Edital para primeira infância no contexto da pandemia da Covid-19

Qual o pai ou a mãe que não quer uma vida melhor para seus filhos? É nas futuras gerações que vemos a oportunidade de corrigir aquilo que prejudicou nossa vida – um sonho crucial, no caso de quem vive em condições de desigualdade e que fica mais distante no contexto da pandemia da Covid-19. As crianças que estão nascendo agora em 2020 correm o risco de passar a primeira infância em um ambiente ainda mais pauperizado e vulnerável do ponto de vista social e econômico. 

Esse cenário levou o Fundo Baobá, em parceria com a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, a Porticus América Latina e a Imaginable Futures, a lançar um edital para selecionar iniciativas de apoio a famílias que, em seu núcleo, tenham mulheres e adolescentes grávidas, mulheres que deram à luz e homens responsáveis e corresponsáveis pelo cuidado de crianças de 0 a 6 anos no contexto da pandemia Covid-19 para receberem apoio emergencial no valor de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) a R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

Podem pleitear a doação pessoas físicas que atuem nas áreas de saúde, educação e assistência social, com experiência prévia comprovada em formular e implementar ações dirigidas a crianças de 0 a 6 anos, seus familiares e cuidadores, incluindo homens; mulheres e adolescentes grávidas ou que acabaram de dar à luz. 

Serão priorizadas propostas apresentadas por profissionais das áreas citadas acima e que se autodeclarem negros (as), indígenas, migrantes ou refugiados (as) e que estejam voltados para o apoio às famílias que vivem em contextos de desigualdades sociais, violência urbana e/ou intrafamiliar, desemprego, fome e outras adversidades agravadas no contexto da pandemia da Covid-19.

Se você se encaixa nesses critérios e gostaria de ter suas ações apoiadas, elabore sua proposta, preencha o formulário, detalhando o estado, cidade, bairro (s) e comunidade (s) onde serão realizadas as ações, suas impressões relacionadas às necessidades das famílias, as ações a serem realizadas e os resultados esperados. Aqui, você encontra resposta às dúvidas mais frequentes sobre o preenchimento do formulário e sobre o edital, que pode ser conferido neste link.

O edital permanecerá aberto até o dia 9 de agosto às 23h59, e a lista de selecionados será divulgada no site e nas redes sociais do Fundo Baobá em até 45 dias após o encerramento das inscrições.  

Após a seleção, as doações serão creditadas em até dez dias úteis na conta bancária indicada no formulário. Os contemplados pela doação emergencial terão até 90 (noventa dias) após o recebimento dos valores para prestar contas, seguindo as orientações e formulários eletrônicos disponíveis no Fundo Baobá.

EDITAL PRIMEIRA INFÂNCIA NO CONTEXTO DA COVID-19

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO

Art. 1 O presente documento tem por objetivo estabelecer regras e procedimentos para a realização de doações no âmbito da resposta emergencial do Fundo Baoba para Equidade Racial com foco na primeira infância.   

Parágrafo único. A doação será no valor de R$ 2.500,00 a R$ 5.000,00 por donatário.

Art. 2 Para fins desta iniciativa o Fundo Baobá, em parceria com Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Porticus América Latina e Imaginable Futures, irão considerar exclusivamente propostas que envolvam:

I. ações de apoio às famílias em contexto de vulnerabilidade socioeconômica no que toca ao cuidado integral de crianças de até 6 (seis) anos. 

II. ações voltadas para o suporte biopsicossocial de mulheres ou adolescentes grávidas ou puérperas, em contexto de vulnerabilidade socioeconômica. 

III. ações voltadas para homens responsáveis ou corresponsáveis pelo cuidado integral de crianças de até 6 (seis) anos

IV. ações voltadas para adultos responsáveis por cuidar, estimular, interagir, impor limites, fortalecer a autonomia e preparar a criança para os desafios e oportunidades da vida presente e adulta.

V. ações voltadas para prevenção à violência intrafamiliar e doméstica contra mulheres, idosos, crianças e adolescentes de famílias que tenham em seu núcleo crianças de até 6(seis) anos e gestantes. 

VI. ações de assistência à mulheres, idosos e crianças vítimas de violência intrafamiliar e doméstica de famílias que tenham em seu núcleo crianças de até 6 (seis) anos e gestantes.

Art. 3 Considera-se doação para primeira infância no contexto da COVID19 aquela destinada à formulação e implementação de ações voltadas aos adultos responsáveis por cuidar, estimular, interagir, impor limites, fortalecer a autonomia e preparar a criança de 0 a 6 anos para os desafios e oportunidades da vida presente e adulta. 

Parágrafo único: Serão priorizadas propostas voltadas para o apoio à famílias que vivem em contextos de desigualdades sociais, violência urbana, violência intrafamiliar, desemprego, fome e outras adversidades agravadas no contexto da pandemia de COVID19.

CAPÍTULO II – PROCEDIMENTOS

Seção I – Pedidos de doação  

Art. 4 Poderão pleitear doação pessoas físicas que atuam nas áreas de saúde, educação e assistência social com experiencia previa comprovada em formular e implementar ações dirigidas à:

I. crianças de 0 a 6 anos,

II. mulheres e adolescentes gravidas ou puérperas;

III. familiares e seus cuidadores de crianças de 0 a 6 anos, incluindo homens; e/ou

IV. prevenção de violência intrafamiliar e atenção às vítimas.

Parágrafo único: Serão priorizadas propostas apresentadas por profissionais que atuam nas áreas de saúde, educação e assistência social e se autodeclarem negros(as), indígenas, migrantes ou refugiados(as).

Art. 5 Todas as pessoas interessadas devem preencher formulário eletrônico de requerimento disponibilizado pelo Fundo Baobá contendo detalhes da proposta e os seguintes documentos: i) minibiografia com foto; ii) comprovante de escolaridade ou registro profissional; iii) comprovante de experiencia que pode ser  currículo detalhado;  carta de recomendação assinada, com descrição de seus habilidades, nome completo, e-mail e telefone da pessoa que assina; contrato de trabalho; declaração da instituição empregadora com descrição de seus habilidades e atribuições, nome completo, e-mail e telefone da pessoa que assina. 

Seção II – Análise dos pedidos

Art. 6 A Diretoria do Fundo Baobá deverá pautar sua decisão pelos seguintes critérios:

I. coerência da proposta frente aos objetivos do edital.

II. adequação e factibilidade da proposta frente às condições de vida e saúde dos sujeitos para os quais as ações são dirigidas

III. adequação e factibilidade da proposta frente às singularidades dos sujeitos para os quais as ações são dirigidas (por exemplo ações dirigidas a povos indígenas, quilombolas, migrantes ou refugiados, serão avaliadas em relação à sensibilidade cultural)

IV. adequação e factibilidade da proposta frente ao contexto de isolamento social imposto pela pandemia da COVID19.

Parágrafo único: Um(a) mesmo(a) donatário(a) não será contemplado por mais de uma doação emergencial no período de 12 meses.

Art. 7 Os pedidos de doação serão decididos pela Diretoria do Fundo Baobá.

1º Os pedidos de doação devem ser apresentados exclusivamente por meio de Formulário de Requerimento, no período de 06 a 26 de julho.
2º Será publicada apenas 01 (uma) lista de propostas selecionadas até 45 dias após o prazo de encerramento das inscrições.
3º Os resultados serão divulgados no site do Fundo Baobá e redes sociais.
4º O Fundo Baobá irá entrar em contato, por e-mail, EXCLUSIVAMENTE com as pessoas  cujas solicitações forem aprovadas.
5º Uma vez que as solicitações sejam  aprovadas, os recursos serão creditados em até 10 (dez) dias úteis.
6º A doação estará sujeita ao aceite dos termos e regras previstos no Formulário de Requerimento.

Art. 8 As pessoas contempladas pela doação emergencial terão até 90 (noventa dias) dias após o recebimento dos valores para prestar contas, seguindo as orientações e formulários eletrônicos disponibilizados pelo Fundo Baobá. 

Parágrafo Único: Caso a prestação de contas não seja feita, a pessoa não poderá receber apoio do Fundo Baobá por 5 anos. 

CAPÍTULO III – Disposições finais

Art. 9 Lacunas ou controvérsias relacionadas a este documento serão solucionadas pela Diretoria do Baobá.

Perguntas e Respostas – Edital primeira infância

1 – Como faço para me inscrever?

Basta preencher o formulário que se encontra aqui.

2 – Eu não tenho as redes sociais descritas no formulário (Facebook, Instagram e LinkedIn), posso me inscrever mesmo assim?

