População quilombola do Pará será priorizada em projeto de promoção da saúde mental

Por Wagner Prado

O Fundo Baobá para Equidade Racial, com apoio da  Johnson & Johnson, deu início a uma ação colaborativa em torno de comunidades quilombolas do estado do Pará. O projeto, intitulado Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência, foi elaborado frente a uma demanda da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) e juntou, pela primeira vez, uma equipe multidisciplinar que vai atuar em 12 comunidades da região Tocantina com a missão de promover a educação em saúde, fortalecer as estratégias de resistência e resiliência nessas comunidades negras quilombolas. 

Equipe multidisciplinar montada pelo Fundo Baobá no aeroporto Val de Cans, em Belém (Pará) – Crédito: Tay Silva

Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil há  5.972 comunidades quilombolas. O número exato será divulgado quando forem  revelados oficialmente os dados do Censo 2022, cuja coleta de dados foi encerrada em 31 de dezembro. Até agosto, porém, os números já coletados pelo IBGE indicavam três estados liderando o contingente populacional quilombola no Brasil: Bahia, com 116.437 pessoas; Maranhão, com 77.683 e Pará, com 42.439. 

A equipe multidisciplinar conta com profissionais das áreas de Enfermagem, Psicologia, Jornalismo, Publicidade, História, Administração e Direito. Profissionais do Pará juntaram-se e, no mês de janeiro, darão início às ações que vão acontecer até o mês de maio de 2023. A região Tocantina abrange as seguintes localidades: Abaetetuba. Acará, Baião, Barcarena, Cametá, Igarapé-Miri, Limoeiro do Ajuru, Mocajuba, Moju, Oeiras do Pará, Tailândia e Tucuruí, o equivalente a, aproximadamente, 35 mil km2. 

O projeto Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência objetiva promover o protagonismo e a soberania quilombola em defesa de sua cultura, tradições e saberes. Para isso, faz-se necessário e essencial a adoção de políticas públicas governamentais e não governamentais também, principalmente políticas como essa estabelecida pelo Fundo Baobá  e apoiada pela Johnson & Johnson, que possam fortalecer as comunidades formadas pela população quilombola. 

O líder quilombola Magno Nascimento, representante do Quilombo África,  é coordenador de projetos da Coordenação Estadual das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Pará – MALUNGU, organização que vai articular toda a ação que será feita no campo. Magno ressalta a importância do projeto.  “Discutimos muito para qual território faríamos a parceria. Tivemos casos de suicídio na região em que o projeto vai  ser aplicado. Em meio à pandemia, mas também devido ao empobrecimento, houve muita dificuldade de deslocamento e tudo. As comunidades quilombolas da região Tocantina estão entre as que têm a menor assistência por parte do Estado. Por muitos motivos. Porque é uma pena dizer isso, mas o estado do Pará sempre teve esse tamanho desde que o Brasil é Brasil. Não sabemos por que os políticos vivem alegando dificuldade logística e limitação de recursos. Na prática, isso é o racismo institucionalizado e muito latente contra os direitos dessa população. Esse trabalho que será feito vai ser muito importante para reverberar, como denúncia, aquilo que nós, infelizmente, passamos”, afirmou.   

A diretora de Programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes, enaltece a importância das comunidades para o alcance dos resultados esperados. “Trata-se de uma iniciativa que vai contribuir com as estratégias de resistência da comunidade e, ao mesmo tempo, promover saúde, estimular e valorizar as diferentes práticas de cuidado. Todas as pessoas importam. O projeto também reforça o que chamamos de força de trabalho em saúde pública, que não é composta  só por pessoas com nível superior de ensino. Envolve as parteiras, benzedeiras, agentes comunitários de saúde, auxiliares de enfermagem, técnicos, aquelas pessoas que fazem comunicação para promover saúde. Usar a arte e a educação, junto à comunicação, para democratizar o acesso à informação em saúde é muito importante”, afirmou. Ao longo da execução da ação, espera-se que, além da melhoria da qualidade da saúde mental,  núcleos de influência sejam formados ou fortalecidos nas comunidades, núcleos que saibam ainda mais sobre o direito à saúde, reivindiquem por acesso e melhores serviços   para a população quilombola.”, completou Lopes.

A fala da diretora do Fundo Baobá vai ao encontro do que é descrito pelo estudante de  Enfermagem Djalma Pereira Ramalho, que trabalha como técnico na Unidade Básica de Saúde na comunidade do Igarapé Preto. Djalma, que também é secretário de Cultura da  Associação dos Remanescentes Quilombolas de Igarapé Preto a Baixinha (ARQIB), iniciou na saúde a partir de conhecimentos práticos que depois foram incrementados com uma formação técnica. Atualmente ele também se dedica ao ensino superior na área de enfermagem e obstetrícia. “Quero continuar meu trabalho aqui na comunidade, porque fomos abandonados aqui, principalmente no período da Pandemia. Acredito muito nessa ação. Ela vai dar um norte sobre os primeiros passos que devemos dar com relação à melhora da saúde. A nossa integração, como profissional, como o conhecimento daqueles que vêm com o conhecimento técnico, vai melhorar bastante a situação da saúde aqui”, afirmou Djalma Ramalho.

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Primeira Pessoa

Até chegar à Comunidade Quilombola do Igarapé Preto, uma das 12 que fazem parte da Associação das Comunidades Remanescente de Quilombo de Igarapé Preto a Baixinha (ARQIB), eu nunca havia pisado em um quilombo, embora a trajetória do povo preto, meu povo, esteja ligada a eles. Para chegar lá, percorremos 265km de Belém à cidade de Baião, que fica às margens do Rio Tocantins. Baião é uma cidade pequena, com menos de 50 mil habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Representantes quilombolas reunidos na comunidade do Igarapé Preto com equipe multidisciplinar montada pelo Fundo Baobá

Para quem é urbano e criado em São Paulo, maior cidade do país, algumas coisas acabam não fazendo parte do nosso cotidiano, como fazer a travessia de um rio. E que rio é o Tocantins! Um mundo de água. Já estávamos em uma das margens antes da 6h da manhã. A travessia duraria uma hora. A temperatura era agradável, o que dava um sabor meio romântico àquela travessia em uma balsa de nome Camila. 

Quando alcançamos a margem oposta, fizemos um percurso de mais 30 minutos de carro por uma estrada de terra batida. A sede da ARQIB, que fica na comunidade de Igarapé Preto, tem um grande galpão, que logo soube ser uma construção quase comum nos quilombos. É no galpão da Associação que são feitas as reuniões, os comunicados que devem ser ouvidos e sabidos por todos e as grandes festas. A nossa chegada estava envolta em um clima de festa. As lideranças das comunidades atenderam de pronto ao chamado da ARQIB. 

Conversa no Galpão da Comunidade do Igarapé Preto, em Baião (Pará)

Fomos recebidos com um super e calórico café da manhã: sucos de cupuaçu e maracujá; bolo de chocolate, mandioca cozida, pão de queijo, bananas colhidas na plantação do local. Enfim, uma verdadeira festa. E como a conversa iria ser longa, o negócio foi comer bem para conseguir aguentar até a hora do almoço. 

A conversa para levantar as expectativas das lideranças comunitárias quilombolas sobre a ação de saúde foi bem produtiva. As experiências vividas por eles no período mais forte da pandemia da Covid-19 foram expostas e vão servir para balizar o que será feito na implantação da ação Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência. Os quilombolas tiveram perdas irreparáveis por conta da dificuldade de acesso ao teste diagnóstico, aos serviços, ao tratamento, aos kits de higiene e proteção individual, da demora em receber a vacinação.

Enquanto a conversa sobre experiências, expectativas e diretrizes acontecia, na cozinha o trabalho corria a todo vapor. Um feijão com mocotó foi preparado, com arroz branquinho, macarronada, guisado de pato e farofa. Difícil foi conter o sono depois de comer tudo isso, que estava muito bom. 

Deixamos a comunidade do Igarapé Preto por volta das 16h para retornar a Belém. A gama de informações colhidas foi muito grande. Ficam a expectativa da volta ao Pará para rever as pessoas e dar início às ações do projeto. Que será gratificante, não tenho a menor dúvida! 

Equipe multidisciplinar inicia projeto sobre saúde mental quilombola na tríplice fronteira nos municípios de Baião, Oeiras do Pará e Mocajuba

Equipe multidisciplinar inicia projeto sobre saúde mental quilombola na tríplice fronteira nos municípios de Baião, Oeiras do Pará e Mocajuba.

por Tayna Silva*

 

Com o intuito de promover saúde, em seu sentido mais amplo, nas comunidades quilombolas, a principal estratégia é a composição multidisciplinar da equipe de execução do projeto. Os principais eixos podem ser entendidos como: 1) saúde mental; e 2) comunicação popular. Entendendo que a nossa saúde mental é atravessada por ações coletivas e individuais, diretas e subjetivas, serão realizadas atividades de fortalecimento das estratégias de  desenvolvimento comunitário e outras que  interseccionam comunicação, prevenção de doenças e agravos, proteção dos direitos e cuidados em saúde integral da população.

O projeto Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência, como  conta Fernanda Lopes, diretora de programa do Fundo Baobá para Equidade Racial, “surge frente à necessidade de  enfrentamento ao racismo estrutural e considerando os impactos da pandemia da COVID-19. A pandemia traz um efeito duradouro, agrega novos desafios às comunidades que já vivenciavam a ausência do Estado brasileiro”. A diretora  reforça que o objetivo do projeto é, também, potencializar a compreensão de que as comunidades “têm uma fortaleza, os muitos desafios podem ser redimensionados e convertidos em experiências de transformação. Para mitigar os riscos e impactos psicossociais, as respostas da própria comunidade precisam ser consideradas”.

Bianca Santos, psicóloga clínica e social que integra a equipe do projeto, chama a atenção para a abordagem sobre saúde mental nessas comunidades e afirma que vai para o território com a expectativa de entender “o que significa saúde para eles, pois a saúde que a gente entende como saúde mental […] pode não fazer sentido, já que o significado de saúde é muito diverso. Saúde pode ser um rio, pode ser a floresta, pode ser tomar café na porta da casa dos vizinhos” e acrescenta que a psicologia tem o compromisso político e não colonizador de “não levar os preceitos que a gente entende e constrói na academia para o território. Afinal, o território possui suas próprias dinâmicas, seus próprios saberes e saúde é, necessariamente, considerar tudo isso”. A fala de Bianca afirma o compromisso coletivo de fazer com que o projeto seja, acima de tudo, um espaço de respeito à diversidade, às comunidades e saberes ancestrais que irão atravessar todos os espaços de execução.

É nesse sentido que Magno Nascimento, liderança quilombola do Quilombo África e coordenador de projetos da Malungu-PA, nos conta sobre a expectativa da ação em amparar a comunidade, mas também, e sobretudo, de chegar a outras camadas sociais, onde a expectativa é que “seja principalmente benéfico para a comunidade, uma vez que é um projeto que permite entender a realidade local e realizar controle social, e advogar por direitos”. 

 

Encontro realizado em 17 de dezembro de 2022 no Pará,  com as lideranças das comunidades quilombolas de Igarapé Preto, e membros das equipe multidisciplinar envolvida no projeto.

 

O projeto se volta para as 12 comunidades quilombolas que hoje fazem parte da ARQIB – Associação dos Remanescentes Quilombolas de Igarapé Preto e Baixinha, instituição com aproximadamente 2 mil associados, que integra comunidades quilombolas localizadas em 3 municípios do Pará: Baião, Oeiras do Pará e Mocajuba, o que alcança um entorno de 3 mil famílias, com sede em Igarapé Preto, onde acontecem as principais organizações e mobilizações entre as comunidades. A Associação é quem detém o título coletivo de posse que alcança as 12 comunidades em volta. É um espaço de integração fortalecido, sobretudo, durante o período pandêmico, onde casos alarmantes de restrição de acesso à saúde básica e mobilidade fizeram com que as comunidades registrassem números altos de mortalidade e sequelas da COVID-19, ao passo que se aproximaram e tiveram um amadurecimento de articulação interna, criando tecnologias de sobrevivência frente ao que estava acontecendo, como as barreiras estruturadas e fiscalizadas pelos próprios moradores, e que foram estratégia focal na proteção coletiva; ações que hoje impactam diretamente na saúde mental e bem viver dos moradores.

