Fundo Baobá reúne institutos e fundações para debater filantropia para justiça social

O Fundo Baobá para Equidade Racial completa dez anos de atividades em 2021 – nesses longos meses de pandemia do coronavírus no Brasil -, quando as desigualdades socioeconômicas e raciais não deixaram dúvidas sobre seus impactos e perversidade. O cenário no qual o Fundo Baobá incide tornou-se mais severo, exigindo um olhar sobre o presente e sobre o futuro. 

Para discutir motivos e apontar caminhos de solução visando uma mudança nas desigualdades raciais, o Fundo Baobá reuniu algumas das principais lideranças mundiais que trabalham com a filantropia em busca da justiça social. O evento inédito e de peso, organizado pelo J.P. Morgan e pelo Fundo Baobá,  juntou profissionais atuantes na América do Sul e Estados Unidos em um webinário no dia 28 de outubro. Em um país como o Brasil, que carrega a discrepância de ter 55,8% de população negra, mas sem acesso aos bens e serviços em função do racismo estrutural mantenedor das desigualdades sociais e econômicas, a discussão sobre onde realmente os recursos devem chegar para socorrer e gerar a diferença positiva foi de muita importância. 

Para essa pensata, foram convidados algumas das mais expressivas instituições, além de organizações não filantrópicas, comprometidas em contribuir para a construção de sociedades mais justas e igualitárias.  Líderes da Fundação Kellogg, Fundação Ford, Instituto Ibirapitanga, Rede de Fundos para Justiça Social, GIFE (Grupo de Institutos Fundações e Empresas), Instituto Coca-Cola Brasil, The Walt Disney Company, Fama Investimentos e o Philantropy Center J.P. Morgan participaram do webinário Investimentos Filantrópicos para a promoção da equidade racial, promovido pelo Fundo Baobá com apoio do J.P. Morgan. 

Quem conduziu o evento, ocorrido em 28 de outubro, foi Fernanda Lopes, diretora de Programa do Fundo Baobá para Equidade Racial. Em sua fala introdutória, apontou a necessidade de criar narrativas que contribuíssem para a equidade, reduzindo o apartheid vigente no país – em que os negros, embora maioria da população, muitas vezes deixam de ter  suas vozes, seus direitos e protagonismo reconhecidos. “O investimento social privado pode e deve incorporar a perspectiva da justiça racial na concessão de doações. A proposta é pautar, desafiar e, sobretudo, estimular o ambiente corporativo a construir ações inovadoras e concretas para superar o verdadeiro estado de apartheid racial no Brasil.”, disse Fernanda Lopes.  

Segundo a diretora, a abordagem da equidade racial na filantropia tem sido a mistura de avanços e retrocessos. “É essencial examinar onde houve mais e menos avanço, o que contribuiu e o que pode nos ter tirado do caminho”, completou. O objetivo do webinário foi criar uma narrativa sobre como a filantropia e o investimento social privado se desenvolveram no país, qual a história dos principais investimentos e as iniciativas para a promoção da equidade racial. 

Na fala de abertura, Daniel Darahem, presidente do J.P. Morgan Brasil, destacou que nunca é tarde para pensar e promover a equidade. Explicou alguns dos projetos desenvolvidos pelo banco, voltados a jovens negros, como o de formação de lideranças.  “Trabalho há 23 anos nessa organização, mas como presidente estou há menos tempo, peguei a bandeira magistralmente empunhada pelo meu antecessor, eterno amigo e mentor, José Berenguer, que fez excelente trabalho na área de diversidade e inclusão.”

Daniel Darahem – Presidente do J.P. Morgan Brasil

Para ele, séculos de mobilização de movimentos negros geraram conquistas, com muitos desafios e dificuldades. “E como há milhares de talentos que precisam ser incluídos, o banco optou por se engajar com intencionalidade e consistência em um  propósito de busca da equidade, criando vários programas de inclusão ao longo dos anos.” 

Alguns deles são o Advancing Black Leaders, programa global do banco para a formação de lideranças negras e o Black Future Leaders, voltado para  formar, aqui no Brasil,  líderes a partir de jovens negros em início de carreira. A cada dez inscritos, sete são mulheres negras. Por intermédio da J.P. Morgan Chase Foundation, o banco passou a colocar a equidade racial como um de seus focos. “Tivemos erros e acertos. Foram pequenos passos que nos ajudaram a trilhar o caminho certo. O evento de hoje é oportunidade de aprendizado para todos nós.”

Para  Giovanni Harvey, presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá, o mês da consciência negra marca uma agenda intensa de atividades antirracistas promovidas pelas organizações. O papel da iniciativa privada tem sido pioneiro nesse sentido e deve continuar sendo. 

“Parte da minha vida profissional passei na iniciativa privada que, no Brasil, tem sido pioneira ao longo do tempo. Eram e são empresas que têm entendimento e responsabilidade com a educação e formação de jovens, como a Fundação BankBoston, que criou o Projeto Geração XXI, em 1999,  para contribuir com a melhoria da educação de jovens negros, garantindo a igualdade de oportunidades“, afirmou. Harvey aproveitou para felicitar o J.P. Morgan e as demais instituições presentes pelo empenho em criar ações em prol da equidade racial e por dedicarem seu tempo a essa discussão. 

Giovanni Harvey – Presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá

O evento contou com quatro mesas, cada uma com três participantes, exceto a quarta, de encerramento, que contou com a presença de Laura Martini Zellmeister, oficial de programa da J.P. Morgan Chase Foundation para a América Latina, e Selma Moreira, diretora-executiva do Fundo Baobá para Equidade Racial. Confira aqui no site do Fundo Baobá o relato dos outros debates.

Existem débitos históricos com a população negra que a filantropia ainda não equacionou

As relações de poder que, direta ou indiretamente, sustentam o racismo estrutural fizeram parte dos temas mais comentados pelos(as) palestrantes da mesa “Filantropia e relações raciais: presente e futuro”. Esse painel fez parte do webinário Investimentos Filantrópicos para a promoção da equidade racial, organizado pelo J.P. Morgan e o Fundo Baobá, em 28 de outubro.

Alejandra Garduno Martinez, diretora da Fundação Kellogg para a América Latina, relembrou que a Covid-19 expôs, de forma contundente, as profundas desigualdades da sociedade com relação à justiça social e à equidade. Lembrou que o racismo se expressa de muitas formas, algumas invisíveis, mas a pandemia as tornou evidentes. 

Alejandra Garduno Martinez – Diretora da Fundação Kellogg para América Latina

Átila Roque, Diretor Regional da Fundação Ford no Brasil, lembrou que o racismo está estruturado em uma consistente ideia,  construída por séculos, de supremacia branca. “O mundo ocidental é tributário do racismo e o Brasil, historicamente, se colocou no centro desse processo. Basta olhar os números. Do total de 11 milhões de negros trazidos para a América e o Caribe, quase 5 milhões, algo em torno de 46%, vieram para o Brasil. Não dá para desconsiderar essa memória e a dívida que temos.” 

O diretor da Fundação Ford destacou que o grau de dedicação e de investimento da filantropia brasileira é desproporcional ao imperativo ético que é a questão antirracista. “Não há nada mais central do que essa agenda”. Logo, o padrão de desigualdade não é sustentável nem rentável para o país. Por isso, é primordial reconhecer o papel de cada instituição e olhar com franqueza para o quanto cada uma é tributária da ideia de progresso ancorada no legado do colonialismo ou da supremacia branca. 