Redes sociais e demais informações que não estiverem assinaladas com asterisco (*) não são obrigatórias. Você pode enviar o formulário sem elas.

3 – O que é essa doação para primeira infância?

Considera-se doação para primeira infância no contexto da COVID19 aquela destinada à formulação e implementação de ações voltadas aos adultos responsáveis por cuidar, estimular, interagir, impor limites, fortalecer a autonomia e preparar a criança de 0 a 6 anos para os desafios e oportunidades da vida presente e adulta.  

4 – Podem participar projetos que não sejam totalmente focados em crianças, mas em famílias com necessidades?

São seis as ações de apoio para as quais o auxílio é destinado e todas elas envolvem crianças:
1. Ações de apoio às famílias em contexto de vulnerabilidade socioeconômica no que toca ao cuidado integral de crianças de até 6 (seis) anos
2. Ações voltadas para homens responsáveis ou corresponsáveis pelo cuidado integral de crianças de até 6 (seis) anos.
3. Ações voltadas para o suporte biopsicossocial de mulheres ou adolescentes grávidas ou no pós parto, em contexto de vulnerabilidade socioeconômica.
4. Ações voltadas para adultos responsáveis por cuidar, estimular, interagir, impor limites, fortalecer a autonomia e preparar a criança para os desafios e oportunidades da vida presente e adulta.
5. Ações voltadas para prevenção à violência intrafamiliar e doméstica contra mulheres, idosos, crianças e adolescentes de famílias que tenham em seu núcleo crianças de até 6 (seis) anos e gestantes.
6. Ações de assistência à mulheres, idosos e crianças vítimas de violência intrafamiliar e doméstica de famílias que tenham em seu núcleo crianças de até 6 (seis) anos e gestantes.

5 – Não tenho nenhuma formação na área da saúde, mas posso me inscrever no edital mesmo assim?

O edital é exclusivo para pessoas que tenham formação e experiência profissional comprovada na área da saúde, educação ou assistência social. 

6 – Não sou negro(a), posso me inscrever no edital mesmo assim?

O edital vai priorizar pessoas que se autodeclarem negros (as), indígenas, migrantes ou refugiados (as). 

7 – Eu não tenho registro em carteira que comprova a minha experiência profissional. O que faço? 

Consideramos comprovantes de experiência profissional: Currículo detalhado; Carta de recomendação assinada, com descrição de seus habilidades, com o nome completo, e-mail e telefone da pessoa que assina; Contrato de trabalho; Declaração da instituição empregadora com descrição de seus habilidades e atribuições,  também com nome completo, e-mail e telefone da pessoa que assina.

8 – Tenho medo de me comprometer com resultados esperados porque tudo é muito incerto.  Serei cobrado por eles?

O ideal é que você proponha ações cujos resultados são mais viáveis de serem alcançados. 

9 – O que acontece se não conseguirmos cumprir o prazo de 90 dias para envio do relatório, uma vez que estaremos envolvidos com a execução das ações?

O relatório será algo simples. As orientações sobre o seu preenchimento serão disponibilizadas pelo Fundo Baobá. Caso a prestação de contas não seja feita, no prazo de 90 dias, a pessoa não poderá receber apoio do Fundo Baobá por 5 anos.   

10 – Não consigo fazer o upload dos meus documentos. Como devo fazer?

O documento pode estar em formato PDF, JPG ou JPEG. Caso tenha mais de um documento a anexar, junte todos em um único arquivo e envie, não podendo ultrapassar mais que 16 MB.

11 – Não consigo juntar todos os documentos em um único PDF, como o formulário. Como faço?

Você pode fotografar os documentos e transformar as fotos em PDF, juntando tudo em um único documento. Com alguns aplicativos como o CamScanner, disponível para Android e iOS, é possível fazer isso. Neste link, você encontra um tutorial no YouTube e uma matéria sobre o app.

12 – Eu fui contemplado em outro edital do Fundo Baobá para apoio emergencial no contexto da pandemia de COVID19, posso me candidatar novamente?

Um(a) mesmo(a) donatário(a) NÃO será contemplado por mais de uma doação emergencial no período de 12 meses. 

13 – Após terminar o preenchimento eu não recebo um e-mail de confirmação. Como vou saber que meu projeto foi enviado? 

Quando todas as perguntas do formulário são respondidas, deve-se apertar o botão concluído. Neste momento aparece na tela uma mensagem de agradecimento pelo interesse. Ela então deve apertar concluído novamente para que o formulário entre no sistema.

14 – Após enviar o formulário de requerimento eu não fico com uma cópia da proposta. Como resolver este problema? 

Todas as pessoas selecionadas irão receber uma cópia em pdf do projeto enviado.

15 – Vocês dizem que procurarão os selecionados. E os que não forem selecionados? Como fico sabendo que meu pedido não foi aceito?

Neste momento de emergência, não conseguiremos entrar em contato com todos. Vamos procurar apenas aqueles que forem selecionados. Publicaremos a lista de quem foi selecionado em nosso site, com divulgação em nossas redes sociais.  Basta nos seguir: 

Instagram: @FundoBaoba
Facebook:​ ​https://m.facebook.com/fundobaoba
Twitter:​ @fundobaoba

16 – Posso inscrever mais de um projeto?

Para cada pessoa que se inscrever, será avaliada apenas uma proposta. 

17 – Nao tenho conta corrente, só conta poupança: posso usar essa?

Sim.

18 – A proposta inicial pode sofrer alteração durante a execução, desde que seja mantido o valor original ou terei problemas com a prestação de contas? 

Pode ser ajustada, mas o ideal é não se afastar da ideia original. 

19 –  Pode ter mais de um proponente da mesma comunidade/região?

Sim.

20 – Mas se eu ainda tiver dúvidas, como faço?

Envie e-mail para duvidaseditais@baoba.org.br.


Novo edital do Fundo Baobá durante a pandemia tem como foco primeira infância

É inegável que a Covid-19 alterou profundamente não apenas o dia a dia profissional das pessoas, mas mexeu também com a estrutura familiar à medida que suspendeu as aulas, reduziu receita, em muitos casos, e isolou todos em casa. Se essas mudanças causam transtorno na vida de quem tem acesso a bens e serviços de qualidade, o que dizer dos que vivem uma realidade inversa, sobretudo as crianças?

Foi pensando nelas que o Fundo Baobá – em parceria com a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, a Porticus América Latina e a Imaginable Futures – lançou um edital com foco na primeira infância neste momento de tantas incertezas.

O objetivo é selecionar iniciativas de apoio a famílias que, em seu núcleo, tenham mulheres e adolescentes grávidas, mulheres que deram à luz e homens responsáveis e corresponsáveis pelo cuidado de crianças na faixa etária de 0 a 6 anos, no contexto da pandemia Covid-19.

Segundo Selma Moreira, diretora-executiva do Fundo Baobá, a pandemia vai aprofundar diferenças econômicas e sociais. “As famílias mais vulneráveis serão as mais atingidas e as crianças desses núcleos também vão sofrer mais em ambientes pauperizados quando a pandemia passar”, disse.

Para as organizações parceiras, o edital é uma ótima oportunidade para apoiar quem mais precisa. “No Brasil, esta é a primeira parceria com enfoque específico na pauta de equidade racial com um olhar para a primeira infância. Nos Estados Unidos, a Imaginable Futures já segue uma estratégia voltada para a primeira infância há dois anos”, fala a gerente responsável pela Imaginable Futures no Brasil, Nathalie Zogbi.

Mirela Sandrini, diretora regional da Porticus América Latina, diz que o apoio é emergencial, mas seu propósito é perene. “Esperamos continuar aprendendo e colaborando neste campo”, afirmou.

A Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, por sua vez, já lançou editais e chamadas de propostas na área de desenvolvimento infantil na primeira infância, com foco nas populações mais vulneráveis em diversas regiões do Brasil. Portanto, para eles a parceria é mais uma oportunidade para fazer a diferença.

“Neste momento de pandemia, esperamos atender as necessidades imediatas da população das comunidades periféricas brasileiras, trazendo o recorte dos cuidados com a primeira infância. Esperamos que os diferentes apoios individuais possam, de fato, proporcionar um impacto coletivo em quem mais precisa”, afirma a analista de conhecimento aplicado, Maíra Souza.

Podem pleitear a doação pessoas físicas que atuem nas áreas de saúde, educação e assistência social, com experiência prévia comprovada em formular e implementar ações dirigidas a essas crianças, em apoio às famílias que vivem em contextos de desigualdades sociais, violência urbana e/ou intrafamiliar, desemprego, fome e outras adversidades agravadas pela pandemia.A doação única, no valor de R$ 2.500,0 (dois mil e quinhentos reais) a R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por donatário, será creditada na conta indicada no formulário de inscrição até dez dias úteis após a divulgação dos resultados. Mais informações podem ser obtidas neste link.

