife

Um dos muitos casos de grande empatia ocorreu entre o gerente de treinamento Marcelo Fares e a estudante Flavia Martins de Santana.  “Ela me trouxe experiência de vida, mesmo eu tendo 55 anos e ela bem menos. Quando a mentoria começa, a gente pensa que só vai ofertar. Mas é impossível entrar em uma sala de aula e não sair com um conhecimento novo”, afirmou Fares. O mentor fez questão de reiterar algo que já havia reforçado para a mentorada nos encontros: “Se ela tiver foco, vai voar longe. Algumas coisas do paralelo a gente tem que deixar de lado para colocar os sonhos em prática”, afirmou o mentor.

A estudante Thauany Aniceto de Souza, 27 anos, está cursando Enfermagem nas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Antes da chegada ao prédio da MetLife, sua expectativa era por conhecer seu mentor, Alvaro Lucas Gondim.  Thauany é mãe-solo de uma menina. Segundo ela, desde o início do contato, Alvaro mostrou-se compreensivo e entendedor das preocupações que a cercavam. “Sou preocupada com o meu futuro e com o da minha filha. Sei que o futuro dela será outro quando eu concluir um curso superior. Quero mostrar que é possível. Preciso estudar e trabalhar por mim e pela minha filha”, disse. Alvaro Gondim procurou definir a conexão entre ele e Thauany. “Ao certo, não sei dizer. Foi algo emotivo. Senti que eu precisava estar mais próximo dela. Eu não passei pelas mesmas coisas que ela passou e passa. mas consegui ouvir muito dela. Daí, passou a ser uma relação facilmente construída”, afirmou Gondim. 

Mentor Álvaro Gondim e sua mentorada, Thauany de Souza

Edna Alcântara, colaboradora da MetLife há 17 anos, fez sua primeira incursão na área de mentoria a partir da proposta apresentada pelo Fundo Baobá. Formada em Turismo, ela tem seu próprio histórico com relação à chegada ao curso superior. Somente após 10 anos da conclusão do Ensino Médio foi que ela decidiu cursar uma faculdade. “Minha família tinha poucos recursos e estudo. Eu sabia que não podia perpetuar aquilo. Fui fazer Turismo na Universidade de Santo Amaro (Unisa)”, afirmou.  Edna fez a mentoria de Karina Leal de Souza, aprovada em 2022 para o curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP). “Gostei dela por conta de ter ido buscar um curso superior dez anos após ter feito o Ensino Médio. Senti que tinha o que aprender com ela”, disse Karina. 

A gerente de Comunicação Interna e Responsabilidade Social da MetLife Brasil, Thais Catucci, fez questão de salientar que o futuro das e dos estudantes do Já É poderia estar ligado à empresa para além do Programa. “Nosso papel aqui é olhar para as oportunidades internas e ver se ocorre o fit (encaixe), colocando alguns desses estudantes para trabalhar com a gente”, disse. Dirigindo-se em específico aos colaboradores presentes e que faziam parte do departamento dos Recursos Humanos, Thais Catucci foi enfática: “Peço ao nosso setor de RH que fique atento!” 

Thais Catucci – Gerente de Comunicação Interna e Responsabilidade Social da MetLife Brasil

O dia foi tão especial que também celebrou duas novas conquistas. Com a divulgação das notas do Sistema de Seleção Unificada (SISU), os estudantes Isabella Alcantara, 19 anos, e Eduardo Souza comemoraram, respectivamente, suas entradas no curso de Psicologia da Universidade Estadual Paulista (UNESP) e Educação Física na Universidade de São Paulo (USP). A conquista de Isabella e Eduardo reafirma o que foi dito pela diretora de Programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes: “Cada vez que a gente se movimenta, a gente se transforma”. O Programa Já É é uma forma de promover o desenvolvimento, o movimento das pessoas e sua transformação. 

Conversa com donatárias (os): Evidências da importância do Fundo Baobá na realização de sonhos

Por Ingrid Ferreira

Começar um novo ano é sempre um momento  de relembrar o que foi feito no ano que se passou e desenhar as perspectivas do que está por vir e, dentro de uma organização como o Fundo Baobá para Equidade Racial, isso não poderia ser diferente.  

A missão do Baobá de mitigar os impactos do racismo, ampliando oportunidades para o desenvolvimento da população negra, impõe à instituição uma atuação diversa, que vai do apoio a jovens estudantes para o acesso e permanência em universidades e organizações quilombolas em defesa de terra, direitos, renda, saúde e desenvolvimento sustentável. Apoio a organizações, grupos, coletivos, movimentos que atuam no enfrentamento ao racismo religioso e às injustiças raciais no sistema criminal até as pessoas negras que empreendem.  Compreender como, por meio de diferentes editais, o Fundo Baobá contribui para promover mudanças individuais e coletivas no ano que se findou, influenciando o presente e o futuro, é o objetivo desta matéria.  

Confira as entrevistas com donatárias e donatários dos editais Negros, Negócios e Alimentação; Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial e Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça, que foram lançados ou que tiveram sua execução iniciada em 2022.

Conte para nós sobre o seu negócio. 

Edital  Negros, Negócios e Alimentação

Rivaneza Silva – Dona Terra 

Rivaneza Silva – Dona Terra – Recife/PE

Somos a Dona Terra, produzimos alimentos fermentados com uso de técnicas ancestrais para enriquecimento nutricional e conservação dos alimentos, como a kombucha, requeijão vegetal fermentado, mel e melitos, iogurtes naturais, biomassa de macaxeira.

