Baobá na imprensa em Junho

Por Ingrid Ferreira

No mês de junho o Fundo Baobá para Equidade Racial foi citado em diferentes veículos da mídia, tais como o Valor, que contou com a entrevista do Diretor Executivo, Giovanni Harvey, na matéria “Fundo Baobá ganha reforço de US$ 5 milhões”, falou a respeito da doação realizada pela bilionária Mackenzie Scott. O texto também ganhou espaço na versão impressa do jornal e foi compartilhado pela Demarest Advogados.

O site Tozzi publicou o título “Captação e rentabilidade: desafios institucionais na gestão de fundos patrimoniais no Brasil” em que explica a funcionalidade e o que é um fundo patrimonial. O Diário do Litoral citou o Baobá no texto “Instituto Procomum e Coletivo Afrotu recebem Encontro Afrolab, em Santos”, destacando a parceria entre o Fundo e o Pretahub, realizador do Afrolab.

O GIFE mencionou o Baobá na matéria “Apenas 2,7% das Organizações da Sociedade Civil receberam recursos federais entre 2010 e 2018”, em que o Fundo é usado como exemplo, para falar da importância dos investimentos em instituições com histórico de atuação em ações de  promoção da igualdade e da equidade racial.

As redes sociais também foram palco para o Baobá, a Tribuna Afro Brasileira no Facebook postou “O Fundo Baobá está há 10 anos dedicado na promoção da equidade racial no Brasil e precisa da sua ajuda para seguir investindo em projetos”. 

APOIADAS DO FUNDO BAOBÁ:

O Coletiva Negras Que Movem do Portal Gelédes teve um grande fluxo de matérias no mês de junho, sendo elas: “2022, um ano de muitos questionamentos e dúvidas: Como será o amanhã nas escolas públicas?”; “Rede de mulheres negras discute justiça social em campanha intitulada “Meu Corpo É Templo”’; “A musculatura dos afetos. É preciso dançar o xirê da dignidade” e “A questão racial no Brasil hoje: O que eu aprendi com Sueli Carneiro?”.

A Tayna Maisa também publicou no instagram um post falando sobre o seu novo cardápio de comidas afro juninas, e mencionou o Baobá apontando o Fundo como um mecanismo muito importante para auxiliar pessoas pretas a enxergarem suas pautas e encontrarem caminhos para tornarem-se pessoas prósperas.

O @canalmynews no instagram entrevistou a apoiada Clara Marinho (@claramp), que falou: “O Brasil pode ser um país rico, com distribuição de renda adequada, que valorize os talentos das pessoas negras”. E a Julia Moa (@juliamoa___), mencionou o Baobá ao falar: “Tive o privilégio de integrar o corpo de jornalistas que produziu as reportagens sobre os frutos do primeiro ‘Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Negras: Marielle Franco’, iniciativa do @fundobaoba”.

Sueli Carneiro completa 72 anos 

Por Ingrid Ferreira

No dia 24 de junho de 1950 nasceu em São Paulo Sueli Carneiro, atual Presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá. Primeira filha de Eva e José Horácio e,  até seus 4 anos de idade, filha única, até que a prole do casal começou a crescer. Sueli foi alfabetizada pela mãe, que além de ensinar as letras ensinou às filhas a importância de serem independentes.

A filha mais velha do casal sempre carregou os conhecimentos da mãe, que ensinou aos seus descendentes como era crucial nunca permitirem que ninguém usasse do racismo para lhes ofender, e Sueli,  como boa filha de Ogum, sempre esteve pronta para guerrear e lutar pelos seus direitos.

Mas a sua trajetória foi e continua sendo árdua, sua vida não só daria um livro, como de fato resultou na biografia escrita por Bianca Santana, que carrega o nome “Continuo Preta – A Vida de Sueli Carneiro”, em que Sueli abriu seu coração e contou os fatos que cercaram sua vida pessoal, profissional, acadêmica, militante, amorosa e familiar.

Sueli ingressou no curso de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP) no ano de 1971, durante a ditadura militar, e mesmo estando naquele período de tensão da época, foi o momento em que ela se aproximou do movimento negro e feminista. E foi ali que iniciou os seus feitos casando militância e produções acadêmicas, como encontra-se na Enciclopédia de Antropologia da USP: “Além da forte militância, Carneiro é responsável por uma vasta produção voltada para relações raciais e de gênero na sociedade brasileira, que encontra repercussão em diversas áreas do conhecimento, também na Antropologia. São mais de 150 artigos publicados em jornais e revistas, assim como 17 em livros, que buscam fazer convergir ativismo e reflexão teórica, por exemplo: Mulher negra (1995), Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil (2011) e Escritos de uma vida (2018).”

Sueli além de ser a atual Presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá, é fundadora e atual Coordenadora de Difusão e Gestão da Memória Institucional do Geledés (Instituto da Mulher Negra),  membro do Grupo de Pesquisa “Discriminação, Preconceito e Estigma” da Faculdade de Educação da USP, membro do Conselho Consultivo do projeto Saúde das Mulheres Negras do Conectas em parceria com o Geledés, do Conselho Consultivo da Ouvidoria da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, do Conselho Consultivo do Projeto Mil Mulheres, e membro da Articulação Nacional de Ongs de Mulheres Negras Brasileiras; fellow da Ashoka Empreendedores Sociais.

Como consta no Portal Geledés: “Em 1988,  Sueli foi convidada a integrar o Conselho Nacional da Condição Feminina, em Brasília. Após denúncias de um grupo de cantores de rap da cidade de São Paulo, que queriam proteção porque eram vítimas frequentes de agressão policial. Ela decidiu criar em 1992 um plano específico para a juventude negra, o Projeto Rappers, onde os jovens são agentes de denúncia e também multiplicadores da consciência de cidadania dos demais jovens”.

Não por acaso, há poucas semanas, Sueli participou do podcast Mano a Mano, apresentado pelo rapper Mano Brown no Spotify, episódio que teve grande repercussão na mídia, após falarem de sociedade, racismo, primórdios do rap no Brasil e a conexão com movimentos negros da época, além de visões de futuro para o povo brasileiro.

Sem dúvidas, Sueli é uma grande referência para a sua geração e posteridade.

Edital Negros, Negócios e Alimentação: Confira a lista com os classificados da primeira etapa 

O Fundo Baobá para Equidade Racial divulga hoje (terça, 08) a lista de propostas aprovadas para a 2a fase do processo seletivo do edital Negros, Negócios e Alimentação. O edital é específico para a região metropolitana de Recife e foi lançado na segunda quinzena de novembro de 2021, com apoio da General Mills. 

O objetivo do edital Negros, Negócios e Alimentação é promover a recuperação econômica de negócios voltados para o ramo da gastronomia e, ao mesmo tempo, fortalecer as e os proprietários negros ou negras em sua atuação. A sustentabilidade de um negócio depende de fatores como planejamento, gestão, inovação, parcerias e outros. Porém, para que isso seja atingido, também é necessário promover o saber dentro dessas áreas e não apenas prover o apoio financeiro.

No que tange à promoção do saber, as pessoas negras  responsaveis pelos 12 (doze) negócios selecionados após as 3 (três) etapas classificatórias, irão participar de atividades formativas, além de mentorias e trocas de experiências com outros empreendedores e especialistas do setor da alimentação e do comércio. Cada um dos projetos receberá R$ 30 mil. 

Este edital voltado para o desenvolvimento econômico se mostra necessário frente à crise econômica, agravada durante este período de pandemia da Covid-19 que impactou, de forma negativa e severa, os negócios de alimentação comandados por negros e negras na região metropolitana de Recife,  composta pelas seguintes cidades: Jaboatão dos Guararapes, Olinda Paulista, Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe, Abreu de Lima, Ipojuca, São Lourenço da Mata, Igarassu, Moreno, Itapissuma, Ilha de Itamaracá e Araçoiaba.

Para que o edital fosse conhecido e para que houvesse maior adesão por empreendedoras e  empreendedores locais, além das ações de mobilização comunitária que estavam sendo realizadas nos territórios, uma missão do Fundo Baobá foi deslocada até Recife, onde permaneceu por cinco dias promovendo encontros com comerciantes locais que tinham dúvidas sobre a forma de participar do edital. Para mobilizar empreendedores e empreendedoras negros e negras, obter visibilidade na mídia com ampla divulgação do edital Negros, Negócios e Alimentação, o Fundo Baobá contou com apoio da Retruco, agência de jornalismo independente, idealizada por jovens jornalistas, cineastas  e designers de Pernambuco. Dúvidas dirimidas, foram recebidas 60 inscrições. Para a segunda etapa do processo seletivo foram classificadas 46 propostas. A lista pode ser acessada neste link

 

Perfil das Propostas

As propostas selecionadas estão concentradas em 8 dos 14 municípios da Grande Recife e envolvem, prioritariamente, negócios liderados por mulheres ou pessoas de gênero feminino (76,08%), com  escolaridade que varia do fundamental incompleto à pós-graduação. Os negócios estão mais na zona urbana (97,82%) e alguns funcionam desde a década de 1970.

 

Município dos projetos selecionados para a 2ª Fase do Edital:

  • Recife – 29 (63, 04%)
  • Olinda – 8 (17,39 %)
  • Paulista – 2 (4,34%)
  • São Lourenço da Mata – 2 (4,34%)
  • Ipojuca – 2 (4,34%)
  • Cabo de Santo Agostinho – 1 (2,17%)
  • Camaragibe – 1 (2,17%)
  • Jaboatão dos Guararapes – 1 (2,17%)

 

Atuação no ramo alimentício do(a) empreendedor(a)  selecionades para a 2ª Fase do Edital:

  • Bares – 3 (6,52%)
  • Buffet, comida para festas e outros eventos – 7 (15,21%)
  • Comida por encomenda ou para entrega (delivery) – 25 (54, 34%)
  • Food trucks – 1 (2,17%)
  • Restaurantes – 7 (15,21%)
  • Delivery e na feira de orgânicos – 1 (2,17%)
  • Tapiocaria itinerante – 1 (2,17%)
  • Doceria e delicatessen – 1 (2,17%)

 

Próximas listas classificatórias

Seguindo o que determina o cronograma do edital Negros, Negócios e Alimentação, a lista com os classificados na segunda etapa será divulgada no dia 10 de março de 2022 após as 19 horas. A lista final, por sua vez, sairá em 31 de março, também após as 19 horas

Para acompanhar todas as atualizações e novidades do Edital Negros, Negócios e Alimentação, clique aqui.

Banco BV no Projeto de Recuperação Econômica

Tiago Soares, gerente executivo de sustentabilidade e patrocínios no BV  fala sobre a participação da instituição no Programa de Recuperação Econômica.

Por Ingrid Ferreira

O Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores (as) Negros (as), criado em 2020 durante a pandemia, foi uma ferramenta de urgência que teve como objetivo apoiar nano e pequenos empreendedores(as) negros(as) que tiveram os seus negócios afetados pela pandemia da covid-19, em especial pelo lockdown que ocorreu na tentativa de barrar a disseminação do vírus.

Essa iniciativa do Fundo Baobá para Equidade Racial contou com apoio da Coca-Cola Foundation, Instituto Coca-Cola Brasil, Banco BV e Instituto Votorantim. Para além do apoio financeiro de R$30 mil por iniciativa (R$ 10 mil por empreendedor/a), as e os participantes tiveram formações sobre empreendedorismo, gestão e planejamento dos negócios, controle de finanças, marketing, precificação, entre outros temas, para auxiliá-los na administração de seus negócios. Na matéria Fundo Baobá divulga a Avaliação do Programa de Recuperação Econômica  de Pequenos Negócios de Empreendedores(as) Negros(as) é possível ver os resultados alcançados pelo Programa. 

Pensando em compreender um pouco mais a experiência das instituições que fazem o investimento social privado no segundo ano em que o mundo ainda se encontra nesta grave pandemia, o Fundo Baobá entrevistou Tiago Soares, gerente executivo de sustentabilidade e patrocínios no Banco BV, para compreender a visão de impacto adotada pelo BV nesta parceria para apoiar empreendedoras negras e empreendedores negros e estimular pequenos arranjos produtivos locais em todo o país.

Tiago Soares – Gerente Executivo de Sustentabilidade e Patrocínios no Banco BV

Ao ser questionado sobre o motivo do apoio do BV ao edital de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores Negros e Negras do Fundo Baobá, Tiago diz: “O propósito do BV é levar leveza para a vida financeira das pessoas. Por isso, entende que seu papel é ser viabilizador do sucesso de empreendedores que, com a ajuda do Baobá, estão oferecendo informação e subsídio e podem promover um país com menos desigualdade”. 

Tiago Soares também explicou que, recentemente, o BV anunciou publicamente o  projeto que carrega o nome: “Compromissos para um futuro mais leve 2030”. Segundo ele, esse projeto encontra-se alinhado aos pilares ESG (sigla usada para se referir às melhores práticas ambientais, sociais e de governança de um negócio), em que a instituição compromete-se com metas de inclusão social.

De forma muito responsável, o gerente executivo  faz uma ressalva valiosa ao afirmar que “a parceria do BV com a Baobá tem o poder de impactar a vida de muitas pessoas, não apenas dos empreendedores, mas de toda a comunidade de pessoas ao redor. O apoio vai auxiliar os empreendedores a ampliarem seus negócios, e em um futuro próximo geram novos empregos nas comunidades onde atuam”. Tiago acredita que o aporte financeiro oferecido no Programa de Recuperação Econômica tem esse intuito, de apoiar pessoas negras para que elas também possam apoiar as pessoas à sua volta e assim criar  uma corrente em que um possa apoiar o outro.

Além da parceria com o Fundo Baobá, o BV também conta com outro projeto, lançado no ano de 2021,  o Edital Cultural , que tem como objetivo selecionar projetos que fomentem as produções culturais criadas e realizadas por mulheres negras de todo o Brasil: “O edital prioriza iniciativas das regiões norte e nordeste a fim de, não só ampliar as possibilidades de acesso a uma cultura mais representativa e diversa, mas também produzir desenvolvimento social por meio da produção e acesso à cultura de e para populações em situação de vulnerabilidade social e econômica”, afirma. 

Ainda sobre o Programa de Recuperação Econômica, Tiago Soares finaliza falando sobre como o edital do Fundo Baobá se alinha aos  ideais do BV: “Tanto pelo fato de que, cada projeto apoiado, precisava ter pelo menos 3 pessoas empreendedoras envolvidas, reforçando assim alguns dos princípios do BV, como o de ser correto e parceiro. Além de atender à  pauta de dar visibilidade a pessoas negras”, finaliza.

Programa Marielle Franco: esforços, resultados e impactos produzidos pelo edital

Experiência de três organizações selecionadas no edital,  lançado em 2019, mostra a eficiência do Programa e sua influência em seus territórios de atuação 

Por  Wagner Prado

Para o mercado, a eficácia de um projeto pode ser dimensionada de várias formas: grandiosidade, lucratividade, alcance, número de envolvidos (beneficiários diretos e indiretos). Nos projetos e programas criados pelo Fundo Baobá para Equidade Racial a análise é feita a partir de fatores que estão muito além da frieza de planilhas, de números enormes, as vezes sem vida e sem história. O fato de os projetos e programas do Baobá serem voltados para o desenvolvimento e a justiça social torna o olho no olho, a relação pessoal, as pequenas e as grandes mudanças individuais, e tantos outros  aspectos, em algo muito mais que relevante. 

O Programa de Aceleração de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, lançado em setembro de 2019, em sua primeira edição, teve dois editais. O primeiro, voltado para o apoio de grupos, coletivos e organizações de mulheres negras. O segundo, de apoio individual a lideranças negras. Aqui, vamos focar nas 14 organizações escolhidas entre as 15 que foram selecionadas. Aqui vamos focar em 3 das 14 organizações que seguiram até o final do Programa (originalmente foram 15 organizações, grupos e coletivas selecionadas).

Mapa das Organizações, Grupos e Coletivas Apoiadas

O objetivo do edital é fazer com que as coletivas, organizações e grupos de mulheres negras sejam fortalecidas  em todas as suas capacidades, conheçam e desenvolvam ainda mais suas potencialidades, incrementando a liderança de mulheres negras. A partir disso,  mobilizar e engajar outras pessoas e instituições na busca por justiça, equidade racial e social. O Programa é uma parceria do Fundo Baobá com a Fundação Kellogg, Instituto Ibirapitanga, Fundação Ford e Open Society Foundations.  

Para exemplificarmos as transformações ocorridas com as organizações que participaram do Programa, convidamos  três delas para o diálogo: Abayomi – Coletiva de Mulheres Negras na Paraíba;  Movimento de Mulheres do Subúrbio Ginga (Salvador, Bahia) e Rede de Mulheres Negras de Pernambuco.  

A Abayomi/PB atua na proteção e promoção dos Direitos das Mulheres. incluindo enfrentamento à violência. O Ginga/BA e a Rede de Mulheres Negras de Pernambuco estão alinhadas à mesma área temática. A variação está no projeto que cada uma apresentou. 

A coletiva paraibana Abayomi inscreveu-se com o projeto Obirim Dudu: Movimentando as Estruturas Contra o Racismo. Ele consiste na produção e difusão de informações sobre as condições das mulheres negras da Paraíba, com o objetivo de contribuir para o combate das questões raciais, garantindo suporte intelectual e, por consequência, material, e fortalecendo o institucional das organizações. O Ginga trouxe o projeto Mulheres Negras, Elaborando Estratégias, Fortalecendo Saberes, que procurou instrumentalizar as entidades para concorrer, de modo mais equânime, à captação de recursos através de editais. O objetivo geral foi capacitar mulheres atuantes em movimentos sociais e lideranças de entidades em prol de outras mulheres, especialmente as negras, na captação de recursos, através da formação em elaboração de projetos de intervenção social em Salvador e região metropolitana. Já a  Rede de Mulheres Negras de Pernambuco implementou o Olori: Mulheres Negras e Periféricas Produzindo Liderança, cujo foco foi promover um processo de formação política para várias mulheres visando a construção de um projeto coletivo no futuro. O primeiro passo foi o fortalecimento institucional de três organizações que já funcionavam em parceria para que ganhassem condições de oferecer esses cursos de formação política e formação técnica para as militantes, que serão futuras lideranças. 