Fundo Baobá e Éditodos fazem parceria para impulsionar empreendedores negros

O que vai acontecer com a economia e as finanças pessoais após a pandemia é uma das principais preocupações mundiais. No caso do Brasil, estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) mostra que a recessão provocada pela Covid-19 vai marcar esta década como a pior em termos de crescimento da economia nacional. As projeções mais atualizadas para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) nacional deste ano mostram que o crescimento médio deve ficar próximo a zero. O Fundo Monetário Internacional (FMI) é ainda mais pessimista e prevê um índice negativo. 


Quando esses dados são analisados , os números são ainda mais impactantes – já que pretos e pardos são os que têm os vínculos empregatícios mais precários e informais. Dados do IBGE de 2018 revelam que, mesmo representando 55,8% , os negros são maioria entre os desempregados (64%) e entre os subutilizados (66,1%). Em 2019, a renda mensal equivalia a 55,8% da recebida pelos brancos.


Diante desse cenário e das perspectivas econômicas, o Fundo Baobá para Equidade Racial e a coalizão Éditodos se uniram para desenvolver o Programa de Emergências Econômicas para apoio financeiro a nano e microempreendedores das comunidades, favelas e periferias. O objetivo é arrecadar R$ 1 milhão apoiar 500 empreendedores com até R$ 2 mil – recurso que pode ser destinado a criar um fluxo mínimo de caixa para manter o negócio. Vale lembrar que empreendedorismo é um dos temas que integra o eixo Desenvolvimento Econômico, uma das prioridades de investimento do Fundo Baobá.

João Souza, fundador da ONG Fa.vela, um dos integrantes da Coalizão, diz que a iniciativa é extremamente importante porque, além de ser uma operação com um Fundo Filantrópico com recorte racial, será uma oportunidade de aprendizado. “O Baobá tem uma experiência sólida na gestão desse tipo de fundo e uma trajetória importante no apoio a projetos para negros e, especialmente, para mulheres. Portanto, é uma maneira de fortalecer nosso ecossistema.”

João Souza, fundador da ONG Fa.vela (Foto: Rodolfo Rizzo)


Ele explica que o foco do programa criado é a construção de caminhos emergenciais para a fase pós pandemia. “Sabemos que a maioria desses empreendedores não têm acesso, via poder público ou iniciativa privada, a formas de investimento. E, quando têm, estão sujeitos às dificuldades de conseguir crédito e às altas taxas de juros”, completa. 

Para agravar a situação, João fala que há ainda uma parcela que não consegue linhas de crédito e pode então recorrer a empréstimos ilegais. “Por isso, o programa se apresenta como um investimento assistido e uma oportunidade para passar por tudo isso com menos impacto.”

A expectativa é de que o programa beneficie pessoas negras que empreendem e que já tenham participado de outros projetos com, ao menos uma das organizações  que compõem a Coalizão Éditodos.

Mercado potente – Pesquisa realizada pelo Sebrae em 2018, a “Global Entrepreneurship Monitor (GEM)” revela que 40,2% das micro e pequenas empresas no Brasil são comandadas por negros. Quando o assunto é o faturamento, na faixa acima de R$ 36 mil estão 7,7% de empreendedores negros e 13,6% de brancos.

Giovanni Harvey, fundador da Incubadora Afro Brasileira e presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá, confirma que as pessoas negras que empreendem são, em qualquer circunstância, líderes com capacidade de influenciar a cadeia de valor dos seus negócios e exercem influência sobre o ambiente social no qual estão inseridos.

“As pessoas negras que empreendem têm contribuído há séculos para mudar a realidade do nosso país, nas mais variadas dimensões da vida política, econômica, religiosa, social, esportiva e cultural. A contribuição não está associada ao tamanho dos seus negócios pois, diga-se de passagem, não existem ‘pequenos (as) empreendedores negros (as)’, existem empreendedores negros (as) que lideram negócios de pequeno porte.”

Segundo ele, é possível afirmar que “os empreendimentos liderados por pessoas negras geram resultados (objetivos e subjetivos) e impactos (mensuráveis e não mensuráveis) que já contribuem para mudar a realidade do entorno onde atuam”.

Conheça a Coalizão Éditodos

O Éditodos é uma aliança, criada em 2017, entre seis organizações: Instituto Feira Preta, Associação Vale do Dendê, FA.VELA, Afrobusiness Brasil, Instituto Afro Latinas e Associação Agência Solano Trindade, todas ligadas ao empreendedorismo negro no Brasil. O propósito maior da organização é enfrentar o racismo estrutural e as disparidades de gênero para promover o empreendedorismo de oportunidade, com projetos ligados à inovação social e economia criativa de jovens e mulheres negras, moradores e atuantes nas periferias do país.

Juntas, elas comandam projetos que impactam aproximadamente 2 milhões de pessoas e têm como principal público-alvo as mulheres e jovens afro-empreendedorxs.


O país que queremos: foco nas comunidades que ninguém enxerga

O Brasil desconhece o Brasil. A frase, semelhante a que dá início à música “Querelas do Brasil”, de Aldir Blanc e Maurício Tapajós, imortalizada na voz de Elis Regina, define muito bem a falta de informações (decorrente, por sua vez, da falta do olhar) sobre o que efetivamente acontece no território nacional – sobretudo, nas regiões periféricas e quilombolas.

Permanecem distantes física, caso dos quilombos, e socialmente, como as comunidades periféricas, de quem vive nas grandes cidades. Assim, vão lidando com suas dificuldades diárias: as primeiras enfrentando o avanço do agronegócio, da exploração de recursos naturais e da terra, que pertence por direito e hereditariedade a seus moradores; as da periferias com a falta de acesso ao básico (serviços, saúde, infraestrutura) para a garantir a saúde de seus moradores. Agora, indistintamente, enfrentam também o desafio do isolamento imposto e agravado pela pandemia do coronavírus. 


Dados do censo do IBGE, de 2010, mostram que, naquele ano havia  3.224.529 domicílios, em 6.329 em favelas ou aglomerados subnormais, de acordo com a classificação do instituto. Um olhar mais atento sobre essas informações revelam significativa desigualdade, de acordo com a cor. Em 2018, era maior a proporção de negros residindo em casas sem coleta de lixo (12,5%) do que brancos (6%), sem abastecimento de água encanada (17,9% contra 11,5%) e sem rede de esgoto (42,8% contra 26,5%). Essas condições aumentam a vulnerabilidade, elevam a exposição a agentes causadores de doenças. Em nove anos, o número de aglomerados no país praticamente dobrou e o de moradores nessas condições aumentou em quase 20%.

Sarah Marques do Nascimento, educadora popular e co-fundadora do Coletivo Caranguejo Tabaiares, em Recife (PE) – e  uma das selecionadas do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, iniciativa do Fundo Baobá em parceria com Instituto Ibirapitanga, Fundação Ford, Open Society Foundations e Fundação Kellogg, com o projeto “Fortalecimento e resgate histórico das lutas comunitárias” – destaca que a pandemia tirou véus e mostrou a realidade das comunidades a quem não queria enxergar, pois evidenciou que saneamento básico e educação têm relação direta com saúde. 

Sarah Marques do Nascimento, educadora popular e co-fundadora do Coletivo Caranguejo Tabaiares, em Recife (PE)

“Nunca tivemos acesso fácil a nada, principalmente a serviços que hoje ainda são considerados privilégios, mas são direitos.” Ela acredita que só é possível mudar essa realidade recorrendo à força dos ancestrais, principalmente das mulheres que aterraram aquele chão. “Precisamos mostrar como foi duro, mas foi lindo construir a história dessa comunidade com tantas mulheres fortes, ligadas à terra, ao território e às nossas águas, como comunidade pesqueira que somos.”

Quem também acredita na força dos antepassados para entender o momento da comunidade e transformar realidades é Andrea Sena, diretora-presidente da Associação Artístico-Cultural Odeart, de Salvador. O projeto “Mulheres, Adolescentes e jovens negros do Cabula exigindo direitos à cidade”, selecionado, em 2018 no edital “A cidade que queremos”, do Fundo Baobá, dentro do eixo Comunicação e Memória, teve como ponto de partida a história do Quilombo Cabula e a luta pelos direitos humanos (civis, políticos, sociais, econômicos e culturais) de seus moradores.

