Emoção marca aula inaugural do programa educacional Já É, lançado pelo Fundo Baobá para Equidade Racial

A emoção esteve presente o tempo todo na noite de quinta-feira (18 de março) quando o Fundo Baobá realizou a aula inaugural do programa Já É – Educação e Equidade Racial. O Já É tem como objetivo dar apoio a estudantes negros da periferia da cidade de São Paulo e de municípios da região metropolitana de São Paulo no que se refere ao acesso ao ensino superior, um dos grandes gargalos que afetam a juventude negra em seu desenvolvimento social. A aula inaugural do programa aconteceu no formato virtual por conta das medidas de distanciamento social adotadas durante o período da pandemia da Covid-19, que perdura desde março de 2020.

O programa Já É tem apoio de Citi Foundation, Demarest Advogados e Amadi Technology. As inscrições para fazer parte do programa aconteceram entre julho e agosto de 2020. As etapas classificatórias aconteceram entre setembro e novembro de 2020. O Já É selecionou 100 jovens entre 17 e 25 anos que vão receber bolsa para estudarem, durante 1 ano, no Cursinho da Poli. O programa foi todo planejado para que as aulas acontecessem em caráter presencial. Porém, com as medidas restritivas da pandemia, por enquanto, elas terão que ocorrer virtualmente. Para que as aulas possam acontecer dessa forma, cada aluna, aluno, alune recebeu um computador e um chip de acesso à internet, pois a maioria  não possui acesso a internet de banda larga em casa ou pacote de dados que permita acessar a plataforma de aulas, fazer pesquisas e outros detalhes que envolvam aprendizado. Quando as aulas voltarem  a acontecer presencialmente, os alunos selecionados vão receber auxílio alimentação e vale transporte. 

A aula inaugural teve participação de representantes das instituições apoiadoras do Já É, além de membros de órgãos de governança do Fundo Baobá e outros parceiros estratégicos. Pelos apoiadores estiveram presentes Fernando Granziera e Patricia Salles (Citi Brasil), Paulo Rocha e Karina Miranda (Demarest Advogados) e Agnes Karoline de Farias Castro (Amadi Technology). Pelo Fundo Baobá, estiveram presentes Giovanni Harvey (presidente do Conselho Deliberativo), Sueli Carneiro e Rebecca Reichmann Tavares (membros do Conselho Deliberativo), Maria do Socorro Guterres e  Lindivaldo Oliveira Leite Junior (membros da Assembleia Geral), Marco Antonio Fujihara (membro do Conselho Fiscal), além dos membros da equipe executiva. 

Fernando Granziera, líder de Produtos e Co Chair do grupo Blacks at Citi no Brasil, disse que a organização está focando nos projetos sociais. “O empoderamento da juventude negra é prioridade para o Citi. Acreditamos em vocês. Estamos investindo pesado em projetos sociais e esperamos que vocês possam, no futuro, ser nossos colaboradores. Parabéns”, comemorou Granziera.

Fernando Granziera, líder de Produtos e Co Chair do grupo Blacks at Citi no Brasil

Patricia Salles, analista sênior de documentação do Citi, comentou a importância de o Citi Brasil estar presente nesse projeto. “Abraçar a diversidade de pessoas e ideias é atuar com ética. Essa é nossa responsabilidade. Essa é a forma de nos aproximarmos de nossos funcionários, da comunidade e dos nossos clientes”, concluiu Salles que é a madrinha do Ja É no Citi Brasil.

Patricia Salles, analista sênior de documentação do Citi

Já Paulo Coelho da Rocha, do Demarest Advogados, pediu aos alunos muita força de propósito: “Todos acreditamos nos sonhos e ninguém, ninguém, deve desistir de nada. Eu sou um homem branco e isso implica em ter privilégios em nossa sociedade. Então, aproveitem muito essa oportunidade. Aproveitem muito as aulas”, disse.

Paulo Coelho da Rocha, Demarest Advogados

A personificação desse sonho no Demarest está na figura da advogada Karina Miranda, que trabalha com Contencioso Cível. A história dela é semelhante à dos alunos do Já É. “Há 10 anos eu estava no lugar de cada um de vocês. Meu sonho era estudar Direito na USP. Deu certo. Eu me formei na USP. Alcancei meu sonho. Então, dediquem-se! Entreguem-se!”, disse.

Karina Miranda, Demarest Advogados

Com Coelho da Rocha concorda Agnes Karoline, CEO da Amadi Technology. “Por conta de nossa sociedade desigual, o uso da tecnologia também é desigual entre as pessoas. Somos uma empresa, mas temos uma responsabilidade social grande. Vamos trazer um pouco do debate da tecnopolítica. A tecnologia não é neutra. Ela está nos campos da transformação social”, definiu Agnes Karoline. 

Agnes Karoline, CEO da Amadi Technology

O lançamento do Já É também marca o ano de comemoração dos 10 anos do Fundo Baobá. A diretora de programa, Fernanda Lopes, falou da importância do que aconteceu na noite de quinta (18). “Estamos plantando sementes. Transformando vidas. Mudando a história.  Somos parte dessa massa que conspira e provoca mudanças. E nem o distanciamento vai impedir a nossa força. Quando menos esperarem estaremos em mais lugares, seremos muitos e mais fortes. Muitas sementes de Baobá!”, disse. 

Fernanda Lopes, diretora de programa do Fundo Baobá para Equidade Racial

Giovanni Harvey, presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá, enalteceu a iniciativa. “Quero expressar o nosso agradecimento. Porque as iniciativas que o Baobá tem só são viáveis na medida em que possamos trazer parceiros que se tornem viáveis e qualifiquem essas iniciativas. Agradeço por terem se somado a essa iniciativa que busca atender um público prioritário para o Baobá, que é a juventude negra”, afirmou. 

Socorro Guterres, uma das fundadoras do Fundo Baobá e que faz parte da Assembleia Geral, falou da origem da organização. “É com prazer enorme que faço parte desse momento. Porque vejo nesse mosaico de tantas caras de jovens negros e negras, inúmeras perspectivas. Isso é extremamente significativo. Isso mostra que podemos apresentar aos jovens novos caminhos. Caminhos para construir a própria história. Já é possível sonhar. Já é possível esperançar. Já É!”, afirmou Socorro Guterres.

Socorro Guterres, fundadora e membro da assembleia geral do Fundo Baobá 

Thuane Nascimento, diretora executiva do Perifa Connection, destacou a importância do projeto e o histórico que a luta por acesso ao estudo têm no Brasil. “Essa iniciativa é um sopro de esperança. Porque, como diz a professora  de Direito Thula Pires, “vivemos em um mundo meritocrático. Então, vocês precisam estudar; Persistam! Façam o que tem que ser feito, que é estudar. Tenham em mente a luta que foi travada para que vocês estivessem aqui hoje. A luta pelas cotas, travada por pessoas como a Sueli Carneiro, que está aqui entre nós. Não fossem as cotas, eu não estaria aqui hoje”, disse. Thuane é aluna de Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).  

Thuane Nascimento, diretora executiva do Perifa Connection

As falas dos estudantes foram pautadas pela emoção devido à busca por uma oportunidade como essa, que não estava acontecendo. Uma das falas mais simbólicas foi a da aluna Rubyanne Yasmine, que mostrando a sua filha, ainda um bebê, disse: “Estou aqui porque este é o símbolo da minha luta”.  Para a aluna Isabella Amaro,  o programa é uma espécie de reparo a algumas formas de opressão impostas ao povo negro.

Rubyanne Yasmine, aluna

“O processo escravocrata, o processo de eugenia e o processo de racialização que o Brasil sofre é muito forte na questão da coisificação dos negros. Nós fomos coisificados. Acabamos nos afastando um dos outros e de nós mesmos. Esse projeto é uma forma de reparação. Uma forma de fazer com que andemos juntos. É importante ter um irmão de luta ao lado, que vai saber o que sentimos e vai se identificar com a gente. As palavras para o Já É são humanidade e democratização”, afirmou Isabella Amaro.

Isabella Amaro, aluna

Para Selma Moreira, diretora-executiva do Fundo Baobá, a parte mais importante está na confiança que esses jovens tiveram no Baobá. “Olhando tudo o que a gente dialogou aqui, eu me sinto mais impelida a buscar novas oportunidades como essa. Ainda alcançamos pouco de tudo o que nos é devido. Queremos construir um mundo que seja mais equânime, um mundo mais justo. E é por isso que acordamos todos os dias. O dia de hoje foi lindo e deu mais sentido ao nosso trabalho”, disse.

Juventude conectada e comprometida com a assistência social

Por Eliane de Santos

Em 2019, o Estado do Rio Grande do Norte tinha 1.329.000 pessoas – o equivalente a 38% da sua população -, vivendo abaixo da linha de pobreza, segundo a Síntese dos Indicadores Sociais 2020, divulgada pelo IBGE em novembro do ano passado. A mesma pesquisa apurou que um em cada quatro potiguares, com idades entre 15 e 29 anos, não estudava e nem trabalhava em 2019.

Pois no final do ano passado ao lançar o Edital Primeira Infância no Contexto da Covid-19, na companhia da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, da Porticus América Latina e Imaginable Futures, o Fundo Baobá teve uma grata surpresa recebendo propostas de jovens do Rio Grande do Norte.

Eles não se conheciam, entretanto compartilhavam da mesma sensação de incômodo quando paravam, olhavam ao redor e viam a fome e o sofrimento de vizinhos. Antenados, se inscreveram no edital, buscaram parcerias e fizeram diferença para centenas de pessoas.

Aline Pedro de Moura, de 28 anos, nem precisou olhar para muito longe. Moradora da comunidade quilombola de Capoeiras, em Macaíba, ela sentiu na pele e com força o abandono do estado quando a pandemia chegou.

“O que me levou a me inscrever no Edital Primeira Infância foi a falta de apoio educacional para a garotada do quilombo. As crianças na fase da primeira infância e os demais alunos estiveram nesse período totalmente abandonados, educacionalmente falando. Isto preocupa, porque é durante a primeira infância que as crianças constroem a base, o alicerce para vida”.

A interrupção das aulas na região não era o único problema: os adultos do quilombo perderam emprego e renda; faltou comida na mesa de muitas famílias. Aline pensava no bem-estar de todos e agiu, colocando em prática parte dos conhecimentos adquiridos em uma faculdade de Pedagogia, em cursos técnicos de Agropecuária e Informática.

Primeiro ela reuniu os interessados presencialmente, explicou o projeto e como gostaria de ajudá-los. Depois criou um grupo, num aplicativo de mensagens, para facilitar a comunicação e evitar aglomerações. Outros encontros presenciais foram necessários para a construção de quintais produtivos no quilombo: hortas caseiras que em breve poderão aliviar a fome das famílias.

“Os maiores desafios do projeto, aliás, ocorreram após o plantio. Muitos beneficiados tiveram os quintais invadidos pelas galinhas e foi preciso criar proteções. Além disso, a escassez de água para a rega impediu que alguns moradores participasse dessa ação”, lamenta a jovem, que mesmo assim contribuiu para que 200 adultos e 60 crianças se sentissem mais acolhidos nos dois meses de projeto.

“O quintal produtivo é muito importante para melhorar a qualidade da alimentação da minha família e dos meus filhos. Estou agradecida pelo projeto estar nos proporcionando isso”, relatou a participante Liliane Barbosa de Moura, 24, ainda durante as atividades.

Confira o Instagram do projeto Educar em Tempo de Pandemia

A menos de 200 quilômetros dali, no bairro Auto São Francisco, município de Assu, a jovem Itamara Luiza da Silva, 26, tem a convicção de que os jovens negros das periferias podem ser referência na construção de um Brasil mais igualitário e justo. Ela não apenas acredita, como contribuiu para que isso aconteça.

“Tenho uma filha pequena e, como mãe, sei que as crianças são sem dúvidas as mais prejudicadas com os agravos da pandemia. Meu sentimento maternal, de educadora e principalmente mulher me fez me inscrever neste projeto, que está sendo realizado 90% on-line devido a pandemia”, conta Itamara, que é formada em História.

“Tenho um grupo de voluntários que chega a 40 pessoas. Junto de outro jovem de Assu, que também está no edital, nós realizamos muitas coisas em parceria. Formamos um grupo de 50 mães, oferecendo cuidados no WhatsApp, compartilhando atividades e conteúdos”.

Quando coragem e oportunidade geram mudanças e bem-estar para a sociedade

Por Eliane de Santos

Recém-formada no curso de Serviço Social e Tecnologia em Gestão Pública, Fernanda de Sá Sampaio​, de 32 anos, estreou na profissão com um desafio em tanto.

“A gestora da ONG onde eu trabalho, em Pirituba, São Paulo, me falou sobre o Edital Primeira Infância no Contexto da Covid-19. Ela me apresentou o site do Fundo Baobá, perguntou se eu gostaria de me inscrever e se eu tinha alguma ideia para desenvolver”, recorda.

Com o conteúdo do curso ainda fresco na cabeça, Fernanda lembrou de alguns debates relacionados à concessão de benefícios eventuais, como cestas básicas. E considerando que a fome era uma realidade nas comunidades que assistia rotineiramente, além de um dos focos de atenção do edital, ela não teve dúvidas:

“Após o estabelecimento do isolamento social, as preocupações voltadas para alimentação eram aparentemente as maiores entre as famílias, por isso eu considerei pertinente tratar dessa temática. E havia um agravante: sem ir à escola as crianças perderam ao menos uma refeição saudável e acompanhamento nutricional diário”, conta.

Projeto de Fernanda de Sá Sampaio, Pirituba (SP)

Coube à Fernanda minimizar esses impactos e para isso ela mobilizou outros colegas profissionais na elaboração de reuniões socioeducativas presenciais, em espaços cedidos pelo projeto Amigos das Crianças, por igrejas e salões locais. Mais encontros ocorreram de forma remota para apresentar aos responsáveis informações sobre higienização, armazenamento e reaproveitamento de alimentos.

Encerrada a etapa de reuniões, cada participante recebeu em casa kit’s com frutas, legumes, uma apostila e pote de armazenamento. Aliás, um dos desafios enfrentados foi obter transporte para a logística de compra e a entrega desses alimentos, pois muitas comunidades ficavam distantes cerca de quatro quilômetros de Canta Galo, bairro onde Fernanda mora e trabalha. Sem um carro próprio, ela recorreu aos colegas da ONG e motoristas de aplicativo.

Projeto de Fernanda de Sá Sampaio, Pirituba (SP)

O projeto beneficiou 211 famílias das comunidades do Canta Galo, Vila Mirante, Jardim Paquetá e Vila Zatt, no distrito de Pirituba.

“Eu fiquei muito satisfeita. Uma das mães nos procurou ao final e agradeceu muito, alegando que antes do projeto achava que tinha que ter muito dinheiro para dar uma alimentação saudável ao filho. Desejo participar de outros editais, porém com atividades que incentivem o cultivo de hortas”, planeja a jovem.

O mesmo edital valorizou diferentes propostas focadas na redução de desigualdades sociais, violência urbana e/ou intrafamiliar, desemprego, fome e outras adversidades agravadas pela pandemia.  Contextos que a pedagoga Samily Maria Moreira da Silva e Silva, 29, de Belém do Pará, conhece bem.

“Quando me tornei gestante comecei a pesquisar novas formas de maternar, mais parecidas com formas ancestrais de cuidados voltados para a natureza. Percebi que dentro de um sistema capitalista a maternidade é romantizada comercialmente mas na prática, principalmente para as mulheres negras, acontecem muitas violências, inclusive psicológicas. Sou mãe de Violeta, de 7 anos, e ao longo de nossas vidas sofremos violência de várias formas”, desabafa.

O projeto abraçou 10 famílias do distrito de Icoaraci e do bairro de Terra Firme, distantes da capital.  Samily Maria trabalhou pelo fortalecimento de uma rede de mães negras, com filhos de 0 a 6 anos, ressaltando a importância dessas mulheres para a proteção das crias e para a própria comunidade; fornecendo palavras de apoio e resgatando saberes ancestrais como a cultura das puxadeiras, ou parteiras, e do uso das garrafadas (remédios feitos com ervas naturais) para a recuperação do útero e auxílio à amamentação. Culturas que já foram mais fortes na região.

A primeira atividade aconteceu de forma remota, com uso de um aplicativo de mensagens para entrevistar mulheres e homens que integram a rede de apoio das mães. Depois as crianças foram convocadas para ajudar na produção de podcast’s com os temas: “Cuidados com primeira infância no contexto da Covid-19”, “A importância da amamentação” e “A importância da rede de apoio”, também compartilhados por aplicativo de mensagens.

“Além da minha filha, a produtora do projeto também é mãe de um menino, chamado Francisco, de 5 anos, e a nossa rede de comunicação e produção de mulheres negras também tem muitas mães trabalhamos em rede com várias mulheres da cidade que têm crianças. Então pensamos em criar este conteúdo de crianças negras para outras crianças negras, sobre amamentação e cuidados na pandemia”.

