Programa Marielle Franco: esforços, resultados e impactos produzidos pelo edital

Experiência de três organizações selecionadas no edital,  lançado em 2019, mostra a eficiência do Programa e sua influência em seus territórios de atuação 

Por  Wagner Prado

Para o mercado, a eficácia de um projeto pode ser dimensionada de várias formas: grandiosidade, lucratividade, alcance, número de envolvidos (beneficiários diretos e indiretos). Nos projetos e programas criados pelo Fundo Baobá para Equidade Racial a análise é feita a partir de fatores que estão muito além da frieza de planilhas, de números enormes, as vezes sem vida e sem história. O fato de os projetos e programas do Baobá serem voltados para o desenvolvimento e a justiça social torna o olho no olho, a relação pessoal, as pequenas e as grandes mudanças individuais, e tantos outros  aspectos, em algo muito mais que relevante. 

O Programa de Aceleração de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, lançado em setembro de 2019, em sua primeira edição, teve dois editais. O primeiro, voltado para o apoio de grupos, coletivos e organizações de mulheres negras. O segundo, de apoio individual a lideranças negras. Aqui, vamos focar nas 14 organizações escolhidas entre as 15 que foram selecionadas. Aqui vamos focar em 3 das 14 organizações que seguiram até o final do Programa (originalmente foram 15 organizações, grupos e coletivas selecionadas).

Mapa das Organizações, Grupos e Coletivas Apoiadas

O objetivo do edital é fazer com que as coletivas, organizações e grupos de mulheres negras sejam fortalecidas  em todas as suas capacidades, conheçam e desenvolvam ainda mais suas potencialidades, incrementando a liderança de mulheres negras. A partir disso,  mobilizar e engajar outras pessoas e instituições na busca por justiça, equidade racial e social. O Programa é uma parceria do Fundo Baobá com a Fundação Kellogg, Instituto Ibirapitanga, Fundação Ford e Open Society Foundations.  

Para exemplificarmos as transformações ocorridas com as organizações que participaram do Programa, convidamos  três delas para o diálogo: Abayomi – Coletiva de Mulheres Negras na Paraíba;  Movimento de Mulheres do Subúrbio Ginga (Salvador, Bahia) e Rede de Mulheres Negras de Pernambuco.  

A Abayomi/PB atua na proteção e promoção dos Direitos das Mulheres. incluindo enfrentamento à violência. O Ginga/BA e a Rede de Mulheres Negras de Pernambuco estão alinhadas à mesma área temática. A variação está no projeto que cada uma apresentou. 

A coletiva paraibana Abayomi inscreveu-se com o projeto Obirim Dudu: Movimentando as Estruturas Contra o Racismo. Ele consiste na produção e difusão de informações sobre as condições das mulheres negras da Paraíba, com o objetivo de contribuir para o combate das questões raciais, garantindo suporte intelectual e, por consequência, material, e fortalecendo o institucional das organizações. O Ginga trouxe o projeto Mulheres Negras, Elaborando Estratégias, Fortalecendo Saberes, que procurou instrumentalizar as entidades para concorrer, de modo mais equânime, à captação de recursos através de editais. O objetivo geral foi capacitar mulheres atuantes em movimentos sociais e lideranças de entidades em prol de outras mulheres, especialmente as negras, na captação de recursos, através da formação em elaboração de projetos de intervenção social em Salvador e região metropolitana. Já a  Rede de Mulheres Negras de Pernambuco implementou o Olori: Mulheres Negras e Periféricas Produzindo Liderança, cujo foco foi promover um processo de formação política para várias mulheres visando a construção de um projeto coletivo no futuro. O primeiro passo foi o fortalecimento institucional de três organizações que já funcionavam em parceria para que ganhassem condições de oferecer esses cursos de formação política e formação técnica para as militantes, que serão futuras lideranças. 

Transformação

Aplicar-se em um edital do Fundo Baobá não é simplesmente conseguir a classificação e  receber a dotação financeira. A organização sabe, desde o primeiro momento, que vai passar por um intenso processo de transformação.  No caso do Programa de Aceleração de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, o objetivo ao final de cinco anos, tempo previsto para duração do Programa, é ter um leque de organizações, coletivos e grupos de mulheres negras fortalecidos em suas mais diversas funcionalidades, o que vai potencializar e gerar maior  protagonismo das entidades comandadas por mulheres negras.  

Com o objetivo de potencializar ação destas organizações e fomentar a ação em rede, foram implementadas atividades formativas. A Ong Criola e o Instituto Amma Psique e Negritude foram facilitadores dessa implementação.  Com a Criola foram 14 encontros, com duração de 3 horas cada, de abril a novembro de 2020, e que versaram sobre racismo, sexismo, lesbo e transfobia, políticas públicas e controle social, liderança feminina negra, segurança ativista. Cada um desses encontros teve público médio de 90 pessoas. Já o Amma trabalhou a questão do enfrentamento ao racismo e seus efeitos psicossociais. Foram 5 encontros, também com duração de 3 horas cada, com público médio de 20 pessoas por turma em cada um deles. Foram disponibilizadas três turmas. 

Para as lideranças do edital de apoio individual foram oferecidas  sessões de coach para dar suporte e garantir a implementação de seus projetos de desenvolvimento individual, além das atividades formativas anteriormente citadas. 

O Fundo Baobá ainda programou e realizou reuniões virtuais (individuais e em grupo) para atendimento visando despertar e fortalecer potenciais. De março a dezembro de 2021 foram 190 atendimentos individualizados e outros 700, por mensagem e telefone, dirimindo as dúvidas, derrubando inseguranças e esclarecendo as incertezas surgidas principalmente no contexto da pandemia. As reuniões e atendimentos contribuíram para que elas pudessem criar condições favoráveis para alcançar seus objetivos individuais e coletivos. 

Parcerias

Alcançar excelência requer esforço, foco, resiliência e união.  Para que as barreiras que surjam em jornadas de transformação sejam suplantadas, atuar de forma isolada não é o melhor caminho. Firmar parcerias é algo de extrema importância. As lideranças apoiadas individual ou coletivamente pelo Programa de Aceleração de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco reiteraram que a busca de parceiros (ou o fortalecimento de parcerias já estabelecidas) é algo que pode viabilizar o alcance de resultados, dada às experiências que podem ser compartilhadas, responsabilidades que podem ser divididas, habilidades que podem ser complementadas, ligações externas que se pode alcançar, aporte financeiro que pode ser gerado, além de muitas outras variáveis. Entre as 14 organizações escolhidas, 43% reconheceram ter ampliado sua capacidade de mobilizar novos parceiros; 36% disseram que essa capacidade estava em franca construção e 7% foram unânimes no diagnóstico de que a capacidade de mobilizar novos parceiros era plena. 

Entre as lideranças femininas negras apoiadas individualmente, o estabelecimento de parcerias visando o alcance dos objetivos pretendidos foi total.  365 apoiadas firmaram parcerias com instituições; 187, com indivíduos e 85% declararam ter se juntado a outras também apoiadas. 

Olhando o futuro

Após  a jornada de aprendizado e transformação e cientes de suas novas potencialidades, fazer projeções futuras de crescimento e realizações passou a ser o objetivo dessas organizações. 

Abayomi: 

O apoio do Fundo Baobá nos projetou como uma organização capaz de executar projetos e nos evidenciou para outras apoiadoras. Sendo assim, pretendemos seguir nesse caminho de pleitear outros financiamentos para sustentar nossa ação política. Nossos planos para os próximos 12 meses são, a partir do projeto (aprovado) do FBDH (Fundo Brasil de Direitos Humanos), a continuidade das ações nos territórios, o fortalecimento institucional e a manutenção de articulações e mobilizações políticas em conjunto com as organizações e movimentos locais, regionais e nacionais. Em nosso planejamento consta o envio de propostas de projeto para a produção de conteúdos e informações e realização de cursos e capacitações. Pretendemos também incorporar a questão da violência contra as mulheres negras e saúde de população negra como prioritárias para os próximos dois anos“,  afirmou Durvalina Rodrigues Lima, representante da organização. 

Movimento de Mulheres do Subúrbio Ginga

“Com base no aprendizado adquirido com a execução desse projeto, iremos nos lançar em editais mais complexos, com maior segurança acerca da gestão. Essa experiência também nos proporcionou novas articulações e ações em rede, as quais pretendemos dar continuidade, como, por exemplo, a realização de lives mensais com representantes das entidades que compõem essa nova rede estabelecida, para o diálogo sobre temáticas alinhadas aos objetivos do nosso coletivo. Estamos iniciando o projeto da horta comunitária, com o apoio da Terra Vida Soluções Ecológicas, a partir do sistema de compostagem urbana, o qual poderá contribuir para que o nosso grupo possa se tornar um ponto de referência no território, como multiplicador de práticas sustentáveis”, diz Carine Lustosa, integrante do Ginga.  

Rede de Mulheres Negras de Pernambuco: 

“Cidadania Feminina – manter o diálogo com as mulheres que participaram das formações, para contribuir com o fortalecimento dessas lideranças nos seus territórios. Exercitar o aprendizado sobre planejamento organizacional nas atividades e ações da instituição. Buscar e concorrer a editais para apresentação de projetos. Espaço Mulher – buscar parcerias. Com a possibilidade do CNPJ vamos buscar editais para nossa sustentabilidade financeira. E vamos continuar o que já fazemos:  cuidar, acolher, apoiar e fortalecer as mulheres não só do grupo, mas também da comunidade de Passarinho “, afirma Rosita Maria Marques, da direção da Rede. 

Impactos

As ações promovidas pelas organizações Abayomi – Coletiva de Mulheres Negras na Paraíba;  Movimento de Mulheres do Subúrbio Ginga (Salvador) e Rede de Mulheres Negras de Pernambuco dão a ideia do impacto que elas e as demais 11 organizações têm provocado nas comunidades dos territórios em que atuam.  Os trabalhos executados por elas alcançaram 20.066 pessoas, sendo 17.056 mulheres (85%)  e 3.010 homens (15%). As ações de compartilhamento de saberes e aprendizados alcançaram 9.741 pessoas negras (mulheres e homens – 74%) e 3.370 não negras (26%). 

Beneficiários Indiretos – edital de apoio coletivo

Entre outras realizações, o Abayomi  conseguiu: a) maior circulação de informações sobre a população negra para subsidiar a luta contra o racismo; b) comunidades fortalecidas e a ampliação do debate sobre as condições das mulheres negras no contexto da pandemia; c) manteve a articulação com diferentes ativistas e organizações, entre eles o Minicurso Aya. 

O Ginga promoveu: a) capacitação de mulheres atuantes em movimentos sociais e lideranças de entidades em prol de mulheres, especialmente negras; b) formação em elaboração de projetos de intervenção social em Salvador e região metropolitana; c) o curso promovido pelo Ginga foi adaptado para o formato remoto, devido à pandemia da Covid-19, possibilitando alcançar entidades do interior do estado.

A Rede de Mulheres Negras de Pernambuco organizou: a) processos de formação políticas para qualificar cada vez sua própria atuação e apoiar o surgimento de outras lideranças e referências; b)processo de formação política junto a mulheres das entidades Espaço Mulher e Cidadania Feminina e executou um projeto coletivamente pela primeira vez; c) o despertar da liderança em suas líderes, que  superaram  o medo de trabalhar de maneira virtual, manuseando as plataformas digitais. 

20.505

Os projetos idealizados pelas organizações,grupos e coletivos de mulheres negras apoiados pelo Programa de Aceleração de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco beneficiaram indiretamente 20.505 pessoas, em diferentes fases do ciclo da vida, dentro e fora do país, residentes em zona urbana e rural, com ou sem acesso a educação formal. Essas, com certeza, terão o poder de influenciar outras tantas, a partir dos relacionamentos que foram estabelecidos e dos conhecimentos que conseguiram alcançar.  

Gratidão

Sulamita Rosa da Silva, licenciada em Pedagogia e Mestra em Educação pela Universidade Federal do Acre (Ufac) e doutoranda em Educação Pela Universidade de São Paulo, foi contemplada no edital de apoio individual do Programa de Aceleração de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. Líder da Rede Mulherações – Rede de Formações para Negras, Afro Indígenas e Indígenas do Acre,  demonstra sua gratidão pelo apoio recebido: “Compartilhei aprendizagens e saberes em forma de cursos, eventos, podcasts, publicações entre outros, contribuindo com a comunicação e memória de intelectuais negras, que tanto contribuíram para a compreensão da cultura brasileira de modo decolonial. Desenvolvi podcasts também como forma de popularização do conhecimento científico, além de começar a articular a escrita acadêmica com o pensamento feminista negro, visando uma educação emancipadora e autodefinida. Tive uma narrativa curta publicada no livro –  Carolinas: a nova geração de escritoras negras brasileiras, resultado este do processo formativo da Festa Literária da Periferia (Flup),  contando com 180 autoras negras de todo o Brasil”, disse. 

No edital que selecionou 63 mulheres e que, ao final, contou com 59 apoiadas, os estados do Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraiba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe) concentraram o maior número de apoiadas: 26. As lideranças femininas negras apoiadas compartilharam aprendizados com mais de 500 mil pessoas em suas redes profissionais, de estudo e de militância. Entre as pessoas alcançadas estão pessoas não binárias, transgêneres e travestis, quilombolas, migrantes, refugiados, adultos, adolescentes, jovens e idosos. 

O Fundo Baobá para Equidade Racial fez um trabalho de análise e tabulação de dados  do Programa de Aceleração de Lideranças Femininas: Marielle Franco. Para obter mais detalhes, acesse este link.

Inscrições para o edital Negros, Negócios e Alimentação serão encerradas nesta quinta-feira, 27 de janeiro

As inscrições do edital Negros, Negócios e Alimentação se encerram hoje, dia 27 de janeiro, às 17 horas. O edital é voltado para empreendedores (as) negros (as) do ramo da alimentação no Recife. Esta será a última oportunidade para que os empreendedores interessados possam se inscrever. O projeto do Fundo Baobá para Equidade Racial tem apoio da General Mills, empresa global de alimentos dona de marcas como Yoki, Kitano e Häagen-Dazs no país.

O edital foi lançado em novembro de 2021, com o intuito de contribuir para a recuperação econômica de negócios do ramo da gastronomia, voltado para os empreendedores e empreendedoras negros(as) e vai contribuir para a ampliação de suas capacidades de planejar, fazer gestão, inovar, ampliar ou estabelecer uma infraestrutura mínima para sustentabilidade de seus negócios.

Os inscritos devem ser empreendedores(as) negros(as) do setor gastronômico, com 18 anos ou mais, que tenham negócio instalado e em funcionamento há 3 anos ou mais, que trabalhem com alimentação de consumo imediato, como almoços, jantares, salgados, bolos, pratos típicos e regionais, dentre todas as opções de cardápio; empresários que trabalhem com  food truck, comida de rua e que sejam ambulantes também podem participar.

Os empreendimentos devem estar localizados no estado de Pernambuco, nas seguintes cidades: Recife, Jaboatão dos Guararapes, Olinda,  Paulista, Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe, Abreu de Lima, Ipojuca, São Lourenço da Mata, Igarassu, Moreno, Itapissuma, Ilha de Itamaracá e Araçoiaba. As propostas apresentadas por mulheres negras cis ou trans e de empreendedores(as) negros(as) que nunca foram apoiadas(os) pelo Fundo Baobá para Equidade Racial serão priorizadas.

Os selecionados receberão um aporte financeiro de R$ 30 mil, além de assessoria e suporte técnico, e terão 09 (nove) meses para executar os seus projetos  e apresentar a prestação de contas final.