Da esq pra dir: Andrea Sena, diretora-presidente da Associação Artístico-Cultural Odeart, de Salvador (BA) e Janice Nicolin

Foi o conhecimento sobre o passado quilombola que manteve a comunidade unida e engajada em diversas atividades, especialmente as que são dirigidas às crianças e aos jovens negros. O resgate da memória incluiu, entre outras atividades, o espetáculo “Cabula Aiyê”, com música, dança, cenografia, texto. “Tivemos também atividades da oficina de comunicação que, além das postagens nas redes sociais, criou peças sobre Salvador e o Cabula com sua luta quilombola”, conta Andrea. Não foram abordados apenas os aspectos históricos dessa luta, mas também as violação dos direitos de igualdade social que a população negra vive em Salvador e em várias áreas urbanizadas do Brasil. “Violência urbana, de gênero e raça contra a mulher e a mulher negra, genocídio da juventude negra, o papel das mídias negras nas dinâmicas de denúncia contra o racismo e a divulgação das dinâmicas de afirmação da igualdade racial foram outros temas trabalhados”, explica a diretora da Odeart.

Territórios do esquecimento

Segundo ela, quando se pensa em territorialidade, o Cabula é um lugar de luta contra os direitos violados: falta saneamento, educação, escolas adequadas à questão da igualdade racial, e serviços de saúde capazes de atender a demanda das 22 comunidades. Nem todas as casas têm água potável. Rede de esgoto não há. Percebe-se, no lugar, valas e regos que passam pela porta das moradias. Além da ameaça da Covid-19, os bairros têm focos do mosquito Aedes aegypti e registram casos de Chikungunya. A oferta de hospitais e postos de saúde é insuficiente para atender as comunidades, que contam, como o Cabula, com mais de 30 mil moradores cada.

“Então, quando se fala de meio ambiente e direitos violados torna-se difícil traçar um cenário de igualdade social no Cabula”, afirma Andrea. “Agora, na pandemia, muitos perderam emprego ou tiveram remuneração cortada, uma grande maioria tem como renda familiar o trabalho informal”. 

“Vivemos aqui uma discussão contra milícia e disputa de territórios. Sabemos que essa luta pode valer nossa vida, mas não há outra outra opção que não seja a luta pelo básico: saúde, educação, bem-estar”, explica Sarah Marques do Nascimento, do  Coletivo Caranguejo Tabaiares.  Para ela, é essencial ter apoio para contar cada uma dessas histórias, com a certeza de que, assim, não serão apagadas do mapa. “Ter apoio de um um programa que leva o nome da Marielle é muito forte”, ressalta.

Protagonistas locais mudam a História

Andrea Sena, diretora-presidente da Associação Artístico-Cultural Odeart, lembra que a partir do apoio do Fundo Baobá foi possível manter um grupo de trabalho coeso e atuante. “Permitiu criar uma estrutura física, com notebook, quadro de giz, flip-chart, algumas mesas com cadeira, além de materiais pedagógicos de consumo”, diz. Até aquele momento, o trabalho era feito com doações esporádicas de simpatizantes do projeto, participantes, educadores e artistas. “Hoje a Odeart tem uma infraestrutura tímida, com uma pequena biblioteca, cozinha e três salas de aula para 18 pessoas, além de um espaço para atividades das mulheres com cinco máquinas de costura emprestadas”, enumera.

Por meio da Rede Cabula Vive, que também foi apoiada pelo Fundo Baobá para Equidade Racial em uma parceria com o Fundo Socioambiental da Caixa Econômica Federal, no período de 2018-2019, a organização dialoga e atua com outras organizações sociais civis do lugar. O resultado dessa interação levou ao desenvolvimento de um aplicativo que tenta mapear a saúde da população. Ao mesmo tempo, são promovidos encontros educativos com mulheres e jovens. “Pensar esses temas é criar estratégias para que a maioria possa ter acesso ao conhecimento por meio de dinâmicas de educação para população negra com ênfase na afirmação da identidade como caminho para a liberdade e a equidade social”, resume.

Sarah Marques do Nascimento, do  Coletivo Caranguejo Tabaiares, destaca a importância das ações realizadas na comunidade, especialmente com mulheres e crianças. Para isso, contam com o apoio do grupo AdoleScER e a Articulação Recife de Luta para mostrar que os moradores precisam ter seus direitos garantidos. Atualmente, são 5 mil pessoas e apenas uma equipe de saúde da família para acompanhá-las. É nitidamente uma relação desproporcional.

Sarah Marques do Nascimento em ação com o Coletivo Caranguejo Tabaiares – Recife (PE)

“Durante a pandemia, fazemos o trabalho de entrega de alimentos para melhorar a vida das pessoas e colocamos pias na comunidade porque nem todos têm acesso à água em casa”, desabafa. Como a fome não é apenas de comida, bicicletas rodam a região recitando poemas e músicas para ajudar no enfrentamento dos problemas. “Também entregamos kits de higiene pessoal e de limpeza da casa e promovemos o autocuidado da mulher. Participamos de um comitê de monitoramento para amenizar o impacto do coronavírus, já que o governo não assume o seu papel”.A líder comunitária afirma que o recorte racial não é visto nem considerado para pagamento da dívida histórica da sociedade com essas populações, majoritariamente formadas por negros. “Ficamos à margem, sempre. Com a pandemia, tudo o que acontece na comunidade fica mais explícito. Precisamos mostrar e tratar isso para termos acesso aos nossos direitos”. Sarah fala que a falta de reconhecimento data de 500 anos. “Falta reconhecimento do nosso povo com toda a sua riqueza, oralidade, usos das plantas medicinais, ligação com a  terra e a água”, revela.

Essas vozes anseiam ultrapassar os limites de seu território, conforme diz, e chegar às academias, ocupando debates em salas de aula e voltando para as comunidades sob a forma de ações práticas. “É importante que a gente consiga, com a nossa linguagem, falar e deixar de ser invisível”, declara.

Duas mulheres contam suas histórias de luta pelas populações quilombolas

Lucimar Sousa Silva Pinto, 63 anos, nascida em Pirapemas, no Maranhão, é um exemplo de resistência por amor ao próximo e à natureza. Mãe de oito filhos, criou mais cinco – seu caçulinha tem hoje 38 anos! Selecionada no Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco – iniciativa do Fundo Baobá em parceria com Instituto Ibirapitanga, Fundação Ford, Open Society Foundations e Fundação Kellogg – com o projeto “Plantando sementes, cultivando redes de cuidado e colhendo justiça social”, ela também é uma das coordenadoras do grupo Guerreiras da Resistência. E diz que, não fosse o projeto, estaria “sozinha e louca”, cuidado do Sítio Raízes – um espaço de 500 m2 que divide com mais oito pessoas, com roça e “umas 500 árvores”, diz. “Lutamos pela natureza, pela verdade, pelos ribeirinhos e demais povos para que tenham direito de plantar e colher nas suas terras, de criar os seus animais e de pescar”. 

O Sítio Raízes fica próxima de uma comunidade quilombola que foi crescendo e, hoje, chegou à cidade, confundindo limites. “Tudo é só um trecho: cidade e povoado”, afirma. O agronegócio continua avançando lentamente, ameaçando o babaçu – fonte de receita de muita gente por lá, que tem perdido espaço para a soja e a pecuária. “Nossos ribeirinhos foram jogados para a cidade por causa desse agronegócio. As comunidades que querem viver lá são impedidas”, desabafa.

Talvez por isso, sua voz se entristeça quando fala do descuido com o meio ambiente na região, cada vez mais pressionada pelo agronegócio e esquecida pelas autoridades. No povoado, também não há saneamento básico. “Nosso rio está pedindo socorro. Está cheio de lixo e esgoto…e isso tudo é muito triste, porque não tem muita  gente com quem compartilhar essa preocupação.” 

Lucimar Sousa Silva Pinto

O grande empecilho à resistência, segundo ela, é a falta de companheirismo, exceto das mulheres que, como ela, são mãe e pai – também chamadas de “pingadas” [por serem cada uma de uma comunidade e de uma região diferente]. São elas que se reúnem no Sítio Raízes para lutar por melhorias. 

Como ela, outras 21 mulheres integram o coletivo Guerreiras da Resistência – seis delas estão totalmente voltadas também para o cuidados com o meio ambiente e a saúde da mulher. Além do grupo, ela ainda encontrava tempo (antes da pandemia) para visitar as comunidades do entorno promovendo rodas de conversa com mulheres e crianças, cumprindo as diretrizes do projeto selecionado.

Graças à mentoria do Programa Marielle Franco, entendeu que a melhor forma para chegar aos lugares e falar com as pessoas, para se fazer entender, era promovendo pequenas oficinas de bonecas e costura. Também organiza aulas de artesanato, basicamente com babaçu – uma palmeira cujos frutos são usados nas mais variadas produções: da alimentação à indústria de medicamentos. 