Transformação

Aplicar-se em um edital do Fundo Baobá não é simplesmente conseguir a classificação e  receber a dotação financeira. A organização sabe, desde o primeiro momento, que vai passar por um intenso processo de transformação.  No caso do Programa de Aceleração de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, o objetivo ao final de cinco anos, tempo previsto para duração do Programa, é ter um leque de organizações, coletivos e grupos de mulheres negras fortalecidos em suas mais diversas funcionalidades, o que vai potencializar e gerar maior  protagonismo das entidades comandadas por mulheres negras.  

Com o objetivo de potencializar ação destas organizações e fomentar a ação em rede, foram implementadas atividades formativas. A Ong Criola e o Instituto Amma Psique e Negritude foram facilitadores dessa implementação.  Com a Criola foram 14 encontros, com duração de 3 horas cada, de abril a novembro de 2020, e que versaram sobre racismo, sexismo, lesbo e transfobia, políticas públicas e controle social, liderança feminina negra, segurança ativista. Cada um desses encontros teve público médio de 90 pessoas. Já o Amma trabalhou a questão do enfrentamento ao racismo e seus efeitos psicossociais. Foram 5 encontros, também com duração de 3 horas cada, com público médio de 20 pessoas por turma em cada um deles. Foram disponibilizadas três turmas. 

Para as lideranças do edital de apoio individual foram oferecidas  sessões de coach para dar suporte e garantir a implementação de seus projetos de desenvolvimento individual, além das atividades formativas anteriormente citadas. 

O Fundo Baobá ainda programou e realizou reuniões virtuais (individuais e em grupo) para atendimento visando despertar e fortalecer potenciais. De março a dezembro de 2021 foram 190 atendimentos individualizados e outros 700, por mensagem e telefone, dirimindo as dúvidas, derrubando inseguranças e esclarecendo as incertezas surgidas principalmente no contexto da pandemia. As reuniões e atendimentos contribuíram para que elas pudessem criar condições favoráveis para alcançar seus objetivos individuais e coletivos. 

Parcerias

Alcançar excelência requer esforço, foco, resiliência e união.  Para que as barreiras que surjam em jornadas de transformação sejam suplantadas, atuar de forma isolada não é o melhor caminho. Firmar parcerias é algo de extrema importância. As lideranças apoiadas individual ou coletivamente pelo Programa de Aceleração de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco reiteraram que a busca de parceiros (ou o fortalecimento de parcerias já estabelecidas) é algo que pode viabilizar o alcance de resultados, dada às experiências que podem ser compartilhadas, responsabilidades que podem ser divididas, habilidades que podem ser complementadas, ligações externas que se pode alcançar, aporte financeiro que pode ser gerado, além de muitas outras variáveis. Entre as 14 organizações escolhidas, 43% reconheceram ter ampliado sua capacidade de mobilizar novos parceiros; 36% disseram que essa capacidade estava em franca construção e 7% foram unânimes no diagnóstico de que a capacidade de mobilizar novos parceiros era plena. 

Entre as lideranças femininas negras apoiadas individualmente, o estabelecimento de parcerias visando o alcance dos objetivos pretendidos foi total.  365 apoiadas firmaram parcerias com instituições; 187, com indivíduos e 85% declararam ter se juntado a outras também apoiadas. 

Olhando o futuro

Após  a jornada de aprendizado e transformação e cientes de suas novas potencialidades, fazer projeções futuras de crescimento e realizações passou a ser o objetivo dessas organizações. 

Abayomi: 

O apoio do Fundo Baobá nos projetou como uma organização capaz de executar projetos e nos evidenciou para outras apoiadoras. Sendo assim, pretendemos seguir nesse caminho de pleitear outros financiamentos para sustentar nossa ação política. Nossos planos para os próximos 12 meses são, a partir do projeto (aprovado) do FBDH (Fundo Brasil de Direitos Humanos), a continuidade das ações nos territórios, o fortalecimento institucional e a manutenção de articulações e mobilizações políticas em conjunto com as organizações e movimentos locais, regionais e nacionais. Em nosso planejamento consta o envio de propostas de projeto para a produção de conteúdos e informações e realização de cursos e capacitações. Pretendemos também incorporar a questão da violência contra as mulheres negras e saúde de população negra como prioritárias para os próximos dois anos“,  afirmou Durvalina Rodrigues Lima, representante da organização. 

Movimento de Mulheres do Subúrbio Ginga

“Com base no aprendizado adquirido com a execução desse projeto, iremos nos lançar em editais mais complexos, com maior segurança acerca da gestão. Essa experiência também nos proporcionou novas articulações e ações em rede, as quais pretendemos dar continuidade, como, por exemplo, a realização de lives mensais com representantes das entidades que compõem essa nova rede estabelecida, para o diálogo sobre temáticas alinhadas aos objetivos do nosso coletivo. Estamos iniciando o projeto da horta comunitária, com o apoio da Terra Vida Soluções Ecológicas, a partir do sistema de compostagem urbana, o qual poderá contribuir para que o nosso grupo possa se tornar um ponto de referência no território, como multiplicador de práticas sustentáveis”, diz Carine Lustosa, integrante do Ginga.  

Rede de Mulheres Negras de Pernambuco: 

“Cidadania Feminina – manter o diálogo com as mulheres que participaram das formações, para contribuir com o fortalecimento dessas lideranças nos seus territórios. Exercitar o aprendizado sobre planejamento organizacional nas atividades e ações da instituição. Buscar e concorrer a editais para apresentação de projetos. Espaço Mulher – buscar parcerias. Com a possibilidade do CNPJ vamos buscar editais para nossa sustentabilidade financeira. E vamos continuar o que já fazemos:  cuidar, acolher, apoiar e fortalecer as mulheres não só do grupo, mas também da comunidade de Passarinho “, afirma Rosita Maria Marques, da direção da Rede. 

Impactos

As ações promovidas pelas organizações Abayomi – Coletiva de Mulheres Negras na Paraíba;  Movimento de Mulheres do Subúrbio Ginga (Salvador) e Rede de Mulheres Negras de Pernambuco dão a ideia do impacto que elas e as demais 11 organizações têm provocado nas comunidades dos territórios em que atuam.  Os trabalhos executados por elas alcançaram 20.066 pessoas, sendo 17.056 mulheres (85%)  e 3.010 homens (15%). As ações de compartilhamento de saberes e aprendizados alcançaram 9.741 pessoas negras (mulheres e homens – 74%) e 3.370 não negras (26%). 

Beneficiários Indiretos – edital de apoio coletivo

Entre outras realizações, o Abayomi  conseguiu: a) maior circulação de informações sobre a população negra para subsidiar a luta contra o racismo; b) comunidades fortalecidas e a ampliação do debate sobre as condições das mulheres negras no contexto da pandemia; c) manteve a articulação com diferentes ativistas e organizações, entre eles o Minicurso Aya. 

O Ginga promoveu: a) capacitação de mulheres atuantes em movimentos sociais e lideranças de entidades em prol de mulheres, especialmente negras; b) formação em elaboração de projetos de intervenção social em Salvador e região metropolitana; c) o curso promovido pelo Ginga foi adaptado para o formato remoto, devido à pandemia da Covid-19, possibilitando alcançar entidades do interior do estado.

A Rede de Mulheres Negras de Pernambuco organizou: a) processos de formação políticas para qualificar cada vez sua própria atuação e apoiar o surgimento de outras lideranças e referências; b)processo de formação política junto a mulheres das entidades Espaço Mulher e Cidadania Feminina e executou um projeto coletivamente pela primeira vez; c) o despertar da liderança em suas líderes, que  superaram  o medo de trabalhar de maneira virtual, manuseando as plataformas digitais. 

20.505

Os projetos idealizados pelas organizações,grupos e coletivos de mulheres negras apoiados pelo Programa de Aceleração de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco beneficiaram indiretamente 20.505 pessoas, em diferentes fases do ciclo da vida, dentro e fora do país, residentes em zona urbana e rural, com ou sem acesso a educação formal. Essas, com certeza, terão o poder de influenciar outras tantas, a partir dos relacionamentos que foram estabelecidos e dos conhecimentos que conseguiram alcançar.  

Gratidão

Sulamita Rosa da Silva, licenciada em Pedagogia e Mestra em Educação pela Universidade Federal do Acre (Ufac) e doutoranda em Educação Pela Universidade de São Paulo, foi contemplada no edital de apoio individual do Programa de Aceleração de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. Líder da Rede Mulherações – Rede de Formações para Negras, Afro Indígenas e Indígenas do Acre,  demonstra sua gratidão pelo apoio recebido: “Compartilhei aprendizagens e saberes em forma de cursos, eventos, podcasts, publicações entre outros, contribuindo com a comunicação e memória de intelectuais negras, que tanto contribuíram para a compreensão da cultura brasileira de modo decolonial. Desenvolvi podcasts também como forma de popularização do conhecimento científico, além de começar a articular a escrita acadêmica com o pensamento feminista negro, visando uma educação emancipadora e autodefinida. Tive uma narrativa curta publicada no livro –  Carolinas: a nova geração de escritoras negras brasileiras, resultado este do processo formativo da Festa Literária da Periferia (Flup),  contando com 180 autoras negras de todo o Brasil”, disse. 

No edital que selecionou 63 mulheres e que, ao final, contou com 59 apoiadas, os estados do Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraiba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe) concentraram o maior número de apoiadas: 26. As lideranças femininas negras apoiadas compartilharam aprendizados com mais de 500 mil pessoas em suas redes profissionais, de estudo e de militância. Entre as pessoas alcançadas estão pessoas não binárias, transgêneres e travestis, quilombolas, migrantes, refugiados, adultos, adolescentes, jovens e idosos. 

O Fundo Baobá para Equidade Racial fez um trabalho de análise e tabulação de dados  do Programa de Aceleração de Lideranças Femininas: Marielle Franco. Para obter mais detalhes, acesse este link.

Inscrições para o edital Negros, Negócios e Alimentação serão encerradas nesta quinta-feira, 27 de janeiro

As inscrições do edital Negros, Negócios e Alimentação se encerram hoje, dia 27 de janeiro, às 17 horas. O edital é voltado para empreendedores (as) negros (as) do ramo da alimentação no Recife. Esta será a última oportunidade para que os empreendedores interessados possam se inscrever. O projeto do Fundo Baobá para Equidade Racial tem apoio da General Mills, empresa global de alimentos dona de marcas como Yoki, Kitano e Häagen-Dazs no país.

O edital foi lançado em novembro de 2021, com o intuito de contribuir para a recuperação econômica de negócios do ramo da gastronomia, voltado para os empreendedores e empreendedoras negros(as) e vai contribuir para a ampliação de suas capacidades de planejar, fazer gestão, inovar, ampliar ou estabelecer uma infraestrutura mínima para sustentabilidade de seus negócios.

Os inscritos devem ser empreendedores(as) negros(as) do setor gastronômico, com 18 anos ou mais, que tenham negócio instalado e em funcionamento há 3 anos ou mais, que trabalhem com alimentação de consumo imediato, como almoços, jantares, salgados, bolos, pratos típicos e regionais, dentre todas as opções de cardápio; empresários que trabalhem com  food truck, comida de rua e que sejam ambulantes também podem participar.

Os empreendimentos devem estar localizados no estado de Pernambuco, nas seguintes cidades: Recife, Jaboatão dos Guararapes, Olinda,  Paulista, Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe, Abreu de Lima, Ipojuca, São Lourenço da Mata, Igarassu, Moreno, Itapissuma, Ilha de Itamaracá e Araçoiaba. As propostas apresentadas por mulheres negras cis ou trans e de empreendedores(as) negros(as) que nunca foram apoiadas(os) pelo Fundo Baobá para Equidade Racial serão priorizadas.

Os selecionados receberão um aporte financeiro de R$ 30 mil, além de assessoria e suporte técnico, e terão 09 (nove) meses para executar os seus projetos  e apresentar a prestação de contas final.

Os interessados podem se inscrever através do link oficial do edital na página do Fundo Baobá, onde encontram-se os critérios de elegibilidade do programa. Ressaltando que a regra da obrigatoriedade de ter CNPJ foi retirada, como consta na matéria Fundo Baobá altera regras de edital de apoio a empreendedores negros da alimentação na Região Metropolitana do Recife.

Realizadores

Criado em 2011, o Fundo Baobá para Equidade Racial é o primeiro e único fundo dedicado, exclusivamente, para a promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. Orientado pelos princípios de ética, transparência e gestão, mobiliza recursos financeiros e humanos, dentro e fora do país, e investe em iniciativas da sociedade civil negra para o enfrentamento ao racismo e promoção da justiça social.

A General Mills é uma empresa líder global em alimentos e trabalha “fazendo os alimentos que o mundo ama”. Com sede em Minneapolis, Minnesota, EUA, a companhia chegou ao Brasil em 1997. Em novembro de 2020, assumiu publicamente o compromisso de ser um instrumento importante de mudança promovendo iniciativas práticas para equidade racial. Ao reconhecer que o racismo deixa marcas todos os dias em diversas sociedades, há séculos, a empresa se mobiliza e busca contribuir para os avanços em políticas de inclusão e, sobretudo, de preservação da vida de pessoas negras.

 O Edital Doações Emergenciais Transformou o Cenário de Combate da Covid-19

O Fundo Baobá para Equidade Racial agiu de forma atemporal ao compreender as necessidades sociais que surgiriam com a pandemia do novo Coronavírus.

Por Ingrid Ferreira

O ano de 2020 foi marcado pelo início da pandemia da Covid-19 no país, e com a crise sanitária, a população sofreu. Os impactos da crise econômica foram intensificados, as restrições impostas pelo isolamento social afetaram, principalmente, as pessoas que já viviam em condições de vulnerabilidade.

Avaliando esse cenário, o Fundo Baobá para Equidade Racial, usando recursos próprios e remanejando outros vindos da Fundação Ford e que seriam destinados a atividades voltadas para o seu próprio fortalecimento institucional, lançou no dia 5 de abril de 2020 o edital “Doações Emergenciais no Contexto da Pandemia da Covid-19”, para apoiar iniciativas individuais ou de organizações que respondessem às necessidades mais imediatas da comunidade negra naquele momento.

A seleção priorizou ações de prevenção e apoio às pessoas, famílias e comunidades mais carentes em todo o Brasil. As iniciativas selecionadas, em sua maioria, eram voltadas à aquisição, fabricação e distribuição de insumos de prevenção como máscaras, produtos de higiene pessoal e de limpeza; aquisição e distribuição de cestas básicas e/ou marmitas, além da produção de conteúdos e disseminação de informações sobre a Covid-19 .

O edital foi pensado e implementado em tempo recorde, dada à emergência  e à possibilidade do colapso social que estava por vir e, de fato, veio. De acordo com o boletim da Fiocruz “Observatório Covid-19”, o ano de 2021 terminou com mais de 600 mil óbitos e 22 milhões de casos registrados por Covid-19; no estudo realizado pela Rede de Pesquisa Solidária  “Boletim do Políticas Públicas & Sociedade, é apresentado que homens negros morrem mais por Covid-19 quando comparados aos  homens brancos, ainda que em ocupações socialmente interpretadas como de elite (engenharia, direito, arquitetura).Mulheres negras morrem mais que todos os demais segmentos populacionais (homens negros e brancos e mulheres brancas) em quase todas os setores em que estejam atuando profissionalmente.  

Segundo dados que se encontram no e-book “O que aprendemos com nossas respostas à pandemia?”, que foi feito com o intuito de apresentar as ações emergenciais realizadas pelo Fundo Baobá no início da pandemia e seus resultados: Em apenas 12 dias, o edital recebeu 1.037 inscrições de todas as regiões do país, sendo 387 iniciativas de organizações sociais e 650 iniciativas de pessoas (indivíduos). Foram selecionadas 215 propostas individuais e 135 propostas de organizações. Cada iniciativa recebeu até R$ 2,5 mil para ações de prevenção em comunidades periféricas, de difícil acesso e populações vulneráveis.

Distribuição das propostas apoiadas por região do país (apoios para indivíduos e organizações)

Ao analisar relatórios e ouvir relatos observou-se que o maior desafio enfrentado pelos indivíduos apoiados pelo Baobá foi de atender todas as demandas apresentadas pelas pessoas atendidas, representado por 32,3%;  já no caso das organizações, 28,6% afirmam que a maior dificuldade foi conscientizar a população acerca dos riscos da pandemia. Foi acertado o investimento do Baobá em iniciativas individuais porque as lideranças recebendo um primeiro apoio, poderiam buscar outros, não por acaso entre os indivíduos apoiados o menor desafio enfrentado foi mobilizar parceiros/atores estratégicos (4,0%), o medo de se infectar existia, mas não foi impeditivo (ainda que alguns tenham adoecido ou perdido familiares durante o período de implementação das ações). Entre as organizações o menor desafio foi o de proteger voluntários (1,8%). 

No depoimento da selecionada Pâmella Santos, do bairro da Pavuna, no Rio de Janeiro, é possível perceber a grandiosidade das ações que o edital ajudou a promover: “Eu e mais quatro jovens mapeamos uma comunidade muito vulnerável, dentro do Complexo da Pedreira, que tinha esgoto a céu aberto, e levamos kits de higiene. Mesmo usando máscara, era nítida a felicidade no olhar em receber algo que eles não tinham condições de comprar”.

O contexto de emergência sanitária deixou ainda mais nítida a necessidade do enfrentamento ao racismo estrutural vivenciado por diferentes grupos negros. Como descrito no e-book: “As iniciativas incluíram ações dirigidas à população negra no geral, comunidades periféricas, idosos, população em situação de rua, prostitutas, travestis e transgêneres, quilombolas, indígenas, migrantes e refugiados e crianças matriculadas nos primeiros anos do ciclo básico, pessoas residentes em territórios urbanos ou rurais, centrais ou periféricos.”