Manoelly Vera Cruz – Mamê Comidinhas 

Manoelly Vera Cruz – Mamê Comidinhas – Paulista/PE

MaMê surgiu em 2017, da necessidade de obter uma renda e participar da educação de meus filhos de perto. Começamos eu e Gabriel, meu filho mais velho, vendendo Brownies e bolos, depois seguimos acompanhando o calendário das festas e participando de feiras e eventos na região metropolitana do Recife. Atualmente a produção e administração da empresa é toda feita por mim. Confeccionamos itens da confeitaria tradicional pernambucana, entre outros produtos doces e salgados sob encomenda ou personalizados para venda em feiras e eventos.

Marileide Alves de Lima – Xêro Café e Arte 

Marileide Alves de Lima – Xêro Café e Arte – Olinda/PE

Trata-se de uma cafeteria que tem como proposta trazer um cardápio de comida afetiva, café especial e atendimento humanizado. Costumo dizer que a cafeteria Xêro Café é um lugar de carinho e afeto.

Isamara Costa Cruz – Acarajé da Tia Joana 

Lucivânia (tia Joana) – Fundadora do Acarajé da Tia Joana  – Recife/PE

O Acarajé da Tia Joana é uma empresa familiar, localizada no bairro da Madalena no Recife. Ele foi fundado há mais de 20 anos pela minha mãe Lucivânia (mais conhecida como tia Joana), na praça da Várzea. Força inspiradora para que eu conquistasse espaços que antes eu achava que não poderia. Mulher negra, recém separada e com dois filhos para criar. Após uns 4 anos, ela recebeu um convite para se mudar para o bairro da Madalena, onde trabalhou mais de 15 anos sozinha. Em 2018, perto de concluir a graduação em Engenharia de Produção, decidi aplicar meus conhecimentos para continuar o legado de minha mãe.

Maria da paixão de Brito – Capibaribe Doces e Salgados 

Maria da paixão de Brito – Capibaribe Doces e Salgados – São Lourenço da Mata/PE

O meu  projeto  é o Capibaribe  Doces  e Salgados. Começou  com a venda de lanches  na  rua, mas logo as solicitações de encomendas passaram a ser feitas, então a partir desse desejo dos meus clientes, eu fui me aprofundando  e estudando para  oferecer  o serviço  e atualmente trabalho inclusive com serviços  de buffet.

Conte-nos um pouco sobre o seu projeto.

Edital Quilombolas em Defesa

Vanusia Santos – Associação Comunitária dos Moradores das Comunidades de Carrapicho, Mutuca, Sítio Dos Pereiras e Capão

Vanusia Santos –  A Casinha do Licuri – Piatã/BA

A ideia do Projeto A Casinha do Licuri surgiu nas atividades de Cartografia Social realizada na comunidade. O projeto foi escrito com objetivo de valorizar o trabalho das mulheres quilombolas, aumentar a renda e gerar autonomia através da produção de derivados do licuri. Durante o ano de 2022, houve oficinas sobre a potencialidade e a viabilidade econômica dos produtos e cozinha experimental. Foi realizado um workshop de empoderamento feminino e, em parceria com o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), realizamos o curso Negócio Certo Rural, que incentivou as mulheres a elaborarem o seu próprio negócio.

Francisca das Virgens Fonseca – Associação Comunitária De Desenvolvimento Do Candeal II

Francisca das Virgens – Feira das Marias – Feira de Santana/BA

O projeto Feira das Marias tem como principal objetivo fortalecer e fomentar a produção de alimentos realizada por mulheres rurais quilombolas, visando a autonomia financeira feminina. Dessa forma, com o apoio financeiro do Fundo Baobá se tornou possível a realização da Feira das Marias, que é um projeto comunitário. 

Edital Educação e Identidades Negras

Irailda Leandro de Carvalho – Associação dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo

Irailda Leandro de Carvalho – Educação Quilombola do Mundo Novo para o Fortalecimento da Identidade Negra –  Buíque/PE

Pretendemos com o Projeto “Educação Quilombola do Mundo Novo para o Fortalecimento da Identidade Negra” construir uma proposta pedagógica de educação  quilombola em conjunto com professores quilombolas, que possuem formação superior, mesmo que não estejam lecionando no território atualmente, com a participação dos mais  velhos, as lideranças e jovens da comunidade, estudantes de graduação que fazem parte no núcleo de estudos da Autarquia de Ensino Superior de Arcoverde, e aplicar as atividades no contraturno da escola. A proposta será vivenciada por professores quilombolas em formação e pelas crianças quilombolas que frequentam a escola localizada no território.

Dario Pereira – Associação Cultural de Tradição Afro-Brasileira Afoxé Omô Nilê Ogunjá 

Dario Pereira – Projeto Agogô: o enunciado que faz acontecer – Recife/PE

O “Projeto Agogô: o enunciado que faz acontecer”, é uma iniciativa do Afoxé Omô Nilê Ogunjá, uma associação cultural de tradição afro-brasileira. Em nossa proposta objetivamos a formação da Rede de Vivências Formativas Agogô, sob a perspectiva da Lei 10.639 de 2003, que completa 20 anos de existência (lei que estabelece a obrigatoriedade do ensino de “história e cultura afro-brasileira” dentro das disciplinas que já fazem parte das grades curriculares dos ensinos fundamental e médio), a partir da articulação de instituições inseridas em contextos formais e não formais, que atuam no enfrentamento ao racismo, na comunidade do Ibura (Recife/PE).