Dez famílias foram contempladas e no final do projeto receberam kit de cuidado e beleza mais cesta com hortaliças.

“A gente está terminando com sede de ter mais condição de firmar esse trabalho. É uma demanda grande e sempre bate uma angústia, porque esbarramos na negligência com a região Norte, com as mães pretas periféricas, na falta de acesso a vários serviços. Seguimos aos trancos e barrancos, mas fica essa sede de conseguir fazer trabalho um continuo, de envolvendo mais pessoas”.

Seja por motivação pessoal ou profissional colaborar para o bem-estar e a qualidade de vida de populações vulneráveis gera empatia, gratidão e mudanças que estão longe de ser superficiais.

Em São Paulo, a terapeuta ocupacional Lara de Paula Eduardo, 41, desejava fazer parte desta engrenagem e não hesitou em aderir ao edital.

“Tenho muito interesse em realizar trabalhos sociais que busquem transformação cultural e justiça social. Participar do Edital Primeira Infância foi uma forma de subsidiar parte do custo, e me possibilitou a parceria da psicóloga Adriana Haaz de Moura Gaunsze”, afirma.

A dupla tinha como público-alvo crianças de 1 a 3 anos, atendidas por uma creche, em Itatuba, Embu das Artes, São Paulo; seus familiares e cuidadores, incluindo homens. No entanto, chegou até eles indiretamente, incrementando a formação de 11 educadoras que já estavam acompanhando aproximadamente 100 famílias de alunos à distância.

“Sabemos que é um grande desafio auxiliar as crianças que mais precisam de apoio, estando os adultos também em grande tensão. Por isso desenvolvemos para as educadoras alguns encontros virtuais de acolhimento, reflexão e aprofundamento sobre o desenvolvimento infantil, educação, questões relativas a pandemia; importância das relações para a estruturação psíquica e o brincar”, descreve Lara.

“Aprendemos que há muito a ser feito pela educação infantil no Brasil, principalmente nas creches e berçários que trabalham com os bebês de 1 a 3 anos, em que a presença, disponibilidade e relação do adulto é fundamental para a constituição psíquica e desenvolvimento infantil.”

A força do coletivo: Reunindo recursos, saberes e criatividade. Edital Primeira Infância resgata a esperança

Por Eliane de Santos

“Se quiser ir rápido, vá sozinho. Se quiser ir longe, vá em grupo!” É fácil encontrar essa frase na internet, sempre citada como um provérbio africano. A mensagem que ela carrega faz todo sentido para a pedagoga Meire Pereira de Oliveira, de 31 anos – educadora popular e coordenadora artística e pedagógica na Universidade da Reconstrução Ancestral e Amorosa (UNIRAAM), no Pelourinho, em Salvador.

Esta segunda função, ela realiza de forma voluntária, desenvolvendo atividades pedagógicas de arte e educação com jovens e adultos, crianças e adolescentes. Sempre envolvendo parcerias com escolas públicas da comunidade do Centro Histórico da capital e adjacências; bibliotecas e praças públicas, por exemplo.

“Atuar na área de educação em comunidades periféricas, utilizando conteúdo antirracista e baseado na Lei 10.639/03 é uma das minhas maiores motivações. Soube do Edital Primeira Infância, do Fundo Baobá, por meio de duas amigas (Maria Claúdia Dias e Maria Belga Ofinger) e não pensei duas vezes. Logo nos reunimos para pensar em atividades lúdicas e didáticas com referencial identitário”, conta Meire.

Projeto de Meire Pereira de Oliveira, Projeto Em Cantos de São Lázaro, Salvador (BA)

O trio concentrou a atenção nas famílias com crianças de 0 a 6 anos e criou a campanha ‘Fortalecendo a identidade étnico-racial na primeira infância através do Em Cantos de São Lázaro em meio à pandemia 2020’. São Lázaro é uma localidade, no bairro Federação, um bairro cultural de Salvador, famoso pelas tradicionais festas ao santo padroeiro, São Roque e Omolu.

“Já estávamos presentes na comunidade, mas precisávamos nos adequar ao novo perfil de realização das atividades, em meio a pandemia. Para criar engajamento, envolvemos três representantes da comunidade na aplicação de um questionário para 30 famílias. A ideia era identificar as demandas em relação a nossa proposta”, explica.

Projeto de Meire Pereira de Oliveira, Projeto Em Cantos de São Lázaro, Salvador (BA)

“Contatamos os profissionais que já trabalhavam no Em Cantos e novas parcerias para escolher a melhor didática a ser aplicada. Preparamos 25 vídeo aulas de arte-educação e as compartilhamos por mensagens de texto. O início do primeiro vídeo foi explicativo para os pais. Cada monitor detalhou a sua atividade e maneira como ela seria conduzida. Essa ação possibilitou o engajamento dos responsáveis e estimulou a afetividade no ambiente familiar”.

Na pegada do coletivo, o grupo decidiu que artistas e brincantes negros gravariam três vezes mais vídeos, aumentando a representatividade negra nas telas. Os vídeos, que tratavam de história e cultura negra e indígena, foram publicados no Instagram,  Facebook e  YouTube.

Houve ainda oficina para a construção de instrumentos musicais com materiais reciclados (tambores de lata, ganzás de latas e garrafas pet), e doação de pandeiros infantis.

“Alcançamos 17 adultos com as assinaturas autorizando a participação dos filhos mais sete mães acompanhando as atividades presenciais, nas quais tomamos todas as medidas sanitárias contra a Covid. Chegamos a atender 34 crianças no total”, calcula Meire, feliz com o trabalho de equipe.

@projetoemcantosdesaolazaro

Veja mais vídeos no canal oficial do Projeto Em Cantos de São Lázaro no Youtube.

No Rio de Janeiro a pedagoga Débora Dias Gomes, 62, escolheu o ditado ‘Uma andorinha só não faz verão’ como lema do Instituto Pertencer, uma organização não governamental, voltada para inclusão de pessoas com deficiência, jovens e adultos em situação de risco social, que ela fundou em 2011.

Nove anos depois, Débora inscreveu o Pertencer no Edital Primeira Infância, pretendendo legitimar as ações sistemáticas e continuadas de apoio às famílias no cuidado integral de crianças de até 6 anos. E conseguiu: no dia 10 de dezembro 10 de dezembro, a equipe recebeu da Prefeitura do Rio o Selo Direitos Humanos, pelo reconhecimento ao trabalho realizado no contexto da COVID 19.

Projeto de Débora Dias Gomes, Instituto Pertencer, Rio de Janeiro (RJ)

Uma equipe interdisciplinar cuidou de 100 crianças, por meio de atendimentos pscicossociais e ações com as famílias, ambos de forma remota, utilizando grupo no Whatsapp e outras ferramentas de apoio.

Ocorreram também alguns encontros presenciais na sede do projeto para entregas de cestas básicas, materiais de higiene e limpeza, além de outros proventos. Sempre a partir de um cronograma para não haver aglomeração. E na cozinha-escola do Pertencer, mães e avós das crianças assistidas participaram de um curso para formação de boleiras e salgadeiras, visando geração de renda.

Projeto de Débora Dias Gomes, Instituto Pertencer, Rio de Janeiro (RJ)

“O objetivo era oferecer opção de renda nesse tempo de crise. Aulas comportamentais complementares trataram temas como perfil da empreendedora, inteligência emocional e mundo do trabalho, por meio de vídeoaulas e textos entregues on-line. As alunas também usavam o aplicativo de mensagem para encaminhar fotos das suas produções, áudios com dúvidas ou texto escrito. Eu diria que o maior desafio para a realização das atividades no contexto da COVID foi nos reinventarmos, nos adaptarmos para não haver interrupção das atividades propostas”.

Visite o Facebook do Instituto Pertencer 

O ambiente virtual, que poderia atrapalhar o projeto da Débora, trouxe gratas surpresas para a pedagoga Christiane Teixeira Mendes, 36, de Coroadinho, São Luís do Maranhão. Ela usou a ferramenta TikTok – febre nas redes sociais durante a quarentena – para gravar e compartilhar vídeos curtos, sensibilizando pais e responsáveis sobre questões como hiperatividade e a importância de ouvir os pequenos.

Com o incentivo do edital, ela realizou atividades (na maioria das vezes virtuais) com foco em ações de apoio a famílias (20 crianças e 60 adultos) para a melhoria do cuidado integral na primeira infância.

Projeto de Christiane Texeira Mendes, Coroadinho (MA)

“Houve uma reunião presencial, na sede da associação comunitária de Coroadinho, quando apresentamos o projeto para os pais e responsáveis. No mais, a equipe se comunicou basicamente por chamadas de vídeo no WhatsApp. Também usamos a internet para organizar um quis virtual, com perguntas em um formulário do Google Docs para os pais e responsáveis. As respostas foram analisadas por mim e por três professoras que convidei para ajudar”.

A análise do quiz gerou outra ação: a análise de relacionamento familiar. A partir das respostas elas sugeriram dicas de relacionamento personalizadas e dicas de atividades que estimulassem o desenvolvimento infantil. Tudo foi incluído em uma caixa surpresa, entregue aos participantes. Dentro também havia livros, jogos e cinco sugestões de atividades, entre elas, uma receita de picolé para pais e filhos fazerem juntos; um brinquedo para construírem e testarem juntos.

Projeto de Christiane Texeira Mendes, Coroadinho (MA)

“Fiz essa escolha porque na minha opinião essa é a fase em que nós seres humanos mais aprendemos e também é a fase em que menos recebemos investimentos. As crianças costumam ser as mais prejudicadas com a falta de vagas na rede pública, por exemplo. E agora, na pandemia, as escolas fecharam ou faliram. Muito triste”, lamenta.

 

 

Edital Primeira Infância: Ponto de partida para a empatia e o resgate da autoestima

Por Eliane de Santos

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística a taxa de desemprego no Brasil chegou a 14,6% no terceiro trimestre de 2020, a maior da série histórica iniciada em 2012. O percentual correspondia na época a 14,1 milhões de pessoas.

A falta de uma renda formal contribuiu para outro dado alarmante, neste caso apurado por pesquisadores do Laboratório de Psiquiatria Molecular da UFRGS e do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, divulgado em outubro do ano passado: 80% da população tornou-se mais ansiosa e 68% desenvolveu sintomas depressivos durante a pandemia.

Desemprego e estado de ansiedade eram justamente uma realidade para Jaqueline Barbosa dos Santos Heldt, de 34, quando ela decidiu se inscrever no Edital Primeira Infância do Fundo Baobá. Encontrou ali a motivação que precisava, além de um caminho para estimular outros brasileiros a manterem seus corpos e mentes saudáveis.

“Notei que as crianças, os responsáveis, as mulheres grávidas e puérperas sofriam muito com o distanciamento social. Percebi também que o poder público não desenvolveu ações para auxiliá-los nesse período. A instabilidade estava aumentando a ansiedade entre os pequenos e expondo os adultos à depressão, síndrome do pânico e outras doenças emocionais/psicológicas”, explica.

Projeto de Jaqueline Barbosa dos Santos Heldt, São Paulo (SP)

Jaqueline tem formação livre em vários estilos de dança (contemporânea, afro-brasileira, urbanas, jazz, sapateado e ballet clássico) e há 12 anos dá aulas em projetos sociais próximos na cidade de Pompeia, onde mora, e em outras duas cidades vizinhas: Queiroz e Oriente, no Centro-Oeste da capital paulista. Ela arregaçou as mangas e só precisou de um pouco de criatividade para mudar a forma de ensinar. Na verdade, a partir das medidas de distanciamento, muitas escolas e projetos fecharam e ela já vinha realizando aulas on-line, no Instagram.

Projeto de Jaqueline Barbosa dos Santos Heldt, São Paulo (SP)

Ao todos 30 pessoas se beneficiaram com as oficinas virtuais de ballet infantil (02 a 06 anos), alongamento para gestantes e puérperas, ballet e jazz para adultos que ela organizou. Gostaram tanto que indicaram para pessoas em outras cidades, que desejam saber se Jaqueline formará mais turmas remotas. Mesmo depois da pandemia.

“Algumas mães comentaram que as filhas ficaram menos ansiosas com as aulas de ballet infantil, e que perceberam melhora também na coordenação motora e na postura das meninas. Já algumas gestantes enviaram mensagens, reportando que as aulas de alongamento as ajudaram a dormir melhor”, comemora Jaqueline, hoje mais animada e certa da missão que tem com a dança.

Projeto de Jaqueline Barbosa dos Santos Heldt, São Paulo (SP)

‘Se a vida te der um limão, faça dele uma limonada’ é um ditado que vale para outros brasileiros que abraçaram o desafio do Fundo Baobá. A pedagoga Heloisa Ferreira da Silva, 42, já estava desempregada quando a Organização Mundial da Saúde anunciou a disseminação mundial do novo coronavírus, em março do ano passado. Com a notícia, ela perdeu duas chances profissionais:

“Eu havia sido aprovada em uma seleção pública e em uma instituição privada, para trabalhar como professora e coordenadora escolar. Mas veio a pandemia e não fui convocada por nenhuma das duas”, lembra.

Estava aberta no país mais uma temporada de demissões, porém outra de oportunidades. Atenta, Heloisa se candidatou ao edital do Baobá, desejando doar o seu tempo e os seus conhecimentos para o bem-estar de moradores do bairro do Engenho Velho de Brotas, em Salvador, Bahia.

Projeto de Heloisa Ferreira da Silva, Salvador (BA)

Mas a limonada ainda não estava pronta. Surgiram dificuldades logo na etapa inicial, quando ela tentou obter autorização para trabalhar com famílias cadastradas no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) da região.

“Fui ao CRAS, expliquei as minhas intenções de prestar orientações pedagógicas para crianças de 0 a 6 anos e apoiar as mães que, como eu, estavam sem trabalhar, preocupadas com a educação dos filhos em casa. Fui orientada a não fazer o projeto”.

A saída foi percorrer a comunidade apresentando as propostas, colando cartazes e cadastrando os interessados.

Projeto de Heloisa Ferreira da Silva, Salvador (BA)

“Mudei a estratégia de divulgação. Busquei parceiros no bairro e adjacências, como o Mídia informativa Nosso Engenho, o bloco afro Os Negões, a Associação Santa Luzia, o Terreiro Ilê Axé Aji Ati Oya e o portal A gente educa”.

Cinquenta famílias decidiram participar. Como nem todas tinham acesso às redes sociais, também foi preciso usar o boca a boca para se comunicar com elas e, por exemplo, anunciar a entrega de kits pedagógicos com caixa de lápis de cor, borracha, massinha de modelar e jogos de coordenação motora, entre outros itens que variavam de acordo com a faixa etária.

Heloisa abraçou aproximadamente 150 crianças com o projeto e foi estimulada pelos pais a repeti-lo. Enfim, o refresco esperado.

Eu sempre senti a necessidade de apresentar para a sociedade uma educação que respeita as diversidades e atende com equidade. O Fundo Baobá abriu caminhos para eu iniciar a prática deste apoio comunitário e não vou parar!”

Projeto de Heloisa Ferreira da Silva, Salvador (BA)

Pobreza, desemprego, solidão, ansiedade e violência. Todos esses fatores estressores se apresentaram na pesquisa que Priscila Costa, 36, realizou ainda no início da pandemia com 153 pais e mães de crianças com menos de 3 anos de idade, matriculadas em uma creche próxima à favela Alba, no bairro de Jabaquara, na Grande São Paulo.

Como docente da Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo, há cinco anos ela desenvolve ali atividades de extensão voltadas à promoção do desenvolvimento infantil e de apoio à parentalidade. Priscila portanto, já conhecia a realidade dura daquelas famílias mas precisava saber como elas estavam vivendo no contexto da Covid-19.

“Pouco tempo depois eu tive conhecimento do edital e achei que ele se encaixava com o meu trabalho. Para me inscrever, eu também considerei a minha experiência como mãe de uma criança de 1 ano e cinco meses nessa pandemia. Ser mãe impulsiona o nosso olhar para ver diferente a situação de outros pais. Eu me senti sobrecarregada na fase de isolamento social. Tive momentos difíceis, sem uma rede de apoio. Imaginei como não estariam as famílias da creche, que além de tudo lidam com o desemprego, a fome e a falta de infraestrutura”, relata Priscila que também é mestre e doutora em Ciências da Saúde pela Universidade de São Paulo.

Projeto de Priscila Costa, São Paulo (SP)

Ela desejava fortalecer as famílias, promovendo o desenvolvimento infantil em casa e gerenciando o estresse dos pais durante o surto de coronavírus. Para isso aplicou um programa da Universidade de Havard (EUA) que já pesquisava há um ano.

“O nome é ‘Cinco Básicos no dia-a-dia’ e tem origem no programa “The Basics”, desenvolvido no The Achievement Gap Initiative da Universidade de Harvard, sob coordenação do professor Ronald Ferguson. É uma intervenção de saúde pública. Consiste em cinco formas simples e divertidas de apoiar a parentalidade no crescimento dos filhos: dar muito amor e controlar o estresse; falar, cantar e apontar; contar, agrupar e comparar; explorar através do movimento e da brincadeira; ler e discutir histórias”, define.

