Trajetória do Edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça 

Comunidades quilombolas vulnerabilizadas pela pandemia da COVID-19 têm a oportunidade de fortalecer suas estratégias de resistência através de projetos selecionados em edital

Por Ingrid Ferreira

O edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça lançado no dia 01 (um) de outubro de 2021, foi pensado e realizado pelo Fundo Baobá para Equidade Racial, em parceria com a Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas). Com objetivo de apoiar organizações quilombolas nas áreas de sustentabilidade econômica e geração de renda, soberania e segurança alimentar e defesa dos direitos quilombolas, o edital integra a Aliança entre Fundos e vai financiar os projetos de 35 organizações. Cada uma receberá o valor de R$ 30.000 (trinta mil reais), perfazendo R$ 1.050.000 (Um milhão e cinquenta mil reais).

No dia 01 de fevereiro aconteceu o primeiro encontro com as organizações selecionadas no edital, o evento contou com a participação dos donatários, do Diretor Executivo do Fundo Baobá, Giovanni Harvey,  e da Diretora de Programa, Fernanda Lopes, membros e membras da equipe de Programa, Administrativo-Financeiro e de Comunicação.

Segundo entrevista com representantes que tiveram seus projetos aprovados nos três diferentes eixos é possível verificar que a iniciativa irá agregar conhecimento e experiências para as organizações quilombolas que estão tendo a oportunidade de participar pela primeira vez de um edital em parceria com o Fundo Baobá, contribuindo no conhecimento em gestão de projetos. Como diz José Gaspar, Sócio da Associação Quilombola de Boa Vista Rosário no estado do Maranhão, inscrito no eixo 1 (Recuperação e sustentabilidade econômica nas comunidades quilombolas) do edital.

José Brandão Costa Gaspar – Sócio da associação quilombola de Boa Vista Rosário – MA

E José ainda ressalta que: “A ideia do edital é de grande relevância pois as comunidades Quilombolas na grande maioria não têm oportunidades de receber nenhum incentivo e  necessitam de reconhecimento pelos trabalhos desenvolvidos que, na grande maioria, são trabalhos hereditários das comunidades remanescentes de quilombo. Além de que as comunidades  integrantes do projeto proposto buscam valorização, igualdade de gênero e independência financeira”.

O projeto que será desenvolvido pela Associação Quilombola de Boa Vista do Rosário (MA), tem como objetivo o desenvolvimento social, cultural, ambiental e econômico do território quilombola de Boa Vista e adjacências, fortalecendo a produção agroextrativista e artesanal das famílias quilombolas. A organização tem mais de 11 anos e destinará as ações a produção culinária de bolos, doces e biscoitos com produtos do agroextrativismo, além da produção de Biojóias tendo como base o Coco babaçu.

No eixo 2 (Promoção da soberania e segurança alimentar nas comunidades quilombolas),  Evânia  Antonia  de Oliveira, artesã  e professora em sua comunidade e representante da Associação Quilombola de Conceição das Crioulas – AQCC, de Salgueiro, no Pernambuco, fala que o edital vai apoiar no fortalecimento do trabalho coletivo, na geração de renda das pessoas que residem do território. Segundo a líder, ao se engajar no projeto as pessoas terão acesso a informações e novos aprendizados.

Evânia Antonia de Oliveira Alencar – Artesã e professora – Associação Quilombola de Conceição das Crioulas – AQCC, de Salgueiro (PE)

O projeto ao qual Evânia responde, tem o intuito de garantir a segurança alimentar e o fortalecimento da perspectiva agroecológica quilombola: sendo baseado na produção agrícola associada a práticas ecológicas, éticas, culturais, econômicas, políticas e sociais. A organização tem cerca de 11 anos de formalização e possui o intuito de fortalecer e qualificar a produção de horticultura em quintais produtivos.

Mais contribuições nos foram dadas por Tatiana Ramalho, vice presidente da Associação dos Remanescentes de Quilombos de Alto Alegre e Adjacências (inscrito no eixo 3 – Resiliência comunitária e defesa dos direitos quilombolas), Para Tatiana “o edital nos trouxe a possibilidade de pensar em uma atividade para fortalecimento da identidade quilombola, pois nesse momento pandêmico e no processo das vacinas percebemos em alguns momentos que algumas pessoas têm dúvidas sobre nossa história, sobre o ser quilombola. E nesse sentido, o projeto apoiado pelo edital vai nos trazer a possibilidade de fortalecer através das narrativas, vivências, saberes e sabores as potencialidades do quilombo”.

Tatiana Ramalho da Silva – Vice presidente da Associação dos Remanescentes de Quilombos de Alto Alegre e Adjacências – Na cidade Horizonte (CE)

O projeto tem o objetivo de promover a igualdade racial em direitos para a população quilombola de Alto Alegre, buscando fortalecer juntamente com as comunidades do estado do Ceará a luta pela titulação dos territórios, elaborar e sugerir políticas inclusive de ações afirmativas, promover trabalhos e estabelecer estratégias para proporcionar desenvolvimento sócio econômico, educacional e cultural, além de proteção ao meio ambiente, aos saberes e fazeres quilombolas da comunidade, combatendo as ações racistas e discriminatórias. 

A organização possui mais de 11 anos e tem como proposta fortalecer a identidade quilombola com memórias, histórias, saberes, fazeres e sabores ancestrais, colocando as práticas que fortalecem as raízes africanas e afro-brasileiras; para além das especificidades que é de utilizar de rodas de conversas que ocorrem na comunidade para alcançar os objetivos citados acima.

O Fundo Baobá, o Fundo Brasil de Direitos Humanos e  o Fundo Casa Socioambiental que, juntos, constituem a Aliança entre Fundos, atuam em prol da justiça racial, justiça social e justiça ambiental. As ações da Aliança são financiadas pela Fundação Interamericana (IAF).  Os três, com editais independentes, têm o intuito de contribuir na redução dos impactos que as crises sanitária e econômica ocasionam nos povos indígenas, comunidades quilombolas e outros povos tradicionais mais vulnerabilizados pela pandemia da COVID-19. 

Primeiro Encontro com Organizações Selecionadas no edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça

O evento online contou com a participação de lideranças quilombolas de todo o Brasil.

Por Ingrid Ferreira

No dia 01 de fevereiro aconteceu o primeiro encontro com as organizações selecionadas no edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça, lançado pelo Fundo Baobá para Equidade Racial em parceria com a Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) e com apoio da Fundação Interamerica (IAF). O encontro teve inicio com uma apresentação geral das pessoas presentes. Representantes das organizações selecionadas tiveram espaço para falar sobre suas funções e sobre os projetos que serão apoiados pelo Baobá.

O edital foi lançado no dia 01 de outubro de 2021, e tem como objetivo apoiar iniciativas de organizações quilombolas para promover a sustentabilidade econômica nas comunidades, a geração de renda, a soberania e a segurança alimentar, além da defesa  dos direitos quilombolas.

A premissa do edital é apoiar, ao longo de 2022, organizações lideradas e constituídas por quilombolas. Foram selecionadas 35 (trinta e cinco) iniciativas, que vão receber aporte financeiro de R$ 30.000 (trinta mil reais), perfazendo R$ 1.050.000 (Um milhão e cinquenta mil reais). Além disso, as organizações selecionadas contarão com investimentos indiretos por meio de assessoria e apoio técnico visando seu fortalecimento institucional.

Dentre os presentes, além dos donatários do edital, estavam o Diretor Executivo, Giovanni Harvey e a Diretora de Programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes, membros e membras da equipe de Programa, Administrativo-Financeiro e de Comunicação. O encontro teve início com todos os participantes apresentando-se, sendo que os representantes das organizações selecionadas tiveram espaço para falar de suas funções e informações a respeito dos projetos que serão apoiados pelo Baobá.

Das propostas selecionadas 23 encontram-se na região Nordeste do Brasil, 7 no Sudeste, 2 no Centro-Oeste, 2 no Sul e 1 no Norte; sendo que, o eixo 1 de Recuperação e Sustentabilidade Econômica corresponde a 54% dos projetos inscritos. No eixo 2 de Soberania e Segurança Alimentar concentra-se 34% e no eixo 3, que é de Resiliência e Defesa de Direitos 12%. A maioria das organizações tem suas diretorias compostas por mulheres quilombolas cis ou trans, e há um certo equilíbrio de gerações, varias diretorias tem pessoas adultas e jovens.

A Diretora de Programa Fernanda Lopes falou sobre a importância das conexões, parcerias com as organizações e destacou o quão cara para o movimento negro e para o Baobá é a narrativa de resistência, e de apoio à ação, o que coincidiu profundamente com o depoimento dos donatários: muitos declararam que esta é a primeira vez que participam de um edital de apoio financeiro para seus quilombos. 

Em sua finalização, o evento contou com microfones abertos, para que os representantes e integrantes das organizações selecionadas pudessem expor suas dúvidas. Após dúvidas sanadas, Fernanda Lopes relembrou as regras e o passo a passo de como o edital irá transcorrer. Ela destacou que, ainda em fevereiro, terá inicio a jornada formativa e, em seguida, as organizações irão assinar o contrato e receber a primeira parcela.

Diretor Executivo do Baobá faz encontro com a Associação Brasileira de Bancos 

Aproximação com organizações do mercado financeiro é importante para a viabilização de projetos futuros do fundo na área social 

Giovanni Harvey deixou a presidência do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá para, no dia 9 de dezembro e em substituição a Selma Moreira, assumir a Diretoria Executiva.  Homem com forte experiência na administração pública e na administração privada, uma de suas atribuições é estabelecer relações com o mercado e, a partir delas, alcançar os investimentos que possibilitam ao Baobá elaborar projetos e destinar recursos para os mesmos, a partir de seus donatários. 

Um dos primeiros grandes desafios de Harvey começou em um encontro com membros e membras da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), entidade que representa os interesses de bancos de controle nacional e estrangeiro, financeiras, cooperativas, instituições de pagamento, sociedades de crédito privado, sociedades de empréstimo pessoal e fintechs. 

O encontro, para o qual Giovanni Harvey foi convidado, ocorreu de forma virtual, e aconteceu de forma muito objetiva: 30 minutos no total. Nesse tempo,  Harvey fez a apresentação do Fundo Baobá, falou da importância de alcançar o suporte que poderá ser dado por algumas das organizações que a Associação Brasileira de Bancos congrega.  “Eu quero que o Baobá seja o fundo com a melhor performance. Mas acho importante que  outras instituições também façam o investimento no trabalho pela equidade racial”, afirmou a seus interlocutores. 

Harvey usou da contundência para fazer um esclarecimento aos representantes da Associação Brasileira de Bancos. A equidade racial que é buscada pelo Fundo Baobá não é uma missão só do povo preto.  “A desigualdade racial não é um problema só de nós, as pessoas negras, é de todas as outras. As instituições têm que ter esse compromisso também”, afirmou.

Após o encontro, representantes da ABBC afirmaram que o que foi exposto por Giovanni Harvey como objetivos do Fundo Baobá na busca por parcerias e oportunidades no mercado vêm ao encontro das diretrizes de atuação da associação. 

Edital Negros, Negócios e Alimentação: Confira a lista com os classificados da primeira etapa 

O Fundo Baobá para Equidade Racial divulga hoje (terça, 08) a lista de propostas aprovadas para a 2a fase do processo seletivo do edital Negros, Negócios e Alimentação. O edital é específico para a região metropolitana de Recife e foi lançado na segunda quinzena de novembro de 2021, com apoio da General Mills. 

O objetivo do edital Negros, Negócios e Alimentação é promover a recuperação econômica de negócios voltados para o ramo da gastronomia e, ao mesmo tempo, fortalecer as e os proprietários negros ou negras em sua atuação. A sustentabilidade de um negócio depende de fatores como planejamento, gestão, inovação, parcerias e outros. Porém, para que isso seja atingido, também é necessário promover o saber dentro dessas áreas e não apenas prover o apoio financeiro.

No que tange à promoção do saber, as pessoas negras  responsaveis pelos 12 (doze) negócios selecionados após as 3 (três) etapas classificatórias, irão participar de atividades formativas, além de mentorias e trocas de experiências com outros empreendedores e especialistas do setor da alimentação e do comércio. Cada um dos projetos receberá R$ 30 mil. 

Este edital voltado para o desenvolvimento econômico se mostra necessário frente à crise econômica, agravada durante este período de pandemia da Covid-19 que impactou, de forma negativa e severa, os negócios de alimentação comandados por negros e negras na região metropolitana de Recife,  composta pelas seguintes cidades: Jaboatão dos Guararapes, Olinda Paulista, Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe, Abreu de Lima, Ipojuca, São Lourenço da Mata, Igarassu, Moreno, Itapissuma, Ilha de Itamaracá e Araçoiaba.

Para que o edital fosse conhecido e para que houvesse maior adesão por empreendedoras e  empreendedores locais, além das ações de mobilização comunitária que estavam sendo realizadas nos territórios, uma missão do Fundo Baobá foi deslocada até Recife, onde permaneceu por cinco dias promovendo encontros com comerciantes locais que tinham dúvidas sobre a forma de participar do edital. Para mobilizar empreendedores e empreendedoras negros e negras, obter visibilidade na mídia com ampla divulgação do edital Negros, Negócios e Alimentação, o Fundo Baobá contou com apoio da Retruco, agência de jornalismo independente, idealizada por jovens jornalistas, cineastas  e designers de Pernambuco. Dúvidas dirimidas, foram recebidas 60 inscrições. Para a segunda etapa do processo seletivo foram classificadas 46 propostas. A lista pode ser acessada neste link

 

Perfil das Propostas

As propostas selecionadas estão concentradas em 8 dos 14 municípios da Grande Recife e envolvem, prioritariamente, negócios liderados por mulheres ou pessoas de gênero feminino (76,08%), com  escolaridade que varia do fundamental incompleto à pós-graduação. Os negócios estão mais na zona urbana (97,82%) e alguns funcionam desde a década de 1970.

 

Município dos projetos selecionados para a 2ª Fase do Edital:

  • Recife – 29 (63, 04%)
  • Olinda – 8 (17,39 %)
  • Paulista – 2 (4,34%)
  • São Lourenço da Mata – 2 (4,34%)
  • Ipojuca – 2 (4,34%)
  • Cabo de Santo Agostinho – 1 (2,17%)
  • Camaragibe – 1 (2,17%)
  • Jaboatão dos Guararapes – 1 (2,17%)

 

Atuação no ramo alimentício do(a) empreendedor(a)  selecionades para a 2ª Fase do Edital:

  • Bares – 3 (6,52%)
  • Buffet, comida para festas e outros eventos – 7 (15,21%)
  • Comida por encomenda ou para entrega (delivery) – 25 (54, 34%)
  • Food trucks – 1 (2,17%)
  • Restaurantes – 7 (15,21%)
  • Delivery e na feira de orgânicos – 1 (2,17%)
  • Tapiocaria itinerante – 1 (2,17%)
  • Doceria e delicatessen – 1 (2,17%)

 

Próximas listas classificatórias

Seguindo o que determina o cronograma do edital Negros, Negócios e Alimentação, a lista com os classificados na segunda etapa será divulgada no dia 10 de março de 2022 após as 19 horas. A lista final, por sua vez, sairá em 31 de março, também após as 19 horas

Para acompanhar todas as atualizações e novidades do Edital Negros, Negócios e Alimentação, clique aqui.

Caso Moïse Kabagambe: “A dor negra não gera empatia no imaginário nacional”

Por  Wagner Prado

A República Democrática do Congo é um país localizado no centro da África e entrou no imaginário da população brasileira da forma mais bizarra em 24 de janeiro de 2022. Naquele dia, o imigrante congolês refugiado Moïse Kabagambe foi morto por espancamento nas dependências do quiosque Tropicália, na praia da Barra da Tijuca. Moïse foi espancado após ter ido cobrar o pagamento por um serviço que havia prestado. 

Moïse Kabagambe saiu da República Democrática do Congo, um país convulsionado por guerras civis onde chacinas são algo frequentes. O homem jovem, cuja vida foi ceifada, chegou ao país há oito anos. A família veio buscar paz e tranquilidade. Encontrou a tragédia. Entre 2009 e 2019, 333.330 pessoas entre 15 e 29 anos foram mortas no Brasil. A maioria, homens negros e jovens. Os dados estão no Atlas da Violência 2021.  