Almerinda de Souza Cunha Oliveira – Associação de Mulheres Negras do Acre e seus Apoiadores 

Almerinda de Souza Cunha Oliveira – Educação na Desconstrução do Racismo – Rio Branco/AC

O nosso projeto vem em resposta a nossa luta pela implementação da Lei 10.639 /11.645 (lei que estabelece a obrigatoriedade do ensino de “história e cultura afro-brasileira” dentro das disciplinas que já fazem parte das grades curriculares dos ensinos fundamental e médio). O projeto visa sensibilizar e articular parceiros para a criação dos Fóruns de Educação Étnico Racial nos municípios do Acre. Nosso sonho é combater o racismo, o machismo , a homofobia e a intolerância religiosa através da educação, lutamos por isso desde 2003 através de vários movimentos sindicais, CUT, e hoje através da Associação de Mulheres Negras. 

Qual foi a importância de ter o seu projeto selecionado pelo Fundo Baobá e a execução dele no ano de 2022?

Edital Negros, Negócios e Alimentação

Rivaneza Silva – Dona Terra 

O apoio do Fundo Baobá foi primordial para que conseguíssemos avançar enquanto negócio, nos possibilitou tirar do papel as ideias para melhoria da produção com a aquisição de equipamentos novos e com maior capacidade, contratar uma consultoria para nos orientar nas diretrizes para implementação de uma unidade de beneficiamento e fábrica de Kombucha de acordo com a legislação. E as orientações para gestão de negócios através da jornada formativa que nos fez repensar e buscar reestruturar nosso administrativo e financeiro para que a empresa caminhe de acordo com as metas que planejamos. A formação possibilitou a construção de uma rede de relacionamentos com os demais participantes do Programa, e nos impulsionou na busca por novas parcerias com pessoas e instituições, o que enriqueceu em muito nossa prática e nos possibilitou um novo olhar sobre o negócio.

Manoelly Vera Cruz – Mamê Comidinhas 

Em 2022, devido a algumas dificuldades, eu estava prestes a desistir do negócio. Quando através de amigos, recebi informações sobre o edital Negros, Negócios e Alimentação e me veio a esperança de que dias melhores estavam por vir. A cada etapa que eu passava, pude ter mais certeza que o trabalho tinha que continuar, esse projeto ampliou meus horizontes em vários aspectos. Só o fato de ter sido entrevistada por uma pessoa preta durante a seleção, já me deu uma satisfação e uma sensação de pertencimento, que só confirmavam que o sucesso também nos pertence, me fazendo sentir contemplada mesmo que não chegasse até a etapa final. Toda estrutura do processo formativo, os profissionais envolvidos, poder compartilhar as experiências com os demais contemplados, e tudo que tenho vivenciado, proporcionaram para mim e para o negócio, oportunidades que provavelmente não se apresentariam sem o apoio do Fundo Baobá. Dito isso, não me refiro apenas ao apoio financeiro que é de fato muito importante, principalmente depois do período de pandemia, mas através dessa oportunidade, pude contratar o trabalho de pessoas, seguindo a linha do edital. Priorizando mulheres pretas, pequenos negócios e pessoas da comunidade LGBTQIA+.

Marileide Alves de Lima – Xêro Café e Arte

Foi de grande importância, pois o comércio é um universo que ainda não domino completamente. E com o projeto foi possível fazer uma formação em áreas essenciais para um bom gerenciamento do meu negócio, como a área financeira. Tenho aprendido bastante sobre temas que não tinha muito conhecimento e isso tem me ajudado a organizar minha cafeteria.

Isamara Costa Cruz – Acarajé da Tia Joana 

O Fundo Baobá para o Acarajé tem sido um divisor de águas, o apoio financeiro deu condição ao Acarajé de realizar compras diretamente com fornecedores, pois antes não se tinha em caixa o valor mínimo para efetuar as compras com preço de atacado, o que levou a termos uma margem de lucro maior e, consequentemente, um capital de giro. Além das aquisições com maquinário e utensílios, o que facilita a produção diária dos quitutes. Sem falar do apoio de mentoria que tivemos durante alguns meses, os professores das aulas foram de suma importância para o desenvolvimento e organização da empresa.

Maria da paixão de Brito – Capibaribe Doces e Salgados 

Quanto a ser selecionada pelo Fundo Baobá, está sendo uma grande oportunidade  na minha vida de empreendedora, tanto no investimento  como nas capacitações.

Edital Quilombolas em Defesa

Vanusia Santos – Associação Comunitária dos Moradores das Comunidades de Carrapicho, Mutuca, Sítio Dos Pereiras e Capão 

O Fundo Baobá ter aprovado o nosso projeto em  2022 foi providencial, pois estávamos passando por momentos delicados na comunidade.

Francisca das Virgens Fonseca – Associação Comunitária De Desenvolvimento Do Candeal II 

A seleção do Projeto Feira das Marias, para nossa instituição revela a importância de iniciativas que possibilitem a geração de renda familiar, fortalecimento de organização comunitária e melhor organização na gestão da instituição.