Os interessados podem se inscrever através do link oficial do edital na página do Fundo Baobá, onde encontram-se os critérios de elegibilidade do programa. Ressaltando que a regra da obrigatoriedade de ter CNPJ foi retirada, como consta na matéria Fundo Baobá altera regras de edital de apoio a empreendedores negros da alimentação na Região Metropolitana do Recife.

Realizadores

Criado em 2011, o Fundo Baobá para Equidade Racial é o primeiro e único fundo dedicado, exclusivamente, para a promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. Orientado pelos princípios de ética, transparência e gestão, mobiliza recursos financeiros e humanos, dentro e fora do país, e investe em iniciativas da sociedade civil negra para o enfrentamento ao racismo e promoção da justiça social.

A General Mills é uma empresa líder global em alimentos e trabalha “fazendo os alimentos que o mundo ama”. Com sede em Minneapolis, Minnesota, EUA, a companhia chegou ao Brasil em 1997. Em novembro de 2020, assumiu publicamente o compromisso de ser um instrumento importante de mudança promovendo iniciativas práticas para equidade racial. Ao reconhecer que o racismo deixa marcas todos os dias em diversas sociedades, há séculos, a empresa se mobiliza e busca contribuir para os avanços em políticas de inclusão e, sobretudo, de preservação da vida de pessoas negras.

 O Edital Doações Emergenciais Transformou o Cenário de Combate da Covid-19

O Fundo Baobá para Equidade Racial agiu de forma atemporal ao compreender as necessidades sociais que surgiriam com a pandemia do novo Coronavírus.

Por Ingrid Ferreira

O ano de 2020 foi marcado pelo início da pandemia da Covid-19 no país, e com a crise sanitária, a população sofreu. Os impactos da crise econômica foram intensificados, as restrições impostas pelo isolamento social afetaram, principalmente, as pessoas que já viviam em condições de vulnerabilidade.

Avaliando esse cenário, o Fundo Baobá para Equidade Racial, usando recursos próprios e remanejando outros vindos da Fundação Ford e que seriam destinados a atividades voltadas para o seu próprio fortalecimento institucional, lançou no dia 5 de abril de 2020 o edital “Doações Emergenciais no Contexto da Pandemia da Covid-19”, para apoiar iniciativas individuais ou de organizações que respondessem às necessidades mais imediatas da comunidade negra naquele momento.

A seleção priorizou ações de prevenção e apoio às pessoas, famílias e comunidades mais carentes em todo o Brasil. As iniciativas selecionadas, em sua maioria, eram voltadas à aquisição, fabricação e distribuição de insumos de prevenção como máscaras, produtos de higiene pessoal e de limpeza; aquisição e distribuição de cestas básicas e/ou marmitas, além da produção de conteúdos e disseminação de informações sobre a Covid-19 .

O edital foi pensado e implementado em tempo recorde, dada à emergência  e à possibilidade do colapso social que estava por vir e, de fato, veio. De acordo com o boletim da Fiocruz “Observatório Covid-19”, o ano de 2021 terminou com mais de 600 mil óbitos e 22 milhões de casos registrados por Covid-19; no estudo realizado pela Rede de Pesquisa Solidária  “Boletim do Políticas Públicas & Sociedade, é apresentado que homens negros morrem mais por Covid-19 quando comparados aos  homens brancos, ainda que em ocupações socialmente interpretadas como de elite (engenharia, direito, arquitetura).Mulheres negras morrem mais que todos os demais segmentos populacionais (homens negros e brancos e mulheres brancas) em quase todas os setores em que estejam atuando profissionalmente.  

Segundo dados que se encontram no e-book “O que aprendemos com nossas respostas à pandemia?”, que foi feito com o intuito de apresentar as ações emergenciais realizadas pelo Fundo Baobá no início da pandemia e seus resultados: Em apenas 12 dias, o edital recebeu 1.037 inscrições de todas as regiões do país, sendo 387 iniciativas de organizações sociais e 650 iniciativas de pessoas (indivíduos). Foram selecionadas 215 propostas individuais e 135 propostas de organizações. Cada iniciativa recebeu até R$ 2,5 mil para ações de prevenção em comunidades periféricas, de difícil acesso e populações vulneráveis.

Distribuição das propostas apoiadas por região do país (apoios para indivíduos e organizações)

Ao analisar relatórios e ouvir relatos observou-se que o maior desafio enfrentado pelos indivíduos apoiados pelo Baobá foi de atender todas as demandas apresentadas pelas pessoas atendidas, representado por 32,3%;  já no caso das organizações, 28,6% afirmam que a maior dificuldade foi conscientizar a população acerca dos riscos da pandemia. Foi acertado o investimento do Baobá em iniciativas individuais porque as lideranças recebendo um primeiro apoio, poderiam buscar outros, não por acaso entre os indivíduos apoiados o menor desafio enfrentado foi mobilizar parceiros/atores estratégicos (4,0%), o medo de se infectar existia, mas não foi impeditivo (ainda que alguns tenham adoecido ou perdido familiares durante o período de implementação das ações). Entre as organizações o menor desafio foi o de proteger voluntários (1,8%). 

No depoimento da selecionada Pâmella Santos, do bairro da Pavuna, no Rio de Janeiro, é possível perceber a grandiosidade das ações que o edital ajudou a promover: “Eu e mais quatro jovens mapeamos uma comunidade muito vulnerável, dentro do Complexo da Pedreira, que tinha esgoto a céu aberto, e levamos kits de higiene. Mesmo usando máscara, era nítida a felicidade no olhar em receber algo que eles não tinham condições de comprar”.

O contexto de emergência sanitária deixou ainda mais nítida a necessidade do enfrentamento ao racismo estrutural vivenciado por diferentes grupos negros. Como descrito no e-book: “As iniciativas incluíram ações dirigidas à população negra no geral, comunidades periféricas, idosos, população em situação de rua, prostitutas, travestis e transgêneres, quilombolas, indígenas, migrantes e refugiados e crianças matriculadas nos primeiros anos do ciclo básico, pessoas residentes em territórios urbanos ou rurais, centrais ou periféricos.”

Mais  de 54 mil pessoas (prioritariamente pessoas negras, de sexo feminino e idade superior a 30 anos) foram indiretamente beneficiadas pelo Baobá a partir das ações implementadas por indivíduos e mais de 57 mil pessoas (prioritariamente pessoas negras ou indígenas, de sexo feminino e idade superior a 30 anos) por meio das ações realizadas  pelas organizações.

É possível observar a grandiosidade da iniciativa  nos relatos das (os) apoiadas (os), como é o caso da fala da Francisca Luciene da Silva de Natal no Rio Grande do Norte: “O projeto do Baobá abriu portas para que outras instituições, outros parceiros viessem e dessem a sua contribuição”. A apoiada Thalyta Cunha, da região de Del Castilho no Rio de Janeiro em seu depoimento também mostra a importância desse projeto a longo prazo quando fala que “Eu sou fruto de um projeto assim, e hoje eu me vejo como uma ferramenta, para que essas pessoas passem pela mesma evolução que eu passei”. 

Para acessar o material do e-book, clique aqui.

Fundo Baobá altera regras de edital de apoio a empreendedores negros da alimentação na Região Metropolitana do Recife

Por Eduarda Nunes e Luane Ferraz

O Fundo Baobá, em parceria com a General Mills, comunica a alteração da regra da exigência de CNPJ ativo até 2019 para a validação da inscrição do empreendedor no edital “Negros, Negócios e Alimentação”. A mudança se dá devido aos avanços da Covid-19, influenza e Ômicron em Pernambuco e em todo o país e, por consequência, o agravamento da vulnerabilidade econômica para empreendoras negras  e empreendedores negros.

Com a mudança, qualquer pessoa negra que tenha um empreendimento, instalado e em funcionamento há 3 anos ou mais, na área de alimentação, gastronomia e culinária, no Recife e região metropolitana, seja de maneira formal ou informal,  torna-se apta para a seleção.

Além disso, entre os próximos dias 20 (19h às 21h), 21 (9h às 12h) e 24 (9h às 17h), as pessoas interessadas podem se dirigir ao Hotel Central (Av. Manoel Borba, 209 – Boa Vista) para tirar dúvidas e se inscrever com apoio da equipe executiva do Fundo Baobá.

Em função da pandemia, esta é a primeira atividade presencial da instituição  para divulgação de um edital,  desde setembro de 2019. Na estadia em Recife, a direção do Fundo Baobá se encontrará com lideranças locais e potenciais candidatos ao  edital vigente, além de pessoas e organizações que já foram apoiadas pelo Baobá em editais passados.

A visita marca também o retorno à cidade que foi o local de origem e a primeira sede do Fundo Baobá para Equidade Racial.

A iniciativa

Pensando em contribuir na recuperação econômica desses negócios e promover às empreendedoras e  empreendedores negros uma ampliação de suas capacidades de planejar e fazer gestão, esta iniciativa do Fundo Baobá, em parceria com a General Mills, vai apoiar 12 (doze) empreendimentos negros do ramo de alimentação de consumo imediato, instalados e em funcionamento há 3 anos ou mais na Região Metropolitana de Recife.

As empreendedoras e empreendedores selecionados receberão um aporte financeiro de R$ 30.000 (trinta mil reais), além de assessoria e suporte técnico. Terão 8 (oito) meses para executar os seus projetos  e 30 dias para apresentar a prestação de contas final. Ou seja, o projeto terá duração de 9 meses.

Serão priorizadas propostas que envolvam negócios da gastronomia negra, formalizados (com CNPJ) e aqueles situados em Recife, Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Paulista, Cabo de Santo Agostinho e Camaragibe, dado que estas cidades concentram 90% dos negócios deste setor. Além de inscrições feitas por mulheres negras cis ou trans e de empreendedores(as) negros(as) que nunca foram apoiadas(os) pelo Fundo Baobá para Equidade Racial.

Para as pessoas negras que empreendem, o ramo alimentício está entre as 10 áreas de maior presença no mercado. Entretanto, com a crise econômica agravada pela pandemia da Covid-19, muitos pontos de venda fixos foram impactados negativamente, em especial os negócios formalizados (com CNPJ), cujos donos eram mulheres ou pessoas com idade entre 35 e 54 anos.

Inscrições

As inscrições para o edital Negros, Negócios e Alimentação estarão abertas até o próximo dia 27 às 17h. Pessoas interessadas devem preencher o formulário eletrônico disponível exclusivamente neste link.  

Vale lembrar que o processo de seleção contará com três etapas eliminatórias. O resultado final será divulgado no dia 31 de março de 2022, após as 19h, no site oficial do Fundo Baobá (baoba.org.br). 

Para entender melhor os critérios de elegibilidade do programa, basta acessar o edital através deste link

Fundo Baobá divulga a Avaliação do Programa de Recuperação Econômica  de Pequenos Negócios de Empreendedores(as) Negros(as)

Por Jessica Moreira

A população negra sempre empreendeu. Diante de tantos desafios e do próprio racismo estrutural, precisou aprender na prática como criar seus próprios negócios, mesmo sem incentivos ou políticas públicas que dessem conta de tantas necessidades.

Negros e negras são protagonistas quando o assunto é inovação e jeito de empreender. Com modelos de negócios que realmente impactam as comunidades onde estão inseridos, fazem a diferença com formatos mais circulares e comunitários que fogem da lógica capitalista tradicional.

Mas será que, em meio à pandemia, esses empreendedores conseguiram manter seus negócios ativos? Quais foram os maiores desafios? Quais foram as políticas de incentivo criadas ou não para apoiar esses líderes de negócios que atuam nas comunidades que foram as mais impactadas pela pandemia?

Pensando nos mais diversos desafios que se apresentavam e que ainda se estendem em todo o país, o Fundo Baobá para Equidade Racial, em parceria com Coca Cola Foundation, Instituto Coca Cola Brasil, BV e Instituto Votorantim, lançou em novembro de 2020 o Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores(as) Negros(as).

Junto ao Fa.vela — um hub de educação e aprendizagem empreendedora, inovadora, digital e inclusiva — acompanhamos 46 iniciativas e 137 empreendedores de todo o Brasil durante todo o ano de 2021, e as mesmas receberam o apoio financeiro de R$30 mil por iniciativa.

Com consultorias, oficinas e processos de troca e aprendizagem de modo virtual, entendemos a potência de apoiar financeiramente esses empreendimentos, chegando ao fim de 2021 celebrando a permanência desses pequenos negócios, que não só fortalecem o ecossistema do afroempreendedorismo no Brasil, como também de todas as territorialidades onde atuam.

Por que apoiar empreendimentos negros?

Com uma vasta diversidade de negócios, podemos notar mais uma vez as potências criativas que vêm das bordas, tanto das cidades quanto do campo, entendendo que apoiá-las e incentivá-las a crescer também é uma forma de pensar a autonomia financeira da população negra, que ainda sofre com o racismo em nosso país.

Mais da metade da população brasileira é negra, composta por cerca de 56% de pretos e pardos. Desses, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) estima que, pelo menos, 14 milhões sejam empreendedores. Um mercado que chega a movimentar anualmente até 1,73 trilhão da economia do país.

Com a pandemia, todo o ecossistema de negócios foi abalado. A Pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2020), realizada no Brasil em parceria com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e o IBPQ (Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade),  mostrou que, de 2019 para 2020, o número de empreendedores no Brasil caiu de 53,4 milhões para 43,9 milhões.

Mas se tem um nicho que sofreu ainda mais, esse com certeza foi o dos pequenos empreendedores, principalmente negros e periféricos:

A pesquisa “O impacto da pandemia de coronavírus nos pequenos negócios”, desenvolvida pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) com 7.403 empresários, em junho de 2020, mostra que os negócios liderados pela população negra foram os mais impactados, principalmente por atenderem essencialmente de modo presencial (45%). Entre os brancos, a proporção foi de 36%.

De todos os entrevistados, 70% dos negócios eram conduzidos por negros que moravam em municípios onde ocorreram o fechamento parcial ou total dos estabelecimentos. Neste cenário, a maioria era jovem, mulheres e com baixo nível de escolaridade.

O necessário isolamento para frear o novo coronavírus veio cheio de dificuldades para a manutenção dos próprios negócios. A mesma pesquisa aponta que 46% dos empreendimentos conduzidos por negros tiveram que interromper temporariamente seu funcionamento.

Em meio a um cenário de crise, empreendedores negros ainda tiveram mais recusa na hora de pedir empréstimo (61%) quando comparado aos brancos (55%), mesmo o valor solicitado por negros (R$28 mil) sendo 26% mais baixo do que de brancos (R$37 mil).

Levando todo esse cenário em consideração, nosso objetivo com o Programa de Recuperação Econômica foi apoiar empreendedoras e empreendedores negros das periferias a atravessar esse momento de crise causado pela pandemia da Covid-19.

Ao final do programa, realizamos um processo de avaliação de resultados, com objetivo de contar como essas mulheres e homens, distribuídos por todos os cantos do Brasil, estão fazendo a diferença em seus territórios. Mesmo diante de uma crise também econômica, eles continuam girando a economia local, além de multiplicarem seus saberes e serviços a outros e novos empreendedores.

Caminhos da avaliação

Para chegar aos resultados do programa, contamos com o apoio de uma consultoria externa, a Janela 8, e percorremos alguns caminhos em conjunto com apoiadores, executores e participantes do programa. O primeiro passo foi a análise de informações e documentos coletados durante o programa, como o levantamento das inscrições e demais bases de dados de participantes nos processos produtivos, relatórios narrativos e prestação de contas elaboradas pelos próprios empreendedores e empreendedoras.