Mais  de 54 mil pessoas (prioritariamente pessoas negras, de sexo feminino e idade superior a 30 anos) foram indiretamente beneficiadas pelo Baobá a partir das ações implementadas por indivíduos e mais de 57 mil pessoas (prioritariamente pessoas negras ou indígenas, de sexo feminino e idade superior a 30 anos) por meio das ações realizadas  pelas organizações.

É possível observar a grandiosidade da iniciativa  nos relatos das (os) apoiadas (os), como é o caso da fala da Francisca Luciene da Silva de Natal no Rio Grande do Norte: “O projeto do Baobá abriu portas para que outras instituições, outros parceiros viessem e dessem a sua contribuição”. A apoiada Thalyta Cunha, da região de Del Castilho no Rio de Janeiro em seu depoimento também mostra a importância desse projeto a longo prazo quando fala que “Eu sou fruto de um projeto assim, e hoje eu me vejo como uma ferramenta, para que essas pessoas passem pela mesma evolução que eu passei”. 

Para acessar o material do e-book, clique aqui.

Fundo Baobá altera regras de edital de apoio a empreendedores negros da alimentação na Região Metropolitana do Recife

Por Eduarda Nunes e Luane Ferraz

O Fundo Baobá, em parceria com a General Mills, comunica a alteração da regra da exigência de CNPJ ativo até 2019 para a validação da inscrição do empreendedor no edital “Negros, Negócios e Alimentação”. A mudança se dá devido aos avanços da Covid-19, influenza e Ômicron em Pernambuco e em todo o país e, por consequência, o agravamento da vulnerabilidade econômica para empreendoras negras  e empreendedores negros.

Com a mudança, qualquer pessoa negra que tenha um empreendimento, instalado e em funcionamento há 3 anos ou mais, na área de alimentação, gastronomia e culinária, no Recife e região metropolitana, seja de maneira formal ou informal,  torna-se apta para a seleção.

Além disso, entre os próximos dias 20 (19h às 21h), 21 (9h às 12h) e 24 (9h às 17h), as pessoas interessadas podem se dirigir ao Hotel Central (Av. Manoel Borba, 209 – Boa Vista) para tirar dúvidas e se inscrever com apoio da equipe executiva do Fundo Baobá.

Em função da pandemia, esta é a primeira atividade presencial da instituição  para divulgação de um edital,  desde setembro de 2019. Na estadia em Recife, a direção do Fundo Baobá se encontrará com lideranças locais e potenciais candidatos ao  edital vigente, além de pessoas e organizações que já foram apoiadas pelo Baobá em editais passados.

A visita marca também o retorno à cidade que foi o local de origem e a primeira sede do Fundo Baobá para Equidade Racial.

A iniciativa

Pensando em contribuir na recuperação econômica desses negócios e promover às empreendedoras e  empreendedores negros uma ampliação de suas capacidades de planejar e fazer gestão, esta iniciativa do Fundo Baobá, em parceria com a General Mills, vai apoiar 12 (doze) empreendimentos negros do ramo de alimentação de consumo imediato, instalados e em funcionamento há 3 anos ou mais na Região Metropolitana de Recife.

As empreendedoras e empreendedores selecionados receberão um aporte financeiro de R$ 30.000 (trinta mil reais), além de assessoria e suporte técnico. Terão 8 (oito) meses para executar os seus projetos  e 30 dias para apresentar a prestação de contas final. Ou seja, o projeto terá duração de 9 meses.

Serão priorizadas propostas que envolvam negócios da gastronomia negra, formalizados (com CNPJ) e aqueles situados em Recife, Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Paulista, Cabo de Santo Agostinho e Camaragibe, dado que estas cidades concentram 90% dos negócios deste setor. Além de inscrições feitas por mulheres negras cis ou trans e de empreendedores(as) negros(as) que nunca foram apoiadas(os) pelo Fundo Baobá para Equidade Racial.

Para as pessoas negras que empreendem, o ramo alimentício está entre as 10 áreas de maior presença no mercado. Entretanto, com a crise econômica agravada pela pandemia da Covid-19, muitos pontos de venda fixos foram impactados negativamente, em especial os negócios formalizados (com CNPJ), cujos donos eram mulheres ou pessoas com idade entre 35 e 54 anos.

Inscrições

As inscrições para o edital Negros, Negócios e Alimentação estarão abertas até o próximo dia 27 às 17h. Pessoas interessadas devem preencher o formulário eletrônico disponível exclusivamente neste link.  

Vale lembrar que o processo de seleção contará com três etapas eliminatórias. O resultado final será divulgado no dia 31 de março de 2022, após as 19h, no site oficial do Fundo Baobá (baoba.org.br). 

Para entender melhor os critérios de elegibilidade do programa, basta acessar o edital através deste link

Fundo Baobá divulga a Avaliação do Programa de Recuperação Econômica  de Pequenos Negócios de Empreendedores(as) Negros(as)

Por Jessica Moreira

A população negra sempre empreendeu. Diante de tantos desafios e do próprio racismo estrutural, precisou aprender na prática como criar seus próprios negócios, mesmo sem incentivos ou políticas públicas que dessem conta de tantas necessidades.

Negros e negras são protagonistas quando o assunto é inovação e jeito de empreender. Com modelos de negócios que realmente impactam as comunidades onde estão inseridos, fazem a diferença com formatos mais circulares e comunitários que fogem da lógica capitalista tradicional.

Mas será que, em meio à pandemia, esses empreendedores conseguiram manter seus negócios ativos? Quais foram os maiores desafios? Quais foram as políticas de incentivo criadas ou não para apoiar esses líderes de negócios que atuam nas comunidades que foram as mais impactadas pela pandemia?

Pensando nos mais diversos desafios que se apresentavam e que ainda se estendem em todo o país, o Fundo Baobá para Equidade Racial, em parceria com Coca Cola Foundation, Instituto Coca Cola Brasil, BV e Instituto Votorantim, lançou em novembro de 2020 o Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores(as) Negros(as).

Junto ao Fa.vela — um hub de educação e aprendizagem empreendedora, inovadora, digital e inclusiva — acompanhamos 46 iniciativas e 137 empreendedores de todo o Brasil durante todo o ano de 2021, e as mesmas receberam o apoio financeiro de R$30 mil por iniciativa.

Com consultorias, oficinas e processos de troca e aprendizagem de modo virtual, entendemos a potência de apoiar financeiramente esses empreendimentos, chegando ao fim de 2021 celebrando a permanência desses pequenos negócios, que não só fortalecem o ecossistema do afroempreendedorismo no Brasil, como também de todas as territorialidades onde atuam.

Por que apoiar empreendimentos negros?

Com uma vasta diversidade de negócios, podemos notar mais uma vez as potências criativas que vêm das bordas, tanto das cidades quanto do campo, entendendo que apoiá-las e incentivá-las a crescer também é uma forma de pensar a autonomia financeira da população negra, que ainda sofre com o racismo em nosso país.

Mais da metade da população brasileira é negra, composta por cerca de 56% de pretos e pardos. Desses, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) estima que, pelo menos, 14 milhões sejam empreendedores. Um mercado que chega a movimentar anualmente até 1,73 trilhão da economia do país.

Com a pandemia, todo o ecossistema de negócios foi abalado. A Pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2020), realizada no Brasil em parceria com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e o IBPQ (Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade),  mostrou que, de 2019 para 2020, o número de empreendedores no Brasil caiu de 53,4 milhões para 43,9 milhões.

Mas se tem um nicho que sofreu ainda mais, esse com certeza foi o dos pequenos empreendedores, principalmente negros e periféricos:

A pesquisa “O impacto da pandemia de coronavírus nos pequenos negócios”, desenvolvida pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) com 7.403 empresários, em junho de 2020, mostra que os negócios liderados pela população negra foram os mais impactados, principalmente por atenderem essencialmente de modo presencial (45%). Entre os brancos, a proporção foi de 36%.

De todos os entrevistados, 70% dos negócios eram conduzidos por negros que moravam em municípios onde ocorreram o fechamento parcial ou total dos estabelecimentos. Neste cenário, a maioria era jovem, mulheres e com baixo nível de escolaridade.

O necessário isolamento para frear o novo coronavírus veio cheio de dificuldades para a manutenção dos próprios negócios. A mesma pesquisa aponta que 46% dos empreendimentos conduzidos por negros tiveram que interromper temporariamente seu funcionamento.

Em meio a um cenário de crise, empreendedores negros ainda tiveram mais recusa na hora de pedir empréstimo (61%) quando comparado aos brancos (55%), mesmo o valor solicitado por negros (R$28 mil) sendo 26% mais baixo do que de brancos (R$37 mil).

Levando todo esse cenário em consideração, nosso objetivo com o Programa de Recuperação Econômica foi apoiar empreendedoras e empreendedores negros das periferias a atravessar esse momento de crise causado pela pandemia da Covid-19.

Ao final do programa, realizamos um processo de avaliação de resultados, com objetivo de contar como essas mulheres e homens, distribuídos por todos os cantos do Brasil, estão fazendo a diferença em seus territórios. Mesmo diante de uma crise também econômica, eles continuam girando a economia local, além de multiplicarem seus saberes e serviços a outros e novos empreendedores.

Caminhos da avaliação

Para chegar aos resultados do programa, contamos com o apoio de uma consultoria externa, a Janela 8, e percorremos alguns caminhos em conjunto com apoiadores, executores e participantes do programa. O primeiro passo foi a análise de informações e documentos coletados durante o programa, como o levantamento das inscrições e demais bases de dados de participantes nos processos produtivos, relatórios narrativos e prestação de contas elaboradas pelos próprios empreendedores e empreendedoras.

Os relatórios elaborados pelo Hub Fa.vela também foram importantes referências para chegarmos ao detalhamento da avaliação, e também para definir os principais pontos de transformação desejados pelo programa por meio de uma Teoria da Mudança.

A Teoria da Mudança permitiu delimitar o impacto desejado do programa: a promoção de uma vida digna a sujeitos e famílias negras por meio da melhoria de suas condições financeiras. Além disso, foram destacados os principais resultados, produtos, intervenções e público-alvo, bem como as premissas da realização do Programa.

A partir daí, foram realizadas entrevistas com stakeholders e grupos de escutas com participantes do programa. Os dados e informações coletados foram analisados e consolidados em um relatório completo e em um resumo executivo (disponível para download aqui).

Perfil dos participantes

“Não existem editais que apoiam o nordeste e a população negra”, foi uma frase recorrente no processo de avaliação do programa.

Entendendo a importância da diversidade geográfica e a realidade das iniciativas localizadas na região norte e nordeste, com apoio aquém do que necessitam, o Programa de Recuperação Econômica priorizou essas regiões na seleção de empreendedores(as).

O Nordeste é o local onde estão concentradas a maioria das iniciativas selecionadas, com destaque para a Bahia (37%). Falar em território neste momento de pandemia é lembrar que a Covid-19 não afetou as populações apenas nos mais altos picos da doença, mas também economicamente, inclusive na pós-primeira onda da doença.

Com o desemprego batendo recordes em 2021, muitas pessoas precisaram recorrer a trabalhos informais ou, então, erguer seus próprios meios de sobrevivência e sustentabilidade. O programa foi importante por apoiar negócios de pessoas que trabalham principalmente sozinhas (44%) ou com suas famílias (31%). Além disso, mais de 60% dos empreendimentos apoiados empregavam pelo menos 1 (uma) pessoa na sua atividade (de maneira informal ou formal) ao longo da execução do Programa.

Mulheres negras: lideranças de negócios

Selecionamos 46 iniciativas compostas por três empreendedores e empreendedoras negras em todo o Brasil, contemplando ao todo 137 empreendedores(as). A principal faixa etária de participação está entre 25 e 35 anos (43%), seguida de pessoas que têm entre 36 e 50 anos (36%). Mais da metade dos empreendimentos (56%) é formado unicamente por mulheres, mostrando como o programa impactou principalmente as mulheres negras.

Já em relação à escolaridade houve uma distribuição importante entre pessoas com diferentes níveis de formação: 25% possui ensino médio completo, 24% superior incompleto e 26% superior completo.

Empreendedorismo a partir das periferias

Dentre os negócios apoiados pelo programa, a maioria se enquadra em quatro segmentos:

alimentação (19%), artesanato (13%), agricultura (12%), costura (12%) e beleza (8%). O Programa também apoiou iniciativas nas áreas de moda e vestuário, turismo, saúde, comunicação, cultura e eventos, educação, pesca e prestação de serviços.

As iniciativas contempladas estão localizadas essencialmente em áreas urbanas (73%) e nas periferias (77%), mostrando a importância, mais uma vez, dos negócios locais.

Estar nas periferias também simbolizou um desafio, diante das longas distâncias, já que algumas iniciativas optaram pelo formato de delivery, exigindo pensar meios de transporte para essas entregas, como podemos ver neste depoimento.

“A gente já tinha dado início ao empreendimento e o projeto deu um incentivo pra gente dar continuidade. Nesse tempo de pandemia tivemos que dar uma pausa no atendimento por conta das aglomerações. A gente teve que pausar 1 ano e meio. Surgiu outra ideia que a gente teve pra não ficar totalmente parada. A gente teve a ideia de entregar bolo, mas a cidade fica a 13 km da nossa comunidade. O projeto surgiu em uma hora de um grande desafio, aprimorou a iniciativa.

O impacto nas comunidades

Os empreendedores se relacionaram com suas comunidades das mais diferentes formas, seja pela disseminação de conteúdo, pelo compartilhamento dos aprendizados adquiridos ao longo do programa ou, então, apoiando a doação de cestas básicas diante da insegurança alimentar que se impôs em todo o território brasileiro em meio à crise sanitária.

Segundo os relatos dos empreendedores, ao menos 16% afirmam que suas comunidades são um importante público consumidor. Além disso, 27% dos negócios geram empregos no território, como podemos notar ao ouvir alguns relatos como este: “Conseguimos dar mais visibilidade, aumentar a mão de obra e aumentar o espaço. Com o espaço maior, deu mais visibilidade e atraiu mais público. Fez muita diferença. Hoje nossa iniciativa tem mais condições de receber o público que a gente tá recebendo hoje. Conseguimos também ajudar mais gente na comunidade”, apontam.

O programa foi um grande fomentador do sentimento de pertencimento em relação à comunidade, uma vez que havia incentivo para olhar ao redor e pensar o negócio por meio da população local, além de fortalecer os próprios territórios, como diz uma das empreendedoras: “Para nós, é importante o impacto das nossas atividades e empreendimentos para a comunidade, pois acreditamos que podemos crescer juntas. Sendo assim, realizamos oficinas, formações, rodas de conversa aprimorando as técnicas de cada empreendedora e dialogando o saber com a comunidade.”

Achados e potências do programa

Da chegada ao programa até o processo de avaliação, os empreendedores negros e negras foram adquirindo diversos aprendizados, capazes de garantir a sobrevida de seus negócios e também ampliar o impacto que já tinham em seus locais.

Segundo as próprias lideranças dos negócios, 3.020 pessoas que vivem nas comunidades próximas aos projetos foram indiretamente beneficiadas, já que o programa fomentou positivamente o espírito de pertencimento às comunidades onde estão inseridos e incentivou a realização de ações locais.

De todo o programa, os processos formativos foram o coração da jornada. No total, foram 447 horas dedicadas a aprender, sendo 282 dessas dedicadas às mentorias customizadas a cada negócio.

Sendo as periferias espaços já conhecidos de partilha de conhecimento – prática herdada pela experiência vivida em comunidade por quilombos e territórios indígenas –, no programa essa experiência de dividir os aprendizados também ficou evidente nos depoimentos colhidos.

Empreendedores narraram a realização de ações de disseminação de conteúdo e recursos para as comunidades onde estão inseridas, o que colaborou nessa ampliação em maior escala do programa, fortalecendo também os laços dos negócios, especialmente entre as mulheres negras.

As mentorias também foram benéficas para ampliar o entendimento sobre os projetos, definir prioridades, tirar dúvidas e também realizar planejamentos de mais longo prazo, já que o programa muniu essas pessoas de ferramentas sobre a prática empreendedora.

De acordo com relatos dos participantes, 69% declaram que superaram os principais desafios que tinham no início do programa. Além disso, houve um aumento de em 22% na formalização de negócios.

Tudo isso se deu a partir da ampliação da consciência sobre a importância de elementos-chave para a manutenção e continuação do negócio, como documentação, prestação de contas e planejamento de comunicação.

Muito além do programa: subjetividades em construção

Se há um elemento que atravessou toda a sociedade brasileira em meio à pandemia, isso com certeza foi o acesso à internet. Seja para estar próximo da família ou dos amigos ou, então, para acessar direitos básicos, como o Auxílio Emergencial, a internet se mostrou fundamental.

O país, no entanto, ainda possui um grande desafio quando falamos em acesso, principalmente em territórios mais afastados das regiões centrais. Esse cenário não foi diferente quando olhamos para a realidade dos empreendedores contemplados no programa.

Pelo menos 82% deles afirmam que, com o programa, conseguiram superar os desafios e inseriram seu negócio no universo virtual, fazendo da inclusão digital um dos grandes ganhos do programa, já que era permitido investir em compra de computadores ou pontos de internet.

É possível entender a importância do programa ao ouvir os próprios empreendedores. “Não tínhamos perspectiva de nada. Tínhamos um negócio que começava aos poucos. Com o edital eu fiquei um tempão sem acreditar no que tinha acontecido. Compramos matéria prima, equipamentos que tínhamos necessidade”.

Os desafios das mulheres negras que empreendem

Quando falamos em empreendedorismo, é importante lembrar que, mesmo cheia de criatividade e ótimas ideias, a população negra ainda enfrenta desafios estruturais para acessar o mercado do empreendedorismo.

Esse fato também pôde ser notado durante a realização do projeto, diante do fato de que muitas pessoas não conseguiam se dedicar integralmente ao seu negócio, pois precisavam complementar a renda das mais diversas formas, não sobrando tempo para focar no seu projeto pessoal. Dos empreendedores e empreendedoras apoiados, 53% tinham no empreendimento uma fonte de renda complementar e para 47% o negócio era a principal fonte de renda. De alguma forma, o programa também conseguiu apoiar essas pessoas, que em alguns casos estavam quase desistindo de investir tempo em suas ideias.