Edital Educação e Identidades Negras

Irailda Leandro de Carvalho – Associação dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo

Eu não tenho palavras que consigam expressar o tamanho da importância de nosso projeto ser selecionado neste edital. E são vários os motivos que me possibilitam dizer o quanto foi, é, e será importante conseguir chegar até aqui. Primeiro, o tema tem a nossa cara porque há alguns anos estamos lutando por educação escolar quilombola no território. Não conseguimos até agora sensibilizar o poder público para acessar esse direito. Segundo, acreditamos que a nossa liberdade acontecerá quando todos tivermos acesso a educação formal de qualidade e específica quilombola para ocupar os postos de poder da sociedade. Terceiro, construir a identidade quilombola das nossas crianças e jovens, passando pelo conhecimento da força e da história dos nossos antepassados. Quarto, a política pública, garantida por lei, demora décadas para chegar até nós,  precisamos sempre procurar outros caminhos e esse edital nos oferece todas essas possibilidades para driblar o sistema, duelar com o racismo institucional e estrutural da sociedade brasileira e oferecer oportunidades ao povo preto quilombola do Mundo Novo, em Buíque-PE.

Dario Pereira – Associação Cultural de Tradição Afro-Brasileira Afoxé Omô Nilê Ogunjá

A nossa instituição vem trabalhando no desenvolvimento de ações educativas que exaltam a cultura, história e identidades negras. Nesse sentido, o projeto contribui para o fortalecimento de ações de enfrentamento ao racismo, articulando grupos coletivos e instituições de educação formal e não formal, empoderando a cultura e identidade afro-brasileira, além de promover a articulação entre instituições, na comunidade do Ibura (Recife/PE). 

Quais são as expectativas para o ano de 2023?

Edital Negros, Negócios e Alimentação

Rivaneza Silva – Dona Terra 

Nesse ano de 2023 a meta é finalizar a fábrica e unidade de beneficiamento, faltam 30% para deixar o espaço estruturado, posteriormente seguir com as licenças e aumentar a produção. Planejamos aumentar nossa presença nas redes, espalhar nossa filosofia e inspirar uma alimentação saudável e consciente.

Manoelly Vera Cruz – Mamê Comidinhas 

Para 2023, além da ampliação do negócio, também pretendo garantir a presença da Mamê Comidinhas na elaboração de ações que estejam ligadas ao incentivo do empreendedorismo preto e/ou indígena e de pessoas da minha comunidade.

Marileide Alves de Lima – Xêro Café e Arte 

As expectativas para 2023 são as melhores possíveis. Tenho certeza que, com o que aprendi até o momento, poderei organizar melhor meu estoque, fichas técnicas de produtos, meu fluxo de caixa, entre outras coisas, além de otimizar meu tempo para alavancar as vendas e me tornar mais conhecida na área de cafeteria. 

Isamara Costa Cruz – Acarajé da Tia Joana 

A expectativa para esse ano de 2023 é que possamos continuar aplicando tudo o que foi adquirido em questão de conhecimento com as mentorias que o Fundo Baobá nos proporcionou e não parar por aí. Ir em busca de mais conhecimentos e novidades para que o nosso negócio venha alavancar ainda mais.

Maria da Paixão de Brito – Capibaribe Doces e Salgados 

E para  o ano de 2023 continuarei trabalhando e crescendo para melhorar cada dia mais a minha vida e da minha família.

Edital Quilombolas em Defesa

Vanusia Santos – Associação Comunitária dos Moradores das Comunidades de Carrapicho, Mutuca, Sítio Dos Pereiras e Capão 

O ano de 2023, com certeza será um ano marcante para o projeto. Agora no mês de janeiro será o lançamento dos nossos produtos “Balai, o licuri da Bocaina”, na feira da VII Jornada de Agroecologia da Bahia. Ainda este ano iremos levar o projeto de lei de preservação da área de licuri para a câmara de vereadores do município de Piatã.

Francisca das Virgens Fonseca – Associação Comunitária De Desenvolvimento Do Candeal II

Para o ano de 2023, estamos com o propósito de aumentar nossas atividades produtivas, ampliando a feira para os formatos virtual e presencial, assim como criar fundos de trocas de produtos da roça, a exemplo de aproveitar as frutas sazonais para fazer polpas, bem como sementes naturais existentes na comunidade. Com isso, objetivamos dinamizar a produção e comercialização da comunidade, proporcionando melhor geração de renda para as Marias do Quilombo.

Edital Educação e Identidades Negras

Irailda Leandro de Carvalho – Associação dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo  

As expectativas são muitas, 2023 será o ano de receber as maiores parcelas do recurso para investir e colocar em prática as principais ações do projeto. O meu principal compromisso será com o sucesso do trabalho.

Dario Pereira – Associação Cultural de Tradição Afro-Brasileira Afoxé Omô Nilê Ogunjá 

Desenvolver nossas ações educativas com estrutura financeira, para materializar produtos e ferramentas que edifiquem a formação de uma rede de produção de conhecimento anti-racista, que constam nas diretrizes da lei 10.639/03.