Os relatórios elaborados pelo Hub Fa.vela também foram importantes referências para chegarmos ao detalhamento da avaliação, e também para definir os principais pontos de transformação desejados pelo programa por meio de uma Teoria da Mudança.

A Teoria da Mudança permitiu delimitar o impacto desejado do programa: a promoção de uma vida digna a sujeitos e famílias negras por meio da melhoria de suas condições financeiras. Além disso, foram destacados os principais resultados, produtos, intervenções e público-alvo, bem como as premissas da realização do Programa.

A partir daí, foram realizadas entrevistas com stakeholders e grupos de escutas com participantes do programa. Os dados e informações coletados foram analisados e consolidados em um relatório completo e em um resumo executivo (disponível para download aqui).

Perfil dos participantes

“Não existem editais que apoiam o nordeste e a população negra”, foi uma frase recorrente no processo de avaliação do programa.

Entendendo a importância da diversidade geográfica e a realidade das iniciativas localizadas na região norte e nordeste, com apoio aquém do que necessitam, o Programa de Recuperação Econômica priorizou essas regiões na seleção de empreendedores(as).

O Nordeste é o local onde estão concentradas a maioria das iniciativas selecionadas, com destaque para a Bahia (37%). Falar em território neste momento de pandemia é lembrar que a Covid-19 não afetou as populações apenas nos mais altos picos da doença, mas também economicamente, inclusive na pós-primeira onda da doença.

Com o desemprego batendo recordes em 2021, muitas pessoas precisaram recorrer a trabalhos informais ou, então, erguer seus próprios meios de sobrevivência e sustentabilidade. O programa foi importante por apoiar negócios de pessoas que trabalham principalmente sozinhas (44%) ou com suas famílias (31%). Além disso, mais de 60% dos empreendimentos apoiados empregavam pelo menos 1 (uma) pessoa na sua atividade (de maneira informal ou formal) ao longo da execução do Programa.

Mulheres negras: lideranças de negócios

Selecionamos 46 iniciativas compostas por três empreendedores e empreendedoras negras em todo o Brasil, contemplando ao todo 137 empreendedores(as). A principal faixa etária de participação está entre 25 e 35 anos (43%), seguida de pessoas que têm entre 36 e 50 anos (36%). Mais da metade dos empreendimentos (56%) é formado unicamente por mulheres, mostrando como o programa impactou principalmente as mulheres negras.

Já em relação à escolaridade houve uma distribuição importante entre pessoas com diferentes níveis de formação: 25% possui ensino médio completo, 24% superior incompleto e 26% superior completo.

Empreendedorismo a partir das periferias

Dentre os negócios apoiados pelo programa, a maioria se enquadra em quatro segmentos:

alimentação (19%), artesanato (13%), agricultura (12%), costura (12%) e beleza (8%). O Programa também apoiou iniciativas nas áreas de moda e vestuário, turismo, saúde, comunicação, cultura e eventos, educação, pesca e prestação de serviços.

As iniciativas contempladas estão localizadas essencialmente em áreas urbanas (73%) e nas periferias (77%), mostrando a importância, mais uma vez, dos negócios locais.

Estar nas periferias também simbolizou um desafio, diante das longas distâncias, já que algumas iniciativas optaram pelo formato de delivery, exigindo pensar meios de transporte para essas entregas, como podemos ver neste depoimento.

“A gente já tinha dado início ao empreendimento e o projeto deu um incentivo pra gente dar continuidade. Nesse tempo de pandemia tivemos que dar uma pausa no atendimento por conta das aglomerações. A gente teve que pausar 1 ano e meio. Surgiu outra ideia que a gente teve pra não ficar totalmente parada. A gente teve a ideia de entregar bolo, mas a cidade fica a 13 km da nossa comunidade. O projeto surgiu em uma hora de um grande desafio, aprimorou a iniciativa.

O impacto nas comunidades

Os empreendedores se relacionaram com suas comunidades das mais diferentes formas, seja pela disseminação de conteúdo, pelo compartilhamento dos aprendizados adquiridos ao longo do programa ou, então, apoiando a doação de cestas básicas diante da insegurança alimentar que se impôs em todo o território brasileiro em meio à crise sanitária.

Segundo os relatos dos empreendedores, ao menos 16% afirmam que suas comunidades são um importante público consumidor. Além disso, 27% dos negócios geram empregos no território, como podemos notar ao ouvir alguns relatos como este: “Conseguimos dar mais visibilidade, aumentar a mão de obra e aumentar o espaço. Com o espaço maior, deu mais visibilidade e atraiu mais público. Fez muita diferença. Hoje nossa iniciativa tem mais condições de receber o público que a gente tá recebendo hoje. Conseguimos também ajudar mais gente na comunidade”, apontam.

O programa foi um grande fomentador do sentimento de pertencimento em relação à comunidade, uma vez que havia incentivo para olhar ao redor e pensar o negócio por meio da população local, além de fortalecer os próprios territórios, como diz uma das empreendedoras: “Para nós, é importante o impacto das nossas atividades e empreendimentos para a comunidade, pois acreditamos que podemos crescer juntas. Sendo assim, realizamos oficinas, formações, rodas de conversa aprimorando as técnicas de cada empreendedora e dialogando o saber com a comunidade.”

Achados e potências do programa

Da chegada ao programa até o processo de avaliação, os empreendedores negros e negras foram adquirindo diversos aprendizados, capazes de garantir a sobrevida de seus negócios e também ampliar o impacto que já tinham em seus locais.

Segundo as próprias lideranças dos negócios, 3.020 pessoas que vivem nas comunidades próximas aos projetos foram indiretamente beneficiadas, já que o programa fomentou positivamente o espírito de pertencimento às comunidades onde estão inseridos e incentivou a realização de ações locais.

De todo o programa, os processos formativos foram o coração da jornada. No total, foram 447 horas dedicadas a aprender, sendo 282 dessas dedicadas às mentorias customizadas a cada negócio.

Sendo as periferias espaços já conhecidos de partilha de conhecimento – prática herdada pela experiência vivida em comunidade por quilombos e territórios indígenas –, no programa essa experiência de dividir os aprendizados também ficou evidente nos depoimentos colhidos.

Empreendedores narraram a realização de ações de disseminação de conteúdo e recursos para as comunidades onde estão inseridas, o que colaborou nessa ampliação em maior escala do programa, fortalecendo também os laços dos negócios, especialmente entre as mulheres negras.

As mentorias também foram benéficas para ampliar o entendimento sobre os projetos, definir prioridades, tirar dúvidas e também realizar planejamentos de mais longo prazo, já que o programa muniu essas pessoas de ferramentas sobre a prática empreendedora.

De acordo com relatos dos participantes, 69% declaram que superaram os principais desafios que tinham no início do programa. Além disso, houve um aumento de em 22% na formalização de negócios.

Tudo isso se deu a partir da ampliação da consciência sobre a importância de elementos-chave para a manutenção e continuação do negócio, como documentação, prestação de contas e planejamento de comunicação.

Muito além do programa: subjetividades em construção

Se há um elemento que atravessou toda a sociedade brasileira em meio à pandemia, isso com certeza foi o acesso à internet. Seja para estar próximo da família ou dos amigos ou, então, para acessar direitos básicos, como o Auxílio Emergencial, a internet se mostrou fundamental.

O país, no entanto, ainda possui um grande desafio quando falamos em acesso, principalmente em territórios mais afastados das regiões centrais. Esse cenário não foi diferente quando olhamos para a realidade dos empreendedores contemplados no programa.

Pelo menos 82% deles afirmam que, com o programa, conseguiram superar os desafios e inseriram seu negócio no universo virtual, fazendo da inclusão digital um dos grandes ganhos do programa, já que era permitido investir em compra de computadores ou pontos de internet.

É possível entender a importância do programa ao ouvir os próprios empreendedores. “Não tínhamos perspectiva de nada. Tínhamos um negócio que começava aos poucos. Com o edital eu fiquei um tempão sem acreditar no que tinha acontecido. Compramos matéria prima, equipamentos que tínhamos necessidade”.

Os desafios das mulheres negras que empreendem

Quando falamos em empreendedorismo, é importante lembrar que, mesmo cheia de criatividade e ótimas ideias, a população negra ainda enfrenta desafios estruturais para acessar o mercado do empreendedorismo.

Esse fato também pôde ser notado durante a realização do projeto, diante do fato de que muitas pessoas não conseguiam se dedicar integralmente ao seu negócio, pois precisavam complementar a renda das mais diversas formas, não sobrando tempo para focar no seu projeto pessoal. Dos empreendedores e empreendedoras apoiados, 53% tinham no empreendimento uma fonte de renda complementar e para 47% o negócio era a principal fonte de renda. De alguma forma, o programa também conseguiu apoiar essas pessoas, que em alguns casos estavam quase desistindo de investir tempo em suas ideias.

Sobre isso, elas refletem a respeito das dificuldades de viver do próprio negócio. “A gente sabe que mulheres negras empreendendo, muitas vezes a gente tá ali tentando fazer com que nosso negócio se torne nossa fonte de renda principal, mas a gente tem outras relações empregatícias para conseguir complementar a renda”.

Saúde Mental e Autoestima da população negra

A saúde mental e a autoestima das mulheres negras também são impactos não mensurados que valem nota, pois dizem sobre o fortalecimento pessoal dessas lideranças e a possibilidade de darem continuidade aos seus projetos com autonomia.

“Não acreditávamos que um projeto poderia visar pessoas negras e pobres sem querer nada em troca. Não acreditávamos que teríamos visibilidade”, é o que diz uma das empreendedoras ouvidas.

Ao ouvirmos o público apoiado pelo projeto, a questão racial também esteve em evidência. Para eles e elas, o programa foi um modo de, mais uma vez, refletir sobre os preconceitos raciais que vivenciam enquanto pessoas negras inclusive para empreender, tornando-se um limitador do próprio trabalho.

Para uma delas, se existe um jeito de “bater na cara do sistema” é quando mulheres negras conseguem mostrar suas capacidades. “É quando a gente coloca a cara a tapa e prova que é possível, principalmente nós, mulheres, negras, jovens, rurais, quilombolas. Tem toda uma bagagem que está fora do padrão de uma sociedade preconceituosa do jeito que é a nossa”, aponta.

Impacto e processo de aprendizagem contínua

Mais do que recursos financeiros, fica confirmada a importância de munir os empreendedores de ferramentas que os possibilitem continuar seus negócios, mesmo depois do fim de recursos iguais aos do programa.

“O edital não dava só o dinheiro, ensinava também como seguir, mostrava outros caminhos”, apontaram alguns dos empreendedores ouvidos e ouvidas.

Mostrar caminhos de autonomia, principalmente financeira, e formas de empreender que deem continuidade à ideia central é um jeito de continuar impactando tanto os empreendimentos, quanto as próprias comunidades. Dentre os cursos preferidos, estão aqueles ligados a questões financeiras, além de vendas e marketing digital. Pelo menos 68% dos participantes declararam ter aprendido com o programa.

“O dinheiro era uma coisa que nos faltava. Ter um edital que nos possibilitasse  movimentar de alguma forma era muito bom. Quando descobrimos que ainda ia ter os processos formativos, isso casava muito com aquilo que a gente já vinha conversando. O projeto já veio com um pacote completo. Foram os três percursos ideais que a gente nem esperava, mas vinha no pacote.

Reflexões finais

O programa atendeu uma demanda real de aumento de vulnerabilidade do pequeno e nano empreendedor, causada pelo agravamento da pandemia, podendo perceber que, mesmo o objetivo sendo a recuperação econômica, o projeto também teve impactos indiretos e pessoais para cada pessoa selecionada.

Mesmo não sendo possível mensurar como os recursos financeiros irão continuar colaborando para a manutenção dos negócios, com o fim do programa, é possível dizer que as mentorias e consultorias fortaleceram principalmente os empreendedores e empreendedoras com conhecimentos essenciais para continuarem seguindo com seus empreendimentos.

Destacamos que é sempre importante considerar os aspectos de desenvolvimento de capacidades e habilidades pessoais, pois esses se mostram os maiores destaques ao final do projeto, influenciando também na continuidade das atividades empreendedoras pós intervenção.

Destacamos alguns dos maiores resultados:

# 46 iniciativas e 137 empreendedores(as)  impactados diretamente

# 3.020 pessoas ligadas às comunidades dos empreendimentos foram impactadas indiretamente, com 77% das iniciativas concentradas nas periferias.

# 88% dos empreendedores afirmaram utilizar parte do recurso para aquisição de equipamentos eletrônicos para participação nas atividades virtuais do programa

# 40% dos gastos incluídos na categoria outras despesas estão relacionados a cursos e/ou consultorias técnicas para apoio aos negócios, o que demonstra como esses e essas empreendedoras estão pensando em seus negócios também a médio e longo prazo.

# Pelo menos 68% dos participantes declararam ter aprendido com o programa. Foram 447 horas de formação, sendo 282 dessas dedicadas às mentorias customizadas a cada negócio.

# 69% dos(as) empreendedores(as) superaram os principais desafios que tinham no início do programa.

# Houve um aumento de em 22% na formalização de negócios.

# Pelo menos 82% deles contaram que, com o programa, conseguiram superar os desafios e inseriram seus negócios no universo virtual.

# 78% adquiriram matéria-prima e realizaram aquisição ou manutenção de equipamentos.

# 75% compraram de fornecedores(as) da comunidade e 57% declararam  que a clientela aumentou consideravelmente.

# O Edital do Fundo Baobá foi, para muitos, a primeira oportunidade de mobilização de recursos externos, impactando na autoconfiança dos participantes.

# As falas de fortalecimento entre mulheres negras apareceram espontaneamente no processo de avaliação, mostrando a importância de ações de ampliação de autoestima e autoconfiança.

# A criação de redes de networking entre empreendedores de diferentes locais neste momento de crise pode ser encarada como um dos maiores ganhos subjetivos e qualitativos do projeto.

Morre o ator Sidney Poitier aos 94 anos

Sidney Poitier, ator norte-americano de 94 anos, morreu nesta sexta-feira, 7 de janeiro. O anúncio oficial de seu passamento foi feito pelo ministro das Relações Exteriores das Bahamas, Fred Mitchell.

Sidney Poitier nasceu em Miami, nos Estados Unidos, mas mudou-se para as Bahamas, país do Caribe, ainda criança. Voltou para os Estados Unidos aos 15 anos. Ele tinha tanto a nacionalidade do país caribenho quanto a dos Estados Unidos. Exerceu o cargo de Embaixador das Bahamas no Japão em 1997 e em 2007.

Poitier chamou a atenção mundial ao se tornar o primeiro ator negro a receber o Oscar, em 1964. por sua atuação em “Lilies of The Field” (Uma Voz nas Sombras). Ele fez o papel de Homer Smith, um homem que sofre uma pane em seu carro, para em uma propriedade rural cuidada por freiras. Elas acreditam ser ele um enviado de Deus para a construção de uma igreja no local.

A partir do Oscar, Sidney Poitier estrelou outras obras marcantes como “Adivinhe Quem Vem para Jantar” e “No Calor da Noite”. Poitier recebeu em 2001 outro Oscar, este honorário, pelo conjunto de sua obra.

Fundo Baobá prorroga inscrições do edital Negros, Negócios e Alimentação, voltado a empreendedores negros do ramo da gastronomia no Recife

Edital vai apoiar com R$ 30 mil cada uma das 12 iniciativas que forem selecionadas. Inscrições reiniciam dia 06/01 e vão até 27/01

O Fundo Baobá para Equidade Racial, com o apoio da General Mills, anuncia a prorrogação das inscrições do edital Negros, Negócios e Alimentação, uma iniciativa que vai apoiar 12 (doze) empreendimentos negros do ramo da gastronomia de consumo imediato, formalmente instalados há 2 anos ou mais na Região Metropolitana de Recife.