Em entrevistas com lideranças locais, foi possível compreender que, fruto da articulação direta com o território, o projeto tem expectativas positivas dada à boa receptividade na comunidade. Para Marinilva Martins, presidenta da ARQIB, o projeto chega em um momento importante para as comunidades e afirma: “trabalhar na organização desse projeto, junto com o Fundo Baobá, é muito importante para o nosso território e tenho certeza que isso vai ajudar muito a nos fortalecer como pessoa, como mulher, como liderança”. E em complemento da fala de Marinilva, Sandra Martins, parteira e quilombola ribeirinha da comunidade de Pampelonha e representante da ARQIB no seu território, também nos conta a expectativa diante do projeto e diz que é “ver algo no futuro melhorar, que a gente vai começar que nem um bebê, e a gente já começou a querer levantar com vocês trazendo o projeto aqui pra nós […] e a gente vai chegar lá, falando bonito do projeto que a gente começou. A expectativa é de dias melhores”. 

E assim o projeto vem tecendo as primeiras construções, no intuito de promover educação em saúde mental e contribuir para estratégias de resiliência em comunidades que compõem a Associação dos Remanescentes de Quilombo de Igarapé Preto e Baixinha, região Tocantina, estado do Pará, fortalecendo lideranças comunitárias, ampliando canais de diálogo que fortaleçam a democratização do acesso à informação sobre direito à saúde e contribuam com estratégias de promoção da saúde mental e resiliência comunitária. Ressaltando que somente junto das comunidades que lutam, resistem e constroem diariamente seus territórios é que todo o processo de execução irá acontecer, fortalecendo nossos fazeres, mutuamente tecidos e compartilhados, afirmando que a garantia de saúde e vidas quilombolas é uma necessidade e dever coletivo que não podem ser negligenciados. É uma questão de justiça. 

*Tayna Silva é comunicadora social e integrante da equipe da Negritar Filmes e Produções, produtora de impacto social, cultural e ambiental da Amazônia, que é parceira do Fundo Baobá na implementação do projeto  “Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência”.



Conheça as organizações selecionadas e os seus projetos

Por Wagner Prado

Projetos de 8 estados brasileiros e Distrito Federal, representando 12 organizações, grupos e coletivos negros estão selecionados pelo edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial. As organizações selecionadas representam os estados do Acre e  Amapá (Norte); Bahia, Ceará e Pernambuco (Nordeste); Goiás (Centro Oeste); Rio de Janeiro (Sudeste); Rio Grande do Sul (Sul) e o Distrito Federal. Todas, ao longo dos próximos 18 meses, vão desenvolver projetos  que têm como ponto comum o combate ao racismo na Educação. O edital Educação e Identidades Negras: Politicas de Equidade Racial é uma iniciativa do Fundo Baobá, que tem como apoiadores na iniciativa a Imaginable Futures e a Fundação Lemann. 

O enfrentamento ao racismo por meio de políticas, ações e programas governamentais e não governamentais; a valorização da cultura das identidades negras, e o aumento de pessoas negras nos espaços de decisão e poder dentro do setor formal e não formal da educação, são as metas do edital. A Imaginable Futures e a Fundação Lemann, parceiros do Fundo Baobá, fizeram, em conjunto, um aporte de R$ 2,5 milhões no edital para que as 12 selecionadas recebam, cada uma, R$ 175 mil.  O recurso restante será utilizado na realização de atividades formativas, assessoria técnica e reuniões de ajustes. para ajustes e trocas de experiências. Todas essas atividades serão promovidas e coordenadas pelo Fundo Baobá. 

Perfil dos Selecionados

Há uma grande diversidade quando são pinçados os dados que fazem a composição das 12 organizações selecionadas pelo edital. Como dito acima, elas fazem parte de 8 estados brasileiros mais o Distrito Federal. Se formos analisar o tempo de atividade de cada uma, vamos encontrar, 2 (duas) delas já têm mais de 16 anos de atuação (Associação Cultural de Tradição Afro-Brasileira Afoxé Omô Nilê Ogunjá e Pesquisadores e Associação Retratores da Memória de Porteiras); 3 (três) atuam entre 11 e 15 anos (Articulação Nacional de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadores – Anpsinep, Cineclube Bamako e Coletivo Negro(a) Tia Ciatá; 5 (cinco) atuam de 6 a 10 anos (Associação de Mulheres Negras do Acre e Seus Apoiadores, Centro Comunitário de Audiovisual Luiz Orlando, Coletivo Atinúké, Movimento Nação Marabaixeira e Ponto de Cultura Grupo EX 13) 2, finalizando, 2 (duas) estão constituidas e atuam de 2 a 5 anos (Associação dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo e Oficina de Inovação e Ancestralidade). 

Olhando o recorte da influência geográfica, 3 (três) desenvolvem suas atividades de forma nacional; uma concentra seu trabalho em uma região do Brasil; cinco trabalham em seus estados de origem e três especificamente nos municípios em que estão localizadas. Com relação ao perfil do corpo diretivo, oito têm pessoas com 30 anos ou mais no seu corpo diretivo; três têm equilíbrio entre jovens (29 anos ou menos) e adultos (30 anos ou mais) e uma tem corpo diretivo composto por jovens (29 anos ou menos). 

No quesito gênero, os grupos diretivos de nove organizações têm em sua composição diretiva pessoas de grupo LGBTQIAPN+. Três não têm.  Pessoas especiais estão presentes na direção de três organizações. Dez dos grupos selecionados possuem parceiros que os auxiliam em termos financeiros e dois deles têm parceiros pontuais, que dão suporte para ações programáticas. 

Para se habilitarem ao edital as organizações que se inscreveram tiveram que fazer uma análise apurada sobre o que pretendiam propor, além das respostas que serão dadas frente aos desafios previamente mapeados. Em termos de desafios, os seguintes tópicos foram apontados pelas organizações: Logística, transporte e alimentação para profissionais, estudantes e membros; impactos emocionais psicológicos na saúde mental de educadores e estudantes; invisibilidade das mulheres negras nas ciências e tecnologias; negação e desvalorização das identidades e culturas negras e quilombolas; pouca aplicação da Lei 10.639/03 nas ciências exatas e da natureza; falta de ferramentas para efetivação de políticas públicas; falta de ações voltadas para a elevação da autoestima de estudantes; baixa formação de novas lideranças femininas negras que atuam na educação; racismo religioso de educadores e das comunidades ao entorno.   

Vencidas as dificuldades previstas, o caminho leva à busca dos resultados esperados ao final do projeto. E as perspectivas vislumbradas pelas organizações, grupos e coletivos participantes do edital são bem animadoras: Escolas sensibilizadas para implantação da Leis 10.639/2003 e 11.645/2008; perspectiva racial introduzida dentro do sistema socioeducativo; mais mulheres negras na pós-graduação; docência universitária e cargos de alto escalão; parcerias e maior articulação com comunidades e grupos locais; aprendizados dos projetos incorporados pelos espaços de educação; jovens, pais, professores e gestores da educação interessados no terma do projeto; lideranças negras juvenis fortalecidas e engajadas com o tema da educação; metodologias que fortaleçam processos de atendimento, escolarização e escuta; uso da tecnologia ampliado na periferia e em comunidades tradicionais para enfrentar o racismo e fortalecer as identidades negras; jovens negros com uma percepção positiva sobre si e sua comunidade. 

Toda essa interação e desenvolvimento ao longo do projeto são vistas como geradoras de transformações pessoais e institucionais marcantes. Entre elas, foram apontadas as seguintes como focos: Habilidades gerenciais potencializadas; capacidade de intervenção ampliada; aumento do interesse por saberes científicos; fortalecimento das relações; ampliação do engajamento político; qualificação na produção e disseminação de conteúdos e na realização de processos formativos;fortalecimento de nossas relações com comunidades e com nossos parceiros. Tudo isso irá fortalecer no corpo diretivo das instituições o desenvolvimento de habilidades de liderança como:  Comunicação estratégica e assertiva; ação em rede e atuação junto a parceiros; visão crítica e tomada de decisões; cursos e treinamentos técnicos específicos; gestão de tempo e priorização; análise de contextos complexos, mapeamento de atores e riscos. 

As associações, grupos e coletivos selecionados consideram o trabalho com educação fundamental para que questões relativas às diferenças sociais sejam corrigidas, assim como a difusão da cultura negra. A fala de Irailda Leandro, da  Associação Dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo, da cidade de Buíque, em Pernambuco, revela isso: “Só vamos sair desse ciclo de pobreza e desigualdade com Educação”. Carlos Peru, líder do Movimento Nação Marabaixeira, de Macapá, no Amapá, fala sobre uma particularidade do seu estado. “50% da população do Amapá se declara negra. Com a nossa participação nesse edital, vamos chegar ao nosso objetivo de difundir a cultura negra em nosso estado.”

As Organizações e seus Projetos

Para conhecer mais de perto os projetos das organizações selecionadas, acesse este link

Diretor Executivo e Vice-presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá falam sobre posicionamento da instituição frente a questões sociais

             Por Wagner Prado

Giovanni Harvey vai completar um ano à frente da Direção Executiva do Fundo Baobá. Antes de assumir o cargo, Harvey foi presidente do Conselho Deliberativo do Fundo e construiu uma carreira com 30 anos de experiência como executivo na iniciativa privada, na administração pública e no terceiro setor. A política sempre esteve presente em sua vida, tendo sido presidente do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal Fluminense (UFF) entre 1988 e 1989. Giovanni ocupou o cargo de Secretário Nacional de Políticas de Ações Afirmativas entre 2008 e 2009 e foi Secretário Executivo, de 2013 a 2015, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir). Atuando no Fundo Baobá, Giovanni Harvey tem sido uma das vozes mais vibrantes nos eventos relacionados à questão racial no Brasil. Ele faz o seguinte alerta: “O papel da sociedade civil não é concorrer com o Estado. É buscar identificar quais são as demandas que o Estado não está atendendo, por qualquer que seja a razão, e propor soluções inovadoras que possam (no futuro) inspirar a ampliação das políticas públicas.”  

Amalia Fischer é a vice-presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá. Profissional com grande experiência de trabalhos em filantropia, investimento social e responsabilidade na diversidade, ela tem doutorado em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), além de ser Socióloga. Amalia Fischer faz uma análise sobre as origens da filantropia no Brasil. “A filantropia branca tem origem na Santa Inquisição. É uma filantropia em que a Santa Inquisição, que de santa não tinha nada, era aquela que tinha a ideologia e a política daquele momento. E isso foi aplicado a todos os diferentes: judeus, mulheres, negros e indígenas na medida em que o homem branco foi colonizando e se apropriando do mundo.” Em entrevista, Giovanni Harvey e Amalia Fischer falam sobre direcionamentos do Fundo Baobá, realizações e perspectivas. 

Qual a expectativa do Fundo Baobá com relação a políticas públicas a serem implementadas e como a instituição vai atuar frente a elas?

Giovanni Harvey – Essa resposta ela tem dois aspectos. E o primeiro aspecto é exatamente essa expectativa mais genérica, que  passa pela reconstrução, pelo restabelecimento de políticas públicas que não são políticas públicas de governo,  independentemente do que se pensa. São políticas públicas de Estado. O Estado brasileiro  veio aperfeiçoando a sua visão sobre as suas responsabilidades no enfrentamento às varias desigualdades. E, no que diz respeito à desigualdade nas relações étnico-raciais,  o Estado brasileiro, desde a Constituição de 1988, que tornou o racismo crime inafiançável, imprescritível -momento no qual inclusive foi criada, por iniciativa do governo, a Fundação Cultural Palmares-, o Estado brasileiro veio avançando no seu entendimento sobre as suas responsabilidades no enfrentamento das desigualdades geradas pelo racismo estrutural.  Lamentavelmente na última quadra (últimos quatro anos), em termos de visão política, vimos o Estado brasileiro se abstendo de dar continuidade a este processo. Então, a primeira expectativa que eu tenho é de que essas políticas públicas de Estado serão reestabelecidas. A partir daí nós poderemos fazer uma avaliação sobre o posicionamento do Fundo Baobá. 