Em maio de 2021, o Fundo Baobá para Equidade Racial lançou  o edital Vidas Negras, Dignidade e JustiçaO intuito do edital é apoiar entidades negras que atuem no enfrentamento do racismo e incorreções que ocorrem dentro do sistema de Justiça Criminal no Brasil.

O Caso Moïse está mobilizando a comunidade negra. Pelo menos três das maiores capitais brasileiras vão realizar manifestações no sábado, 5 de fevereiro: Belo Horizonte. Rio de Janeiro e São Paulo.  

Felipe Freitas, professor do Programa de Pós Graduação em Direito Constitucional do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) e membro do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá,  acompanha a equipe executiva na implementação do edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça,  dá nessa entrevista seu posicionamento sobre mais um assassinato de um homem negro no Brasil. 

O caso pode ser tipificado como crime de racismo? Por quê?

Felipe Freitas – É evidente que estamos diante de um caso de racismo. Do ponto de vista jurídico,  é preciso apurar o que foi dito para saber se a situação pode ou não ser enquadrada no tipo penal de racismo previsto na lei. Todavia, do ponto de vista político, não resta dúvida de que o caso está relacionado ao fato de Moïse ser um homem negro.

Só o racismo é capaz de normalizar práticas tão cruéis e violentas quanto estas. A forma pela qual aquele jovem foi tratado é uma expressão dramática de como a sociedade brasileira costuma tratar gente negra. Tratam-nos como lixo, como coisa que se descarta e se mata na porrada,  como têm dito, inclusive, os familiares de Moïse em declarações  muito lúcidas  prestadas à imprensa brasileira.

Na entrevista concedida ao jornal O Globo, a mãe de Moïse dá a intepretação correta dos fatos: “Eles mataram o meu filho porque ele era negro, porque era africano”, disse  Lotsove Lolo Lavy Ivone.

O fato de ser um cidadão negro, estrangeiro, dá mais visibilidade ao caso do que quando a vítima é negra e brasileira, como o João Alberto Freitas?

Felipe Freitas – O fato de ser estrangeiro adiciona complexidade à situação. Além do racismo temos também uma brutal expressão de xenofobia no caso, de modo que estamos falando aí de violências que se sobrepõem para produzir mais sofrimento e morte.

Não acho produtivo discutir qual morte gerou maior ou menor comoção (pensando nos casos de Beto Freitas, morto por espancamento em novembro de 2020,  ou Moïse Kabagambe). O que me parece central é pensar como tanto na violência praticada contra um negro brasileiro quanto na violência contra um negro estrangeiro há um regime de invisibilidade que impede o debate público sobre o tema e que limita a extensão do luto imposto ao país. 

Quem se recorda de Ágatha Vitória Sales Félix, 8 anos, alvejada por um disparo efetuado pela Polícia Militar na comunidade da Fazendinha, Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro em 2019? Quem lembra do nome dos 12 jovens mortos pela Polícia Militar da Bahia, em 2015, na conhecida Chacina do Cabula? Quem se recorda da Chacina da Condor, ocorrida em Belém, no Pará, no ano de 2017, quando cinco pessoas foram mortas e 14 pessoas ficaram feridas após a ação de um grupo de matadores profissionais?

São casos que nos revelam, de modo muito cruel, que a vida negra vale muito pouco no Brasil e que chacinas, massacres, linchamentos e execuções de corpos negros não são capazes sequer de impor momentos de luto nacional. Os corpos seguem no chão e o país continua funcionando, ou melhor, é como se o próprio funcionamento das instituições e dos seus arranjos com o poder privado se alimentasse destas violências.

A comoção não passa de uma ou duas semanas de matérias na imprensa e atos promovidos solitariamente pelo movimento negro. Não há uma sensibilidade social coletiva e ampla em torno destas mortes. A dor negra não gera empatia no imaginário nacional e o Brasil passa a contar os dias para que a próxima tragédia seja registrada. É algo enlouquecedor.

Manifestações públicas de protesto, como as que estão programadas para sábado no RJ e em SP, são capazes de mudar esse estado de coisas?

Felipe Freitas – É evidente que tem de haver manifestação. Não é possível admitir que morramos em silêncio ou que nossos corpos caídos no chão sejam esquecidos como matéria sem nome. É preciso nomear a violência, registrar a história de cada vítima, inscrever nas ruas demonstrações de repúdio que possam desarticular o pacto de silêncio instituído pelo poder branco em relação à morte negra no Brasil.

E, neste sentido, acho que as manifestações não podem se limitar às meras demandas judiciais. Não basta exigir que haja investigação e que os responsáveis pela morte de Moïse Kabagambe sejam punidos, ainda que esse seja um primeiro passo fundamental. Todavia, é preciso que se ponha em debate todo o sistema que produz essa violência e que autoriza cenas como esta. Como se produz uma política de memória que permita que este fato não seja esquecido? Como fazer com que, na geografia carioca, se inscrevam registros que não permitam que alguém passe por aquele lugar e não saiba que ali uma pessoa negra, congolesa, trabalhadora foi espancada até a morte na suposta vigência do Estado Democrático de Direito?

É preciso debater como deixar exposto nas cidades os registros de que absurdos aconteceram e, ao mesmo tempo, afirmar que não vamos deixar que isso aconteça novamente. Penso que as manifestações políticas precisam fazer com que isso aconteça.

Quem fiscaliza as condições de trabalho em barracas como essa em que Moïse trabalhava? Como funciona a expedição de alvarás para estes estabelecimentos? Por que ninguém fez nada para impedir aquele linchamento? Por que a guarda civil não interveio? Por que a polícia não chegou? Por que o Estado não assegurou condições dignas de sobrevivência para essa família de refugiados? Por que mortes como essa não ocupam o centro das preocupações nacionais? Por que o governo brasileiro não respondeu às várias solicitações de informação apresentadas pela Embaixada do Congo sobre a morte de outros congoleses nos anos anteriores?

São muitas perguntas que permanecem sem qualquer resposta efetiva por parte dos governos, das instituições públicas e do conjunto da sociedade. Penso que essa deve ser a pauta das manifestações: indagar sobre o estado de coisas que produz a violência racial

Acontecimentos como esse estão ligados à falta de investimentos em Educação, Trabalho e Saúde no Brasil?

Felipe Freitas – Naturalmente que um absurdo como este não decorre de uma ou outra coisa isoladamente. Há sempre vários elementos se retroalimentando no âmbito de um país racista e desigual. Três aspectos me parecem importantes de serem ressaltados no caso da morte de Moïse: a falta de políticas de apoio aos refugiados no Brasil, a precariedade nas relações de trabalho naquela região de comércio na orla do Rio e a indiferença das pessoas que circulavam naquela região diante de uma pessoa negra sendo executada a pauladas.

Foram 20 minutos de espancamento, provavelmente após duras ofensas verbais, e ninguém interveio para parar as agressões ou nenhum agente público aproximou-se do fato para evitar que a tragédia acontecesse.

Além disso, merece destaque também o relato que circulou na imprensa de que alguns daqueles trabalhadores vivem em situação de trabalho tão abusiva que passam a noite ali mesmo na região da praia porque não têm condições de voltar para casa após a extenuante jornada. Ou seja, são vários elementos que dão conta de um quadro estrutural de violência,  de omissão do poder público.

A quase inexistência de políticos negros, homens e mulheres, nas esferas estadual e federal, torna inócua qualquer tentativa de que leis protetivas para os negros e punitivas para quem age contra negros sejam aprovadas?

Felipe Freitas – A ausência de pessoas negras nos espaços de decisão política é um entrave central da democracia brasileira. Não há democracia enquanto o sistema de justiça, o executivo e o legislativo não representarem a pluralidade racial da sociedade brasileira. No entanto, é muito oneroso pensar que negras e negros precisam estar nos espaços de decisão para viabilizar que as decisões públicas operem para combater o racismo e proteger a vida de mulheres e homens negros; a vida de pessoas negras.

É preciso que os agentes públicos (independentemente do pertencimento racial) aprendam a produzir decisões em favor da justiça e da igualdade racial. É óbvio que é fundamental ampliar radicalmente o número de negras e negros nos espaços de poder,  mas não podemos esperar que estas pessoas negras ingressem e ascendam nas instituições para que se adotem medidas de enfrentamento ao racismo. Simultaneamente às políticas para democratização do acesso a estes espaços é necessário que as pessoas brancas assumam suas responsabilidades e ajam para garantir direitos para todas e todos.

Dignidade e Justiça

O edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça é uma oportunidade para a população negra fortalecer estratégias de ativismo, resistência e resiliência frente às injustiças raciais recorrentes, envolvendo e engajando comunidades, vítimas, sobreviventes e aliados. 

As entidades selecionadas apresentaram propostas dentro desses quatro eixos: 

a) Enfrentamento à violência racial sistêmica; b) Proteção comunitária e promoção da equidade racial; c) Enfrentamento ao encarceramento em massa entre adultos e jovens negros e redução da idade penal para adolescentes: d) Reparação para vítimas e sobreviventes de injustiças criminais com viés racial.

Fundo Baobá na Imprensa em Dezembro

A organização teve participação em retrospectivas do ano de 2021

Por Ingrid Ferreira

Em dezembro de 2021, o Fundo Baobá para Equidade Racial foi destaque na mídia com o edital Negros, Negócios e Alimentação. Os sites Prosas, Pernambuco Transparente, Negrê, Cidades do Meu Brasil e Rede Filantropia fizeram matérias falando sobre a iniciativa, que teve as suas inscrições prorrogadas até o dia 27 de janeiro de 2022, além da participação da Diretora de Programa do Baobá, Fernanda Lopes, que deu entrevista para a Rádio Folha falando sobre o edital.

Divulgação do Edital Negros, Negócios e Alimentação

Dezembro também é o mês das famosas retrospectivas, e o Fundo Baobá, que faz parte da história de inúmeras pessoas e empresas, com certeza não ficaria fora desse momento de lembranças. A organização foi citada na matéria Retrospectiva 2021 do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), no artigo Celebrating Bright Spots and Joyous Moments of 2021, da Imaginable Futures, organização parceira do Fundo Baobá no Programa Primeira Infância, lançado em 2020. E, por fim, na Retrospectiva da Abayomi no portal  Abayomi – Coletivo de Mulheres Negras na Paraíba, organização apoiada no Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco.

O site Isto é Dinheiro publicou no dia 10 de dezembro uma nota sobre o Giving Circle (Círculo de Doação), criado como parte das comemorações de 10 anos do Fundo Baobá. O projeto tem como parceiro o The Wise Fund. Seu propósito é  criar uma iniciativa em que pessoas negras liderem redes de doação para financiar novos editais do Fundo em apoio a iniciativas de organizações, coletivos e lideranças negras. A Rádio Nova Manhã, também entrevistou a Diretora de Programa, Fernanda Lopes, que falou novamente sobre os 10 anos de Baobá e como funcionam os projetos dos editais.

O Estadão e o Money Times publicaram a matéria ‘Não fazer nada é perpetuar os privilégios brancos e o racismo’, em que o Fundo Baobá é citado como um dos parceiros do projeto Mover. Enquanto isso, o Fundo Casa também fez menção ao  Fundo Baobá em sua matéria Fundo Casa fecha o ano de 2021 com mais de R$ 17 milhões doados,  no qual cita a inédita junção que deu origem à Aliança entre Fundos, união entre o Fundo Baobá para Equidade Racial, Fundo Brasil de Direitos Humanos e Fundo Casa Socioambiental. O portal Página 22  comenta a parceria com o Fundo Baobá na criação de empregos, bolsas de estudos e programas de mentorias com as comunidades para a valorização da diversidade social.

Apoiadas do Fundo Baobá

A página oficial da  Universidade Federal do Tocantins – Ministério da Educação na internet, publicou a matéria Professora da UFT recebe prêmio nacional por artigo científico, que tem como destaque a professora Solange Nascimento, coordenadora de Ações Afirmativas da UFT, que foi premiada nacionalmente pelo seu artigo científico selecionado no edital Chamada Para Artigos – Filantropia para Promoção da Equidade Racial no Brasil no Contexto Pós-pandemia da Covid-19, promovido pelo Fundo Baobá para Equidade Racial em parceria com a Fundação Ford.

O site Desenvolvimento Rural – SDR publicou a matéria Comunidade quilombola de Campo Formoso acessa edital que vai fortalecer ações do Pró-Semiárido. Nela,  a Associação Comunitária Quilombola Patos III, em Campo Formoso (BA), comemora a seleção do projeto “Quintais produtivos: fortalecimento de iniciativas agroecológicas realizadas por jovens e mulheres”, escrito pela Agente Comunitária Rural (ACR), Aliete Alves, juntamente com dois outros membros da associação, Antônio Marcos e William,  no edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça, do Baobá, em parceria com a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq).

Coletiva Negras que Movem – Portal Geledés

Na coluna Coletiva Negras que Movem, do Portal Geledés, o texto ‘Rendendo o assunto sobre: como ser “arrimo” de família sem se comprometer financeiramente?’, escrito por Larissa Amorim Borges, fala sobre as responsabilidades que são destinadas às pessoas negras em suas famílias de forma histórica. Trazendo pontos que permeiam as questões do campo psicológico e emocional, a autora fala da necessidade de as pessoas pretas se cuidarem.

Banco BV no Projeto de Recuperação Econômica

Tiago Soares, gerente executivo de sustentabilidade e patrocínios no BV  fala sobre a participação da instituição no Programa de Recuperação Econômica.

Por Ingrid Ferreira

O Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores (as) Negros (as), criado em 2020 durante a pandemia, foi uma ferramenta de urgência que teve como objetivo apoiar nano e pequenos empreendedores(as) negros(as) que tiveram os seus negócios afetados pela pandemia da covid-19, em especial pelo lockdown que ocorreu na tentativa de barrar a disseminação do vírus.

Essa iniciativa do Fundo Baobá para Equidade Racial contou com apoio da Coca-Cola Foundation, Instituto Coca-Cola Brasil, Banco BV e Instituto Votorantim. Para além do apoio financeiro de R$30 mil por iniciativa (R$ 10 mil por empreendedor/a), as e os participantes tiveram formações sobre empreendedorismo, gestão e planejamento dos negócios, controle de finanças, marketing, precificação, entre outros temas, para auxiliá-los na administração de seus negócios. Na matéria Fundo Baobá divulga a Avaliação do Programa de Recuperação Econômica  de Pequenos Negócios de Empreendedores(as) Negros(as) é possível ver os resultados alcançados pelo Programa. 

Pensando em compreender um pouco mais a experiência das instituições que fazem o investimento social privado no segundo ano em que o mundo ainda se encontra nesta grave pandemia, o Fundo Baobá entrevistou Tiago Soares, gerente executivo de sustentabilidade e patrocínios no Banco BV, para compreender a visão de impacto adotada pelo BV nesta parceria para apoiar empreendedoras negras e empreendedores negros e estimular pequenos arranjos produtivos locais em todo o país.

Tiago Soares – Gerente Executivo de Sustentabilidade e Patrocínios no Banco BV

Ao ser questionado sobre o motivo do apoio do BV ao edital de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores Negros e Negras do Fundo Baobá, Tiago diz: “O propósito do BV é levar leveza para a vida financeira das pessoas. Por isso, entende que seu papel é ser viabilizador do sucesso de empreendedores que, com a ajuda do Baobá, estão oferecendo informação e subsídio e podem promover um país com menos desigualdade”. 

Tiago Soares também explicou que, recentemente, o BV anunciou publicamente o  projeto que carrega o nome: “Compromissos para um futuro mais leve 2030”. Segundo ele, esse projeto encontra-se alinhado aos pilares ESG (sigla usada para se referir às melhores práticas ambientais, sociais e de governança de um negócio), em que a instituição compromete-se com metas de inclusão social.