Os interessados poderão se inscrever entre os dias  06 de janeiro e dia 27 do mesmo mês. Para entender melhor os critérios de elegibilidade do programa e se candidatar, basta acessar o edital através deste link.

As(os) empreendedores(as)  selecionadas(os) receberão um aporte financeiro de R$ 30.000 (trinta mil reais), além de assessoria e suporte técnico, e terão 09 (nove) meses para executar os seus projetos  e apresentar a prestação de contas final.

O edital é voltado para empreendedores(as) negros(as) do setor gastronômico, com 18 anos ou mais, que tenham negócio ativo e formalizado há mais de 2 anos (CNPJ aberto em 2019 ou antes), que trabalhem com alimentação de consumo imediato, como almoços, jantares, salgados, bolos, pratos típicos e regionais, dentre todas as opções de cardápio; empresários que trabalhem com  food truck, comida de rua e que sejam ambulantes, também podem participar.

Os negócios devem estar localizados no estado de Pernambuco nas seguintes cidades: Recife, Jaboatão dos Guararapes, Olinda Paulista, Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe, Abreu de Lima, Ipojuca, São Lourenço da Mata, Igarassu, Moreno, Itapissuma, Ilha de Itamaracá e Araçoiaba. Sendo que propostas apresentadas por mulheres negras cis ou trans e de empreendedores(as) negros(as) que nunca foram apoiadas(os) pelo Fundo Baobá para Equidade Racial serão priorizadas. 

A iniciativa

Para as pessoas negras que empreendem, o ramo gastronômico está entre as 10 áreas de maior presença no mercado. Entretanto, com a crise econômica agravada pela pandemia do COVID-19, muitos pontos de venda fixos foram impactados negativamente, em especial, os negócios cujos donos eram mulheres.

Pensando em contribuir para a recuperação econômica desses negócios e promover aos empreendedores e empreendedoras negros(as) a ampliação de suas capacidades de planejar, fazer gestão, inovar, ampliar ou estabelecer uma infraestrutura mínima para sustentabilidade de seus  negócios, o Fundo Baobá, com o apoio da General Mills, empresa global de alimentos dona de marcas como Yoki, Kitano e Häagen-Dazs no país, promove o edital Negros, Negócios e Alimentação.

O objetivo do projeto é criar condições para que os empreendedores escolhidos conheçam a fundo os seus negócios e as suas capacidades a fim de gerar um impacto positivo em toda a comunidade, a partir da expansão dos seus empreendimentos e para que sejam, num futuro próximo, geradores de novos empregos por meio da ampliação dos serviços, aumento das vendas e crescimento de antigas e novas relações de negócios. Além disso, a iniciativa tem o intuito de fortalecer e ampliar a sua jornada de diversidade e inclusão étnico-racial no Brasil. 

Realizadores

Criado em 2011, o Fundo Baobá para Equidade Racial é o primeiro e único fundo dedicado, exclusivamente, para a promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. Orientado pelos princípios de ética, transparência e gestão, mobiliza recursos financeiros e humanos, dentro e fora do país, e investe em iniciativas da sociedade civil negra para o enfrentamento ao racismo e promoção da justiça social.

A General Mills é uma empresa líder global em alimentos e trabalha “fazendo os alimentos que o mundo ama”. Com sede em Minneapolis, Minnesota, EUA, a companhia chegou ao Brasil em 1997. Em novembro de 2020, assumiu publicamente o compromisso de ser um instrumento importante de mudança promovendo iniciativas práticas para equidade racial. Ao reconhecer que o racismo deixa marcas todos os dias em diversas sociedades, há séculos, a empresa se mobiliza e busca contribuir para os avanços em políticas de inclusão e, sobretudo, de preservação da vida de pessoas negras.

Serviço

O quê? Prorrogação das inscrições do edital Negros, Negócios e Alimentação

Período: 06 de janeiro a 27 de janeiro às 17h

Inscrições: https://baoba.org.br/edital-negros-negocios-e-alimentacao/ 

Público-alvo: empreendedoras(es) negras(os) da área de alimentação de pronto consumo da região metropolitana do Recife com registro formal até 2019.

Meet Giovanni Harvey, New Executive Director of the Baobá Fund

In an interview, former deliberative council’s chairman speaks of Baobá’s accomplishments

By Ingrid Ferreira and Wagner Prado

On December 9, the Baobá Fund for Racial Equity underwent a major change in its executive direction. Giovanni Harvey, chairman of the deliberative board since 2018, became the executive director of the organization.

In an interview for the Baobá Fund newsletter, Harvey talks about his professional trajectory, his expectations, contributions and future plans for the Baobá Fund, as the person in charge of the executive management.

You left the Deliberative Council in order to administer the Baobá Fund for Racial Equity’s Executive Board. How will your experiences as Chairman of the Board contribute to your performance as the Executive Director?

Giovanni Harvey – My professional relationship with the Baobá Fund began in 2017, when I was hired to structure the institution’s Strategic Plan for the 2017 to 2026 cycle. After concluding that task, I was invited to join the deliberative council and in 2018, I was elected president of the aforementioned board. In April 2021, I was re-elected for a second term, until 2024, when I resigned in order to take on the executive board office.

In 2017, in order to carry out the consultancy, I had to study the entire history of the Baobá Fund, seeking to understand its functioning processes, define the main objectives, learn about its potential and identify the challenges. The work included conducting a series of interviews with the founders, partners and funders. It was based on this knowledge, along with my experience over the last 30 years, that I was able to become the chairman of the deliberative council.

The roles I had on the deliberative board are different from those I will play in the executive board. The deliberative council is responsible for formulating the institutional strategy, the political representation (in a broad sense) of the Baobá Fund as well as the social control of management. The executive board is responsible for the operationalization of the strategy outlined by the deliberative council, the institutional articulation (in a strict sense), for managing the endowment and for the implementation of established programmatic guidelines.

I believe that my career at the Baobá Fund, combined with the experiences I have had as a manager of companies, social organizations and public policies (at the municipal, state and federal level) will contribute to my being able to continue the work that was developed throughout the last seven years by my predecessor, the executive Selma Moreira.

As the executive director, what are your goals for the Baobá Fund?

Giovanny Harvey – A goal is the quantified objective. Based on this premise, I plan to increase the endowment towards an estimate of R$250 million, which will allow us to make annual withdrawals capable of meeting the most sensitive demands of organizations and people who work in the black movement.

The Baobá Fund has interventions centered on context analysis and active listening to the field. In other words: calls for proposals are elaborated as necessities are mapped. Is Baobá concurrently empirical and scientific?

Giovanni Harvey – The Baobá Fund’s strategic objective is to make financial resources available, derived from the endowment´s fund revenue percentages that may be withdrawn annually. It may also utilize the funding that is raised with individuals and legal entities in order to finance (through non-refundable donations) organizations, groups, collectives and black leaders that struggle against racism, support the defense and assurance of rights and promote racial equity.

The quality of the financial resources offered to these organizations and people by the Baobá Fund depends mainly on three factors:

  1. Alignment of the Baobá Fund’s program guidelines to the demands of black organizations, groups, collectives and leaders;
  2. Degree of autonomy of the Baobá Fund to direct resources towards the aforementioned demands made by black organizations groups, collectives and leaders;
  3. Assessment of achieved results.

These three factors demand, not only from the Baobá Fund, but from any institution that seeks to intervene in the struggle against structural racism, and the asymmetries based on ethnic prejudice and discrimination, a combination that involves legitimacy, scientific knowledge and capacity to dialogue with black people who lead initiatives to combat racism and promote racial equity in diverse sectors of society. Added to this is the ability to listen, dialogue and positively contribute to building consensus within the ecosystem of philanthropy, private social investment, the Network of Funds for Social Justice and international cooperation.

Giovanni Harvey – Executive Director of the Baobá Fund for Racial Equity

The creation of the Investment Committee, among other developments, have led the Baobá to build an endowment of over R$60 million. What number figures you planning to achieve? 

 

Giovanni Harvey – The establishment of the Investment Committee, formed by three top-level professionals (Felipe Souto Mayor, Leonardo Letelier and Gilvan Bueno) reflects the Baobá Fund’s level of institutional maturity and its commitment to excellence in the management of the Endowment Fund.

In addition to the Investment Committee, we have a Fiscal Council (Mário Nelson Carvalho, Marco Fujihara and Fábio Santiago) that has contributed with recommendations that resulted in adopting the best compliance practices.

Under the security provided by these institutional foundations, as well as their reputation, I will work towards the R$250 million reais endowment.

 

Beyond the numbers, what are your aspirations as the new Executive Director?

 

Giovanni Harvey – I seek to continue the investment on the professionals who work at the Baobá Fund, contributing to the permanence of the fraternal and collaborative environment I have encountered.  Moreover, I aim at expanding the use of technological solutions that allow us to improve institutional performance in the three dimensions defined in the Strategic Plan: mobilization of resources, institutional articulation and programmatic investments; contributing to the strengthening of institutions and networks operating in the field of philanthropy, private social investment and social justice.

Is there anything that Baobá has not done during your term as chairman of the board, and that you would want to implement?

 

Giovanni Harvey – No, there´s not, quite the opposite. The main reason that led the deliberative council to appoint me to succeed the executive Selma Moreira was to ensure the continuity of what has been accomplished. This is not the time to “invent the wheel” nor to “rock the boat”.

 

What is your analysis of the Donation Circle started by the Baobá Fund? What is the relevance of the roles played by Executive Gilberto Costa (JP Morgan) and Executive Rita Oliveira (The Walt Disney)? 

 

Giovanni Harvey – The “Donation Circle” is a fundraising strategy developed by the Baobá Fund team, under the leadership of Selma Moreira, Fernanda Lopes and Ana Flávia Godoi. One of the premises of this strategy is the recognition of the role of black people in resource mobilization processes (in a broad sense) on behalf of Racial Equity. In this regard, the Baobá Fund has the privilege of counting on the engagement of two top professionals, Gilberto Costa who is Executive Director of Pact for Racial Equality and the Executive Director of JP Morgan and the Head of Diversity and Inclusion LatAm at Walt Disney Company, Rita Oliveira. They are engaged in the interventions and activities developed under the “Donation Circle” campaign.

 

Is the Baobá Fund confident in promoting the mobilization of a donation culture among individuals? Is it possible to foster this motivation on people who live in a country with such precarious economy?

Giovanni Harvey – The percentage of donations made by individuals to the Baobá Fund has been growing in recent years and all indicators point to the growth of this category of fundraising (with individuals and companies).

The contribution of individuals on behalf of Racial Equity is part of the history of Brazil and dates back to the struggle that black people undertook in search of freedom, as well as the numerous initiatives that constituted the abolitionist movement.

 

The process of building the propelling mechanism, funded by the Kellogg Foundation for nearly 15 years, which mobilized approximately 200 black people and/or organizations operating in Brazil´s northeastern region, resulting in the implementation of the Baobá Fund, had as its starting point the legacy of black philanthropy in the struggle against enslavement.

 

For these reasons, I am absolutely convinced that we are going to expand the engagement of individuals, investing in communication tools so that people may follow what we do with the resources we raise, and particularly, the results that are being achieved.

 

The contribution of individuals and withdrawing proceeds from the endowment fund were fundamental for the Baobá Fund to have the necessary resources to launch, the Emergency Call for Proposals in Support for Actions to Prevent Coronavirus in early April 2020. It was the first intervention of this nature carried out in Brazil, less than 30 days after the issuance of the first public calamity decree due to the pandemic. The Baobá Fund provided support to 215 people and 135 organizations that benefited from these resources.

 

Thinking in terms of donation, what plea would you make for people to donate?

 

Giovanni Harvey – The Baobá Fund has carried out a series of initiatives and campaigns aimed at mobilizing resources and, in my opinion, they have met all of our communication expectations.

The Deliberative Council is now honored by having Sueli Carneiro as its president and Amalia Fischer as vice-president. It is constituted by André Luiz de Figueiredo Lázaro, Edson Lopes Cardoso, Elias de Oliveira Sampaio, Felipe da Silva Freitas, Martha Rosa Figueira Queiroz, Rebecca Reichmann Tavares, Taís Araújo and Tricia Viviane Lima Calmon, is currently deliberating over this topic and, in due course, it will contribute so that the calls will be strengthen ongoing fundraising initiatives, carried out with a high level of dedication and professionalism.

My commitment as a manager is to continue investing in improving the Baobá Fund´s performance, in order to provide feedback to fundraising initiatives and campaigns with (increasingly more detailed) information on how resources are being used and with scientific indicators that demonstrate the results being achieved.

The Baobá Fund will continue to fulfill its institutional mission, strengthening ties with organizations, groups, collectives and leaders of the black movement that form its foundational base, along with the network that makes up the GIFE – Grupo de Fundos, Fundações e Empresas (Group of Funds, Foundations and Companies). We will work in order to strengthen and promote diversity in the philanthropy ecosystem in Brazil and abroad. 

New Times: Baobá Fund 2021

The Baobá Fund for Racial Equity wants to make a proposal to you: a reflection on what positively happened in 2021. We all know that, from 2020 until now, it has not been easy for anyone. But we cannot bend. Science has greatly contributed to guide us along safe paths. The waves of optimism emanating from each one of us joined together to form a kind of protective shield, whose energy is called hope.

It is with high expectations that Baobá ends 2021 and sees the approach of 2022. And why is that? Because if it was possible to perform well in a difficult year, it is a dream that will move us to do even better in 2022.

In 2021, the Baobá Fund for Racial Equity is commemorating a decade of activities dedicated to mobilizing people and resources to promote structural social changes and combat racism against the black population.

Baobá has already achieved a lot, but it is necessary to go further. The resources are directed, via public notices, to individuals, organizations, groups and collectives that work to promote racial equity and social justice for the black population in Brazil.

In the year 2021, the Baobá figures were as follows:

 Donations: 

      • R$ 2.909.814,43 or US$ 646.625,43 (US$ 1 = R$ 4,50)

         

Ongoing calls for proposal:

      • Já é Program – 75 young people
      • The City We Want Project – 08 organizations
      • Black Lives Project: Dignity and Justice – 10 initiatives 
      • Maroons in Defense: Lives, Rights and Justice – 35 initiatives 

Opened Calls for Proposals :

      • Blacks, Business, Food: Recife and Metropolitan Region – 12 businesses

Calls for proposals in concluding phase: 

      • Marielle Franco Program – 59 leaders and 14 organizations
      • Economic Recovery Program – 137 entrepreneurs

 

It is extremely important for the Baobá Fund to highlight the presence of those who established a partnership with us. Partners are essential for the implementation of so many projects that have been contributing to the transformation of countless people. Throughout 2021, we signed 11 partnerships that we highlight here: Google.org, Global Given, Cargill, Accenture do Brasil Ltda, IAF Rede de Fundos Parc, Wellspring, General Mills, Met Life, Mover, Unibanco Institute and Verizon.

Much more than numbers, the Baobá Fund is concerned with supporting the growth of people, strengthening organizations, groups and collectives. Hence, along with donations, we encourage individual and organizational knowledge. As program director Fernanda Lopes explains: “philanthropy to promote racial equity does not need resources and opportunities for development. Since 2019, we have been building exchange spaces and learning paths for and with our sponsors. We have learned a lot and now we are elaborating Training Journeys for all calls for proposals. It’s a marriage: financial support and training, and activities usually take place in real time. In the Black Lives: Dignity and Justice call for proposals, we innovated by making new content available for remote access. It would be something exclusive to the organizations selected in this call. But after internal and external dialogues, we chose to make the contents available to all individuals and companies supported by the Baobá during its 10 years of operation. We are gradually expanding access, building new materials that dialogue with different segments of the black population with whom we work in partnership. “We are a black organization, the only one in the philanthropy ecosystem in Brazil, we need to build a different relationship with our grantees, a relationship that goes beyond financial support. This is what will be able to foster changes”, complements Lopes.