O segundo aspecto desta resposta é que o papel da sociedade civil não é concorrer com o Estado. É buscar identificar quais são as demandas que o Estado não está atendendo, qualquer que seja a razão, e propor soluções inovadoras que possam (no futuro) inspirar a ampliação das políticas públicas. Quais são as aspirações que não estão sendo atendidas pelas políticas públicas? Porque não estão sendo atendidas por iniciativas que tenham uma certa envergadura. E é a partir dessa análise que nós, o Fundo Baobá, identificamos pontos de melhoria, demandas não atendidas, demandas contra-hegemônicas,  tensões sociais que merecem  adquirir uma maior visibilidade e, a partir daí,  o Baobá se posiciona. Estamos acompanhando com atenção esse redesenho das políticas públicas. Estamos com as nossas operações em curso e certamente vamos fazer um ajuste no nosso posicionamento a partir do desenho e do escopo das políticas públicas que vierem a ser definidas. 

Giovanni Harvey, Diretor Executivo do Fundo Baobá

O Baobá não “apenas” é um mecanismo de captação e repasse de recursos. O Baobá se fez para além disso. Criou uma forma de atuar dentro desse ambiente da filantropia para justiça social. O Baobá virou referência? Ele é inspiração para outros? 

Giovanni HarveyO Baobá não é apenas um captador e distribuidor de recursos, o Fundo Baobá também faz captação para redistribuir recursos para o  campo. Eu entendo a pergunta na dimensão institucional e política, considerando o que pode ser a percepção da sociedade diante da experiência  de construção de uma instituição negra. Depois que eu fui a Salvador e conheci com mais profundidade a história da Sociedade Protetora dos Desvalidos, não posso mais dizer que o Fundo Baobá é a primeira experiência negra pensada com o ponto de  vista da sustentabilidade. Porque nós temos a Sociedade Protetora dos Desvalidos,  fundada em 1832. E a Sociedade foi fundada já numa lógica de buscar a autossustentabilidade e, passados 190 anos,  continua funcionando e continua sendo guiada por uma visão de busca de sustentabilidade. Então, dentro do modelo atual de buscar sustentabilidade a partir de uma gestão financeira mais arrojada, com aplicações, com endowment, o Baobá é a primeira instituição no Brasil que alcança um certo patamar de sustentabilidade em cima da estratégia de um fundo patrimonial. Nesse sentido, o Baobá   é inspiração sim. Ele tem que navegar fora do senso comum. O Fundo Baobá é uma referência por ser uma instituição que opera na fronteira de tensões do enfrentamento do racismo estrutural.

Amalia Fischer Evidentemente que sim. O Baobá é uma referência. Ele é único. Além de referência ele é uma instituição que está consolidada. É uma instituição que é transparente, eficiente, inovadora e tem todas as características de, não sendo uma fundação como a Fundação Ford, ter todos os elementos de uma governança, o que faz com que ela seja forte, capaz de ir às profundezas dos problemas da população negra, buscando soluções junto à população. Então, é a única que vai até as profundezas das necessidades para procurar soluções para a população negra.

O Baobá é referência. Tenho ouvido, por exemplo, a Aline Odara (Fundo Agbara) falando com admiração e falando que quer ser grande quer ser como o Baobá. Isso é maravilhoso, porque pega uma tradição dentro da resistência dos negros no Brasil e das instituições que os negros criaram, como as Irmandades. Isso é uma tradição e é possível ver um histórico. É possível ver que a população negra é capaz de mobilizar recursos e fazer filantropia de um jeito que não o jeito branco. A filantropia branca tem origem na Santa Inquisição. É uma filantropia em que a Santa Inquisição, que de santa não tinha nada,  era aquela que tinha a ideologia e a política daquele momento. E isso foi aplicado a todos os diferentes: judeus, mulheres, negros e indígenas na medida em que o homem branco foi colonizando e se apropriando do mundo. Então, a resistência e a oposição que os negros fizeram a essa filantropia de esmola é uma filantropia que responde promovendo cidadania, alforria e educação de negros. E isso foi feito por muitas mulheres que estavam à frente das irmandades e à frente também de alguns negócios, as ganhadeiras. Então, os negócios sociais foram criados pelos negros. A filantropia de justiça social foi criada pelos negros. E isso você não vê na história da filantropia do Brasil. Você tem que cavoucar para chegar lá e ver coisas que não se falam na história oficial. O conceito da igreja católica para filantropia foi a piedade. E a piedade nunca vê o outro como um igual. Vê o outro como um subalterno e dá a esmola. 

O Baobá e toda filantropia desenvolvida pela comunidade negra é uma filantropia que olha para a cidadania plena, para os direitos, para a equidade racial, para a equidade de gênero. 

Amalia Fischer, vice-presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá

Analisando o contexto das relações raciais no Brasil, que tipo de influência o Fundo Baobá pode ter nacionalmente? No terreno internacional, ele pode ser um influenciador? Isso é algo que o Baobá pretende? 

Giovanni HarveySim, o Baobá é um influenciador no campo nacional. As  parcerias que o Baobá tem com instituições da iniciativa privada, do investimento social privado,  da filantropia, do terceiro setor já o colocam como uma instituição importante dentro desse cenário. O Fundo tem interface com instituições internacionais. Ele se  constituiu a partir do apoio de uma organização internacional, que é a Fundação Kellogg, e o Baobá acompanha o cenário internacional. Vamos lembrar que nós estamos na década dos afrodescendentes da ONU, de 2014 a 2024, e que certamente esse tema da década vai voltar à agenda brasileira. Aquela fala do Lula (presidente eleito em 30/10/2022) na COP 27: “O Brasil está de volta”, eu não considero que esta frase se limita apenas à projeção internacional do Brasil no tema do meio ambiente. Existe uma agenda internacional de enfrentamento ao racismo e o Brasil estará de volta a essa agenda, qualquer que seja o ministro ou a ministra da Igualdade Racial. O Brasil vai estar sentado novamente nessa mesa. O Brasil que perdeu o protagonismo, ao longo dos últimos anos,  vai voltar ao debate, vai voltar a incidir nessa área e o Fundo Baobá vai estar inserido dentro desse cenário sim. 

Amalia FischerO Baobá foi criado pelo movimento negro. Então, quem mais sabe das necessidades e sobre abrir oportunidades para a população negra senão o movimento negro? Ter ativistas, pensadores,  filósofos, sociólogos, sociólogas e filósofas  dentro da governança e dos conselhos dá ao Baobá legitimidade para fazer o que está fazendo. Talvez o Baobá não seja a organização que lá no território “X”  esteja transformando a vida das pessoas, mas está impulsionando, fortalecendo essa organização para que ela continue a sua atuação pela equidade racial. 

A existência do Baobá depende das organizações que ele apoia. E essas organizações também dependem do Baobá. Quando falo em dependência não é no contexto negativo, estou falando de apoio mútuo. O fato de o Baobá ser um meio para que as organizações se desenvolvam e possam ter sustentabilidade de todo tipo é uma inter relação saudável para ambos os lados. Mutuamente aprendem e a cada dia é colocado um grão de areia para que o racismo estrutural e o racismo institucional sejam desconstruídos.  

A captação de recursos é o grande gargalo do Baobá?

Giovanni HarveyEu quero detalhar isso um pouco mais. A captação em si não é um problema. A captação para o endowment, dada a falta de cultura de doação para um fundo patrimonial de uma organização negra,  é o problema. Então, captar para realizar projetos não é. O grande desafio que o Fundo Baobá está enfrentando é diminuir a captação carimbada para projeto e migrar para uma captação de confiança, como é o caso da Mackenzie Scott (filantropa norte-americana que em agosto doou US$ 5 milhões para o Fundo Baobá).  É uma doação de confiança. Eu dou o dinheiro e você decide o que vai fazer com ele.  Então, eu diria que é um gargalo,  mas o gargalo está na destinação do montante captado e não necessariamente no ato de captar em si. E o nosso desafio é aumentar a qualidade da nossa relação com o financiador  e o grau de confiança nessa relação, já que o Baobá é a instituição especializada – é um fundo especializado no enfrentamento ao racismo. 

Amalia Fischer – Uma coisa é o começo de qualquer fundo que seja por uma causa. Principalmente uma causa polêmica na sociedade. Porque a sociedade brasileira nega o racismo. Nega que exista desigualdade. Nega que exista opressão às mulheres. Então, cada fundo que é lançado e defende uma causa tem que movimentar recursos e a mobilização de recursos vai além da captação. A mobilização de recursos também tem a ver com a transformação mental das pessoas, com o coração das pessoas, com a paixão das pessoas. Se a pessoa acha que dando esmola na rua ela está fazendo uma transformação, ela nunca vai pensar que doando para uma organização será muito melhor. Porque o menino ou a menina que está na rua pedindo esmola poderia ter outras oportunidades a partir da atuação das organizações da sociedade civil, porque essas organizações da sociedade civil respondem a causas, a movimentos e, se você não as apoia materialmente, você está capenga na democracia. A pessoa não está enxergando que cada vez é mais saudável para a sociedade que ela se envolva. Isso não tira do Estado a sua obrigação. Mas o que se tem que ter bem nítido quando se constitui um fundo é que vai ser difícil. Muito difícil. Sobretudo no campo das causas.     

Saúde, Educação, Empreendedorismo, Recuperação Econômica, Auxílio a Populações em Situação de Vulnerabilidade. Que outros terrenos da ação social o Fundo Baobá ainda precisa semear? 

Giovanni Harvey O Baobá sempre busca a inovação nas suas áreas de atuação.  Tem que refletir sobre quais são as fronteiras da inovação em termos de posicionamento de pessoas negras na sociedade. Nós estamos olhando para as carreiras de liderança. Então, acho que inovação é um caminho, melhoria da performance na gestão. A gente precisa conseguir criar soluções de Comunicação mais amplas, e indicadores.  Então a resposta é olhar para nós mesmos, assim como olhamos para os nossos grantees e inovar.

Amalia FischerA partir dos achados da área programática, a partir dos relatórios das organizações é que podemos saber o que está acontecendo e o que está necessitando a população negra.O Baobá tem investido nisso. Porque se não tivermos uma escuta atenta podemos ter ideias mirabolantes e as pessoas podem não estar precisando de ideias mirabolantes. 

O Baobá acaba de completar 11 anos. Qual a sua projeção para os próximos 5 ou 10 anos de atuação? 

Giovanni HarveyNós estamos comprometidos, estamos trabalhando para nos fortalecer e  alcançar a meta de R$ 250 milhões de  endowment  até 2026. É a nossa meta. 

Amalia Fischer Acho que o Baobá vai viver 50 anos ou mais. Eu espero que não seja mais que isso, porque temos que acabar com o racismo. Acho que o Baobá hoje não é só uma referência, mas uma liderança importante na questão da equidade racial no Brasil. Uma entidade importante que deve ser ouvida e respeitada. Uma liderança. Pessoas  brancas que queiram se engajar profundamente contra o racismo têm que ouvir o Baobá. 

Baobá na imprensa em Outubro

imprensa

Por Ingrid Ferreira

Em outubro o Fundo Baobá para Equidade Racial teve diferentes oportunidades midiáticas. A CNN citou a matéria “Conquistas históricas para pretos, pardos e indígenas”, em que o Diretor Executivo, Giovanni Harvey, comentou o resultado das eleições de 2022, desde a perspectiva da representatividade da população negra. 

Giovanni Harvey também foi mencionado como um dos participantes da 1ª Conferência Empresarial ESG Racial, promovida pelo Pacto Pela Equidade Racial. E em publicação do site Tabôa  sobre o Seminário de 10 anos da Rede de Filantropia para a Justiça Social e, mais especificamente, a mesa “Trajetória e papel da Rede no ecossistema filantrópico nacional e internacional”, que contou com a participação do Diretor.

O membro da Assembléia Geral e ex presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá, Hélio Santos, autor de uma coletânea de artigos de autores negros que mapeiam as raízes da desigualdade, foi citado pelos jornais Estado de Minas, Folha e Nexo Jornal.

O Jornal da USP comentou a homenagem realizada a Presidente do Conselho Deliberativo do Baobá, Sueli Carneiro, na publicação “Outubro Negro inicia discussões para “enegrecer” o conhecimento produzido na USP”.

O encontro virtual com associações quilombolas e indígenas, organizado pela Aliança Entre Fundos e que apresentou estratégias de comunicação e ferramentas de aperfeiçoamento para as redes sociais e rotinas de notícias das comunidades, foi notícia nos sites Notícia Preta e Portal Afro. A Aliança entre Fundos é uma iniciativa de filantropia colaborativa para promover justiça racial, ambiental e social, composta pelo Fundo Baobá para Equidade Racial, Fundo Casa SocioAmbiental e Fundo Brasil de Direitos Humanos. 