Átila Roque – Diretor Executivo da Fundação Ford para Brasil e América Latina

Respondendo à pergunta da mediadora Fernanda Lopes, diretora de Programa do Fundo Baobá, Alejandra Garduno Martinez ressaltou que a filantropia avançou nos últimos anos, embora questões antigas continuem latentes, como a intolerância que se agrava frente às posições mais conservadoras de poder, como as que estão em curso na América Latina e Caribe. “Avançamos, sim, nesses indicadores, mas não o necessário. Ainda temos cenários políticos que, em seu conservadorismo, fortalecem discursos pró-racismo”, afirmou. 

Dessa forma, reconhecer a existência do racismo estrutural e dar visibilidade a essa questão é um dos principais desafios da filantropia. “Precisamos gerar maior número de parcerias entre nós e com outros setores, junto a organizações filantrópicas diversas, mas é essencial avaliar como nos associamos, com quem nos associamos e quais as causas sociais que nos permitem aspirar bons modos de vida para todos.”

Embora na última década tenham sido implementados esforços para promover justiça social por meio da filantropia, segundo a diretora falta olhar se as entidades doadoras estão, efetivamente, voltadas para quem precisa, como as organizações negras e as que trabalham pela equidade.

“Na Kellogg, tínhamos essa preocupação desde 1968. Em 2007, iniciamos processo para estabelecer compromisso com uma declaração realmente antirracista, contribuindo para erradicar o racismo moderno”, afirmou. Nessa época, consolidou-se a ideia do Fundo Baobá, criado em 2008, inicialmente como um mecanismo. “Temos que ser claros, explícitos até, na forma como impulsionamos o acesso a um fundo que procura investir, a longo prazo, em modelos que promovam mudanças estruturais sistêmicas.” 

Para Átila Roque, eventos que reunissem fundações, empresas privadas e um grande banco seriam impensáveis há alguns anos, quando a filantropia dava seus primeiros passos no país. “Dificilmente, teríamos essa tela diante de nós. Avançamos, sem dúvida, mas avançamos pouco e tardiamente.”

André Degenszajn, diretor-presidente do Instituto Ibirapitanga, também concorda que houve progresso da filantropia no Brasil, principalmente porque os debates não se restringem mais aos pequenos círculos. Hoje, ocupam também jornais e discussões em família. Mas é preciso avançar mais. “Quando olhamos as estatísticas em qualquer dimensão, como educação, renda, violência, o quadro é assustador. E a ausência de pessoas negras em lugares de poder e não só na política, mas em escolas, por exemplo, é acintosa.” 

Andre Degenszajn – Presidente Instituto Ibirapitanga

Para Degenszajn, é fundamental as organizações buscarem coerência entre seus investimentos para fortalecer o movimento negro e sua constituição, inserindo, por exemplo, pessoas negras na equipe. “Muitos avanços foram alcançados por esses movimentos, como a Lei de Cotas e a Lei Caó. Essas instituições não estão apartadas do racismo estrutural quando se fala do acesso delas a fontes de financiamento. Assim, existe a necessidade de construir caminhos para que isso aconteça”, acrescentou. 

“Temos que ver o quanto nossos mecanismos e critérios de doação servem realmente para permitir o acesso de organizações negras,  de forma que seja cada vez mais acessível empoderar atores que precisam ser promovidos”, afirmou Átila. Um ponto essencial levantado pelo diretor da Fundação Ford é a dúvida que está no DNA da população em decorrência do histórico da colonização, sobre a capacidade dessas organizações serem protagonistas quando beneficiadas com apoio de longo prazo. “Volto a dizer que não existe fórmula, mas temos que olhar onde alocamos os recursos e fazer essa pergunta constantemente. É preciso estimular a dúvida e promover, sem medo, o protagonismo negro.”

O pensamento da equidade racial deve pautar ações diárias

“Temos que pensar a questão racial atravessando tudo o que a gente faz. Isso é mudança de pensamento”. A fala de Ana Letícia Silva, representante da Rede de Filantropia para Justiça Social, permeou a segunda mesa do evento Filantropia e Justiça Racial, que teve como tema “Filantropia no Brasil: eficiência, compromisso com a mudança e a justiça social” e contou também com a participação de Maria Alejandra Oltra, assessora de Filantropia do Philanthropy Center JP Morgan, e Tricia Calmon, membro do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá. 

As representantes das três entidades estabeleceram suas falas a partir de três questões propositivas: 1) Como a filantropia para a justiça social pode ser mais eficiente?  2) Como deve ser o comportamento de um filantropo(a)? 3) Como as instituições filantrópicas devem medir suas doações e investimentos sociais, considerando a equidade racial como uma meta?  Com esse guia introdutório, discorreram sobre a importância do trabalho filantrópico;  a destinação correta dos recursos da filantropia no Brasil; o povo negro relegado a segundo plano e buscando, por conta própria, os apoios financeiros; a questão do não tratamento igualitário, que acaba gerando privilégios. 

Para Tricia Calmon, a agenda da Justiça Social no Brasil vem se revisitando para pensar o lugar que a discussão do racismo tem ocupado nessas agendas, pois em muito tempo ocupou lugar algum, “obedecendo a um raciocínio que nos educou na história do Brasil, que é o mesmo raciocínio que construiu o projeto de nação brasileira a partir de um pacto de desenvolvimento que partiu da eliminação física e simbólica do sujeito negro”, sintetizou.  “A sociedade brasileira e sua parcela negra têm se reinventado ao longo da história por conta própria e, muitas vezes, encontrando mãos e braços no campo da  filantropia, sobretudo nas comunidades empobrecidas”, completou.

Tricia Calmon – Membro do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá para Equidade Racial

Nesse contexto, Ana Letícia Silva deu ênfase à necessidade de mudança de pensamento na destinação de recursos, por conta de um fato marcante no Brasil. “Temos 56% da população negra. Temos que fazer essa questão, a racial,  passar pela nossa atuação enquanto entidade”, afirmou. Para ela, o tema da destinação de recursos e de atuação transformadora passa por algo de extrema simplicidade. “Se eu for o Fundo X, que não está ligado à questão da equidade racial, tenho que incorporar esse pensamento da equidade ao que eu fizer todos os dias.” 

A questão da filantropia voltada para a equidade racial não encontra problema de direcionamento de recursos apenas no Brasil. Para Maria Alejandra Oltra, assessora  de Filantropia do Philanthropy Center J.P. Morgan, o problema envolve muitos outros países do continente americano. “Há  países na América Latina que têm políticas tributárias voltadas para a filantropia  Porém, esse não é um traço comum que contribua para que a destinação de recursos nos diferentes países aconteça. Muitos países não possuem essa política tributária, o que dificulta que as iniciativas oficiais de auxílio sejam alcançadas.” 

Maria Alejandra Oltra – Vice President The Philanthropy Center J.P. Morgan

A não existência de uma política voltada para a arrecadação tributária, e a consequente destinação de recursos a entidades filantrópicas, acaba por gerar um grande déficit de recursos. Nesse contexto, coube às grandes entidades colocarem foco sobre o que gerava esse déficit e tentar trazer soluções. 