The themes that make up this Training Journey are diverse: Digital and Information Security; Records and Institutional Memory; Governance; Defense of the Right of Defense; Monitoring and Evaluation; Strategic Communication; Planning and management; Racial Justice; Criminal Justice and Institutional Capabilities. Therefore, Baobá’s relationship with its grantees goes far beyond financial support.

The Baobá Fund will start 2022 with even more focus on expanding opportunities for the development of organizations, groups, black collectives and black people on the move. They are the reason for the commitment that we have shown in these 10 years of existence. May our efforts and that of many others who are engaged in the quest for racial equity, lead us to an egalitarian world.

The Baobá Fund is moving towards these new times of valued lives and effective rights!

Novo tempo: O 2021 do Fundo Baobá

No novo tempo / Apesar dos castigos
Estamos crescidos / Estamos atentos / Estamos mais vivos /
Pra nos socorrer / Pra nos socorrer / Pra nos socorrer

Novo Tempo: Ivan Lins e Vitor Martins

O Fundo Baobá para Equidade Racial quer fazer uma proposta a você: uma reflexão sobre aquilo que de positivo aconteceu em 2021. Todos sabemos que, de 2020 para cá, não tem sido fácil para ninguém. Mas não podemos nos vergar. A Ciência em muito contribuiu para nos guiar por caminhos seguros. As ondas de otimismo emanadas por cada um de nós foram se juntando para formar uma espécie de escudo de proteção, cuja energia se chama esperança. 

É com muitas expectativas que o Baobá encerra 2021 e vê a aproximação de 2022. E por que disso? Porque se foi possível atuar bem em um ano complicado, é um sonho que vai nos mover para fazer ainda melhor em 2022.

Em 2021, o Fundo Baobá para Equidade Racial está comemorando uma década de atividades dedicadas a mobilizar pessoas e recursos para promover mudanças sociais estruturantes e o enfrentamento ao racismo contra a população negra. 

O Baobá já conquistou muito, mas é preciso ir além. Os recursos são direcionados, via editais, para pessoas físicas, organizações, grupos e coletivos que atuem na promoção da equidade racial e da justiça social para a população negra do Brasil. 

No ano de 2021, os números do Baobá foram os seguintes: 

Doações 

R$ 2.909.814,43 ou US$ 646.625,43 (US$ 1 = R$ 4,50)

 

Editais em curso 

Programa Já é – 75 jovens
Projeto A Cidade que Queremos – 08 organizações
Projeto Vidas Negras: Dignidade e Justiça – 10 iniciativas
Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça – 35 iniciativas

 

Editais com inscrições abertas

Negros, Negocios, Alimentacao: Recife e Regiao Metropolitana – 12 empreendimentos

 

Editais em  fase de conclusão

Programa Marielle Franco – 59 lideranças e 14 organizações
Programa Recuperação Econômica – 137 empreendedores (as)

É de extrema importância para o Fundo Baobá salientar a presença de quem firmou parceria conosco. Os parceiros são fundamentais para que possamos implementar tantos projetos que estão contribuindo para a transformação de um sem número de pessoas. Ao longo de 2021 firmamos 11 parcerias aqui destacadas: Google.org, Global Given, Cargill, Accenture do Brasil Ltda, IAF Rede de Fundos Parc, Wellspring, General Mills, Met Life, Mover, Instituto Unibanco e Verizon.  

Muito mais que números, o Fundo Baobá está preocupado em apoiar o crescimento das pessoas, fortalecer as organizações, grupos e coletivos. Daí o procedimento de, junto com a doação, incentivarmos o saber individual e organizacional. Como explica a diretora de programa, Fernanda Lopes: “a filantropia para promoção da equidade racial prescinde de recursos e oportunidades para o desenvolvimento. Desde 2019 temos construído espaços de trocas e trilhas de aprendizagem para e com os nossos apoiados. Temos aprendido muito e agora estamos organizando, para todos os editais Jornadas Formativas. É um casamento: apoio financeiro e formação, as atividades geralmente ocorrem em tempo real. No edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça, inovamos disponibilizando conteúdos inéditos para acesso remoto. Seria algo exclusivo para as  organizações selecionadas neste edital. Mas após diálogos internos e externos, optamos por disponibilizar os conteúdos para todas as pessoas físicas e jurídicas apoiadas pelo Baobá em seus 10 anos de atuação. Aos poucos vamos ampliando o acesso, construindo novos materiais que dialoguem com os diferentes segmentos da população negra com quem atuamos em parceria. “Somos uma organização negra, a única no ecossistema de filantropia no Brasil, precisamos construir uma relação diferente com nossos donatários, uma relação que vá além do apoio financeiro. É isso que poderá fomentar mudanças”, complementa Lopes.

Os temas que compõem esta Jornada Formativa são diversos: Segurança Digital e da Informação; Registros e Memória Institucional; Governança; Defesa do Direito de Defesa; Monitoramento e Avaliação; Comunicação Estratégica; Planejamento e Gestão; Justiça Racial; Justiça Criminal e Capacidades Institucionais. Portanto, a relação do Baobá com seus donatários vai bem além do apoio financeiro. 

O Fundo Baobá vai iniciar 2022 ainda com mais foco na ampliação de oportunidades para o  desenvolvimento das organizações, grupos, coletivos negros e das pessoas negras em movimento. São elas a razão do empenho que temos demonstrado nesses 10 anos de existência. Que os nossos esforços e de muitos outros engajados, engajadas, engajades na busca pela equidade racial nos leve a um mundo equânime.

O Fundo Baobá está indo ao encontro desse novo tempo de vidas valorizadas e direitos efetivados!

Consciência Negra: os muitos caminhos que podem levar a ela

O parecer de quem trabalha com a economia,  na busca por justiça
e
valorização da mulher sobre o que é ter posicionamento étnico

Por Wagner Prado

Os filósofos definiam o termo Movimento como toda a alteração de uma realidade. A mudança qualitativa de um corpo (a semente que se torna em árvore ou a criança que se torna adulta) pode ser classificada como Movimento. A tomada de consciência sobre algo também pode ser classificada da mesma maneira. Adquirir consciência negra pode ser algo como libertar a mente de tudo o que foi imposto culturalmente e formar, a partir do conhecimento da realidade, uma identidade própria. A identidade negra.

Mas a vida é composta de vários temas que influenciam nossos pensamentos e ações. Economia, Cultura, Educação, Saúde e Trabalho, por exemplo, influenciam a maneira de ser da maioria das pessoas. Ouvimos a administradora Clara Marinho  e duas representantes do Mulheres Negras Decidem (MND), Diana Mendes e Tainah Pereira, cujos projetos foram apoiados pelo Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, e o diretor executivo da Iniciativa Negra Por Uma Nova Política Sobre Drogas, Dudu Ribeiro. A Iniciativa Negra é um dos donatários do Fundo Baobá no edital Vidas Negras, Dignidade e Justiça, e também duas representantes do Mulheres Negras Decidem (MND), Diana Mendes e Tainah Pereira. 

Graduada em Administração pela Universidade Federal da Bahia, com mestrado em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Clara Maria Guimarães Marinho Pereira, ou Clara Marinho, é analista de Planejamento e Orçamento desde 2017 e atua na Coordenação de Acompanhamento de Programas da Educação da Secretaria de Orçamento Federal do Ministério da Economia. Ela vive em Brasília e no ano de 2018 foi uma das selecionadas do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco com o projeto Construindo a Liderança na Administração Pública Federal. 

Clara Marinho, relacionada pela ONU como uma das pessoas negras mais influentes no mundo

Em 2021 Clara Marinho foi eleita pelo projeto Década Internacional dos Afrodescendentes (2015 a 2024) como uma das pessoas afrodescendentes mais influentes no mundo. O projeto é da Organização das Nações Unidas e reúne pessoas indicadas pelo Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU, especificamente no trabalho à promoção dos direitos do povo negro. 

Para a administradora, ter Consciência Negra é ter o conhecimento do passado e a percepção do que ocorre no presente e poderá ocorrer no futuro . “É um termo sobretudo com uma consciência histórica de passado, de presente e de futuro, sobre passado significa entender que há uma contribuição profunda do continente africano à humanidade. Ela foi uma contribuição em variados campos do conhecimento, que foi sistematicamente apagada, destruída das suas origens. Toda a individualidade do continente africano é apagada para o ocidente. Então, a primeira coisa é entender que há uma contribuição milenar dessa população (negra) à humanidade. Sobre o presente,  significa entender que  esse apagamento significa que nós fomos empobrecidos, empobrecidos nas nossas referências, empobrecidos das nossas riquezas. Entender que nós não viemos para o novo mundo a passeio. A nossa diáspora não aconteceu a passeio, né? Mas, a despeito de tudo isso, nós construímos essas nações. Então, diz respeito a entender a nossa contribuição para o desenvolvimento cultural, econômico, social dessa sociedade, do novo mundo. Sobre o futuro, significa entender que não há projetos de sociedades inclusivas que não levem em consideração o nosso trabalho e a nossa contribuição.  Então, é uma consciência de trânsito entre os tempos, mas que aponta para um futuro melhor, para um futuro promissor. É assim que eu vejo a consciência negra: uma consciência sobre a integração da humanidade nos seus melhores aspectos”, afirma. 

O coletivo Iniciativa Negra Por Uma Nova Política Sobre Drogas teve o projeto “Iniciativa Negra por Direitos, Reparação e Justiça” classificado entre os 12 escolhidos pelo Fundo Baobá no edital Vidas Negras, Dignidade e Justiça, que conta com apoio do Google.Org . 

Dentro da principal premissa do edital: apoiar entidades negras que atuam no enfrentamento do racismo e incorreções que ocorrem dentro do sistema de Justiça Criminal no Brasil, o Iniciativa Negra foca a atual política de combate às drogas no país e como ela está sendo usada como ferramenta de opressão à população negra. 

Dudu Ribeiro, co-fundador e diretor executivo do Iniciativa Negra Por Uma Nova Política Sobre Drogas, é formado em História pela Universidade Federal da Bahia, tem especialização em Gestão Estratégica de Políticas Públicas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e é mestrando do programa de pós-graduação em História da Universidade Federal da Bahia. Para ele, se olharmos pelo prisma da população negra brasileira, historicamente discriminada, consciência negra é “uma das construções fundamentais do movimento negro brasileiro, tanto para construir um percurso positivo da participação negra na sociedade brasileira como também para apresentar uma agenda antirracista para a sociedade brasileira. A consciência negra faz parte da disputa narrativa sobre a construção do Brasil, o que coloca a questão racial no centro da sua elaboração”, define. 

Dudu Ribeiro, diretor executivo da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas

Clara Marinho fala, agora, especificamente sobre a questão da consciência negra frente à questão econômica. “Ser um negro ou negra  consciente  no campo da Economia significa assumir que ela,  a economia,  não é neutra. Ela é sujeita a interesses, sujeita a ideologias, a relações de poder.  Qualquer que seja o referencial teórico, entendam que essa é a questão principal.  Então,  você pode trabalhar com modelos que  tentam quantificar a discriminação racial no mercado de trabalho, você pode pensar também em termos de relações internacionais de produção e trabalho,  pensar que existe uma extração de valor de mercadorias que são menos sofisticadas em relação às produzidas nos países do centro do capitalismo. Mas você sabe quem são as populações que estão produzindo isso;  quem são essas populações exploradas; quais são os territórios que estão sendo vulnerabilizados. Então, eu entendo que  isso tenha que ser  levado em consideração. O racismo é o elemento fundamental da organização da sociedade capitalista e ignorar que isso existe é um erro. Penso assim!” 

A educação cidadã é outro ponto de fundamental importância para se observar o nível de conscientização das pessoas. Organização apoiada pelo Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, iniciativa do Fundo Baobá em parceria com a Fundação Kellogg, Instituto Ibirapitanga, Fundação Ford e Open Society Foundations, a coletiva Mulheres Negras Decidem trabalha na qualificação e promoção de uma agenda que seja liderada por mulheres negras na política institucional. O objetivo é fazer com que elas tenham maior representatividade na política, já que são o maior grupo demográfico do país (28%), mas ocupam apenas 2% das cadeiras no Congresso. Participar da vida política brasileira é uma forma de ter consciência e contribuir com mudanças. “Uma compreensão madura sobre de que forma participar da política na sua cidade, estado ou país advém, sobretudo, da experiência. E o despertar para essa necessidade de estar implicada ou implicado no processo político depende, muitas vezes, de estímulos externos. No caso de crianças e jovens negros e negras esse ponto de partida pode estar na escola ou na família. Mesmo crianças são capazes de compreender a importância da luta pela afirmação de identidades e garantias de direitos”, afirma a bacharel em Relações Internacionais e em Políticas Públicas pela Universidade Federal do ABC (UFABC), Diana Mendes, co-fundadora do Mulheres Negras Decidem. 

Diana Mendes, co-fundadora do Mulheres Negras Decidem

A mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e bacharel em Relações Internacionais pela Universidade Estácio de Sá, Tainah Pereira, é também conselheira do Mulheres Negras Decidem. Ela fala sobre a consciência política no voto da população negra. “Significa votar por um projeto de país que leva em conta vidas interseccionais, que enfrentam racismo, sexismo, pobreza, transfobia e outras situações. Quando se é uma pessoa negra no Brasil,  não se resume a enfrentarmos apenas questões étnico-raciais, é considerar no nosso voto condições de vida digna e respeitosa que garantam nossos direitos”, conclui.

Tainah Pereira – Conselheira do Mulheres Negras Decidem

A Iniciativa Negra Por Uma Nova Política Sobre Drogas tem atuação forte no sentido de buscar a reparação para vítimas do sistema judiciário brasileiro. Seu diretor executivo, Dudu Ribeiro, responde sobre o fato de a população negra estar sendo enredada por políticas que condenam antes mesmo de julgar. “Bom, há um julgamento, uma condenação da população negra antes mesmo de qualquer realização individual, coletiva, até porque há uma criminalização do ser negro no Brasil. O processo fundamental da escravização e da colonialidade foi a desumanização das pessoas e o processo de constituição da república impôs um olhar sobre pena, castigo, crime e punição oriundos dos quintais da casa grande,  que julga e condena a população negra. A priori,  nós temos as vidas condenadas, nós temos a pele alvo e nós temos a marca desse alvo nas costas, desde que nascemos no Brasil”, analisa. 

A análise de Dudu Ribeiro leva à reflexão de Clara Marinho sobre a importância da ocupação de espaços (de poder) pela população negra. Os gestores negros e negras têm papel fundamental para que o quadro de desigualdade e de não acesso seja quebrado. “É preciso reconhecer que as empresas e o serviço público brasileiro nascem das principais esferas de decisão. São espaços profundamente racializados e são brancos. Têm um marcador de gênero profundamente claro:  é masculino. Também têm uma sexualidade muito definida: cisgênero. Então, nós  precisamos desfazer esse estado de coisas, tomando um conjunto de ações concretas. A primeira coisa é incorporar. Incorporar é fazer com que essa força de trabalho e o processo de tomada de decisão reflita a sociedade brasileira minimamente. Há uma dificuldade histórica dessas instituições de incorporar a cara do Brasil”, declara Clara Marinho. 