Apoiadas do Fundo Baobá:

No Instagram o Quilombo Santo, participante do edital Quilombolas em Defesa: Vida, Direito e Justiça fez uma sequência de postagens a respeito do andamento do seu projeto, confira a seguir: “Aprovação do Projeto”, “Encontro para apresentação do projeto”, “Reunião para organizações previstas no projeto” e “Reunião para definição de cronograma de atividades e contratação de serviços”.

O Diário de Pernambuco mencionou o Fundo como apoiador do projeto “Racismo Religioso: Respeita Minha Fé!”, coordenado pela Tenda de Umbanda Caboclo Flecheiro D’Ararobá, no edital Vidas Negras — Dignidade e Justiça, que apresenta resultados de mapeamento sobre racismo religioso em Pernambuco.

E o site Criola citou o Baobá em sua publicação “Lançamento – Racismo, Violência e Estado: Três faces, uma única estrutura de dominação articulada”, que contou com o financiamento do Fundo Baobá para Equidade Racial.

Mudanças e Percepções 3 anos após seleção em edital 

Por Ingrid Ferreira

O Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco foi lançado em 2019. A implementação dos planos de desenvolvimento individual se deu de 2020 a 2021. Muitas mudanças e conquistas foram vividas desde então e, para saber mais sobre a atualidade de algumas das mulheres negras apoiadas, conversamos com Karen Franquini do projeto “Ganbatte”, que é Gerente de Projetos, Mentora de Carreira, Consultora de Empreendedorismo Periférico, Mestre em Gestão da Inovação e Empreendedorismo, Impacto Social e focada em Diversidade, Equidade e Inclusão; Luciane Reis,  do projeto  “Mercafro”, que é Especialista em Diversidade e Inclusão; e Laiara Amorim Borges, do projeto “Voe como uma garota negra”, que é Headhunter social, Comissária de Bordo na Azul Linhas Aéreas Brasileiras e co-fundadora do coletivo Quilombo Aéreo.
Confira abaixo a entrevista:

Três anos após terem sido selecionadas pelo edital do Fundo Baobá, como você descreve os seus avanços?

Karen Franquini

O Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco proporcionou o desenvolvimento acelerado de habilidades para minha atuação como Empreendedora, Mentora de Carreira, Gerente de Projetos e Liderança Negra, potencializando os meus talentos e força de trabalho para ajudar outros profissionais a atingirem seus objetivos, gerar impacto positivo na vida das pessoas e contribuir com a mudança de realidades. Como resultado do apoio do projeto, identifiquei novas áreas de atuação, como Mentora de Carreira e Gerente de Projetos, visando ampliar a empregabilidade de mulheres e profissionais negras (os), além disso, fui aprovada no Mestrado. Nos meus avanços atuais, me tornei Mestre em Desenvolvimento Local pela UNISUAM (Centro Universitário Augusto Motta) – RJ, na linha de pesquisa em Gestão da Inovação e Empreendedorismo, com o tema da dissertação  “Desenvolvimento de Negócios de Impacto: Ferramentas e Boas Práticas para Empreendedores Sociais”. Agora eu tenho o objetivo de aprofundar o estudo sobre o ecossistema de negócios de impacto e iniciar o Doutorado em Desenvolvimento Local. A participação no Programa gerou uma mudança de mentalidade, me proporcionou uma descoberta e a valorização da minha visão e potencialidade como mulher e liderança negra, e a minha capacidade de produção intelectual e de planejamento e execução de iniciativas de impacto social.

Karen Franquini – Rio de Janeiro

Luciane Reis

Considero que o principal avanço foi a defesa da minha dissertação no fim do ano passado. Após a defesa, iniciei o processo de operacionalizar o que foi teorizado durante o Programa, que consiste na  elaboração do plano detalhado de identificação e triagem dos estudos existentes sobre o negro na área econômica e de desenvolvimento pessoal. Para isso fiz o mapeamento de uma série de  especialistas junto aos vários campos do ecossistema empreendedor e empresarial que pauta o problema do negro nesses setores, e o mapeamento de monografias sobre temas econômicos, financeiros, de autoconhecimento e desenvolvimento publicados ou ligados à problemática negra. 

Luciane Reis – Bahia

Laiara Amorim Borges

Estamos no terceiro ano, e por mais que o Programa tenha se iniciado de forma individual, ele se desmembrou de diversas formas, e eu pude atuar em diversas frentes por conta desse edital. Uma delas é o coletivo que hoje faço parte,  que é a Primeira Escola Antirracista da Aviação Civil Brasileira. Em 2022, nós conseguimos formar uma turma exclusiva de pessoas negras periféricas e dentre essas pessoas temos quilombolas, empregadas domésticas e mulheres trans. No mesmo ano, já conseguimos empregar 50% delas dentro da área de formação. Ainda que seja um trabalho árduo, é muito gratificante. Por ser uma frente muito nova, temos encontrado muitos desafios, principalmente com as empresas, para haver aceitação e inclusão. Infelizmente, muitas vezes as empresas só querem fazer atividades pontuais com pessoas negras em novembro (Mês da Consciência Negra). Mas estou no 3º ano e celebro a nossa jornada por tudo que conquistamos até aqui, mas ainda não alcançamos a nossa meta.

Laiara Amorim Borges – Minas Gerais

Com a pandemia, alguns planos de desenvolvimento tiveram que ser reformulados. No momento atual, tem algum ponto que você resgatou?

Karen Franquini

O meu Plano foi reformulado devido à pandemia e pela primeira vez na vida tive recursos para investir no meu desenvolvimento pessoal. Consegui visualizar a minha trajetória profissional, independentemente da Ganbatte, negócio de impacto social que fundei e tem como objetivo conectar as empresas a profissionais diversos. Agora me sinto protagonista da minha história, consigo reconhecer minha evolução e potencial para gerar transformações sociais significativas na vida de profissionais periféricos.

Luciane Reis

Sim. Estou organizando a plataforma,  fruto do investimento feito pelo Programa, para ser lançada até o meio do ano que vem. Defender a dissertação foi um momento bastante complicado e, por conta disso, acabei demorando um pouco para conseguir seguir em frente. Somente agora estou retomando. O site ainda continua sendo um projeto. Estou também organizando o primeiro livro das lideranças aceleradas pelo projeto e que tem uma coluna no site do Géledes denominada “Negras que Movem”. 

Laiara Amorim Borges

A pandemia foi o maior desafio a ser enfrentado por todas as lideranças do Programa,  porque houve o aumento do desemprego junto ao isolamento, e nós tivemos que reformular tudo o que estava planejado. Um exemplo disso é que quando começou o edital, um dos meus objetivos era a minha aceleração enquanto mulher pilota na aviação, pois hoje não há nenhuma mulher ocupando esse cargo. Mas quando começou a pandemia, todos os aeroclubes fecharam e eu me deparei com outras questões sociais e psicossociais que atrapalharam muito a minha formação, tanto que eu ainda não concluí. Eu já sabia que não finalizaria no prazo do edital, mas o recurso era para custear parte da minha formação. Eu retomei as minhas horas de voo, mas, por conta da inflação, tudo foi afetado. Ainda assim continuo focada no meu objetivo, ainda que caminhando mais devagar por conta das circunstâncias, e isso faz com que eu compreenda também a importância de ser apoiada por outras mulheres pretas, o poder da militância e as políticas afirmativas, além de que, durante o edital, nós tivemos muitas sessões de mentoria, encontros sensacionais, que é tudo que estou utilizando hoje, e esse caminho tem me mostrado a importância de todo esse processo.

Ao final da primeira edição do Programa, publicamos um e-book, podcast, para contar sobre os esforços e os resultados do Programa, de cada mulher e das organizações de mulheres. Estes materiais tiveram alguma repercussão na sua trajetória?

Karen Franquini

A principal repercussão da publicação do e-book do edital e do podcast foi a valorização da minha trajetória e atuação como empreendedora e liderança negra, e o compartilhamento dos aprendizados para fortalecer a trajetória de outras mulheres e lideranças negras.

Laiara Amorim Borges

O e-book foi muito importante para que eu pudesse mensurar tudo o que tinha acontecido, algo que eu não tinha feito antes. Tanto que teve um momento da entrevista que eu acabei me emocionando, porque nós enquanto mulheres negras sempre estamos nos cobrando muito e não percebemos tudo que fazemos. E precisamos valorizar as nossas pequenas vitórias ao longo da caminhada, e eu espero que ele (E-book) tenha alcançado outras pessoas que possam se inspirar nele e acreditar que ocupar qualquer espaço é possível.

Analisando o seu processo atual, todas as suas metas foram concluídas? Quais são os próximos desafios?

Karen Franquini

Ainda não realizei todos os meus objetivos profissionais, mas aprendi a celebrar e agradecer por cada conquista e principalmente por cada desafio. Aprendi a respeitar e aplicar toda a minha potencialidade, resiliência e determinação para conquistar o que desejo e lutar pelo que acredito. Os meus próximos objetivos profissionais são iniciar o Doutorado Profissional em Desenvolvimento Local na UNISUAM, com o tema da tese de “Diversidade em Programas de Empreendedorismo Social: Mecanismos e Boas Práticas para Inclusão de Empreendedores de Grupos Minorizados”; fortalecimento da minha marca pessoal e da atuação como Líder, Empreendedora Social, Mentora de Carreira e Gerente de Projetos; reposicionamento da Ganbatte e foco em apoiar profissionais periféricos no desenvolvimento de suas carreiras.

Luciane Reis

Nem todas, mas estou agora revisitando meu plano de desenvolvimento individual para ver o que consigo operacionalizar. Durante o processo eu consegui profissionalizar o material existente do Mercafro. O site está pronto e foi defendido enquanto uma tecnologia social na Faculdade de Administração da UFBA (Universidade Federal da Bahia). O repertório/discurso que ele quer pautar foi também defendido em formato de especialização na Faculdade de Educação da UFBA. Defender essa tecnologia e seu repertório junto a duas escolas importantes para legitimação acadêmica foi fundamental para o processo que desejo iniciar a partir de agora.  O próximo passo é transformar a dissertação em um livro.  lançar a plataforma e seu conteúdo a partir do passo a passo sinalizado no primeiro ponto.

Laiara Amorim Borges

Nem todas as metas foram alcançadas, mas por conta da pandemia. Houve metas que foram se apresentando ao longo do processo e eu consegui concluir, ainda que algumas parcialmente: a questão da empregabilidade, principalmente. Com relação ao objetivo principal, essa meta ainda está em vias de ser alcançada, por meio da elaboração de artigos sobre o assunto, pois antes do “Voe como uma garota negra” não existiam artigos dessa área, inclusive a publicação internacional de um capítulo de um livro que fala da situação atual no Brasil das mulheres dentro desse campo tecnológico da aviação. Outra meta que foi concluída também foi o site do projeto. Neste espaço virtual é possível encontrar informações do projeto, editais, abertura de próximas turmas, impactos sociais e parcerias. A única meta que ainda não foi concluída foi a da minha formação pessoal, mas desmembrou pra tantas coisas que eu já me sinto realizada.

Karen Franquini complementa falando que: “O principal aprendizado que gostaria de compartilhar é: Seja gentil com você mesma, não se cobre tanto, respeite seu processo e valorize cada conquista. O grande segredo para atingir objetivos é fazer pequenas ações com frequência, respeitando seus limites e cada dia dando um novo passo. É começar com os recursos que tem, com as habilidades que possui para se desenvolver. Celebrar e valorizar cada passo e conquista que te aproxima do seu objetivo”.

O Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco é uma iniciativa do Fundo Baobá, com o apoio da Kellogg Foundation,  Ford Foundation, Instituto Ibirapitanga e Open Society Foundations. O Programa, que teve início em 2019,  busca ampliar e consolidar a participação de mulheres negras em posições de poder e influência, através de investimento em seus planos de desenvolvimento individual, formações políticas e técnicas e ainda no fortalecimento das organizações, grupos e coletivos liderados por elas.

Fundo Baobá divulga lista das 12 organizações selecionadas 

Edital tem por objetivo promover o enfrentamento ao racismo na educação e conta com apoio financeiro da Imaginable Futures e Fundação Lemann

Após realização do processo seletivo, o Fundo Baobá para Equidade Racial divulga as 12 organizações, grupos e coletivos negros selecionados para o edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial. Após 181 inscrições e a definição de 83 que passaram para a segunda fase, 24 foram habilitadas à fase final, da qual 12 foram as selecionadas. 