A Rede de Filantropia para a Justiça Social acabou surgindo da necessidade de fazer com que os recursos da grande filantropia alcançassem quem mais necessitava. “A Rede de Filantropia para a Justiça Social congrega, neste momento, 12 organizações. Esperamos que muitas mais venham para perto da Rede, porque a gente sabe que há instituições de filantropia para  justiça social, filantropia comunitária, que estão aí escondidas pelo Brasil, ainda não reconhecidas. Sabemos que muito do que as pessoas conseguem sobreviver tem a ver  com a filantropia de justiça social, mesmo que essas organizações não estejam ligadas à Rede. São as solidariedades que acontecem diariamente que fazem com que as pessoas possam sobreviver”, afirmou Ana Letícia Silva. 

Ana Leticia Silva – Rede de Fundos para Justiça Social

E como lembrou Maria Alejandra Oltra, do Philanthropy Center J.P. Morgan, a questão da sobrevivência está intimamente ligada à questão da equidade. “Se todos queremos ser iguais, temos que pensar que nem todos são tratados como iguais. E é difícil na filantropia ajustar isso para sermos mais eficientes. Acredito, que ao longo do tempo, a filantropia tentou ser o melhor para todos. Mas é impossível fazer o melhor para todos sem identificar diferenças.”

Como a efetividade dos investimentos sociais rumo à promoção da equidade racial tem sido incorporada aos indicadores e metas das instituições

“É muito importante uma organização do sistema financeiro, como  J.P. Morgan, estar liderando junto com o Fundo Baobá, que é um fundo voltado para equidade racial, esse compartilhamento e essa liderança conjunta. Ela é muito simbólica para o mundo hoje”, foi com essas palavras que Neca Setubal, presidente do Conselho do GIFE e da Fundação Tide Setubal, abriu a terceira mesa do webnário Investimentos Filantrópicos para a promoção da equidade racial, organizado pelo J.P Morgan e pelo Fundo Baobá para Equidade Racial, na quarta-feira (28).

Com o título “Equidade Racial e suas trilhas, nos institutos, fundações, empresas e ESG – Caminhos, evidências e possíveis mudanças”, além de Neca Setubal a mesa virtual contou com Rita de Cassia Barros Oliveira (Gerente Sênior de Vendas Promocionais de Redes de Mídia na The Walt Disney Company), Daniela Redondo (Diretora Executiva do Instituto Coca-Cola Brasil) e Fabio  Alperowich (Fama Investimentos).

Para Neca Setubal, houve um avanço na cultura da filantropia e na promoção da justiça social no país, inclusive no período de Covid-19: “Acho que a pandemia acelerou esse avanço ao descortinar as desigualdades e o racismo brasileiro. Existem problemas de séculos, mas a sociedade começou a enxergá-los, isso é positivo”. Fábio Alperowich também acredita em contenção de danos no período de pandemia: “A Covid-19 trouxe uma reflexão muito grande para as empresas, elas passaram a repensar os seus papéis. Antes, as organizações entendiam que o seu papel na sociedade era apenas a venda de produtos e serviços, agora elas começam a compreender que têm um papel dentro da sociedade que é maior que aquilo, algumas estão agindo através de filantropia, outras estão melhorando as suas práticas, elas estão repensando isso em múltiplas dimensões, tanto do lado ambiental quanto do lado social”.

Neca Setubal – Presidente do Conselho do GIFE e da Fundação Tide Setúbal

Falando exclusivamente das organizações, um dos assuntos abordados na mesa virtual foi a forma que a promoção da equidade racial havia sido incorporada em cada instituição. Rita de Cássia fez questão de frisar a importância da representatividade na The Walt Disney Company: “Estou na empresa há 9 anos e eu venho acompanhando de perto todas as transformações que ela vem passando e fazendo, em tudo o que diz respeito à diversidade e inclusão. Sendo uma empresa mundialmente reconhecida pelas histórias mágicas e os personagens inspiracionais, lúdicos e heróicos, estando tão presentes no imaginário de muitas pessoas no mundo todo”. Na ocasião, ela citou os principais pilares da empresa nessa questão: “Ser o melhor em diversificar o nosso arsenal de talentos e conteúdos, trazendo essa representatividade e mostrando de fato o valor de toda essa experiência do ponto de vista do negro.  e integrar a inclusão nessas práticas de operações comerciais também. Sabemos que a Disney, por ser líder, tem toda a capacidade de impactar o ecossistema onde está envolvida, trazendo parceiros, fornecedores, empresas que são licenciadas, liderando esse movimento. Nós temos também algumas iniciativas nesse sentido, garantir que toda a nossa liderança tenha poder para agir, porque diferente do que acontece nos Estados Unidos, onde nós temos 13% da população negra, aqui no Brasil a gente tem um universo muito diferente. A urgência e a necessidade de avançar nessas frentes e de trazer resultados efetivos, ela é muito grande, com o grande compromisso da liderança”. 

Rita de Cassia Barros Oliveira – Gerente Sênior de Vendas Promocionais de Redes de Mídia na The Walt Disney Company

Atuando como diretora-executiva do Instituto Coca-Cola Brasil, Daniela Redondo afirma que a organização atua há quase duas décadas na filantropia por justiça social, entretanto, tem focado nos últimos 10 anos em atividades de empoderamento e desenvolvimento: “Especialmente de jovens em comunidades vulneráveis, focando no recorte de empoderamento econômico, com aproximadamente 250 mil jovens impactados, sendo que  desse número 70% são negros e 60% são mulheres”. 

Em 2014, a Coca-Cola conheceu o Fundo Baboá e no ano de 2018 desenvolveram o segundo trabalho juntos, o edital Negras Potências, voltado para empreendedoras negras e focado no empoderamento feminino negro: “Foi o maior o matchfunding do país. E o que nós aprendemos e percebemos foi a importância de dar visibilidade para as causas, permitir que projetos que não são, às vezes, tão atrativos, mas que são de muita importância para aquela população, sejam reconhecidos e visibilizados. Além do que a gente tem que ter um conselho que tenha propriedade e representatividade”, completa Daniela. 

Daniela Redondo – Diretora Executiva do Instituto Coca Cola Brasil

Neca Setubal também reconhece que uma organização financiadora, para estar em proximidade com as instituições apoiadas, tem que ter um núcleo diverso, utilizando o exemplo da sua própria fundação, a Tide Setubal, que atua há 15 anos: “Hoje a Fundação Tide Setubal conta com 50% de colaboradores negros e 50% não negros, indo desde o conselho curador ao nosso conselho administrativo e à gestão estratégica, que são todos os coordenadores de projetos. Eu acho que isso é um ganho enorme, assim estaremos próximos das organizações que temos apoiado”, afirma, revelando também a criação de um comitê de diversidade dentro da fundação, para atualizar o censo de representatividade acerca dos projetos aprovados pela mesma: “Trata-se de um compromisso de que todos os nossos projetos tenham um olhar na questão racial. É o compromisso da gente ser uma das organizações divulgadoras e difusoras da importância da equidade racial para o Brasil e para todos nós”, completa. 

A Walt Disney também conta com a criação de conselhos, em cada região da América Latina, para fomentar ainda mais a cultura da diversidade e da equidade racial: “Aqui no Brasil, ele atua fortemente, eu lidero o pilar de raça, com todas as iniciativas. Nós estamos desenhando todas as métricas e metas que queremos atingir nos próximos 24 meses e para isso as alianças e as parcerias são fundamentais”, afirma Rita de Cássia, que revela que o trabalho influencia diretamente no produto criado pela companhia: “A gente percebe que esse networking que se forma com esse olhar e com esse objetivo é super importante para que esses resultados sejam de fato atingidos. Trazendo isso pra dentro do universo da Disney, que é um segmento de entretenimento, a questão é  como eu consigo mostrar diversidade através dos personagens, privilegiando a cultura e trazendo protagonismo para as tradições?”, completa.  