De forma muito responsável, o gerente executivo  faz uma ressalva valiosa ao afirmar que “a parceria do BV com a Baobá tem o poder de impactar a vida de muitas pessoas, não apenas dos empreendedores, mas de toda a comunidade de pessoas ao redor. O apoio vai auxiliar os empreendedores a ampliarem seus negócios, e em um futuro próximo geram novos empregos nas comunidades onde atuam”. Tiago acredita que o aporte financeiro oferecido no Programa de Recuperação Econômica tem esse intuito, de apoiar pessoas negras para que elas também possam apoiar as pessoas à sua volta e assim criar  uma corrente em que um possa apoiar o outro.

Além da parceria com o Fundo Baobá, o BV também conta com outro projeto, lançado no ano de 2021,  o Edital Cultural , que tem como objetivo selecionar projetos que fomentem as produções culturais criadas e realizadas por mulheres negras de todo o Brasil: “O edital prioriza iniciativas das regiões norte e nordeste a fim de, não só ampliar as possibilidades de acesso a uma cultura mais representativa e diversa, mas também produzir desenvolvimento social por meio da produção e acesso à cultura de e para populações em situação de vulnerabilidade social e econômica”, afirma. 

Ainda sobre o Programa de Recuperação Econômica, Tiago Soares finaliza falando sobre como o edital do Fundo Baobá se alinha aos  ideais do BV: “Tanto pelo fato de que, cada projeto apoiado, precisava ter pelo menos 3 pessoas empreendedoras envolvidas, reforçando assim alguns dos princípios do BV, como o de ser correto e parceiro. Além de atender à  pauta de dar visibilidade a pessoas negras”, finaliza.

Programa Marielle Franco: esforços, resultados e impactos produzidos pelo edital

Experiência de três organizações selecionadas no edital,  lançado em 2019, mostra a eficiência do Programa e sua influência em seus territórios de atuação 

Por  Wagner Prado

Para o mercado, a eficácia de um projeto pode ser dimensionada de várias formas: grandiosidade, lucratividade, alcance, número de envolvidos (beneficiários diretos e indiretos). Nos projetos e programas criados pelo Fundo Baobá para Equidade Racial a análise é feita a partir de fatores que estão muito além da frieza de planilhas, de números enormes, as vezes sem vida e sem história. O fato de os projetos e programas do Baobá serem voltados para o desenvolvimento e a justiça social torna o olho no olho, a relação pessoal, as pequenas e as grandes mudanças individuais, e tantos outros  aspectos, em algo muito mais que relevante. 

O Programa de Aceleração de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, lançado em setembro de 2019, em sua primeira edição, teve dois editais. O primeiro, voltado para o apoio de grupos, coletivos e organizações de mulheres negras. O segundo, de apoio individual a lideranças negras. Aqui, vamos focar nas 14 organizações escolhidas entre as 15 que foram selecionadas. Aqui vamos focar em 3 das 14 organizações que seguiram até o final do Programa (originalmente foram 15 organizações, grupos e coletivas selecionadas).

Mapa das Organizações, Grupos e Coletivas Apoiadas

O objetivo do edital é fazer com que as coletivas, organizações e grupos de mulheres negras sejam fortalecidas  em todas as suas capacidades, conheçam e desenvolvam ainda mais suas potencialidades, incrementando a liderança de mulheres negras. A partir disso,  mobilizar e engajar outras pessoas e instituições na busca por justiça, equidade racial e social. O Programa é uma parceria do Fundo Baobá com a Fundação Kellogg, Instituto Ibirapitanga, Fundação Ford e Open Society Foundations.  

Para exemplificarmos as transformações ocorridas com as organizações que participaram do Programa, convidamos  três delas para o diálogo: Abayomi – Coletiva de Mulheres Negras na Paraíba;  Movimento de Mulheres do Subúrbio Ginga (Salvador, Bahia) e Rede de Mulheres Negras de Pernambuco.  

A Abayomi/PB atua na proteção e promoção dos Direitos das Mulheres. incluindo enfrentamento à violência. O Ginga/BA e a Rede de Mulheres Negras de Pernambuco estão alinhadas à mesma área temática. A variação está no projeto que cada uma apresentou. 

A coletiva paraibana Abayomi inscreveu-se com o projeto Obirim Dudu: Movimentando as Estruturas Contra o Racismo. Ele consiste na produção e difusão de informações sobre as condições das mulheres negras da Paraíba, com o objetivo de contribuir para o combate das questões raciais, garantindo suporte intelectual e, por consequência, material, e fortalecendo o institucional das organizações. O Ginga trouxe o projeto Mulheres Negras, Elaborando Estratégias, Fortalecendo Saberes, que procurou instrumentalizar as entidades para concorrer, de modo mais equânime, à captação de recursos através de editais. O objetivo geral foi capacitar mulheres atuantes em movimentos sociais e lideranças de entidades em prol de outras mulheres, especialmente as negras, na captação de recursos, através da formação em elaboração de projetos de intervenção social em Salvador e região metropolitana. Já a  Rede de Mulheres Negras de Pernambuco implementou o Olori: Mulheres Negras e Periféricas Produzindo Liderança, cujo foco foi promover um processo de formação política para várias mulheres visando a construção de um projeto coletivo no futuro. O primeiro passo foi o fortalecimento institucional de três organizações que já funcionavam em parceria para que ganhassem condições de oferecer esses cursos de formação política e formação técnica para as militantes, que serão futuras lideranças. 

Transformação

Aplicar-se em um edital do Fundo Baobá não é simplesmente conseguir a classificação e  receber a dotação financeira. A organização sabe, desde o primeiro momento, que vai passar por um intenso processo de transformação.  No caso do Programa de Aceleração de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, o objetivo ao final de cinco anos, tempo previsto para duração do Programa, é ter um leque de organizações, coletivos e grupos de mulheres negras fortalecidos em suas mais diversas funcionalidades, o que vai potencializar e gerar maior  protagonismo das entidades comandadas por mulheres negras.  

Com o objetivo de potencializar ação destas organizações e fomentar a ação em rede, foram implementadas atividades formativas. A Ong Criola e o Instituto Amma Psique e Negritude foram facilitadores dessa implementação.  Com a Criola foram 14 encontros, com duração de 3 horas cada, de abril a novembro de 2020, e que versaram sobre racismo, sexismo, lesbo e transfobia, políticas públicas e controle social, liderança feminina negra, segurança ativista. Cada um desses encontros teve público médio de 90 pessoas. Já o Amma trabalhou a questão do enfrentamento ao racismo e seus efeitos psicossociais. Foram 5 encontros, também com duração de 3 horas cada, com público médio de 20 pessoas por turma em cada um deles. Foram disponibilizadas três turmas. 

Para as lideranças do edital de apoio individual foram oferecidas  sessões de coach para dar suporte e garantir a implementação de seus projetos de desenvolvimento individual, além das atividades formativas anteriormente citadas. 

O Fundo Baobá ainda programou e realizou reuniões virtuais (individuais e em grupo) para atendimento visando despertar e fortalecer potenciais. De março a dezembro de 2021 foram 190 atendimentos individualizados e outros 700, por mensagem e telefone, dirimindo as dúvidas, derrubando inseguranças e esclarecendo as incertezas surgidas principalmente no contexto da pandemia. As reuniões e atendimentos contribuíram para que elas pudessem criar condições favoráveis para alcançar seus objetivos individuais e coletivos. 

Parcerias

Alcançar excelência requer esforço, foco, resiliência e união.  Para que as barreiras que surjam em jornadas de transformação sejam suplantadas, atuar de forma isolada não é o melhor caminho. Firmar parcerias é algo de extrema importância. As lideranças apoiadas individual ou coletivamente pelo Programa de Aceleração de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco reiteraram que a busca de parceiros (ou o fortalecimento de parcerias já estabelecidas) é algo que pode viabilizar o alcance de resultados, dada às experiências que podem ser compartilhadas, responsabilidades que podem ser divididas, habilidades que podem ser complementadas, ligações externas que se pode alcançar, aporte financeiro que pode ser gerado, além de muitas outras variáveis. Entre as 14 organizações escolhidas, 43% reconheceram ter ampliado sua capacidade de mobilizar novos parceiros; 36% disseram que essa capacidade estava em franca construção e 7% foram unânimes no diagnóstico de que a capacidade de mobilizar novos parceiros era plena. 

Entre as lideranças femininas negras apoiadas individualmente, o estabelecimento de parcerias visando o alcance dos objetivos pretendidos foi total.  365 apoiadas firmaram parcerias com instituições; 187, com indivíduos e 85% declararam ter se juntado a outras também apoiadas. 

Olhando o futuro

Após  a jornada de aprendizado e transformação e cientes de suas novas potencialidades, fazer projeções futuras de crescimento e realizações passou a ser o objetivo dessas organizações. 

Abayomi: 

O apoio do Fundo Baobá nos projetou como uma organização capaz de executar projetos e nos evidenciou para outras apoiadoras. Sendo assim, pretendemos seguir nesse caminho de pleitear outros financiamentos para sustentar nossa ação política. Nossos planos para os próximos 12 meses são, a partir do projeto (aprovado) do FBDH (Fundo Brasil de Direitos Humanos), a continuidade das ações nos territórios, o fortalecimento institucional e a manutenção de articulações e mobilizações políticas em conjunto com as organizações e movimentos locais, regionais e nacionais. Em nosso planejamento consta o envio de propostas de projeto para a produção de conteúdos e informações e realização de cursos e capacitações. Pretendemos também incorporar a questão da violência contra as mulheres negras e saúde de população negra como prioritárias para os próximos dois anos“,  afirmou Durvalina Rodrigues Lima, representante da organização. 

Movimento de Mulheres do Subúrbio Ginga

“Com base no aprendizado adquirido com a execução desse projeto, iremos nos lançar em editais mais complexos, com maior segurança acerca da gestão. Essa experiência também nos proporcionou novas articulações e ações em rede, as quais pretendemos dar continuidade, como, por exemplo, a realização de lives mensais com representantes das entidades que compõem essa nova rede estabelecida, para o diálogo sobre temáticas alinhadas aos objetivos do nosso coletivo. Estamos iniciando o projeto da horta comunitária, com o apoio da Terra Vida Soluções Ecológicas, a partir do sistema de compostagem urbana, o qual poderá contribuir para que o nosso grupo possa se tornar um ponto de referência no território, como multiplicador de práticas sustentáveis”, diz Carine Lustosa, integrante do Ginga.  

Rede de Mulheres Negras de Pernambuco: 

“Cidadania Feminina – manter o diálogo com as mulheres que participaram das formações, para contribuir com o fortalecimento dessas lideranças nos seus territórios. Exercitar o aprendizado sobre planejamento organizacional nas atividades e ações da instituição. Buscar e concorrer a editais para apresentação de projetos. Espaço Mulher – buscar parcerias. Com a possibilidade do CNPJ vamos buscar editais para nossa sustentabilidade financeira. E vamos continuar o que já fazemos:  cuidar, acolher, apoiar e fortalecer as mulheres não só do grupo, mas também da comunidade de Passarinho “, afirma Rosita Maria Marques, da direção da Rede. 

Impactos

As ações promovidas pelas organizações Abayomi – Coletiva de Mulheres Negras na Paraíba;  Movimento de Mulheres do Subúrbio Ginga (Salvador) e Rede de Mulheres Negras de Pernambuco dão a ideia do impacto que elas e as demais 11 organizações têm provocado nas comunidades dos territórios em que atuam.  Os trabalhos executados por elas alcançaram 20.066 pessoas, sendo 17.056 mulheres (85%)  e 3.010 homens (15%). As ações de compartilhamento de saberes e aprendizados alcançaram 9.741 pessoas negras (mulheres e homens – 74%) e 3.370 não negras (26%). 

Beneficiários Indiretos – edital de apoio coletivo

Entre outras realizações, o Abayomi  conseguiu: a) maior circulação de informações sobre a população negra para subsidiar a luta contra o racismo; b) comunidades fortalecidas e a ampliação do debate sobre as condições das mulheres negras no contexto da pandemia; c) manteve a articulação com diferentes ativistas e organizações, entre eles o Minicurso Aya. 

O Ginga promoveu: a) capacitação de mulheres atuantes em movimentos sociais e lideranças de entidades em prol de mulheres, especialmente negras; b) formação em elaboração de projetos de intervenção social em Salvador e região metropolitana; c) o curso promovido pelo Ginga foi adaptado para o formato remoto, devido à pandemia da Covid-19, possibilitando alcançar entidades do interior do estado.

A Rede de Mulheres Negras de Pernambuco organizou: a) processos de formação políticas para qualificar cada vez sua própria atuação e apoiar o surgimento de outras lideranças e referências; b)processo de formação política junto a mulheres das entidades Espaço Mulher e Cidadania Feminina e executou um projeto coletivamente pela primeira vez; c) o despertar da liderança em suas líderes, que  superaram  o medo de trabalhar de maneira virtual, manuseando as plataformas digitais. 

20.505

Os projetos idealizados pelas organizações,grupos e coletivos de mulheres negras apoiados pelo Programa de Aceleração de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco beneficiaram indiretamente 20.505 pessoas, em diferentes fases do ciclo da vida, dentro e fora do país, residentes em zona urbana e rural, com ou sem acesso a educação formal. Essas, com certeza, terão o poder de influenciar outras tantas, a partir dos relacionamentos que foram estabelecidos e dos conhecimentos que conseguiram alcançar.  

Gratidão

Sulamita Rosa da Silva, licenciada em Pedagogia e Mestra em Educação pela Universidade Federal do Acre (Ufac) e doutoranda em Educação Pela Universidade de São Paulo, foi contemplada no edital de apoio individual do Programa de Aceleração de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. Líder da Rede Mulherações – Rede de Formações para Negras, Afro Indígenas e Indígenas do Acre,  demonstra sua gratidão pelo apoio recebido: “Compartilhei aprendizagens e saberes em forma de cursos, eventos, podcasts, publicações entre outros, contribuindo com a comunicação e memória de intelectuais negras, que tanto contribuíram para a compreensão da cultura brasileira de modo decolonial. Desenvolvi podcasts também como forma de popularização do conhecimento científico, além de começar a articular a escrita acadêmica com o pensamento feminista negro, visando uma educação emancipadora e autodefinida. Tive uma narrativa curta publicada no livro –  Carolinas: a nova geração de escritoras negras brasileiras, resultado este do processo formativo da Festa Literária da Periferia (Flup),  contando com 180 autoras negras de todo o Brasil”, disse. 

No edital que selecionou 63 mulheres e que, ao final, contou com 59 apoiadas, os estados do Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraiba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe) concentraram o maior número de apoiadas: 26. As lideranças femininas negras apoiadas compartilharam aprendizados com mais de 500 mil pessoas em suas redes profissionais, de estudo e de militância. Entre as pessoas alcançadas estão pessoas não binárias, transgêneres e travestis, quilombolas, migrantes, refugiados, adultos, adolescentes, jovens e idosos. 

O Fundo Baobá para Equidade Racial fez um trabalho de análise e tabulação de dados  do Programa de Aceleração de Lideranças Femininas: Marielle Franco. Para obter mais detalhes, acesse este link.

Inscrições para o edital Negros, Negócios e Alimentação serão encerradas nesta quinta-feira, 27 de janeiro

As inscrições do edital Negros, Negócios e Alimentação se encerram hoje, dia 27 de janeiro, às 17 horas. O edital é voltado para empreendedores (as) negros (as) do ramo da alimentação no Recife. Esta será a última oportunidade para que os empreendedores interessados possam se inscrever. O projeto do Fundo Baobá para Equidade Racial tem apoio da General Mills, empresa global de alimentos dona de marcas como Yoki, Kitano e Häagen-Dazs no país.

O edital foi lançado em novembro de 2021, com o intuito de contribuir para a recuperação econômica de negócios do ramo da gastronomia, voltado para os empreendedores e empreendedoras negros(as) e vai contribuir para a ampliação de suas capacidades de planejar, fazer gestão, inovar, ampliar ou estabelecer uma infraestrutura mínima para sustentabilidade de seus negócios.

Os inscritos devem ser empreendedores(as) negros(as) do setor gastronômico, com 18 anos ou mais, que tenham negócio instalado e em funcionamento há 3 anos ou mais, que trabalhem com alimentação de consumo imediato, como almoços, jantares, salgados, bolos, pratos típicos e regionais, dentre todas as opções de cardápio; empresários que trabalhem com  food truck, comida de rua e que sejam ambulantes também podem participar.