Sobre isso, elas refletem a respeito das dificuldades de viver do próprio negócio. “A gente sabe que mulheres negras empreendendo, muitas vezes a gente tá ali tentando fazer com que nosso negócio se torne nossa fonte de renda principal, mas a gente tem outras relações empregatícias para conseguir complementar a renda”.

Saúde Mental e Autoestima da população negra

A saúde mental e a autoestima das mulheres negras também são impactos não mensurados que valem nota, pois dizem sobre o fortalecimento pessoal dessas lideranças e a possibilidade de darem continuidade aos seus projetos com autonomia.

“Não acreditávamos que um projeto poderia visar pessoas negras e pobres sem querer nada em troca. Não acreditávamos que teríamos visibilidade”, é o que diz uma das empreendedoras ouvidas.

Ao ouvirmos o público apoiado pelo projeto, a questão racial também esteve em evidência. Para eles e elas, o programa foi um modo de, mais uma vez, refletir sobre os preconceitos raciais que vivenciam enquanto pessoas negras inclusive para empreender, tornando-se um limitador do próprio trabalho.

Para uma delas, se existe um jeito de “bater na cara do sistema” é quando mulheres negras conseguem mostrar suas capacidades. “É quando a gente coloca a cara a tapa e prova que é possível, principalmente nós, mulheres, negras, jovens, rurais, quilombolas. Tem toda uma bagagem que está fora do padrão de uma sociedade preconceituosa do jeito que é a nossa”, aponta.

Impacto e processo de aprendizagem contínua

Mais do que recursos financeiros, fica confirmada a importância de munir os empreendedores de ferramentas que os possibilitem continuar seus negócios, mesmo depois do fim de recursos iguais aos do programa.

“O edital não dava só o dinheiro, ensinava também como seguir, mostrava outros caminhos”, apontaram alguns dos empreendedores ouvidos e ouvidas.

Mostrar caminhos de autonomia, principalmente financeira, e formas de empreender que deem continuidade à ideia central é um jeito de continuar impactando tanto os empreendimentos, quanto as próprias comunidades. Dentre os cursos preferidos, estão aqueles ligados a questões financeiras, além de vendas e marketing digital. Pelo menos 68% dos participantes declararam ter aprendido com o programa.

“O dinheiro era uma coisa que nos faltava. Ter um edital que nos possibilitasse  movimentar de alguma forma era muito bom. Quando descobrimos que ainda ia ter os processos formativos, isso casava muito com aquilo que a gente já vinha conversando. O projeto já veio com um pacote completo. Foram os três percursos ideais que a gente nem esperava, mas vinha no pacote.

Reflexões finais

O programa atendeu uma demanda real de aumento de vulnerabilidade do pequeno e nano empreendedor, causada pelo agravamento da pandemia, podendo perceber que, mesmo o objetivo sendo a recuperação econômica, o projeto também teve impactos indiretos e pessoais para cada pessoa selecionada.

Mesmo não sendo possível mensurar como os recursos financeiros irão continuar colaborando para a manutenção dos negócios, com o fim do programa, é possível dizer que as mentorias e consultorias fortaleceram principalmente os empreendedores e empreendedoras com conhecimentos essenciais para continuarem seguindo com seus empreendimentos.

Destacamos que é sempre importante considerar os aspectos de desenvolvimento de capacidades e habilidades pessoais, pois esses se mostram os maiores destaques ao final do projeto, influenciando também na continuidade das atividades empreendedoras pós intervenção.

Destacamos alguns dos maiores resultados:

# 46 iniciativas e 137 empreendedores(as)  impactados diretamente

# 3.020 pessoas ligadas às comunidades dos empreendimentos foram impactadas indiretamente, com 77% das iniciativas concentradas nas periferias.

# 88% dos empreendedores afirmaram utilizar parte do recurso para aquisição de equipamentos eletrônicos para participação nas atividades virtuais do programa

# 40% dos gastos incluídos na categoria outras despesas estão relacionados a cursos e/ou consultorias técnicas para apoio aos negócios, o que demonstra como esses e essas empreendedoras estão pensando em seus negócios também a médio e longo prazo.

# Pelo menos 68% dos participantes declararam ter aprendido com o programa. Foram 447 horas de formação, sendo 282 dessas dedicadas às mentorias customizadas a cada negócio.

# 69% dos(as) empreendedores(as) superaram os principais desafios que tinham no início do programa.

# Houve um aumento de em 22% na formalização de negócios.

# Pelo menos 82% deles contaram que, com o programa, conseguiram superar os desafios e inseriram seus negócios no universo virtual.

# 78% adquiriram matéria-prima e realizaram aquisição ou manutenção de equipamentos.

# 75% compraram de fornecedores(as) da comunidade e 57% declararam  que a clientela aumentou consideravelmente.

# O Edital do Fundo Baobá foi, para muitos, a primeira oportunidade de mobilização de recursos externos, impactando na autoconfiança dos participantes.

# As falas de fortalecimento entre mulheres negras apareceram espontaneamente no processo de avaliação, mostrando a importância de ações de ampliação de autoestima e autoconfiança.

# A criação de redes de networking entre empreendedores de diferentes locais neste momento de crise pode ser encarada como um dos maiores ganhos subjetivos e qualitativos do projeto.

Morre o ator Sidney Poitier aos 94 anos

Sidney Poitier, ator norte-americano de 94 anos, morreu nesta sexta-feira, 7 de janeiro. O anúncio oficial de seu passamento foi feito pelo ministro das Relações Exteriores das Bahamas, Fred Mitchell.

Sidney Poitier nasceu em Miami, nos Estados Unidos, mas mudou-se para as Bahamas, país do Caribe, ainda criança. Voltou para os Estados Unidos aos 15 anos. Ele tinha tanto a nacionalidade do país caribenho quanto a dos Estados Unidos. Exerceu o cargo de Embaixador das Bahamas no Japão em 1997 e em 2007.

Poitier chamou a atenção mundial ao se tornar o primeiro ator negro a receber o Oscar, em 1964. por sua atuação em “Lilies of The Field” (Uma Voz nas Sombras). Ele fez o papel de Homer Smith, um homem que sofre uma pane em seu carro, para em uma propriedade rural cuidada por freiras. Elas acreditam ser ele um enviado de Deus para a construção de uma igreja no local.

A partir do Oscar, Sidney Poitier estrelou outras obras marcantes como “Adivinhe Quem Vem para Jantar” e “No Calor da Noite”. Poitier recebeu em 2001 outro Oscar, este honorário, pelo conjunto de sua obra.

Novo tempo: O 2021 do Fundo Baobá

No novo tempo / Apesar dos castigos
Estamos crescidos / Estamos atentos / Estamos mais vivos /
Pra nos socorrer / Pra nos socorrer / Pra nos socorrer

Novo Tempo: Ivan Lins e Vitor Martins

O Fundo Baobá para Equidade Racial quer fazer uma proposta a você: uma reflexão sobre aquilo que de positivo aconteceu em 2021. Todos sabemos que, de 2020 para cá, não tem sido fácil para ninguém. Mas não podemos nos vergar. A Ciência em muito contribuiu para nos guiar por caminhos seguros. As ondas de otimismo emanadas por cada um de nós foram se juntando para formar uma espécie de escudo de proteção, cuja energia se chama esperança. 

É com muitas expectativas que o Baobá encerra 2021 e vê a aproximação de 2022. E por que disso? Porque se foi possível atuar bem em um ano complicado, é um sonho que vai nos mover para fazer ainda melhor em 2022.

Em 2021, o Fundo Baobá para Equidade Racial está comemorando uma década de atividades dedicadas a mobilizar pessoas e recursos para promover mudanças sociais estruturantes e o enfrentamento ao racismo contra a população negra. 

O Baobá já conquistou muito, mas é preciso ir além. Os recursos são direcionados, via editais, para pessoas físicas, organizações, grupos e coletivos que atuem na promoção da equidade racial e da justiça social para a população negra do Brasil. 

No ano de 2021, os números do Baobá foram os seguintes: 

Doações 

R$ 2.909.814,43 ou US$ 646.625,43 (US$ 1 = R$ 4,50)

 

Editais em curso 

Programa Já é – 75 jovens
Projeto A Cidade que Queremos – 08 organizações
Projeto Vidas Negras: Dignidade e Justiça – 10 iniciativas
Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça – 35 iniciativas

 

Editais com inscrições abertas

Negros, Negocios, Alimentacao: Recife e Regiao Metropolitana – 12 empreendimentos

 

Editais em  fase de conclusão

Programa Marielle Franco – 59 lideranças e 14 organizações
Programa Recuperação Econômica – 137 empreendedores (as)

É de extrema importância para o Fundo Baobá salientar a presença de quem firmou parceria conosco. Os parceiros são fundamentais para que possamos implementar tantos projetos que estão contribuindo para a transformação de um sem número de pessoas. Ao longo de 2021 firmamos 11 parcerias aqui destacadas: Google.org, Global Given, Cargill, Accenture do Brasil Ltda, IAF Rede de Fundos Parc, Wellspring, General Mills, Met Life, Mover, Instituto Unibanco e Verizon.  

Muito mais que números, o Fundo Baobá está preocupado em apoiar o crescimento das pessoas, fortalecer as organizações, grupos e coletivos. Daí o procedimento de, junto com a doação, incentivarmos o saber individual e organizacional. Como explica a diretora de programa, Fernanda Lopes: “a filantropia para promoção da equidade racial prescinde de recursos e oportunidades para o desenvolvimento. Desde 2019 temos construído espaços de trocas e trilhas de aprendizagem para e com os nossos apoiados. Temos aprendido muito e agora estamos organizando, para todos os editais Jornadas Formativas. É um casamento: apoio financeiro e formação, as atividades geralmente ocorrem em tempo real. No edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça, inovamos disponibilizando conteúdos inéditos para acesso remoto. Seria algo exclusivo para as  organizações selecionadas neste edital. Mas após diálogos internos e externos, optamos por disponibilizar os conteúdos para todas as pessoas físicas e jurídicas apoiadas pelo Baobá em seus 10 anos de atuação. Aos poucos vamos ampliando o acesso, construindo novos materiais que dialoguem com os diferentes segmentos da população negra com quem atuamos em parceria. “Somos uma organização negra, a única no ecossistema de filantropia no Brasil, precisamos construir uma relação diferente com nossos donatários, uma relação que vá além do apoio financeiro. É isso que poderá fomentar mudanças”, complementa Lopes.

Os temas que compõem esta Jornada Formativa são diversos: Segurança Digital e da Informação; Registros e Memória Institucional; Governança; Defesa do Direito de Defesa; Monitoramento e Avaliação; Comunicação Estratégica; Planejamento e Gestão; Justiça Racial; Justiça Criminal e Capacidades Institucionais. Portanto, a relação do Baobá com seus donatários vai bem além do apoio financeiro. 

O Fundo Baobá vai iniciar 2022 ainda com mais foco na ampliação de oportunidades para o  desenvolvimento das organizações, grupos, coletivos negros e das pessoas negras em movimento. São elas a razão do empenho que temos demonstrado nesses 10 anos de existência. Que os nossos esforços e de muitos outros engajados, engajadas, engajades na busca pela equidade racial nos leve a um mundo equânime.

O Fundo Baobá está indo ao encontro desse novo tempo de vidas valorizadas e direitos efetivados!

Consciência Negra: os muitos caminhos que podem levar a ela

O parecer de quem trabalha com a economia,  na busca por justiça
e
valorização da mulher sobre o que é ter posicionamento étnico

Por Wagner Prado

Os filósofos definiam o termo Movimento como toda a alteração de uma realidade. A mudança qualitativa de um corpo (a semente que se torna em árvore ou a criança que se torna adulta) pode ser classificada como Movimento. A tomada de consciência sobre algo também pode ser classificada da mesma maneira. Adquirir consciência negra pode ser algo como libertar a mente de tudo o que foi imposto culturalmente e formar, a partir do conhecimento da realidade, uma identidade própria. A identidade negra.

Mas a vida é composta de vários temas que influenciam nossos pensamentos e ações. Economia, Cultura, Educação, Saúde e Trabalho, por exemplo, influenciam a maneira de ser da maioria das pessoas. Ouvimos a administradora Clara Marinho  e duas representantes do Mulheres Negras Decidem (MND), Diana Mendes e Tainah Pereira, cujos projetos foram apoiados pelo Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, e o diretor executivo da Iniciativa Negra Por Uma Nova Política Sobre Drogas, Dudu Ribeiro. A Iniciativa Negra é um dos donatários do Fundo Baobá no edital Vidas Negras, Dignidade e Justiça, e também duas representantes do Mulheres Negras Decidem (MND), Diana Mendes e Tainah Pereira. 

Graduada em Administração pela Universidade Federal da Bahia, com mestrado em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Clara Maria Guimarães Marinho Pereira, ou Clara Marinho, é analista de Planejamento e Orçamento desde 2017 e atua na Coordenação de Acompanhamento de Programas da Educação da Secretaria de Orçamento Federal do Ministério da Economia. Ela vive em Brasília e no ano de 2018 foi uma das selecionadas do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco com o projeto Construindo a Liderança na Administração Pública Federal. 

Clara Marinho, relacionada pela ONU como uma das pessoas negras mais influentes no mundo

Em 2021 Clara Marinho foi eleita pelo projeto Década Internacional dos Afrodescendentes (2015 a 2024) como uma das pessoas afrodescendentes mais influentes no mundo. O projeto é da Organização das Nações Unidas e reúne pessoas indicadas pelo Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU, especificamente no trabalho à promoção dos direitos do povo negro. 

Para a administradora, ter Consciência Negra é ter o conhecimento do passado e a percepção do que ocorre no presente e poderá ocorrer no futuro . “É um termo sobretudo com uma consciência histórica de passado, de presente e de futuro, sobre passado significa entender que há uma contribuição profunda do continente africano à humanidade. Ela foi uma contribuição em variados campos do conhecimento, que foi sistematicamente apagada, destruída das suas origens. Toda a individualidade do continente africano é apagada para o ocidente. Então, a primeira coisa é entender que há uma contribuição milenar dessa população (negra) à humanidade. Sobre o presente,  significa entender que  esse apagamento significa que nós fomos empobrecidos, empobrecidos nas nossas referências, empobrecidos das nossas riquezas. Entender que nós não viemos para o novo mundo a passeio. A nossa diáspora não aconteceu a passeio, né? Mas, a despeito de tudo isso, nós construímos essas nações. Então, diz respeito a entender a nossa contribuição para o desenvolvimento cultural, econômico, social dessa sociedade, do novo mundo. Sobre o futuro, significa entender que não há projetos de sociedades inclusivas que não levem em consideração o nosso trabalho e a nossa contribuição.  Então, é uma consciência de trânsito entre os tempos, mas que aponta para um futuro melhor, para um futuro promissor. É assim que eu vejo a consciência negra: uma consciência sobre a integração da humanidade nos seus melhores aspectos”, afirma. 

O coletivo Iniciativa Negra Por Uma Nova Política Sobre Drogas teve o projeto “Iniciativa Negra por Direitos, Reparação e Justiça” classificado entre os 12 escolhidos pelo Fundo Baobá no edital Vidas Negras, Dignidade e Justiça, que conta com apoio do Google.Org . 

Dentro da principal premissa do edital: apoiar entidades negras que atuam no enfrentamento do racismo e incorreções que ocorrem dentro do sistema de Justiça Criminal no Brasil, o Iniciativa Negra foca a atual política de combate às drogas no país e como ela está sendo usada como ferramenta de opressão à população negra. 

Dudu Ribeiro, co-fundador e diretor executivo do Iniciativa Negra Por Uma Nova Política Sobre Drogas, é formado em História pela Universidade Federal da Bahia, tem especialização em Gestão Estratégica de Políticas Públicas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e é mestrando do programa de pós-graduação em História da Universidade Federal da Bahia. Para ele, se olharmos pelo prisma da população negra brasileira, historicamente discriminada, consciência negra é “uma das construções fundamentais do movimento negro brasileiro, tanto para construir um percurso positivo da participação negra na sociedade brasileira como também para apresentar uma agenda antirracista para a sociedade brasileira. A consciência negra faz parte da disputa narrativa sobre a construção do Brasil, o que coloca a questão racial no centro da sua elaboração”, define. 

Dudu Ribeiro, diretor executivo da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas

Clara Marinho fala, agora, especificamente sobre a questão da consciência negra frente à questão econômica. “Ser um negro ou negra  consciente  no campo da Economia significa assumir que ela,  a economia,  não é neutra. Ela é sujeita a interesses, sujeita a ideologias, a relações de poder.  Qualquer que seja o referencial teórico, entendam que essa é a questão principal.  Então,  você pode trabalhar com modelos que  tentam quantificar a discriminação racial no mercado de trabalho, você pode pensar também em termos de relações internacionais de produção e trabalho,  pensar que existe uma extração de valor de mercadorias que são menos sofisticadas em relação às produzidas nos países do centro do capitalismo. Mas você sabe quem são as populações que estão produzindo isso;  quem são essas populações exploradas; quais são os territórios que estão sendo vulnerabilizados. Então, eu entendo que  isso tenha que ser  levado em consideração. O racismo é o elemento fundamental da organização da sociedade capitalista e ignorar que isso existe é um erro. Penso assim!” 