“O professor Ferguson conferiu apoio irrestrito para disseminarmos o conteúdo em português”.

Na fase de planejamento Priscila convocou 33 educadores da creche de Jabaquara para uma reunião virtual, na qual foram apresentados os cinco princípios do ‘Cinco Básicos’ e discutidas maneiras de facilitar a comunicação com as famílias por meio do WhatsApp. Dali saíram algumas ideias iniciais: oferta de um brinde que as famílias poderiam retirar na creche, composto por um livro infantil, um batom gloss e um folheto dos Cinco Básicos; envio de mensagens de texto, áudio e vídeo para o engajamento das 153 famílias.

Projeto de Priscila Costa, São Paulo (SP)

Foi preciso ainda traduzir 125 mensagens de texto sobre os Cinco Básicos, elaborar uma identidade visual do programa para as mensagens de texto, produzir uma logomarca em português, legendar e dublar um vídeo sobre o ‘Cinco Básicos’ e, finalmente, engajar as famílias via WhatsApp. Ao todo 35 participaram.

“Os principais desafios foram o curto período para execução das atividades, a complexidade de traduzir as mensagens de texto, do Inglês para o Português, fazendo uma adaptação cultural de seu conteúdo, e o engajamento das famílias utilizando apenas o WhatsApp como canal de comunicação. Aprendemos muito com isso e ossos planos para o futuro incluem ampliar a disseminação do Cinco Básicos, inclusive com ações presenciais, sites e redes sociais. Vamos seguir com o projeto.”

Edital Primeira Infância facilitou ações para o acesso a direitos sociais

Acreditando que o ambiente doméstico mais do que nunca deve estar livre de qualquer tipo de violência ou negligência, a psicóloga Anny Waleska Saldanha Torres, de 48 anos, investiu tempo, amor e recursos -captados junto ao Edital Primeira Infância do Fundo Baobá -, para levar informação aos lares de 15 famílias do Distrito Maria Quitéria, na Zona Rural de Feira de Santana, na Bahia.

“Trabalho há sete anos e sete meses no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) São José, com uma comunidade negra e quilombola, então me sensibilizo por suas causas. Eu quis apresentar às famílias conteúdos pertinentes ao bom desenvolvimento na primeira infância: as consequências da violência; os benefícios do afeto, do cuidado e dos estímulos diversos para a construção da identidade e para o desenvolvimento cognitivo em aspectos como linguagem, atenção e memória”, descreve Anny Waleska que também é especialista em Neuropsicologia.

A psicóloga Anny Waleska Saldanha Torres de Feira de Santana (BA)

“A busca ativa das famílias para o projeto foi presencial, através de contatos pessoais com famílias que procuravam espontaneamente o CRAS, e via WhatsApp, através dos cadastros do CRAS e outros repassados por uma visitadora do Programa Criança Feliz. Na etapa de cadastramento, recolhemos dados referentes à composição familiar, endereço, raça, escolaridade, situação financeira/ocupacional, gestação e parto, desenvolvimento da criança etc”.

As atividades giraram em torno da produção e do envio de vídeos pelo mesmo aplicativo de mensagens. Os assuntos variavam de legislações (Estatuto da Criança e do Adolescente, Estatuto da Igualdade Racial, Estatuto da Pessoa Idosa, Lei Maria da Penha e direitos socioassistenciais) a desenvolvimento infantil (aspectos psicológicos e neuropsicológicos), passando por cuidados com o excesso de mimos, a importância da afetividade e do brincar. Com base nos ensinamentos repassados, os pais foram estimulados a contar histórias para os filhos, praticar brincadeiras no quintal e jogos que estimulassem a memória e a criatividade. No final, eles compartilharam vídeos dessas atividades, bem como as impressões gerais do projeto.

Projeto de Anny Waleska Saldanha Torres, Feira de Santana (BA)

“As famílias precisavam conhecer os seus direitos e saber a quem recorrer em casos de violação ou da garantia deles. Quanto à afetividade, nós buscamos sensibilizar os familiares da importância de uma comunicação com afeto, onde a criança de 0 a 6 anos possa construir suas relações com uma base emocional sólida, longe de relações de abuso, violência e medo.”

** @ocordel site

Vídeo 1

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A garantia dos direitos da primeira infância também é uma das causas que Fernanda Flávia Cockell da Silva, 42, tem abraçado ao longo da sua trajetória de pesquisas e trabalhos de extensão pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

“A pandemia tirou de mim o que sempre me moveu, o abraço! No dia 22 de março de 2020, por decreto publicado no Diário Oficial do município de Santos, todas as atividades comunitárias em grupo foram interrompidas por causa da pandemia, e as ações universitárias canceladas”, lembra Fernanda, que é fisioterapeuta, mestre e doutora em engenharia de produção e pós-doutora em Sociologia.

Era preciso se adequar à realidade, optar pelos abraços e cuidados virtuais. Com apoio do Fundo Baobá ela manteve uma das suas principais ações: a ‘Abrace seu Mundo: estreitando laços parentais’, que há cerca de quatro anos incentiva atenção às puérperas nas redes de saúde da cidade de Santos, a partir de visitas domiciliares e da prática de técnicas de vínculo parental (sling, ofurô e shantala), promovendo apoio às famílias que vivem em contextos de desigualdade social.

Projeto de Fernanda Flávia Cockell da Silva do Abrace Seu Mundo: Estreitando Laços Parentais, Santos (SP)

“Eu sabia que os filhos das alunas universitárias estavam sendo afetados pelas aulas virtuais e pela falta de creches. Os meus conhecimentos fariam diferença em tempos pandêmicos. Com o projeto eu ainda pude estender a mesma estratégia de acolhimento, escuta e o apoio à amamentação para as mães dos Morros de Santos”, comemora.

“Vivenciar o puerpério, longe de sua família é o que acontecia para muitas de nós antes da pandemia, mas com isolamento social e os riscos reais de contaminação, muitos adultos perderam o apoio dos avós ainda presentes nas comunidades. Ou a família se afastava dos mais velhos com a chegada do recém-nascido, ou assumia os riscos de contaminá-los. As crianças que estão nascendo em 2020/2021 vivenciam a primeira infância em um ambiente ainda mais vulnerável do ponto de vista social e econômico e com a fragilidade dos vínculos parentais”.

Mesmo de longe foi possível fazer muito. Fernanda e sua equipe de apoio organizaram rodas de conversa sobre questões relativas à parentalidade e maternidade no meio acadêmico, usando para isso um serviço de comunicação por vídeo (o Google Meet). Depois promoveram atividades presenciais e remotas focadas no fortalecimento dos vínculos parentais.

Projeto de Fernanda Flávia Cockell da Silva do Abrace Seu Mundo: Estreitando Laços Parentais, Santos (SP)

“A segunda ação envolveu 20 mulheres no último trimestre de gestação. Todas moradoras do Morro Nova Cintra, em Santos, com data de parto provável entre novembro de 2020 e fevereiro de 2021. Elas foram acompanhadas pelas equipes de Estratégias da Saúde da Família. Acolhemos as mães presencialmente e agendamos uma conversa individual, em ambiente virtual (whatsapp) ou via chamada telefônica, com a equipe de extensionistas do projeto. A proposta era estruturar vínculos interrompidos pela pandemia “, conta.

Com este grupo foram organizados ainda encontros semanais e até um chá comunitário, remotos, respeitando ao máximo as regras de isolamento.

“O chá ocorreu pelo Facebook no dia 12 de dezembro, com tema aleitamento materno. Na ocasião dez mães foram contempladas com sorteios de enxoval (roupas novas, fraldas e lenços umedecidos). Apesar de a interação ser apenas por chat, foi possível compartilhar nossas vivências e narrativas. Além das mães presentes, havia profissionais da rede, multiplicadores e alunos, permitindo que a interação ocorresse”.

Projeto de Fernanda Flávia Cockell da Silva do Abrace Seu Mundo: Estreitando Laços Parentais, Santos (SP)

É preciso determinação e empatia para ultrapassar as barreiras sociais impostas por uma pandemia, em prol de quem mais precisa. Na cidade do Rio de Janeiro, a socióloga Ester Oliveira Bayerl, 40, fez diferença nos lares de 30 crianças com Transtorno de Espectro Autista moradoras da Cidade de Deus, uma comunidade na Zona Oeste carioca.

Ester é mãe do Samuel, 5, uma criança diagnostica com autismo leve, mas que chegou a apresentar sinais de ansiedade e convulsões nos últimos meses.

“O meu filho ia para a escola diariamente, fazia terapia ocupacional duas vezes por semana, em locais diferentes, e natação em outros dois dias. De repente foi preciso parar com tudo. Ele estranhou e passamos por momentos difíceis. Precisei me reinventar como mãe, professora, terapeuta, e improvisar atividades para ele em casa”, conta.

Projeto de Ester Oliveira Bayerl, Cidade de Deus (RJ)

“A quantidade de mães de autistas deprimidas nesse período da pandemia é muito grande, porque são elas que normalmente ficam com os filhos mais tempo. Tem autista que nem dorme. Sem poder ir para a escola ou para a terapia, eles ficaram extremamente nervosos e as mães pressionadas”.

Dar suporte a essas famílias tornou-se meta para Ester. O Edital Primeira Infância se apresentou como a ferramenta necessária para colocar uma ideia em prática: o projeto Caixa Box, que previa a montagem e a distribuição de caixas de madeira abastecidas com itens como lápis de cor, tintas e baldes de massinha, próprios para o brincar e o desenvolvimento de habilidades de crianças com TEA.

Projeto de Ester Oliveira Bayerl, Cidade de Deus (RJ)

“Na ONG que o meu filho frequenta eu vejo outras mães muito humildes, que não podem se dar ao luxo de investir em um brinquedo neste momento, e que não sabem como podem cuidar dos filhos sozinhas. Por isso, junto com as caixas foram entregues dicas de atividades que as famílias poderiam desenvolver com as crianças a partir do material doado. Entregamos também o nosso contato e criamos uma rede de diálogos com as mães”.

Uma moradora da Cidade de Deus fez a ponte entre Ester, lideranças locais, uma ONG e o Conselho Tutelar. A rede indicou as mães de autistas da comunidade e Ester descobriu que elas são muitas, mais do que conseguiria atender num primeiro momento.

“Por enquanto a ideia é continuar com esse suporte, reabastecendo as caixas após o edital, e quem sabe ampliar o alcance do projeto. Precisaremos de mais de financiamento, mas eu faria tudo novamente”.

Edital Primeira Infância no Contexto da Covid-19, aprovou propostas que zelavam pela educação infantil em vários aspectos

Dados da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, indicam que o Brasil avançou nos últimos anos em relação à educação infantil. O atendimento de crianças de 0 a 3 anos nas creches do país subiu de 16%, em 2005, para 30,4% atualmente. Já na Pré-escola, o número de matrículas passou de 72% para 90%, no mesmo período. Mas o acesso e a qualidade ainda são desiguais e isso precisa mudar, se desejamos um país mais próspero e justo.

Com esse mesmo pensamento, e desejando contribuir justamente no momento em que algumas atividades essenciais – como a Educação – foram impactadas pela pandemia de Covid-19, a pedagoga Maria Lúcia dos Santos Rodrigues, de 58 anos, se inscreveu no Edital Primeira Infância.

“O tema me interessou, pois há 18 anos trabalho com crianças na fase de educação infantil, fundamentada no Neo Humanismo, uma filosofia que proporciona o desenvolvimento integral através da prática de Yoga (meditação, exercícios respiratório, princípios universais), da alimentação saudável (vegetarianismo), da extensão do sentimento do amor a todos os seres universais e da valorização da cultura local”, ela descreve.

Projeto de Maria Lúcia dos Santos Rodrigues, Comunidade Moara, Ananindeua (PA) – Foto: Lucia Rodrigues

Então, com a ajuda de uma psicóloga experiente, Maria Lúcia levou o projeto até 50 famílias da comunidade Moara e adjacências, no bairro de Águas Lindas, Ananindeua, região metropolitana de Belém do Pará.

“Primeiro realizamos a formação contínua de seis educadoras em temas como: Família, Ser Criança, Emoções e o Sentimento da Esperança. Depois elas foram desenvolvendo os temas com as famílias por meio de vídeos, áudios ou textos compartilhados via aplicativo de mensagens. As famílias, por sua vez, deveriam desenvolver os assuntos com os pequenos em casa. Aquelas que não tinham aparelho de telefone celular, ou cuja internet era insuficiente (em torno de 15 das 50 famílias) realizavam as atividades na sede de um Projeto CENHAMAR, na região”, lembra.

Projeto de Maria Lúcia dos Santos Rodrigues, Comunidade Moara, Ananindeua (PA) – Foto: Dayana Brito

No final do Projeto Baobá, como ficou conhecida iniciativa, houve uma surpresa a mais para os envolvidos: parceiros contribuíram para a entrega de cestas básicas e brinquedos, na semana de Natal.

“Dar um apoio às famílias que tenham crianças na faixa etária da primeira infância, fortalecendo os vínculos afetivos com o cuidador e o educador, é fundamental para o desenvolvimento integral e a saudável delas. Essa relação traz também benefícios no momento e no futuro para a família e para a sociedade.”

Projeto de Maria Lúcia dos Santos Rodrigues, Comunidade Moara, Ananindeua (PA) – Foto: Estela Gonçalves

E não importa de que forma vem esse afeto. Ele pode vir a cavalo, como propôs a psicóloga Kelly de Souza Prado, 41. Através do edital ela conseguiu financiamento para aplicar a técnica do volteio gratuitamente, para crianças e adolescentes do município de Francisco Morato, em São Paulo.

“Acredito que agora essas crianças e adolescentes podem ter uma visão diferente do caos emocional que criou-se com a pandemia. Essa era a oportunidade de darmos ferramentas emocionais e físicas para eles lidarem com o dia a dia e as dificuldades.”

Projeto de Kelly de Souza Prado, Francisco Morato (SP)

Kelly pôde contar com uma equoterapeuta e uma professora de educação física voluntária, ambas para as atividades de volteio. Outros dois voluntários auxiliaram as mães no plantio e cuidado de uma horta. Aliás, essa era uma condição para as crianças serem acolhidas pelo projeto.

Os atendimentos ocorreram no Rancho São Joaquim, em encontros presenciais, já que na ocasião o município estava na fase verde de prevenção contra a Covid-19. Os cuidados com a higiene foram reforçados.

Cartaz de divulgação do projeto de Kelly de Souza Prado, Francisco Morato (SP)

“A escolha em trabalhar na natureza veio de um projeto que eu e a proprietária do rancho, Luciana Simões, já tínhamos planejado. O financiamento veio para conseguirmos colocar tudo em prática. Entendemos que a psicologia e o volteio se complementam, pois trabalham o emocional e a consciência corporal”, explica Kelly.

“Paralelamente realizamos uma horta, como forma de os pais retribuírem o atendimento gratuito que os filhos tiveram. Quando estiver pronta para colheita, ela servirá para o consumo das próprias famílias, ou terá a renda revertida para elas e o projeto”.

Cinco crianças, um adolescente, uma avó, uma tia e quatro mães participaram ativamente. Outros 21 familiares foram impactados indiretamente. As mães relataram os filhos ficaram mais autoconfiantes, calmos, compreensivos e cooperativos em casa. Elas por sua vez acharam o trabalho na horta gratificante. Algumas inclusive, agradeceram pela oportunidade de fugir um pouco da rotina de casa, fazendo algo diferente ou que já haviam experimentado em outro momento da vida.

“Essa oportunidade que o Fundo Baobá nos ofereceu permitiu ao projeto ter continuidade. Hoje temos uma fila de espera com pelo menos cinco crianças para a próxima turma”.

Veja o vídeo da iniciativa aqui

Empatia gera empatia. E essa corrente chegou à Vila Santa Inês e comunidades próximas, no município de Ermelino Matarazzo, São Paulo, com o Brincando na Kebrada – um coletivo de mulheres pretas, mães solos, educadoras sociais e ludo educadoras, que promove a cultura da infância por meio de brincadeiras lúdicas, prazerosas, afetivas e respeitosas. Para isso, inclusive, vale o uso de muitas cores, sons, cheiros e sabores.

“Defendemos os brincares em suas diversidades, auxiliando na construção positiva do imaginário infantil! O Brincando na Kebrada visa estimular a participação e o protagonismo infantil, por meio da ocupação de ruas, praças, becos, calçadas e vielas; a construção dos brinquedos e do resgate de brincadeiras tradicionais”, conta a pedagoga e arte-educadora Minéia Miranda Santos de Oliveira, 46.

“Observamos que as necessidades físicas, como acesso aos alimentos e itens de higiene pessoal, não estava sendo contempladas e que também faltava o alimento lúdico, assegurando o direito infantil de brincar”.