Os empreendimentos devem estar localizados no estado de Pernambuco, nas seguintes cidades: Recife, Jaboatão dos Guararapes, Olinda,  Paulista, Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe, Abreu de Lima, Ipojuca, São Lourenço da Mata, Igarassu, Moreno, Itapissuma, Ilha de Itamaracá e Araçoiaba. As propostas apresentadas por mulheres negras cis ou trans e de empreendedores(as) negros(as) que nunca foram apoiadas(os) pelo Fundo Baobá para Equidade Racial serão priorizadas.

Os selecionados receberão um aporte financeiro de R$ 30 mil, além de assessoria e suporte técnico, e terão 09 (nove) meses para executar os seus projetos  e apresentar a prestação de contas final.

Os interessados podem se inscrever através do link oficial do edital na página do Fundo Baobá, onde encontram-se os critérios de elegibilidade do programa. Ressaltando que a regra da obrigatoriedade de ter CNPJ foi retirada, como consta na matéria Fundo Baobá altera regras de edital de apoio a empreendedores negros da alimentação na Região Metropolitana do Recife.

Realizadores

Criado em 2011, o Fundo Baobá para Equidade Racial é o primeiro e único fundo dedicado, exclusivamente, para a promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. Orientado pelos princípios de ética, transparência e gestão, mobiliza recursos financeiros e humanos, dentro e fora do país, e investe em iniciativas da sociedade civil negra para o enfrentamento ao racismo e promoção da justiça social.

A General Mills é uma empresa líder global em alimentos e trabalha “fazendo os alimentos que o mundo ama”. Com sede em Minneapolis, Minnesota, EUA, a companhia chegou ao Brasil em 1997. Em novembro de 2020, assumiu publicamente o compromisso de ser um instrumento importante de mudança promovendo iniciativas práticas para equidade racial. Ao reconhecer que o racismo deixa marcas todos os dias em diversas sociedades, há séculos, a empresa se mobiliza e busca contribuir para os avanços em políticas de inclusão e, sobretudo, de preservação da vida de pessoas negras.

 O Edital Doações Emergenciais Transformou o Cenário de Combate da Covid-19

O Fundo Baobá para Equidade Racial agiu de forma atemporal ao compreender as necessidades sociais que surgiriam com a pandemia do novo Coronavírus.

Por Ingrid Ferreira

O ano de 2020 foi marcado pelo início da pandemia da Covid-19 no país, e com a crise sanitária, a população sofreu. Os impactos da crise econômica foram intensificados, as restrições impostas pelo isolamento social afetaram, principalmente, as pessoas que já viviam em condições de vulnerabilidade.

Avaliando esse cenário, o Fundo Baobá para Equidade Racial, usando recursos próprios e remanejando outros vindos da Fundação Ford e que seriam destinados a atividades voltadas para o seu próprio fortalecimento institucional, lançou no dia 5 de abril de 2020 o edital “Doações Emergenciais no Contexto da Pandemia da Covid-19”, para apoiar iniciativas individuais ou de organizações que respondessem às necessidades mais imediatas da comunidade negra naquele momento.

A seleção priorizou ações de prevenção e apoio às pessoas, famílias e comunidades mais carentes em todo o Brasil. As iniciativas selecionadas, em sua maioria, eram voltadas à aquisição, fabricação e distribuição de insumos de prevenção como máscaras, produtos de higiene pessoal e de limpeza; aquisição e distribuição de cestas básicas e/ou marmitas, além da produção de conteúdos e disseminação de informações sobre a Covid-19 .

O edital foi pensado e implementado em tempo recorde, dada à emergência  e à possibilidade do colapso social que estava por vir e, de fato, veio. De acordo com o boletim da Fiocruz “Observatório Covid-19”, o ano de 2021 terminou com mais de 600 mil óbitos e 22 milhões de casos registrados por Covid-19; no estudo realizado pela Rede de Pesquisa Solidária  “Boletim do Políticas Públicas & Sociedade, é apresentado que homens negros morrem mais por Covid-19 quando comparados aos  homens brancos, ainda que em ocupações socialmente interpretadas como de elite (engenharia, direito, arquitetura).Mulheres negras morrem mais que todos os demais segmentos populacionais (homens negros e brancos e mulheres brancas) em quase todas os setores em que estejam atuando profissionalmente.  

Segundo dados que se encontram no e-book “O que aprendemos com nossas respostas à pandemia?”, que foi feito com o intuito de apresentar as ações emergenciais realizadas pelo Fundo Baobá no início da pandemia e seus resultados: Em apenas 12 dias, o edital recebeu 1.037 inscrições de todas as regiões do país, sendo 387 iniciativas de organizações sociais e 650 iniciativas de pessoas (indivíduos). Foram selecionadas 215 propostas individuais e 135 propostas de organizações. Cada iniciativa recebeu até R$ 2,5 mil para ações de prevenção em comunidades periféricas, de difícil acesso e populações vulneráveis.

Distribuição das propostas apoiadas por região do país (apoios para indivíduos e organizações)

Ao analisar relatórios e ouvir relatos observou-se que o maior desafio enfrentado pelos indivíduos apoiados pelo Baobá foi de atender todas as demandas apresentadas pelas pessoas atendidas, representado por 32,3%;  já no caso das organizações, 28,6% afirmam que a maior dificuldade foi conscientizar a população acerca dos riscos da pandemia. Foi acertado o investimento do Baobá em iniciativas individuais porque as lideranças recebendo um primeiro apoio, poderiam buscar outros, não por acaso entre os indivíduos apoiados o menor desafio enfrentado foi mobilizar parceiros/atores estratégicos (4,0%), o medo de se infectar existia, mas não foi impeditivo (ainda que alguns tenham adoecido ou perdido familiares durante o período de implementação das ações). Entre as organizações o menor desafio foi o de proteger voluntários (1,8%). 

No depoimento da selecionada Pâmella Santos, do bairro da Pavuna, no Rio de Janeiro, é possível perceber a grandiosidade das ações que o edital ajudou a promover: “Eu e mais quatro jovens mapeamos uma comunidade muito vulnerável, dentro do Complexo da Pedreira, que tinha esgoto a céu aberto, e levamos kits de higiene. Mesmo usando máscara, era nítida a felicidade no olhar em receber algo que eles não tinham condições de comprar”.

O contexto de emergência sanitária deixou ainda mais nítida a necessidade do enfrentamento ao racismo estrutural vivenciado por diferentes grupos negros. Como descrito no e-book: “As iniciativas incluíram ações dirigidas à população negra no geral, comunidades periféricas, idosos, população em situação de rua, prostitutas, travestis e transgêneres, quilombolas, indígenas, migrantes e refugiados e crianças matriculadas nos primeiros anos do ciclo básico, pessoas residentes em territórios urbanos ou rurais, centrais ou periféricos.”

Mais  de 54 mil pessoas (prioritariamente pessoas negras, de sexo feminino e idade superior a 30 anos) foram indiretamente beneficiadas pelo Baobá a partir das ações implementadas por indivíduos e mais de 57 mil pessoas (prioritariamente pessoas negras ou indígenas, de sexo feminino e idade superior a 30 anos) por meio das ações realizadas  pelas organizações.

É possível observar a grandiosidade da iniciativa  nos relatos das (os) apoiadas (os), como é o caso da fala da Francisca Luciene da Silva de Natal no Rio Grande do Norte: “O projeto do Baobá abriu portas para que outras instituições, outros parceiros viessem e dessem a sua contribuição”. A apoiada Thalyta Cunha, da região de Del Castilho no Rio de Janeiro em seu depoimento também mostra a importância desse projeto a longo prazo quando fala que “Eu sou fruto de um projeto assim, e hoje eu me vejo como uma ferramenta, para que essas pessoas passem pela mesma evolução que eu passei”. 

Para acessar o material do e-book, clique aqui.

Fundo Baobá altera regras de edital de apoio a empreendedores negros da alimentação na Região Metropolitana do Recife

Por Eduarda Nunes e Luane Ferraz

O Fundo Baobá, em parceria com a General Mills, comunica a alteração da regra da exigência de CNPJ ativo até 2019 para a validação da inscrição do empreendedor no edital “Negros, Negócios e Alimentação”. A mudança se dá devido aos avanços da Covid-19, influenza e Ômicron em Pernambuco e em todo o país e, por consequência, o agravamento da vulnerabilidade econômica para empreendoras negras  e empreendedores negros.

Com a mudança, qualquer pessoa negra que tenha um empreendimento, instalado e em funcionamento há 3 anos ou mais, na área de alimentação, gastronomia e culinária, no Recife e região metropolitana, seja de maneira formal ou informal,  torna-se apta para a seleção.

Além disso, entre os próximos dias 20 (19h às 21h), 21 (9h às 12h) e 24 (9h às 17h), as pessoas interessadas podem se dirigir ao Hotel Central (Av. Manoel Borba, 209 – Boa Vista) para tirar dúvidas e se inscrever com apoio da equipe executiva do Fundo Baobá.

Em função da pandemia, esta é a primeira atividade presencial da instituição  para divulgação de um edital,  desde setembro de 2019. Na estadia em Recife, a direção do Fundo Baobá se encontrará com lideranças locais e potenciais candidatos ao  edital vigente, além de pessoas e organizações que já foram apoiadas pelo Baobá em editais passados.

A visita marca também o retorno à cidade que foi o local de origem e a primeira sede do Fundo Baobá para Equidade Racial.

A iniciativa

Pensando em contribuir na recuperação econômica desses negócios e promover às empreendedoras e  empreendedores negros uma ampliação de suas capacidades de planejar e fazer gestão, esta iniciativa do Fundo Baobá, em parceria com a General Mills, vai apoiar 12 (doze) empreendimentos negros do ramo de alimentação de consumo imediato, instalados e em funcionamento há 3 anos ou mais na Região Metropolitana de Recife.

As empreendedoras e empreendedores selecionados receberão um aporte financeiro de R$ 30.000 (trinta mil reais), além de assessoria e suporte técnico. Terão 8 (oito) meses para executar os seus projetos  e 30 dias para apresentar a prestação de contas final. Ou seja, o projeto terá duração de 9 meses.

Serão priorizadas propostas que envolvam negócios da gastronomia negra, formalizados (com CNPJ) e aqueles situados em Recife, Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Paulista, Cabo de Santo Agostinho e Camaragibe, dado que estas cidades concentram 90% dos negócios deste setor. Além de inscrições feitas por mulheres negras cis ou trans e de empreendedores(as) negros(as) que nunca foram apoiadas(os) pelo Fundo Baobá para Equidade Racial.

Para as pessoas negras que empreendem, o ramo alimentício está entre as 10 áreas de maior presença no mercado. Entretanto, com a crise econômica agravada pela pandemia da Covid-19, muitos pontos de venda fixos foram impactados negativamente, em especial os negócios formalizados (com CNPJ), cujos donos eram mulheres ou pessoas com idade entre 35 e 54 anos.

Inscrições

As inscrições para o edital Negros, Negócios e Alimentação estarão abertas até o próximo dia 27 às 17h. Pessoas interessadas devem preencher o formulário eletrônico disponível exclusivamente neste link.  

Vale lembrar que o processo de seleção contará com três etapas eliminatórias. O resultado final será divulgado no dia 31 de março de 2022, após as 19h, no site oficial do Fundo Baobá (baoba.org.br). 

Para entender melhor os critérios de elegibilidade do programa, basta acessar o edital através deste link

Fundo Baobá divulga a Avaliação do Programa de Recuperação Econômica  de Pequenos Negócios de Empreendedores(as) Negros(as)

Por Jessica Moreira

A população negra sempre empreendeu. Diante de tantos desafios e do próprio racismo estrutural, precisou aprender na prática como criar seus próprios negócios, mesmo sem incentivos ou políticas públicas que dessem conta de tantas necessidades.

Negros e negras são protagonistas quando o assunto é inovação e jeito de empreender. Com modelos de negócios que realmente impactam as comunidades onde estão inseridos, fazem a diferença com formatos mais circulares e comunitários que fogem da lógica capitalista tradicional.

Mas será que, em meio à pandemia, esses empreendedores conseguiram manter seus negócios ativos? Quais foram os maiores desafios? Quais foram as políticas de incentivo criadas ou não para apoiar esses líderes de negócios que atuam nas comunidades que foram as mais impactadas pela pandemia?

Pensando nos mais diversos desafios que se apresentavam e que ainda se estendem em todo o país, o Fundo Baobá para Equidade Racial, em parceria com Coca Cola Foundation, Instituto Coca Cola Brasil, BV e Instituto Votorantim, lançou em novembro de 2020 o Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores(as) Negros(as).

Junto ao Fa.vela — um hub de educação e aprendizagem empreendedora, inovadora, digital e inclusiva — acompanhamos 46 iniciativas e 137 empreendedores de todo o Brasil durante todo o ano de 2021, e as mesmas receberam o apoio financeiro de R$30 mil por iniciativa.

Com consultorias, oficinas e processos de troca e aprendizagem de modo virtual, entendemos a potência de apoiar financeiramente esses empreendimentos, chegando ao fim de 2021 celebrando a permanência desses pequenos negócios, que não só fortalecem o ecossistema do afroempreendedorismo no Brasil, como também de todas as territorialidades onde atuam.

Por que apoiar empreendimentos negros?

Com uma vasta diversidade de negócios, podemos notar mais uma vez as potências criativas que vêm das bordas, tanto das cidades quanto do campo, entendendo que apoiá-las e incentivá-las a crescer também é uma forma de pensar a autonomia financeira da população negra, que ainda sofre com o racismo em nosso país.

Mais da metade da população brasileira é negra, composta por cerca de 56% de pretos e pardos. Desses, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) estima que, pelo menos, 14 milhões sejam empreendedores. Um mercado que chega a movimentar anualmente até 1,73 trilhão da economia do país.

Com a pandemia, todo o ecossistema de negócios foi abalado. A Pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2020), realizada no Brasil em parceria com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e o IBPQ (Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade),  mostrou que, de 2019 para 2020, o número de empreendedores no Brasil caiu de 53,4 milhões para 43,9 milhões.

Mas se tem um nicho que sofreu ainda mais, esse com certeza foi o dos pequenos empreendedores, principalmente negros e periféricos:

A pesquisa “O impacto da pandemia de coronavírus nos pequenos negócios”, desenvolvida pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) com 7.403 empresários, em junho de 2020, mostra que os negócios liderados pela população negra foram os mais impactados, principalmente por atenderem essencialmente de modo presencial (45%). Entre os brancos, a proporção foi de 36%.

De todos os entrevistados, 70% dos negócios eram conduzidos por negros que moravam em municípios onde ocorreram o fechamento parcial ou total dos estabelecimentos. Neste cenário, a maioria era jovem, mulheres e com baixo nível de escolaridade.

O necessário isolamento para frear o novo coronavírus veio cheio de dificuldades para a manutenção dos próprios negócios. A mesma pesquisa aponta que 46% dos empreendimentos conduzidos por negros tiveram que interromper temporariamente seu funcionamento.

Em meio a um cenário de crise, empreendedores negros ainda tiveram mais recusa na hora de pedir empréstimo (61%) quando comparado aos brancos (55%), mesmo o valor solicitado por negros (R$28 mil) sendo 26% mais baixo do que de brancos (R$37 mil).

Levando todo esse cenário em consideração, nosso objetivo com o Programa de Recuperação Econômica foi apoiar empreendedoras e empreendedores negros das periferias a atravessar esse momento de crise causado pela pandemia da Covid-19.

Ao final do programa, realizamos um processo de avaliação de resultados, com objetivo de contar como essas mulheres e homens, distribuídos por todos os cantos do Brasil, estão fazendo a diferença em seus territórios. Mesmo diante de uma crise também econômica, eles continuam girando a economia local, além de multiplicarem seus saberes e serviços a outros e novos empreendedores.