A educação cidadã é outro ponto de fundamental importância para se observar o nível de conscientização das pessoas. Organização apoiada pelo Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, iniciativa do Fundo Baobá em parceria com a Fundação Kellogg, Instituto Ibirapitanga, Fundação Ford e Open Society Foundations, a coletiva Mulheres Negras Decidem trabalha na qualificação e promoção de uma agenda que seja liderada por mulheres negras na política institucional. O objetivo é fazer com que elas tenham maior representatividade na política, já que são o maior grupo demográfico do país (28%), mas ocupam apenas 2% das cadeiras no Congresso. Participar da vida política brasileira é uma forma de ter consciência e contribuir com mudanças. “Uma compreensão madura sobre de que forma participar da política na sua cidade, estado ou país advém, sobretudo, da experiência. E o despertar para essa necessidade de estar implicada ou implicado no processo político depende, muitas vezes, de estímulos externos. No caso de crianças e jovens negros e negras esse ponto de partida pode estar na escola ou na família. Mesmo crianças são capazes de compreender a importância da luta pela afirmação de identidades e garantias de direitos”, afirma a bacharel em Relações Internacionais e em Políticas Públicas pela Universidade Federal do ABC (UFABC), Diana Mendes, co-fundadora do Mulheres Negras Decidem. 

Diana Mendes, co-fundadora do Mulheres Negras Decidem

A mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e bacharel em Relações Internacionais pela Universidade Estácio de Sá, Tainah Pereira, é também conselheira do Mulheres Negras Decidem. Ela fala sobre a consciência política no voto da população negra. “Significa votar por um projeto de país que leva em conta vidas interseccionais, que enfrentam racismo, sexismo, pobreza, transfobia e outras situações. Quando se é uma pessoa negra no Brasil,  não se resume a enfrentarmos apenas questões étnico-raciais, é considerar no nosso voto condições de vida digna e respeitosa que garantam nossos direitos”, conclui.

Tainah Pereira – Conselheira do Mulheres Negras Decidem

A Iniciativa Negra Por Uma Nova Política Sobre Drogas tem atuação forte no sentido de buscar a reparação para vítimas do sistema judiciário brasileiro. Seu diretor executivo, Dudu Ribeiro, responde sobre o fato de a população negra estar sendo enredada por políticas que condenam antes mesmo de julgar. “Bom, há um julgamento, uma condenação da população negra antes mesmo de qualquer realização individual, coletiva, até porque há uma criminalização do ser negro no Brasil. O processo fundamental da escravização e da colonialidade foi a desumanização das pessoas e o processo de constituição da república impôs um olhar sobre pena, castigo, crime e punição oriundos dos quintais da casa grande,  que julga e condena a população negra. A priori,  nós temos as vidas condenadas, nós temos a pele alvo e nós temos a marca desse alvo nas costas, desde que nascemos no Brasil”, analisa. 

A análise de Dudu Ribeiro leva à reflexão de Clara Marinho sobre a importância da ocupação de espaços (de poder) pela população negra. Os gestores negros e negras têm papel fundamental para que o quadro de desigualdade e de não acesso seja quebrado. “É preciso reconhecer que as empresas e o serviço público brasileiro nascem das principais esferas de decisão. São espaços profundamente racializados e são brancos. Têm um marcador de gênero profundamente claro:  é masculino. Também têm uma sexualidade muito definida: cisgênero. Então, nós  precisamos desfazer esse estado de coisas, tomando um conjunto de ações concretas. A primeira coisa é incorporar. Incorporar é fazer com que essa força de trabalho e o processo de tomada de decisão reflita a sociedade brasileira minimamente. Há uma dificuldade histórica dessas instituições de incorporar a cara do Brasil”, declara Clara Marinho. 

Diana Mendes, do Mulheres Negras Decidem, dá o arremate final para o que considera ser uma postura de consciência de todo o povo negro. Ela cita, inclusive, um provérbio africano.  “Ter a consciência de que é necessária a valorização da nossa construção histórica e cultural enquanto um país que é fruto da diáspora africana.  ‘Até que os leões inventem as suas histórias, os caçadores sempre serão os heróis das narrativas de caça’. Ou seja,  compreender a importância de resgatar e reafirmar a nossa história enquanto população negra desde a escravização, visibilizando lideranças significativas como Zumbi dos Palmares, mas também tantas mulheres negras dos quilombos,  como Dandara, Luísa Mahin, Tia Ciata, entre outras. Além disso, valorizar em vida o legado de pessoas negras que fazem a diferença até os dias de hoje, para garantia de direitos visando um país com mais equidade racial e respeito à identidade.”

Conheça Giovanni Harvey, novo diretor executivo do Fundo Baobá

Em entrevista, ex-presidente do conselho deliberativo fala do que estava sendo realizado

Por Ingrid Ferreira e Wagner Prado

No dia 9 de dezembro, o Fundo Baobá para Equidade Racial passou por uma grande mudança em sua direção executiva. Giovanni Harvey, presidente do conselho deliberativo desde 2018, assumiu o cargo de diretor executivo da organização.

Em entrevista para o boletim do Fundo Baobá, Harvey fala sobre a sua trajetória profissional, suas expectativas, contribuições e planos futuros para o Fundo Baobá, com ele à frente da gestão executiva. 

Você sai do Conselho Deliberativo e assume a Diretoria Executiva do Fundo Baobá para Equidade Racial. Em qual sentido a experiência como presidente do Conselho vai contribuir para o trabalho do Diretor Executivo?  

Giovanni Harvey – A minha relação profissional com o Fundo Baobá começou em 2017,  quando fui contratado para estruturar o Plano Estratégico da instituição para o período de 2017 a 2026. Após a conclusão do trabalho,  fui convidado a integrar o conselho deliberativo e, em 2018, fui eleito presidente do mencionado colegiado. Em abril de 2021 fui reeleito para um segundo mandato, até 2024, ao qual renunciei para assumir a diretoria executiva.

Para realizar a consultoria, em 2017, precisei estudar toda a história do Fundo Baobá com o objetivo de entender o seu funcionamento, definir os principais objetivos, conhecer as potencialidades e identificar os desafios. O trabalho incluiu a realização de uma série de entrevistas com os fundadores, com os parceiros e com os financiadores.  Foi com base nestes conhecimentos, aliados à minha experiência ao longo dos últimos 30 anos, que me pautei no exercício da presidência do conselho deliberativo.

As funções que exerci no conselho deliberativo são diferentes das funções que vou exercer na diretoria executiva. O conselho deliberativo é a instância responsável pela formulação da estratégia institucional, pela representação política (em sentido amplo) do Fundo Baobá e pelo controle social da gestão. A diretoria executiva é a instância responsável pela operacionalização da estratégia traçada pelo conselho deliberativo, pela articulação institucional (em sentido estrito), pela gestão do fundo patrimonial e pela implementação das diretrizes programáticas estabelecidas.

Acredito que o meu percurso no Fundo Baobá, aliado às experiências que tive como gestor de empresas, organizações sociais e políticas públicas (no nível municipal, estadual e federal) contribuirão para que eu tenha condições de dar continuidade ao trabalho que foi desenvolvido ao longo dos últimos sete anos pela minha antecessora na função, a executiva Selma Moreira.  

Como diretor executivo, quais são suas metas para o Fundo Baobá?  

Giovanny Harvey – Meta é o objetivo quantificado. Partindo deste pressuposto,  eu vou trabalhar para aumentar o fundo patrimonial na direção de um valor, que estimo hoje em R$ 250 milhões, que nos permita fazer retiradas anuais capazes de atender as demandas mais sensíveis das organizações e pessoas que atuam no movimento negro.  

O Baobá tem ações centradas em análises de contexto e escuta ativa do campo. Ou seja: os editais surgem na medida em que necessidades vão sendo mapeadas. O Baobá é empírico e científico ao mesmo tempo?  

Giovanni Harvey – O objetivo estratégico do Fundo Baobá é disponibilizar recursos financeiros, oriundos do percentual de rendimentos do fundo patrimonial que pode ser sacado anualmente ou da captação que é realizada junto a pessoas físicas e jurídicas, para financiar (através de doações não reembolsáveis) organizações, grupos, coletivos e lideranças negras que atuam no enfrentamento ao racismo, defesa e garantia de direitos e promoção da equidade racial. 

A qualidade da oferta dos recursos financeiros que o Fundo Baobá disponibiliza para estas organizações e pessoas depende, principalmente, de três fatores: 

  1. Alinhamento das diretrizes programáticas do Fundo Baobá às demandas das organizações, grupos, coletivos e lideranças negras;
  2. Grau de autonomia do Fundo Baobá para direcionar os recursos na direção destas demandas das organizações, grupos, coletivos e lideranças negras;
  3. Mensuração dos resultados alcançados.  

Estes três fatores exigem, não apenas do Fundo Baobá, mas de qualquer instituição que se proponha a atuar no enfrentamento ao racismo estrutural e às assimetrias que têm como base o preconceito e a discriminação étnica, um composto que envolve legitimidade, conhecimento científico e capacidade de dialogar com as pessoas negras que lideram iniciativas de  enfretamento ao racismo e promoção da equidade racial nos mais variados setores da sociedade. Soma-se a isto a capacidade de ouvir, dialogar e contribuir de forma positiva para a construção de consensos dentro do ecossistema da filantropia, do investimento social privado, da Rede de Fundos para a Justiça Social e da cooperação internacional. 

Giovanni Harvey – Diretor Executivo do Fundo Baobá para Equidade Racial

A criação do Comitê de Investimento, entre outras coisas, levou o Baobá a um endowment de mais de R$ 60 milhões. Em que número você pretende chegar?  

Giovanni Harvey – A criação do Comitê de Investimentos, constituído por três profissionais do mais alto nível (Felipe Souto Mayor, Leonardo Letelier e Gilvan Bueno) reflete o grau de maturidade institucional do Fundo Baobá e seu compromisso com a excelência na gestão do Fundo Patrimonial.

Além do Comitê de Investimentos nós contamos com um Conselho Fiscal (Mário Nelson Carvalho, Marco Fujihara e Fábio Santiago) que tem contribuído com recomendações que resultaram na adoção das melhores práticas de compliance.  

Com a segurança fornecida por estes lastros institucionais, e pela reputação destas pessoas, vou trabalhar na direção dos 250 milhões de reais de endowment.  

Mais que números, quais suas aspirações como o novo diretor executivo?  

Giovanni Harvey – Dar continuidade ao processo de investimento nos profissionais que trabalham no Fundo Baobá, contribuindo para a permanência do ambiente fraterno e colaborativo que encontrei; ampliar o uso de soluções tecnológicas que nos permitam melhorar a performance da instituição nas três dimensões definidas no Plano Estratégico: mobilização de recursos, articulação institucional e investimentos programáticos; e contribuir para o fortalecimento das instituições e das redes que atuam no campo da filantropia, do investimento social privado e da justiça social. 

Há algo que o Baobá não tenha feito durante seu período como presidente do conselho e agora você queira implantar?  

Giovanni Harvey – Não, muito pelo contrário. A principal razão que levou o conselho deliberativo a me designar para suceder a executiva Selma Moreira foi garantir a continuidade do que estava sendo realizado. Não é hora de “inventar a roda” e nem de “balançar o barco”. 

Que análise você faz sobre o Círculo de Doação iniciado pelo Fundo Baobá?  O papel do Executivo Gilberto Costa (JP Morgan) e da Executiva Rita Oliveira (The Walt Disney) é importante em que sentido?

Giovanni Harvey – O “Círculo de Doação” é uma estratégia de captação desenvolvida pela equipe do Fundo Baobá, sob a liderança de Selma Moreira, Fernanda Lopes e Ana Flávia Godoi. Um dos pressupostos desta estratégia é o reconhecimento do protagonismo das pessoas negras nos processos de mobilização de recursos (em sentido amplo) em prol da causa da Equidade Racial. Neste sentido o Fundo Baobá tem o privilégio de contar com o engajamento de dois profissionais do mais alto gabarito, Gilberto Costa que é Diretor Executivo do Pacto pela Equidade Racial e Diretor Executivo do JP Morgan e Rita Oliveira é Head de Diversidade e Inclusão LatAm da Walt Disney Company, nas ações e atividades que começaram a ser desenvolvidas no âmbito do “Círculo de Doação”. 

O Fundo Baobá está confiante na mobilização pela cultura de doação entre pessoas físicas? É possível levar a essa motivação pessoas que vivem em um país com economia tão precária? 

Giovanni Harvey – O percentual de participação das doações realizadas por pessoas físicas para o Fundo Baobá vem crescendo nos últimos anos e todos os indicadores apontam para o crescimento desta modalidade de captação de recursos financeiros (junto a pessoas físicas e jurídicas)

A contribuição das pessoas físicas em prol da causa da Equidade Racial faz parte da história do Brasil e remonta à luta que as pessoas negras empreenderam em busca da liberdade e às diversas iniciativas que constituíram o movimento abolicionista.  

O processo de construção do mecanismo impulsor, financiado pela Fundação Kellogg há quase 15 anos, que mobilizou aproximadamente 200 pessoas e/ou organizações negras com atuação na região nordeste e resultou na criação do Fundo Baobá,  teve como ponto de partida o legado da filantropia negra na luta contra a escravização.  

Por estas razões eu tenho a mais absoluta convicção de que nós vamos ampliar o engajamento das pessoas físicas e vamos investir em instrumentos de comunicação para que as pessoas possam acompanhar o que nós fazemos com os recursos arrecadados e, principalmente, os resultados que estão sendo alcançados.  

A contribuição das pessoas físicas e a retirada dos rendimentos do fundo patrimonial foram fundamentais para que o Fundo Baobá tivesse os recursos necessários para lançar, no início de abril de 2020, o Edital de Apoio Emergencial para Ações de Prevenção ao Coronavírus. Foi a primeira ação desta natureza realizada no Brasil, menos de 30 dias após a edição do primeiro decreto de calamidade pública em função da pandemia. 215 pessoas e 135 organizações foram beneficiadas com estes recursos. 

Pensando em termos de doação, que chamamento você faria para que as pessoas façam doações? 

Giovanni Harvey – O Fundo Baobá tem realizado uma série de iniciativas e campanhas com o objetivo de mobilizar recursos e, na minha opinião, elas atendem a todas as nossas expectativas de comunicação. 

O Conselho Deliberativo, que tem a honra de ter agora Sueli Carneiro como presidenta e Amalia Fischer como vice-presidenta, e é constituído por André Luiz de Figueiredo Lázaro, Edson Lopes Cardoso, Elias de Oliveira Sampaio, Felipe da Silva Freitas, Martha Rosa Figueira Queiroz, Rebecca Reichmann Tavares, Taís Araújo e Tricia Viviane Lima Calmon, está debruçado sobre o tema e, oportunamente, contribuirá para que os chamamentos que temos fortaleçam as iniciativas de captação que já estão sendo executadas, com elevado nível de dedicação e profissionalismo.

O meu compromisso como gestor é continuar a investir na melhoria da performance do Fundo Baobá para retroalimentar as iniciativas e campanhas de captação com informações (cada vez mais detalhadas) sobre como os recursos são utilizados e com indicadores científicos que evidenciem os resultados que estão sendo alcançados.  

O Fundo Baobá continuará a cumprir com a sua missão institucional, fortalecerá os laços com as organizações, grupos, coletivos e lideranças do movimento negro que estão na base da sua fundação, com a rede que ​compõe o GIFE – Grupo de Fundos, Fundações e Empresas. Vamos trabalhar para fortalecer e promover a diversidade no ecossistema da filantropia no Brasil e no exterior.

A importância de fazer doações para o Fundo Baobá

Doação é uma ação transformadora para quem faz e para quem a recebe

Por Wagner Prado

Você já ouviu falar no conceito de sociedade co-responsável? Nela, o fundamento primordial no pensamento e atitude das pessoas é: Necessariamente, eu não vivo essa situação. Mas não posso ignorá-la. Ela me diz respeito, pois atinge outras pessoas e isso me incomoda a ponto de me fazer um agente de transformação. 

Uma forma de contribuir para a transformação e fazer parte da sociedade co-responsável é exercendo a doação. Dos mais favorecidos economicamente aos não tão bem favorecidos assim, todos podem doar. 

O Fundo Baobá para Equidade Racial, primeiro e único fundo dedicado,  exclusivamente, à promoção da equidade racial para a população negra no Brasil, vem realizando seu trabalho de captação de recursos há 10 anos. Tem encontrado, principalmente entre fundações ed institutos, parceiros que têm dado importante suporte financeiro propiciando, ao longo dessa jornada, o investimento de mais de R$ 14 milhões por meio de  16 editais e alguns apoios pontuais, financiados por 21 importantes parceiros. 

Agora, o Fundo Baobá está voltado também para um outro segmento: o das pessoas físicas. O Fundo já conta com pessoas físicas que decidiram doar e fazer parte da sociedade co-responsável, mas esse número precisa crescer significativamente. Juntar  muito mais gente que considere que, com a força delas, o Brasil será um país justo. Daí a promoção da filantropia para a equidade racial. 

Os mais diversos sentimentos levam as pessoas a praticar o ato da doação. Nos depoimentos aqui, por questões de confidencialidade e segurança, não serão divulgados nomes de doadoras e doadores. O objetivo dos contatos foi saber o que os move a fazer doações para o Fundo Baobá, como disse um doador de sexo masculino,  de São Paulo.  

Ao longo dos últimos anos, as questões de equidade racial vêm ganhando força em diversos âmbitos: nas empresas, na educação e na sociedade em geral. O Fundo Baobá tem um importante papel no desenvolvimento e na maturação dessa conversa. Especialmente porque a visão da organização vai além da inclusão. O Fundo Baobá dialoga com questões mais profundas da população negra, como racismo estrutural, cultura negra e ancestralidade”

Mulher com forte perfil como ativista política. Esse ativismo a fez despertar para as causas sociais. 

 “Trabalho no Terceiro Setor em defesa das causas feministas. Acredito na igualdade de direitos em todos os sentidos. Esse meu ativismo me levou também a ser doadora do Fundo Baobá. Quero contribuir para uma sociedade plural e igualitária” 

Homem de São Paulo afirmou que sua contribuição foi pequena, mas quando acompanha as notícias sobre os editais lançados pelo Fundo Baobá, sente que seu ato de doação foi transformador. 