Projeto de Minéia Miranda Santos de Oliveira, Brincando na Kebrada, Ermelino Matarazzo (SP)

O projeto desenvolvido com a doação do Fundo Baobá funcionou da seguinte maneira: os pais e mães cadastrados receberam sacolas com materiais pouco comuns, como bolinhas de gel, massinha ou sabão, por exemplo. Depois, por meio de vídeos compartilhados num grupo do WhatsApp, eles foram orientados a utilizarem tudo em atividades de exploração sensorial com os filhos. Houve também uma reunião presencial para orientações sobre prevenção da Covid-19, além da distribuição de alimentos e de produtos de higiene pessoal, selecionados de acordo com a faixa etária dos pequenos.

Projeto de Minéia Miranda Santos de Oliveira, Brincando na Kebrada, Ermelino Matarazzo (SP)

“Nosso maior desafio era não sobrecarregar as famílias com uma atividade a mais, porém proporcionar-lhes um momento de troca e fortalecimento de vínculos, reforçando a brincadeira como ferramenta de aprendizagem e desenvolvimento infantil”, esclarece Minéia.

“Nós aprendemos a não julgar o outro, seja pelas suas atitudes ou posturas diante de determinadas situações (econômica, política, familiar, social, entre outros). O projeto nos fez repensar, refletir e elaborar estratégias educativas de apoio humanizado. gostaríamos de continuar com o mesmo projeto agregando o acolhimento às mulheres (autocuidado, escuta, empoderamento, rede de apoio), até porque acreditamos que esse suporte é muito importante. Quem educa uma mulher, educa uma geração inteira”.

 

Literatura e afeto como alimento na pandemia

Especialista em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça, bacharel em Ciência Política e também em Comunicação, Leandro Vilas Verde Cunha, tem 39 anos, e há 20 dedica-se ao trabalho voluntário.  Com o anúncio da pandemia, pela Organização Mundial da Saúde, ele sentiu-se intimado a doar seu tempo e seus conhecimentos a quem precisa.

“Neste tempo todo de atuação social tenho me inquietado em identificar como as desigualdades raciais são perpetuadas. Sabemos que a educação é um eixo importante dessa estrutura. Nesse quesito, um dos pontos importantes de reprodução das distâncias entre negros e não-negros é a idade em que as crianças têm acesso às primeiras ações pedagógicas, a exemplo da leitura. Na pandemia, essa desigualdade ficou mais acentuada, quando as escolas de crianças brancas implementaram rapidamente metodologias de ensino à distância, inclusive para as séries iniciais, enquanto as escolas públicas, acessadas por maioria negra, não conseguiu até então dar conta de forma razoável desse desafio”, pondera.

Projeto de Leandro Vilas Verde Cunha, Coletivo Ibomin – Salvador, Lauro de Freitas e São Francisco do Conde (BA)

“Eu participo de um coletivo que mantém uma biblioteca especializada em literatura afrocentrada. Fiquei me perguntando sobre o impacto da falta de acesso das crianças a esses livros com o espaço fechado, em decorrência das medidas de distanciamento social. Daí surgiu a ideia de levar a biblioteca, de forma qualificada, até as crianças, envolvendo as famílias e suas relações comunitárias no processo de responsabilização pelo incentivo à leitura”.

Depois veio o que faltava: recursos para colocar o pensamento em prática, através do edital Primeira Infância –iniciativa do Fundo Baobá, da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Porticus América Latina e Imaginable Futures. A proposta de Leandro era mobilizar uma rede de cuidados para crianças de até 6 anos, durante a epidemia de Covid-19, usando o universo da leitura como estratégia.

Projeto de Leandro Vilas Verde Cunha, Coletivo Ibomin – Salvador, Lauro de Freitas e São Francisco do Conde (BA)

Para isso elaborou três práticas: entrega de livros, jogos da memória e outros materiais educativos aos participantes; criação de um grupo no WhatsAppp para trocas de experiências entre as famílias e o envio de vídeos já disponíveis na internet, com leituras de livros infantis afrocentrados, e, por fim, mobilização de outros adultos para atuarem como padrinhos ou madrinhas de leitura.

“As ações são realizadas junto a famílias frequentadoras do Ilê Axé Odé YeyÊ Ibomin, e que residem em três municípios da região metropolitana: Salvador, Lauro de Freitas e São Francisco do Conde. Algumas famílias aproveitam visitas ao Ilê para pegar os itens, mas a maioria recebe em casa. Para isso, contratamos um serviço de entrega de um membro do terreiro. As demais ações são feitas remotamente, por telefone, whatsapp e outras redes sociais. Dessa forma, vamos fortalecendo uma rede de cuidado à primeira infância de famílias negras frequentadoras de nosso Ilê”.  Leandro alcançou 13 crianças e 24 adultos com o projeto:

“Ouvimos muito elogios, pessoas dizendo que nunca viram ação tão linda quanto essa, que as crianças adoraram as atividades com os livros, que mesmo as mais novinhas se divertiram com as figuras e com as contações de história. A principal lição que fica é a de que nossa salvação vem de nós mesmos. A ideia do nós por nós, do Ubuntu, é realmente o caminho e podemos promover ainda mais espaços de cuidado para nossas crianças negras.”

Projeto de Leandro Vilas Verde Cunha, Coletivo Ibomin – Salvador, Lauro de Freitas e São Francisco do Conde (BA)

Confira o Instagram do Coletivo Ibomin

A busca pela equidade racial move Jonatas Aparecido Silva, 38, outro brasileiro comprometido com a literatura e militância negras.

“Sou bacharel em Comunicação Social pela Metrocamp, educador social e agente afro cultural. Tenho experiência com trabalho social pela rede socioassistencial de Campinas, dialogando com juventudes periféricas afrodiaspóricas. Amigos me indicaram o edital do Fundo Baobá, justamente por saberem do meu ativismo antirracista e da minha participação no Coletivo Mil Tambores, que realizou uma revista chamada Tamborim.”

Coletivo Mil Tambores – Projeto de Jonatas Aparecido Silva, Campinas (SP)

A ideia da publicação surgiu a partir de uma ação social da Central Única das Favelas, na periferia de Campinas, em São Paulo:

“A CUFA estava distribuindo livros junto das cestas de alimentos, no entanto eram livros e histórias euro referenciadas. Pensamos então em produzir conteúdos afro referenciados que contemplassem a nossa diversidade e gerassem a identificação das famílias. Na mesma época eu fui informado do chamado do Fundo Baobá”.

A revista Tamborim é o ponto central das atividades propostas ao Edital Primeira Infância. O plano inicial de trabalhar com uma garotada de 7 a 12 anos, mais vulnerável à evasão escolar, precisou mudar: o coletivo abriu o público-alvo para crianças a partir de 5 anos, buscando maior interação dos pais com os filhos na idade da primeira infância, a partir da leitura e das práticas indicadas na revista.

Nas 20 páginas ilustradas os leitores acompanham as aventuras dos irmãos Inza e Akin, durante um final de semana ensolarado na casa dos avós, na Região Metropolitana de Campinas. Sem sair de lá, a dupla viaja no tempo, aprende um pouco sobre as histórias do rádio e do Samba, e referências. Os leitores vão junto e são desafiados com jogos educativos e brincadeiras como a das 5 Marias, trazida ao Brasil por escravos moçambicanos.

Revista Tamborim – Projeto de Jonatas Aparecido Silva, Campinas (SP)

Com a revista foram entregues retalhos de pano e um tutorial para a montagem de bonecas Abayomi, símbolos de alegria e felicidade.

Ocorreram alguns contratempos na reta final do projeto, que foram contornados com um rede de apoio:

“Nós fechamos parceria com a CUFA para incluir a Tamborim nas cestas deles, e com o Quilombo Urbano OMG, para utilizar o espaço da sede durante a nossa distribuição. Porém, quando os 100 exemplares da revista ficaram prontos a CUFA já havia encerrado a entrega de cestas básicas e a sede do Quilombo Urbano entrou em reforma. Foi preciso reunir outros parceiros, batemos de porta em porta, usamos os Correios. Chegamos a doar 30 exemplares como material pedagógico para a EMEF Oziel Alves Pereira, que tem um projeto chamado Africanidades”, conta.

Projeto de Jonatas Aparecido Silva, Coletivo Mil Tambores, Campinas (SP)

“Enquanto educadores, pesquisadores, agentes culturais e ativistas a gente viu que a revista deu certo e queremos continuar. Essa é nossa luta, o sentido da nossa existência e nossa contribuição para um mundo melhor. Queremos continuar, ouvir os leitores e chegar a mil leitores. A segunda edição já está no forno”.

Confira o Instagram do Coletivo Mil Tambores

Na cidade de Assu, no Rio Grande do Norte, o jovem Paulo Henrique do Nascimento, 27, escolheu aplicar os seus conhecimentos em Nutrição para abrandar o sofrimento de 50 conterrâneos (mães e cuidadores de crianças de 0 a 6 anos) praticamente desassistidos pelo poder público durante a pandemia.

“O edital oportunizou pessoas vulneráveis a acessarem, mesmo que de forma remota, ações que salvaram suas vidas”.

Projeto do Paulo Henrique do Nascimento, Assu (RN)

Paulo reuniu 20 voluntários, entre professores, pedagogos, educadores físicos e artistas locais, na produção e compartilhamento (via redes sociais e aplicativos de mensagem) de peças informativas e vídeos com dicas de higiene pessoal e alimentação. Uma ação social encerrou o projeto com a distribuição de itens de limpeza e proteção pessoal contra o novo coronavirus e atividades para crianças nas comunidades.

“Como nutricionista poder promover a alimentação saudável para as crianças é algo fantástico. Sinto a missão cumprida”.

https://www.instagram.com/p/CKMmATrhElp/?igshid=1c0crewr5a2gh

https://www.instagram.com/tv/CKWUiisBRuY/?igshid=1mfs1mmfobfyr

Educar e Capacitar gera benefícios práticos

Tobias Pereira Soares Filho, 29 anos, é professor da Educação Básica e trabalha com projetos sociais dede 2009, sempre voltados para reforço escolar e educação ambiental. Neste período de pandemia ela viu a necessidade de somar novas demandas:

“Pensei nos pais e responsáveis, principalmente as mães e mulheres que estão diretamente ligadas aos cuidados com a crianças e também com a comunidade em geral, como com cursos de alfabetização de jovens, adultos e idosos. Assim, focamos o projeto em iniciativas que tinham duas intencionalidades, contribuir nos cuidados e também gerar potencialidades financeiras para essas mulheres.”

A ajuda deveria gerar ajuda prática e esperança. Tobias direcionou o projeto para a localidade de Sol Nascente, região administrativa do Distrito Federal considerada uma das maiores favelas do Brasil, ao lado da Rocinha, no Rio de Janeiro.

Projeto do Tobias Pereira Soares Filho, Sol Nascente (DF)

“Atuamos em uma parte deste território projeto é focado no Trecho II do Sol Nascente, mais especificamente na Chácara 97 (lá ainda as quadras são chamadas de chácaras, mesmo sendo urbanas), onde ainda há debilidades nas áreas de saúde, educação, segurança pública e transporte”, explica.

“Realizamos, a partir do Fundo Baobá, duas oficinas com 17 mulheres do território. Uma primeira com um mestre de cultura popular da cidade, Mestre Madioca Frita, também um periférico, que ensinou a construir quatro brinquedos populares (traca-traca, mané-gostoso, rói-rói e a galinha) para um grupo de 10 mulheres do território, mais algumas crianças que preferiram ficar na oficina do que na ciranda (lugar de cuidado para os filhos e filhas destas trabalhadoras, dando melhores condições para que elas possam participar das atividades). A segunda oficina foi com a pedagoga Lídia Pereira, que ensinou a fazer uma boneca de tecido.”

Projeto do Tobias Pereira Soares Filho, Sol Nascente (DF)

Ele explica que o propósito era produzir brinquedos que ficassem com as mães ou mulheres responsáveis após as oficinas, já pensando no Natal, e principalmente que elas pudessem dominar as técnicas para futuramente produzirem novas peças, vendê-las e gerarem renda.

“Também durante todas as oficinas o grupo se preocupou que o máximo possível do recurso ficasse no próprio território, assim as mulheres que produziram a alimentação das oficinas e as cuidadoras do espaço de ciranda, foram mulheres do próprio território e ligadas ao processo de pensar as atividades, acompanhar a execução e depois avaliarem”.

Os desafios não foram muitos, começando pelos vários casos de violência contra crianças e mulheres que ocorreram durante o processo, gerando o afastamento de uma das mulheres envolvidas. Abstenções também ocorriam quando as participantes desempregadas conseguiam trabalhos de faxina nos dias de atividade.

Projeto do Tobias Pereira Soares Filho, Sol Nascente (DF)

“Não conseguimos bom engajamento na internet então as ações ocorreram basicamente e forma presencial, porém seguindo os protocolos de segurança sanitária. Como nosso espaço tinha uma pequena área coberta, também contamos com a sorte meteorológica para não chover nos dias de atividade, evitando aglomerações”, cita mis alguns.

“Escutamos das participantes inúmeras vezes expressões sobre como era novamente bom brincar ou como fazia tempo que não brincavam daquela forma, foi bonito! Também escutamos inúmeras histórias das brincadeiras de cada uma das mulheres em seus tempos de infância, foram momentos muito importantes de troca. Acho que o maior aprendizado foi o da importância de manter a cabeça sempre aberta às brincadeiras e nos permitirmos esses tempos, mesmo dentro de todas as dificuldades.”

Também em Ceilância, no Distrito Federal, a assistente social Ágata Parentes Ferreira 32, também decidiu colaborar com a população de Sol Nascente, estimulando a cooperação comunitária e a geração de trabalho e renda.

“A realidade de Sol Nascente-DF é de grande vulnerabilidade social, especialmente no Trecho III – o qual ainda está em processo de ocupação e sem infraestrutura organizada pelo Estado. As oportunidades de trabalho e de desenvolvimento pessoal são escassas, estando jovens e adultos à mercê da irregularidade empregatícia, sem certezas de quando terão chance de ganhar dinheiro para sobrevivência diária. Ao mesmo tempo, numa comunidade recente, há poucos equipamentos sociais – como feiras, mercadinhos, padarias, bares, restaurantes – o que diminui ainda mais as oportunidades de trabalho e desenvolvimento local e, principalmente, dificulta o acesso a alimentos saudáveis para consumo diário dos cidadãos e cidadãs”, descreve Ágata.

“Essa dificuldade de acesso interfere na segurança alimentar e nutricional dos moradores e moradoras da comunidade, ou seja, no “acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais” (Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006), e, consequentemente, na qualidade de vida dessas pessoas”.

A população precisava ser fortalecida, vislumbrar oportunidades de trabalho e se crescimento pessoal e cooperativo, o que na opinião de Ágata iria  interferir diretamente na vida das crianças. Ela então pensou em muitas atividades virtuais, com o intuito de diminuir o contato físico e a transmissão da Covid-19, mas esbarrou em limitações de conexão de internet e na falta de equipamentos eletrônicos. Foi preciso adaptar a abordagem para o modo presencial, seguindo as orientações da OMS e da FIOCRUZ para mitigar o risco de contaminação.

“Todo o processo foi realizado coletivamente. Houve semanalmente reuniões de planejamento e alinhamento do processo de construção da cozinha comunitária, que foi transformada em padaria comunitária devido às necessidades da própria população. Enquanto os equipamentos e utensílios estavam sendo comprados, conseguimos também implementar dois espaços de formação para melhor gestão da padaria. Os temas abordados foram Introdução à Administração Colaborativa e Introdução sobre Manipulação de Alimentos, enfatizando os cuidados operacionais da cozinha e a higiene dos manipuladores”, conta.

O grupo ainda desenvolveu cardápios com pouco uso de alimentos ultra processados e tratou divulgação da padaria comunitária com faixas, grafites e uma bicicleta de som, para atrair a clientela e aumentar o capital de giro.

“As avaliações foram bastante positivas, pois há bastante força de vontade para fazer acontecer esse empreendimento coletivo. Desde o início, todas ficaram bastante ansiosas para que a padaria iniciasse, e este passou a ser uma meta principal dessas pessoas para poder ajudar no processo de garantia de renda. A nossa equipe aprendeu a potência que essas mulheres têm e que a oportunidade de trabalho é o que falta para que essas pessoas se desenvolvam pessoal e profissionalmente.”

Em São Paulo, a psicóloga e gestora ambiental Camila Britto da Silva, 30, está convicta de que psicologia a preparou para trabalhar a autoestima, o autocuidado e autonomia dos indivíduos, e por isso não desperdiça a chance de desenvolver projetos que permitam cumprir esse objetivo.

“Em meu trabalho como supervisora do programa Criança Feliz, via junto com as estagiárias as principais necessidades vivenciadas pelas famílias e principalmente pelas mães, e como tudo isso impactava no desenvolvimento das crianças. Sendo assim, enxerguei o edital como uma maneira de trazer uma nova perspectiva para essas mulheres, o que iria impactar também em seus filhos e famílias”, justifica.