Caminhos da avaliação

Para chegar aos resultados do programa, contamos com o apoio de uma consultoria externa, a Janela 8, e percorremos alguns caminhos em conjunto com apoiadores, executores e participantes do programa. O primeiro passo foi a análise de informações e documentos coletados durante o programa, como o levantamento das inscrições e demais bases de dados de participantes nos processos produtivos, relatórios narrativos e prestação de contas elaboradas pelos próprios empreendedores e empreendedoras.

Os relatórios elaborados pelo Hub Fa.vela também foram importantes referências para chegarmos ao detalhamento da avaliação, e também para definir os principais pontos de transformação desejados pelo programa por meio de uma Teoria da Mudança.

A Teoria da Mudança permitiu delimitar o impacto desejado do programa: a promoção de uma vida digna a sujeitos e famílias negras por meio da melhoria de suas condições financeiras. Além disso, foram destacados os principais resultados, produtos, intervenções e público-alvo, bem como as premissas da realização do Programa.

A partir daí, foram realizadas entrevistas com stakeholders e grupos de escutas com participantes do programa. Os dados e informações coletados foram analisados e consolidados em um relatório completo e em um resumo executivo (disponível para download aqui).

Perfil dos participantes

“Não existem editais que apoiam o nordeste e a população negra”, foi uma frase recorrente no processo de avaliação do programa.

Entendendo a importância da diversidade geográfica e a realidade das iniciativas localizadas na região norte e nordeste, com apoio aquém do que necessitam, o Programa de Recuperação Econômica priorizou essas regiões na seleção de empreendedores(as).

O Nordeste é o local onde estão concentradas a maioria das iniciativas selecionadas, com destaque para a Bahia (37%). Falar em território neste momento de pandemia é lembrar que a Covid-19 não afetou as populações apenas nos mais altos picos da doença, mas também economicamente, inclusive na pós-primeira onda da doença.

Com o desemprego batendo recordes em 2021, muitas pessoas precisaram recorrer a trabalhos informais ou, então, erguer seus próprios meios de sobrevivência e sustentabilidade. O programa foi importante por apoiar negócios de pessoas que trabalham principalmente sozinhas (44%) ou com suas famílias (31%). Além disso, mais de 60% dos empreendimentos apoiados empregavam pelo menos 1 (uma) pessoa na sua atividade (de maneira informal ou formal) ao longo da execução do Programa.

Mulheres negras: lideranças de negócios

Selecionamos 46 iniciativas compostas por três empreendedores e empreendedoras negras em todo o Brasil, contemplando ao todo 137 empreendedores(as). A principal faixa etária de participação está entre 25 e 35 anos (43%), seguida de pessoas que têm entre 36 e 50 anos (36%). Mais da metade dos empreendimentos (56%) é formado unicamente por mulheres, mostrando como o programa impactou principalmente as mulheres negras.

Já em relação à escolaridade houve uma distribuição importante entre pessoas com diferentes níveis de formação: 25% possui ensino médio completo, 24% superior incompleto e 26% superior completo.

Empreendedorismo a partir das periferias

Dentre os negócios apoiados pelo programa, a maioria se enquadra em quatro segmentos:

alimentação (19%), artesanato (13%), agricultura (12%), costura (12%) e beleza (8%). O Programa também apoiou iniciativas nas áreas de moda e vestuário, turismo, saúde, comunicação, cultura e eventos, educação, pesca e prestação de serviços.

As iniciativas contempladas estão localizadas essencialmente em áreas urbanas (73%) e nas periferias (77%), mostrando a importância, mais uma vez, dos negócios locais.

Estar nas periferias também simbolizou um desafio, diante das longas distâncias, já que algumas iniciativas optaram pelo formato de delivery, exigindo pensar meios de transporte para essas entregas, como podemos ver neste depoimento.

“A gente já tinha dado início ao empreendimento e o projeto deu um incentivo pra gente dar continuidade. Nesse tempo de pandemia tivemos que dar uma pausa no atendimento por conta das aglomerações. A gente teve que pausar 1 ano e meio. Surgiu outra ideia que a gente teve pra não ficar totalmente parada. A gente teve a ideia de entregar bolo, mas a cidade fica a 13 km da nossa comunidade. O projeto surgiu em uma hora de um grande desafio, aprimorou a iniciativa.

O impacto nas comunidades

Os empreendedores se relacionaram com suas comunidades das mais diferentes formas, seja pela disseminação de conteúdo, pelo compartilhamento dos aprendizados adquiridos ao longo do programa ou, então, apoiando a doação de cestas básicas diante da insegurança alimentar que se impôs em todo o território brasileiro em meio à crise sanitária.

Segundo os relatos dos empreendedores, ao menos 16% afirmam que suas comunidades são um importante público consumidor. Além disso, 27% dos negócios geram empregos no território, como podemos notar ao ouvir alguns relatos como este: “Conseguimos dar mais visibilidade, aumentar a mão de obra e aumentar o espaço. Com o espaço maior, deu mais visibilidade e atraiu mais público. Fez muita diferença. Hoje nossa iniciativa tem mais condições de receber o público que a gente tá recebendo hoje. Conseguimos também ajudar mais gente na comunidade”, apontam.

O programa foi um grande fomentador do sentimento de pertencimento em relação à comunidade, uma vez que havia incentivo para olhar ao redor e pensar o negócio por meio da população local, além de fortalecer os próprios territórios, como diz uma das empreendedoras: “Para nós, é importante o impacto das nossas atividades e empreendimentos para a comunidade, pois acreditamos que podemos crescer juntas. Sendo assim, realizamos oficinas, formações, rodas de conversa aprimorando as técnicas de cada empreendedora e dialogando o saber com a comunidade.”

Achados e potências do programa

Da chegada ao programa até o processo de avaliação, os empreendedores negros e negras foram adquirindo diversos aprendizados, capazes de garantir a sobrevida de seus negócios e também ampliar o impacto que já tinham em seus locais.

Segundo as próprias lideranças dos negócios, 3.020 pessoas que vivem nas comunidades próximas aos projetos foram indiretamente beneficiadas, já que o programa fomentou positivamente o espírito de pertencimento às comunidades onde estão inseridos e incentivou a realização de ações locais.

De todo o programa, os processos formativos foram o coração da jornada. No total, foram 447 horas dedicadas a aprender, sendo 282 dessas dedicadas às mentorias customizadas a cada negócio.

Sendo as periferias espaços já conhecidos de partilha de conhecimento – prática herdada pela experiência vivida em comunidade por quilombos e territórios indígenas –, no programa essa experiência de dividir os aprendizados também ficou evidente nos depoimentos colhidos.

Empreendedores narraram a realização de ações de disseminação de conteúdo e recursos para as comunidades onde estão inseridas, o que colaborou nessa ampliação em maior escala do programa, fortalecendo também os laços dos negócios, especialmente entre as mulheres negras.

As mentorias também foram benéficas para ampliar o entendimento sobre os projetos, definir prioridades, tirar dúvidas e também realizar planejamentos de mais longo prazo, já que o programa muniu essas pessoas de ferramentas sobre a prática empreendedora.

De acordo com relatos dos participantes, 69% declaram que superaram os principais desafios que tinham no início do programa. Além disso, houve um aumento de em 22% na formalização de negócios.

Tudo isso se deu a partir da ampliação da consciência sobre a importância de elementos-chave para a manutenção e continuação do negócio, como documentação, prestação de contas e planejamento de comunicação.

Muito além do programa: subjetividades em construção

Se há um elemento que atravessou toda a sociedade brasileira em meio à pandemia, isso com certeza foi o acesso à internet. Seja para estar próximo da família ou dos amigos ou, então, para acessar direitos básicos, como o Auxílio Emergencial, a internet se mostrou fundamental.

O país, no entanto, ainda possui um grande desafio quando falamos em acesso, principalmente em territórios mais afastados das regiões centrais. Esse cenário não foi diferente quando olhamos para a realidade dos empreendedores contemplados no programa.

Pelo menos 82% deles afirmam que, com o programa, conseguiram superar os desafios e inseriram seu negócio no universo virtual, fazendo da inclusão digital um dos grandes ganhos do programa, já que era permitido investir em compra de computadores ou pontos de internet.

É possível entender a importância do programa ao ouvir os próprios empreendedores. “Não tínhamos perspectiva de nada. Tínhamos um negócio que começava aos poucos. Com o edital eu fiquei um tempão sem acreditar no que tinha acontecido. Compramos matéria prima, equipamentos que tínhamos necessidade”.

Os desafios das mulheres negras que empreendem

Quando falamos em empreendedorismo, é importante lembrar que, mesmo cheia de criatividade e ótimas ideias, a população negra ainda enfrenta desafios estruturais para acessar o mercado do empreendedorismo.

Esse fato também pôde ser notado durante a realização do projeto, diante do fato de que muitas pessoas não conseguiam se dedicar integralmente ao seu negócio, pois precisavam complementar a renda das mais diversas formas, não sobrando tempo para focar no seu projeto pessoal. Dos empreendedores e empreendedoras apoiados, 53% tinham no empreendimento uma fonte de renda complementar e para 47% o negócio era a principal fonte de renda. De alguma forma, o programa também conseguiu apoiar essas pessoas, que em alguns casos estavam quase desistindo de investir tempo em suas ideias.

Sobre isso, elas refletem a respeito das dificuldades de viver do próprio negócio. “A gente sabe que mulheres negras empreendendo, muitas vezes a gente tá ali tentando fazer com que nosso negócio se torne nossa fonte de renda principal, mas a gente tem outras relações empregatícias para conseguir complementar a renda”.

Saúde Mental e Autoestima da população negra

A saúde mental e a autoestima das mulheres negras também são impactos não mensurados que valem nota, pois dizem sobre o fortalecimento pessoal dessas lideranças e a possibilidade de darem continuidade aos seus projetos com autonomia.

“Não acreditávamos que um projeto poderia visar pessoas negras e pobres sem querer nada em troca. Não acreditávamos que teríamos visibilidade”, é o que diz uma das empreendedoras ouvidas.

Ao ouvirmos o público apoiado pelo projeto, a questão racial também esteve em evidência. Para eles e elas, o programa foi um modo de, mais uma vez, refletir sobre os preconceitos raciais que vivenciam enquanto pessoas negras inclusive para empreender, tornando-se um limitador do próprio trabalho.

Para uma delas, se existe um jeito de “bater na cara do sistema” é quando mulheres negras conseguem mostrar suas capacidades. “É quando a gente coloca a cara a tapa e prova que é possível, principalmente nós, mulheres, negras, jovens, rurais, quilombolas. Tem toda uma bagagem que está fora do padrão de uma sociedade preconceituosa do jeito que é a nossa”, aponta.

Impacto e processo de aprendizagem contínua

Mais do que recursos financeiros, fica confirmada a importância de munir os empreendedores de ferramentas que os possibilitem continuar seus negócios, mesmo depois do fim de recursos iguais aos do programa.

“O edital não dava só o dinheiro, ensinava também como seguir, mostrava outros caminhos”, apontaram alguns dos empreendedores ouvidos e ouvidas.

Mostrar caminhos de autonomia, principalmente financeira, e formas de empreender que deem continuidade à ideia central é um jeito de continuar impactando tanto os empreendimentos, quanto as próprias comunidades. Dentre os cursos preferidos, estão aqueles ligados a questões financeiras, além de vendas e marketing digital. Pelo menos 68% dos participantes declararam ter aprendido com o programa.

“O dinheiro era uma coisa que nos faltava. Ter um edital que nos possibilitasse  movimentar de alguma forma era muito bom. Quando descobrimos que ainda ia ter os processos formativos, isso casava muito com aquilo que a gente já vinha conversando. O projeto já veio com um pacote completo. Foram os três percursos ideais que a gente nem esperava, mas vinha no pacote.

Reflexões finais

O programa atendeu uma demanda real de aumento de vulnerabilidade do pequeno e nano empreendedor, causada pelo agravamento da pandemia, podendo perceber que, mesmo o objetivo sendo a recuperação econômica, o projeto também teve impactos indiretos e pessoais para cada pessoa selecionada.

Mesmo não sendo possível mensurar como os recursos financeiros irão continuar colaborando para a manutenção dos negócios, com o fim do programa, é possível dizer que as mentorias e consultorias fortaleceram principalmente os empreendedores e empreendedoras com conhecimentos essenciais para continuarem seguindo com seus empreendimentos.

Destacamos que é sempre importante considerar os aspectos de desenvolvimento de capacidades e habilidades pessoais, pois esses se mostram os maiores destaques ao final do projeto, influenciando também na continuidade das atividades empreendedoras pós intervenção.

Destacamos alguns dos maiores resultados:

# 46 iniciativas e 137 empreendedores(as)  impactados diretamente

# 3.020 pessoas ligadas às comunidades dos empreendimentos foram impactadas indiretamente, com 77% das iniciativas concentradas nas periferias.

# 88% dos empreendedores afirmaram utilizar parte do recurso para aquisição de equipamentos eletrônicos para participação nas atividades virtuais do programa

# 40% dos gastos incluídos na categoria outras despesas estão relacionados a cursos e/ou consultorias técnicas para apoio aos negócios, o que demonstra como esses e essas empreendedoras estão pensando em seus negócios também a médio e longo prazo.

# Pelo menos 68% dos participantes declararam ter aprendido com o programa. Foram 447 horas de formação, sendo 282 dessas dedicadas às mentorias customizadas a cada negócio.

# 69% dos(as) empreendedores(as) superaram os principais desafios que tinham no início do programa.

# Houve um aumento de em 22% na formalização de negócios.

# Pelo menos 82% deles contaram que, com o programa, conseguiram superar os desafios e inseriram seus negócios no universo virtual.

# 78% adquiriram matéria-prima e realizaram aquisição ou manutenção de equipamentos.

# 75% compraram de fornecedores(as) da comunidade e 57% declararam  que a clientela aumentou consideravelmente.

# O Edital do Fundo Baobá foi, para muitos, a primeira oportunidade de mobilização de recursos externos, impactando na autoconfiança dos participantes.

# As falas de fortalecimento entre mulheres negras apareceram espontaneamente no processo de avaliação, mostrando a importância de ações de ampliação de autoestima e autoconfiança.

# A criação de redes de networking entre empreendedores de diferentes locais neste momento de crise pode ser encarada como um dos maiores ganhos subjetivos e qualitativos do projeto.

Morre o ator Sidney Poitier aos 94 anos

Sidney Poitier, ator norte-americano de 94 anos, morreu nesta sexta-feira, 7 de janeiro. O anúncio oficial de seu passamento foi feito pelo ministro das Relações Exteriores das Bahamas, Fred Mitchell.

Sidney Poitier nasceu em Miami, nos Estados Unidos, mas mudou-se para as Bahamas, país do Caribe, ainda criança. Voltou para os Estados Unidos aos 15 anos. Ele tinha tanto a nacionalidade do país caribenho quanto a dos Estados Unidos. Exerceu o cargo de Embaixador das Bahamas no Japão em 1997 e em 2007.

Poitier chamou a atenção mundial ao se tornar o primeiro ator negro a receber o Oscar, em 1964. por sua atuação em “Lilies of The Field” (Uma Voz nas Sombras). Ele fez o papel de Homer Smith, um homem que sofre uma pane em seu carro, para em uma propriedade rural cuidada por freiras. Elas acreditam ser ele um enviado de Deus para a construção de uma igreja no local.

A partir do Oscar, Sidney Poitier estrelou outras obras marcantes como “Adivinhe Quem Vem para Jantar” e “No Calor da Noite”. Poitier recebeu em 2001 outro Oscar, este honorário, pelo conjunto de sua obra.

Fundo Baobá prorroga inscrições do edital Negros, Negócios e Alimentação, voltado a empreendedores negros do ramo da gastronomia no Recife

Edital vai apoiar com R$ 30 mil cada uma das 12 iniciativas que forem selecionadas. Inscrições reiniciam dia 06/01 e vão até 27/01

O Fundo Baobá para Equidade Racial, com o apoio da General Mills, anuncia a prorrogação das inscrições do edital Negros, Negócios e Alimentação, uma iniciativa que vai apoiar 12 (doze) empreendimentos negros do ramo da gastronomia de consumo imediato, formalmente instalados há 2 anos ou mais na Região Metropolitana de Recife.