Trabalhando diretamente com  investimentos de empresas e organizações através da Fama Investimentos, Fábio Alperowich tem uma visão otimista do avanço do debate sobre equidade racial, mas reconhece que não avançou ainda mais devido ao não reconhecimento do racismo estrutural em nossa sociedade: “Quando existe a negação do racismo estrutural, a gente tá muito mais distante da solução. Pra avançar nessa agenda, é preciso reconhecer a existência desse racismo estrutural e expor essa situação, por mais que esse processo de reconhecimento seja doloroso, difícil. E  falando do ponto de vista de um investidor, vai trazer alguma dor para dentro das companhias e para a sociedade civil, ao expor uma questão dessa, mas ela é absolutamente necessária”, afirma Fábio. Ele também mostra como os investidores podem colaborar, de forma indireta, com o aumento da diversidade nas empresas: “Quando eu olho o relatório de sustentabilidade de boa parte das empresas, os dados sobre equidade de gênero aparecem, mas os dados de equidade racial não aparecem. Em muitos casos isso pode ser falta de olhar, um descaso, o que configura no racismo estrutural, ou pode ser vergonha de não ter se interessado por esse problema antes. Importante lembrar que os relatórios de sustentabilidade têm dados seletivos, então grande parte das empresas mostra o que quer e esconde o que não quer. Daí, quanto mais os investidores pressionarem pela transparência desses dados, mais evidente vai ficar o avanço em relação a essa desigualdade racial. Ou seja, empresas que forem pressionadas pelos investidores para expor esses dados, elas, no ano seguinte, terão que ter algum avanço nessa questão ou serão pressionadas também. Eu acho que é fundamental o papel dos investidores: a pressão para que as empresas sejam cada vez mais transparentes e inclusivas em relação a isso”, completa.  

Fabio Alperowich – Fama Investimentos

É justamente dentro deste contexto que Daniela Redondo acredita que companhias como a Coca-Cola, têm o papel fundamental de exercer influência diante dessas situações: “A gente precisa reconhecer também o nosso papel de influência e poder de convocação. Então quando a gente está falando de ecossistema, de como a gente avança, de como a gente acelera isso, a gente tem que reconhecer realmente que pode acelerar muito e atingir outros se realmente usarmos todo o poder para convocar, investir e chamar outros para esse movimento”,disse. Além do poder de convocação e influência, Daniela Redondo também acredita que para fortalecer as organizações é necessário dar independência: “Quando a gente fala de fortalecimento de organizações, para nós,  na prática,  funcionou demais, quando foi dada liberdade e flexibilidade para o uso do recurso. Então,  quando a gente fala em investir nas organizações de base ou de equidade racial, você dá flexibilidade e autonomia para usar esse recurso, porque muitas vezes, na posição de doador, a gente coloca regras pouco flexíveis, e lá na ponta, quem está sentindo a dor, a temperatura e o que eles precisam, são as próprias lideranças, as próprias beneficiárias”, completa.

Fernanda Lopes, diretora de programa do Fundo Baobá, na abertura da mesa virtual já havia salientado a relevância de o recurso chegar onde deve. “Na filantropia precisamos fazer que o recurso chegue onde ele deve chegar. Quem demanda e recebe o recurso sabe o que fazer com ele, sabe o que faz diferença. Não se pode ser igual, investir igual, medir ou qualificar igual, porque o contexto que atuamos é resultado de desigualdades e injustiças”,disse. Ela encerrou frisando a importância deste momento na promoção da equidade racial: “Nós enxergamos movimentos, e muitos em novas direções, é uma questão de toda sociedade brasileira. Somos todes responsáveis pelas mudanças e,  mais que isso, pela sustentabilidade de seus resultados, dentro e fora das empresas”.

Fingir que nada está acontecendo não adianta. Promover Justiça Social e Equidade Racial é um imperativo de consciência

“Se eu fechar a janela do meu carro, que tenha um vidro muito escuro, isso não me atinge. Se eu mudar de bairro, isso também não me atinge”. Com esta fala, Selma Moreira, diretora-executiva do Fundo Baobá para Equidade Racial, iniciou a quarta e última mesa do evento, cujo tema foi: “Juntos por uma sociedade justa e sem racismo!”

Selma Moreira – Diretora Executiva do Fundo Baobá para Equidade Racial

A diretora se referia aos negros, especialmente, e aos excluídos que, por séculos, foram mantidos à distância dos olhos e das políticas públicas que dão acesso a direitos fundamentais e essenciais. Segundo ela, a sociedade brasileira é composta por diversas populações e se, individualmente, as pessoas pensarem que uma determinada parte pode evoluir e conseguir acesso e pleno direito à saúde, à educação, ao emprego e à justiça, e o restante se não conseguir, está tudo bem é preciso lembrar que “o restante não é o restante, pois falamos de 56% do povo brasileiro”, completou.

Selma Moreira destacou ainda que aquele encontro fora pensado justamente para construir alianças para que todos os envolvidos ali contribuíssem na consecução da missão do Fundo Baobá, que é exclusivamente fortalecer lideranças, organizações, grupos e coletivos negros. “Vocês já sabiam e hoje puderam ouvir diferentes sujeitos que, juntes, podem fazer mais e melhor”. 

Na sequência, Laura Martini Zellmeister, oficial de Programa da JP Morgan Chase Foundation para a América Latina, assumiu a palavra. Em sua apresentação, destacou que o evento foi de muito aprendizado e trocas. Explicou que, quando se fala de equidade racial, o tema é urgente, uma dívida. 

Ela aproveitou para contar a experiência da J.P. Morgan Chase Foundation que,   embora mantivesse projetos apoiados, com participantes negros, especialmente no campo da empregabilidade, não tinha programas exlcusivamente voltados para eles. “Há três anos, tivemos o olhar para perceber que não é uma questão estratégica, mas estrutural. Então, estabelecemos uma parceria com a Faculdade Zumbi dos Palmares e a Febraban. Foi um programa específico para jovens negros com foco nos setor financeiro e apoio à empregabilidade”, destacou. 

Laura Martini Zellmeister – Global Philanthropy Associate, covering Latin America

Foi tão sob medida, que o processo seletivo foi pensado e desenhado para a(o) jovem negro(a). “Muitos deles, que depois entraram no banco e se tornaram analistas, falaram que se inscreveram no programa porque se sentiram chamados e porque aquele era um espaço para eles”. 

A pauta da equidade racial, segundo Laura Zellmeister, não tem dono. É uma questão coletiva, que precisa envolver organizações do Terceiro Setor, iniciativa privada e governo. “Nesse contexto, demos uma série de passos e agora, mais recentemente, começamos a trabalhar com projetos para olhar resultados de impacto e empregabilidade, com questões como: os jovens negros estão tendo os mesmos resultados e permanência no emprego que os jovens brancos?”, indagou.