Projeto da Camila Britto da Silva do Programa Criança Feliz, São Paulo (SP)

Era preciso estimular a autonomia financeira das famílias, então ela planejou o projeto Inclui e Conect@ com o propósito de proporcionar acesso a cursos profissionalizantes e de capacitação para famílias em situação de vulnerabilidade, no município de Arujá, na Região Metropolitna de São Paulo e Alto Tietê, e que tiveram essa condição acentuada no período da pandemia.

Projeto da Camila Britto da Silva do Programa Criança Feliz, São Paulo (SP)

“Inicialmente, foi realizada uma triagem por meio de formulários para selecionar as famílias que tinham interesse e disponibilidade de realizar os cursos. A partir desse resultado, foram feitas as matrículas e as participantes que não dispunham de internet e dos materiais necessários em casa, puderam realizar as aulas no Centro de Convivência da Criança e do Adolescente no Centro. No total, foram 12 cursos com carga horária de 20h a 30h oferecidos por meio das plataformas online dos sites do SENAC, SEBRAE E SENAI, de finanças pessoais, empreendedorismo, legislação trabalhista, confeitaria, entre outros. A maior parte do projeto foi realizada de maneira virtual, salvo a entrega dos certificados e os períodos de aula de algumas mães que não dispunham de internet em casa.”

O projeto teve o engajamento total de 22 mulheres que receberam certificados. Algumas, segundo Camila, aproveitaram os cursos e conseguiram oportunidades de trabalho. Outras, decidiram iniciar ou ampliar seus próprios negócios.

Projeto da Camila Britto da Silva do Programa Criança Feliz, São Paulo (SP)

“Isso me fez acreditar que o impacto do projeto tenha abrangido não somente elas, mas também suas famílias, uma vez que todas as participantes ou estavam gestantes, ou tinham filhos e companheiros. Todos enfrentando momentos difíceis por conta da pandemia. Dessa forma, o edital beneficiou cerca de 60 indivíduos.”

Doações emergenciais aos imigrantes na pandemia

Uma longa crise econômica e humanitária na Venezuela trouxe fileiras de imigrantes ao Brasil ao longo dos últimos anos. Em janeiro de 2020, o Comitê Nacional para Refugiados (Conare), ligado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, já havia reconhecido 17 mil venezuelanos como refugiados. E segundo o Atlas Temático – Migrações Venezuelanas (Unicamp), 3.250 imigrantes tinham registro ativo residentes na Região Nordeste, no período 2000-2019.

Na cidade de Crato, no Ceará, a professora de teatro e artes, Carla Hemanuela Bezerra, de 35 anos, e sua trupe, aproveitaram a chamada para o Edital Primeira Infância no Contexto da Covid-19, para colaborar com famílias venezuelanas que estavam de passagem pela Casa do Migrante, em novembro do ano passado. O edital avaliaria ações emergenciais dirigidas a povos indígenas, quilombolas, migrantes ou refugiados foram avaliadas em relação à sensibilidade cultural.

Projeto de Carla Hemanuela Bezerra na Casa do Migrante, em Crato (CE)

“Faço parte de um grupo de teatro que já realiza atividades em comunidades periféricas, com contação de história, oficinas e espetáculos teatrais. Quando surgiu o edital vimos a possibilidade de desenvolver algo na Casa do Migrante, que apoia os imigrantes venezuelanos. O prédio pertence à Diocese de Crato, mas é mantido com doações”, explica.

“Com a doação emergencial do Baobá fizemos em novembro um primeiro encontro presencial com as famílias para apresentamos o projeto. Em um segundo encontro organizamos oficinas de resgate da cultura venezuelana, uma com as crianças e outra com os pais. Todos escolheram falar sobre a cultura do seu país através de desenhos”.

As ilustrações que os pequenos fizeram estamparam tecidos que por sua vez viraram máscaras de proteção contra a Covid-19, em uma oficina de costura.  Carla gravou um vídeo com dicas para a confecção das peças, que foi compartilhado para outras dezenas de famílias de refugiados espalhadas pela Região do Cariri.

Projeto de Carla Hemanuela Bezerra na Casa do Migrante, em Crato (CE)

“Em 2020 mais de 100 venezuelanos passaram pela Casa do Migrante, mas durante o projeto só três famílias permaneciam desempregadas. Uma delas foi escolhida para receber uma máquina de costura e os materiais que usamos na oficina. A mulher é costureira e o marido artista plástico, então eles já estão confeccionando máscaras e bolsas para vender. O projeto foi para muitos, mas gerou imediatamente emprego e renda para uma família com três crianças. Também temos notícia de outros venezuelanos, em outras localidades, que estão confeccionando máscaras para vender”.

Os participantes ainda criaram uma logomarca para o projeto e participaram ativamente da produção de um documentário.

Projeto de Carla Hemanuela Bezerra na Casa do Migrante, em Crato (CE)

“Eles foram filmados ressaltando aspectos positivos do seu país e a necessidade de doações para a Casa do Migrante de Crato. A nossa preocupação agora é dar continuidade ao projeto, colaborando com esses mais de 100 imigrantes que ainda estão no Cariri, entre eles muitos jovens e crianças. Temos a ideia de criar uma brinquedoteca e outras coisas mais”.

A situação dos refugiados venezuelanos também sensibilizou a psicóloga Beth Fernandes, de 54 anos, 25 deles trabalhando com ativismo social.

“Estive em Boa Vista, Roraima para estudos sobre migrações sexuais e tráfico de pessoas na fronteira Brasil e Venezuela, em 2019, e percebi que Goiânia teve muita interiorização de venezuelanos, principalmente de mulheres grávidas e com crianças que ficavam nas ruas do Centro pedindo dinheiro e comida, expostas à violência.”

Projeto de Beth Fernandes no Amor Sem Dor, Goiânia (GO)

Beth encaminhou várias dessas mães ao projeto “Amor sem Dor”, promovido pelo Ministério Público do Trabalho de Goiânia e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), que oferecia aulas de corte e costura.

“Cinco das mães que eu encaminhei concluíram o curso e hoje coordenam a miniconfecção que eu montei, comprando duas máquinas e tecidos com recursos do Fundo Baobá. Elas orientam outras sete mães na confecção de camisetas, batas, lenços e máscaras de proteção contra o coronavírus”, explica Beth.

Projeto de Beth Fernandes no Amor Sem Dor, Goiânia (GO)

As participantes, 12 no total, geram renda com a venda das peças, no Centro de Goiânia. A ideia é que a miniconfecção, que funciona no galpão de outra ONG parceira – a Amor sem Fronteiras, criada por um venezuelano -, se torne o primeiro empreendimento delas.

“Se o projeto terminar, elas vão conseguir continuar sozinhas. Mas eu desejo agora é ampliar a confecção, engajar as mulheres que perderam os maridos na pandemia, ensinar a elas corte e costura, bordado, reinseri-las na sociedade”.

Projeto de Beth Fernandes no Amor Sem Dor, Goiânia (GO)

Em Suzano, São Paulo, Sílvia Aparecida do Carmo Rangel, 49, também atuou pela vertente do empoderamento, como ferramenta para o combate da violência contra a mulher.

“Minha participação foi motivada pelo desejo de ampliar ações desenvolvidas com outras usuárias dos projetos da AAMAE, instituição na qual atuo como gestora e presidente. Diante do desafio de minimizar a violência, na busca por um diagnóstico e acompanhamento mais próximo das mulheres que participam do programa Viva Leite, ou que fazem parte da comunidade e com crianças na primeira infância. Vivenciamos um aumento considerável em relação a violência doméstica, inclusive tivemos vários casos de feminicídio próximos a instituição”, afirma.

Bacharel em Direito, pós-graduada em Desenvolvimento Social e mestre em Políticas Públicas, Silvia elaborou o projeto Laços de Família – Baobá, com atividades realizadas no bairro Miguel Badra.

Projeto de Sílvia Aparecida do Carmo Rangel no AAMAE, Suzano (SP)

O cadastramento para levantamento dos dados das famílias deu-se de forma presencial, com horários previamente agendados e seguindo rigorosamente protocolos de saúde para conter o avanço do novo coronavírus. A partir daí, os contatos gerais para dúvidas e acompanhamentos ocorreram por telefone. Silvia promoveu diversas lives coletivas para discussões das temáticas violência doméstica, acidentes domésticos com crianças, educação dos filhos, amamentação e sobrecarga de responsabilidades para a mulher.

“Tivemos muitas discussões no grupo, pertinentes aos temas abordados. Mediar é sempre um desafio, pois cada qual tem sua bagagem, suas vivências, e são únicas, o que me faz a cada dia desenvolver o senso de altruísmo, o respeito a história de cada uma, e a empatia”.

O Laços de Família proporcionou também atendimento psicossocial em situações de violência, presencialmente e seguindo protocolo de saúde, além de entregas agendadas de cestas de Natal, cestas básicas, cestas de higiene e limpeza; brinquedos e máscaras de proteção. Duzentas mães e 170 crianças foram acolhidas.

Projeto de Sílvia Aparecida do Carmo Rangel no AAMAE, Suzano (SP)

“As atividades foram pensadas como forma de aproximação e envolvimento com as famílias, focando na mulher como protagonista. O desejo era ampliar a discussão sobre as diversas situações que envolvem a dinâmica familiar, os sonhos, as dificuldades e a capacidade de resolução de conflitos. Acredito que assim promovemos reflexões para trazer o reconhecimento do potencial de transformação e impacto a partir do empoderamento e resgate da dignidade.”

Cuidados para a saúde física e mental das populações vulneráveis

Determinantes para mitigar o avanço da pandemia do novo coronavírus, as políticas de distanciamento social e as recomendações básicas de higiene soaram um alerta para a parcela da população que vive em favelas, periferias e rincões do país, em situação de extrema pobreza e sem infraestrutura. De acordo com o Instituto Trata Brasil são quase 35 milhões de brasileiros que sequer têm acesso ao abastecimento de água e mais de 100 milhões sem a cobertura da coleta de esgoto.

Pensando justamente nesse grupo, longe de espaços de acolhimento adequados, a assistente social Claudia Arantes da Silva Mathias, de 51 anos, se inscreveu no edital do Fundo Baobá.

“Atuo há 22 anos no Centro de São Paulo e acompanho as demandas dessas pessoas – especialmente mulheres e jovens gestantes. Muitas delas, na sua grande maioria negras, relataram situações de violência e empobrecimento, agravadas pela epidemia que interrompeu ou reduziu muitos serviços”, explica.

Projeto de Claudia Arantes da Silva Mathias, São Paulo (SP)

Claudia considerou ainda o cuidado integral das crianças na primeira infância:

“Vivendo nos cortiços e ocupações, em ambientes insalubres e sem espaços de convivência e lazer, os pequenos são os que mais sofrem com as situações de violência doméstica. Creches e escolas fecharam e eles não ganharam opções lúdicas e educativas.”

Moradora da Zona Oeste, Claudia usou carro e transporte público para realizar visitas domiciliares na favela do Moinho e em cortiços das regiões da Luz, Canindé, Bom Retiro e Consolação; distribuiu 60 cestas básicas e 60 kits de higiene e limpeza. As demais ações ocorreram no ambiente virtual: atividades lúdico-pedagógicas para crianças de 0 a 6 anos; entrevistas individuais de acolhimento e reuniões com adolescentes e jovens mães, para o enfrentamento de violência doméstica.

Projeto de Claudia Arantes da Silva Mathias, São Paulo (SP)

“Em quatro desses casos de violência nós orientamos as mulheres sobre as medidas legais possíveis, e contei com a ajuda da A.A.Criança para realizar o atendimento biopsicossocial das famílias”.

Ao todo 114 pessoas foram beneficiadas, entre elas a jovem mãe Kelly, 17, que deixou o seguinte relato:

“Nesse momento em que a gente não tinha a quem recorrer, a senhora foi um porto seguro. Ter alguém pra falar dos nossos problemas, e nos ensinar o que é bom pra fazer nessa hora de tanta dificuldade, não tem preço”.

Projeto de Claudia Arantes da Silva Mathias, São Paulo (SP)

Da mesma forma a enfermeira Dóris Faustino, 33, voltou o seu olhar para comunidades periféricas de Belo Horizonte, capital mineira, e Betim, quinto município mais populoso do estado.

“A minha motivação para participar do edital do Fundo Baobá veio do desejo de colaborar com as meninas mães egressas do projeto socioeducativo do coletivo Teia de Anansi, onde trabalho há três anos. Confiantes no nosso trabalho, as jovens não hesitaram em nos contar que enfrentavam dificuldades para comprar materiais básicos para seus bebês em decorrência da pandemia”, relata.

Projeto de Dóris Faustino do coletivo Teia de Anansi – Belo Horizonte e Betim (MG)

Com ênfase na prevenção da doença e nos cuidados necessários para as adolescentes e seus bebês, Dóris definiu as seguintes estratégias: elaboração e entrega de cartilhas ilustrativas com esclarecimentos sobre o SARS-CoV-2 (Covid-19); distribuição de álcool em gel e máscaras de proteção; conversas por telefone para falar sobre a saúde das mães e dos bebês.

Projeto de Dóris Faustino do coletivo Teia de Anansi – Belo Horizonte e Betim (MG)

Conseguimos atingir oito adolescentes diretamente e seus bebês, totalizando nove crianças em Belo Horizonte e Betim, mais os seus familiares. Para algumas adolescentes mães egressas do socioeducativo que estão nos interiores de Minas Gerais, nós enviamos a cartilha e conversamos via aplicativos de mensagem e redes sociais. Elas agradeceram muito.”

Projeto de Dóris Faustino do coletivo Teia de Anansi – Belo Horizonte e Betim (MG)

A fim de contribuir com a primeira infância no contexto da pandemia, a psicóloga Aline Cardoso Côrtes, 29, moradora de Taguatinga, no Distrito Federal, mobilizou pelo menos seis agentes populares de saúde nos cuidados de famílias da comunidade Quintas do Amanhecer e do Assentamento Pequeno William, em Planaltina. Ao longo do projeto, eles tinham a tarefa de convidá-las para as ações e acompanhá-las.

“O cenário de pandemia, isolamento social e crise econômica desencadeou, sobretudo para as famílias e comunidades de baixa renda, uma condição de medo constante e situações de estresse vivenciadas pela falta de apoio e cuidado aos indivíduos. O projeto representou uma oportunidade de viabilizar condições concretas para salvar vidas e promover saúde às crianças e seus cuidadores. Uma etapa inicial muito importante foi a de mobilização e formação com a temática saúde mental no contexto de crise econômica e isolamento social para os agentes.”

Após o mapeamento das famílias, Aline dedicou-se a elaboração de videoaulas com diversas temáticas: de orientações para o fortalecimento da relação crianças e seus pais ou cuidadores, a oficinas de ioga e meditação, dança e instruções sobre alimentação saudável. Ela conta que surgiram algumas dificuldades, essencialmente pelas limitações do formato virtual. O convite às famílias era feito através de ligações e mensagens, o que criou um certo distanciamento e até ausência de respostas.

“Em condições normais, realizar essa mobilização de forma presencial é mais sensível e com maiores chances de cativação. Mas nos adaptando, inclusive utilizando ao máximo a ferramenta do WhatsApp”, comenta.

Projeto de Aline Cardoso Côrtes, na comunidade Quintas do Amanhecer e no Assentamento Pequeno William, em Taguatinga e Planaltina (DF)

Mas comemora, porque a recepção ao projeto foi muito positiva:

“Os relatos de uma mãe solo, por exemplo, confirmam que a pandemia fez com que a dinâmica familiar sofresse várias alterações, há uma sobrecarga de tarefas, as crianças estão mais agitadas, fazendo-se necessário meios de reinventar o cuidado. Deste modo, percebemos como muito assertivo essa proposta que incide diretamente em alternativas para a melhoria da qualidade de vida, tanto das crianças, quanto dos seus pais, que se encontram mais vulneráveis nesta conjuntura. No geral, buscamos nos fortalecer a partir de uma solidariedade coletiva, promovendo ações com foco na educação em saúde no aspecto da promoção da qualidade de vida”.

Edital Primeira Infância atraiu olhares profissionais e acadêmicos para a população vulnerável, durante a pandemia

Falar de medidas de isolamento físico e social para os sem-teto, durante a pandemia, é mais do que uma ironia. É motivo de muito sofrimento. Conhecedora dessa realidade, a arquiteta Viviane Zerlotini da Silva, de 50 anos, propôs ao Fundo Baobá medidas que impactassem positivamente cerca de seis mil famílias vivendo em Izidora, ao Norte de Belo Horizonte – um dos maiores conflitos fundiários da América Latina. Homens, mulheres e crianças em constante situação de precariedade e sem acesso às políticas públicas.

Na sua rotina de assessora técnica das ocupações de Izidora (Esperança, Helena Grego, Vitório e Rosa Leão), em atividades de extensão pela PUC Minas Gerais, Viviane também acompanha os movimentos de uma rede de cuidadores de crianças e idosos responsável por auxiliar as lideranças reconhecidas pelos moradores, na distribuição de doações. Quando a pandemia chegou, trazendo normas restritivas de acesso a uma série de serviços (creches, escolas, postos de saúde e o Centro de Referência da Assistência Social), percebeu que tudo ficou mais complicado.