Diante de todas as dificuldades que vivencia diariamente, Lucimar abre um sorriso e sua voz se anima quando pede pela preservação do meio ambiente. “Temos que zelar pela natureza como cuidamos da nossa saúde. Quando zelamos pela mãe natureza, que é terra, água e vida, nós podemos dizer: ‘eu sou terra, eu sou água, eu sou vida. Precisamos de vida e a vida a gente encontra na mãe natureza'”. 

Lucimar tem uma relação especial com o meio ambiente. Seu amor à terra a fez investir em cursos técnicos, especialmente os que são ligados à natureza e às suas riquezas, como fitoterapia, ervas medicinais e medicina popular. No ensino tradicional, cursou até o primeiro ano do ensino médio. “Há 20 anos, casei com a natureza e firmei um compromisso de não machucá-la mais”, conta.

Aliás, há 21 anos, aconteceu a “cerimônia de casamento” em meio a um curso de permacultura com 150 alunos. “Na época, estava meio perturbada, tinha acabado de sair de um casamento”, relembra. Todos os anos, repete o ritual: faz uma grande fogueira com lenha e galhos secos, usa aliança. “Hoje, sou casada com a natureza e divorciada de um homem bruto.” 

Identidade e territorialidade 

Tania Heloisa de Moraes, 28 anos, é negra, mãe do Bernardo e agricultora familiar. Ela reside no Quilombo Ostras, no município de Eldorado, cidade histórica a pouco mais de 200 quilômetros de São Paulo.  Lá, integra a equipe de Articulação e Assessoria às Comunidades Negras do Vale do Ribeira SP/PR (EAACONE), entidade que articula comunidade quilombolas, além de ser militante do Movimento dos Ameaçados por Barragem (MOAB).

Tania também foi contemplada pelo Programa Marielle Franco com o projeto “Mulher quilombola na defesa dos direitos e pela vida”. O seu propósito é retomar o trabalho coletivo das mulheres quilombolas e aprimorar a habilidade de liderança dentro da EAACONE. Foi a partir desse projeto que adquiriu mais força e autonomia para se posicionar e até falar em público, por exemplo. “Achava que só ouvir e concordar bastava”, diz. 

Hoje, tenta ser mais decidida  e sempre  mostrar o que acha, mesmo que não esteja totalmente certa ou segura. “Posso afirmar que cresci como mulher, podendo valorizar minha identidade negra e fazer com que outras se orgulhem da sua ascendência e tradição. A formação do Fundo Baobá vem ampliando meus horizontes e mostrando que sou negra, com capacidade de seguir em frente, valorizando meus conhecimentos e me ajudando a lutar por melhorias para nosso povo”, relata.

Tania Heloisa de Moraes

Atualmente, sua batalha é garantir o direito ao território que, em grande parte, está nas mãos de quem produz banana, gado, eucalipto. “O Estado não indeniza essas terras que, por direito, são nossas. Também estamos enfrentando grande ameaça dentro dos quilombos que têm suas áreas sobrepostas pelos parques (unidades de conservação) que não recebem o olhar adequado.”

Duas questões que têm tirado o sono da comunidade local é a construção de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), que, saindo do papel poderão atingir áreas da comunidade, e a mineração – por atrair empresas do setor de olho nas riquezas escondidas nas entranhas da terra.

Como base nesse cenário e com condições agravadas pela Covid-19, a EAACONE  elaborou um informe para as comunidades assessoradas, indicando a criação de acordos seletivos para organizar entrada e saída das pessoas das comunidades. “Estamos provocando o governo para aplicar testes,  buscando meios de prevenir o surgimento de casos da doença entre os quilombolas”, confirma. 

Por isso, segundo ela, é tão importante garantir a essas comunidades o máximo acesso à informação, aos auxílios, à saúde e à terra para plantar. No Vale do Ribeira (SP), por exemplo, onde está localizada a histórica cidade de Eldorado, há 88 comunidades quilombolas, 16 aldeias indígenas, 5 comunidades caboclas e mais de 30 caiçaras.

Mesmo enfrentando racismo e imensa dificuldade de produzir para garantir a renda da família, sempre existe resistência. A Cooperativa de Agricultores Familiares Quilombolas do Vale do Ribeira (Cooperquivale) tem fortalecido suas tradições, sua cultura e produzido vários alimentos orgânicos, impulsionando o negócio agroecológico que parte faz parte da  tradição do sistema de manejo dos quilombos. Com isso, gera recursos para as famílias. “Em pleno século XXI, estamos lutando ainda pelo direito de ir e vir e de morar nas terras que são nossas por direito”, desabafa. 

Outro risco que bate à porta é o discurso de que a construção de barragens e a exploração de minérios pode levar trabalho e renda para essas comunidades. A líder explica que, conversas não documentadas legalmente, trazem a reboque abuso sexual, drogas, degradação das terras e doenças para as populações. “Queremos a liberdade de plantar e colher, gritando bem alto que somos quilombolas com muito orgulho. E na resistência sempre”, finaliza.

O que o racismo não nos deixa ver: a importância das religiões afro na construção da identidade brasileira

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, mostram que 588 mil brasileiros são adeptos do candomblé e da umbanda. Embora representem uma pequena parcela da população – menos de 0,3% – o preconceito que enfrentam por expressarem sua crença é dos maiores. Segundo levantamento do Disque 100, do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, houve aumento de 56% nas denúncias de intolerância religiosa no primeiro semestre de 2019, quando comparado ao mesmo período do ano anterior.

As religiões mais perseguidas foram justamente as de matriz africana, com terreiros sendo incendiados e imagens sagradas destruídas. Para o historiador e mestrando de Estado, Governo e Políticas Públicas na FLACSO (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais) e membro da Assembleia Geral do Fundo Baobá para Equidade Racial, Lindivaldo Junior, a razão e motivação disso tudo tem um nome: racismo. “Está presente em todas as dimensões da nossa vida e estrutura as relações sociais. As religiões de matriz africana são discriminadas no contexto da inferiorização das pessoas negras e de tudo que se refere à sua estética, história, cultura e referência.”

Lindivaldo Junior ( historiador e mestrando de Estado, Governo e Políticas Públicas na FLACSO e membro da Assembleia Geral do Fundo Baobá )

O mesmo pensamento tem Patricia Alves de Matos Xavier, no mundo religioso conhecida como Iya Suru, do terreiro Ilê Axé Iya Mi Agbá em Bauru (SP). A violência contra as tradições de matrizes africanas produzidas e reproduzidas hoje têm como motivação o mesmo pensamento presente entre os séculos 19 e 20 na sociedade. “Tem como base o racismo produzido pelo arranjo criativo intelectual apoiado no ensino superior, por institutos de pesquisa e difusão, e teve como foco o extermínio do conjunto de saberes ancestrais mobilizados, para promover a limpeza étnica eugenista”.

Patricia Alves de Matos Xavier – Iya Suru

Com 53 anos, 50 deles no candomblé, como ela mesma gosta de afirmar, a Ialorixá Jaciara Ribeiro dos Santos, do terreiro Ilê Axé Abassá de Ogum, em Salvador (BA), classifica tal ação como ódio religioso. “A intolerância religiosa tem crescido, considerando a falta de informação. Na verdade, vejo isso mais como um ódio mesmo”. Jaciara já foi vítima desse ódio religioso em 2016, quando seu terreiro foi alvo de vandalismo e depredação, incluindo o busto de sua mãe biológica, a Ialorixá Gildásia dos Santos, a Mãe Gilda de Ogum, que fica localizado no Largo do Abaeté, em Itapuã. 

Ialorixá Jaciara Ribeiro dos Santos

Mãe Gilda de Ogum, por sua vez, foi o principal símbolo de resistência e luta contra a intolerância religiosa. Em 1999, teve seu templo invadido, depredado e o seu marido agredido por fundamentalistas religiosos. Não superando o trauma dos ataques, faleceu em janeiro do ano seguinte, de infarto fulminante, após ver o seu nome e foto veiculados em um jornal de uma igreja evangélica, chamando-a de “macumbeira charlatã”. No ano de 2007, foi sancionada a Lei nº 11.635, que institui o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, celebrado no dia 21 de janeiro, dia da morte de Mãe Gilda de Ogum. 