Almerinda de Souza Cunha Oliveira – Associação de Mulheres Negras do Acre e seus Apoiadores 

Em 2023 pensamos em executar o projeto e consolidar o nosso sonho. Acabamos de realizar a Jornada de Formação em Gênero e Raça em todos os municípios do Acre. Nosso projeto consiste em sensibilizar gestores e movimentos sobre a necessidade da implementação da Lei 10.639 da forma correta, através de ações online e algumas presenciais. Criar parcerias e formar um comitê de criação dos fóruns municipais, realizar um seminário estadual com dois representantes por município, dos que criarem os Fóruns. Nesse processo vamos fortalecer lideranças negras no protagonismo de combater o racismo através da educação. Essa é a nossa luta pela vida e direitos das mulheres.

Tendo a possibilidade de falar em um local acolhedor sobre suas vivências, algumas das pessoas donatárias dos editais sentiram-se à vontade para complementar as suas respostas, falando sobre os seus sentimentos ao participar dos editais do Fundo Baobá. Confira abaixo: 

Edital Negros, Negócios e Alimentação

Rivaneza Silva – Dona Terra 

Gratidão por todo apoio e que mais empresas de sucesso se inspirem em apoiar projetos que possibilitem a transformação na vida das pessoas.

Manoelly Vera Cruz – Mamê Comidinhas 

Quero agradecer a todes envolvides, sejam pessoas ou empresas pela oportunidade, exaltar a organização e estrutura do projeto, que traz para o povo preto, mulheres e pessoas da comunidade LGBTQIA+, a possibilidade de se potencializar e potencializar seus negócios, gerando emprego, renda e a acima  de tudo combater o racismo e o preconceito. 

Marileide Alves de Lima – Xêro Café e Arte 

Quero dizer o quanto fiquei impressionada e satisfeita com o tratamento que recebemos de todos os profissionais que fazem o Fundo Baobá. A atenção recebida, o material disponibilizado, as dicas. O aprendizado que adquirimos vai do campo profissional ao campo pessoal e isso é algo que não tem preço.

Edital Quilombolas em Defesa

Francisca das Virgens Fonseca – Associação Comunitária De Desenvolvimento Do Candeal II 

A partir da realização da Feira das Marias na Comunidade Quilombola de Candeal II, percebemos a importância de atividades como essa para contribuir para o fortalecimento da identidade quilombola. Com isso, notamos a necessidade de ampliar a discussão sobre o reconhecimento do território quilombola para as demais comunidades que compõem o distrito de Matinha, em Feira de Santana, visando o fortalecimento e preservação de todo território quilombola de Matinha.

Conheça as organizações selecionadas e os seus projetos

Por Wagner Prado

Projetos de 8 estados brasileiros e Distrito Federal, representando 12 organizações, grupos e coletivos negros estão selecionados pelo edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial. As organizações selecionadas representam os estados do Acre e  Amapá (Norte); Bahia, Ceará e Pernambuco (Nordeste); Goiás (Centro Oeste); Rio de Janeiro (Sudeste); Rio Grande do Sul (Sul) e o Distrito Federal. Todas, ao longo dos próximos 18 meses, vão desenvolver projetos  que têm como ponto comum o combate ao racismo na Educação. O edital Educação e Identidades Negras: Politicas de Equidade Racial é uma iniciativa do Fundo Baobá, que tem como apoiadores na iniciativa a Imaginable Futures e a Fundação Lemann. 

O enfrentamento ao racismo por meio de políticas, ações e programas governamentais e não governamentais; a valorização da cultura das identidades negras, e o aumento de pessoas negras nos espaços de decisão e poder dentro do setor formal e não formal da educação, são as metas do edital. A Imaginable Futures e a Fundação Lemann, parceiros do Fundo Baobá, fizeram, em conjunto, um aporte de R$ 2,5 milhões no edital para que as 12 selecionadas recebam, cada uma, R$ 175 mil.  O recurso restante será utilizado na realização de atividades formativas, assessoria técnica e reuniões de ajustes. para ajustes e trocas de experiências. Todas essas atividades serão promovidas e coordenadas pelo Fundo Baobá. 

Perfil dos Selecionados

Há uma grande diversidade quando são pinçados os dados que fazem a composição das 12 organizações selecionadas pelo edital. Como dito acima, elas fazem parte de 8 estados brasileiros mais o Distrito Federal. Se formos analisar o tempo de atividade de cada uma, vamos encontrar, 2 (duas) delas já têm mais de 16 anos de atuação (Associação Cultural de Tradição Afro-Brasileira Afoxé Omô Nilê Ogunjá e Pesquisadores e Associação Retratores da Memória de Porteiras); 3 (três) atuam entre 11 e 15 anos (Articulação Nacional de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadores – Anpsinep, Cineclube Bamako e Coletivo Negro(a) Tia Ciatá; 5 (cinco) atuam de 6 a 10 anos (Associação de Mulheres Negras do Acre e Seus Apoiadores, Centro Comunitário de Audiovisual Luiz Orlando, Coletivo Atinúké, Movimento Nação Marabaixeira e Ponto de Cultura Grupo EX 13) 2, finalizando, 2 (duas) estão constituidas e atuam de 2 a 5 anos (Associação dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo e Oficina de Inovação e Ancestralidade). 

Olhando o recorte da influência geográfica, 3 (três) desenvolvem suas atividades de forma nacional; uma concentra seu trabalho em uma região do Brasil; cinco trabalham em seus estados de origem e três especificamente nos municípios em que estão localizadas. Com relação ao perfil do corpo diretivo, oito têm pessoas com 30 anos ou mais no seu corpo diretivo; três têm equilíbrio entre jovens (29 anos ou menos) e adultos (30 anos ou mais) e uma tem corpo diretivo composto por jovens (29 anos ou menos). 