Para ela, uma das parcerias mais exitosas, entre todas estabelecidas com a fundação, foi com o Fundo Baobá. Ator de longa data de vários projetos, recebeu aporte do J.P. Morgan em seu fundo patrimonial quando o banco investiu mundialmente depois da morte do americano George Floyd.

“Com a morte de Floyd e a Covid-19 houve um grande impacto e as empresas estabeleceram uma aliança para fazer doações a várias organizações nos Estados Unidos, em outros mercados e no Brasil. Aqui, optamos pelo Fundo Baobá por estar cem por cento focado na questão da equidade racial”, alega. “Para nós, é muito importante saber que esses recursos serão usados por muitos anos para causar impacto na vida de pessoas e organizações.” 

Sua fala foi encerrada com um chamado para que as pessoas unissem talentos, investimentos e tempo, de forma intencional e coordenada, a favor da filantropia para a justiça e a equidade racial. 

Selma Moreira encerrou a mesa agradecendo todas as presenças e participações. Disse estar especialmente feliz e tocada com o diálogo estabelecido ali. “Venho de uma trajetória da iniciativa privada e faço parte do Fundo Baobá desde 2014. Tem sido uma trajetória muito desafiadora. Este é um lugar de muitas conquistas e desafios.” Confirmou que o racismo é um tema difícil para quem é negro e para quem não é. Mas, pretos e pardos, além de acharem o tema difícil, vivem essa realidade em seu dia a dia. Por isso, a importância de construir caminhos. “Vimos, este ano, tanta coisa acontecendo de maneira tão evidente, e não dá mais para fingir que não aconteceu ou não é com a gente.”

Selma explicou que, com essa divisão desigual, não tem economia nem país que se sustente. “A sociedade civil está correndo, as organizações do movimento negro estão correndo, mas a gente não dá conta de cuidar disso tudo sozinho. Precisamos fazer juntos. Acho que é esse o convite. Esse é o chamado: precisamos de aliados”. Por isso, o Fundo Baobá está aberto a discutir, pensar caminhos e construir, junto com parceiros, soluções para a equidade. “Pode ser difícil, mas talvez seja porque nunca foi feito”, argumenta.

A diretora-executiva explicou que vivemos um momento em que a sociedade está acelerada com a Covid-19, a tecnologia e o ritmo rápido de mudanças. “Então, não é possível que a gente siga pensando que as temáticas relacionadas à promoção da equidade racial podem seguir outro modelo. Acho que hoje, aqui, todas as falas evidenciaram essa urgência e como é estratégica para termos um país mais justo e equânime”. Destacou a necessidade de construir alianças. “Hoje me senti parte de uma constelação, vendo e ouvindo essas estrelinhas que são parceiros e estão conosco nesta jornada. E isso já faz desse diálogo um canal de irmandade. Agradeço a todos pelo desejo de mudar este país para todo mundo.”

Direção do Fundo Baobá e apoiadas do Programa Marielle Franco participam de live sobre diversidade e liderança

A diretora-executiva do Fundo Baobá para Equidade Racial, Selma Moreira, participou do evento Road Show 2020 – Conexão, Diálogos e Transformação, organizado pela Eight Diálogos Transformadores, uma rede colaborativa de coaches e facilitadores de diálogos, em 17 de setembro. Além da Selma Moreira, participaram também três apoiadas do Programa de Desenvolvimento e Aceleração de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, iniciativa do Fundo Baobá em parceria com a Fundação Kellogg, Instituto Ibirapitanga, Fundação Ford e Open Society Foundations. Entre elas estavam a diretora-executiva do Instituto Migra, Monalyza Alves; a cineasta e coordenadora de licenciamento e filmes originais da Netflix, Aline Lourena; e a educadora social e estudante de filosofia Lídia Rodrigues.

Com o tema “Diversidade na Prática – Coaching como Acelerador de Lideranças”, o evento virtual foi mediado por Christine Napoli e Roberto Rotenberg, ambos da Eight. Em sua fala inicial, Selma apresentou o Fundo Baobá, a forma como a organização funciona e o seu trabalho de promoção da equidade racial no país, por meio do apoio financeiro e técnico que alcança organizações, grupos e coletivos negros via editais. A diretora-executiva também explicou a forma como o Baobá capta recursos, dialogando com empresas e instituições, e também com indivíduos, que podem doar para a instituição funcionar no dia a dia, para os programas e projetos ou para o fundo patrimonial. Sobre isso, Selma frisou a importância de dialogar com as pessoas e mostrar a necessidade de se empenhar na luta antirracista: “Captar é um grande desafio, mas tem um diálogo para ser dirigido aos indivíduos, que cada cidadão precisa também pensar qual é o seu lugar, nessa construção de uma sociedade mais justa, o que te toca o que você pode contribuir para isso, além de fazer um post bacana nas redes sociais”.

Selma Moreira e as apoiadas do Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco no Road Show 2020 – Conexão, Diálogos e Transformação

Entre as lideranças apoiadas, Monalyza Alves fez questão de destacar a importância do seu projeto desenvolvido com apoio do Programa Marielle Franco: “Eu trabalhei por dez anos no governo do Estado do Rio de Janeiro, atuando com políticas de promoção da igualdade racial e também com direitos humanos. E havia uma dificudade por parte de gestores, principalmente negros, em entender como a estrutura do governo funciona. Então quando eu fiquei sabendo do Fundo Baobá, eu inscrevi esse projeto que é uma espécie de formação inicial para quem vai assumir cargos públicos. Porque eu entendo que se você conhece a máquina, você consegue transformá-la”.

Para a cineasta Aline Lourena, a raiz do seu trabalho é empoderar mulheres negras e torná-las protagonistas da sua própria história: “A minha missão é ampliar o número de mulheres negras em cargos de liderança. Eu sou cineasta, mas eu passei boa parte da minha vida empreendendo em uma agência de comunicação e publicidade, sendo pioneira no Brasil em ter todo um processo de admissão de um corpo de profissionais negros e LGBTQI+, sendo essa uma das únicas estratégias possíveis de atuar no mercado de trabalho, na área da comunicação e do entretenimento, em um espaço de protagonismo, onde eu pudesse trazer as nossas histórias para o grande público”.

Sendo uma grande militante em defesa das crianças e adolescentes vitimas de violência sexual, Lígia Rodrigues falou sobre o seu projeto que busca trabalhar autoproteção, principalmente com a perspectiva racial: “Desde os 15 anos eu sou ativista do enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes e, ao longo dos anos, eu fiz educação social de rua, educação em saúde e planejamento de políticas públicas. Em 2019 eu estava em Brasília, e eu estava muito angustiada porque eu não conseguia ver o link das ações que aconteciam no campo, de enfrentamento direto a violência sexual, e o que repercutia lá no planalto, considerando que eles queriam aumentar a pena para autores de crimes sexuais, mas lutavam pra acabar com a educação sexual, que é o principal mecanimo de enfrentamento a violência sexual. E foi à partir dessa indignação que formulei o meu projeto que é de educação e autoproteção para crianças e adolescentes.”, completa.