A luta da Ialorixá Jaciara é contra a intolerância religiosa e ela acredita que a forma mais eficiente de fazer isso é por meio da educação e do diálogo. “Eu sempre faço atividades, roda de diálogos aqui na comunidade, no terreiro e faço também parceria com as escolas. Acho que só através da educação pra gente mudar esse ódio religioso e esse racismo”. Além disso, Jaciara, que é a apoiada pelo Programa  de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, do Fundo Baobá em parceria com Instituto Ibirapitanga, Fundação Ford, Open Society Foundations e Fundação Kellogg, dá curso de corte e costura, em um projeto chamado “Costurando a Ancestralidade”, e organiza uma feira na orla da Lagoa do Abaeté que busca estimular o empreendedorismo feminino e pequenos empreendedores do bairro de Itapuã.

Ialorixá Jaciara

“Sou idealizadora da feira Iya Lagbara, que significa mulher empoderada, e tenho uma equipe com 50 empreendedores. Fazemos feiras aqui na comunidade e também dou curso de turbante e curso de culinária”, diz. Iya Suru, por sua vez, é atualmente presidente do Instituto Omolará Brasil. “Uma organização de mulheres negras que age para transformar a realidade pela educação, afroempreendedorismo e valorização das raízes africanas no Brasil, com ações para fortalecer outras mulheres negras em diversas regiões do país”, como o Instituto se descreve. O Omolará Brasil também foi um dos apoiados do Programa Marielle Franco, com o projeto “Trincheira Preta Feminista”, cujo principal objetivo é: “o fortalecimento institucional através de ações de formação política em diálogo com mulheres negras e suas comunidades”. 

Além disso, Iya Suru é integrante do grupo Mães Pela Diversidade, na cidade de Bauru, que sempre realiza ações voltadas às pessoas em situação de vulnerabilidade social. “Iniciamos uma campanha de atenção às mulheres trans e travestis que tiveram suas situações de vulnerabilidade agravada pela pandemia do coronavírus”, diz. 

Iya Suru no terreiro Ilê Axé Iya Mi Agbá em Bauru (SP)

Mesmo sendo alvo constante do racismo institucional e religioso, as religiões de matriz africana têm conquistado a cada dia o respeito e o direito de serem cultuadas. Em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por unanimidade, que é constitucional o sacrifício de animais em cultos religiosos. Na época, denúncias equivocadas e repletas de racismo motivaram a ação movida. “Cada vitória é resultado de muita luta e articulação dos movimentos sociais. Sempre foi assim para a população negra. Foi assim nas conquistas da constituição federal que reconhece os quilombos e o patrimônio cultural afro-brasileiro como patrimônio a ser preservado, assim como define o racismo como crime. A participação social levou a um maior envolvimento de segmentos de matriz africana no monitoramento de políticas públicas e fortaleceu as comunidades como uma ‘categoria política’ de relevante papel no momento atual”, afirma Lindivaldo Junior.

A falta de informação ajuda a entender porque boa parte da população brasileira não reconhece ou compreende a importância das religiões afro para a construção da identidade do nosso próprio país. “As comunidades de matriz africana influenciam a forma como vivemos nós, os brasileiros, em especial a população negra. Apesar do constante desrespeito e negação, fruto do racismo, as religiões de matriz africana preservam a cultura alimentar tradicional e comunitária, a musicalidade, a produção artística, e o nosso português por exemplo, totalmente africanizado”, afirma Lindivaldo. 

Palavras como “Abadá”, que hoje é o nome dado a uma camiseta usada pelos integrantes de blocos e trios elétricos carnavalescos, tem a sua origem na cultura afro, significando túnica folgada e comprida. Assim como cafuné (fazer carinho na cabeça de alguém), dengo (gesto de carinho), agogô (instrumento musical), babá (pessoa que cuida de criança), farofa (mistura de farinha com água, azeite ou gordura), entre muitas outras. “As tradições de matrizes africanas são espaços de preservação dos processos de aprender e ensinar ancestralidade, valorização da vida e da natureza”, completa Iya Suru.

Em uma explicação didática, feita pela Ialorixá Jaciara, entendemos sua dimensão. “O candomblé é uma religião afro-brasileira derivada de cultos tradicionais africanos, no qual a gente cultua o ser supremo, Olorum, e o culto dirigido diretamente à força da natureza. Cultuar candomblé é contemplar a essência do próprio universo”. Além do respeito e amor pela natureza e de toda contribuição cultural e identitária para o nosso país, as religiões de matriz africana desempenham um papel social importantíssimo nos locais onde estão inseridas.

Fundação Kellogg: conheça os propósitos que norteiam uma das organizações filantrópicas mais antigas e atuantes do mundo

Fundada em 1930 pelo empresário de cereais Will Keith Kellogg para ser uma organização privada e independente, a W.K.Kellogg Foundation completou seu 90o aniversário em junho. Considerada uma das maiores entidades filantrópicas do mundo, é guiada pela crença de que todas as crianças devem ter a mesma oportunidade. Por conta disso, seu foco tem sido atuar nas comunidades criando condições para que elas alcancem o pleno potencial na escola, no trabalho, na vida.

Embora ao longo destas décadas tenha atuado em diferentes frentes, a infância e as comunidades sempre estiveram no centro de seu planejamento. Tanto que, para este ano, estabeleceu como objetivos: aprender com o passado para liderar no futuro; honrar o seu legado, adaptando-o ao presente; alavancar parcerias e redes de aliados; continuar centrando ações nas crianças, suas famílias e comunidades. 

Nesta entrevista, Sebastian Frias, oficial responsável pelas iniciativas de promoção de equidade racial na Fundação Kellogg, fala sobre essas metas, que fazem parte do DNA da organização. Acompanhe:

1. Quando a Fundação Kellogg enfrentou a questão da equidade racial nos Estados Unidos e no Brasil? 

SF –  A Fundação Kellogg tem uma atuação muito ampla no campo da equidade racial. Começou em 1968, no centro dos protestos do movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos, quando financiamos universidades negras e a diversificação de oportunidades de educação para a população afro-americana. Ao longo das décadas seguintes, esses investimentos se diversificaram para incluir também a representação da população invisibilizada em profissões-chave. Em 1986, a fundação iniciou seus investimentos na África do Sul, em um contexto ainda regido pelo apartheid e com um forte compromisso com o desenvolvimento de estratégias de educação e liderança. Na década de 1990, expandimos nossos investimentos nos Estados Unidos e, finalmente, nos anos 2000 estabelecemos as bases para o que hoje é uma das prioridades para a fundação: a equidade racial. 

2. E a atuação com o Fundo Baobá?

SF – A fundação trabalha em estreita colaboração com o Fundo Baobá para Equidade Racial desde sua criação, em 2011. A relação é baseada em um legado de trabalho e investimentos da WKKF no Brasil, que se estende por décadas e é consistente com nosso compromisso com o avanço da equidade racial. O principal mote da relação foi a criação e construção de um fundo patrimonial de recursos dedicados a promover a completa inclusão das populações afrodescendentes na sociedade brasileira. Mais recentemente, publicamos diretrizes e estabelecemos um Conselho de Solidariedade para a Equidade Racial que está comprometido com uma visão global para continuar essa agenda. 

Sebastian Frias, oficial responsável pelas iniciativas de promoção de equidade racial na Fundação Kellogg

3.  Por que a Fundação Kellogg considera relevante apoiar iniciativas, programas e projetos dessa natureza? 

SF – Hoje, mais do que nunca, podemos ver que os sistemas globais de opressão tiveram um efeito histórico na perpetuação da ideia de que algumas pessoas têm maior valor em relação às outras, especificamente por serem racializadas. A maior vulnerabilidade às mudanças econômicas, políticas e ambientais está concentrada nessas comunidades racializadas, principalmente indígenas e afrodescendentes. Sabemos que, hoje, a visão de nosso fundador de garantir que as crianças possam enfrentar o futuro com confiança, depende da transformação desses sistemas desiguais para que as comunidades possam ser colocadas no centro. Por meio do planejamento cooperativo, do estudo inteligente (pesquisa, dados e evidências) e da ação em grupo (entre diferentes setores, faixas etárias e qualquer fronteira que fique no caminho) poderemos garantir uma mudança na vida dessas crianças. Como resultado de tudo o que vem acontecendo em diferentes geografias, do Brasil aos Estados Unidos, particularmente em torno da brutalidade policial, é que nossa presidente emitiu a seguinte declaração:  “As comunidades onde trabalhamos intensamente e nossos beneficiários e parceiros, reconhecem a causa raiz neste momento. Pessoas racializadas, imigrantes, a população indígena, as pessoas nas prisões, os pobres – aqueles que sofrem e morrem em maior número – são os mais afetados pela desigualdade racial em todos os sistemas. Seu trabalho, nosso trabalho compartilhado em nome da Fundação W.K. Kellogg, é abordar o racismo estrutural por trás das iniquidades: expô-lo, desfazê-lo e ajudar as comunidades a se curarem de suas feridas”, La June Montgomery Tabron, CEO – Fundação W.K. Kellogg – veja a versão original aqui.