Diana Mendes, do Mulheres Negras Decidem, dá o arremate final para o que considera ser uma postura de consciência de todo o povo negro. Ela cita, inclusive, um provérbio africano.  “Ter a consciência de que é necessária a valorização da nossa construção histórica e cultural enquanto um país que é fruto da diáspora africana.  ‘Até que os leões inventem as suas histórias, os caçadores sempre serão os heróis das narrativas de caça’. Ou seja,  compreender a importância de resgatar e reafirmar a nossa história enquanto população negra desde a escravização, visibilizando lideranças significativas como Zumbi dos Palmares, mas também tantas mulheres negras dos quilombos,  como Dandara, Luísa Mahin, Tia Ciata, entre outras. Além disso, valorizar em vida o legado de pessoas negras que fazem a diferença até os dias de hoje, para garantia de direitos visando um país com mais equidade racial e respeito à identidade.”

Conheça Giovanni Harvey, novo diretor executivo do Fundo Baobá

Em entrevista, ex-presidente do conselho deliberativo fala do que estava sendo realizado

Por Ingrid Ferreira e Wagner Prado

No dia 9 de dezembro, o Fundo Baobá para Equidade Racial passou por uma grande mudança em sua direção executiva. Giovanni Harvey, presidente do conselho deliberativo desde 2018, assumiu o cargo de diretor executivo da organização.

Em entrevista para o boletim do Fundo Baobá, Harvey fala sobre a sua trajetória profissional, suas expectativas, contribuições e planos futuros para o Fundo Baobá, com ele à frente da gestão executiva. 

Você sai do Conselho Deliberativo e assume a Diretoria Executiva do Fundo Baobá para Equidade Racial. Em qual sentido a experiência como presidente do Conselho vai contribuir para o trabalho do Diretor Executivo?  

Giovanni Harvey – A minha relação profissional com o Fundo Baobá começou em 2017,  quando fui contratado para estruturar o Plano Estratégico da instituição para o período de 2017 a 2026. Após a conclusão do trabalho,  fui convidado a integrar o conselho deliberativo e, em 2018, fui eleito presidente do mencionado colegiado. Em abril de 2021 fui reeleito para um segundo mandato, até 2024, ao qual renunciei para assumir a diretoria executiva.

Para realizar a consultoria, em 2017, precisei estudar toda a história do Fundo Baobá com o objetivo de entender o seu funcionamento, definir os principais objetivos, conhecer as potencialidades e identificar os desafios. O trabalho incluiu a realização de uma série de entrevistas com os fundadores, com os parceiros e com os financiadores.  Foi com base nestes conhecimentos, aliados à minha experiência ao longo dos últimos 30 anos, que me pautei no exercício da presidência do conselho deliberativo.

As funções que exerci no conselho deliberativo são diferentes das funções que vou exercer na diretoria executiva. O conselho deliberativo é a instância responsável pela formulação da estratégia institucional, pela representação política (em sentido amplo) do Fundo Baobá e pelo controle social da gestão. A diretoria executiva é a instância responsável pela operacionalização da estratégia traçada pelo conselho deliberativo, pela articulação institucional (em sentido estrito), pela gestão do fundo patrimonial e pela implementação das diretrizes programáticas estabelecidas.

Acredito que o meu percurso no Fundo Baobá, aliado às experiências que tive como gestor de empresas, organizações sociais e políticas públicas (no nível municipal, estadual e federal) contribuirão para que eu tenha condições de dar continuidade ao trabalho que foi desenvolvido ao longo dos últimos sete anos pela minha antecessora na função, a executiva Selma Moreira.  

Como diretor executivo, quais são suas metas para o Fundo Baobá?  

Giovanny Harvey – Meta é o objetivo quantificado. Partindo deste pressuposto,  eu vou trabalhar para aumentar o fundo patrimonial na direção de um valor, que estimo hoje em R$ 250 milhões, que nos permita fazer retiradas anuais capazes de atender as demandas mais sensíveis das organizações e pessoas que atuam no movimento negro.  

O Baobá tem ações centradas em análises de contexto e escuta ativa do campo. Ou seja: os editais surgem na medida em que necessidades vão sendo mapeadas. O Baobá é empírico e científico ao mesmo tempo?  

Giovanni Harvey – O objetivo estratégico do Fundo Baobá é disponibilizar recursos financeiros, oriundos do percentual de rendimentos do fundo patrimonial que pode ser sacado anualmente ou da captação que é realizada junto a pessoas físicas e jurídicas, para financiar (através de doações não reembolsáveis) organizações, grupos, coletivos e lideranças negras que atuam no enfrentamento ao racismo, defesa e garantia de direitos e promoção da equidade racial. 

A qualidade da oferta dos recursos financeiros que o Fundo Baobá disponibiliza para estas organizações e pessoas depende, principalmente, de três fatores: 

  1. Alinhamento das diretrizes programáticas do Fundo Baobá às demandas das organizações, grupos, coletivos e lideranças negras;
  2. Grau de autonomia do Fundo Baobá para direcionar os recursos na direção destas demandas das organizações, grupos, coletivos e lideranças negras;
  3. Mensuração dos resultados alcançados.  

Estes três fatores exigem, não apenas do Fundo Baobá, mas de qualquer instituição que se proponha a atuar no enfrentamento ao racismo estrutural e às assimetrias que têm como base o preconceito e a discriminação étnica, um composto que envolve legitimidade, conhecimento científico e capacidade de dialogar com as pessoas negras que lideram iniciativas de  enfretamento ao racismo e promoção da equidade racial nos mais variados setores da sociedade. Soma-se a isto a capacidade de ouvir, dialogar e contribuir de forma positiva para a construção de consensos dentro do ecossistema da filantropia, do investimento social privado, da Rede de Fundos para a Justiça Social e da cooperação internacional. 

Giovanni Harvey – Diretor Executivo do Fundo Baobá para Equidade Racial

A criação do Comitê de Investimento, entre outras coisas, levou o Baobá a um endowment de mais de R$ 60 milhões. Em que número você pretende chegar?  

Giovanni Harvey – A criação do Comitê de Investimentos, constituído por três profissionais do mais alto nível (Felipe Souto Mayor, Leonardo Letelier e Gilvan Bueno) reflete o grau de maturidade institucional do Fundo Baobá e seu compromisso com a excelência na gestão do Fundo Patrimonial.

Além do Comitê de Investimentos nós contamos com um Conselho Fiscal (Mário Nelson Carvalho, Marco Fujihara e Fábio Santiago) que tem contribuído com recomendações que resultaram na adoção das melhores práticas de compliance.  

Com a segurança fornecida por estes lastros institucionais, e pela reputação destas pessoas, vou trabalhar na direção dos 250 milhões de reais de endowment.  

Mais que números, quais suas aspirações como o novo diretor executivo?  

Giovanni Harvey – Dar continuidade ao processo de investimento nos profissionais que trabalham no Fundo Baobá, contribuindo para a permanência do ambiente fraterno e colaborativo que encontrei; ampliar o uso de soluções tecnológicas que nos permitam melhorar a performance da instituição nas três dimensões definidas no Plano Estratégico: mobilização de recursos, articulação institucional e investimentos programáticos; e contribuir para o fortalecimento das instituições e das redes que atuam no campo da filantropia, do investimento social privado e da justiça social. 

Há algo que o Baobá não tenha feito durante seu período como presidente do conselho e agora você queira implantar?  

Giovanni Harvey – Não, muito pelo contrário. A principal razão que levou o conselho deliberativo a me designar para suceder a executiva Selma Moreira foi garantir a continuidade do que estava sendo realizado. Não é hora de “inventar a roda” e nem de “balançar o barco”. 

Que análise você faz sobre o Círculo de Doação iniciado pelo Fundo Baobá?  O papel do Executivo Gilberto Costa (JP Morgan) e da Executiva Rita Oliveira (The Walt Disney) é importante em que sentido?

Giovanni Harvey – O “Círculo de Doação” é uma estratégia de captação desenvolvida pela equipe do Fundo Baobá, sob a liderança de Selma Moreira, Fernanda Lopes e Ana Flávia Godoi. Um dos pressupostos desta estratégia é o reconhecimento do protagonismo das pessoas negras nos processos de mobilização de recursos (em sentido amplo) em prol da causa da Equidade Racial. Neste sentido o Fundo Baobá tem o privilégio de contar com o engajamento de dois profissionais do mais alto gabarito, Gilberto Costa que é Diretor Executivo do Pacto pela Equidade Racial e Diretor Executivo do JP Morgan e Rita Oliveira é Head de Diversidade e Inclusão LatAm da Walt Disney Company, nas ações e atividades que começaram a ser desenvolvidas no âmbito do “Círculo de Doação”. 

O Fundo Baobá está confiante na mobilização pela cultura de doação entre pessoas físicas? É possível levar a essa motivação pessoas que vivem em um país com economia tão precária? 

Giovanni Harvey – O percentual de participação das doações realizadas por pessoas físicas para o Fundo Baobá vem crescendo nos últimos anos e todos os indicadores apontam para o crescimento desta modalidade de captação de recursos financeiros (junto a pessoas físicas e jurídicas)

A contribuição das pessoas físicas em prol da causa da Equidade Racial faz parte da história do Brasil e remonta à luta que as pessoas negras empreenderam em busca da liberdade e às diversas iniciativas que constituíram o movimento abolicionista.  

O processo de construção do mecanismo impulsor, financiado pela Fundação Kellogg há quase 15 anos, que mobilizou aproximadamente 200 pessoas e/ou organizações negras com atuação na região nordeste e resultou na criação do Fundo Baobá,  teve como ponto de partida o legado da filantropia negra na luta contra a escravização.  

Por estas razões eu tenho a mais absoluta convicção de que nós vamos ampliar o engajamento das pessoas físicas e vamos investir em instrumentos de comunicação para que as pessoas possam acompanhar o que nós fazemos com os recursos arrecadados e, principalmente, os resultados que estão sendo alcançados.  

A contribuição das pessoas físicas e a retirada dos rendimentos do fundo patrimonial foram fundamentais para que o Fundo Baobá tivesse os recursos necessários para lançar, no início de abril de 2020, o Edital de Apoio Emergencial para Ações de Prevenção ao Coronavírus. Foi a primeira ação desta natureza realizada no Brasil, menos de 30 dias após a edição do primeiro decreto de calamidade pública em função da pandemia. 215 pessoas e 135 organizações foram beneficiadas com estes recursos. 

Pensando em termos de doação, que chamamento você faria para que as pessoas façam doações? 

Giovanni Harvey – O Fundo Baobá tem realizado uma série de iniciativas e campanhas com o objetivo de mobilizar recursos e, na minha opinião, elas atendem a todas as nossas expectativas de comunicação. 

O Conselho Deliberativo, que tem a honra de ter agora Sueli Carneiro como presidenta e Amalia Fischer como vice-presidenta, e é constituído por André Luiz de Figueiredo Lázaro, Edson Lopes Cardoso, Elias de Oliveira Sampaio, Felipe da Silva Freitas, Martha Rosa Figueira Queiroz, Rebecca Reichmann Tavares, Taís Araújo e Tricia Viviane Lima Calmon, está debruçado sobre o tema e, oportunamente, contribuirá para que os chamamentos que temos fortaleçam as iniciativas de captação que já estão sendo executadas, com elevado nível de dedicação e profissionalismo.

O meu compromisso como gestor é continuar a investir na melhoria da performance do Fundo Baobá para retroalimentar as iniciativas e campanhas de captação com informações (cada vez mais detalhadas) sobre como os recursos são utilizados e com indicadores científicos que evidenciem os resultados que estão sendo alcançados.  

O Fundo Baobá continuará a cumprir com a sua missão institucional, fortalecerá os laços com as organizações, grupos, coletivos e lideranças do movimento negro que estão na base da sua fundação, com a rede que ​compõe o GIFE – Grupo de Fundos, Fundações e Empresas. Vamos trabalhar para fortalecer e promover a diversidade no ecossistema da filantropia no Brasil e no exterior.

Fundo Baobá na imprensa em novembro

Por Ingrid Ferreira

O edital Negros, Negócios e Alimentação foi lançado pelo Fundo Baobá para Equidade Racial, no dia 18 de novembro, em parceria com a empresa General Mills. Com foco na região Metropolitana de Recife, o edital tem como premissa apoiar 12 (doze) empreendimentos negros do ramo da alimentação. Este segmento, o de empreendimentos ligados à alimentação de consumo imediato, foi especialmente impactado pela pandemia do Covid-19. O tema foi destaque  em matérias de veículos de comunicação pelo país. Para este edital atuamos em parceria com a Retruco, uma agência de jornalismo independente de Pernambuco idealizada por jovens jornalistas, cineastas e designers que buscam novas maneiras de contar histórias através da combinação de formatos audiovisuais e textuais com um olhar crítico, sensível e criativo.

A Rede de Filantropia para Justiça Social publicou a matéria “Edital Negros, Negócios e Alimentação – Recife e Região Metropolitana, pelo Fundo Baobá em parceria com General Mills” no dia 15 de novembro; enquanto o portal Leia Já, publicou no dia 18 de novembro “Edital apoia empreendedores negros do ramo da alimentação”, a Rádio Jornal do Commercio entrevistou a Diretora de Programa do Fundo Baobá Fernanda Lopes.

O edital Negros, Negócios e Alimentação foi ainda destaque nos portais: Giro News, Giro MT Notícias, JC, Tribuna do Vale, Diario de Pernambuco e na Folha de Pernambuco, Marco Zero Conteúdo, Marco Zero Conteúdo (Facebook) e na  Rádio Frei Caneca. A Retruco  também repercutiu informações sobre o edital no Twitter e replicou no Linkedin.  O site Foobiz  deu destaque ao edital.  Na mídia negra, foi noticiado na Revista Afirmativa com o título “Edital apoia empreendedores(as) negros(as) do ramo da alimentação na Região Metropolitana do Recife (PE)” e também no portal Alma Preta, com o texto Fundo Baobá lança edital para empreendedores negros do Recife e Região Metropolitana”. OBlogueiras Negras e o Negrê também fizeram registros sobre o edital. 

O Fórum Brasil Diverso 2021, que aconteceu nos dias 17 e 18 de novembro, discutiu os impactos provocados pela pandemia de Covid-19 no mercado de trabalho e na equidade racial nas empresas, e contou com a participação do ex-presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá e atual diretor-executivo da organização, Giovanni Harvey. A reportagem sobre o evento foi publicada no portal Segs. A organização também foi citada na matéria do Ecoa UOL falando sobre  diversidade em empresas conectando-se com consumidores.  

Alguns veículos de comunicação focaram o mês da Consciência Negra, ligando essa data à existência de ações realizadas pelo Fundo Baobá. A matéria “Dia da Consciência Negra: celebrando nossa ancestralidade” é uma delas. Publicado no Blog do Google, o texto aborda algumas ações realizadas pela empresa no combate ao racismo sistêmico. Entre elas,  o apoio do Google.Org ao edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça. 

O Portal do Instituto Geledés da Mulher Negra produziu a reportagem “As ações do Google para o Mês da Consciência Negra”, que também mencionou o trabalho conjunto entre Fundo Baobá e Google.Org. Por fim, o portal Net Informa falou sobre a ação de conscientização “Dia de MOVER”, que contou com rodas de conversa, vídeos, entrevistas e participação de artistas e personalidades reconhecidas na luta pela equidade racial. A matéria foi titulada “1,3 milhão de pessoas vão parar por 1 hora suas rotinas de trabalho para falar sobre o racismo estrutural”. 