Os interessados poderão se inscrever entre os dias  06 de janeiro e dia 27 do mesmo mês. Para entender melhor os critérios de elegibilidade do programa e se candidatar, basta acessar o edital através deste link.

As(os) empreendedores(as)  selecionadas(os) receberão um aporte financeiro de R$ 30.000 (trinta mil reais), além de assessoria e suporte técnico, e terão 09 (nove) meses para executar os seus projetos  e apresentar a prestação de contas final.

O edital é voltado para empreendedores(as) negros(as) do setor gastronômico, com 18 anos ou mais, que tenham negócio ativo e formalizado há mais de 2 anos (CNPJ aberto em 2019 ou antes), que trabalhem com alimentação de consumo imediato, como almoços, jantares, salgados, bolos, pratos típicos e regionais, dentre todas as opções de cardápio; empresários que trabalhem com  food truck, comida de rua e que sejam ambulantes, também podem participar.

Os negócios devem estar localizados no estado de Pernambuco nas seguintes cidades: Recife, Jaboatão dos Guararapes, Olinda Paulista, Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe, Abreu de Lima, Ipojuca, São Lourenço da Mata, Igarassu, Moreno, Itapissuma, Ilha de Itamaracá e Araçoiaba. Sendo que propostas apresentadas por mulheres negras cis ou trans e de empreendedores(as) negros(as) que nunca foram apoiadas(os) pelo Fundo Baobá para Equidade Racial serão priorizadas. 

A iniciativa

Para as pessoas negras que empreendem, o ramo gastronômico está entre as 10 áreas de maior presença no mercado. Entretanto, com a crise econômica agravada pela pandemia do COVID-19, muitos pontos de venda fixos foram impactados negativamente, em especial, os negócios cujos donos eram mulheres.

Pensando em contribuir para a recuperação econômica desses negócios e promover aos empreendedores e empreendedoras negros(as) a ampliação de suas capacidades de planejar, fazer gestão, inovar, ampliar ou estabelecer uma infraestrutura mínima para sustentabilidade de seus  negócios, o Fundo Baobá, com o apoio da General Mills, empresa global de alimentos dona de marcas como Yoki, Kitano e Häagen-Dazs no país, promove o edital Negros, Negócios e Alimentação.

O objetivo do projeto é criar condições para que os empreendedores escolhidos conheçam a fundo os seus negócios e as suas capacidades a fim de gerar um impacto positivo em toda a comunidade, a partir da expansão dos seus empreendimentos e para que sejam, num futuro próximo, geradores de novos empregos por meio da ampliação dos serviços, aumento das vendas e crescimento de antigas e novas relações de negócios. Além disso, a iniciativa tem o intuito de fortalecer e ampliar a sua jornada de diversidade e inclusão étnico-racial no Brasil. 

Realizadores

Criado em 2011, o Fundo Baobá para Equidade Racial é o primeiro e único fundo dedicado, exclusivamente, para a promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. Orientado pelos princípios de ética, transparência e gestão, mobiliza recursos financeiros e humanos, dentro e fora do país, e investe em iniciativas da sociedade civil negra para o enfrentamento ao racismo e promoção da justiça social.

A General Mills é uma empresa líder global em alimentos e trabalha “fazendo os alimentos que o mundo ama”. Com sede em Minneapolis, Minnesota, EUA, a companhia chegou ao Brasil em 1997. Em novembro de 2020, assumiu publicamente o compromisso de ser um instrumento importante de mudança promovendo iniciativas práticas para equidade racial. Ao reconhecer que o racismo deixa marcas todos os dias em diversas sociedades, há séculos, a empresa se mobiliza e busca contribuir para os avanços em políticas de inclusão e, sobretudo, de preservação da vida de pessoas negras.

Serviço

O quê? Prorrogação das inscrições do edital Negros, Negócios e Alimentação

Período: 06 de janeiro a 27 de janeiro às 17h

Inscrições: https://baoba.org.br/edital-negros-negocios-e-alimentacao/ 

Público-alvo: empreendedoras(es) negras(os) da área de alimentação de pronto consumo da região metropolitana do Recife com registro formal até 2019.

Meet Giovanni Harvey, New Executive Director of the Baobá Fund

In an interview, former deliberative council’s chairman speaks of Baobá’s accomplishments

By Ingrid Ferreira and Wagner Prado

On December 9, the Baobá Fund for Racial Equity underwent a major change in its executive direction. Giovanni Harvey, chairman of the deliberative board since 2018, became the executive director of the organization.

In an interview for the Baobá Fund newsletter, Harvey talks about his professional trajectory, his expectations, contributions and future plans for the Baobá Fund, as the person in charge of the executive management.

You left the Deliberative Council in order to administer the Baobá Fund for Racial Equity’s Executive Board. How will your experiences as Chairman of the Board contribute to your performance as the Executive Director?

Giovanni Harvey – My professional relationship with the Baobá Fund began in 2017, when I was hired to structure the institution’s Strategic Plan for the 2017 to 2026 cycle. After concluding that task, I was invited to join the deliberative council and in 2018, I was elected president of the aforementioned board. In April 2021, I was re-elected for a second term, until 2024, when I resigned in order to take on the executive board office.

In 2017, in order to carry out the consultancy, I had to study the entire history of the Baobá Fund, seeking to understand its functioning processes, define the main objectives, learn about its potential and identify the challenges. The work included conducting a series of interviews with the founders, partners and funders. It was based on this knowledge, along with my experience over the last 30 years, that I was able to become the chairman of the deliberative council.

The roles I had on the deliberative board are different from those I will play in the executive board. The deliberative council is responsible for formulating the institutional strategy, the political representation (in a broad sense) of the Baobá Fund as well as the social control of management. The executive board is responsible for the operationalization of the strategy outlined by the deliberative council, the institutional articulation (in a strict sense), for managing the endowment and for the implementation of established programmatic guidelines.

I believe that my career at the Baobá Fund, combined with the experiences I have had as a manager of companies, social organizations and public policies (at the municipal, state and federal level) will contribute to my being able to continue the work that was developed throughout the last seven years by my predecessor, the executive Selma Moreira.

As the executive director, what are your goals for the Baobá Fund?

Giovanny Harvey – A goal is the quantified objective. Based on this premise, I plan to increase the endowment towards an estimate of R$250 million, which will allow us to make annual withdrawals capable of meeting the most sensitive demands of organizations and people who work in the black movement.

The Baobá Fund has interventions centered on context analysis and active listening to the field. In other words: calls for proposals are elaborated as necessities are mapped. Is Baobá concurrently empirical and scientific?

Giovanni Harvey – The Baobá Fund’s strategic objective is to make financial resources available, derived from the endowment´s fund revenue percentages that may be withdrawn annually. It may also utilize the funding that is raised with individuals and legal entities in order to finance (through non-refundable donations) organizations, groups, collectives and black leaders that struggle against racism, support the defense and assurance of rights and promote racial equity.

The quality of the financial resources offered to these organizations and people by the Baobá Fund depends mainly on three factors:

  1. Alignment of the Baobá Fund’s program guidelines to the demands of black organizations, groups, collectives and leaders;
  2. Degree of autonomy of the Baobá Fund to direct resources towards the aforementioned demands made by black organizations groups, collectives and leaders;
  3. Assessment of achieved results.

These three factors demand, not only from the Baobá Fund, but from any institution that seeks to intervene in the struggle against structural racism, and the asymmetries based on ethnic prejudice and discrimination, a combination that involves legitimacy, scientific knowledge and capacity to dialogue with black people who lead initiatives to combat racism and promote racial equity in diverse sectors of society. Added to this is the ability to listen, dialogue and positively contribute to building consensus within the ecosystem of philanthropy, private social investment, the Network of Funds for Social Justice and international cooperation.

Giovanni Harvey – Executive Director of the Baobá Fund for Racial Equity

The creation of the Investment Committee, among other developments, have led the Baobá to build an endowment of over R$60 million. What number figures you planning to achieve? 

 

Giovanni Harvey – The establishment of the Investment Committee, formed by three top-level professionals (Felipe Souto Mayor, Leonardo Letelier and Gilvan Bueno) reflects the Baobá Fund’s level of institutional maturity and its commitment to excellence in the management of the Endowment Fund.

In addition to the Investment Committee, we have a Fiscal Council (Mário Nelson Carvalho, Marco Fujihara and Fábio Santiago) that has contributed with recommendations that resulted in adopting the best compliance practices.

Under the security provided by these institutional foundations, as well as their reputation, I will work towards the R$250 million reais endowment.

 

Beyond the numbers, what are your aspirations as the new Executive Director?

 

Giovanni Harvey – I seek to continue the investment on the professionals who work at the Baobá Fund, contributing to the permanence of the fraternal and collaborative environment I have encountered.  Moreover, I aim at expanding the use of technological solutions that allow us to improve institutional performance in the three dimensions defined in the Strategic Plan: mobilization of resources, institutional articulation and programmatic investments; contributing to the strengthening of institutions and networks operating in the field of philanthropy, private social investment and social justice.

Is there anything that Baobá has not done during your term as chairman of the board, and that you would want to implement?

 

Giovanni Harvey – No, there´s not, quite the opposite. The main reason that led the deliberative council to appoint me to succeed the executive Selma Moreira was to ensure the continuity of what has been accomplished. This is not the time to “invent the wheel” nor to “rock the boat”.

 

What is your analysis of the Donation Circle started by the Baobá Fund? What is the relevance of the roles played by Executive Gilberto Costa (JP Morgan) and Executive Rita Oliveira (The Walt Disney)? 

 

Giovanni Harvey – The “Donation Circle” is a fundraising strategy developed by the Baobá Fund team, under the leadership of Selma Moreira, Fernanda Lopes and Ana Flávia Godoi. One of the premises of this strategy is the recognition of the role of black people in resource mobilization processes (in a broad sense) on behalf of Racial Equity. In this regard, the Baobá Fund has the privilege of counting on the engagement of two top professionals, Gilberto Costa who is Executive Director of Pact for Racial Equality and the Executive Director of JP Morgan and the Head of Diversity and Inclusion LatAm at Walt Disney Company, Rita Oliveira. They are engaged in the interventions and activities developed under the “Donation Circle” campaign.

 

Is the Baobá Fund confident in promoting the mobilization of a donation culture among individuals? Is it possible to foster this motivation on people who live in a country with such precarious economy?

Giovanni Harvey – The percentage of donations made by individuals to the Baobá Fund has been growing in recent years and all indicators point to the growth of this category of fundraising (with individuals and companies).

The contribution of individuals on behalf of Racial Equity is part of the history of Brazil and dates back to the struggle that black people undertook in search of freedom, as well as the numerous initiatives that constituted the abolitionist movement.

 

The process of building the propelling mechanism, funded by the Kellogg Foundation for nearly 15 years, which mobilized approximately 200 black people and/or organizations operating in Brazil´s northeastern region, resulting in the implementation of the Baobá Fund, had as its starting point the legacy of black philanthropy in the struggle against enslavement.

 

For these reasons, I am absolutely convinced that we are going to expand the engagement of individuals, investing in communication tools so that people may follow what we do with the resources we raise, and particularly, the results that are being achieved.

 

The contribution of individuals and withdrawing proceeds from the endowment fund were fundamental for the Baobá Fund to have the necessary resources to launch, the Emergency Call for Proposals in Support for Actions to Prevent Coronavirus in early April 2020. It was the first intervention of this nature carried out in Brazil, less than 30 days after the issuance of the first public calamity decree due to the pandemic. The Baobá Fund provided support to 215 people and 135 organizations that benefited from these resources.

 

Thinking in terms of donation, what plea would you make for people to donate?

 

Giovanni Harvey – The Baobá Fund has carried out a series of initiatives and campaigns aimed at mobilizing resources and, in my opinion, they have met all of our communication expectations.

The Deliberative Council is now honored by having Sueli Carneiro as its president and Amalia Fischer as vice-president. It is constituted by André Luiz de Figueiredo Lázaro, Edson Lopes Cardoso, Elias de Oliveira Sampaio, Felipe da Silva Freitas, Martha Rosa Figueira Queiroz, Rebecca Reichmann Tavares, Taís Araújo and Tricia Viviane Lima Calmon, is currently deliberating over this topic and, in due course, it will contribute so that the calls will be strengthen ongoing fundraising initiatives, carried out with a high level of dedication and professionalism.

My commitment as a manager is to continue investing in improving the Baobá Fund´s performance, in order to provide feedback to fundraising initiatives and campaigns with (increasingly more detailed) information on how resources are being used and with scientific indicators that demonstrate the results being achieved.

The Baobá Fund will continue to fulfill its institutional mission, strengthening ties with organizations, groups, collectives and leaders of the black movement that form its foundational base, along with the network that makes up the GIFE – Grupo de Fundos, Fundações e Empresas (Group of Funds, Foundations and Companies). We will work in order to strengthen and promote diversity in the philanthropy ecosystem in Brazil and abroad. 

New Times: Baobá Fund 2021

The Baobá Fund for Racial Equity wants to make a proposal to you: a reflection on what positively happened in 2021. We all know that, from 2020 until now, it has not been easy for anyone. But we cannot bend. Science has greatly contributed to guide us along safe paths. The waves of optimism emanating from each one of us joined together to form a kind of protective shield, whose energy is called hope.

It is with high expectations that Baobá ends 2021 and sees the approach of 2022. And why is that? Because if it was possible to perform well in a difficult year, it is a dream that will move us to do even better in 2022.

In 2021, the Baobá Fund for Racial Equity is commemorating a decade of activities dedicated to mobilizing people and resources to promote structural social changes and combat racism against the black population.

Baobá has already achieved a lot, but it is necessary to go further. The resources are directed, via public notices, to individuals, organizations, groups and collectives that work to promote racial equity and social justice for the black population in Brazil.

In the year 2021, the Baobá figures were as follows:

 Donations: 

      • R$ 2.909.814,43 or US$ 646.625,43 (US$ 1 = R$ 4,50)

         

Ongoing calls for proposal:

      • Já é Program – 75 young people
      • The City We Want Project – 08 organizations
      • Black Lives Project: Dignity and Justice – 10 initiatives 
      • Maroons in Defense: Lives, Rights and Justice – 35 initiatives 

Opened Calls for Proposals :

      • Blacks, Business, Food: Recife and Metropolitan Region – 12 businesses

Calls for proposals in concluding phase: 

      • Marielle Franco Program – 59 leaders and 14 organizations
      • Economic Recovery Program – 137 entrepreneurs

 

It is extremely important for the Baobá Fund to highlight the presence of those who established a partnership with us. Partners are essential for the implementation of so many projects that have been contributing to the transformation of countless people. Throughout 2021, we signed 11 partnerships that we highlight here: Google.org, Global Given, Cargill, Accenture do Brasil Ltda, IAF Rede de Fundos Parc, Wellspring, General Mills, Met Life, Mover, Unibanco Institute and Verizon.

Much more than numbers, the Baobá Fund is concerned with supporting the growth of people, strengthening organizations, groups and collectives. Hence, along with donations, we encourage individual and organizational knowledge. As program director Fernanda Lopes explains: “philanthropy to promote racial equity does not need resources and opportunities for development. Since 2019, we have been building exchange spaces and learning paths for and with our sponsors. We have learned a lot and now we are elaborating Training Journeys for all calls for proposals. It’s a marriage: financial support and training, and activities usually take place in real time. In the Black Lives: Dignity and Justice call for proposals, we innovated by making new content available for remote access. It would be something exclusive to the organizations selected in this call. But after internal and external dialogues, we chose to make the contents available to all individuals and companies supported by the Baobá during its 10 years of operation. We are gradually expanding access, building new materials that dialogue with different segments of the black population with whom we work in partnership. “We are a black organization, the only one in the philanthropy ecosystem in Brazil, we need to build a different relationship with our grantees, a relationship that goes beyond financial support. This is what will be able to foster changes”, complements Lopes.

The themes that make up this Training Journey are diverse: Digital and Information Security; Records and Institutional Memory; Governance; Defense of the Right of Defense; Monitoring and Evaluation; Strategic Communication; Planning and management; Racial Justice; Criminal Justice and Institutional Capabilities. Therefore, Baobá’s relationship with its grantees goes far beyond financial support.