Após análise das 83 propostas válidas, uma equipe  composta por especialistas em educação  e em planejamento, gestão e avaliação de projetos, realizou  40 entrevistas e recomendou 24 propostas para serem avaliadas na etapa final do processo. No dia de hoje (10/11), o Fundo Baobá divulga os nomes das 12 organizações finalistas do Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial. Em princípio seriam 10 organizações, mas a governança do Fundo Baobá decidiu pelo apoio a mais dois projetos. 

Promover o enfrentamento ao racismo na educação, por meio de projetos, programas,  políticas de equidade racial e ações é o foco do edital, que tem apoio financeiro da  Imaginable Futures e Fundação Lemann. O aporte destinado pelas instituições parceiras, em conjunto, é de R$ 2,5 milhões.  As 12 organizações, grupos e coletivos negros selecionados atuam na educação (dentro ou fora de unidades escolares) e têm papel ativo no que se refere ao combate ao racismo. 

Na etapa final de seleção, as propostas passaram pela análise de um comitê composto por especialistas, com larga experiência acadêmica e de ativismo na área de educação em relações étnico-raciais. O apoio financeiro a cada uma das organizações,  grupos ou coletivos  selecionados será de R$ 175.000,00 (Cento e setenta e cinco mil reais) para que implementem seus projetos. O período para realização dos mesmos, que também inclui fortalecimento das capacidades institucionais, será de 18 meses. 

Sobre o Fundo Baobá

O Fundo Baobá para Equidade Racial é o primeiro fundo dedicado exclusivamente à promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. Criado em 2011, o Fundo Baobá é uma organização sem fins lucrativos que tem por objetivo mobilizar pessoas e recursos, no Brasil e no exterior, para o apoio a projetos e ações pró-equidade racial para a população negra. O Fundo Baobá prioriza apoio a iniciativas negras alinhadas a quatro eixos programáticos: viver com dignidade; educação; desenvolvimento econômico; comunicação e memória. A missão do Baobá é o desenvolvimento de uma agenda filantrópica para a promoção da equidade racial para a população negra calcada em valores como ética, efetividade na gestão e transparência. O Baobá faz parte de uma  rede de fundos independentes e fundações comunitárias que realizam filantropia para justiça social – Rede Comuá, e está filiado ao GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas). 

Sobre a Imaginable Futures

A Imaginable Futures é uma organização filantrópica internacional de investimentos orientados pelo impacto social e pela crença de que o aprendizado é a chave para o bem-estar e para a construção de sistemas equitativos e saudáveis. A Imaginable Futures está determinada a mudar os sistemas injustos e a eliminar as barreiras que impedem os alunos, famílias e comunidades de prosperar e alcançar seu potencial máximo. Para isso, colabora com agentes de mudança para resolver desafios de educação complexos e desenvolver soluções que ajudem as comunidades nesse sentido. Com parceiros nos setores público, privado e social no Brasil, na África Subsaariana e nos Estados Unidos, a Imaginable Futures está co-criando soluções em contextos locais, nacionais e globais para alunos de todas as idades. Imaginable Futures é um empreendimento do Grupo Omidyar.

Saiba mais no site.

Sobre a Fundação Lemann

A Fundação Lemann acredita que um Brasil feito por todos e para todos é um Brasil que acredita no seu maior potencial: gente. Isso só acontece com educação de qualidade e com o apoio a pessoas que querem resolver os grandes desafios sociais do país. Nós realizamos projetos ao lado de professores, gestores escolares, secretarias de educação e governos por uma aprendizagem de qualidade. Também apoiamos centenas de talentos, lideranças e organizações que trabalham pela transformação social. Tudo para ajudar a construir um país mais justo, inclusivo e avançado.

Saiba mais no site. Siga-nos nas redes: Twitter, Instagram, Facebook e LinkedIn.

Confira neste link as 12  organizações selecionadas para o edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial, parceria entre Imaginable Futures, Fundação Lemann e Fundo Baobá. 

Aliança entre Fundos promove encontro inédito de comunicação com quilombolas e indígenas de várias partes do país

 Apoiados no âmbito da Aliança entre Fundos, quilombolas e indígenas tiveram troca de experiências, dicas de ferramentas e modos de comunicação para aplicarem em seus territórios

A comunicação é uma ferramenta essencial para que as histórias ultrapassem fronteiras. No âmbito da Aliança entre Fundos – formada pelo Fundo Baobá para Equidade Racial, Fundo Brasil de Direitos Humanos e Fundo Casa Socioambiental – isso não é diferente. As comunidades quilombolas e os povos indígenas apoiados pela Aliança participaram de uma iniciativa inédita que reuniu representantes desses grupos de Norte a Sul do Brasil. São grupos historicamente excluídos que se reuniram num encontro virtual para refletir sobre a comunicação e fortalecer suas narrativas. 

O encontro de comunicação com quilombolas e indígenas, organizado pela Aliança entre Fundos, reuniu mais de 70 pessoas de 78 organizações comunitárias apoiadas pelos Fundos. Os conteúdos foram conduzidos pelos coletivos de comunicação Mídia Índia e pelo coletivo de comunicação da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ).

Fundado em 2017, o Mídia Índia surgiu durante o Acampamento Terra Livre, a maior mobilização anual de indígenas no Brasil. O propósito foi consolidar a iniciativa como um veículo da causa indígena. Já o coletivo de comunicação da CONAQ foi criado em 2020 durante a pandemia da COVID-19 e marcou a mobilização quilombola contra as fake news sobre a letalidade do vírus nestas comunidades, dentre outros assuntos.

No encontro da Aliança entre Fundos, a condução dos conteúdos feita pelos próprios quilombolas e indígenas consolidou o protagonismo dos dois grupos no campo da comunicação e favoreceu a consolidação de novos atores na produção e elaboração de narrativas em defesa dos povos indígenas e das comunidades quilombolas.

Para o Juliane Yamakawa, assessora de projetos do Fundo Brasil de Direitos Humanos e membro do Comitê Gestor da Aliança, “com a adesão de tantos grupos e coletivos de todo o país, o encontro de comunicação mostrou de forma concreta que há muito interesse dessas e desses ativistas tanto em aprimorar suas capacidades quando em articulação, em trabalhar conjuntamente e aprender coletivamente”, avaliou. Juliane é a responsável por acompanhar os projetos dos povos indígenas apoiados pelo Fundo Brasil no âmbito da Aliança entre Fundos. “Além de promover aprendizado, o encontro também impulsiona a formação de redes de apoio e amplia olhares e abordagens, e esse é um dos objetivos estratégicos da Aliança”, completou.

Fernanda Lopes, diretora de programa do Fundo Baobá e membro do Comitê Gestor da Aliança, enfatizou que o encontro é resultado de uma estratégia cuidadosamente elaborada pelos três Fundos. “Esta Aliança foi construída a partir das demandas das comunidades quilombolas e povos indígenas que já eram recebidos pelos Fundos. Já praticávamos o exercício de ouvir atentamente vozes do campo para orientar nossas ações. No contexto da pandemia, constatamos que poderíamos fazer melhor se estivéssemos juntos, os três Fundos. Nossa intenção é oferecer não só apoio financeiro, mas também fortalecer as potências quilombolas e indígenas. Por isso a colaboração entre os Fundos e esta ação conjunta em torno da comunicação.  Precisamos criar um ambiente favorável para a luta em defesa dos direitos e a comunicação é o caminho”, explicou Fernanda.

Potências locais

O encontro de comunicação consolidou a aposta no fortalecimento das potências locais. O coletivo de comunicação da CONAQ, por exemplo, aprofundou sobre as estratégias para fomentar as redes sociais e dar visibilidade às demandas dos territórios. Entre os destaques, estão as dicas dadas pelo coletivo sobre como garantir a segurança para os defensores dos direitos humanos quilombolas e indígenas no contexto das lutas por seus direitos. 

Já o coletivo Mídia Índia apresentou o passo a passo para a gravar um vídeo, desde a produção do roteiro e a escolha das imagens até as locações e dicas de edição de som. Coube também ao Mídia Índia orientar sobre as estratégias para garantir o engajamento nas redes sociais. 

Sobre a experiência com os grupos,  Erisvan Guajajara, do Mídia Índia, relatou que “ensinar como usar a comunicação como ferramenta de luta é acreditar que a gente pode falar das nossas narrativas para que o mundo possa conhecer a nossa realidade e entender o enfrentamos nas bases, que essa é a verdadeira história desse país, escondida em um Brasil profundo e ainda desconhecida pelas grandes mídias”.

Para Maryellen Crisóstomo, do coletivo de comunicação da CONAQ, o sucesso do evento pode ser explicado pelas demandas forjadas pelos próprios grupos. “Os territórios anseiam por divulgar suas ações e estão buscando meios para aprimorar as formas de comunicação, dado a participação expressiva dos territórios atendidos pelos Fundos”, finalizou.

Fundo Baobá divulga a lista de projetos e organizações selecionadas para a última etapa do Edital

A lista de organizações selecionadas para a Terceira Etapa do edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial está sendo divulgada hoje (01/11). Da lista fazem parte 24 organizações de 11 estados brasileiros e do distrito federal. O objetivo do edital é o enfrentamento ao racismo na educação por meio de ações, projetos, programas e políticas de equidade racial. Imaginable Futures e Fundação Lemann são os parceiros do Fundo Baobá nessa iniciativa. Imaginable e Lemann, juntas, aportaram R$ 2,5 milhões que serão  destinados a 10 organizações, grupos ou coletivos negros atuantes na educação e ativos nas questões referentes ao racismo. 

As inscrições para o edital aconteceram entre os dias 3 de agosto e 6 de setembro. Nesse período, 181 inscrições foram feitas por organizações, grupos ou coletivos liderados por, no mínimo, 85% de pessoas pretas. Dessas 181 inscrições, 83 foram consideradas aptas para ir à segunda etapa. Hoje (01/11), após análise das 83 propostas participantes dessa segunda etapa, 24  (vinte e quatro) foram selecionadas e vão à etapa final, quando as 10 organizações selecionadas serão definidas. 

Para visualizar as 24 organizações selecionadas para a Etapa 3 do edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial, você deve acessar este link. A divulgação do resultado final do processo seletivo acontece no dia 10 de novembro. Nesta ocasião a lista ficará disponível no site e redes sociais do Baobá, após as 19h. 

Sueli Carneiro: “A missão institucional do Fundo Baobá é o fortalecimento do sujeito político movimento negro e as suas organizações”

Presidenta do Conselho Deliberativo fala sobre política, desafios do Baobá para o presente e perspectivas para o futuro

          Por Wagner Prado

Aparecida Sueli Carneiro, 72 anos, nasceu em 24 de junho de 1950. O Brasil estava em festa. A Seleção Brasileira estreava na primeira Copa do Mundo realizada no país vencendo o México por 4 a 0. Vencer seria o verbo que iria marcar a trajetória dessa brasileira festeira, nascida na Lapa e criada na Vila Bonilha, região de Pirituba, bairros da cidade de São Paulo. Sueli se impôs frente às adversidades da vida, fez do estudo a sua mola propulsora até se formar filósofa pela Universidade de São Paulo (USP), doutora em Educação, tornar-se escritora, ativista do movimento negro e uma das vozes mais fortes do movimento pelos direitos das mulheres, em especial, das mulheres negras. Sueli, que deve ter um máximo de 1,65m de altura,  transforma-se em gigante quando começa a falar. Suas ideias são nítidas, contundentes e ela não se detém sobre como e de que forma deve falar. Doa a quem doer. 

Sueli Carneiro, presidenta do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá

Sueli Carneiro, como ela própria diz, aprendeu a “pensar preto” lendo e ouvindo o ator, poeta, escritor e dramaturgo Abdias Nascimento (1914/2011), um dos grandes intelectuais negros brasileiros, assim como aprendeu a pensar como uma mulher negra lendo e ouvindo a antropóloga, política e professora Lelia Gonzalez (1935/1994).    

Dona de prêmios muito prestigiados, como o Bertha Lutz, em 2003 (oferecido a mulheres que tenham dado grande contribuição na defesa dos direitos da mulher);  Prêmio Direitos Humanos da República Francesa, em 1998 (pela contribuição à defesa dos direitos humanos), Prêmio Vladimir Herzog, em 2020 (pela defesa da democracia, cidadania e direitos humanos), Sueli Carneiro tornou-se neste ano de 2022 a primeira mulher negra a receber o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Brasília (UnB). 