No quesito gênero, os grupos diretivos de nove organizações têm em sua composição diretiva pessoas de grupo LGBTQIAPN+. Três não têm.  Pessoas especiais estão presentes na direção de três organizações. Dez dos grupos selecionados possuem parceiros que os auxiliam em termos financeiros e dois deles têm parceiros pontuais, que dão suporte para ações programáticas. 

Para se habilitarem ao edital as organizações que se inscreveram tiveram que fazer uma análise apurada sobre o que pretendiam propor, além das respostas que serão dadas frente aos desafios previamente mapeados. Em termos de desafios, os seguintes tópicos foram apontados pelas organizações: Logística, transporte e alimentação para profissionais, estudantes e membros; impactos emocionais psicológicos na saúde mental de educadores e estudantes; invisibilidade das mulheres negras nas ciências e tecnologias; negação e desvalorização das identidades e culturas negras e quilombolas; pouca aplicação da Lei 10.639/03 nas ciências exatas e da natureza; falta de ferramentas para efetivação de políticas públicas; falta de ações voltadas para a elevação da autoestima de estudantes; baixa formação de novas lideranças femininas negras que atuam na educação; racismo religioso de educadores e das comunidades ao entorno.   

Vencidas as dificuldades previstas, o caminho leva à busca dos resultados esperados ao final do projeto. E as perspectivas vislumbradas pelas organizações, grupos e coletivos participantes do edital são bem animadoras: Escolas sensibilizadas para implantação da Leis 10.639/2003 e 11.645/2008; perspectiva racial introduzida dentro do sistema socioeducativo; mais mulheres negras na pós-graduação; docência universitária e cargos de alto escalão; parcerias e maior articulação com comunidades e grupos locais; aprendizados dos projetos incorporados pelos espaços de educação; jovens, pais, professores e gestores da educação interessados no terma do projeto; lideranças negras juvenis fortalecidas e engajadas com o tema da educação; metodologias que fortaleçam processos de atendimento, escolarização e escuta; uso da tecnologia ampliado na periferia e em comunidades tradicionais para enfrentar o racismo e fortalecer as identidades negras; jovens negros com uma percepção positiva sobre si e sua comunidade. 

Toda essa interação e desenvolvimento ao longo do projeto são vistas como geradoras de transformações pessoais e institucionais marcantes. Entre elas, foram apontadas as seguintes como focos: Habilidades gerenciais potencializadas; capacidade de intervenção ampliada; aumento do interesse por saberes científicos; fortalecimento das relações; ampliação do engajamento político; qualificação na produção e disseminação de conteúdos e na realização de processos formativos;fortalecimento de nossas relações com comunidades e com nossos parceiros. Tudo isso irá fortalecer no corpo diretivo das instituições o desenvolvimento de habilidades de liderança como:  Comunicação estratégica e assertiva; ação em rede e atuação junto a parceiros; visão crítica e tomada de decisões; cursos e treinamentos técnicos específicos; gestão de tempo e priorização; análise de contextos complexos, mapeamento de atores e riscos. 

As associações, grupos e coletivos selecionados consideram o trabalho com educação fundamental para que questões relativas às diferenças sociais sejam corrigidas, assim como a difusão da cultura negra. A fala de Irailda Leandro, da  Associação Dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo, da cidade de Buíque, em Pernambuco, revela isso: “Só vamos sair desse ciclo de pobreza e desigualdade com Educação”. Carlos Peru, líder do Movimento Nação Marabaixeira, de Macapá, no Amapá, fala sobre uma particularidade do seu estado. “50% da população do Amapá se declara negra. Com a nossa participação nesse edital, vamos chegar ao nosso objetivo de difundir a cultura negra em nosso estado.”

As Organizações e seus Projetos

Para conhecer mais de perto os projetos das organizações selecionadas, acesse este link

Fundo Baobá divulga lista das 12 organizações selecionadas 

Edital tem por objetivo promover o enfrentamento ao racismo na educação e conta com apoio financeiro da Imaginable Futures e Fundação Lemann

Após realização do processo seletivo, o Fundo Baobá para Equidade Racial divulga as 12 organizações, grupos e coletivos negros selecionados para o edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial. Após 181 inscrições e a definição de 83 que passaram para a segunda fase, 24 foram habilitadas à fase final, da qual 12 foram as selecionadas. 

Após análise das 83 propostas válidas, uma equipe  composta por especialistas em educação  e em planejamento, gestão e avaliação de projetos, realizou  40 entrevistas e recomendou 24 propostas para serem avaliadas na etapa final do processo. No dia de hoje (10/11), o Fundo Baobá divulga os nomes das 12 organizações finalistas do Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial. Em princípio seriam 10 organizações, mas a governança do Fundo Baobá decidiu pelo apoio a mais dois projetos. 

Promover o enfrentamento ao racismo na educação, por meio de projetos, programas,  políticas de equidade racial e ações é o foco do edital, que tem apoio financeiro da  Imaginable Futures e Fundação Lemann. O aporte destinado pelas instituições parceiras, em conjunto, é de R$ 2,5 milhões.  As 12 organizações, grupos e coletivos negros selecionados atuam na educação (dentro ou fora de unidades escolares) e têm papel ativo no que se refere ao combate ao racismo. 