The Baobá Fund will start 2022 with even more focus on expanding opportunities for the development of organizations, groups, black collectives and black people on the move. They are the reason for the commitment that we have shown in these 10 years of existence. May our efforts and that of many others who are engaged in the quest for racial equity, lead us to an egalitarian world.

The Baobá Fund is moving towards these new times of valued lives and effective rights!

Novo tempo: O 2021 do Fundo Baobá

No novo tempo / Apesar dos castigos
Estamos crescidos / Estamos atentos / Estamos mais vivos /
Pra nos socorrer / Pra nos socorrer / Pra nos socorrer

Novo Tempo: Ivan Lins e Vitor Martins

O Fundo Baobá para Equidade Racial quer fazer uma proposta a você: uma reflexão sobre aquilo que de positivo aconteceu em 2021. Todos sabemos que, de 2020 para cá, não tem sido fácil para ninguém. Mas não podemos nos vergar. A Ciência em muito contribuiu para nos guiar por caminhos seguros. As ondas de otimismo emanadas por cada um de nós foram se juntando para formar uma espécie de escudo de proteção, cuja energia se chama esperança. 

É com muitas expectativas que o Baobá encerra 2021 e vê a aproximação de 2022. E por que disso? Porque se foi possível atuar bem em um ano complicado, é um sonho que vai nos mover para fazer ainda melhor em 2022.

Em 2021, o Fundo Baobá para Equidade Racial está comemorando uma década de atividades dedicadas a mobilizar pessoas e recursos para promover mudanças sociais estruturantes e o enfrentamento ao racismo contra a população negra. 

O Baobá já conquistou muito, mas é preciso ir além. Os recursos são direcionados, via editais, para pessoas físicas, organizações, grupos e coletivos que atuem na promoção da equidade racial e da justiça social para a população negra do Brasil. 

No ano de 2021, os números do Baobá foram os seguintes: 

Doações 

R$ 2.909.814,43 ou US$ 646.625,43 (US$ 1 = R$ 4,50)

 

Editais em curso 

Programa Já é – 75 jovens
Projeto A Cidade que Queremos – 08 organizações
Projeto Vidas Negras: Dignidade e Justiça – 10 iniciativas
Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça – 35 iniciativas

 

Editais com inscrições abertas

Negros, Negocios, Alimentacao: Recife e Regiao Metropolitana – 12 empreendimentos

 

Editais em  fase de conclusão

Programa Marielle Franco – 59 lideranças e 14 organizações
Programa Recuperação Econômica – 137 empreendedores (as)

É de extrema importância para o Fundo Baobá salientar a presença de quem firmou parceria conosco. Os parceiros são fundamentais para que possamos implementar tantos projetos que estão contribuindo para a transformação de um sem número de pessoas. Ao longo de 2021 firmamos 11 parcerias aqui destacadas: Google.org, Global Given, Cargill, Accenture do Brasil Ltda, IAF Rede de Fundos Parc, Wellspring, General Mills, Met Life, Mover, Instituto Unibanco e Verizon.  

Muito mais que números, o Fundo Baobá está preocupado em apoiar o crescimento das pessoas, fortalecer as organizações, grupos e coletivos. Daí o procedimento de, junto com a doação, incentivarmos o saber individual e organizacional. Como explica a diretora de programa, Fernanda Lopes: “a filantropia para promoção da equidade racial prescinde de recursos e oportunidades para o desenvolvimento. Desde 2019 temos construído espaços de trocas e trilhas de aprendizagem para e com os nossos apoiados. Temos aprendido muito e agora estamos organizando, para todos os editais Jornadas Formativas. É um casamento: apoio financeiro e formação, as atividades geralmente ocorrem em tempo real. No edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça, inovamos disponibilizando conteúdos inéditos para acesso remoto. Seria algo exclusivo para as  organizações selecionadas neste edital. Mas após diálogos internos e externos, optamos por disponibilizar os conteúdos para todas as pessoas físicas e jurídicas apoiadas pelo Baobá em seus 10 anos de atuação. Aos poucos vamos ampliando o acesso, construindo novos materiais que dialoguem com os diferentes segmentos da população negra com quem atuamos em parceria. “Somos uma organização negra, a única no ecossistema de filantropia no Brasil, precisamos construir uma relação diferente com nossos donatários, uma relação que vá além do apoio financeiro. É isso que poderá fomentar mudanças”, complementa Lopes.

Os temas que compõem esta Jornada Formativa são diversos: Segurança Digital e da Informação; Registros e Memória Institucional; Governança; Defesa do Direito de Defesa; Monitoramento e Avaliação; Comunicação Estratégica; Planejamento e Gestão; Justiça Racial; Justiça Criminal e Capacidades Institucionais. Portanto, a relação do Baobá com seus donatários vai bem além do apoio financeiro. 

O Fundo Baobá vai iniciar 2022 ainda com mais foco na ampliação de oportunidades para o  desenvolvimento das organizações, grupos, coletivos negros e das pessoas negras em movimento. São elas a razão do empenho que temos demonstrado nesses 10 anos de existência. Que os nossos esforços e de muitos outros engajados, engajadas, engajades na busca pela equidade racial nos leve a um mundo equânime.

O Fundo Baobá está indo ao encontro desse novo tempo de vidas valorizadas e direitos efetivados!

Consciência Negra: os muitos caminhos que podem levar a ela

O parecer de quem trabalha com a economia,  na busca por justiça
e
valorização da mulher sobre o que é ter posicionamento étnico

Por Wagner Prado

Os filósofos definiam o termo Movimento como toda a alteração de uma realidade. A mudança qualitativa de um corpo (a semente que se torna em árvore ou a criança que se torna adulta) pode ser classificada como Movimento. A tomada de consciência sobre algo também pode ser classificada da mesma maneira. Adquirir consciência negra pode ser algo como libertar a mente de tudo o que foi imposto culturalmente e formar, a partir do conhecimento da realidade, uma identidade própria. A identidade negra.

Mas a vida é composta de vários temas que influenciam nossos pensamentos e ações. Economia, Cultura, Educação, Saúde e Trabalho, por exemplo, influenciam a maneira de ser da maioria das pessoas. Ouvimos a administradora Clara Marinho  e duas representantes do Mulheres Negras Decidem (MND), Diana Mendes e Tainah Pereira, cujos projetos foram apoiados pelo Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, e o diretor executivo da Iniciativa Negra Por Uma Nova Política Sobre Drogas, Dudu Ribeiro. A Iniciativa Negra é um dos donatários do Fundo Baobá no edital Vidas Negras, Dignidade e Justiça, e também duas representantes do Mulheres Negras Decidem (MND), Diana Mendes e Tainah Pereira. 

Graduada em Administração pela Universidade Federal da Bahia, com mestrado em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Clara Maria Guimarães Marinho Pereira, ou Clara Marinho, é analista de Planejamento e Orçamento desde 2017 e atua na Coordenação de Acompanhamento de Programas da Educação da Secretaria de Orçamento Federal do Ministério da Economia. Ela vive em Brasília e no ano de 2018 foi uma das selecionadas do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco com o projeto Construindo a Liderança na Administração Pública Federal. 

Clara Marinho, relacionada pela ONU como uma das pessoas negras mais influentes no mundo

Em 2021 Clara Marinho foi eleita pelo projeto Década Internacional dos Afrodescendentes (2015 a 2024) como uma das pessoas afrodescendentes mais influentes no mundo. O projeto é da Organização das Nações Unidas e reúne pessoas indicadas pelo Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU, especificamente no trabalho à promoção dos direitos do povo negro. 

Para a administradora, ter Consciência Negra é ter o conhecimento do passado e a percepção do que ocorre no presente e poderá ocorrer no futuro . “É um termo sobretudo com uma consciência histórica de passado, de presente e de futuro, sobre passado significa entender que há uma contribuição profunda do continente africano à humanidade. Ela foi uma contribuição em variados campos do conhecimento, que foi sistematicamente apagada, destruída das suas origens. Toda a individualidade do continente africano é apagada para o ocidente. Então, a primeira coisa é entender que há uma contribuição milenar dessa população (negra) à humanidade. Sobre o presente,  significa entender que  esse apagamento significa que nós fomos empobrecidos, empobrecidos nas nossas referências, empobrecidos das nossas riquezas. Entender que nós não viemos para o novo mundo a passeio. A nossa diáspora não aconteceu a passeio, né? Mas, a despeito de tudo isso, nós construímos essas nações. Então, diz respeito a entender a nossa contribuição para o desenvolvimento cultural, econômico, social dessa sociedade, do novo mundo. Sobre o futuro, significa entender que não há projetos de sociedades inclusivas que não levem em consideração o nosso trabalho e a nossa contribuição.  Então, é uma consciência de trânsito entre os tempos, mas que aponta para um futuro melhor, para um futuro promissor. É assim que eu vejo a consciência negra: uma consciência sobre a integração da humanidade nos seus melhores aspectos”, afirma. 

O coletivo Iniciativa Negra Por Uma Nova Política Sobre Drogas teve o projeto “Iniciativa Negra por Direitos, Reparação e Justiça” classificado entre os 12 escolhidos pelo Fundo Baobá no edital Vidas Negras, Dignidade e Justiça, que conta com apoio do Google.Org . 

Dentro da principal premissa do edital: apoiar entidades negras que atuam no enfrentamento do racismo e incorreções que ocorrem dentro do sistema de Justiça Criminal no Brasil, o Iniciativa Negra foca a atual política de combate às drogas no país e como ela está sendo usada como ferramenta de opressão à população negra. 

Dudu Ribeiro, co-fundador e diretor executivo do Iniciativa Negra Por Uma Nova Política Sobre Drogas, é formado em História pela Universidade Federal da Bahia, tem especialização em Gestão Estratégica de Políticas Públicas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e é mestrando do programa de pós-graduação em História da Universidade Federal da Bahia. Para ele, se olharmos pelo prisma da população negra brasileira, historicamente discriminada, consciência negra é “uma das construções fundamentais do movimento negro brasileiro, tanto para construir um percurso positivo da participação negra na sociedade brasileira como também para apresentar uma agenda antirracista para a sociedade brasileira. A consciência negra faz parte da disputa narrativa sobre a construção do Brasil, o que coloca a questão racial no centro da sua elaboração”, define. 

Dudu Ribeiro, diretor executivo da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas

Clara Marinho fala, agora, especificamente sobre a questão da consciência negra frente à questão econômica. “Ser um negro ou negra  consciente  no campo da Economia significa assumir que ela,  a economia,  não é neutra. Ela é sujeita a interesses, sujeita a ideologias, a relações de poder.  Qualquer que seja o referencial teórico, entendam que essa é a questão principal.  Então,  você pode trabalhar com modelos que  tentam quantificar a discriminação racial no mercado de trabalho, você pode pensar também em termos de relações internacionais de produção e trabalho,  pensar que existe uma extração de valor de mercadorias que são menos sofisticadas em relação às produzidas nos países do centro do capitalismo. Mas você sabe quem são as populações que estão produzindo isso;  quem são essas populações exploradas; quais são os territórios que estão sendo vulnerabilizados. Então, eu entendo que  isso tenha que ser  levado em consideração. O racismo é o elemento fundamental da organização da sociedade capitalista e ignorar que isso existe é um erro. Penso assim!” 

A educação cidadã é outro ponto de fundamental importância para se observar o nível de conscientização das pessoas. Organização apoiada pelo Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, iniciativa do Fundo Baobá em parceria com a Fundação Kellogg, Instituto Ibirapitanga, Fundação Ford e Open Society Foundations, a coletiva Mulheres Negras Decidem trabalha na qualificação e promoção de uma agenda que seja liderada por mulheres negras na política institucional. O objetivo é fazer com que elas tenham maior representatividade na política, já que são o maior grupo demográfico do país (28%), mas ocupam apenas 2% das cadeiras no Congresso. Participar da vida política brasileira é uma forma de ter consciência e contribuir com mudanças. “Uma compreensão madura sobre de que forma participar da política na sua cidade, estado ou país advém, sobretudo, da experiência. E o despertar para essa necessidade de estar implicada ou implicado no processo político depende, muitas vezes, de estímulos externos. No caso de crianças e jovens negros e negras esse ponto de partida pode estar na escola ou na família. Mesmo crianças são capazes de compreender a importância da luta pela afirmação de identidades e garantias de direitos”, afirma a bacharel em Relações Internacionais e em Políticas Públicas pela Universidade Federal do ABC (UFABC), Diana Mendes, co-fundadora do Mulheres Negras Decidem. 

Diana Mendes, co-fundadora do Mulheres Negras Decidem

A mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e bacharel em Relações Internacionais pela Universidade Estácio de Sá, Tainah Pereira, é também conselheira do Mulheres Negras Decidem. Ela fala sobre a consciência política no voto da população negra. “Significa votar por um projeto de país que leva em conta vidas interseccionais, que enfrentam racismo, sexismo, pobreza, transfobia e outras situações. Quando se é uma pessoa negra no Brasil,  não se resume a enfrentarmos apenas questões étnico-raciais, é considerar no nosso voto condições de vida digna e respeitosa que garantam nossos direitos”, conclui.

Tainah Pereira – Conselheira do Mulheres Negras Decidem

A Iniciativa Negra Por Uma Nova Política Sobre Drogas tem atuação forte no sentido de buscar a reparação para vítimas do sistema judiciário brasileiro. Seu diretor executivo, Dudu Ribeiro, responde sobre o fato de a população negra estar sendo enredada por políticas que condenam antes mesmo de julgar. “Bom, há um julgamento, uma condenação da população negra antes mesmo de qualquer realização individual, coletiva, até porque há uma criminalização do ser negro no Brasil. O processo fundamental da escravização e da colonialidade foi a desumanização das pessoas e o processo de constituição da república impôs um olhar sobre pena, castigo, crime e punição oriundos dos quintais da casa grande,  que julga e condena a população negra. A priori,  nós temos as vidas condenadas, nós temos a pele alvo e nós temos a marca desse alvo nas costas, desde que nascemos no Brasil”, analisa. 

A análise de Dudu Ribeiro leva à reflexão de Clara Marinho sobre a importância da ocupação de espaços (de poder) pela população negra. Os gestores negros e negras têm papel fundamental para que o quadro de desigualdade e de não acesso seja quebrado. “É preciso reconhecer que as empresas e o serviço público brasileiro nascem das principais esferas de decisão. São espaços profundamente racializados e são brancos. Têm um marcador de gênero profundamente claro:  é masculino. Também têm uma sexualidade muito definida: cisgênero. Então, nós  precisamos desfazer esse estado de coisas, tomando um conjunto de ações concretas. A primeira coisa é incorporar. Incorporar é fazer com que essa força de trabalho e o processo de tomada de decisão reflita a sociedade brasileira minimamente. Há uma dificuldade histórica dessas instituições de incorporar a cara do Brasil”, declara Clara Marinho. 

Diana Mendes, do Mulheres Negras Decidem, dá o arremate final para o que considera ser uma postura de consciência de todo o povo negro. Ela cita, inclusive, um provérbio africano.  “Ter a consciência de que é necessária a valorização da nossa construção histórica e cultural enquanto um país que é fruto da diáspora africana.  ‘Até que os leões inventem as suas histórias, os caçadores sempre serão os heróis das narrativas de caça’. Ou seja,  compreender a importância de resgatar e reafirmar a nossa história enquanto população negra desde a escravização, visibilizando lideranças significativas como Zumbi dos Palmares, mas também tantas mulheres negras dos quilombos,  como Dandara, Luísa Mahin, Tia Ciata, entre outras. Além disso, valorizar em vida o legado de pessoas negras que fazem a diferença até os dias de hoje, para garantia de direitos visando um país com mais equidade racial e respeito à identidade.”

Conheça Giovanni Harvey, novo diretor executivo do Fundo Baobá

Em entrevista, ex-presidente do conselho deliberativo fala do que estava sendo realizado

Por Ingrid Ferreira e Wagner Prado

No dia 9 de dezembro, o Fundo Baobá para Equidade Racial passou por uma grande mudança em sua direção executiva. Giovanni Harvey, presidente do conselho deliberativo desde 2018, assumiu o cargo de diretor executivo da organização.