Sueli é fundadora e diretora do Geledés – Instituto da Mulher Negra e está à frente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá para Equidade Racial. No dia 14 de outubro, ela parou suas atividades no Geledés para receber a equipe executiva do Fundo Baobá. Nesse dia, Sueli Carneiro concedeu a entrevista que segue abaixo. 

Sueli Carneiro e equipe executiva do Fundo Baobá. Giovanni Harvey, diretor Executivo (à esq.); Amalia Fischer, vice-presidente do Conselho (no centro, de verde) e Fernanda Lopes, diretora de Programa (última á dir.)

Dia 30 de outubro o Brasil elege seu presidente para os próximos 4 anos. Como o Fundo Baobá vai atuar frente às diretrizes políticas que serão implementadas? 

Não acho que era um cenário em que tivéssemos duas opções ou duas perspectivas. Não existia isso. Só existia uma.  Só existe alguma perspectiva para a nossa agenda com a eleição do Lula. Porque o Bolsonaro, nos quatro anos do governo dele, manifestou com muita clareza, com muita transparência, que ele não tem  nenhum compromisso conosco, muito pelo contrário. Ele tem compromisso com o nosso abandono social, com a nossa extinção, com o nosso genocídio. Então, a pergunta para mim não se coloca. Só existe uma perspectiva: a eleição do Lula. Fora dela, nossa comunidade estará em muita dificuldade, como a própria democracia no Brasil estará em um  risco absoluto de retrocesso.  Então, só existe esse caminho. A situação do risco democrático é tão dramática, que eu espero que  o Lula restabeleça aquela velha democracia, que é insuficiente, é de baixa intensidade, mas que nos assegura poder voltar a colocar pautas em disputa na sociedade.  É a primeira responsabilidade. 

Eu acho preocupante a situação em que o país se encontra. Estamos sob  a égide de uma perspectiva fascista. O fascismo é uma doutrina que a gente conhece, e nela não tem lugar para nós (pretos). O fascismo é formado pela concepção do supremacismo branco, que está em ascensão no mundo inteiro. Então, não há projeto para nós que não seja um projeto perigoso, perverso e ameaçador. Com o Lula, o que nós esperamos, primeiro, é que o estado democrático de direito seja restabelecido. Esse é o primeiro requisito para que a gente volte a disputar,  a propor, a formular proposições, sobretudo de políticas públicas que venham a incidir sobre a desigualdade racial, no campo da saúde, da educação, no campo das representações políticas. Ou seja, em todas as dimensões da vida social o recorte racial precisa ser observado para que a gente possa corrigir. 

O que importa é que precisamos da ambiência democrática indispensável para poder pautar nossos temas. E o Baobá também depende disso. Caso não se efetive essa perspectiva, nós teremos trevas para enfrentar. E o Baobá terá que se preparar para dar suporte à resistência negra,  para fazer a travessia nesse momento que poderá ser de trevas e que  não desejamos. Mas se ele ocorrer, é este papel que terá que ser feito: apoiar nossa gente nas estratégias de resistência e sobrevivência ao abandono social. 

Que análise pode ser feita dos últimos quatro anos sob o olhar da governança de um fundo que trabalha pela Equidade Racial no Brasil? 

Tenho orgulho de ter estado no Baobá num momento de grande complexidade. Num momento de agravamento da questão racial no Brasil. Momento que também foi fortemente atravessado por um elemento impensado que foi a pandemia. Isso teve um grande impacto sobre o próprio Baobá. Isso é um sintoma do que poderia vir a ser o agravamento da questão política no nosso campo. O Baobá rapidamente se reciclou durante a pandemia. Rapidamente se localizou naquilo que deveria fazer. Naquilo em que deveria atuar. E foi um momento curioso, paradoxal, porque o problema era de extrema gravidade, mas também foi a oportunidade que o Baobá teve de se enraizar mais na população negra, de se fazer presente na população negra que está em territórios mais vulneráveis. Foi paradoxal neste sentido, porque a pandemia nos empurrou para ir ao encontro dos grotões em que a nossa gente  estava padecendo mais e fazer lá o que era necessário fazer: levar algum alívio, algum amparo.  

Pela rapidez com que o Baobá agiu, pelos editais que foram criados para atender  a emergência sanitária e alimentar, a questão da sofrência que nossas famílias estavam, ter conseguido alcançar e levar algum alívio  foi uma coisa que a gente não esperava que fosse acontecer da maneira que aconteceu e que tivéssemos uma resposta com prontidão para fazer frente àquela situação.  E foi algo que a sociedade civil brasileira grandemente abraçou e se fez presente nessa situação. O Baobá foi um ator importante nesse processo. De lá para cá acho que ficou o saldo de referência de uma instituição negra, voltada para a equidade racial, mas que está atenta para as urgências da sua população e é capaz de responder de acordo.  

Eu me sinto orgulhosa de fazer parte do Baobá, num momento tão delicado que a gente teve que atravessar. E estamos alcançando índices interessantes no campo da filantropia, porque 85% das comunidades que a gente atinge (organizações, coletivos ou grupos) nunca foram financiados antes. Então, nós estamos chegando à nossa gente. Estamos chegando nos invisíveis. Essa é a parte mais importante da nossa missão.  

O Fundo Baobá não é um captador e repassador de recursos. Ele se fez para além disso. Criou uma forma de atuar dentro desse ambiente da filantropia pela justiça social. O Baobá virou referência? O Fundo é hoje inspiração para outros que estão vindo atuar nesse mercado? 

O Baobá é pioneiro no Brasil em ser um fundo voltado exclusivamente para esse tema. É um mandato único dentro do contexto mais amplo das organizações negras. E a minha visão é que a função prioritária de um fundo é captar e doar. O Baobá pode ser um ator político estratégico onde as organizações do movimento negro não têm poder de incidência. Mas a missão institucional é o fortalecimento do sujeito político movimento negro e as suas organizações, que são aquelas organizações que constroem a luta antirracista e a luta feminista no Brasil. Esse é o foco principal do Baobá: o fortalecimento da  luta contra o sexismo e o racismo na sua articulação de gênero e raça. Nessa missão, o Baobá não pode ser concorrente das organizações negras. Ele não substitui o protagonismo das organizações. Ele não deve fazer isso. Pelo contrário: ele é um agente de  fortalecimento dessas organizações. Mas há dimensões da questão racial em que pode não haver um ator político em condições de incidir nessa dimensão. Aí eu acho que o Baobá tem uma contribuição a dar. Sobretudo em questões mais estratégicas, que envolvem grandes decisões de Estado ou que envolvem estratégias de parcerias no âmbito internacional, mas nunca em concorrência com a sociedade civil negra. Jamais! Porque isso é enfraquecer o principal sujeito político que sustenta nossa luta.

A captação de recursos é o grande gargalo do Baobá. Você concorda com essa visão? 

O desafio da captação é real e não apenas para o Fundo Baobá. A sociedade civil tem esse desafio permanentemente. O que eu acho que para o Baobá pode ser um agravante é o tema. A tradição de doar para a causa racial é muito nova no Brasil.  Isso é um desafio adicional. Ter um Fundo voltado exclusivamente para essa dimensão é um projeto extremamente radical e desafiador. Ele é desafiador porque justamente desafia consensos. O consenso, por exemplo, da democracia racial. Um país que demorou o que nós demoramos para aceitar discutir o tema racial ter um Fundo voltado para esse fim é muito mais desafiador do que qualquer outra temática.  Um tema como o dos direitos humanos é um tema estigmatizado na sociedade brasileira, porque foi estigmatizado como defesa de bandidos. Da mesma maneira, com agravantes, um fundo como o Baobá, que está voltado para a equidade racial em um país que não aceita que há racismo historicamente, é um drama adicional. Depois, você tem a complicação de, mesmo quando o possível doador entende que o problema existe, se é um doador com muita visibilidade, com reconhecimento público, dificilmente ele quer associar a sua imagem a um tema desses. 

Eu sou diretora do Geledés e nós vivemos,  em muitas situações, ofertas de apoio que viriam de igrejas ou instituições renomadas, desde que a gente não falasse em racismo, a gente teria o financiamento. Se a gente falasse em criança, mas não falasse no racismo que atinge a criança negra, a gente teria o financiamento. Então, havia oferta de apoio mediante a renúncia. Mas nós temos que dizer para essa sociedade que o racismo é a mãe e o pai de todas as desigualdades. Que o racismo é o elemento estruturante de todas as desigualdades e violências.  E quando a gente pensa em mulheres negras, a gente diz: racismo e sexismo, quando se articulam recortados por raça, são o pai e a mãe de todas as violações de direitos humanos nesse país. Então, é difícil apoiar um Fundo com essas características, sabendo que ele é sustentáculo da luta que combate essas duas perversidades que existem na sociedade brasileira,  é ter que aceitar que existe um problema que é um problema sério, grave, que constrói uma apartação extraordinária nesse território, ao ponto de os índices de desenvolvimento entre brancos e negros terem diferenças abismais.

A diferença dos índices de desenvolvimento humano desses dois segmentos chega a ser grotesca. Porque a última imagem que um de nossos economistas criou é que existe um país aqui que tem o mesmo índice de desenvolvimento da Bélgica, povoado por gente branca, e um outro país, também aqui dentro, que está em uma posição, em termos de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), abaixo de muitos países africanos. E nós estamos falando de um país muito rico, que tem por marca a desigualdade, porque o drama aqui não é um país pobre. É um país com muita riqueza, mas com a concentração dessa riqueza nas mãos de um segmento racial. 

Saúde, Empreendedorismo, Recuperação Econômica, Auxílio a Populações em Situação de Vulnerabilidade, Justiça Criminal. Que outros terrenos  o Baobá ainda necessita semear? 

Acho que existe uma questão que é crítica, que ainda nós precisamos desenvolver uma estratégia de grande envergadura, que é em relação ao genocídio da juventude negra. Isso é um tema em que ainda precisamos de uma estratégia. Mas não acho que seja um tema que possa ser abraçado por uma única instituição. Não apenas nós (Fundo Baobá) desenvolvermos uma estratégia potente para lidar com essa questão. Temos que envolver muitos outros parceiros que estão conosco na luta antirracista, para enfrentarmos essa questão de frente, para assumir a responsabilidade com relação a essa problemática, que é de todas a mais perversa. Acho que esse é um tema que nos desafia e que permanece pendente, carecendo de uma incidência vigorosa por parte do Baobá e seus parceiros. 

O Baobá vai existir enquanto perdurar a questão do racismo em nosso país. A existência do Baobá vai até aí. Você acredita que isso, o racismo, poderá acabar em nosso país?  

Cada geração que se apresenta tem que cumprir o seu papel nesse combate. Essa gestão do  Baobá está comprometida com a responsabilidade de construir as condições necessárias para a permanência do Baobá o máximo possível no tempo para o cumprimento da sua missão. Enquanto existir racismo, o Baobá é necessário. Então, fortalecer o Baobá para cumprir essa missão é responsabilidade dessa gestão e das que virão. Estou muito animada com o que nós estamos sendo capazes de enriquecer o nosso endowment, o nosso fundo patrimonial, que eu espero permita atender as necessidades identificadas pela gestão atual e as vindouras. Estamos trabalhando arduamente nessa direção.  

Edital Quilombolas em Defesa: Fundo Baobá investe em organizações comunitárias e em seus projetos 

Por Wagner Prado

Há 14 meses, o Fundo Baobá para Equidade Racial, em parceria com a Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) e apoio financeiro da IAF (Inter-American Foundation) abria as inscrições para o edital Quilombolas em Defesa: Vidas Direitos e Justiça. O Brasil vivia a pandemia da Covid 19 e o Quilombolas em Defesa destinava recursos diretamente para comunidades quilombolas e povos indígenas em situação de vulnerabilidade. 