Na etapa final de seleção, as propostas passaram pela análise de um comitê composto por especialistas, com larga experiência acadêmica e de ativismo na área de educação em relações étnico-raciais. O apoio financeiro a cada uma das organizações,  grupos ou coletivos  selecionados será de R$ 175.000,00 (Cento e setenta e cinco mil reais) para que implementem seus projetos. O período para realização dos mesmos, que também inclui fortalecimento das capacidades institucionais, será de 18 meses. 

Sobre o Fundo Baobá

O Fundo Baobá para Equidade Racial é o primeiro fundo dedicado exclusivamente à promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. Criado em 2011, o Fundo Baobá é uma organização sem fins lucrativos que tem por objetivo mobilizar pessoas e recursos, no Brasil e no exterior, para o apoio a projetos e ações pró-equidade racial para a população negra. O Fundo Baobá prioriza apoio a iniciativas negras alinhadas a quatro eixos programáticos: viver com dignidade; educação; desenvolvimento econômico; comunicação e memória. A missão do Baobá é o desenvolvimento de uma agenda filantrópica para a promoção da equidade racial para a população negra calcada em valores como ética, efetividade na gestão e transparência. O Baobá faz parte de uma  rede de fundos independentes e fundações comunitárias que realizam filantropia para justiça social – Rede Comuá, e está filiado ao GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas). 

Sobre a Imaginable Futures

A Imaginable Futures é uma organização filantrópica internacional de investimentos orientados pelo impacto social e pela crença de que o aprendizado é a chave para o bem-estar e para a construção de sistemas equitativos e saudáveis. A Imaginable Futures está determinada a mudar os sistemas injustos e a eliminar as barreiras que impedem os alunos, famílias e comunidades de prosperar e alcançar seu potencial máximo. Para isso, colabora com agentes de mudança para resolver desafios de educação complexos e desenvolver soluções que ajudem as comunidades nesse sentido. Com parceiros nos setores público, privado e social no Brasil, na África Subsaariana e nos Estados Unidos, a Imaginable Futures está co-criando soluções em contextos locais, nacionais e globais para alunos de todas as idades. Imaginable Futures é um empreendimento do Grupo Omidyar.

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Sobre a Fundação Lemann

A Fundação Lemann acredita que um Brasil feito por todos e para todos é um Brasil que acredita no seu maior potencial: gente. Isso só acontece com educação de qualidade e com o apoio a pessoas que querem resolver os grandes desafios sociais do país. Nós realizamos projetos ao lado de professores, gestores escolares, secretarias de educação e governos por uma aprendizagem de qualidade. Também apoiamos centenas de talentos, lideranças e organizações que trabalham pela transformação social. Tudo para ajudar a construir um país mais justo, inclusivo e avançado.

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Confira neste link as 12  organizações selecionadas para o edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial, parceria entre Imaginable Futures, Fundação Lemann e Fundo Baobá. 

Baobá na imprensa em Setembro

Por Ingrid Ferreira

No mês de setembro o Fundo Baobá experimentou várias oportunidades na  mídia com a repercussão do edital  Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial, que conta com apoio da Imaginable Futures e Fundação Lemann, sendo notícia no Diário do Amapá, Meio Norte, Folha BV, Tribuna do Norte, Blog Suébster Neri, Blog do Seridó, O Imparcial, Diário da Manhã, G1, Instituto Unibanco, Prosas, O Popular, TV 247, TV Globo, SBT, Correio Nagô e Mundo Negro.

O Fundo Brasil publicou a matéria “Aliança entre Fundos participa do evento de 10 anos da Rede de Filantropia para a Justiça Social”, a Aliança Entre Fundos é composta pelo Fundo Baobá, Fundo Brasil e Fundo Casa e estiveram presentes em uma mesa para compartilhar a experiência de filantropia colaborativa durante o  evento. A Aliança também foi mencionada  em publicação da Revista Filantropia com o seguinte título “Aliança Entre Fundos Apoia Projetos Quilombolas e Indígenas no Enfrentamento da Pandemia da Covid-19”.

E a Câmara Brasileira do Livro e Publish News mencionaram a  Presidenta do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá, Sueli Carneiro, homenageada como Personalidade Literária de 2022 pelo Prêmio Jabuti / CBL, sendo Sueli a primeira Personalidade Literária do Prêmio não proveniente do eixo literatura.

O Baobá também foi mencionado pelo Sonho Seguro e Segs, que publicaram matérias  sobre a parceria entre MetLife  e Fundo  no Programa Já É. O IDIS citou a participação do Diretor Executivo do Fundo Baobá, Giovanni Harvey, na 11ª edição do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais.

Apoiadas do Fundo Baobá:

Em setembro na Coluna Negras que Movem do Portal Geledés, houve a publicação dos seguintes artigos: “Meu voto é para mudar a história e o seu?” escrito por Carolina Brito, “Uma lição de reverência: Iza no Rock in Rio” por Josi Souza e “Mês de Conscientização da dor: uma ação de interesse público” pela autora Evânia Maria Vieira.