4.  Qual é o papel das entidades como a Fundação Kellogg na busca por um mundo mais justo e igualitário? 

SF –  Do meu ponto de vista, parece-me que hoje é um momento importante para as organizações, instituições e qualquer tipo de entidade coletiva refletirem como chegamos onde estamos, como sociedade global, e no ambiente muito complexo em que vivemos. É preciso avaliar as causas básicas, as profundas desigualdades e as pessoas que deixamos de fora ou em situações de extrema vulnerabilidade. Para isso, penso que é importante pensar nas práticas, políticas e estruturas que vêm antes, como barreiras para mudanças profundas. E nesse sentido é a nossa vez de refletir sobre nossas próprias ações: somos realmente antirracistas? O que fazemos como organizações? Que padrões usamos dentro e fora de nossas organizações para garantir que não estamos reproduzindo as mesmas hierarquias de poder? Quem deve liderar a mudança? Qual é o nosso papel nisso tudo? Parece-me que é a partir de uma profunda reflexão sobre nossa ação, objetivos, identidade e ações futuras que poderemos realmente buscar, coletivamente, justiça e equidade. Essa profunda compreensão da interdependência nos permite entender que todas as organizações têm um papel a desempenhar e um espaço de ação e liderança, mas acima de tudo têm uma dívida histórica com essas comunidades vulneráveis, suas vozes e liderança. 

5.  Além do apoio que oferece ao Fundo Baobá, no Brasil, que outros países  têm iniciativas apoiadas? 

SF –  A Fundação Kellogg atua em alguns locais geográficos prioritários. Nos Estados Unidos, são: Novo México, Mississippi, Nova Orleans e Michigan (onde nossa sede está localizada). Em nosso programa internacional estamos focados no sudeste do México (Chiapas e na Península de Yucatán) e no Centro e Sudeste do Haiti. Finalmente, temos alguns investimentos legados no Brasil (Fundo Baobá para Equidade Racial) e na África do Sul. Nosso trabalho tem como prioridade três eixos temáticos cruzados pelo nosso DNA: crianças prósperas (apoiamos um início saudável e experiências de aprendizagem de qualidade para todas as crianças); famílias trabalhadoras (investimos em esforços para ajudar as famílias a obter empregos estáveis e de alta qualidade) e comunidades equitativas (queremos que todas as comunidades sejam vibrantes, comprometidas e equitativas). 

Diretoras do Fundo Baobá são destaque em lives sobre racismo e captação de recursos

O Fundo Baobá participou de quatro lives no mês de junho, reforçando a sua trajetória e a importância do seu trabalho na promoção da equidade racial no país.

No dia 4, Fernanda Lopes, diretora de programa, participou do bate-papo “Precisamos Falar Sobre Antirracismo”, organizado pelo Instituto Comunitário Grande Florianópolis (ICOM Floripa), que também contou com a presença da doutoranda e mestra em Antropologia Social, Cauane Maia. Mediada por Mariana Assis, guardiã de relacionamento com a sociedade civil organizada do ICOM, a live foi transmitida no perfil da organização. Fundo Baobá e o ICOM fazem parte da Rede de Filantropia para a Justiça Social, que é um espaço que reúne fundos, fundações comunitárias e organizações doadoras (grantmakers) que apoiam diversas iniciativas nas áreas de justiça social, direitos humanos e cidadania.

Em sua fala, Fernanda Lopes pontuou que o trabalho do Fundo Baobá pode ser considerado antirracista, desde a sua constituição, dado que o Baobá existe como um legado da Fundação Kellogg, em resposta à demanda de lideranças negras, para apoiar exclusivamente iniciativas negras. “Quando o Fundo Baobá investe e faz doações, prioritariamente por meio de editais, pensamos primeiro como apoiar as demandas de transformação e mudança que a sociedade civil negra se propõe a fazer. Mas a gente olha também para as capacidades que precisam estar instaladas ou ampliadas nas organizações, caso contrário sempre estarão na dependência, sempre estarão em desvantagem frente às demais. Nós apoiamos organizações negras e essas são as que menos detêm recursos de doações”, disse. 

Levantamento feito em 2018 sob a coordenação do professor Amílcar Pereira, e apoio do Fundo Baobá, envolvendo cerca de 300 lideranças de organizações, grupos e coletivos negros, mostrou que mais da metade dos ouvidos atuava apenas com o recurso dos próprios membros, não havia outros recursos. “Portanto, é preciso investir no desenvolvimento e na ampliação de capacidade dessas organizações e isso é ser antirracista, é trabalhar pela justiça social”. A live completa pode ser assistida diretamente no IGTV do ICOM através desse link.

No dia 9, foi a vez de Selma Moreira, diretora-executiva da organização, participar da live “Doações e Causas: Entendendo o Momento Atual”, organizada pela Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR) e transmitida ao vivo no canal do YouTube da associação. O bate-papo, que foi mediado pela conselheira da ABCR, Andrea Peçanha, também contou com a participação da psicóloga e gerente-geral do Instituto Ronald McDonald, Helen Pedroso.

Selma Moreira utilizou o contexto atual da pandemia do coronavírus para falar dos desafios e aprendizados do Fundo Baobá neste período. “O coronavírus é algo absolutamente novo pra todo mundo e nos fez revisitar o nosso plano e o orçamento. E, sendo uma organização de sociedade civil, a gente conta com um corpo de governança que é bastante rígido, mas que é formado majoritariamente por ativistas e acadêmicos, isso facilita”, explicou. 

Segundo ela, o primeiro aprendizado foi o de envolver todo mundo necessário num cenário como o atual. “Feito isso, a primeira pergunta foi: ‘Qual é o impacto da Covid-19 para a população negra?’, para que nós, como equipe executiva, pudéssemos pensar em quais movimentos deveríamos fazer e onde seria talvez mais estratégico fazer alguma movimentação no nosso orçamento e no nosso plano”.
O vídeo completo pode ser assistido abaixo:

Selma Moreira ainda participou de outra live da ABCR, no dia 30, com o tema “Filantropia Comunitária em Tempos de Covid-19”, o bate-papo fez parte da programação do Festival da ABCR.

No dia 26, Fernanda Lopes foi uma das convidadas da “Webinar Vidas Negras Importam”, realizada pelo Cursinho da Poli em parceria com Fundação Polisaber, que ainda contou com a participação do professor Billy Malachias e mediada pelo professor Giba Alvarez. 

Em sua fala de abertura, ao ser questionada se todas as vidas importam, não só apenas as negras, que tem sido uma pergunta feita à exaustão nas redes sociais, Fernanda respondeu: “Essa frase tem sido muito comum, em especial nos últimos dias, e é muito importante reiterar que, sim, todas as vidas importam, mas quando nós falamos que as vidas negras importam, nós falamos pra reiterar a presença e a operação do racismo entre nós”. Além disso, trouxe vários exemplos de iniciativas e manifestações negras contra o racismo, em defesa das vidas e da dignidade negra, as irmandades negras, as marchas ocorridas nos anos de 1973, 1986, 1995 e 2015. Destacou que esta história sempre deve ser contada porque em todos os momentos do passado, eram poucos os aliados e que as vidas negras só importavam para os próprios negros.

O vídeo completo pode ser assistido aqui:

Baobá na imprensa em junho

O assassinato do norte-americano George Floyd, em Minneapolis, e a grande onda de protestos contra o racismo, em diversas partes do mundo,  pautou a imprensa no mês de junho e trouxe para o centro da discussão a luta antirracista e as inúmeras formas de promover a equidade racial no país.

A diretora-executiva do Fundo Baobá, Selma Moreira, concedeu uma entrevista à coluna da jornalista Patrícia Lobaccaro, no portal UOL, afirmando que o momento atual será um ponto de virada na história e na luta contra o racismo. “O pedido de ajuda de George Floyd – eu não consigo respirar – é o pedido de ajuda de todos nós, que há séculos não conseguimos respirar por conta do racismo estrutural que subtrai nossos direitos, nossa qualidade de vida e até mesmo nossas vidas. Já passou da hora de toda sociedade olhar para essa questão com seriedade.”

Selma também deu entrevista para revista Capital Aberto, falando da importância da participação do negro em espaços de tomadas de decisão e o papel das empresas na luta contra o racismo. Além disso, a diretora-executiva participou do podcast do Observatório do Terceiro Setor e escreveu um artigo em inglês, em parceria com a diretora de programa, Fernanda Lopes, para publicação britânica Alliance.