Christine Napoli, relembrou o papel da Eight no Programa Marielle Franco, considerando que ele é fomentado por dois blocos: “Um dedicado à formação das líderes individuais e o outro é o apoio aos coletivos liderados por mulheres negras. Nessa parte da formação individual, o Programa tem três pilares, um que irá subsidiar as líderes em sua atuação política e de lugar de fala, outro que cuida da parte psicológica, resiliência e de enfrentamento ao racismo, e a outra parte de coaching individual, que foi justamente onde nós da Eight entramos”. Para Selma, o trabalho da Eight com as apoiadas do Programa é essencial: “O racismo é algo tão perverso, tão absurdo, que muitas vezes faz com que a gente tenha dúvidas da nossa capacidade, tenha dúvidas da nossa luz, então a perspectiva é que nós tenhamos o coach como uma ferramenta que nos auxilia a entender todo o nosso potencial, brilho, capacidade e força. O que a gente está sonhando e como é que a gente faz acontecer, e esse é o papel da Eight, de apoio nessa transição do sonho para a realidade”, destacou.

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“Conversa afiada” reúne mais de 100 participantes para debater a participação política de mulheres negras

No dia 26 de maio, o Fundo Baobá, junto com a Oxfam Brasil, organizou o evento virtual “Conversa Afiada – Mulheres Negras e Participação Política”, que reuniu mais de 100 lideranças femininas para debater e promover a integração e potencialização de ideias sobre representatividade e desigualdades que impactam a participação política de mulheres negras.

O bate-papo contou com duas convidadas: Lúcia Xavier, assistente social e coordenadora da ONG Criola, e Robeyoncé Lima, codeputada estadual de Pernambuco, pela Mandata Juntas/PSOL, com mais quatro codeputadas. Participaram também Selma Moreira, diretora-executiva do Fundo Baobá, Fernanda Lopes, diretora de programa da organização, Katia Maia, diretora-executiva da Oxfam Brasil, e Tauá Pires, coordenadora de gênero e raça dessa organização.

Na abertura do evento, Katia Maia reforçou a importância do encontro virtual para  aumentar o engajamento político daquelas que não são representadas: “é uma luta fundamental para o nosso país neste momento e a principal forma de enfrentar e combater a desigualdade é entrar nos espaços dominados por homens brancos”, afirmou.

Selma Moreira fez questão de exaltar a importância da representatividade naquela ocasião: “Me emociona ver tantos rostos de mulheres negras nesta tela”. Como diretora-executiva do Fundo Baobá, ela salientou a importância de programas que desenvolvam as habilidades de liderança de mulheres negras: “Quando a gente fala de participação política, a gente olha para os grupos que estão em cargos parlamentares. Porém, há também outros espaços de poder, como as comunidades, e os seus processos locais;  as empresas. Por isso, quando o Fundo Baobá desenvolve e lança um programa de aceleração de lideranças femininas negras, é com expectativa de contribuir para que mais mulheres representem a força da mulher negra em vários espaços e construir um novo cenário. Que possamos participar de um espaço que nos inclua”.  

Em sua fala, Lúcia Xavier (ONG Criola) também ressaltou a importância de espaços que fomentem a participação política da mulher negra na nossa sociedade. “A participação feminina negra é a afirmação do sujeito político mulher negra, que vem a público dizer o que quer, o que lhe interessa, o que lhe é de direito, mas que também vem  a público disputar poder”. Segundo ela, participação é manejar instrumentos políticos que, necessariamente, parecem naturais. “Basta dizer sim ou não e isso já é uma manifestação política, mas são instrumentos que nos ajudam a construir a nossa expressão pública, explicitando nossos interesses e nossos processos de disputa de poder e, sobretudo, nos ajudam a definir quem somos nos momentos de decisão, individual e coletiva”. Lúcia afirmou ainda que a participação da mulher negra é fundamental para a cidadania “porque, sem essa dinâmica de participação, a cidadania  não tem sentido, ela não se faz concretamente, age como título sem conteúdo.”

Frente às dificuldades encontradas neste país em garantir a participação política negra, Lúcia Xavier recorreu à história e relembrou que as mulheres negras não tinham participação política no processo de preparação para a Conferência de Durban, na África do Sul. “As mulheres negras estavam de fora do processo da conferência de Durban e, em 1999,  elas resolveram criar uma articulação que pudesse dar conta da participação de diferentes mulheres naquele contexto. A partir daí, dominaram de 1999 a 2001 todos os campos de discussão, aprendendo e ensinando a fazer política em um campo já determinado e fechado, com práticas e instrumentos que elas não dominavam”, explicou. “Então, necessariamente, não significa que a participação seja só agir sob o instituído, mas sim instituir novos processos e novas dinâmicas, nos quais a sua voz e a sua vez são projetadas.”

A codeputada Robeyoncé Lima, de Recife (PE), aproveitou o gancho deixado por Lúcia Xavier, sobre a nova dinâmica de fazer política, para exaltar a forma como ela, mulher-trans e negra, conseguiu se tornar representante na Assembleia Legislativa de Pernambuco, em uma nova configuração que se constituiu na “Mandata Coletiva – Juntas”, na qual ela e mais quatro codeputadas (Jô Cavalcante, Carol Vergolino, Kátia Cunha e Joelma Carla) foram eleitas para conduzir o mesmo mandato. “É uma tentativa de trazer um novo cenário para a política e um novo contexto, sendo uma nova configuração e, até mesmo, um ‘hackeamento’, dessa política que não representa a gente. Na Assembleia Legislativa, somos a primeira experiência de uma Mandata Coletiva de participação popular antirracista e anticapitalista. Vivemos um momento em que a participação de mulheres na política, sobretudo de mulheres negras, é pouco expressiva.”

Robeyoncé também rememorou a origem da falta de participação política feminina, sobretudo a negra, na história do país e do mundo. “As mulheres só tiveram direito ao voto no ano de 1932, mesmo assim com a autorização do marido. Portanto, a história da mulher negra na política é algo muito recente. A gente vem tentando, constantemente construir, e esse espaço é negado pra gente o tempo todo”, afirmou. Depois de 80 anos da conquista do voto feminino, as mulheres são apenas 15% das cadeiras do Congresso Nacional, conforme falou a codeputada. “Em se tratando de mulheres negras, esse número cai para 3%, sendo que representamos 28% da população do país. Essa disparidade põe em cheque a falácia de que o Congresso Nacional é o sistema representativo que a gente tem no país. No final das contas, ele terminou cedendo a interesses econômicos e cedendo à ideia cultural da sociedade brasileira de que política é só para homem. O que precisamos fazer é desconfigurar esse sentido. Se quisermos reescrever a história, precisamos ter gente nossa lá dentro”. 

Com exceção das organizadoras do evento, de Lúcia, da codeputada Robeyocé e da jornalista Camila da Silva, do portal Mundo Negro, todas as demais mulheres que falaram fazem parte do Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, iniciativa do Fundo Baobá em parceria com Instituto Ibirapitanga, Fundação Ford, Open Society Foundations e Fundação Kellogg. Vanessa Barbosa, articuladora do Movimento Negro Evangélico no Recife (PE) e da Rede de Mulheres Negras Evangélicas do Brasil, foi a primeira a pedir a palavra, e destacou a importância da educação política para as pessoas em situação de vulnerabilidade, ressaltando, principalmente, as mulheres negras “No começo do ano, tivemos uma pesquisa do Datafolha mostrando que a maioria do núcleo evangélico no país é composto por mulheres negras, de baixa escolaridade e de baixa renda. Nós, do Movimento Negro Evangélico, temos nos preocupado em como fazer um processo de conscientização e educação política junto como esse povo, porque a gente sabe que o fundamentalismo religioso é expresso na bancada evangélica, nas esferas estadual e federal. E essa frente parlamentar evangélica tem prestado um verdadeiro desserviço à nossa democracia e à vida da população negra, principalmente nesse contexto de pandemia”, afirmou.