Baobá na imprensa em Agosto

Por Ingrid Ferreira

O mês de agosto é o mês da filantropia negra, e o Fundo Baobá esteve fortemente presente na mídia, sendo mencionado por veículos como Yahoo, Valor Econômico, Folha, Jornal Hoje, Crazy Kiwi, Estadão e além de participar  do evento “Mês da Filantropia Negra 2022” do GIFE.

E o Baobá também foi bastante comentado pelo lançamento do seu novo edital Educação e Identidades Negras, que conta com o apoio da Imaginable Futures e Fundação Lemann, sendo notícia no Linkedin da Fundação Lemann, Captadores, Filantropia, Leia Já, Brasil 247, Mundo Negro, Terra, Associação Paulista de Fundações, Observatório do Terceiro Setor, Diário de Petrópolis, GIFE, R7, Correio Braziliense, Folha, Geledés, Escola Aberta 3º Setor, Alma Preta, TV periferia em foco, Gueto Hub do Pará, Fundo iratapuru do Amapá, Exprex Capital, Agência Patrícia Galvão, Programa Integrar +, Jornal de Brasília, Diário da Manhã, Notícias São Sebastião, Folha de BV e Voz das Comunidades.

O Fundo promoveu em Recife (PE) uma Jornada Formativa para empreendedorxs do edital Negros, Negócios e Alimentação, ganhando destaque nos veículos Revista Afirmativa, Folha de Pernambuco, UOL, Notícia Preta e Brasil 247.

O UOL publicou a matéria “Entidade busca na Justiça ação bilionária de reparação pela escravidão”, e mencionou a Diretora de Programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes, que integrou o encontro em que a pauta foi discutida, a Diretora também foi mencionada na publicação “Escola Nacional de Saúde Pública celebra 68 anos” da Fio Cruz

E o Diretor Executivo do Fundo, Giovanni Harvey, palestrou no evento “Ibase e ABIA realizam homenagem a Betinho” divulgado pela Abong e Brasil de Fato, sendo mencionado também pela Latam Journalism Review e o 17º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo ao ter participado do painel “Longa vida ao jornalismo independente: mas quem pagará por ele?”.

Em sua matéria “Instituto Unibanco Apresenta Sistema de Gestão para Equidade Racial nas Escolas na Semana de Inovação 2022”, o Instituto Unibanco relembrou o Edital Gestão Escolar para a Equidade – Juventude Negra em parceria com o Baobá.

Apoiadas do Fundo Baobá:

Na coluna Coletiva Negras que Movem do Portal Geledés foi publicado o artigo “Quase um ano depois, servidora negra exonerada pela UFPE não reaveu cargo e relata meses de incertezas e vulnerabilidade”, escrito por Nívia Tamires de Souza Cruz, Vítori da Silva foi a responsável pela publicação “Política, marketing digital e você” e a matéria “Futuro Black: não naturalize nossas ausências. Sigamos criando e ocupando espaços!” escrita por Jaqueline Fraga.

Baobá na imprensa em Julho

Por Ingrid Ferreira

No mês de julho, o diretor executivo do Fundo Baobá, Giovanni Harvey, participou da “Live do Valor: além de dinheiro, como dar autonomia e confiança às organizações?”, no Valor Econômico.  No evento  o diretor  falou sobre filantropia negra, estruturação e funcionamento do Fundo.

Já a Revista Afirmativa mencionou o Fundo em sua matéria “Mês da Filantropia Negra’ debate práticas do investimento social privado e da filantropia para equidade racial”, divulgando o evento  organizado pelo GIFE e apoiado pelo Baobá  e Instituto Unibanco, que aconteceu em 04 de agosto. 

O Estadão e o portal Direto da Fonte publicaram sobre o novo edital “Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial” do Fundo Baobá com apoio da Imaginable Futures e da Fundação Lemann, divulgando o lançamento e período de inscrições, de  03 de agosto a 06 de setembro.

A Revista Cenarium Amazônia públicou o título “Discriminação racial e práticas antirracistas são temas de palestra para colaboradores em shopping de Manaus”, em que menciona a participação de Hélio Santos que integra a Assembléia Geral do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá.

APOIADAS DO FUNDO BAOBÁ:

No Coletiva Negras que Movem do Portal Geledés duas publicações foram feitas no mês de julho sendo elas, “Vamos brindar a vida, meu bem! E brindemos com nossas mães e mais velhas” e “Mulheres negras felizes e sorrindo: é esse o Brasil que eu quero”.

E nas redes sociais também teve vários posts dxs apoiadxs falando sobre o Fundo, como é possível ver no instagram em que a @leandracomunica e @averve05 compartilharam a publicação da @juliamoa___ com o seguinte título: “Dança Ancestral: ferramenta de cura e conexão para o corpo negro”.

E a @juliamoa___ também fez outros dois posts, um deles é o “Tecnologia Afrofuturista: mulheres negras impulsionando a ciência e o conhecimento” e o outro é “Mulheres negras lutam pelo direito à cidade como uma garantia para as populações negras e periféricas”.

Ainda no instagram a @institutoconectardiversidade e @estebanciprianooficial publicaram “Lançamento do Programa DS Diversidades”, mencionando o Fundo Baobá em suas hashtags. E a @jo_psicologa_preta_sim e a @johimura fizeram o post “O que nós temos a receber da política?”. E a @jaquefraga_ publicou “Mídias Negras e Jornalismo Antiracista: a comunicação como ferramenta de luta e emancipação das mulheres negras”.