Em entrevista para o boletim do Fundo Baobá, Harvey fala sobre a sua trajetória profissional, suas expectativas, contribuições e planos futuros para o Fundo Baobá, com ele à frente da gestão executiva. 

Você sai do Conselho Deliberativo e assume a Diretoria Executiva do Fundo Baobá para Equidade Racial. Em qual sentido a experiência como presidente do Conselho vai contribuir para o trabalho do Diretor Executivo?  

Giovanni Harvey – A minha relação profissional com o Fundo Baobá começou em 2017,  quando fui contratado para estruturar o Plano Estratégico da instituição para o período de 2017 a 2026. Após a conclusão do trabalho,  fui convidado a integrar o conselho deliberativo e, em 2018, fui eleito presidente do mencionado colegiado. Em abril de 2021 fui reeleito para um segundo mandato, até 2024, ao qual renunciei para assumir a diretoria executiva.

Para realizar a consultoria, em 2017, precisei estudar toda a história do Fundo Baobá com o objetivo de entender o seu funcionamento, definir os principais objetivos, conhecer as potencialidades e identificar os desafios. O trabalho incluiu a realização de uma série de entrevistas com os fundadores, com os parceiros e com os financiadores.  Foi com base nestes conhecimentos, aliados à minha experiência ao longo dos últimos 30 anos, que me pautei no exercício da presidência do conselho deliberativo.

As funções que exerci no conselho deliberativo são diferentes das funções que vou exercer na diretoria executiva. O conselho deliberativo é a instância responsável pela formulação da estratégia institucional, pela representação política (em sentido amplo) do Fundo Baobá e pelo controle social da gestão. A diretoria executiva é a instância responsável pela operacionalização da estratégia traçada pelo conselho deliberativo, pela articulação institucional (em sentido estrito), pela gestão do fundo patrimonial e pela implementação das diretrizes programáticas estabelecidas.

Acredito que o meu percurso no Fundo Baobá, aliado às experiências que tive como gestor de empresas, organizações sociais e políticas públicas (no nível municipal, estadual e federal) contribuirão para que eu tenha condições de dar continuidade ao trabalho que foi desenvolvido ao longo dos últimos sete anos pela minha antecessora na função, a executiva Selma Moreira.  

Como diretor executivo, quais são suas metas para o Fundo Baobá?  

Giovanny Harvey – Meta é o objetivo quantificado. Partindo deste pressuposto,  eu vou trabalhar para aumentar o fundo patrimonial na direção de um valor, que estimo hoje em R$ 250 milhões, que nos permita fazer retiradas anuais capazes de atender as demandas mais sensíveis das organizações e pessoas que atuam no movimento negro.  

O Baobá tem ações centradas em análises de contexto e escuta ativa do campo. Ou seja: os editais surgem na medida em que necessidades vão sendo mapeadas. O Baobá é empírico e científico ao mesmo tempo?  

Giovanni Harvey – O objetivo estratégico do Fundo Baobá é disponibilizar recursos financeiros, oriundos do percentual de rendimentos do fundo patrimonial que pode ser sacado anualmente ou da captação que é realizada junto a pessoas físicas e jurídicas, para financiar (através de doações não reembolsáveis) organizações, grupos, coletivos e lideranças negras que atuam no enfrentamento ao racismo, defesa e garantia de direitos e promoção da equidade racial. 

A qualidade da oferta dos recursos financeiros que o Fundo Baobá disponibiliza para estas organizações e pessoas depende, principalmente, de três fatores: 

  1. Alinhamento das diretrizes programáticas do Fundo Baobá às demandas das organizações, grupos, coletivos e lideranças negras;
  2. Grau de autonomia do Fundo Baobá para direcionar os recursos na direção destas demandas das organizações, grupos, coletivos e lideranças negras;
  3. Mensuração dos resultados alcançados.  

Estes três fatores exigem, não apenas do Fundo Baobá, mas de qualquer instituição que se proponha a atuar no enfrentamento ao racismo estrutural e às assimetrias que têm como base o preconceito e a discriminação étnica, um composto que envolve legitimidade, conhecimento científico e capacidade de dialogar com as pessoas negras que lideram iniciativas de  enfretamento ao racismo e promoção da equidade racial nos mais variados setores da sociedade. Soma-se a isto a capacidade de ouvir, dialogar e contribuir de forma positiva para a construção de consensos dentro do ecossistema da filantropia, do investimento social privado, da Rede de Fundos para a Justiça Social e da cooperação internacional. 

Giovanni Harvey – Diretor Executivo do Fundo Baobá para Equidade Racial

A criação do Comitê de Investimento, entre outras coisas, levou o Baobá a um endowment de mais de R$ 60 milhões. Em que número você pretende chegar?  

Giovanni Harvey – A criação do Comitê de Investimentos, constituído por três profissionais do mais alto nível (Felipe Souto Mayor, Leonardo Letelier e Gilvan Bueno) reflete o grau de maturidade institucional do Fundo Baobá e seu compromisso com a excelência na gestão do Fundo Patrimonial.

Além do Comitê de Investimentos nós contamos com um Conselho Fiscal (Mário Nelson Carvalho, Marco Fujihara e Fábio Santiago) que tem contribuído com recomendações que resultaram na adoção das melhores práticas de compliance.  

Com a segurança fornecida por estes lastros institucionais, e pela reputação destas pessoas, vou trabalhar na direção dos 250 milhões de reais de endowment.  

Mais que números, quais suas aspirações como o novo diretor executivo?  

Giovanni Harvey – Dar continuidade ao processo de investimento nos profissionais que trabalham no Fundo Baobá, contribuindo para a permanência do ambiente fraterno e colaborativo que encontrei; ampliar o uso de soluções tecnológicas que nos permitam melhorar a performance da instituição nas três dimensões definidas no Plano Estratégico: mobilização de recursos, articulação institucional e investimentos programáticos; e contribuir para o fortalecimento das instituições e das redes que atuam no campo da filantropia, do investimento social privado e da justiça social. 

Há algo que o Baobá não tenha feito durante seu período como presidente do conselho e agora você queira implantar?  

Giovanni Harvey – Não, muito pelo contrário. A principal razão que levou o conselho deliberativo a me designar para suceder a executiva Selma Moreira foi garantir a continuidade do que estava sendo realizado. Não é hora de “inventar a roda” e nem de “balançar o barco”. 

Que análise você faz sobre o Círculo de Doação iniciado pelo Fundo Baobá?  O papel do Executivo Gilberto Costa (JP Morgan) e da Executiva Rita Oliveira (The Walt Disney) é importante em que sentido?

Giovanni Harvey – O “Círculo de Doação” é uma estratégia de captação desenvolvida pela equipe do Fundo Baobá, sob a liderança de Selma Moreira, Fernanda Lopes e Ana Flávia Godoi. Um dos pressupostos desta estratégia é o reconhecimento do protagonismo das pessoas negras nos processos de mobilização de recursos (em sentido amplo) em prol da causa da Equidade Racial. Neste sentido o Fundo Baobá tem o privilégio de contar com o engajamento de dois profissionais do mais alto gabarito, Gilberto Costa que é Diretor Executivo do Pacto pela Equidade Racial e Diretor Executivo do JP Morgan e Rita Oliveira é Head de Diversidade e Inclusão LatAm da Walt Disney Company, nas ações e atividades que começaram a ser desenvolvidas no âmbito do “Círculo de Doação”. 

O Fundo Baobá está confiante na mobilização pela cultura de doação entre pessoas físicas? É possível levar a essa motivação pessoas que vivem em um país com economia tão precária? 

Giovanni Harvey – O percentual de participação das doações realizadas por pessoas físicas para o Fundo Baobá vem crescendo nos últimos anos e todos os indicadores apontam para o crescimento desta modalidade de captação de recursos financeiros (junto a pessoas físicas e jurídicas)

A contribuição das pessoas físicas em prol da causa da Equidade Racial faz parte da história do Brasil e remonta à luta que as pessoas negras empreenderam em busca da liberdade e às diversas iniciativas que constituíram o movimento abolicionista.  

O processo de construção do mecanismo impulsor, financiado pela Fundação Kellogg há quase 15 anos, que mobilizou aproximadamente 200 pessoas e/ou organizações negras com atuação na região nordeste e resultou na criação do Fundo Baobá,  teve como ponto de partida o legado da filantropia negra na luta contra a escravização.  

Por estas razões eu tenho a mais absoluta convicção de que nós vamos ampliar o engajamento das pessoas físicas e vamos investir em instrumentos de comunicação para que as pessoas possam acompanhar o que nós fazemos com os recursos arrecadados e, principalmente, os resultados que estão sendo alcançados.  

A contribuição das pessoas físicas e a retirada dos rendimentos do fundo patrimonial foram fundamentais para que o Fundo Baobá tivesse os recursos necessários para lançar, no início de abril de 2020, o Edital de Apoio Emergencial para Ações de Prevenção ao Coronavírus. Foi a primeira ação desta natureza realizada no Brasil, menos de 30 dias após a edição do primeiro decreto de calamidade pública em função da pandemia. 215 pessoas e 135 organizações foram beneficiadas com estes recursos. 

Pensando em termos de doação, que chamamento você faria para que as pessoas façam doações? 

Giovanni Harvey – O Fundo Baobá tem realizado uma série de iniciativas e campanhas com o objetivo de mobilizar recursos e, na minha opinião, elas atendem a todas as nossas expectativas de comunicação. 

O Conselho Deliberativo, que tem a honra de ter agora Sueli Carneiro como presidenta e Amalia Fischer como vice-presidenta, e é constituído por André Luiz de Figueiredo Lázaro, Edson Lopes Cardoso, Elias de Oliveira Sampaio, Felipe da Silva Freitas, Martha Rosa Figueira Queiroz, Rebecca Reichmann Tavares, Taís Araújo e Tricia Viviane Lima Calmon, está debruçado sobre o tema e, oportunamente, contribuirá para que os chamamentos que temos fortaleçam as iniciativas de captação que já estão sendo executadas, com elevado nível de dedicação e profissionalismo.

O meu compromisso como gestor é continuar a investir na melhoria da performance do Fundo Baobá para retroalimentar as iniciativas e campanhas de captação com informações (cada vez mais detalhadas) sobre como os recursos são utilizados e com indicadores científicos que evidenciem os resultados que estão sendo alcançados.  

O Fundo Baobá continuará a cumprir com a sua missão institucional, fortalecerá os laços com as organizações, grupos, coletivos e lideranças do movimento negro que estão na base da sua fundação, com a rede que ​compõe o GIFE – Grupo de Fundos, Fundações e Empresas. Vamos trabalhar para fortalecer e promover a diversidade no ecossistema da filantropia no Brasil e no exterior.

Fundo Baobá na imprensa em novembro

Por Ingrid Ferreira

O edital Negros, Negócios e Alimentação foi lançado pelo Fundo Baobá para Equidade Racial, no dia 18 de novembro, em parceria com a empresa General Mills. Com foco na região Metropolitana de Recife, o edital tem como premissa apoiar 12 (doze) empreendimentos negros do ramo da alimentação. Este segmento, o de empreendimentos ligados à alimentação de consumo imediato, foi especialmente impactado pela pandemia do Covid-19. O tema foi destaque  em matérias de veículos de comunicação pelo país. Para este edital atuamos em parceria com a Retruco, uma agência de jornalismo independente de Pernambuco idealizada por jovens jornalistas, cineastas e designers que buscam novas maneiras de contar histórias através da combinação de formatos audiovisuais e textuais com um olhar crítico, sensível e criativo.

A Rede de Filantropia para Justiça Social publicou a matéria “Edital Negros, Negócios e Alimentação – Recife e Região Metropolitana, pelo Fundo Baobá em parceria com General Mills” no dia 15 de novembro; enquanto o portal Leia Já, publicou no dia 18 de novembro “Edital apoia empreendedores negros do ramo da alimentação”, a Rádio Jornal do Commercio entrevistou a Diretora de Programa do Fundo Baobá Fernanda Lopes.

O edital Negros, Negócios e Alimentação foi ainda destaque nos portais: Giro News, Giro MT Notícias, JC, Tribuna do Vale, Diario de Pernambuco e na Folha de Pernambuco, Marco Zero Conteúdo, Marco Zero Conteúdo (Facebook) e na  Rádio Frei Caneca. A Retruco  também repercutiu informações sobre o edital no Twitter e replicou no Linkedin.  O site Foobiz  deu destaque ao edital.  Na mídia negra, foi noticiado na Revista Afirmativa com o título “Edital apoia empreendedores(as) negros(as) do ramo da alimentação na Região Metropolitana do Recife (PE)” e também no portal Alma Preta, com o texto Fundo Baobá lança edital para empreendedores negros do Recife e Região Metropolitana”. OBlogueiras Negras e o Negrê também fizeram registros sobre o edital. 

O Fórum Brasil Diverso 2021, que aconteceu nos dias 17 e 18 de novembro, discutiu os impactos provocados pela pandemia de Covid-19 no mercado de trabalho e na equidade racial nas empresas, e contou com a participação do ex-presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá e atual diretor-executivo da organização, Giovanni Harvey. A reportagem sobre o evento foi publicada no portal Segs. A organização também foi citada na matéria do Ecoa UOL falando sobre  diversidade em empresas conectando-se com consumidores.  

Alguns veículos de comunicação focaram o mês da Consciência Negra, ligando essa data à existência de ações realizadas pelo Fundo Baobá. A matéria “Dia da Consciência Negra: celebrando nossa ancestralidade” é uma delas. Publicado no Blog do Google, o texto aborda algumas ações realizadas pela empresa no combate ao racismo sistêmico. Entre elas,  o apoio do Google.Org ao edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça. 

O Portal do Instituto Geledés da Mulher Negra produziu a reportagem “As ações do Google para o Mês da Consciência Negra”, que também mencionou o trabalho conjunto entre Fundo Baobá e Google.Org. Por fim, o portal Net Informa falou sobre a ação de conscientização “Dia de MOVER”, que contou com rodas de conversa, vídeos, entrevistas e participação de artistas e personalidades reconhecidas na luta pela equidade racial. A matéria foi titulada “1,3 milhão de pessoas vão parar por 1 hora suas rotinas de trabalho para falar sobre o racismo estrutural”. 

No dia 26, no Ateliê de Humanidades, houve uma publicação da “Aula inaugural: Dialogando com Tilly, Furtado e Myrdal: apresentação do curso e tessituras”, com a participação do ex- presidente do Conselho Deliberativo e atual diretor-executivo, Giovanni Harvey. Já no dia 29, o Idis publicou a matéria “Saiba como doar para fundos patrimoniais”, explicando como doar para fundos que aceitam doações de pessoas físicas para aumentar o patrimônio e assim aumentar cada vez mais suas ações. A matéria citou também informações sobre a origem do Fundo Baobá, como ele é gerido e seus propósitos. 

Apoiados e Apoiadas do Fundo Baobá

No campo dos apoiados e apoiadas do Fundo Baobá, houve a publicação da matéria “Vozes contra o racismo: mulheres negras lutam por representatividade”, no Correio Braziliense. Escrita por Giovana Fischborn e tendo como personagem Clara Marinho (apoiada no Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco).  “Servidora pública é nomeada uma das pessoas negras mais influentes do mundo”, escrita por Adriana Fernandes para o portal Terra e também tendo Clara Marinho como personagem. 

O jornal O Povo, de Fortaleza, trouxe a matéria  “Websérie traz entrevistas com agentes culturais de periferias de Fortaleza”. O texto aborda ações promovidas  pelo coletivo Entre Olhos, apoiado pelo edital Primeira Infância no Contexto da Covid-19. 

Coletiva Negras que Movem 

Na coluna “Coletiva Negras que Movem”,  do Portal Geledés, com textos assinados pelas apoiadas do Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, foi publicado o artigo  “Eu não corro com lobos” escrito pela empresária Onilia Araújo. Jaqueline Fraga, outra apoiada pelo Programa de Aceleração, também foi destaque na mesma coluna do Geledés com o artigo  “Como descobri o racismo em Chiquititas 20 anos depois”.  Ainda dentro do “Coletiva Negras que Movem”, a assistente social Brígida Rocha foi a articulista de   “Inquietações e utopias escritas”.