Referente ao impacto da pandemia do coronavírus na população negra, a líder Clara Marinho, que é gestora pública federal, atua na área econômica e tem acesso às previsões macroeconômicas, explicou que serão tempos desafiadores e que é necessário resiliência. “Há uma previsão, pós pandemia, de aceleração tecnológica, de uberização dos empregos, ampliação de desemprego e do subemprego. Tivemos, recentemente, o projeto da renda emergencial, que teve muitos buracos. Chegou pra gente que não precisava e não chegou pra quem realmente necessitava. O valor de 600 reais foi fixado pelo Congresso Nacional, mas quem recebeu os benefícios políticos disso foi o Executivo. Portanto, é necessário agir.”

Dentro ainda do contexto de educação política, apresentado por Vanessa Barbosa, a jornalista Camila da Silva, do portal Mundo Negro, externou sua preocupação com a juventude feminina negra. “Eu me questiono como nós, mulheres negras, conseguimos transformar todas as nossas discussões, e embasamento, em ações, pautando também a juventude negra e as meninas negras. Como a gente entende a educação nesse cenário, ainda mais considerando que o Brasil é o quarto país em número de casamentos na infância e adolescência, e grande parte deles envolvem meninas negras?”, indagou.

Ingrid Farias, advogada feminista antiproibicionista de Pernambuco, ressaltou que a discussão de fomentar candidaturas de mulheres negras deve ser pautada dentro dos próprios partidos políticos. “A dificuldade em se ter uma mulher dentro da política começa dentro dos próprios partidos políticos, ditos progressistas, que minimizam a nossa luta dizendo que assuntos de identidade não podem estar acima de assuntos relacionados à crise política. Sempre que tentamos colocar o debate racial no centro da questão, somos tidas como loucas, que querem mudar o foco diante de um momento de crise, sendo justamente nesses momentos que devemos levantar essas questões”.  Ela também destacou que a esquerda não conhece a classe trabalhadora, quem a compõe nem quem faz as cidades e suas riquezas. Dogivania Sousa, líder quilombola do Maranhão, reforçou o cenário de exclusões vivenciados nos partidos e apresentou a ideia de “formar um partido apenas com mulheres.”

“Esse sistema, da forma como está estruturado, não vai nos escutar, pois está estruturado para manter privilégios”, disse Chiara Ramos, do Coletivo Abayomi de Juristas Negras, de Pernambuco, em uma fala que ela mesma classificou como incendiária. “Ou nos articulamos para sermos uma força revolucionária ou não vamos conseguir fazer com que nos escutem e que se sensibilizem. Afinal, trata-se de um sistema construído e constituído juridicamente, politicamente e institucionalmente para nos negar a existência.”

Chrys Pereira, do Grupo de Mulheres Lésbicas e Bissexuais Maria Quiteria, da Paraíba, recitou um poema dedicado a todas as participantes do evento. O texto traz luz e esperança, configurando o objetivo do encontro virtual, aliado com a missão do Fundo Baobá, que é a promoção da equidade racial dentro do eixo viver com dignidade:

“Atenção, atenção
Finalmente estamos unidas fazendo revolução
É Preta que questiona
É Preta que tensiona
É organização ancestral que está se manifestando em nós

Recebe, Preta
Recebe
Deixa essa energia trabalhar 
Seja no parlamento, no campo, na cidade
Ou nas águas que você está
Mas tem que ser com a sabedoria das Pretas mais velhas,  
Que te forjaram nessa resistência.

Tá na hora de tu reconhecer
Que o teu conhecimento tem poder 
É poder e ninguém tira de você
Ocupa, Preta. Ocupa”

Ágora da Abrasco discute avanço da pandemia de Covid-19 em regiões vulneráveis

No dia 8 de maio, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) realizou mais uma edição da Ágora, um espaço livre de diálogo, com a participação de pessoas de diversos setores públicos e movimentos sociais. O tema debatido foi a pandemia, que na época do evento já havia feito 9 mil vítimas fatais no país. Hoje, o número se aproxima dos 30 mil mortos no Brasil. Na ocasião, o país também chorava a morte do músico e compositor Aldir Blanc, em 4 de maio, também vítima da Covid-19. O evento contou com homenagens que reverenciavam o seu legado para a cultura brasileira.

Com a mediação do professor Luís Eduardo Batista, coordenador do GT Racismo e Saúde da Abrasco, o encontro virtual, que foi transmitido em tempo real pelo YouTube, contou com a presença da deputada federal Jandira Feghali (PCdoB/RJ), do senador Rogério Carvalho (PT/SE), de Richarlls Martins, coordenador da Rede Brasileira de População e Desenvolvimento do Rio de Janeiro, e de Fernanda Lopes, diretora de Programa do Fundo Baobá. Estiveram presentes os membros da Abrasco: Gulnar Azevedo, presidente dessa entidade, Eli Iola Gurgel, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, e Cristiani Vieira Machado, vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Luís Eduardo Batista, Coordenador do GT Racismo e Saúde da Abrasco

Fernanda Lopes, do Fundo Baobá para Equidade Racial, falou da atuação da organização no combate ao coronavírus por meio do edital Doações Emergenciais, que recebeu demandas de apoio para ações de combate à Covid-19. “Nós ficamos com edital aberto por duas semanas e recebemos, nesse período, 1.037 inscrições, sendo 650 de indivíduos e 387 de organizações”, disse. 

Para Fernanda, o recorde de números reflete o problema da desigualdade no país. “Isso foi um dos indicadores mais precisos dessa relação da filantropia e justiça social, com um problema  que é estrutural. Dentro do contexto da pandemia, não estamos lidando com uma situação que é nova porque as desigualdades sempre existiram. Esse caminho que o coronavírus toma, rumo a maior letalidade de pessoas que estão em situação de pobreza e em condições de vulnerabilidade socioeconômica, é um percurso comum das doenças no Brasil, dado que a saúde e a doença não são fatalidades nem obras do destino.” 

Fernanda Lopes, Diretora de Programa do Fundo Baobá

A proliferação do coronavírus em lugares mais vulneráveis é o que pauta a atuação do Fundo Baobá no trabalho de promoção da equidade, oferecendo a oportunidade de viver com dignidade, um dos eixos trabalhados pela organização. “Quando a gente olha para a cidade de São Paulo, que concentra um enorme número de casos de Covid-19, vemos que, para cada óbito em Moema, bairro com menos pessoas negras, são quatro óbitos na Brasilândia, um bairro periférico e um dos mais negros em São Paulo”, revelou. “Então, é também sobre isso que estamos falando e sobre as intersecções entre raça, pobreza, gênero. A nossa ação vem como uma resposta imediata para essa demanda urgente.”

Demanda urgente que também fez Fernanda relembrar um ponto simbólico na história do Brasil. “Esse edital de apoio é uma marca simbólica do nosso compromisso de resgate ao ideal da filantropia negra, porque quando as irmandades começaram a atuar no Brasil foi exatamente em uma situação de calamidade, porque a escravidão negra também foi uma situação de calamidade, e as irmandades se reuniam e angariavam recursos para apoiar sepultamentos e funerais com dignidade”, relembrou. “Agora, os nossos investimentos são para que haja menos mortes no país.”