No dia 26, no Ateliê de Humanidades, houve uma publicação da “Aula inaugural: Dialogando com Tilly, Furtado e Myrdal: apresentação do curso e tessituras”, com a participação do ex- presidente do Conselho Deliberativo e atual diretor-executivo, Giovanni Harvey. Já no dia 29, o Idis publicou a matéria “Saiba como doar para fundos patrimoniais”, explicando como doar para fundos que aceitam doações de pessoas físicas para aumentar o patrimônio e assim aumentar cada vez mais suas ações. A matéria citou também informações sobre a origem do Fundo Baobá, como ele é gerido e seus propósitos. 

Apoiados e Apoiadas do Fundo Baobá

No campo dos apoiados e apoiadas do Fundo Baobá, houve a publicação da matéria “Vozes contra o racismo: mulheres negras lutam por representatividade”, no Correio Braziliense. Escrita por Giovana Fischborn e tendo como personagem Clara Marinho (apoiada no Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco).  “Servidora pública é nomeada uma das pessoas negras mais influentes do mundo”, escrita por Adriana Fernandes para o portal Terra e também tendo Clara Marinho como personagem. 

O jornal O Povo, de Fortaleza, trouxe a matéria  “Websérie traz entrevistas com agentes culturais de periferias de Fortaleza”. O texto aborda ações promovidas  pelo coletivo Entre Olhos, apoiado pelo edital Primeira Infância no Contexto da Covid-19. 

Coletiva Negras que Movem 

Na coluna “Coletiva Negras que Movem”,  do Portal Geledés, com textos assinados pelas apoiadas do Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, foi publicado o artigo  “Eu não corro com lobos” escrito pela empresária Onilia Araújo. Jaqueline Fraga, outra apoiada pelo Programa de Aceleração, também foi destaque na mesma coluna do Geledés com o artigo  “Como descobri o racismo em Chiquititas 20 anos depois”.  Ainda dentro do “Coletiva Negras que Movem”, a assistente social Brígida Rocha foi a articulista de   “Inquietações e utopias escritas”. 

Confira a lista final das organizações selecionadas do edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça

O Fundo Baobá para Equidade Racial definiu hoje (21/12) a lista de 35 (trinta e cinco) organizações aprovadas no edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça. Lançado em setembro de 2021, o edital tem como propósito apoiar iniciativas e organizações quilombolas para promover a sustentabilidade econômica,  geração de renda, soberania e segurança alimentar, proteger e defender direitos quilombolas. O edital é uma iniciativa do Fundo Baobá para Equidade Racial em parceria com a Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas). O edital integra o conjunto de ações da Aliança entre Fundos por Justiça Racial, Social e Ambiental que reúne Fundo Baobá, Fundo Brasil de Direitos Humanos e Fundo Casa Socioambiental, todos membros da Rede de Filantropia para Justiça Social. As ações da Aliança são financiadas pela IAF (Fundação Interamericana). Este edital também conta com aporte financeiro do próprio Baobá. 

Os projetos selecionados foram avaliados pelo Comitê de Seleção composto por 3 representantes da Conaq,  2 especialistas indicadas pelo Fundo Baobá, e um membro de seu corpo de governança.  A avaliação foi feita com base nos critérios de relevância; coerência; consistência e sustentabilidade. 

Quem participou do comitê avaliador foi a coordenadora executiva da Conaq na Região Centro-Oeste, Sandra Braga, que ressaltou a importância da realização do edital Quilombolas em Defesa, como medida de fortalecimento para as comunidades: “O nosso povo está muito imbuído de melhorias e de fortalecimento. Então quando você vê e lê esses projetos, você compreende melhor a busca deste fortalecimento na base”.

Além da adesão e coerência com os eixos temáticos escolhidos, Braga aproveitou para exaltar a qualidade dos projetos apresentados: “Os projetos eram fantásticos, todos com muita qualidade, com muita propriedade, falando da sua ancestralidade e da sua cultura”.

Outra integrante do comitê selecionador, foi pedagoga e membro da Assembleia Geral do Fundo Baobá, Maria do Socorro Guterres que trouxe pontos importantes para o critério de seleção das projetos enviados: “Usamos a questão de estados com maiores contingentes de comunidades quilombolas, além do fator geracional e de gênero, pensando na paridade de gênero entre homens e mulheres. Outro ponto considerado para a seleção foi dos projetos que não tinham aporte financeiro de nenhum órgão”.

Foram selecionadas iniciativas das seguintes regiões do país:

23 Nordeste (65,73%) – Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte

7 Sudeste (20%) – Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo

2 Sul (5,71%) – Rio Grande do Sul

2 Centro-Oeste (5,71%) – Mato Grosso e Mato Grosso do Sul

1 Norte (2,85%) – Pará

Acerca dos eixos temáticos propostos pelo edital, foram selecionados da seguinte forma:

Eixo 1. Recuperação e sustentabilidade econômica nas comunidades quilombolas – 19 propostas

Eixo 2. Promoção da soberania e segurança alimentar nas comunidades quilombolas – 12 propostas

Eixo 3. Resiliência comunitária e defesa dos direitos quilombolas – 4 propostas

“Trata-se de um edital diferenciado, pela primeira vez estamos atuando em parceria com a CONAQ e tem sido um grande aprendizado. O grupo das organizações selecionadas têm muita experiência: 74% têm 11 anos ou mais de atuação e, ainda assim, 66% não conta com outros financiadores neste momento. Vinte e nove por cento das organizações selecionadas têm coordenação composta por maioria feminina, 26% têm equilíbrio intergeracional entre os dirigentes e 3% são organizações cuja maioria da coordenação tem até 29 anos. Há muita potência, temos certeza que serão inúmeras as mudanças vivenciadas pelas pessoas, famílias e comunidades direta e indiretamente envolvidas e outras tantas mudanças nas organizações”, afirma Fernanda Lopes, diretora de programa do Fundo Baobá.  

Para as organizações  selecionadas na etapa final do edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça, os próximos passos consistem em um encontro de orientação que será realizado em fevereiro de 2022, além de sessões de assessoria técnica para elaboração do plano de ação, orçamento, indicadores e metas para monitoramento e avaliação, previsto para o mês de março, e a assinatura do contrato e pagamento da 1ª parcela, previstos para a primeira quinzena de abril.

Confira agora a lista com as organizações selecionadas do edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça.

Nota Oficial: Mudança na diretoria executiva do Fundo Baobá

09.12.2021

Após sete anos como diretora executiva do Fundo Baobá para Equidade Racial, Selma Moreira deixa o cargo para assumir uma posição na iniciativa privada. Ela será sucedida, a partir do dia 09 de dezembro, pelo ex-presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá, Giovanni Harvey.

A competência e a dedicação de Selma Moreira deram uma inestimável contribuição ao processo de fortalecimento institucional do Fundo Baobá. 

Ela desenhou o atual modelo de governança, articulou a criação do Comitê de Investimentos e alinhou o Fundo Baobá às melhores práticas de compliance, dentre outras iniciativas. Durante a sua gestão o Fundo Baobá ampliou a vigência do contrato com a Fundação Kellogg, captou recursos que ampliaram o endowment para uma cifra superior a 60 milhões de reais, doou mais de 14 milhões de reais através de 21 parcerias institucionais e 16 editais que resultaram no apoio direto a 553 iniciativas individuais e 279 organizações negras comprometidas com a promoção da equidade racial no Brasil. Aproximadamente 500 mil pessoas foram impactadas em função destes investimentos.

O Conselho Deliberativo do Fundo Baobá, em sintonia com todas as demais instâncias da instituição, entendeu que deveria designar um membro da governança que tivesse a experiência e o conhecimento necessários para dar continuidade ao trabalho.

Giovanni Harvey foi o consultor responsável pelo Planejamento Estratégico do Fundo Baobá (2017 – 2026), passou a integrar o Conselho Deliberativo em 2018 e atualmente exercia o segundo mandato como presidente do colegiado. Ele tem 30 anos de experiência como executivo na iniciativa privada, no terceiro setor e na administração pública. Foi Secretário Nacional de Políticas de Ações Afirmativas e Secretário Executivo na Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República – SEPPIR/PR. 

Selma Moreira e Giovanni Harvey trabalharam juntos ao longo dos últimos quatro anos e a transição está sendo realizada num ambiente de harmonia e cooperação. 

Temos a firme convicção de que Selma Moreira continuará a contribuir para o fortalecimento da agenda da Equidade Racial e que Giovanni Harvey construirá um legado de igual valor como diretor executivo do Fundo Baobá. 

Sueli Carneiro
Presidenta do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá

Artigo de Selma Moreira

10 anos de história pela promoção de uma sociedade mais justa e equânime

O Baobá – Fundo para Equidade Racial foi criado em 2011  para promover equidade racial em todo território nacional. Trata-se do resultado de articulações promovidas por ativistas e militantes dos movimentos negros, bem como acadêmicos, atores da sociedade civil organizada e o apoio estruturante da Fundação Kellogg. A Organização nasceu com uma missão robusta, com foco em promover mudanças sistêmicas para o país, no que tange ao combate ao racismo e à construção de alternativas de investimentos para organizações negras e lideranças negras. 

Alcançamos nossa primeira década em um contexto muito desafiador de país — em termos políticos, sociais e econômicos–, em que os efeitos desta crise foram acentuados pela pandemia de Covid-19. Entretanto, o Fundo Baobá é uma organização em constante estado de aprimoramento, escuta ativa do campo, leitura de dados primários e secundários e processos sistemáticos de aprendizados com cada edital e novas parcerias. A organização se aprimorou durante 10 anos e sabemos que ainda há desafios a serem superados. Por isso, seguimos nos acercando dos melhores talentos no nosso time, consultores, parceiros e órgãos de governança. Dessa forma, estaremos sempre nos adaptando e abrindo as trilhas para as articulações que irão nos ajudar a construir uma nova década ainda mais pulsante e transformadora.

Celebramos 10 anos e a nossa história foi construída com base sólida e agregadora, para que pudéssemos, cada vez mais, promover estratégias de atuação capazes de  transformar vidas e mudar a sociedade.  Acreditamos que uma sociedade mais justa e equânime só será realidade se construirmos e implantarmos fortes estratégias em prol de transformações sistêmicas e, aqui no Fundo Baobá, nossos mecanismos de gestão, transparência e governança conferem solidez e instrumentos de transparência que nos conectam com os diferentes públicos de relacionamento da organização.

ASG ou ESG (em inglês)  é a sigla da vez e significa envidar esforços para promover conexão organizacional com as pautas ambientais, sociais e de governança. Ao ler o Fundo Baobá sob a luz das lentes do ASG, é notável que o DNA de constituição organizacional seja  baseado  nas práticas e valores ASG. 

Somos uma organização da sociedade civil criada em conexão com as demandas da sociedade civil brasileira, para a construção de estratégias para promoção da equidade racial e combate ao racismo: S-Social na veia.

Sendo o primeiro e único fundo filantrópico, exclusivamente focado na agenda racial, os mecanismos de  governança e transparência nos conferem  robustez institucional, prestação de contas e aprimoramento da engenharia de prestação de contas para toda sociedade brasileira e investidores sociais nacionais e internacionais. Tais práticas demonstram nossa fortaleza com relação aos mecanismos de controle, transparência e prestação de contas, compondo assim o  G-Governança. Por fim,  as pautas ambientais estão conectadas com nosso eixo de investimento Viver com Dignidade, em que apresentamos os desafios estruturais que atingem de forma acentuada as comunidades quilombolas em todo território nacional, conectando com a pauta da defesa de direitos, impactos climáticos e desigualdades estruturantes que combinam aspectos intrínsecos ao A-Ambiental.

Ser um fundo filantrópico em uma sociedade com desafios históricos no campo da equidade racial é uma missão de transformação sistêmica e que depende da ação de todos os atores, seja no campo privado, público e individual. A nossa causa está na base das desigualdades sociais que estruturam ou melhor, desestruturam a nossa sociedade e, por isso, contamos com todas as pessoas para promover as mudanças necessárias para uma sociedade mais justa, inclusiva para todes. O que você está fazendo para mudar este cenário? Vamos juntxs?

Selma Moreira

Diretora Executiva do Fundo Baobá para Equidade Racial

29/11/2021

 

Fundo Baobá divulga lista de propostas aprovadas para a última fase de seleção

O edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça,  lançado em  setembro de 2021, tem o objetivo de apoiar iniciativas de organizações quilombolas para promover sustentabilidade econômica e geração de renda, soberania e segurança alimentar e proteção dos direitos quilombolas. Ele é uma iniciativa do Fundo Baobá para Equidade Racial em parceria com a Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) e é financiado pela IAF (Fundação Interamericana).  O edital contou com 145 organizações inscritas, que participaram da primeira seleção do projeto, que teve 116 iniciativas aprovadas para esta segunda etapa, cuja lista foi divulgada em  5 de novembro. 

As propostas selecionadas foram avaliadas por 11 especialistas: 06 indicados pela CONAQ e 05 indicados pelo Fundo Baobá, vindos de diferentes lugares do país e com experiência em cada um dos eixos temáticos do edital. A avaliação foi feita  com base nos critérios de relevância; coerência; consistência e sustentabilidade. A pontuação máxima que poderia ser atingida nesta etapa foi de 50 pontos. Propostas que atingiram 25 pontos ou menos foram eliminadas. As e os especialistas que fizeram a análise do material recebido recomendaram ao comitê organizador 76 propostas a serem analisadas na terceira e última etapa do processo seletivo. 

Foram selecionadas iniciativas das seguintes regiões do país:

48 Nordeste (63,15%)
17 Sudeste (22,36%)
07 Sul (9,21%)
03 Centro-Oeste (3,94%)
01 Norte (1,31%)

Acerca dos eixos temáticos propostos pelo edital, foram selecionados da seguinte forma:

Eixo 1. Recuperação e sustentabilidade econômica nas comunidades quilombolas – 41 propostas

Eixo 2. Promoção da soberania e segurança alimentar nas comunidades quilombolas – 24 propostas

Eixo 3. Resiliência comunitária e defesa dos direitos quilombolas – 11 propostas

Entre as 76 iniciativas selecionadas para a próxima fase do edital, 48,68% das organizações contam com a maioria da sua coordenação composta por mulheres. 34,21% das organizações têm equilíbrio intergeracional entre os dirigentes, enquanto 6,57% são organizações cuja maioria da coordenação tem até 29 anos.

As organizações selecionadas para a terceira e última fase do Edital Quilombolas em Defesa terão as suas propostas avaliadas por um comitê composto por outro grupo de especialistas e membros da governança do Fundo Baobá. Será de responsabilidade do comitê selecionar as 35 (trinta e cinco) iniciativas que serão apoiadas pelo edital. As organizações selecionadas receberão assessoria técnica para a elaboração do planejamento detalhado do projeto (plano de ação, orçamento, indicadores e metas para o monitoramento e avaliação).

O resultado final do processo seletivo do Edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça será divulgado no dia 16 de dezembro, após às 19h no site do Fundo Baobá.

Confira agora a lista com as organizações selecionadas para a terceira e última fase do edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça.

Programa de Recuperação Econômica completa um ano

Duas iniciativas apoiadas pelo edital de Recuperação Econômica mudam a vida de empreendedoras e empreendedores e das pessoas ao redor delas  

Por Wagner Prado

Transformar (verbo transitivo). Significado: alterar, variar, tornar diferente do que era. Uma jornada de transformação depende de alguns fatores. Alguns deles, internos, pois dependem de vontade pessoal. Outros, externos, pois parte da disposição de outro, pessoa física ou jurídica, que propicia ferramentas de apoio ao  desenvolvimento de quem está precisando. 