Ela então tomou a iniciativa de aderir ao Edital Primeira Infância, e de convocar outros colegas e alunos do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da universidade.

“Com os devidos cuidados andamos com as lideranças, visitamos as casas, ouvimos os moradores e as muitas dúvidas que tinham em relação à Covid. Muitos estavam preocupados com a aglomeração de jovens nos bailes, com a necessidade eventual usar o transporte público, sem saber como acessar o posto de saúde para levar alguém doente ou ainda como lidar com os filhos fora da escola, por exemplo”.

Projeto de Viviane Zerlotini da Silva, Izidora (MG)

A principal ação do projeto acabou se transformando a produção e gravação de pelo menos cinco vídeos, que incluíram depoimentos dos próprios moradores e de profissionais de saúde, depois compartilhados por um aplicativo de mensagem.

“O retorno que tivemos foi ótimo. Eles gostaram muito, porque viram moradores falando e se reconheceram ali”, comenta Viviane.

Em outra ação emergencial os alunos da Escola de Formação de Autoprodutores em Processos Socioambientais, da universidade, sugeriram a confecção de brinquedos de sucata e madeira para suprir a falta da escola e da internet para a garotada. A ideia foi afinada em videoconferência, com as lideranças comunitárias. E alunos dez alunos da disciplina Processos Colaborativos elaboraram cartilhas explicativas para que os próprios moradores montassem as peças.

Projeto de Viviane Zerlotini da Silva, Izidora (MG)

“A doação de brinquedos contribuiu com a formação da criança, em seu universo lúdico, ao mesmo tempo que não exigiu a presença de um adulto externo à ocupação para acompanhar estas crianças, apenas dos pais e cuidadores. Evitou-se assim a circulação do vírus nas ocupações“, ressalta Viviane.

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A psicóloga clínica e social Liliane Santos Pereira Silva, 24, também entende a realidade de moradores de territórios em conflito, e se preocupa com esses espaços atualmente.

“Atuo desde 2016 nesses territórios (MST, Quilombos, Comunidades indígenas e campesinas), inicialmente como estudante, nesse momento como profissional. E, para além do compromisso profissional, como mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Alagoas considero que as universidades públicas devem voltar suas pesquisas a atividades de campo, produzindo nos territórios a aliança entre pesquisar e intervir”, pondera.

Para atenuar os sofrimentos da comunidade Quilombola Cajá dos Negros, na Zona Rural da cidade de Batalha, no sertão alagoano, ela optou por iniciativas virtuais e presenciais voltadas para crianças de 3 a 6 anos, mulheres jovens e adultas em período gestacional ou puerpério, além de vítimas de violência doméstica.

“Com as crianças visamos apresentar cartilhas com brincadeiras africanas em que elas possam conhecer a história do seu povo, da sua comunidade e construir referências negras desde a infância. Às mulheres grávidas ou em período puerpério ofertamos acompanhamentos para sanar dúvidas sobre o período e os cuidados em relação à Covid-19. Por fim, tentamos acolher as mulheres vítimas de violência doméstica e articular um processo de conscientização comunitária sobre o assunto, divulgando uma cartilha sobre os tipos de violência e os locais de amparo”, descreve.

Projeto de Liliane Santos Pereira Silva, Quilombo Cajá dos Negros (MG)

Liliane calcula que 15 famílias foram diretamente impactadas pelas ações, por meio de 11 crianças e quatro mães; mais 88 outras famílias, indiretamente.

“A aplicação das cartilhas infantis com jogos e contos africanos foi a que enfrentamos o maior desafio. Alguns pais e mães eram analfabetos e/ou não possuíam smartphones para receber vídeos e áudios com as explicações das brincadeiras. Para resolver isso, seguimos com a proposta de conteúdo apresentado por WhatsApp, para as famílias que possuíam o smartphones; as que não tinham receberam a vista de jovens mediadoras da comunidade que foram até suas casas para aplicar algumas atividades. Sempre seguindo rigorosamente todos os cuidados em relação a Covid-19”.

Projeto de Liliane Santos Pereira Silva, Quilombo Cajá dos Negros (MG)

Vários relatos de participantes foram satisfatórios em relação à melhora do relacionamento pais e filhos, e do comportamento dos pequenos por meio da leitura das cartilhas infantis. Já as mães sentiram-se mais confiantes com as informações seguras e de qualidade que receberam.

“Com relação às vítimas de violência, nós focamos em discutir possibilidades de desenvolvimento de renda. A saída de uma relação abusiva nunca é simples. Existe uma base sustentável que a mulher precisa ter (econômico e psicológico), e foram por essas vias que atuamos”, comentou.

“Envolver-se com comunidades é sempre pensar cada estratégia com muito cuidado e com afetividade, pensando o impacto que isso pode fornecer as famílias e como pode ainda impactar a longo prazo. De forma ampla, o maior aprendizado que recebo das comunidades é o cuidar do outro com afeto e paciência e ainda de construir ações sorrateiras, que quebram nuances do sistema hegemônico e produz no território a potência de transformação coletiva”.

Projeto de Liliane Santos Pereira Silva, Quilombo Cajá dos Negros (MG)

No Rio de Janeiro, a médica da família Patricia Maria Barros Thomas, 37, considera que o seu trabalho sempre teve um cunho social. Com a chegada do novo coronavírus e seus efeitos negativos sobre a sociedade, ela decidiu fazer algo mais pelas mulheres e crianças da Rocinha – por muitos considerada a maior favela urbana do país, encravada entre três bairros nobres da cidade.

“Percebi que a pandemia agravou as necessidades dos moradores. Quando fiquei sabendo do Edital Primeira Infância, pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, eu propus montar kits infantis, com produtos de higiene e materiais de brincar, e ofertá-los às famílias mais vulneráveis. A ideia inicial era aproveitar o momento da entrega e propiciar uma espécie de ‘oficina’ para tratar de temas como desenvolvimento infantil e relação pais-filhos, na própria clínica, mas estamos em uma unidade de saúde do município trabalhando num contexto bastante adverso nos últimos meses”.

O agravamento do quadro da pandemia na cidade atrapalhou os planos de Patricia, mas não a impediram de entregar 30 kits, contendo quadro negro, giz, apagador, massinha de modelar, areia, fita crepe, lápis de cor, giz de cera, cola, folhas de papel A4, livros infantil, leite em pó, fraldas e sabonete. Ela foi até o encontro das crianças e responsáveis, na companhia de agentes comunitários de saúde, colegas médicas, residentes e estudantes de medicina. Todos voluntários.

“A atividade contribuiu bastante para os agentes, residentes e estudantes no aspecto da formação profissional. Além disso, a impressão geral é a do quanto podemos fazer com poucas coisas. Neste tópico, vale muito mais a abordagem, o ‘recurso humano’, não somente o material!”

 

Experiências e histórias de vida que inspiram mudanças no coletivo

Quem gosta de literatura e escuta o nome Cora Coralina, logo o associa ao pseudônimo de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, uma importante poetisa e contista brasileira, que teve o primeiro livro publicado em 1965, aos 76 anos, embora escrevesse há várias décadas. Aos 50, já viúva, Anna decidiu assumir o pseudônimo e dedicou-se mais intensamente a registrar suas experiências pessoais e o amor pela cidade natal, Goiás. 

Ela ainda era viva, em 1991, quando um casal em São Paulo batizou a filha com o seu nome artístico. Cora Coralina de Paula Souza, hoje com 29 anos, chegou a ter vergonha do nome, porque, segundo ela, causava estranhamento entre as outras crianças. Só na juventude, descobriu os textos da escritora goiana. 

Projeto de Cora Coralina – São Paulo (SP)

 “Acredito que um poema dela vem muito de encontro aos meus anseios, o ‘Ofertas de Aninha (aos moços)’, que diz um pouco: ‘Eu sou aquela mulher a quem o tempo muito ensinou. Ensinou a amar a vida. Não desistir da luta. Recomeçar na derrota. Renunciar a palavras e pensamentos negativos. Acreditar nos valores humanos. Ser otimista’(…) ”.

Formada em Comunicação Social, com especialização em Gestão Cultural, a Cora Coralina paulistana tem muita sensibilidade e sede de transformação. Integra o coletivo N’Kinpa – Núcleo de Culturas Negras e Periféricas -, que reúne em sua maioria mulheres negras para a promoção da cultura e educação em territórios periféricos.  

“A motivação para me inscrever no Edital Primeira Infância veio do despreparo e descaso do poder público em dar suporte a população, principalmente nas áreas da Saúde e Educação, frente a pandemia. As violências e vulnerabilidades que acometeram os negros e as crianças foram escancaradas. Diante disso, a necessidade de buscarmos fundos e verbas foi imprescindível, pois não podíamos apenas assistir a fome, a morte e falta de cuidados”, desabafa.

Projeto de Cora Coralina – São Paulo (SP)

Cora Coralina e integrantes do coletivo atuaram na comunidade Quilombo da Parada, que fica no distrito da Brasilândia em São Paulo, região que chegou a liderar o ranking de mortes pela Covid-19 na capital, ano passado.

“Impactamos trinta famílias com crianças na primeira infância. Desenvolvemos o Kit Capanga contendo um livro de pano, saquinhos de N’ganga (ervas) e um catálogo com explicações sobre as ervas e sugestões ilustradas de cuidados com os bebês e crianças. Os livrinhos de pano trazem os símbolos Adinkras – Sankofa, Aya e Duafe. Também criamos o CD Histórias do Lado de lá Calunga, com contos e canções, acompanhado de um QR Code no encarte. Este Kit foi entregue junto de cestas básicas que continham alimentos e itens para higiene”, descreve.

Projeto de Cora Coralina – São Paulo (SP)

Como Cora Coralina, lá em São Paulo, o professor e agente comunitário Domingos Lemos Silva, 40, não suportou assistir de braços cruzados o sofrimento do seu povo.

“Moro no quilombo de São Joaquim do Sertão, em Vitoria da Conquista, na Bahia, e sou natural desse município. Enxerguei no edital a oportunidade de captar recursos para melhor servir a minha comunidade nesse momento difícil”, conta.

Projeto de Domingos Lemos Silva no Quilombo São Joaquim do Sertão – Vitória da Conquista (BA)

A ajuda chegou com a distribuição de cestas de alimentos, kits de produtos de higiene e muita orientação. Domingos convidou um representante de cada família para participar de uma palestra no pátio da igreja do quilombo – ali evocaram diálogos sobre os sintomas e cuidados necessários para manter distante o novo coronavírus.

Projeto de Domingos Lemos Silva no Quilombo São Joaquim do Sertão – Vitória da Conquista (BA)

“Na ocasião, também expliquei o que era o Fundo Baobá e o projeto que estávamos participando. Em outro momento promovi a pesagem das crianças em uma unidade de saúde, onde foi possível ainda checar as cadernetas de vacinação, além de vacinar as crianças que tinham vacinas pendentes. Consegui que o projeto atingisse 57 adultos e 35 crianças. Os participantes comentaram que gostaram do projeto e que ele deveria ser permanente; já eu aprendi a lição de que fazer o bem é gratificante”.

Projeto de Domingos Lemos Silva no Quilombo São Joaquim do Sertão – Vitória da Conquista (BA)

Em Ananindeua, no Pará, a assistente social Amanda Cristina Queiroz de Moraes, 34, teve a mesma impressão ao encerrar o projeto desenvolvido para o edital. O público-alvo foram crianças e adolescentes paraenses que sofrem com a violência familiar e a gravidez na adolescência.

 “Sou voluntária em uma comunidade denominada Curuçambá, em Ananindeua, onde vivencio essa realidade diariamente. Eu sigo o Fundo Baobá no Instagram e fiquei sabendo do edital por lá. Decidi participar, porque queria levar informação de forma lúdica e com uma linguagem acessível para essas meninas.”

Projeto de Amanda Cristina Queiroz de Moraes – Ananindeua (PA)

Com a parceria de outra assistente social, a Regeane Holanda do Carmo, 29, Amanda Cristina ofereceu também muito carinho e atenção, por meio de rodas de conversa e visitas individualizadas nas casas das adolescentes. 

Projeto de Amanda Cristina Queiroz de Moraes – Ananindeua (PA)

“Não foi fácil falar sobre sexualidade, uso de contraceptivos e relacionamento amoroso, por exemplo. Primeiro porque havia a necessidade de um responsável por perto, o que as deixava constrangidas, e por que muitas vezes esses temas não eram bem-vindos pelos pais. Mas nós conseguimos levar informações do ECA (Estatuto da Criança do Adolescente) por meio de cartilhas. Informações que elas terão para sempre.”

Projeto de Amanda Cristina Queiroz de Moraes – Ananindeua (PA)

Amanda e Regeane são voluntárias do Centro Social Estrela Dalva umas das muitas associações que buscam apoiar os moradores de ocupações de Curuçambá e populações ribeirinhas próximas. Por meio desse trabalho chegaram até 20 garotas e 10 adultos, certas de ter feito alguma diferença na vida de todos:

“Fazer o bem, é amar o próximo”, resume Amanda Cristina. 

Fundo Baobá divulga selecionados do Edital de Recuperação Econômica para Empreendedores/as Negros e Negras

Diante da pandemia do novo coronavírus, o Fundo Baobá, em parceria com a Coca-Cola Foundation, o Instituto Coca-Cola Brasil, o BV e o Instituto Votorantim, lançou o edital Recuperação Econômica para Micro e Pequenos Empreendedores/as Negros e Negras em 11 de novembro de 2020. No curto espaço de tempo de lá até o dia 25 de fevereiro deste ano transcorreu um rigoroso processo seletivo, que incluiu  entrevistas virtuais e resultou em uma lista de 47 iniciativas que receberão R$30 mil, sendo R$10 mil para cada empreendedor (a). As iniciativas selecionadas podem ser conferidas aqui.

O processo de seleção abarcou 700 propostas recebidas nos 39 dias em que as inscrições estiveram abertas.  A primeira triagem era quanto à sua adequação ao que o edital estabelecia.  A principal premissa do edital de Recuperação Econômica era o suporte necessário para iniciativas lideradas por empreendedores negros e negras que foram afetadas financeiramente dentro do contexto da pandemia. As iniciativas que poderiam se inscrever no edital deveriam atender as com as seguintes características: Ser compostas por 3 empreendedores(as) negros(as) que atuem no mesmo território; que tenham 18 anos ou mais; disponibilidade real para participar das ações propostas pelo edital; que não tenham sido eleitos para cargos no legislativo ou executivo; que não tenham projetos com objetivos políticos/partidários; que não sejam funcionários, cônjuges ou parentes até segundo grau de colaboradores das empresas que apoiam essa iniciativa (Sistema Coca-Cola e Grupo Votorantim) ou mesmo de membros dos órgãos de governança do Fundo Baobá para Equidade Racial; pessoas que não tenham sido apoiadas pelo Fundo Baobá em 2020 por edital próprio (Doações Emergenciais) ou da Coalizão Editodos.

Ao fim desse processo, 595 inscrições foram validadas, passando para a fase de avaliação das propostas em si. Dessas, 278 seguiram para a etapa de entrevistas virtuais. Elas foram realizadas pela organização FA.VELA, parceira operadora do Fundo Baobá para este projeto. Segundo Ludmila Correa, representante da FA.VELA, as conversas foram fundamentais para seleção de iniciativas empreendedoras para o programa. “Durante as entrevistas pudemos conhecer diversas realidades, ramos e formas de empreender desenvolvidas nas diferentes regiões do Brasil, variando de entrevistas com empreendedores quilombolas, ribeirinhos, da zona rural e do meio urbano. Acreditamos que muitas iniciativas têm perspectiva de expansão, promovendo impacto territorial por meio da geração de renda, desenvolvimento sócio econômico, fortalecimento da atuação em rede, entre outros benefícios. O processo de entrevistas foi fundamental para o diálogo e entendimento da realidade de cada empreendedor, possibilitando verificar a adequação da iniciativa proposta para o programa, selecionando assim participantes de forma mais assertiva e coerente”. 

Com esse cuidadoso processo, 141 projetos foram recomendados ao comitê selecionador, que elegeu as 47 iniciativas que serão contempladas com os recursos financeiros e de formação. 

Os próximos passos para os empreendedores selecionados é a assinatura do contrato com o Fundo Baobá, que acontecerá em março, além das atividades formativas, nas quais é obrigatória a participação. Planejamento e gestão de negócios, comunicação e marketing, finanças, marco jurídico – regulamentação dos negócios e direitos, estratégias de sustentabilidade, relação com território, ação em rede e parcerias, serão os temas abordados e discutidos nas formações, que acontecerão de março a julho de 2021. Todos estes passos, além do cronograma completo, serão detalhados por e-mail, na próxima semana.