O Quilombolas em Defesa faz parte das ações da Aliança Entre Fundos por Justiça Racial, Social e Ambiental. A Aliança é uma iniciativa de filantropia colaborativa entre o Fundo Baobá, o Fundo Brasil de Direitos Humanos e o Fundo Casa Socioambiental. As três organizações fazem parte da Rede Comuá

Pela primeira vez o Brasil realiza um Censo Quilombola. Entre 1 de agosto e 29 de agosto, o IBGE já havia recenseado 386.750 pessoas de origem quilombola. De acordo com o órgão, a população quilombola está distribuída em cerca de 6 mil comunidades espalhadas pelo país. A coleta de dados do Censo foi prorrogada para dezembro. Em princípio, iria até 31 de outubro. Os estados com maior contingente populacional quilombola, até agosto, eram Bahia (116.437), Maranhão (77.683) e Pará (42.439). 

Dos 34 projetos apoiados, pinçamos dados apresentados em relatório narrativo elaborado por três organizações. São elas:  Associação Comunitária Quilombola dos Agricultores Familiar de Patos II, da cidade de Campo Formoso, na Bahia, que tem o projeto Quintais Produtivos: Fortalecimento de Iniciativas Agroecológicas Realizadas por Jovens e Mulheres. Sua líder é Aliete Alves da Gama. A segunda coleta foi com a  Associação de Remanescentes de Quilombolas da Praia de Sabauma, em Tibau do Sul, no Rio Grande do Norte.  Firmino Gomes de Castro Neto é quem responde pela coordenação do projeto Raízes Ancestrais do Sabor e Saber: Cultivando Alimentos Ecológicos e Biodiversos. A Comunidade Kilombola Morada da Paz Território de Mãe Preta (CoMPaz),  cujo responsável é  Baoga Babá Kinni, seu conselheiro gestor, foi a terceira. O projeto é o  Kanzuá Comida Sagrada no Território da Mãe Preta. A economia quilombola está bem centrada na produção agrícola, que é feita visando alimentar de forma interna (comunidade) e externa (venda para a arrecadação de fundos). 

É possível descrever alguma influência do apoio recebido por meio desse edital nas ações que a Associação realiza? 

Associação Comunitária Quilombola dos Agricultores Familiar de Patos III (Aliete Alves da Gama) – Ocorreu a ampliação da relação de confiança entre a direção e os associados por conta da transparência do serviço prestado. Credibilidade nos trabalhos prestados pela comunidade, fortalecimento da associação e melhoria na comunicação, principalmente após a compra de um notebook, o que tem facilitado a comunicação interna e a divulgação para fora das ações da associação. 

Associação de Remanescentes de Quilombolas da Praia de Sabauma (Firmino Gomes de Castro Neto) – Houve uma maior sensibilização para a questão da segurança alimentar entre os membros da equipe interna e também a comunidade. Também ocorreu o aprendizado no sentido do planejamento, da gestão desse planejamento, prestação de contas e documentação. Documentamos cada etapa do que foi feito. Passamos a entender melhor a questão de contratação legal de serviços e também de profissionais externos (prestadores de serviços). O projeto passou a mobilizar interesses para o plantio agroecológico, o que gerou a ativação de espaços coletivos anteriormente em desuso. 

Comunidade Kilombola Morada da Paz Território de Mãe Preta (Baoga Babá Kinni) – CoMPaz (RS) – Consideramos que o apoio recebido nos potencializou na nossa organização interna, nos auxiliando na escrita de novos projetos e na escrita dos relatórios de prestação de contas. Hoje nos sentimos muito mais empoderados para nos candidatarmos ao recebimento de recursos. Estamos potencializando o empreendedorismo sócio-comunitário na CoMPaz com as oficinas e feiras que estamos desenvolvendo. Neste sentido, o apoio que tivemos e estamos tendo do Fundo Baobá tem sido muito significativo. 

Para garantir que os resultados do projeto fossem alcançados, que desafios vocês tiveram que superar? 

Associação Comunitária Quilombola dos Agricultores Familiar de Patos III (Aliete Alves da Gama) –   Tínhamos poucos recursos financeiros. A estratégia para superar isso foi utilizar mão de obra familiar e aproveitamento de materiais disponíveis na comunidade. A questão do transporte para a coordenação fazer a mobilização das famílias no território foi difícil de solucionar, mas conseguimos isso com a potencialização do veículo utilizado pelo projeto. Outro fator vencido foi o da distância de entrega dos produtos e equipamentos pelos fornecedores. O trajeto da loja até a comunidade. A estratégia foi considerar o frete no valor global da  licitação.

Associação de Remanescentes de Quilombolas da Praia de Sabauma (Firmino Gomes de Castro Neto) –  Tivemos insuficiência de recursos humanos qualificados para cumprir etapas burocráticas. Mas nossa equipe passou a dedicar mais tempo para o aprendizado e para para cumprir as tarefas existentes. A reabertura do processo de titulação de terra quilombola por parte do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) causou uma ruptura entre os membros da associação e a comunidade. Isso fez com que decidíssemos nos manter afastados dessa questão e optamos por colocar nosso foco na temática da segurança alimentar e nutricional. 

Comunidade Kilombola Morada da Paz Território de Mãe Preta (Baoga Babá Kinni) – Tivemos excesso de chuvas no período de inverno. Fizemos uma necessária reprogramação das atividades. Houve dificuldades para conseguir mudas e sementes de qualidade próximo ao nosso território. A solução foi vencer a distância de 50km e buscar essas mudas e sementes em Porto Alegre. 

O edital ofereceu algumas atividades de formação. Como esses conhecimentos  estão sendo postos em prática? 

Associação Comunitária Quilombola dos Agricultores Familiar de Patos III (Aliete Alves da Gama) –  Sim, porque conseguimos ampliar e potencializar os sistemas produtivos já integrados, já existentes no quilombo com a aquisição de materiais para o melhoramento das estruturas de hortifruticultura e avicultura das famílias.  Compramos 9 telas de galinheiro, arame e estacas para esticar as telas. Isso contemplou 9 famílias da comunidade. Compramos 90 saquinhos de sementes diversificadas (coentro, alface, cebolinha, rúcula) e 135 mudas de goiaba, manga, laranja, pinha e acerola. Realizamos  roda de aprendizado sobre Soberanias e Segurança  Alimentar e Nutricional. Houve o comparecimento de 13 pessoas. Compramos 18 sacas de milho,  que serviram de ração para as galinhas de 9 pessoas beneficiadas pelo projeto. Fizemos uma oficina teórico-prática sobre manejo sanitário e alimentação alternativa de aves. A oficina foi ministrada por técnico agrícola e alcançou 12 pessoas. Por fim, efetuamos a compra de notebook que vai facilitar a comunicação, a participação do grupo em eventos virtuais, além de servir como ferramenta de arquivamento dos arquivos digitais da associação. 

Associação de Remanescentes de Quilombolas da Praia de Sabauma (Firmino Gomes de Castro Neto) – Sim. Estamos em fase de execução do objetivo específico, que é estruturar cultivos de alimentos da cultura quilombola (raízes, macaxeira, batata doce, inhame) através do incentivo de práticas tradicionais agroecológicas e modelos comunitários. Estamos realizando reuniões para apresentar o projeto para colaboradores e instituições. Fazendo visita técnica aos produtores, além do cadastramento dos mesmos e relatórios de campo.  As visitas técnicas têm apoio da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte e do IFRN (Instituto Federal Rio Grande do Norte) para levantar dados para projeto de compostagem e gestão de resíduos sólidos que gerem insumos agrícolas e sejam utilizados no plantio. Também estamos mais tecnológicos, com a compra de equipamentos eletrônicos, compra de cadeiras e mesas e instalação de rede de acesso à internet. 

Comunidade Kilombola Morada da Paz Território de Mãe Preta (Baoga Babá Kinni) –  Na medida em que o projeto avança, estamos nos sentindo melhor para potencializar o cultivo de ervas fitoterápicas e a articulação da produção de verduras e legumes agroecológicos. Realizamos um curso de construção de estufa, de 26 a 30/09,  para fortalecer o cultivo agroecológico. Tivemos o comparecimento de 12 pessoas. Fizemos uma feira na Morada Portal, em Porto Alegre. Foram levados produtos da CoMPaz, como fluidos, pomadas e  sabonetes. Público alcançado foi de 35 pessoas., Também fizemos uma feira no Terreiro de Chão Batido da CoMPaz, que teve público de 40 pessoas. Os produtos comercializados foram todos produzidos pela CoMPaz. Temos tido boa receptividade do público, boa articulação da liderança da comunidade, o trabalho vem sendo feito com muita unidade, com  planejamento estratégico e grande cooperação das nossas redes de apoio.

O Edital

As propostas selecionadas pelo edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça tinham que estar alicerçadas em um dos três eixos temáticos estabelecidos. 1) Recuperação e Sustentabilidade Econômica nas Comunidades Quilombolas; 2) Promoção da Soberania e Segurança Alimentar nas Comunidades Quilombolas e 3) Resiliência Comunitária e Defesa dos Direitos Quilombolas.  O Eixo Temático 1 prioriza iniciativas de aquisição de equipamentos e mercadorias, além da produção e comercialização de produtos quilombolas; o incentivo à criação de metodologias coletivas de planejamento, além da gestão de compras e vendas e a geração de empregos. No Eixo 2, organizações com foco no fortalecimento da cultura e tradição na produção de alimentos; agricultura de subsistência; segurança alimentar por intermédio de novos arranjos entre campo e cidade; fortalecimento da perspectiva agroecológica quilombola e agroecologia a partir da perspectiva quilombola. O Eixo 3 visa o fortalecimento de ações solidárias que contemplem necessidades das comunidades quilombolas , frente ao problemas advindo da Covid-19; fortalecimento de soluções criativas em torno da mobilização de recursos financeiros, técnicos e humanos para promover transformações na comunidade e uso da tecnologia para mobilizar e engajar quilombolas na busca por seus direitos. 

Desenvolvimento de Habilidades Socioemocionais e Capacidades Técnicas entre  Alunes do Programa Já É

Por Ingrid Ferreira

O Programa Já É: Educação e Equidade Racial que está no seu segundo ano de execução, para além de prover bolsa de estudos em curso pré-vestibular, também proporciona acompanhamento psicológico e atividades focadas no aprimoramento de habilidades socioemocionais e comportamentais em sessões coletivas e individuais entre pessoas participantes. 

Segundo o Ipea: “A população negra corresponde a apenas 32% dos habitantes com nível superior, ao passo que somente 9,3% dos negros completaram esse nível educacional (versus 22,9% da população branca, com 25 anos ou mais)”. Por isso, estudantes que foram aprovades e iniciaram a universidade em 2022, seguem integrando o programa.  

Como afirma Ellen Piedade, coordenadora do time de mentores do Já É: “Temos como propósito combater o racismo, por meio de capacitação de alta qualidade e estímulo ao desenvolvimento de habilidades socioemocionais em pessoas negras. Especificamente na mentoria para estudantes, atuamos a partir de uma metodologia afrocentrada,  que oferece ferramentas para lidar com o desafio pré-universitário  e universitário”.  Ellen é Gestora de Políticas Públicas pela Universidade Cândido Mendes e bacharel em Ciências Políticas pela Universidade de Brasília. Ela e o time de mentores falam mais sobre o trabalho que realizam com estudantes apoiados pelo Baobá na matéria “Programa Já É: Mentoria contribui para fortalecer potencialidades”.

As evidências das desigualdades na permanência de pessoas negras e pessoas brancas na universidade são nítidas, por essa razão o Fundo Baobá realiza um apoio mais integral aos estudantes negres participantes do Já É. “Esforços de fortalecimento da auto estima, auto gestão,  planejamento, aprendizagem reversa (aprendendo com os erros) faz-se crucial, sabemos que no futuro próximo estes jovens poderão se converter em importantes agentes de transformação social, poderão ocupar  espaços que a estrutura social racista insiste em exclui-les. Este pensamento estratégico de investir no presente para mudar o futuro sempre dialoga com as diretrizes do movimento negro”, explica Fernanda Lopes Diretora de Programa.  E ela continua, “para além desses esforços contamos ainda com funcionários da Metlife Brasil que atuam como mentores voluntários. Elas e eles compartilham suas experiências de vida, carreira, formação, fazendo com que o grupo de estudantes, no contato com realidades e experiências diversas, também possa se inspirar no delineamento de seus projetos de vida”. 

A estudante Alice Silva Gomes,  ao nos contar sobre a mentoria individual com colaborador da Metlife,  explica que: “A mentoria foi muito boa para reflexão e conhecimento sobre a vida e mercado de trabalho”. E ao ser questionada a respeito das mudanças que ela tem experimentado em sua vida associando com as habilidades que adquiriu nos encontros do Black Coach, Método Abayomi de mentorias coletivas, a afirmação foi a seguinte: “Está me ajudando a organizar melhor o tempo e me adaptar a minha rotina, fazendo o que é possível dentro da minha realidade”.