“Saber que o pouco que eu coloquei no Fundo Baobá pode ter ajudado uma criança, uma mulher negra mãe, empreendedora, quilombola, um jovem negro ou uma jovem negra estudante que sonha chegar ao ensino superior público, isso dá uma grande satisfação. O que coloquei lá foi pouco, mas sei que foi muito bem empregado” 

Os depoimentos acima corroboram o que falou o professor Helio Santos, doutor em Administração e Mestre em Finanças, um dos fundadores do Baobá. Para ele, a grande transformação da sociedade brasileira está na filantropia para a equidade racial. 

“A filantropia racial hoje é o tema da sociedade brasileira. O Fundo Baobá tem muito a ver com isso, porque ele é o primeiro Fundo criado com essa vertente e organização. A missão dele é exatamente transferir e fomentar recursos para as organizações negras”  

Helio Santos, doutor em Administração, mestre em Finanças e professor convidado na Universidade do Estado da Bahia (Uneb)

No Dia de Doar (30 de novembro), o Fundo Baobá lança seu primeiro Círculo de Doação.   Motivar e estimular  lideranças negras em prol da filantropia e apoio à doação pela equidade racial no Brasil é o que os dois primeiros embaixadores, Rita Oliveira, Head de Diversidade e Inclusão LatAm da Walt Disney Company, e Gilberto Costa, Diretor Executivo do Pacto pela Equidade Racial e Diretor Executivo do JP Morgan irão iniciar. Caberá a ambos motivar suas redes de relacionamento para que elas agreguem mais pessoas, formando uma grande onda de apoio financeiro pela equidade racial. Em paralelo, o Baobá coloca nas redes sociais sua primeira campanha com propagandas motivacionais sobre equidade racial, batizada de Equidade Racial: Conhecer e Sensibilizar para Doar. 

Fundo Baobá na impresa em outubro

Os editais organizados pelo Fundo Baobá para Equidade Racial foram destaques na imprensa no mês de outubro

Por Ingrid Ferreira

O Programa Já É: Educação e Equidade Racial, lançado em julho de 2020 tem o intuito de apoiar jovens negros, residentes em bairros periféricos de São Paulo e outros municípios da região metropolitana, a acessarem o ensino de nível superior, foi matéria especial na edição impressa do Estadão, no dia 19 de outubro. A reportagem Bolsas ajudam jovens negros a entrar e – a permanecer – na universidade, entrevistou a jovem apoiada Anna Beatriz Garcia, 19 anos, e a diretora de programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes. Moradora da região de São Miguel Paulista, Anna Beatriz mostrou-se  muito grata à oportunidade dada pela organização através do Programa Já É. A jovem ressaltou que: “A experiência tem ajudado muito a continuar estudando nesse momento caótico da pandemia.”

Anna Beatriz Garcia, aluna apoiada do Programa Já É  | Foto: Taba Benedicto / Estadão

Em sua fala, Fernanda Lopes reiterou a importância das atividades propostas pelo Programa Já É, que além de custear a mensalidade do curso pré-vestibular, alimentação e transporte, conta com  mentorias, coach e apoio psicossocial para enfrentar os efeitos do racismo: “As estratégias para superar alguns desafios também podem ser coletivas”. A reportagem também foi compartilhada no site da Revista Istoé e também nos portais Dom Total, Fundacred e Jornal de Brasília.

Outro edital que ganhou destaque na imprensa foi o Vidas Negras: Dignidade e Justiça, que teve a sua lista final das iniciativas selecionadas divulgada no mês de setembro, mas que ainda segue reverberando e gerando matérias, como foi o caso do portal A Serviço do Bem, que divulgou os selecionados. Por outro lado, a reta final das inscrições do Edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça foi destaque no portal da Agência Brasil, repercutindo em mais de 20 veículos regionais, entre eles: BH de Fato (MG), Repórter Maceió (AL), Norte Play (Região Norte), 3 de Julho (AC), Portal Mato Grosso (MT), Midia News (MS), entre outros.

O Edital Quilombolas em Defesa também foi destaque no site da Revista Raça e nos portais do Gife, ABCR, Filantropia, Pernambuco Transparente e Observatório do Terceiro Setor.

Apoiados do Fundo Baobá

No campo das iniciativas apoiadas pelo Fundo Baobá que ganharam destaques na imprensa no mês de outubro, temos o lançamento do livro “Voz Imune: 18 anos em movimento”, que narra os 18 anos de trajetória do Instituto de Mulheres Negras de Mato Grosso (Imune), grupo apoiado no Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. A divulgação do lançamento de “Voz Imune” foi destaque no portal RD News, do Mato Grosso.

Instituto de Mulheres Negras de Mato Grosso (Imune) | Foto: Divulgação

Ainda sobre as apoiadas do Programa Marielle Franco, a mestre em Psicologia Social, coordenadora da Rede de Atenção às Pessoas em Situação de Violência Doméstica e Sexual de Suzano (SP) e ganhadora do Prêmio Viva, promovido na parceria entre o Instituto Avon e a Revista Marie Claire, Magna Barboza Damaceno, escreveu um artigo na Folha de S.Paulo intitulado O cenário caótico x saúde mental = potência na resistência.

Enquanto a doutora em História, professora na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e escritora Giovana Xavier escreveu um artigo sobre a compositora e musicista Chiquinha Gonzaga, com o título “Escrevendo na Lua Branca: Mulheres na Primeira República”, que foi publicado no portal do Itaú Cultural e replicado no site da Prefeitura de Curitiba.

Coletiva Negras que movem

Enquanto isso, a tradicional coluna Coletiva Negras que Movem,  publicada no portal do Instituto Geledés da Mulher Negra, com as lideranças apoiadas do Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, trouxe o texto O sonho cresceu! Livro “Negra Sou: a ascensão da mulher negra no mercado de trabalho” chega a sua segunda edição, de autoria da escritora, jornalista e finalista do Prêmio Jabuti 2020, Jaqueline Fraga.

A assistente social e especialista em gestão pública, Brígida Rocha dos Santos, escreveu o artigo É de nós para Nós.

Por fim, a psicóloga doutoranda e mestre em Psicologia, gestora de Políticas Públicas de Juventude, Gênero e Raça e integrante da atual gestão do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG), Larissa Amorim Borges, escreveu o texto O que pode acontecer com a chegada de pessoas negras, periféricas, não heterossexuais nas universidades? O que a presença negra e favelada gera ou pode gerar na universidade?

Giovanni Harvey, presidente do Conselho do Fundo Baobá, participa do Fórum Brasil Diverso

 

Harvey falou do papel da organização no enfrentamento à Covid-19

Por Ingrid Ferreira

Na quinta-feira (18), ocorreu o segundo dia do evento “Fórum Brasil Diverso”. Em seu sétimo ano, o Fórum discutiu  assuntos como: Estudos e impactos da pandemia em pessoas negras; Acordos coletivos e inclusão social no mundo do trabalho; Investimento público e privado na inclusão social,  finalizando com uma entrevista especial de encerramento. 

O Brasil Diverso contou com as participações de nomes relevantes para as causas abordadas, entre eles: Alexis Mootoo (vice-presidente assistente para Gestão de Recursos e Desenvolvimento Comunitário da Universidade do Sul da Flórida – USF); José Vicente (reitor da Universidade Zumbi dos Palmares); Paulo Batista (CEO do Alicerce Educação); Douglas Izo (presidente da Central Única dos Trabalhadores de São Paulo – CUT-SP); Ricardo Patah (presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT); Thais Dumét Faria (oficial técnica em Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho da Organização Internacional do Trabalho – OIT), além da participação do presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá para Equidade Racial, Giovanni Harvey. 

Harvey integrou a mesa “Investimento público e privado na inclusão social”, que também teve a participação da Assessora Sênior da Divisão de Gênero e Diversidade do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Judith Morrison e da fundadora e CEO da DIMA Consult Luana Ozemela.

Em sua fala inicial, Giovanni Harvey citou como foi o surgimento da organização, a sua parceria com a Fundação Kellogg e o quanto já foi investido financeiramente no país: “O Fundo Baobá é a primeira iniciativa voltada especificamente para alavancar outras iniciativas lideradas por pessoas e por organizações negras, em enfrentamento à discriminação étnico racial no Brasil. Essa iniciativa foi viabilizada a partir do apoio da Fundação Kellogg, uma importante instituição filantrópica e com uma atuação ao longo de décadas aqui no nosso país. A Kellogg encerrou operações e decidiu deixar como legado um mecanismo que pudesse preencher a lacuna caracterizada pela ausência de investimento institucional para a organização do movimento negro. A partir,  então, desse impulsionamento, constituiu o mecanismo que se tornou o Fundo Baobá que, ao longo desses dez anos, doou  R$14 milhões através de editais para iniciativas lideradas por pessoas e organizações negras.”

Ao ser questionado sobre como o Fundo Baobá tem trabalhado no enfrentamento à pandemia da Covid-19 e quais são os planos para o próximo ano, Giovanni Harvey falou da atuação da organização no combate à pandemia, além de apresentar o plano de desenvolvimento de dez anos do Fundo Baobá.  “Durante a Pandemia,  que, de fato impactou a nossa operação, o Fundo Baobá,  por cerca de 20 dias no mês de abril, mobilizou recursos, um pouco menos de R$ 1 milhão, para uma ação emergencial de enfrentamento aos riscos de contaminação por Covid. Nós atendemos pessoas e organizações, aproximadamente 135 organizações e um pouco mais de 200 iniciativas feitas por pessoas, numa época em que não havia ainda nenhuma política pública estruturada.”

O presidente do Conselho Deliberativo do Baobá também disse  que a pandemia não afetou os planos futuros da organização, tanto que citou que a meta do Fundo é chegar aos R$ 250 milhões em recursos para o fundo patrimonial, para que haja uma incidência, ainda maior, nas causas que o Baobá dedica-se a atuar. Além de destacar que vê a ação filantrópica das empresas para o combate ao racismo de forma muito positiva e que a sociedade civil e a iniciativa privada têm ocupado um lugar muito importante nesse momento.

Em suas palavras finais, Giovanni Harvey citou  a participação de pessoas brancas no evento Fórum Brasil Diverso, disse que ficou impressionado com suas falas, mas também ressaltou a importância do exercício do indivíduo de acordo com a estrutura racial da construção da sociedade. 

Para acompanhar a participação do Giovanni Harvey no Brasil Diverso na íntegra, basta acessar o link

 

Fundo Baobá reúne equipe para planejar 2022

 Encontro marcou  primeiro olho no olho entre colaboradoras e colaboradores desde o início da Pandemia 

Por Wagner Prado

O Fundo Baobá para Equidade Racial reuniu  seus times de Programas e Projetos, Administrativo-Financeiro, Comunicação (Branding/Marketing/Criação, Imprensa e Divulgação) e Captação para estabelecer um plano de trabalho e metas para o ano de 2022. A ideia foi levar a equipe a realizar exercícios de criação sobre cenários e soluções para superar um de seus principais  desafios: motivar mais pessoas físicas e jurídicas a doarem em prol da busca pela equidade racial no Brasil. 

Os times do Fundo Baobá foram reunidos entre  os dias 1 e 6 de novembro no Ipê (Instituto de Pesquisas Ecológicas), localizado na cidade de Nazaré Paulista, interior de São Paulo. A cidade bucólica também abriga a Represa de Nazaré, considerado um dos locais mais bonitos do interior do estado. Esses detalhes contribuíram para que as criatividades estivessem afloradas, o que motivou ainda mais a jornada de trabalho.

Um fato importante marcou os dias do time Baobá em Nazaré Paulista. Muitos(as) das e dos colaboradores(as) não se conheciam pessoalmente. Por conta da Covid-19, o Baobá vem trabalhando no sistema de home-office desde a decretação da pandemia, em março de 2020, portanto há um ano e oito meses. Quem se juntou à equipe nesse período só havia tido contato virtual com as e os colegas. O contato físico, seguindo protocolos e  determinações de cuidado com a saúde, foi alcançado durante o encontro.    

Equipe do Fundo Baobá

Ao longo da semana, os times foram integrados e levados a rodas de conversa. Na sexta-feira (5), porém, todos trabalharam em conjunto. Duplas e trios de criação foram montados, juntando pessoas de diferentes áreas. Vários cenários foram levantados e cabia às equipes levantarem soluções práticas que possam ser implementadas em 2022. 

O encontro do Fundo Baobá foi encerrado no sábado (6) com uma confraternização iniciada com um passeio de barco pela Represa de Nazaré Paulista, algo apreciado por todas as pessoas envolvidas devido ao dia maravilhoso naquela região. Após o passeio de barco, um churrasco foi servido. Agora é transformar em ações tudo o que foi pensado para que as metas sejam alcançadas. 

Frases: 

“Eu me senti livre, segura e em família. Afinal,  morar em SP tendo poucas pessoas pretas ao lado não é muito confortável.”
Mariana Brito (Captação)

“O encontro foi uma oportunidade de aprendizado, reflexão e conexão com meus pares e com o Baobá. Foi fundamental para construirmos uma atuação em equipe cada vez mais sólida e em sintonia.”
Tainá Medeiros (Programa)

“O Encontro Baobá foi um momento muito importante de escuta, acolhimento, afeto, aprendizagem e intelecção de como todos que estiveram presentes estão comprometidos com a missão do Fundo Baobá.”
Mara Pereira (Programa)  

“O encontro foi a junção do fortalecimento das relações e interações em equipe com o compartilhamento mútuo do que queremos em termos de ações futuras e permanentes para o Fundo Baobá.”
Marcos Rodrigues (Projetos)

“Estar junto a pessoas que trabalham com o mesmo objetivo é sempre mágico. Saí do encontro ainda mais apaixonado pelo propósito que nos une e com a certeza de que grandes feitos ainda estão por vir.”
Douglas Baster (Marketing)

“Foi uma oportunidade incrível de nos conhecermos pessoalmente, depois de um ano e sete meses de trabalho remoto, e também de integrar os nossos setores e as nossas ações em conjunto para o fortalecimento da principal premissa do Fundo Baobá, que é a promoção da equidade racial.”
Vinicius Vieira (Imprensa)

“O retiro de planejamento trouxe a certeza de que estamos todas, todos e todes em sintonia.  Comprometid@s com a missão e valores da instituição. Dispost@s a trabalhar para/com o coletivo.”
Fernanda Lopes (Diretora de Programa)

“Encontrar, planejar em equipe e celebrar. Este foi o tom do nosso encontro presencial de planejamento e, para mim, esses verbos foram ressignificados durante o contexto da pandemia. Portanto, foi ainda mais incrível poder encontrar todo time presencialmente, planejar nossos próximos passos e celebrar as conquistas e aprendizagens acumulados em 10 anos de história da nossa organização. Saio revigorada e segura de que estamos conectados e comprometidos com as transformações que o Fundo Baobá apresenta para toda sociedade.”
Selma Moreira (Diretora Executiva)

Editais marcam uma década de trajetória do Fundo Baobá (Parte I)

Por Vinícius Vieira

No mês de outubro de 2021, o Fundo Baobá para Equidade Racial celebra 10 anos de atuação. As primeiras sementes da organização foram plantadas no ano de 2006, pelo movimento negro nordestino, aliadas e aliados em diálogo com a Fundação Kellogg. 

Mas foi em 2011 que o Fundo Baobá foi criado formalmente. Com um ambicioso modelo, que inclui um fundo patrimonial, demonstrando ser essencial desenvolver formas de funcionamento específicas para gestão e estratégias de autogestão.

Inicialmente o Fundo Baobá assumiu o compromisso de apoiar iniciativas de curta duração que tenham fins coletivos dentro da temática da promoção da equidade racial. Essa ação também é conhecida como apoio pontual. O primeiro apoio pontual realizado pela organização aconteceu no ano de 2012, por meio da 6ª edição do Prêmio “Educar para a Igualdade Racial”.

Após uma série de apoios pontuais, em 2014 o Fundo Baobá lançou o seu primeiro edital:  1ª Chamada para projetos de Organizações Afro-Brasileiras da Sociedade Civil teve como objetivo apoiar, por 12 meses, 22 organizações pequenas e médias da sociedade civil afro-brasileira de todo o país na implementação de projetos para a promoção da equidade racial. 

Desde então, ao longo de uma década de história, os números confirmam a atuação da organização na promoção da equidade racial no país, através de eixos programáticos em áreas priorizadas para doação, como viver com dignidade, educação, desenvolvimento econômico, comunicação e memória.  

Foram ao todo:

14 milhões investidos
21 parcerias conquistadas
16 editais realizados
553 iniciativas individuais apoiadas
279 organizações apoiadas

Como forma de celebrar os 10 anos de atuação do Fundo Baobá, vamos relembrar alguns editais e ouvir histórias de pessoas e organizações que receberam o apoio da entidade, no passado recente.

A Cidade que Queremos

Lançado no dia 9 de maio de 2018, o edital A Cidade que Queremos, teve a parceria da Fundação OAK e era voltado para grupos e organizações Pró Equidade Racial com projetos que visavam fomentar e desenvolver cidades mais inclusivas e justas para todes.

O edital foi exclusivo para as regiões metropolitanas do Nordeste brasileiro, incluindo os nove estados da região. Foram selecionadas 10 organizações que receberam um aporte financeiro, totalizando R$ 450 mil de investimento.

Entre os selecionados estava a “Associação Artística Nóis de Teatro”, de Fortaleza (CE), que foi apoiada com o projeto “Periferias Insurgentes”. O grupo realizou diversos eventos artísticos, entre eles noites culturais, saraus e seminários, que reuniram vozes que compõem as resistências das periferias de Fortaleza, construindo paralelo com o trabalho da associação. Desses encontros, surgiu a peça Ainda Vivas, com três horas de duração.

Para o ator, diretor, produtor e coordenador do Nóis de Teatro, Altemar Di Monteiro, o suporte do Fundo Baobá tem sido fundamental, até hoje, para as ações do grupo na periferia de Fortaleza, considerando que este apoio foi realizado em três oportunidades distintas: “Em uma delas fizemos a circulação do espetáculo Todo Camburão Tem Um Pouco de Navio Negreiro pelas periferias de Fortaleza, contribuindo para o debate sobre o extermínio da juventude negra e a militarização da nossa polícia e da nossa política”. Na sequência veio Ainda Vivas, segundo Altemar, inspirado nesse giro pela periferia da capital: “Circular pelas diversas favelas de Fortaleza foi importante para que pudéssemos compreender o grande número de jovens e práticas culturais que pulsam nas periferias e sua forte contribuição para desativar o pensamento militarizado que habita a cidade. São saraus, rolezinhos, movimentos do passinho, do reggae, do teatro que inventam outras cidades, outras periferias. A partir da grande força dessa juventude foi que o espetáculo ‘Ainda Vivas’ nasceu”.