Programa Já É leva a 100 jovens negros pobres da periferia o direito de ser protagonistas de suas próprias histórias através do acesso à universidade

O direito de poder sonhar com uma vida digna. Nem toda a população brasileira tem isso. A falta dele se manifesta das mais diferentes formas. Aqui, vamos tratar do direito de ter acesso ao ensino superior. No Brasil, país de mais de 220 milhões de pessoas, nem todos têm acesso ao estudo. Os exagerados índices de pobreza, a falta de infraestrutura que gere trabalho decente e rendas compatíveis determinam que muita gente, principalmente a gente negra,  não terá acesso aos bancos escolares na tenra idade, na adolescência e na idade adulta. Essas pessoas,  de  diferentes identidades de gênero, poderão não ter gabaritação estudantil.  

O Fundo Baobá para Equidade Racial está, nesses seus quase 10 anos de existência, apontando formas de contribuir para que o Brasil alcance níveis de sociedade justa. Uma das bases de trabalho do Baobá é a Educação. Permitir o amplo acesso a ela é a meta, buscando os seguintes aspectos:    

  • Enfrentamento ao racismo institucional no ambiente escolar, tanto na educação infantil, no ensino fundamental e no ensino médio;  
  • Projetos de vida e ampliação de capacidades socioemocionais entre adolescentes e jovens 
  • Entrada e permanência no ensino superior (investimentos em alunos e alunas do ensino médio e de cursos preparatórios)
  • Formação de lideranças políticas
  • Formação de novos quadros 

Com base nisso e com apoio da Citi Foundation,  Demarest Advogados e Amadi Technology, o Fundo Baobá para Equidade Racial criou o programa Já É, que vai proporcionar a 100 jovens negros e negras da periferia de São Paulo e da Grande São Paulo fazer um curso preparatório para o vestibular durante um ano. Esses jovens, de idade entre 17 e 25 anos, que já tenham terminado o ensino médio ou  estejam cursando o último ano  em escola  pública,  terão um computador com acesso à Internet para que possam ter aulas não presenciais durante o período da pandemia; auxílio transporte e auxílio alimentação em caso de as aulas voltarem a ser presenciais. O custo das despesas com as aulas também será bancado pelo Baobá. 

Esse acesso vai proporcionar a esses 100 jovens negros e negras a possibilidade de poderem ser os artífices de suas próprias vidas ao se formar. Embora pesquisas como a realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em 2020 indiquem que o número de negros em cursos superiores tenha aumentado, isso em muito se deve à adoção das ações afirmativas, como a política de cotas, que reserva aos negros uma porcentagem de vagas em cursos superiores em faculdades e universidades. Mas o caminho de chegada às faculdades tem trajeto difícil e um gargalo entre a saída do Ensino Médio para o Superior. Sem a preparação adequada, cruzar essa barreira é algo bem difícil, principalmente para quem tem histórico de carências de vida nas mais diversas ordens. O programa Já É tem foco sobre jovens de sexo masculino, jovens transsexuais, jovens mães, jovens que residem em bairros, territórios ou comunidades periféricas.

O fato de terem essa importante oportunidade de acesso ao curso superior é comemorado por importantes educadores que foram convidados pelo Fundo Baobá para Equidade Racial para fazer a seleção dos estudantes. O processo incluiu três etapas seletivas: 1) Análise de Formulário de Inscrição; 2) Entrevista Individual e 3) Análise pelo Comitê de Seleção.

Um dos avaliadores convidados foi o geógrafo e Mestre em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP) Billy Malachias.  “A perspectiva mais direta para esses jovens é a de poder sonhar com o acesso  à universidade. Isso que é feito pelo Baobá, que é o investimento naquilo que antecede a chegada à faculdade, o acesso, é de suma importância.Já a política de cotas  é da própria instituição pública e garantida por lei. Essas duas ações (cotas e investimento) são convergentes entre si e colaboram para uma mudança do acesso de jovens negras e negros para o ensino superior”, disse. 

Billy Malachias, geógrafo e mestre em Geografia Humana – Foto: Rosana Barbosa

A pedagoga e doutora em Educação pela Universidade Federal Fluminense Mônica Sacramento comemora a iniciativa do Baobá. Mônica é coordenadora de projetos do Criola,  organização da sociedade civil que promove a defesa e direitos das mulheres negras. “Acho de extrema importância iniciativas que possibilitem suporte para a construção de trajetórias de jovens para mitigação dos efeitos das instituições e mecanismos de socialização e a forma como os indivíduos e grupos racializados se posicionam e são posicionados em relação a eles”, afirmou.

Mônica Sacramento, pedagoga, doutora em Educação e coordenadora de projetos do Criola

Bacharel pela USP em Matemática Aplicada a Negócios e pedagoga com especialização em Matemática, Francielle Santos é coordenadora pedagógica do Instituto Canoa, organização criada com a missão de viabilizar a formação de professores de excelência no Brasil. Como uma das avaliadoras, ela elogiou a iniciativa do Fundo Baobá. “Essa iniciativa é fundamental pela oportunidade que oferece aos jovens de aumentar as chances de acesso ao ensino superior e, portanto, de assumir posições de lideranças posteriormente. Além disso, a forma como essa proposta foi desenhada pode trazer mais informação sobre o quanto é importante contemplar de uma forma mais integral as necessidades desses jovens, por exemplo,  no que diz respeito ao acompanhamento e permanência ao longo dessa preparação”, disse. 

Francielle Santos, bacharel em Matemática Aplicada a Negócios, pedagoga com especialização em Matemática e coordenadora pedagógica do Instituto Canoa

Selma Moreira, diretora executiva do Fundo Baobá, em recente live realizada pelo Women in Science and Engineering (Wise), falou sobre a importância do Já É para esses 100 jovens negros e negras. “Todos esses cuidados que tomamos no edital ajudam a entender os desafios da educação para a equidade racial, que são proporcionais à sua importância. Sem acesso à educação, um povo é condenado a repetir os mesmos padrões. Mas quando pensamos em educação para a promoção da equidade racial, precisamos levar em conta inúmeros níveis de desigualdade: Diferença de acesso; Diferença de qualidade; Diferença no conteúdo educacional; Diferença no tratamento.” 

O programa Já É, com certeza, é uma grande contribuição para que esses jovens se tornem protagonistas de seus futuros. Além do que, também é transformador na vida dos avaliadores do processo de seleção. “Eu me sinto bastante feliz em ter participado. Sempre me vejo como um agente que precisa apoiar iniciativas como essa do Fundo Baobá. Eu me vejo como alguém que colabora para transformações de vida por meio da qualidade de minha formação docente. Que é algo que contribui para que pessoas se inspirem a trilhar um caminho universitário,  acadêmico, ativista. Não é possível ser um educador sem que  a gente pense em possibilidades melhores de vida, indiscriminadamente, para todos os espaços”, afirmou o geógrafo Billy Malachias. “O convite para compor o comitê de seleção do edital, além de uma satisfação pessoal por integrar um grupo qualificado e de trajetórias profissionais tão expressivas, transforma, em alguma medida, minha trajetória individual e profissional”, afirma  Monica Sacramento, cujo pensamento é seguido por Francielle Santos: “Toda e qualquer oportunidade de conhecer os anseios, desafios, necessidades e potencialidades de jovens negros é uma experiência transformadora para mim. Essa experiência me fez renovar e ampliar as minhas razões para esperançar”, afirmou. 

Além de Billy Malachias, Mônica Sacramento e Francielle Santos, também fizeram parte do comitê selecionador do Já É, a pedagoga com habilitação em Orientação Educacional pela Universidade Federal do Maranhão, Socorro Guterres, membro da Assembleia Geral do Fundo Baobá para Equidade Racial e Milton Alves dos Santos, pedagogo formado pela USP, com atuação nas temáticas da juventude e da infância.

Milton Alves dos Santos (pedagogo e membro da Assembleia Geral do Fundo Baobá para Equidade Racial) e Socorro Guterres (pedagoga)

Demarest Advogados é apoiador do programa Já É e vai acompanhar desempenho de jovens estudantes negros que poderão ser contratados no futuro

Um dos grandes escritórios de advocacia do Brasil, o Demarest, sediado em São Paulo, é apoiador do Fundo Baobá para Equidade Racial na realização do programa Já É, que vai incentivar 100 jovens negros entre 17 e 25 anos no acesso à faculdade. Esses jovens de regiões periféricas da cidade de São Paulo e da Grande São Paulo vão receber bolsa de estudos para frequentar aulas virtuais (enquanto durar o processo de pandemia) em um cursinho. A duração da bolsa é de um ano, válida no período de março de 2021 a março de 2022.

O Demarest Advogados possui um forte programa de inclusão e combate ao racismo em seu DNA. A aproximação com o Fundo Baobá reforça ainda mais isso. Em 2016, a empresa implantou um exercício de discussão entre seus funcionários sobre equidade racial. Esse exercício culminou na criação, em 2018, do D Raízes, programa para aguçar a percepção e criar ações para promover a luta antirracista. “Tinhamos que garantir que esse posicionamento fosse refletido na nossa forma de fazer negócios”, destaca Paulo Coelho da Rocha, sócio do Demarest nas áreas de Fusões e Aquisições, Capital Privado e Capital de Risco. 

Paulo Coelho da Rocha, sócio do Demarest nas áreas de Fusões e Aquisições, Capital Privado e Capital de Risco

Formado em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e com especialização em Direito Corporativo pela New York University (NYU), Paulo conta como se deu a aproximação com o Fundo Baobá e o apoio ao programa Já É: “Por meio dos congressos e  atuação do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), conhecemos o Fundo Baobá. A partir daí, acompanhamos o desenrolar dos projetos desenvolvidos pelo Fundo e assim que tivemos a oportunidade de realizar um investimento em um projeto social de impacto entramos em contato para estabelecer a parceria”, afirmou.

Um levantamento informal entre os escritórios associados ao Centro de Estudos das Sociedades dos Advogados (CESA), realizado em 2017, identificou que menos de  1% dos advogados se autodeclararam negros. É urgente atuar na agenda de inclusão dos profissionais negros em nosso segmento”, declara Paulo. No caso do Demarest, uma das bancas de direito mais conceituadas do país, com cerca de 650 funcionários, 17%  (110) se declararam negros em um levantamento interno. Entre os que se declararam negros, 58% (64) são mulheres e 42% (46), homens.  Nesse contexto, apoiar um projeto educativo e transformador na vida desses 100 jovens negros tem um significado plural para o escritório. 

Os 100 jovens negros integrantes do programa Já É serão acompanhados pelo Demarest quando alcançarem a faculdade. Alguns poderão até fazer parte do corpo de advogados no futuro. “Queremos estar próximos e monitorar sim. Mostrar a carreira jurídica para ajudá-los nessa fase de definição profissional, apresentar o escritório e colaboradores que poderão inspirá-los em suas trajetórias”, afirmou Coelho da Rocha, para quem há um grande propósito no apoio a um programa como o Já É: “Alinhar o nosso propósito às boas práticas de investimento social privado e reforçar o nosso compromisso com a causa. Acreditamos que somos protagonistas das transformações sociais que estão em curso e apoiar esses jovens é, sem dúvida, uma forma de materializar essa crença”, concluiu Paulo.

Jornalista narra as histórias de apoiados do edital Primeira Infância no Contexto da Covid-19

Diante da maior crise de saúde pública mundial, a pandemia do novo coronavírus, o Fundo Baobá para Equidade Racial lançou, no dia 6 de julho de 2020, o edital Primeira Infância no Contexto da Covid-19. Em parceria com Imaginable Futures, Porticus América Latina e Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, ele tinha o objetivo de selecionar iniciativas de apoio a famílias que, em seu núcleo, tivessem: crianças de 0 a 6 anos, mulheres e adolescentes grávidas, mulheres que deram à luz, homens responsáveis e corresponsáveis pelo cuidado de crianças de 0 a 6 anos.

O edital recebeu 200 inscrições e divulgou, no dia 25 de setembro, a lista com as 54 iniciativas selecionadas, idealizadas por profissionais da área da saúde, educação e serviço social.

Para mostrar o impacto positivo que o programa trouxe para as famílias apoiadas, o Fundo Baobá iniciou no ano de 2021 o projeto “Edital Para Primeira Infância no Contexto da Covid-19: As Histórias”. Postado diariamente no site do Fundo Baobá e replicado nas redes sociais da organização, o projeto engloba  18 matérias produzidas com as 54 pessoas apoiadas, narrando as transformações realizadas pelo o apoio do edital.

Quem esteve à frente do projeto e produziu as 18 matérias foi a jornalista Eliane de Santos. Com passagens pelos principais jornais do Rio de Janeiro, como O Dia, O Povo e Jornal do Brasil e, posteriormente, migrando para o telejornalismo, trabalhando na TV Brasil, Canal Futura e TV Escola, Eliane tem experiência quando o assunto é trazer vida e sensibilidade para o texto.  

Eliane, que conhecia o trabalho do Fundo Baobá, acompanhando notícias e posts ligados ao movimento negro, teve a oportunidade de se aprofundar na trajetória da organização e, principalmente, ver as transformações que os editais realizam na vida da população em condições de vulnerabilidade. Cada matéria contou com o depoimento de três membros de três iniciativas apoiadas, sendo eles de diferentes regiões do país. O critério de seleção utilizado por Eliane de Santos, para montar os textos foi bem objetivo: “Busquei afinidades entre eles, como por exemplo a mesma profissão, a mesma localização, as mesmas ações selecionadas e as mesmas causas”.

Eliane de Santos, jornalista

Entre as muitas histórias ouvidas e registradas, Eliane cita três casos, em especial, que lhe sensibilizaram: “A assistente social Amanda Cristina, de Ananindeua, no Pará, venceu barreiras como o preconceito e a pobreza para informar e apoiar meninas, várias delas gestantes, vítimas de violência”. Voluntária do Centro Social Estrela Dalva, umas das muitas associações que buscam apoiar os moradores de ocupações de Curuçambá e populações ribeirinhas próximas, Amanda Cristina ficou sabendo do edital pelo Instagram do Fundo Baobá: “Decidi participar, porque queria levar informação de forma lúdica e com uma linguagem acessível para essas meninas”. Ao lado da também assistente social Regeane Holanda do Carmo, as duas ofereceram também muito carinho e atenção, por meio de rodas de conversa e visitas individualizadas nas casas das adolescentes. Através desse trabalho chegaram até 20 garotas e 10 adultos: “Não foi fácil falar sobre sexualidade, uso de contraceptivos e relacionamento amoroso, por exemplo. Primeiro porque havia a necessidade de um responsável por perto, o que as deixava constrangidas, e porque muitas vezes esses temas não eram bem-vindos pelos pais. Mas nós conseguimos levar informações do ECA (Estatuto da Criança do Adolescente) por meio de cartilhas – informações que elas terão para sempre”.

Projeto de Amanda Cristina, Ananindeua (PA)

Eliane cita a trajetória de mais duas entrevistadas: “Heloisa Ferreira da Silva, de Salvador, que espalhou cartazes pelos postes de Engenho Velho de Brotas, para convocar interessados e divulgar as atividades para aqueles que não tinham celular com internet, ou ainda a força de vontade de Jaqueline Barbosa dos Santos Heldt, de São Paulo, que sem trabalhar na pandemia se reinventou para acolher outras mães que como ela estavam desempregadas, respeitando o isolamento social e à beira de um ataque de nervos”.

A pedagoga baiana Heloisa Ferreira da Silva, perdeu o emprego no momento em que a pandemia do novo coronavírus se disseminou pelo país: “Eu havia sido aprovada em uma seleção pública e em uma instituição privada, para trabalhar como professora e coordenadora escolar. Mas veio a pandemia e não fui convocada por nenhuma das duas”. Quando soube do edital Primeira Infância, rapidamente se inscreveu para contribuir de alguma forma com o bem-estar de moradores do bairro do Engenho Velho de Brotas, porém, no meio do caminho ela encontrou inúmeras dificuldades: “Fui ao Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), expliquei as minhas intenções de prestar orientações pedagógicas para crianças de 0 a 6 anos e apoiar as mães que, como eu, estavam sem trabalhar, preocupadas com a educação dos filhos em casa. Fui orientada a não fazer o projeto”.  

A única saída para Heloisa seria percorrer a comunidade apresentando as propostas, colando cartazes e cadastrando os interessados: “Mudei a estratégia de divulgação. Busquei parceiros no bairro e adjacências, como o Mídia informativa Nosso Engenho, o bloco afro Os Negões, a Associação Santa Luzia, o Terreiro Ilê Axé Aji Ati Oya e o portal A gente educa”. Dessa forma, Heloísa teve o contato de 50 famílias, atendendo um total de 150 crianças, e como a grande maioria não tinha acesso às redes sociais a divulgação da chegada dos kits pedagógicos com caixa de lápis de cor, borracha, massinha de modelar e jogos de coordenação motora, entre outros itens que variavam de acordo com a faixa etária, foi feita no popular boca a boca: “Eu sempre senti a necessidade de apresentar para a sociedade uma educação que respeita as diversidades e atende com equidade. O Fundo Baobá abriu caminhos para eu iniciar a prática deste apoio comunitário e não vou parar!”.