Vamos abordar aqui exemplos de trajetórias de transformação. Transformação que atingiu não só aquelas e aqueles que querem empreender no Brasil, mas também todos os que são impactados pelas ações desses empreendedores. 

O momento de transformação, para muitos, teve início quando o Fundo Baobá para Equidade Racial lançou o edital Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de  Empreendedores Negros e Negras, em novembro de 2020. A Coca-Cola Foundation, o Instituto Coca-Cola Brasil, o Banco BV e o Instituto Votorantim foram parceiros do Baobá nessa iniciativa, cujo objetivo foi apoiar pequenos empreendimentos liderados por pessoas negras, priorizando aqueles que fossem localizados em comunidades periféricas ou territórios em contexto de vulnerabilidade socioeconômica.

O Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores Negros e Negras beneficiou 46 iniciativas, cada uma delas compostas por três parceiras ou parceiros. Não era necessário possuir o CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica), e cada uma das iniciativas recebeu R$ 30 mil (R$ 10 mil para cada empreendedor/empreendedora). Como premissa, o fato de não ser apenas um edital de transferência de recursos e sim uma oportunidade para promover também uma trajetória de aprendizado para que essas empreendedoras e esses empreendedores pudessem melhorar a gestão de seus negócios. 

Uma das 46 iniciativas beneficiadas pelo edital foi a Pescadoras Artesanais Beneficiárias e lntegradas, do Rio de Janeiro. As parceiras Luciana Oliveira Machado, Dayanna Barros de Souza Oliveira e Erlineia Barros de Souza Oliveira Viana decidiram promover ações que agregassem outras pescadoras como elas e, com isso, batalharem pela valorização do produto que vendem: o peixe. 

A primeira iniciativa do trio, conta Luciana Machado, foi dividir o aprendizado obtido no curso de formação realizado pela ong Fa.Vela e oferecido aos 137 empreendedores e empreendedoras que tiveram seus negócios selecionados  para esse edital. Segundo Luciana, o compartilhamento de informações e de aprendizado chegou a um número de 40 pessoas dos seguintes perfis:  adultos de 30 a 59 anos; idosos (60 ou +); negros (pretos e pardos); homens; mulheres; pessoas transgêneres; travestis e pessoas não binárias (que não se identificam nem como homem nem como mulher). 

A superação de desafios não foi esquecida. Fazer a melhor gestão do tempo e a falta do conhecimento tecnológico tiveram que ser superados. “Ter tempo para estarmos juntas e desenvolver nosso trabalho, além do domínio tecnológico, foi muito difícil para nós três. Superamos isso com as aulas do Fa.Vela e com as teorias passadas pelo Fundo Baobá”, afirmou Luciana. 

Para Dayanna Oliveira, parceira de Luciana Machado, incrementar a potencialidade de seu negócio era primordial. Para isso, um item se fazia muito necessário: um carro. Com ele, a possibilidade de, literalmente, alcançar outros públicos seria real. O recurso de R$ 10 mil recebido por ela tornou isso possível. “Além de ter investido na aquisição de computador, instalação de internet, um novo aparelho celular, mesa de trabalho para investir em atividades de publicidade, comunicação, divulgação, marketing e vendas, investi na compra de um carro para fazer as entregas do quiosque que mantenho. Antes, eu fazia as entregas de bicicleta”, disse. 

A terceira componente do Pescadoras Artesanais Beneficiárias e Integradas é Erlineia Barros de Souza Oliveira Viana. Ela conta que junto com Luciana e Dayana estão pensando em uma virada nos negócios. “Estou pensando em me juntar com as meninas em um só quiosque para trabalhar juntas. Eu aprendi a não ver os outros como concorrentes. A melhorar a união entre a gente para nos ajudar cada vez mais”, afirmou. 

Ao ser perguntada se recomendaria a outras pessoas que fizessem suas inscrições em editais promovidos pelo Fundo Baobá, Erlineia Barros de Souza Oliveira Viana é taxativa: “Sim, porque no Brasil temos muitas pessoas negras e mulheres que estão precisando só de uma oportunidade pra poder mostrar o seu talento e trabalhar”. 

Tijolos sustentáveis para mudar realidades 

A transformação do negócio e seu fortalecimento foram as respostas mais dadas pelos empreendedores quando questionados sobre os motivos que os levaram a participar do  edital Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores Negros e Negras. Essas também foram as motivações de três amigos do estado do Rio, que decidiram investir em algo que possa facilitar o sonho de uma gama infinita de brasileiros: ter a casa própria.  Além disso, eles também não esqueceram de algo importante para o país e para o mundo: as mudanças climáticas. Moradias sustentáveis podem, e muito, contribuir para que o clima não sofra as interferência do Homem. 

Na recente COP 26 (Conferência das Partes para Discussão das Mudanças Climáticas), realizada na primeira quinzena de novembro em Glasgow (Escócia), um dos principais temas foi o das construções sustentáveis. Os edifícios residenciais e comerciais espalhados pelo mundo são responsáveis pela emissão de 40% da emissão de gases estufa no planeta, além de, infelizmente, contribuírem com o consumo de 50% de toda energia produzida no planeta. Soluções sustentáveis têm que ser buscadas. 

Embora dados de 2019 da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontem que a maioria dos brasileiros residam em imóveis próprios (85,6%), dados de pesquisa realizada feita pela Fundação João Pinheiro, de Minas Gerais,  indicam um déficit habitacional de aproximadamente 6 milhões (5,876 milhões) de moradias no país. 

Com o objetivo de construir casas populares sustentáveis e com baixo custo,  três pequenos empresários se juntaram. Gilberto Muniz, Ronaldo Rodrigues e Igor Fernandes de Souza encabeçam o projeto Casas Populares e Sustentáveis. “Nossa Iniciativa visa facilitar o acesso a casas através do método de construção com bloco solo cimento. Pretendemos atuar nas seguintes frentes: treinamento de pessoal para uso do bloco, fabricação e venda do bloco, execução e venda de projetos para uso deste bloco e construção e venda de casas”, afirma Gilberto Muniz.  “Somos uma iniciativa para movimentar a construção civil, atendo as classes de baixa renda”, afirma Igor Fernandes de Souza. 

Igor (à esquerda), Gilberto (no meio) e Ronaldo (à direita)

O principal desafio apontado por Ronaldo Rodrigues para alavancar o projeto do Casas Populares e Sustentáveis estava nas vendas do produto que fabricam: os blocos de tijolos. 

O desafio de incrementá-las está sendo vencido com o aprendizado de itens estudados nos cursos de formação do edital, como planejamento e gestão do negócio; planejamento financeiro; gestão e controle financeiro;  comunicação e marketing; precificação e vendas on line e offline. “O Programa abriu meus olhos para as redes sociais, mostrando que temos que fazer delas uma ferramenta forte para divulgação do nosso projeto”, afirma Ronaldo Rodrigues. 

A importância de fazer doações para o Fundo Baobá

Doação é uma ação transformadora para quem faz e para quem a recebe

Por Wagner Prado

Você já ouviu falar no conceito de sociedade co-responsável? Nela, o fundamento primordial no pensamento e atitude das pessoas é: Necessariamente, eu não vivo essa situação. Mas não posso ignorá-la. Ela me diz respeito, pois atinge outras pessoas e isso me incomoda a ponto de me fazer um agente de transformação. 

Uma forma de contribuir para a transformação e fazer parte da sociedade co-responsável é exercendo a doação. Dos mais favorecidos economicamente aos não tão bem favorecidos assim, todos podem doar. 

O Fundo Baobá para Equidade Racial, primeiro e único fundo dedicado,  exclusivamente, à promoção da equidade racial para a população negra no Brasil, vem realizando seu trabalho de captação de recursos há 10 anos. Tem encontrado, principalmente entre fundações ed institutos, parceiros que têm dado importante suporte financeiro propiciando, ao longo dessa jornada, o investimento de mais de R$ 14 milhões por meio de  16 editais e alguns apoios pontuais, financiados por 21 importantes parceiros. 

Agora, o Fundo Baobá está voltado também para um outro segmento: o das pessoas físicas. O Fundo já conta com pessoas físicas que decidiram doar e fazer parte da sociedade co-responsável, mas esse número precisa crescer significativamente. Juntar  muito mais gente que considere que, com a força delas, o Brasil será um país justo. Daí a promoção da filantropia para a equidade racial. 

Os mais diversos sentimentos levam as pessoas a praticar o ato da doação. Nos depoimentos aqui, por questões de confidencialidade e segurança, não serão divulgados nomes de doadoras e doadores. O objetivo dos contatos foi saber o que os move a fazer doações para o Fundo Baobá, como disse um doador de sexo masculino,  de São Paulo.  

Ao longo dos últimos anos, as questões de equidade racial vêm ganhando força em diversos âmbitos: nas empresas, na educação e na sociedade em geral. O Fundo Baobá tem um importante papel no desenvolvimento e na maturação dessa conversa. Especialmente porque a visão da organização vai além da inclusão. O Fundo Baobá dialoga com questões mais profundas da população negra, como racismo estrutural, cultura negra e ancestralidade”

Mulher com forte perfil como ativista política. Esse ativismo a fez despertar para as causas sociais. 

 “Trabalho no Terceiro Setor em defesa das causas feministas. Acredito na igualdade de direitos em todos os sentidos. Esse meu ativismo me levou também a ser doadora do Fundo Baobá. Quero contribuir para uma sociedade plural e igualitária” 

Homem de São Paulo afirmou que sua contribuição foi pequena, mas quando acompanha as notícias sobre os editais lançados pelo Fundo Baobá, sente que seu ato de doação foi transformador. 

“Saber que o pouco que eu coloquei no Fundo Baobá pode ter ajudado uma criança, uma mulher negra mãe, empreendedora, quilombola, um jovem negro ou uma jovem negra estudante que sonha chegar ao ensino superior público, isso dá uma grande satisfação. O que coloquei lá foi pouco, mas sei que foi muito bem empregado” 

Os depoimentos acima corroboram o que falou o professor Helio Santos, doutor em Administração e Mestre em Finanças, um dos fundadores do Baobá. Para ele, a grande transformação da sociedade brasileira está na filantropia para a equidade racial. 

“A filantropia racial hoje é o tema da sociedade brasileira. O Fundo Baobá tem muito a ver com isso, porque ele é o primeiro Fundo criado com essa vertente e organização. A missão dele é exatamente transferir e fomentar recursos para as organizações negras”  

Helio Santos, doutor em Administração, mestre em Finanças e professor convidado na Universidade do Estado da Bahia (Uneb)

No Dia de Doar (30 de novembro), o Fundo Baobá lança seu primeiro Círculo de Doação.   Motivar e estimular  lideranças negras em prol da filantropia e apoio à doação pela equidade racial no Brasil é o que os dois primeiros embaixadores, Rita Oliveira, Head de Diversidade e Inclusão LatAm da Walt Disney Company, e Gilberto Costa, Diretor Executivo do Pacto pela Equidade Racial e Diretor Executivo do JP Morgan irão iniciar. Caberá a ambos motivar suas redes de relacionamento para que elas agreguem mais pessoas, formando uma grande onda de apoio financeiro pela equidade racial. Em paralelo, o Baobá coloca nas redes sociais sua primeira campanha com propagandas motivacionais sobre equidade racial, batizada de Equidade Racial: Conhecer e Sensibilizar para Doar. 

General Mills é parceira do Baobá no edital Negros, Negócios e Alimentação

Região Metropolitana de Recife teve negócios na área de alimentação muito impactados. Edital surge para apoiar esses empreendedores e empreendedoras

Por Ingrid Ferreira 

A pandemia da Covid-19 trouxe muito mais do que uma crise sanitária, em 2020.   Na esteira dela, foi instalada uma crise financeira que abalou fortemente a população brasileira. Nano e pequenos(as)  empreendedores(as), em especial, presenciaram a forte queda em seus negócios e, nos piores casos, algumas e alguns enfrentaram a falência o que desestabilizou, além de suas famílias, as de seus colaboradores e colaboradoras.  Muito da cadeia econômica trabalha, neste momento, em busca da recuperação. 

Desde o início do período pandêmico, o Fundo Baobá para Equidade Racial  realizou cinco editais emergenciais visando  proporcionar um caminho de fortalecimento comunitário, reequilíbrio e reestruturação econômica. 

Em novembro, foi lançado o Edital Negros, Negócios e Alimentação, exclusivo para negócios localizados em Recife e em sua região metropolitana, do setor alimentação. As inscrições serão até 15 de dezembro. A instituição parceira do Fundo Baobá nesse edital é a General Mills, empresa do segmento alimentício. 

Em entrevista para o Fundo Baobá, a gerente sênior de Relações Externas da General Mills no Brasil, Patrícia Zebele, afirma que o edital foi  planejado considerando que o ramo alimentício está entre as dez áreas de maior presença no mercado entre as pessoas negras que empreendem. “Porém, com a crise econômica agravada pela pandemia da Covid-19, muitos pontos de venda fixos foram impactados negativamente, em especial, negócios cujos donos eram mulheres.”

Patrícia Zebele, Gerente sênior de Relações Externas da General Mills no Brasil

A General Mills tem representações nos cinco continentes, com presença em mais de 100 países, sendo responsável pelas marcas Yoki, Kitano,  Häagen-Dazs e Mais Vita. Patrícia Zebele explica que desde novembro do ano passado, a General Mills assumiu publicamente o compromisso de ser um instrumento importante de mudança, reforçando um quarto pilar em suas prioridades sociais: “Avançar e promover iniciativas para equidade racial e, por meio de ações afirmativas, criar oportunidades para o surgimento de lideranças negras e mais geração de renda e empregos”.

Além disso, Patrícia conta que o projeto no Brasil é pioneiro: “Nos Estados Unidos, assumimos o compromisso de dobrar o número de negros ocupando cargos de gerência; os gastos com fornecedores negros ou que façam parte de minorias, além de aumentar em 25% a representatividade de minorias internamente”. 

O Edital Negros, Negócios e Alimentação é pioneiro, mas já apresenta ótimos sinais. Ele tem como intuito financiar doze empreendimentos que contarão com o apoio financeiro de R$ 30 mil, além de assessoria e suporte técnico. Os empreendimentos selecionados terão o prazo de nove meses para realizar as ações propostas.

Ainda no campo de atividades para promoção da equidade racial, a gerente sênior de Relações Externas da General Mills afirmou que a empresa está em processo de conscientização e promoveu durante o mês de novembro, dedicado à Consciência Negra, uma série de eventos internos, que tem o intuito de educar, sensibilizar e gerar reflexões sobre o combate ao racismo no ambiente de trabalho e em situações diversas do dia a dia.

Patrícia também fala a respeito da parceria com o Fundo Baobá. “Acreditamos que ter parceiros que tenham conhecimento legítimo da causa, como é o caso do Fundo Baobá para Equidade Racial, primeiro e único fundo dedicado exclusivamente à promoção da equidade racial para a população negra no Brasil, é fundamental e faz toda a diferença, desde o desenho do projeto até a execução. Com essa parceria, temos certeza de que estamos sendo orientados para atingir os resultados esperados para o enfrentamento ao racismo e promoção da justiça social que o nosso país tanto precisa.” 

Para Patrícia Zebele,  o Edital Negros, Negócios e Alimentação é um projeto que atende todas as expectativas da General Mills, levando em consideração as suas atuais propostas de impacto social, e mesmo ele sendo realizado exclusivamente na Região Metropolitana de Recife, a expectativa é,  futuramente,  expandir o programa para outras localidades do Brasil.