Nóis de Teatro, grupo da periferia de Fortaleza (CE)

Para Altemar, receber o apoio do Fundo Baobá para a realização do espetáculo foi muito importante porque contribuiu para a continuidade das ações do grupo e do fortalecimento de práticas antirracistas na cidade: “Num contexto de escassez de políticas públicas da cultura, além de contribuir para a manutenção de um grupo de teatro que resiste há 20 anos na periferia, o Baobá reafirma a cultura como um valor de desenvolvimento social e humano, a arte como direito de todos e todas”.

Com a chegada da pandemia da Covid-19, o grupo recebeu o terceiro aporte financeiro e deu continuidade ao espetáculo Ainda Vivas, mas dessa vez no formato virtual. Para Altemar, esse processo contribuiu para o fortalecimento do elo com o movimento de saraus da periferia, além da valorização da cultura diante do contexto de isolamento social: “Destaco a importância da arte e da cultura na luta antirracista no momento que vivemos. Acredito fortemente que é pelo sensível, pela articulação de outros saberes e práticas que poderemos construir um outro mundo. E sobre isso, me parece que o Fundo Baobá tem entendido bem”, finaliza.

Editais voltados para o desenvolvimento e fortalecimento de mulheres negras

O fortalecimento das mulheres negras sempre foi uma pauta trabalhada no Fundo Baobá. Em duas oportunidades, a organização lançou editais voltados para o público feminino negro: Empodera, lançado em 2016 em parceria com o Instituto Lojas Renner e ONU Mulheres, apoiou 15 empreendimentos de mulheres negras cujos negócios estivessem vinculados à cadeia produtiva do setor têxtil e de moda. Enquanto o edital Negras Potências, lançado em 2018, em parceria com Instituto Coca-Cola Brasil, Movimento Coletivo e Benfeitoria, apoiou 16 iniciativas de impacto para o empoderamento de meninas e mulheres negras, focados na redução das desigualdades raciais e sociais.

Mas foi no dia 2 de setembro de 2019 que o Fundo Baobá lançou o seu edital mais ousado, o primeiro do Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, que contou com a parceria com a Fundação Kellogg, Ford Foundation, Instituto Ibirapitanga e Open Society Foundations. Concebido  para acontecer ao longo de cinco anos, incluindo 2 editais de apoio individual e 2 editais de apoio a organizações, grupos e coletivos, a principal premissa do Programa é que as mulheres negras apoiadas tenham mais subsídios para acessar espaços de poder e tomada de decisão, atuar contra o racismo e em defesa da justiça, equidade social e racial e transformar o mundo a partir de suas experiências.

Em 53 dias de inscrições abertas foram recebidas 314 candidaturas individuais e 86 coletivas de mais de 20 estados do país e do Distrito Federal. No dia 10 de dezembro de 2019 foram anunciadas as 63 lideranças e 15 organizações selecionadas pelo edital. Entre elas estava a produtora musical, Andressa Ferreira, do Rio Grande do Sul, que foi selecionada com o projeto Mulheres Negras e Tecnologia – Produção Musical Enegrecida: “Este período em que tive o apoio do Fundo Baobá, através do Programa Marielle Franco, foi de muito crescimento e de muita colheita. Esse apoio me ajudou a passar pela pandemia,  conseguindo enxergar novos horizontes e possibilidades”, afirma.

Andressa Ferreira, produtora musical

O projeto de Andressa foi fundamentado diante da baixa representação feminina (cis/trans), negra e indígena no campo da produção musical, sua principal área de atuação: “A possibilidade de acessar os conhecimentos em relação a áudio e tecnologia é algo que atualmente está mais acessível, porém ainda existem vários desafios que enfrentamos diariamente para poder ocupar esse espaço que é majoritariamente branco e masculino”, descreveu Andressa Ferreira no relatório final do Programa Marielle Franco.

Com o apoio fornecido pelo edital, Andressa Ferreira fez um curso de produção musical, iniciou os estudos de inglês, comprou equipamentos para produção de áudio, como computador, microfones, interface de áudio, cabos, entre outros, esteve à frente da “Oficina Online Mulheres Afro-amerindias: Áudio e Tecnologia”, voltada para mulheres negras e indígenas (cis/trans), além de ter trabalhado na produção musical do disco Força e Fé, do grupo Imani, formado por quatro mulheres negras de Florianópolis e ter feito também a mentoria musical no projeto AMPLIA+, no qual envolvia a produção de showcases de quatro artistas LGBTQIAP+ de Porto Alegre.

Com todas essas atividades realizadas, Andressa ressalta a importância de participar também das formações políticas junto com as outras lideranças apoiadas: “Esses encontros foram de extrema importância para que eu alcançasse meu objetivo e conseguisse realizar meu Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) com sucesso, além de fortalecer a minha caminhada profissional e pessoal”. 

Andressa Ferreira afirma que o Programa Marielle Franco cumpre o seu papel de fortalecer lideranças femininas negras em espaços de tomadas de decisões: “Termino esse ciclo estando cada vez mais atenta às questões raciais e de gênero. Mais conectada e consciente do legado que carrego, muito agradecida a todas as mulheres negras que abriram os caminhos para que hoje, eu e todas as mulheres contempladas por esse edital,  pudéssemos estar aqui construindo o nosso futuro e potencializando não só a nossa trajetória como as das próximas gerações”.

Hoje, Andressa integra uma equipe preta de uma agência de publicidade de São Paulo, sendo contratada como freelancer para realizar a produção musical de vídeos publicitários. Sendo assim, ela demonstra gratidão ao trabalho do Fundo Baobá na promoção da Equidade Racial: “Agradeço imensamente a organização e friso a importância das ações realizadas por esse Fundo, que realiza mudanças efetivas na nossa sociedade, conseguindo fomentar projetos que contribuem de fato na construção de uma sociedade mais equânime”.

Já É: Educação e Equidade Racial

A educação é uma das áreas priorizadas para receber investimentos do Fundo Baobá.

No ano de 2014, a organização, em parceria com o Instituto Unibanco, com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e com a colaboração técnica do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), lançou o edital Gestão Escolar para a Equidade – Juventude Negra, com o objetivo de promover a implementação de práticas de gestão escolar voltadas para a elevação de indicadores como acesso, conclusão, frequência e rendimento escolar. O edital, voltado para escolas públicas de Ensino Médio, recebeu a inscrição de 124 projetos de todas as regiões do Brasil. Destes, foram selecionadas 10 iniciativas. No ano de 2016, houve a segunda edição do edital, que recebeu 184 propostas e no final contemplou mais 10 projetos de sete estados do país.

Porém, foi com a premissa de apoiar a entrada de jovens negros no ensino superior que, no dia 10 de julho de 2020, o Fundo Baobá lançou o Programa Já É: Educação e Equidade Racial.  Ele conta com apoio do Citi Foundation, Demarest Advogados e Amadi Technology. Além de custear um curso pré-vestibular, as despesas comtransporte e alimentação para jovens negros da cidade de São Paulo e Região Metropolitana, o edital prevê também atividades voltadas para o enfrentamento dos efeitos psicossociais do racismo e para a ampliação das habilidades socioemocionais e vocacionais, bem como mentoria com profissionais de diferentes formações acadêmicas e vivências.

Em um mês, o programa recebeu 245 inscrições, desse número foram selecionados 84 jovens de 12 municípios da região metropolitana. Entre eles, estava Isaque Rodrigues, de São Paulo, que soube da sua aprovação no programa faltando dois dias para seu aniversário de 22 anos: “Quando recebi o e-mail de aprovação para participar do Programa Já É, eu percebi que uma grande oportunidade tinha surgido para mim, oportunidade essa de escrever uma nova história e ter um novo começo”.

Isaque Rodrigues, aluno apoiado

Hoje, aluno do curso pré-vestibular, Isaque afirma que a bolsa de estudos tem sido de grande valia, considerando que a cada dia se aprende algo diferente: “São conteúdos que de fato irão me auxiliar a tirar boas notas em provas e nas atividades que eu irei fazer um dia”. Porém, ele faz questão de dizer que o que mais tem agregado valor são as interações com a equipe do próprio Fundo Baobá: “A Tainá Medeiros [assistente de projetos] é muito proativa e sempre se prontificou a nos auxiliar em qualquer coisa, e a Fernanda Lopes [diretora de programa] me proporcionou uma nova visão, que me fez entender que o nosso lugar de protagonistas neste mundo existe e precisamos ocupá-lo”.

Isaque reforça também a importância das mentorias realizadas e o quanto isso é inspirador em sua vida: “Hoje me sinto inspirado, motivado a fazer a diferença, a ajudar os meus e todos os que estão ao meu redor. Meus olhos brilham cada vez que lembro que olharam para mim e perceberam um potencial de ir além do que eu imaginava ir. Posso dizer que encontrei a minha identidade e hoje tenho orgulho de contar a minha história de vida e de superação”.

Com planos de cursar Publicidade e Propaganda, Isaque Rodrigues é muito grato ao Programa Já É: “Eu vejo que esse edital tem em sua essência transformar a vida de pessoas, que como eu sofrem pela desigualdade, sofrem por serem julgadas pela sua cor, não enxergando a nossa grandeza. É justamente isso que nossa juventude precisa entender: somos grandiosos e só conseguimos derrubar as barreiras juntos”, finaliza.

Editais marcam uma década de trajetória do Fundo Baobá (Parte II)

 Por Wagner Prado

Ao longo dos seus 10 anos de atuação no campo da filantropia, completados neste 2021, o Fundo Baobá para Equidade Racial tem procurado o protagonismo no que se refere ao trabalho pela busca de uma sociedade equânime no Brasil, onde a equidade racial esteja presente e as oportunidades estejam, o mínimo, em equilíbrio para todos. Essa é a busca. E persegui-la requer muito esforço. A resiliência pede isso: esforço, adaptação e antevisão. O Fundo Baobá tem sido resiliente. No esforço de chegar e ouvir as vozes do campo. Na adaptação de seu modo de gestão.  Na antevisão das áreas prioritárias em que pode atuar e melhorar pessoas.

Foi no sentido de antever questões prioritárias que em abril de 2020, um mês após a decretação da Pandemia pela Organização Mundial da Saúde  (OMS), em 11 de março, que o Fundo Baobá lançou o edital Doações Emergenciais, em parceria com a Ford Foundation. Com uma dotação de R$ 870 mil, o edital foi destinado ao suporte a comunidades vulneráveis, mulheres, população negra, idosos, povos originários e comunidades tradicionais. O Doações Emergenciais recebeu 1.037 inscrições e teve 350 selecionados (215 indivíduos e 135 organizações). 

Uma das apoiadas foi Amanda Queiroz de Moraes, de Ananindeua, no estado do Pará. Ela faz parte da Associação Centro Social Estrela Dalva e ressalta a importância da iniciativa naquele momento. “A ajuda veio em um momento em que a comunidade estava, mais do que nunca, necessitando de apoio social, visto que estávamos em um período muito crítico da Pandemia”, afirmou. 

Amanda de Moraes, de Ananindeua, no estado do Pará

Cada organização ou indivíduo recebeu R$ 2,5 mil.  Amanda conta o que foi possível fazer com o recurso recebido. “No Centro Social Estrela Dalva nós atendemos crianças e mães adolescentes. Promovemos rodas de conversa sobre sexualidade e fazemos distribuição de gêneros alimentícios, material de higiene e limpeza e máscaras de proteção. Aquele foi um momento desafiador para nossa comunidade. Não é fácil se aproximar de adolescentes grávidas, sem nenhum tipo.de assistência, seja ela na área da saúde ou familiar”, disse. Apesar dos problemas, a experiência de Amanda Queiroz de Moraes foi única: “Apesar de toda dificuldade e desafios que nos foram postos, foi uma experiência que ficará marcada na história do Centro Estrela Dalva”, finalizou. 

Ainda dentro do contexto de quem estava sofrendo com os dissabores causados pela Pandemia do Coronavírus, temos os pequenos empreendedores que foram atingidos diretamente em seus negócios. Muitos fecharam de forma definitiva. Outros tantos tiveram que fechar temporariamente, o que fez cessar a entrada de recursos. O edital Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores Negros e Negras foi lançado em novembro de 2020, para apoiar esses negócios e seus proprietários. 

Com apoio do Instituto Coca-Cola Brasil, Instituto Votorantim e Banco BV, o  Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores Negros e Negras teve dotação de R$ 1,6 milhão, alcançou 700 inscrições e deu apoio a 47 iniciativas, cada uma composta por 03 empreendimentos. Como premissa do edital, os empreendimentos deviam ser constituídos por três associados, cabendo a cada um deles o valor de R$ 10 mil, perfazendo R$ 30 mil por iniciativa. Todas as pessoas empreendedoras receberam mentoria técnica para que pudessem atualizar processos e incrementar a gestão, com o objetivo de alcançar melhores resultados.  

Uma das iniciativas apoiadas pelo Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores Negros e Negras foi a Casas Ecológicas e Sustentáveis, do Rio de Janeiro. O objetivo os associados é baixar o custo de construção de moradias populares com o uso de tijolos ecológicos. Porém, fato comum entre empreendedores, o fôlego inicial sempre é o mais difícil de se obter. Ronaldo Lemos, um dos três empreendedores da  Casas Ecológicas e Sustentáveis. “Nos buscávamos iniciar a nossa fabricação de tijolos ecológicos, mas o custo do maquinário era muito alto. Graças ao Fundo Baobá,  nós pudemos fazer a compra do maquinário e montar uma estrutura para a fabricação dos tijolos. Nosso maior objetivo é nos consolidarmos como um dos grandes fabricantes de tijolos ecológicos do Brasil.  Já fechamos com alguns parceiros e iniciamos a fabricação”, afirmou Ronaldo Lemos. “A equipe Casas Ecológicas e Sustentáveis é imensamente grata ao Fundo Baobá”, completou. 

Ronaldo Melo, Casas Ecológicas e Sustentáveis

Em maio de 2021. o Fundo Baobá para Equidade Racial e o Google.org, braço financeiro do Google para apoios filantrópicos, fecharam acordo para o lançamento do edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça. Acima de tudo, o Vidas Negras é uma oportunidade para a população negra brasileira reforçar planos de ativismo e resistência diante das injustiças advindas do racismo. O público foco foram organização que mantêm trabalhos voltados ao combate contra a violência sistêmica sobre o povo negro e injustiças criminais que ocorrem dentro do sistema jurídico do Brasil. 

O Google.org destinou R$ 1,2 milhão para a escolha de 12 organizações. Cada uma irá receber R$ 100 mil ao longo de 12 meses. As organizações apresentaram inciativas a serem desenvolvidas nas seguintes áreas:  a) Enfrentamento à violência racial sistêmica; b) Proteção comunitária e promoção da equidade racial; c) Enfrentamento ao encarceramento em massa entre adultos e jovens negros e redução da idade penal para adolescentes; d) Reparação para vítimas e sobreviventes de injustiças criminais com viés racial. 

Um dos projetos selecionados dentro do eixo “Enfrentamento ao encarceramento em massa entre adultos e jovens negros e redução da idade penal para adolescentes” foi o da Associação Elas Existem – Mulheres Encarceradas. A iniciativa foi inscrita pelo estado do Rio de Janeiro, mas está de mudança para o Acre, onde o projeto será desenvolvido. “O maior impacto do edital nesse momento,  em nossa organização,  é que estamos iniciando nossa segunda sede no local em que o racismo é predominante, assim como a ausência de discussões sobre direitos humanos e acesso a direitos. O Norte do país, fronteira com diversas nações, possui um alto índice de prisões por  tráfico de drogas,  sendo urgente questionar essas e outras situações que fazem com que o Brasil permaneça no ranking dos que mais encarceram mulheres”, afirmou Caroline Mendes Bispo. da Associação Elas Existem. Na semana em que conversamos com Caroline,  ela estava de mudança para Cruzeiro do Sul (AC), onde vai se estabelecer para coordenar as ações do projeto.

Caroline Bispo, Associação Elas Existem

A Associação Elas Existem vai utilizar a destinação que irá receber para promover as ações que já implementa nos estados do Rio de Janeiro e Mato Grosso. “A Associação atua buscando promover discussões sobre  a situação das pessoas privadas de liberdade e a melhoria das condições intramuros, além de incentivar o debate sobre as causas e consequência do encarceramento em massa, principalmente de mulheres (cis e trans), observando como o racismo opera na seletividade do sistema de justiça criminal de jovens negras. Desse modo, desde 2016 organizamos eventos em que arrecadamos doações de absorventes e demais materiais de higiene, que são entregues nas unidades prisionais, de acordo com a disponibilidade e necessidade de cada instituição. Fazemos também diversas campanhas virtuais para demonstrar que um rolo de papel higiênico faz muita diferença na vida de uma mulher.”, disse Caroline Mendes Bispo.

O trabalho da Associação Elas será intenso no Acre. Já estão listadas oito atividades fundamentais para projeto: Estudo sobre o efetivo carcerário;  Mapear e acompanhar normativas, ações e projetos de lei, além de outros instrumentos de políticas públicas; Elaborar e distribuir materiais educativo em ambiente carcerário intramuros e extramuros; Fazer o intercâmbio de conhecimento e aprendizado entre as equipes que atuam no estado do Rio e no estado do Acre;  Promover Rodas de Conversa sobre direitos e oficinas para o desenvolvimento de potencialidades (intramuros); Promover plantões de orientação sociojurídicas (intra e extramuros); Promover grupos de leitura e rodas de conversa (extramuros).    