Jandira Feghali, que além de deputada federal é médica,  falou da sua atuação parlamentar no enfrentamento da doença e dos desafios dessa ação.  “No Congresso nacional, enfrentamos hoje três crises: sanitária, econômica e política, sendo que essa dá saltos cada vez maiores. Mesmo assim, a gente tenta pautar projetos no campo da saúde, mas também no campo econômico, tentando superar essa amistosidade que há entre a saúde e a defesa da vida, com o emprego e a defesa da renda, até porque a economia tem que estar a serviço das pessoas”. Entre os projetos votados citados pela parlamentar estão o decreto de calamidade e o auxílio emergencial no valor 600 reais, além da aprovação do orçamento citado por ela como Orçamento de Guerra. 

Jandira Feghali, Deputada Federal – PCdoB/RJ

“Há projetos também como a MP 936, pela proteção do emprego, que a gente está tentando avançar. Nós estamos tentando responder. Mas, do ponto de vista do Congresso Nacional, o nosso problema está no Executivo, que confronta o Supremo e Congresso, rompendo permanentemente a constituição brasileira e estimulando a ruptura democrática de forma permanente. Mas o esforço é grande”, finalizou a deputada.

O mesmo desafio também enfrenta o também médico e  senador Rogério Carvalho. Entre as ações realizadas estão o cancelamento da MP 905, que permitia o rompimento de contrato de trabalhadores por seis meses, durante a pandemia. “Conseguimos derrubar, pois seria um absurdo aprovar uma reforma trabalhista em meio a todo esse contexto. A gente também conseguiu melhorar o recurso de R$ 50 bilhões para os estados do país, que têm a maior responsabilidade assistencial, mas sem tirar dinheiro dos municípios, garantindo que  houvesse suspensão de pagamentos de débitos previdenciários. Então, agregamos em torno de R$ 10 bilhões a mais no auxílio emergencial a estados e municípios.”

Rogério Carvalho, Senador – PT/SE

Na esfera social, Richarlls Martins, professor da UFRJ e doutorando em saúde coletiva, conta como foi coordenar o processo de  elaboração do Plano de Ação Coletiva ao Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro. “Tudo começou quando um grupo de pesquisadores da UFRJ, da UERJ, da PUC-RJ e da Fiocruz se reuniu com articuladores dos territórios moradores das favelas do Rio de Janeiro, como a Cidade de Deus, Rocinha, Dona Marta, Maré e Alemão, para pensar a construção de um plano de ação ideal para o enfrentamento da pandemia nesses locais”. Esse trabalho foi realizado durante dez dias, durante os quais foi elaborado um plano de ação que dialoga com três grandes eixos cooperativos com medidas preventivas, sendo que um deles se relaciona diretamente com pólos de atendimento nas favelas e ações de apoio social.

“Para a nossa surpresa, conseguimos reunir, em tempo recorde, as principais autoridades públicas do Rio de Janeiro, para a entrega desse Plano, juntamente com a participação da Abrasco, do sindicato dos médicos, das enfermeiras e os agentes comunitários de saúde. Entregamos para o subsecretário de saúde e também para o de infraestrutura municipal e estadual do Rio de Janeiro”, disse Richarlls. 

Richarlls Martins, Coordenador da Rede Brasileira de População e Desenvolvimento

Apenas um dia depois desse encontro, Richarlls Martins foi convidado pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro para entregar o mesmo Plano para os deputados e deputadas. “O principal encaminhamento dessa reunião foi a aprovação do recurso emergencial do enfrentamento à Covid-19 para ação integral do Plano. Saímos de lá com o compromisso de orçar esse Plano para rápida implementação”, afirmou.

Assim como destacado por  Fernanda Lopes, do Fundo Baobá, para Richarlls Martins a pandemia tem um curso marcado fortemente pela desigualdade social. “Analisando os dados da infecção, em especial na zona oeste do Rio de Janeiro, estão os bairros com os maiores níveis de contágio e de letalidade, em comparação a outros bairros. Se ações emergenciais não forem feitas neste momento, as favelas do Rio de Janeiro serão os lugares com os mais altos índices de mortes por coronavírus”, finalizou.

Para a Deputada Jandira Feghalli, o trabalho realizado pelo Fundo Baobá e pela Rede Brasileira de População e Desenvolvimento é importantíssimo para a sociedade. “As desigualdades se expressam com muita força neste momento, por isso são necessárias essas ações emergenciais.”

Livro sobre o Fundo Baobá será lançado em Salvador

Obra relata o esforço de representantes da Fundação Kellogg e de lideranças do movimento negro brasileiro para criar mecanismo pioneiro no País

 

Depois do sucesso em São Paulo, o Fundo Baobá, lança no dia 12 de julho, o livro “Memórias do Baobá – Raízes e Sementes na Luta por Equidade Racial no Brasil” (Kitabu Editora, 144 páginas), em Salvador. O evento contará com a participação do Presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá, Hélio Santos, da Diretora Executiva do Fundo Baobá, Selma Moreira, de um dos organizadores do livro, Amilcar Pereira, do vereador de Salvador, Silvio Humberto, e dos participantes do livro, Rosana Fernandes e Elias Sampaio.

O livro conta a história do Fundo Baobá, criado em 2011 a partir da iniciativa da Fundação Kellogg, uma fundação privada e filantrópica norte-americana, que resolveu apoiar com recursos a criação de um mecanismo inédito para promoção da equidade racial no Brasil e deixar um legado para o País.

Na época, para colocar isso em prática, um comitê programático foi formado com diferentes atores sociais envolvidos com a causa e líderes do movimento negro. Como um documentário escrito, a obra materializa a trajetória da organização por meio de 18 depoimentos de ativistas da área, integrantes do processo de construção do Fundo Baobá, seja como líderes ou participantes de grande relevância, além de consultores da Fundação Kellogg.

As entrevistas buscam mostrar como, por diferentes caminhos, cada entrevistado chegou ao processo de constituição do Baobá, considerando uma pluralidade de percepções, perspectivas e experiências.

Os organizadores do livro Amilcar Araújo Pereira, Julio Cesar Correia de Oliveira e Thayara Cristine Silva de Lima, optaram por dividi-lo em três capítulos: Articulações; Construções; e, por fim, Avaliações e Expectativas. Dessa forma, o leitor consegue enxergar a gama de articulações, debates e reflexões necessários para tornar o Fundo Baobá uma realidade. Outro recurso também permite ao leitor ter uma visão geral dos princípais marcos da luta pela equidade social: uma Linha do Tempo, desde 1888 até os dias atuais.

Os entrevistados do livro são: Ana Toni; Andrés Thompson; Antônio Nascimento; Cristina Lopes; Elias Sampaio; Hélio Santos; Joe Stewart; Luiz Alberto de Oliveira Gonçalves; Luiza Bairros; Maria do Socorro Guterres; Maria Nazaré Mota de Lima; Rosana Fernandes; Roseni Sena; Rui Mesquita Cordeiro; Selma Moreira; Silvio Humberto; Sueli Carneiro e Tarry Cristina Santos Pereira.

Se você estará em Salvador nesse dia compareça ao evento. Mas lembre-se: chegue no horário, pois as vagas são limitadas.

Dados do evento:

12/7/16 das 19h às 21h30.

Centro Cultural na Câmara dos Vereadores de Salvador

Praça Thomé de Souza, s/n, Centro, Salvador.