O trabalho do Fundo Baobá foi destaque na matéria do portal GQ Brasil da Globo, que trazia um guia prático de entidades e organizações filantrópicas que trabalham diretamente com a população negra em condições de vulnerabilidade, promovendo a igualdade racial.

Confira os destaques:

01/06 – Emerge MagCriatividade para conscientizar e combater o coronavírus nas quebradas

02/06 – AlliancePhilanthropy, yes, but philanthropy for racial equity?

07/06 – Revista Capital AbertoComo os mercados podem contribuir com a luta contra o racismo

12/06 – GQComo apoiar o movimento Vidas Negras Importam

14/06 –  UOLQual o Reflexo da Filantropia na Equidade Racial?

16/06 – Observatório do Terceiro Setor – Racismo naturalizado na sociedade

16/06 – Rede de Filantropia para Justiça SocialConheça uma das muita histórias de transformação promovidas pelo Baobá

Parceria apoia ações contra a Covid-19 nas principais regiões do país

A parceria entre o Fundo Baobá para Equidade Racial e o Desabafo Social – laboratório de tecnologias sociais aplicadas à geração de renda, comunicação e educação –, iniciada no em 15 de abril, apoiou diversos projetos e ações no combate ao coronavírus em regiões vulneráveis do país.

A primeira fase do projeto foi realizada nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. A principal premissa da parceria era apoiar ações de combate à doença nessas áreas que, no país, são as que acumulam os maiores índices de pessoas infectadas e de mortes.

A seleção foi realizada por meio de um desafio na plataforma ItsNoon, um aplicativo de interação entre pessoas e suas ideias. Nesse caso, foram compartilhadas ações para apoiar quem estava em situação de risco nessas regiões. Dentro do próprio aplicativo, as pessoas respondiam ao desafio, podendo receber de R$ 60 até R$ 350 reais por uma boa sacada.

As ideias selecionadas deveriam estar de acordo com os cinco pilares propostos pelo projeto: Básico, com sugestões relacionadas a doações de cestas básicas, de itens de higiene pessoal, além da confecção e distribuição de máscaras de pano e Comunicação,  referente à produção de cartazes, ilustrações, vídeos, aplicativos e podcasts para conscientização das pessoas sobre os cuidados em relação à Covid-19. As demais eram:  criação e composição de músicas, poemas, videoclipes, além de dicas de inúmeras atividades para serem calizadas em casa, que englobam o pilar de Arte Para Aliviar a Sensação de Isolamento. O pilar Saúde incluiu dicas de atividades físicas, yoga, pilates, e com higiene em casa e, por fim, o pilar Empreendedores que apoiou ações e projetos que visavam auxiliar microempreendedores e gerar renda extra.  

Em 20 dias, foram recebidas 157 propostas, sendo 115 de 25 cidades do Estado de São Paulo e 42 de 8 cidades do Estado do Rio de Janeiro. No total, foram selecionados 64 projetos, sendo 31 no Rio de Janeiro e 33 em São Paulo.

Das pessoas apoiadas em São Paulo, 60,9% se declaram mulheres, enquanto 33,9 são homens. A faixa etária dos selecionados está entre 25 a 34 anos, e apenas 5,2% fazem parte de grupos ou coletivos. Das ideias apoiadas, 56,6% integram o pilar Básico, enquanto 17,7% são de Comunicação. A Arte vem na sequência com 16,8%. Já ideias de Saúde aparecem com 5,3% e, por fim, ideias Empreendedoras somam 3,6% dos projetos aprovados.

Já no Rio de Janeiro, 53,7% se declaram mulheres, enquanto 41,5% são homens. A faixa etária também está entre 25 a 34 anos, enquanto apenas 4,8% fazem parte de grupos ou coletivos. Em relação às ideias aprovadas, Básico aparece na frente com 36,6% das ideias apoiadas, seguido de Comunicação (31,7 %), Arte (17,1%) e Saúde e Empreendedores com 7,3% cada uma.

A segunda fase do projeto, lançada no dia 5 de maio, englobou outros estados do país, com foco nas regiões Norte e Nordeste. Foram recebidas, no total, 256 propostas de 87 cidades do Brasil. No total, foram apoiadas 86 iniciativas, as principais cidades contempladas foram: Salvador (BA), Recife (PE), Olinda (PE), Belo Horizonte (MG), Feira de Santana (BA), Belém (PA), Brasília (DF), Cachoeira (BA), São Luís (MA), Boa Vista (RR) e Laguna (SC). Além de regiões interiores do Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Ceará. 

Dos apoiados, 80% se declararam mulheres, enquanto 20% são homens. A faixa etária da maioria era entre 25 a 34 anos, seguido de 15 a 24 anos. Sobre as ideias aprovadas, Básico liderou com 53,4%, seguido de Arte (27,4%), Comunicação (9,6%), Empreendedores (5,5%) e Saúde (4,1%).

Os principais aprendizados dessa ação conjunta entre Fundo Baobá e Desabafo Social foi a importância de viabilizar financeiramente estes projetos, considerando que dinheiro na mão é uma ferramenta para saciar não apenas a necessidade básica, mas saúde mental que neste momento é muito mais importante. As pessoas selecionadas passaram a criar uma relação de gratidão e confiança com as organizações que apoiaram e, por sua vez, as organizações compreenderam que será necessário desburocratizar os apoios e transferências de renda, diante desse novo mundo.

Confira abaixo algumas das ideias aprovadas:

SÃO PAULO

ANDREZA DELGADO

Andreza Delgado – Faz parte da campanha Sobrevivendo ao Coronavírus que tem uma lista de 600 famílias para Doar por cesta básica e kit higiene

MICHELLE FERNANDES – CAPÃO REDONDO (SP)

Michelle Fernandes – Está confeccionando máscaras em tecido africano, ajudando a gerar renda para costureiras e fornecedores locais

FERNANDA ISAAC – OLÍMPIA (SP)

Fernanda Isaac – Tem feito divulgações em suas redes sociais com orientações em relação à covid-19, com uma comunicação acessível

DANI SOUZA – OSASCO (SP)

Criou um grupo no WhatsApp para ser ponte entre quem precisa e quem pode doar

https://www.youtube.com/watch?time_continue=20&v=E1QhF7L5UCk&feature=emb_logo

TATIANE CASSIANO

É professora de yoga e tem ajudado as pessoas a terem equilíbrio emocional na quarentena

RENATO MELO

Criou um podcast para disseminar informações importantes para a galera da periferia

RIO DE JANEIRO

BUBA AGUIAR – COLETIVO FALA AKARI

Buba Aguiar – O Coletivo Fala Akari, da Favela de Acari, zona norte do Rio de Janeiro, estão mobilizando campanha de enfrentamentos aos impactos da covid-19

LUDMILLA OLIVEIRA

Ludmilla Oliveira – Tem doado máscaras para profissionais de saúde que trabalham na UPA da zona oeste do Rio de Janeiro

JACIANA MELQUIEDES

Jaciana Melquiedes – Criou conteúdo informativo e educativo voltado para o publico infantil, utilizando Materiais lúdicos. Pequenos videos, propostas de brincadeiras para serem feitas dentro de casa, atividades de colorir e pequenas historias, e compartilhar especificamente em grupos de WhatsApp de moradores da Gamboa e Providência no Rio de Janeiro

SÉRGIO BARCELOS

Videoclipe musical “Xô Corona”, para conscientizar os jovens sobre a pandemia

SABRINA MARTINA

Usa a Poesia como ferramenta conta a covid-19

https://www.youtube.com/watch?v=UI2rpjw6iY4&feature=emb_logo

AIRA NASCIMENTO

Campanha “Apoie uma Empreendedora Periférica”

OUTROS ESTADOS

SCHEYLLA BARCELLAR – BELO HORIZONTE (MG)

Coletivo Mulheres da Quebrada está com uma campanha para fortalecer as mulheres, com entrega de cestas básicas, medicamentos e etc

EMILLY CASSANDRA – BELÉM (PA)

Contação de História dobre a vida da revolucionária Felipa Maria Aranha, mulher negra trazida à Belém do Pará e escravizada. Fez revolução no município de Cametá

THAIS MEDEIROS – FORTALEZA (CE)

Tem ido ao supermercado para pessoas do grupo de risco

https://www.youtube.com/watch?time_continue=2&v=lYvSXRIGD4o&feature=emb_logo

THIFANNY ODARA – LAURO DE FREITAS (BA)

O Terreiro Oya Matamba de Kakuruca está com um projeto #TransFormarVidas para auxiliar pessoas em situação de vulnerabilidade com a pandemia