 

 

10 Anos do Baobá: Selma Moreira e Fernanda Lopes projetam a próxima década

Por Wagner Prado

Duas mulheres com uma grande missão: ajudar a transformar. Ambas exercem isso para muito além dos cargos que ocupam, porque contribuir na transformação não é um trabalho, é uma missão. Selma Moreira é a diretora executiva. Fernanda Lopes, a diretora de programa. Ambas trabalham para o Fundo Baobá para Equidade Racial. Ambas se alternam na função de arco e flecha do primeiro fundo exclusivo para a promoção da  equidade racial para a população negra no Brasil. Arco e flecha porque têm a função de impulsionar e sair ao ataque certeiro na busca por recursos, pois sem eles as coisas não acontecem. 

O Fundo Baobá para Equidade Racial está completando 10 anos. O que irá acontecer nos próximos dez está sendo plantado pela governança do Fundo e orquestrado por Selma e Fernanda, que estão à frente de uma equipe de 14 pessoas entre colaboradores diretos e indiretos. 

Os desafios têm sido muitos nesses 10 anos de busca pela consolidação do Baobá. A busca vai continuar pelos próximos anos. Os desafios não serão menores. Neste encontro com Selma Moreira e Fernanda Lopes temos a visão de ambas sobre os caminhos traçados para a gestão futura do Fundo Baobá, sua importância no trabalho de busca pela equidade racial e por uma sociedade igualitária no Brasil. 

Selma Moreira (diretora executiva) e Fernanda Lopes (diretora de programa)

Conte como você chegou ao Baobá ou como o Baobá chegou até você?  

Selma Moreira – Eu conheci o Fundo Baobá em função de uma conexão feita pelo Fábio Santiago, atual membro do Conselho Fiscal, no período do processo seletivo para a posição de diretora executiva, cargo que ocupo hoje na organização.

Fernanda Lopes – Cheguei ao Fundo Baobá como consultora. Em 2018 fui responsável pela elaboração do plano estratégico do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. Em 2019,  após aprovação do plano estratégico do Programa e após avaliação do Conselho Deliberativo, recebi o convite, aceitei e passei a compor o time. 

 

Que desafios você enxergou à época? 

Selma Moreira – Prioritariamente,  desafios de gestão, com foco em governança interna e externa (pessoas) e administração de finanças. A consequência dos itens anteriores conectarem-se com o desenho de estratégia para constituição do endowment (recurso financeiro). 

Fernanda Lopes – Naquele momento tínhamos desafios de gestão relacionados ao aprimoramento dos processos, fluxos, instrumentos e mecanismos de monitoramento.  Precisávamos aprimorar nossa comunicação, reposicionar nossa marca e fazer do Baobá uma instituição conhecida e reconhecida,  no campo da filantropia por justiça social, como a única a atuar neste ecossistema exclusivamente para apoiar e ampliar oportunidades de desenvolvimento para organizações e lideranças negras. Era necessário reafirmar os editais como o mecanismo mais eficiente para ampliar oportunidades de apoio para organizações, grupos, coletivos e lideranças negras de todo o Brasil.  Também se apresentava como desafio produzir mais e melhores evidências e ampliar nosso diálogo com o campo para subsidiar nossas decisões acerca dos investimentos prioritários.

Esses desafios se concretizaram?

Selma Moreira – Sim. Governança: o Fundo Baobá é benchmarking (referência) no terceiro setor com um robusto corpo de governança. Temos Assembleia Geral, Conselho Deliberativo, Conselho Fiscal, Comitê de Investimentos, Comitê de Ética, Comitê Executivo e Diretora Executiva. Este desenho demonstra um conjunto de mecanismos de compliance (observância) para garantir pesos e contrapesos nas tomadas de decisão, de forma a zelar pelas melhores práticas de governança, cumprindo os princípios de transparência, equidade na  comunicação das informações, prestação de contas e responsabilidade institucional com todos os públicos de relacionamento

Fernanda Lopes –  Trata-se de um processo. E todas as vezes que superamos alguns desafios, passamos a enfrentar novos. Porque a filantropia responsiva se dá desta forma. É preciso muita atenção aos contextos para atuar de modo tempestivo e responsivo. Sempre há algum ponto a ser melhorado. Em 2019, tínhamos dois editais em fase de finalização, 23 projetos no total, todos implementados por organizações formais (com CNPJ). Iniciamos 2020 com 78 projetos sendo implementados por organizações e, pela primeira vez na história do Baobá, também por grupos, coletivos informais e ainda por indivíduos. 2020 foi um ano de muitos aprendizados. Foram seis editais lançados, mais de 470 projetos selecionados, a maioria iniciativas de ações coletivas executadas por indivíduos.  Adotamos o meio eletrônico para receber os projetos, iniciamos o processo de gestão de dados e produção de informações para subsidiar a tomada de decisões, fomos revisando os fluxos, definindo políticas, processos, procedimentos. Criamos diferentes espaços de diálogo com o campo e outros atores estratégicos e investimos em comunicação.  Eu diria que o mais importante ganho, até agora, foi tornar nítido que a forma de o Baobá atuar como grantmaker (concedente)  é diferenciada. A natureza do Baobá não permite ser visto, ou se ver, como um ator que capta e repassa recursos. Nosso modo de operar precisa deixar nítido que, para organizações e lideranças negras vivenciarem a transformação social justa, sustentável e sistêmica, os recursos financeiros e orçamentários são extremamente necessários, mas não são suficientes. É preciso desenvolver competências, habilidades, capacidades. 

Quais desafios ainda estão por se concretizar? 

Selma Moreira –  Expandir e aprofundar o diálogo com toda sociedade brasileira; programa de doação individual recorrente; aprimorar a  comunicação estratégica,  potente e diversa nas redes sociais e outras mídias;  encontro de organizações e lideranças apoiadas pelo Fundo Baobá no período dos últimos 10 anos; influência no setor nacional e internacional acerca do contexto de relações raciais no Brasil. 

Fernanda Lopes – Neste momento, outubro de 2021,  temos dois editais em fase de finalização, quatro editais em curso e dois para serem lançados. Os aprendizados estão sendo convertidos em medidas corretivas. Estamos avançando em análises de dados e produção de informações para evidenciar os valores agregados pelo Baobá no campo. Sabemos que a pandemia, apesar de toda a sua crueldade, gerou alguns efeitos positivos. Em um único edital, lideranças femininas negras apoiadas por 18 meses realizaram ações que alcançaram mais de meio milhão de pessoas. Isso é semeadura. Há muitos solos férteis e, com certeza, muitas sementes foram fertilizadas em todo o país, na zona rural ou urbana; nas periferias ou nos centros. Nas instituições públicas governamentais ou privadas; nas comunidades ou nas universidades. E, embora eu tenha dado um exemplo quantitativo, ele não é suficiente. Para fazer filantropia para justiça social, para promover equidade racial por meio de ações filantrópicas, é preciso ir além. Relatar esforços, narrar pequenas ou grandes mudanças, mobilizar e engajar mais pessoas e instituições. Estes seguem sendo desafios cotidianamente experimentados por nós.  

Como você avalia os caminhos percorridos pelo Baobá nestes 10 anos? 

Selma Moreira – O caminho é de fortalecimento, amadurecimento no diálogo com o campo das organizações e lideranças negras.  Aprimoramos os diálogos com representantes de organizações que investem em ações sociais via Fundações, Institutos e Empresas. Estamos promovendo editais em todo território nacional e esses editais são estratégicos. Investimos na formação de equipe interna e parceiros estratégicos para a operação.  Até o momento temos números bem interessantes, que comprovam nosso crescimento, abrangência e influência nesses 10 anos de atividades: R$ 14 milhões investidos; 21 parcerias conquistadas; 16 editais realizados; 553 iniciativas individuais apoiadas e 279 organizações apoiadas. 

 Fernanda Lopes – Cheguei há pouco no Baobá,  mas conheço a instituição e sua missão desde o início. Muitas das pessoas que participaram de sua criação foram de suma importância para minha formação como pessoa, militante e profissional. Estamos crescendo e nos consolidando. Estamos nos aproximando, a meu ver, daquilo que era a proposta inicial, quando ainda não estava definido o formato, o modo de operar e de ser governado.  Não se trata apenas de ampliar o volume captado, o volume investido no campo. Trata-se do modo como nos apresentamos e como somos vistos pela sociedade. O modo como operamos, a forma como escutamos, como realizamos nossos ajustes de rota, como compartilhamos nossos aprendizados, como influenciamos,  como transformamos e nos deixamos transformar. Tudo isso tem relação direta com os 10 anos de atuação do Baobá como grantmaker (concedente de apoios financeiros).

O grande gargalo para o Baobá é a captação de recursos?  

Selma Moreira – Captação para o endowment (fundo patrimonial) é um gargalo nacional e internacional. 

Fernanda Lopes – Os impactos do racismo são vivenciados em todas as dimensões do desenvolvimento – individual, social, econômico, político, cultural e ambiental. O Baobá se propõe a atuar como grantmaker (concedente),  apoiando iniciativas negras que respondam a todas estas dimensões.  A captação de recursos é a via para garantir que estes apoios ocorram. Contudo, sabemos que,  para que a ação filantrópica do Baobá seja sustentável, ela não pode ser apenas para ações programáticas. Precisamos captar para o endowment (fundo patrimonial). Os recursos captados para o endowment nos permitem autonomia de investimento, de acordo com necessidades e expectativas advindas do campo. Por exemplo, no auge da pandemia todos os recursos captados tinham destino certo. A liberdade oferecida,  tanto para organizações quanto para lideranças, em nosso primeiro edital de apoio emergencial no contexto da pandemia, só foi possível porque utilizamos recursos oriundos dos rendimentos do fundo patrimonial. Ou seja,  recursos próprios do Baobá. Com isso,  pudemos receber propostas com demandas por ações e insumos que melhor respondessem às necessidades e expectativas das bases. Não nos vimos motivados a indicar o que poderia constar ou o que priorizar. Era livre. As comunidades, as organizações, as lideranças decidiam o que e como fazer naquele momento. Ter recursos captados para o endowment, além de garantir autonomia nos investimentos programáticos  permite tempestividade e sustentabilidade em nossa ação de grantmaker (concedente).  

Financiadores do exterior têm uma visão mais apurada socialmente sobre o que venha a ser o trabalho de filantropia para equidade racial? 

Selma Moreira – A cultura de doação está mais consolidada no exterior (Estados Unidos e Europa), no que tange a diversos temas. Mas a equidade racial ainda é incipiente. De todo modo, há  mais abertura para construção de soluções perenes, assim como o endowment.

Fernanda Lopes – No Brasil, a negação do racismo e de seus efeitos nas condições de vida e saúde e nas oportunidades efetivamente disponíveis para as pessoas negras, em diferentes setores, impede o reconhecimento estratégico da filantropia para a equidade racial como instrumento para o alcance do desenvolvimento com equidade no país e para consolidação da democracia. No exterior, ainda que haja uma suposta maior abertura, as instituições e pessoas desconhecem as iniquidades raciais que existem no Brasil. Logo, há uma certa dificuldade em reconhecer a importância estratégica da filantropia para equidade racial entre aqueles que doam.    

Qual a grande satisfação em executar o trabalho feito pelo Fundo Baobá? 

Selma Moreira – O Fundo Baobá é uma organização essencial para promoção de uma sociedade mais justa e equânime. Fazer parte das estratégias de mudança e transformação, com as lentes e ações de liderança desta organização, é um desafio ímpar e uma alegria imensa em cada passo dado por um mundo melhor.

Fernanda Lopes – O Baobá é uma instituição que incide no ecossistema de filantropia para garantir que mais recursos, de diferentes fontes, sejam canalizados para o reconhecimento e o desenvolvimento da população negra como sujeito de direito e agente de sua própria história e destino. Uma instituição orientada pelas lentes da justiça racial, cuja missão e propósito estão voltados para promover mudanças estruturais, para intervir na raiz das desigualdades sociorraciais que é o racismo.  Mas para isso tudo é preciso inovar e aprimorar todos os dias, e aqui não falamos de tecnologia, falamos de sociologia, antropologia, política, relações institucionais, relações interpessoais.  Porque esta é a base para a mudança que vem do e para o coletivo. Isso é algo que, particularmente, me anima. É um lugar onde posso colocar à disposição tudo o que aprendi nos diferentes espaços por onde passei e, sobretudo, que me dá oportunidade de aprender, trocar, me revisitar, reorientar, reordenar, cocriar. Não deixa de ser um espaço de militância. Você pode ter uma bagagem técnica e muitas articulações, conexões, mas aqui só se dispõe a enfrentar toda sorte de desafios quem está disposto a defender a causa.

Formação de lideranças femininas, Primeira Infância, Recuperação Econômica, Direito à Cidade, Auxílio a Populações em Situação de Vulnerabilidade, Apoio à População Quilombola, Acesso a Cursos Superiores em Universidades Públicas, Dignidade e Justiça. Falta algum segmento em que o Baobá ainda não atuou com seus editais? 

Selma Moreira – Não consegui identificar. Mapeamos nossas estratégias a fim de sermos responsivos para todas as áreas de atuação da população negra. De todo modo, vale ressaltar que ainda há muito aprimoramento no que tange à construção de estratégias que permitam alianças estruturantes e mudanças sistêmicas na sociedade, envolvendo os diversos atores do sistema.

Fernanda Lopes – Cada área que priorizamos tem um leque de possibilidades. Ter diferentes editais não significa que estamos contemplando tudo o que pode estar contido dentro de uma área.  Por exemplo, investir em equidade racial na educação exige que atuemos na educação básica (educação infantil, ensino fundamental e médio), no ensino superior, na pós-graduação e na formação de quadros. Tem iniciativas que podem focar a gestão, o corpo docente, o corpo discente; podem acontecer em unidades escolares, instituições de ensino, pesquisa e extensão  ou outros espaços onde as ações educativas ocorrem.  Se focamos na comunicação podemos pensar na mídia negra, na educomunicação, no fortalecimento da pauta e ampliação da participação de profissionais negros nos veículos tradicionais e nas mídias independentes nao negras. Naquilo que se faz em diferentes plataformas e formatos.  Arte e Cultura é um nicho no qual ainda não conseguimos  investir e sabemos que a representação social do negro e o imaginário coletivo se transformam por meio do estímulo ao conjunto de sentidos, tão bem explorado por pessoas, organizações, grupos e coletivos que atuam nessa área e também navegam pela comunicação, arte e cultura, as mais eficientes estratégias de buscar o que, por ventura, pode-se ter esquecido. A memória que nos orienta a ver o hoje, construir um futuro diferente, pautado pelas conquistas, pelos erros e acertos do passado. Isto sem contar a ciência e a tecnologia.  Enfim, temos muito a fomentar. E o campo cada dia tem deixado isso mais nítido. A transformação e o desenvolvimento para a população negra têm diferentes matizes e matrizes.

Como instituição, o Baobá vem se internacionalizando. Qual a importância disso? 

Selma Moreira – Apoios internacionais com foco nos investimentos programáticos e na construção do fundo patrimonial são de importância estratégica fundamental. Essa internacionalização do Fundo Baobá, que vem já da sua fundação, é uma forma de levar para os países do exterior um maior conhecimento sobre o Brasil. E isso é uma via de mão dupla, pois ter conhecimento envolve o saber de fatos negativos e de fatos positivos também. 

Fernanda Lopes – Para além de ampliar a sua capacidade de mobilização de recursos, estabelecimento de parcerias estratégicas e, por consequência, contribuir para mudanças sustentáveis no processo de desenvolvimento integral da população negra, acredito que a internacionalização do Baobá contribua para ampliar a discussão sobre equidade racial no sul global,  dentro e fora do ecossistema filantrópico.

O Baobá já alcançou o propósito para o qual foi criado? 

Selma Moreira – Avançamos muito em 10 anos, mas ainda há muito a ser feito.  Infelizmente,  o contexto de desigualdade e racismo recrudesceu com a pandemia. As soluções precisam ser cada vez mais sob medida para as diferentes demandas, tempos e especificidades dos públicos apoiados.

Fernanda Lopes – O Baobá ainda tem muito a realizar. O Baobá pode contribuir para transformar o imaginário coletivo. Pode contribuir influenciando a tomada de decisão das instituições públicas, privadas e do terceiro setor e,  sobretudo, fortalecer a sociedade civil organizada negra, o movimento social negro, o movimento de mulheres negras, o movimento LGBTQIA+, o movimento de pessoas negras com deficiência, o movimento quilombola na busca por equidade racial  e justiça social.

Que projeção você faz para os próximos 10 anos do Baobá?

Selma Moreira – Dez anos de inúmeros desafios. Desejo que o Baobá se consolide como referência e possa expandir seu impacto a partir da execução da sua missão em apoio a organizações e lideranças negras, a fim de contribuir para uma sociedade mais justa. Ainda desejo que tenham mais organizações engajadas em parceria com o Baobá para promoção de ações para e com a população negra em todo Brasil. E, por fim, desejo que tenhamos possibilidade de expandir os diálogos no eixo sul / sul, a fim de trocar, aprimorar e fortalecer alianças estratégicas conectadas com a nossa missão.

Fernanda Lopes – O plano de ação de Durban completa 20 anos neste 2021. Houve avanços,  mas há desafios persistentes. As reparações são parte deste conjunto que, os compromissos assumidos no âmbito da Década de Afrodescendentes ou mesmo da Agenda de Desenvolvimento Sustentável, não contemplam. O Baobá foi criado como um mecanismo capaz de captar recursos e convertê-los em benefícios para a população negra, financeiros e outros. Na vigência do racismo,  a ausência de proteção e garantia de direitos é reiterada e esta ausência afeta pessoas e coletivos. Os efeitos são generalizados. Por isso trago o tema reparações. Quando falamos em reparações estamos falando em políticas afirmativas, em investimentos das mais diversas ordens, em recursos financeiros. Para os próximos 10 anos sonho com o Baobá sendo um ator relevante na cena global de enfrentamento ao racismo e promoção da equidade racial, além de ser  um mecanismo por meio do qual se possa concretizar  ações ou políticas de reparação.