Projeto de Heloisa Ferreira da Silva, Engenho Velho de Brotas (BA)

Também desempregada, a professora de dança, Jaqueline Barbosa dos Santos Heldt, São Paulo (SP), encontrou no edital a motivação que precisava, além de um caminho para estimular outros brasileiros a manterem seus corpos e mentes saudáveis: “Notei que as crianças, os responsáveis, as mulheres grávidas e puérperas sofriam muito com o distanciamento social. Percebi também que o poder público não desenvolveu ações para auxiliá-los nesse período. A instabilidade estava aumentando a ansiedade entre os pequenos e expondo os adultos à depressão, síndrome do pânico e outras doenças emocionais/psicológicas”. O seu projeto consiste em oficinas virtuais de ballet infantil (02 a 06 anos), alongamento para gestantes e puérperas, ballet e jazz para adultos. Ao todo, 30 pessoas se beneficiaram com a iniciativa e indicaram para pessoas em outras cidades, que desejam saber se Jaqueline formará mais turmas remotas. Mesmo depois da pandemia: “Algumas mães comentaram que as filhas ficaram menos ansiosas com as aulas de ballet infantil, e que perceberam melhora também na coordenação motora e na postura das meninas. Já algumas gestantes enviaram mensagens, reportando que as aulas de alongamento as ajudaram a dormir melhor”.

Projeto de Jaqueline Barbosa dos Santos Heldt, São Paulo (SP)

Para Eliane de Santos, contar a história de Jaqueline, Heloísa, Amanda e de outros 51 apoiados pelo Primeira Infância, foi revigorante: “Todos os participantes do edital me ensinaram alguma lição e merecem o meu respeito”. A jornalista também fez questão de ressaltar importância de uma iniciativa como esse edital: “Classifico o edital Primeira Infância do Fundo Baobá como uma ferramenta de transformação social, como mais uma prova de que, pessoas comprometidas com a sua missão profissional, têm muita força para impactar vidas positivamente”.

Os primeiros relatos já foram publicados no site oficial do Fundo Baobá, e você pode acompanhar por aqui, enquanto os outros textos serão postados diariamente.

De marca de roupas à busca por justiça social, conheça o Jovens Periféricos

No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou a pandemia do novo coronavírus e a partir do dia 14 de março, as principais capitais do país aplicaram medidas de isolamento social para conter o avanço da doença e evitar o colapso no sistema único de saúde. À partir daquele momento, o mundo assistia uma das maiores crises de saúde pública já existentes, e claro que tudo isso iria reverberar nas pessoas em condições de vulnerabilidade. 

Nesse contexto, o Fundo Baobá para Equidade Racial lançou no ano de 2020, cinco editais voltados para apoiar os segmentos mais afetados pela pandemia no Brasil. O primeiro foi o “Edital Apoio Emergencial para Ações de Prevenção ao Coronavírus”, lançado no dia 5 de abril, e que contou com a parceria da Fundação Ford.  Em apenas 12 dias, o edital recebeu 1.037 inscritos de todas as regiões do país. Nesse total, 387 eram iniciativas de organizações sociais e 650, de indivíduos. Após uma análise minuciosa da organização, o Fundo Baobá divulgou em três listas um total de 350 projetos selecionados, sendo 215 de indivíduos e 135 de organizações. Cada iniciativa recebeu até R$ 2,5 mil para ações de prevenção em comunidades periféricas de difícil acesso e populações vulneráveis. O total investido no edital foi de R$ 870 mil.

À partir dessa edição do boletim, nós iremos retratar alguns dos projetos apoiados pelo edital Doações Emergenciais, mostrando como esse programa impactou a vida das pessoas nas comunidades beneficiadas e como a filantropia é um dos caminhos para promoção da equidade racial em nosso país. 

Um deles é o projeto Jovens Periféricos, que surgiu em 2016 em Salvador (BA), a partir da cabeça do seu idealizador, o jovem Jadison Palma, 26 anos. A princípio, ele criou uma marca de roupas com a sigla JP, as iniciais do seu nome e sobrenome. O primeiro evento da JP foi uma exposição de camisas criadas por ele. O desfile de moda realizado em seu bairro atraiu a presença de mais de duas mil pessoas e com isso, foram surgindo outros convites para participar de eventos artísticos-culturais, o que levou Jadison a mudar a vertente da marca e o direcionamento do projeto JP para Jovens Periféricos.

Jadison Palma, coordenador do projeto Jovens Periféricos

O projeto Jovens Periféricos nasceu no Fazenda Coutos III. Ao mesmo tempo que se trata do bairro mais negro de Salvador, com a população negra local representando 90,57% do contingente 24 mil habitantes, segundo dados Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), por outro lado, o mesmo IBGE, junto com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), lista o Fazenda Coutos um dos mais perigosos de Salvador. No mapa da violência, apresentado pelo estudo, que traz a referência da ONU da taxa de homicídios para cada 100 mil habitantes por ano, o Fazenda Coutos ocupa o segundo nível mais negativo. Assim compreende-se a dimensão, potência e relevância do trabalho do Jovens Periféricos, que hoje também atua nas regiões de Plataforma e no Pelourinho, sempre aumentando o número de participantes: “Hoje o projeto atende cerca de 380 alunos cadastrados, mas na fila de espera tem quase 200”, explica o diretor e fundador Jaison Palma. “Como a gente ainda não tem um espaço físico amplo para poder incluir toda essa galera, então a gente trabalha com turmas divididas em dias alternados”.

O trabalho realizado pelo projeto Jovens Periféricos consiste em oficinas e aulas de diversas linguagens artísticas: “O projeto hoje envolve teatro, moda, música, dança, fotografia, aulas de inglês e qualificações profissionais”, além de contribuir com os primeiros passos para a carreira acadêmica e profissional, através de parcerias com instituições de ensino superior: “Temos parcerias com faculdades, onde a gente viabiliza os jovens que já estão terminando o ensino médio, ou que já terminou, para entrar na vida acadêmica. Temos também parcerias com algumas faculdades e instituições que às vezes nos cedem algumas vagas de emprego, onde a gente pode encaminhar esses jovens”. 

Turma de alunos do Jovens Periféricos em um ensaio fotográfico

E foi justamente com essas ações transformadoras que os caminhos dos Jovens Periféricos e do Fundo Baobá para Equidade Racial se encontraram no edital Doações Emergenciais: “O Fundo Baobá nos proporcionou muitas coisas boas, principalmente para a nossa comunidade. Hoje os Jovens Periféricos é conhecido de uma forma grandiosa, por causa de ações que a gente faz, então o fundo emergencial, que a gente ganhou do edital, deu pra poder ajudar muitas famílias”. Ao inscrever a iniciativa no edital, Jadison afirmou que projeto ajudaria 40 famílias em condições de vulnerabilidade: “Os nossos critérios de avaliação para contemplar cada família incluiam uma análise de situação das pessoas: se elas estavam sem trabalhar, se havia uma necessidade maior de ter alimento dentro de casa e de ter higiene básica. Então fizemos esse mapeamento e chegamos a essas 40 famílias, buscando esses pré-requisitos”. Contemplados, o grupo partiu para ação: “A gente fez diversas doações de alimentos, de cestas básicas e produtos de higiene, e assim conseguimos alcançar esse pessoal em situação de vulnerabilidade social, em tempos de pandemia, que ainda estamos vivendo”. A vontade era de ajudar ainda mais, mas Jadison acredita que fez o que foi possível diante da situação: “A gente sabe que existem muitas comunidades ainda que precisam ser alcançadas, mas agradecemos também pela oportunidade de ter atingido diretamente quem precisava e de ter gerado um impacto positivo nessas famílias que a gente alcançou através do Fundo Baobá”.

Ação do Jovens Periféricos com o apoio do edital Doações Emergenciais

Jadison Palma frisou a importância de um edital como o Doações Emergenciais na promoção da justiça social: “Todo o processo de doação causou uma determinada emoção. Hoje a gente vive em um país que tem uma desigualdade muito grande, um índice de desemprego muito grande, além da questão do racismo também. Com a chegada da pandemia, mudou toda a logística da nossa sociedade, então tem pessoas que realmente estão passando fome, estão com dificuldades financeiras, então toda contribuição que a gente puder receber e, com isso, poder alcançar essas pessoas, já traz uma emoção de ambas as partes, tanto pra gente que tem o prazer em ajudar, e tanto daquelas pessoas também, que tem o prazer em receber e ver que elas não estão esquecidas, que tem pessoas ali que estão esperando somente a oportunidade  de ajudar. A gente agradece muito o Fundo Baobá pela oportunidade de conhecer vocês, de trabalhar e receber essa gratificação para que a gente pudesse levar o bem para o nosso povo”.

Ação do Jovens Periféricos com o apoio do edital Doações Emergenciais

De uma marca de roupas até o compromisso de ações sociais para famílias em condições de vulnerabilidade, diante de uma pandemia global, essa é trajetória do projeto Jovens Periféricos, que há cinco anos trabalha no que acredita: “A ideia do Jovens Periféricos é ser um projeto de inclusão, gerando oportunidades para essa juventude preta e periférica”, reforça o seu diretor Jadison Palma.  

Kits de cestas básicas que foram entregues pelo Jovens Periféricos para as famílias do Fazenda Couto III (BA)

Para conhecer melhor o trabalho realizado pelos Jovens Periféricos acesse o site oficial e o Instagram.

Trajetória do Fundo Baobá é destaque no programa Trace Trends

No dia 19 de janeiro, o Fundo Baobá para Equidade Racial teve a sua trajetória apresentada no programa Trace Trends, na Rede TV.

Apresentado por Alberto Pereira Jr. em parceria com a Xan Ravelli, o programa exalta a cultura negra brasileira, através da música, entre outras linguagens, além de entrevistar personagens que contribuem com essa proliferação negra no país. Sendo assim, a diretora-executiva do Fundo Baobá, Selma Moreira, foi entrevistada no quadro Afronegócios, voltado para o empreendedorismo negro.

Logo no VT inicial, temos uma imagem, retirada do nosso vídeo institucional, contando com a fala inspiradora da nossa fundadora, e membro do conselho deliberativo, Sueli Carneiro:  “O Baobá vem para apoiar o ativismo, a militância e as organizações que estão comprometidas com a promoção da equidade racial”.

Em sua fala, Selma Moreira fez questão de apresentar a organização: “O Fundo Baobá é uma iniciativa baseada na necessidade da nossa sociedade brasileira de promover ações específicas para a população negra, em função da desigualdade e do racismo existente”.

Ao ser questionada sobre o que é equidade racial e qual o papel do Fundo Baobá diante disso, Selma enfatizou: “Equidade racial é fundamental para gente pensar no nosso processo de desenvolvimento em toda sociedade. Não se pode pensar em um país que se desenvolva, que tenha possibilidade de progresso, à partir da não-inclusão. Portanto, quando a gente fala da equidade, a gente fala de promover condições de desenvolvimento e acesso a todas possibilidades de uma maneira justa”. Na ocasião, a diretora-executiva falou dos quatro eixos programáticos que são os pilares da organização: Viver com dignidade, desenvolvimento econômico, educação e comunicação e memória. “Quando a gente fala desses eixos, falamos das temáticas que estão conectadas com a nossa missão institucional e com a necessidade apresentada pelo campo social no Brasil. Então quando a gente olha para o processo de desenvolvimento à partir de investimentos locais em lideranças e organizações sociais negras, para que eles possam desenvolver ações e trabalhos dentro dos quatro eixos programáticos prioritários, a gente está executando a nossa missão e dialogando com o que a gente acredita e que possa contribuir para a transformação sistêmica do nosso país”.

Selma também foi perguntada sobre o trabalho do Fundo Baobá, em 2020, diante da pandemia do novo coronavírus: “Nós desenvolvemos editais emergenciais de apoio a comunidades em situação de vulnerabilidade”, relembrando dos editais Doações Emergenciais e o edital Primeira Infância no Contexto da Covid-19.   

A matéria encerra com um mais um VT do nosso vídeo com a fala do ex-presidente do conselho deliberativo, Hélio Santos “Portanto eu vejo a longo prazo o Baobá como um instrumento importante, tendo o compromisso com a consolidação da democracia no Brasil”.

A entrevista completa, você confere aqui

A participação da Selma Moreira no no programa Trace Trends, foi destaque no Portal Segs.

 

Apoiados do Fundo Baobá são destaques na mídia

Karen Franquini e Luciane Reis, ambas apoiadas pelo Fundo Baobá no edital Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, foram destaques na imprensa em janeiro.

A engenheira da produção carioca, Karen Franquini, foi entrevistada pelo portal de empreendedorismo Projeto Draft, falando da sua trajetória como bolsista universitária na PUC-Rio e as dificuldades de ingressar no exigente mercado de trabalho: “Sou uma mulher negra e de origem periférica, então essa oportunidade (no ensino superior) foi muito importante. Mas eu não tinha inglês fluente, intercâmbio, nenhuma experiência relevante na área e nenhuma especialização”. À partir do momento que ela começou a analisar a sua trajetória e a de outros jovens com o mesmo perfil, Karen entendeu que não bastava apenas se capacitar, que era preciso que as empresas adotassem processos de seleção mais inclusivos. E foi justamente a partir dessa ideia que ela fundou a Ganbatte, um negócio social que conecta micro e pequenas empresas a jovens diversos. Sendo apoiada do Programa Marielle Franco, Karen destacou a importância do apoio na consolidação da Ganbatte: “Com esse apoio, comecei a me desenvolver, fiz várias formações de mentoring e coach, e abri, em setembro deste ano, meu segundo negócio, minha marca pessoal, focada em mentoria de carreiras”.

Karen Franquini, engenheira de produção e fundadora da Ganbatte

Para ler a matéria completa e saber mais sobre a trajetória da Karen e o trabalho realizado pela Ganbatte, veja aqui.

A publicitária formada pela Universidade Católica do Salvador, especialista em Produção de Mídias para Educação Online – SEAD/UFBA, mestranda em Desenvolvimento e Gestão Social – CIAGS/UFBA e presidente do Merc’afro (uma plataforma voltada ao empreendedor negro na diáspora), Luciane Reis, foi destaque no Portal Soteropreta, com o “Projeto Owodúdù Empreendedorismo Negro”, que tem o intuito de contribuir para o fortalecimento, crescimento e visibilidade dos empreendedores negros e negras da região metropolitana de Salvador durante e pós pandemia provocada pelo Covid-19. Na ocasião, o projeto promoveu um curso gratuito e completamente virtual, com carga horária de 32 horas, contando com especialistas da temática afroempreendedora do Brasil, que articulam a Escola Nacional – PROMOAFRO. Além do curso, os inscritos contarão com acompanhamento técnico de desenvolvimento, durante três meses, com a finalidade de acelerar os seus negócios.

Luciane Reis, publicitária e idealizadora do Projeto Owodúdù Empreendedorismo Negro

Além de Luciane Reis, faz parte da organização o especialista em marketing digital, Marlon Rodrigo Malachias.

Para saber mais sobre a iniciativa, basta ler a matéria completa aqui.


Fundo Baobá na imprensa em janeiro:

19/01/2021 – Divulgação do Trace Trends, que teve a participação da Selma Moreira:
https://www.segs.com.br/eventos/271793-grupo-menos-e-mais-e-o-convidado-desta-terca-feira-19-01-do-trace-trends 

19/01/2021 – Fundo Baobá no Trace Trends:
https://www.facebook.com/fundobaoba/videos/2808488252744665

 

Matérias sobre apoiados do Fundo Baobá

11/01/2021 – Karen Franquini – Apoiada do Programa Marielle Franco: https://www.projetodraft.com/diversidade-nao-e-so-discurso-a-ganbatte-quer-ajudar-a-sua-empresa-a-contratar-jovens-perifericos/ 

27/01/2021 – Projeto Owodúdù Empreendedorismo Negro realiza curso virtual!:
http://portalsoteropreta.com.br/projeto-owodudu-empreendedorismo-negro-realiza-curso-virtual/

Fundo Baobá na imprensa em Janeiro

Confira os principais destaques do Fundo Baobá para Equidade Racial na imprensa no mês de janeiro, que contou com a participação da diretora executiva da organização, Selma Moreira, sendo entrevista no programa Trace Trends na Rede TV:

19/01/2021 – Divulgação do Trace Trends, que teve a participação da Selma Moreira:
https://www.segs.com.br/eventos/271793-grupo-menos-e-mais-e-o-convidado-desta-terca-feira-19-01-do-trace-trends 

19/01/2021 – Fundo Baobá no Trace Trends:
https://www.facebook.com/fundobaoba/videos/2808488252744665

 

Matérias sobre apoiados do Fundo Baobá

11/01/2021 – Karen Franquini – Apoiada do Programa Marielle Franco: https://www.projetodraft.com/diversidade-nao-e-so-discurso-a-ganbatte-quer-ajudar-a-sua-empresa-a-contratar-jovens-perifericos/ 

27/01/2021 – Projeto Owodúdù Empreendedorismo Negro realiza curso virtual!:
http://portalsoteropreta.com.br/projeto-owodudu-empreendedorismo-negro-realiza-curso-virtual/