Se organizar para fazer tudo o que é necessário dentro do tempo que se tem disponível  é sempre um grande desafio. Neste contexto, a estudante Ana Cláudia Rocha de Souza afirma que: “A questão da gestão do tempo está me ajudando bastante, principalmente na faculdade e no trabalho”. Ana Claudia está cursando Psicologia, na Universidade São Judas Tadeu.

João Gabriel Ribeiro, que ingressou no curso de Pedagogia, na mesma universidade que Ana Claudia, ao ser questionado a respeito das mudanças que observou em sua vida a partir das mentorias, conta que: “Tem me ajudado muito com as habilidades socioemocionais que o mercado tem exigido, além de saber me impor, enquanto profissional negro, diante das situações de racismo velado no meu trabalho ou na faculdade, as quais eu nem sempre conseguia perceber.”

Para o Fundo Baobá o Programa Já É e os investimentos em educação são mais uma oportunidade para desenhar novas perspectivas de futuro no presente, enfrentar os efeitos psicossociais do racismo e contribuir para o desenvolvimento de pessoas negras. 

Baobá na imprensa em Setembro

Por Ingrid Ferreira

No mês de setembro o Fundo Baobá experimentou várias oportunidades na  mídia com a repercussão do edital  Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial, que conta com apoio da Imaginable Futures e Fundação Lemann, sendo notícia no Diário do Amapá, Meio Norte, Folha BV, Tribuna do Norte, Blog Suébster Neri, Blog do Seridó, O Imparcial, Diário da Manhã, G1, Instituto Unibanco, Prosas, O Popular, TV 247, TV Globo, SBT, Correio Nagô e Mundo Negro.

O Fundo Brasil publicou a matéria “Aliança entre Fundos participa do evento de 10 anos da Rede de Filantropia para a Justiça Social”, a Aliança Entre Fundos é composta pelo Fundo Baobá, Fundo Brasil e Fundo Casa e estiveram presentes em uma mesa para compartilhar a experiência de filantropia colaborativa durante o  evento. A Aliança também foi mencionada  em publicação da Revista Filantropia com o seguinte título “Aliança Entre Fundos Apoia Projetos Quilombolas e Indígenas no Enfrentamento da Pandemia da Covid-19”.

E a Câmara Brasileira do Livro e Publish News mencionaram a  Presidenta do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá, Sueli Carneiro, homenageada como Personalidade Literária de 2022 pelo Prêmio Jabuti / CBL, sendo Sueli a primeira Personalidade Literária do Prêmio não proveniente do eixo literatura.

O Baobá também foi mencionado pelo Sonho Seguro e Segs, que publicaram matérias  sobre a parceria entre MetLife  e Fundo  no Programa Já É. O IDIS citou a participação do Diretor Executivo do Fundo Baobá, Giovanni Harvey, na 11ª edição do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais.

Apoiadas do Fundo Baobá:

Em setembro na Coluna Negras que Movem do Portal Geledés, houve a publicação dos seguintes artigos: “Meu voto é para mudar a história e o seu?” escrito por Carolina Brito, “Uma lição de reverência: Iza no Rock in Rio” por Josi Souza e “Mês de Conscientização da dor: uma ação de interesse público” pela autora Evânia Maria Vieira.

Baobá na imprensa em Agosto

Por Ingrid Ferreira

O mês de agosto é o mês da filantropia negra, e o Fundo Baobá esteve fortemente presente na mídia, sendo mencionado por veículos como Yahoo, Valor Econômico, Folha, Jornal Hoje, Crazy Kiwi, Estadão e além de participar  do evento “Mês da Filantropia Negra 2022” do GIFE.

E o Baobá também foi bastante comentado pelo lançamento do seu novo edital Educação e Identidades Negras, que conta com o apoio da Imaginable Futures e Fundação Lemann, sendo notícia no Linkedin da Fundação Lemann, Captadores, Filantropia, Leia Já, Brasil 247, Mundo Negro, Terra, Associação Paulista de Fundações, Observatório do Terceiro Setor, Diário de Petrópolis, GIFE, R7, Correio Braziliense, Folha, Geledés, Escola Aberta 3º Setor, Alma Preta, TV periferia em foco, Gueto Hub do Pará, Fundo iratapuru do Amapá, Exprex Capital, Agência Patrícia Galvão, Programa Integrar +, Jornal de Brasília, Diário da Manhã, Notícias São Sebastião, Folha de BV e Voz das Comunidades.

O Fundo promoveu em Recife (PE) uma Jornada Formativa para empreendedorxs do edital Negros, Negócios e Alimentação, ganhando destaque nos veículos Revista Afirmativa, Folha de Pernambuco, UOL, Notícia Preta e Brasil 247.

O UOL publicou a matéria “Entidade busca na Justiça ação bilionária de reparação pela escravidão”, e mencionou a Diretora de Programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes, que integrou o encontro em que a pauta foi discutida, a Diretora também foi mencionada na publicação “Escola Nacional de Saúde Pública celebra 68 anos” da Fio Cruz

E o Diretor Executivo do Fundo, Giovanni Harvey, palestrou no evento “Ibase e ABIA realizam homenagem a Betinho” divulgado pela Abong e Brasil de Fato, sendo mencionado também pela Latam Journalism Review e o 17º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo ao ter participado do painel “Longa vida ao jornalismo independente: mas quem pagará por ele?”.

Em sua matéria “Instituto Unibanco Apresenta Sistema de Gestão para Equidade Racial nas Escolas na Semana de Inovação 2022”, o Instituto Unibanco relembrou o Edital Gestão Escolar para a Equidade – Juventude Negra em parceria com o Baobá.

Apoiadas do Fundo Baobá:

Na coluna Coletiva Negras que Movem do Portal Geledés foi publicado o artigo “Quase um ano depois, servidora negra exonerada pela UFPE não reaveu cargo e relata meses de incertezas e vulnerabilidade”, escrito por Nívia Tamires de Souza Cruz, Vítori da Silva foi a responsável pela publicação “Política, marketing digital e você” e a matéria “Futuro Black: não naturalize nossas ausências. Sigamos criando e ocupando espaços!” escrita por Jaqueline Fraga.

Produção Acadêmica, Combate ao Racismo e Filantropia Negra

Por Ingrid Ferreira

O livro “Consolidando Capacidades e Ampliando Fronteiras: Filantropia Para Equidade Racial No Brasil”, foi lançado recentemente, no formato de e-book, em versão bilíngue, como uma coletânea de textos inéditos selecionados no edital Chamada Para Artigos – Filantropia para Promoção da Equidade Racial no Brasil no Contexto Pós-pandemia da Covid-19. 

A importância dessa publicação foi destacada durante as entrevistas realizadas com Georgia Nunes, especialista em Docência do Ensino Superior e em Design Estratégico, a idealizadora da “Amor.a – Brinquedos Pra Uma Educação Antirracista!”, que atualmente se dedica a promover e fomentar o ecossistema de empreendedorismo feminino e é autora do artigo “O brinquedo como ferramenta de (re)construção de identidade e autoestima da criança negra na escola”, e Tássia Nascimento que é Professora, Doutora em Ciência da Literatura (UFRJ), Mestre em Estudos Literários (UEL) e autora do artigoVozes afrofemininas na literatura: memórias e significados”.

Georgia Nunes – autora do artigo “O brinquedo como ferramenta de (re)construção de identidade e autoestima da criança negra na escola”
Tássia Nascimento – Autora do artigo “Vozes afrofemininas na literatura: memórias e significados”

A conversa foi conduzida para nos deixar conhecer, e compartilhar, a percepção das autoras em relação ao trabalho que o Fundo Baobá exerce.

Fundo Baobá: Para vocês o que é filantropia negra?

Georgia Nunes

Vivemos em um país racista, profundamente marcado pela colonização de séculos, que deixou marcas em todas as esferas sociais. Por conta de todo esse histórico de exploração do povo negro, a filantropia negra constitui uma importante ferramenta de reparação, que destina recursos necessários para promover a equidade racial na sociedade.  Os recursos provindos da filantropia negra são um importante combustível para impulsionar pequenos empreendedores que, por falta de capital de giro, não conseguem competir em pé de igualdade com empresas brancas, capitalizadas; são combustível para investir na carreira de mulheres negras que só precisam de oportunidade para mostrar todo o seu potencial; e são combustível também para acelerar ideias de negócios de alto impacto, que estão adormecidas por falta de investimento. 

Tássia Nascimento

Acredito que o princípio da filantropia seja o trabalho voltado para o outro. Quando falamos em comunidade negra, é imprescindível nos sentirmos conectados com uma comunidade. É esse sentimento de comunhão que nos fortalece. Pensar em filantropia negra significa projetar algo para a melhoria da qualidade de vida das comunidades negras. Esse processo deve focar na construção de uma sociedade igualitária, o que significa que a noção de equidade racial deve fazer parte. 

Fundo Baobá: como vocês julgam que a produção do conhecimento científico na sua área pode subsidiar ações da filantropia para equidade racial?

Georgia Nunes

A minha área de atuação é a infância. Eu atuo para que as crianças possam crescer tendo acesso a uma Educação libertadora e antirracista. Produzir conhecimento sobre as infâncias é primordial para entender os impactos do racismo no começo da vida, e mais que isso, entender de que forma podemos (e devemos) lutar contra as práticas pedagógicas racistas, eurocentradas que estão instauradas sobretudo no ambiente escolar. 

Tássia Nascimento

Sempre que falamos em construir uma sociedade antirracista, precisamos considerar como parte do processo a necessidade constante do letramento da população para a desconstrução da lógica racista, para a ressignificação de uma série de estereótipos engessados ao longo do tempo. Precisamos desaprender os significados racistas construídos a respeito do corpo negro. Para isso, a produção científica é fundamental, não a única, mas uma parte do acervo para esse processo. A divulgação de artigos também.  

Fundo Baobá: Vocês acreditam que os seus artigos possam ter contribuído para realizar ações de filantropia negra que promova equidade racial?

Georgia Nunes

Acredito que meu artigo joga luz sobre uma temática que muitas vezes não é discutida, que é o racismo na infância. Trazer esse cenário pra conversa nos convida a olhar com perspectiva pra importância da Educação Antirracista para a promoção da equidade racial. É na infância, sobretudo na primeira infância, que se constroem as identidades, é onde nos construímos enquanto seres humanos, e é portanto, nesse estágio da vida, que a gente consegue promover transformações na sociedade. 

Tássia Nascimento

Sim, sem dúvidas. O meu artigo fala sobre literatura negra e, de alguma maneira, nosso imaginário foi construído de maneira racista justamente porque alguns personagens ou a própria narrativa se constituiu dentro de uma lógica racista. Outro fator se relaciona com o perfil dos autores, grande parte dos escritores considerados clássicos, são homens brancos. Analisar a literatura negra nos permite conhecer essa poética voltada para a construção de uma discursividade que caminha na contracorrente dos estereótipos estabelecidos pela literatura canônica. 

Fundo Baobá: Ter um artigo seu publicado pelo Fundo Baobá, em português e inglês. impacta sua vida profissional, pessoal e acadêmica?

Georgia Nunes

Ter uma grande organização voltada para Equidade Racial como o Baobá validando e publicando o meu artigo é um grande reconhecimento, poderia dizer que é o maior reconhecimento da área e eu me sinto muito honrada em ter tido essa oportunidade. 

Tássia Nascimento

O meu artigo impacta nas três áreas mencionadas. Pessoalmente, conseguir finalizar um artigo e publicá-lo já é por si uma tarefa árdua. O prêmio acaba sendo um reconhecimento da importância da minha pesquisa e do próprio papel da literatura negra em nossa sociedade. Tudo isso me fortalece bastante. Academicamente e profissionalmente eu sinto a publicação como uma forma de compartilhar a minha leitura sobre a literatura negra. 

Johnson & Johnson apoia iniciativa de promoção da saúde mental em comunidades quilombolas no estado do Pará

Por Wagner Prado 

O Fundo Baobá para Equidade Racial e a Johnson & Johnson reeditam parceria iniciada em 2017 com o projeto Abordando a Mortalidade Materna entre Comunidades Quilombolas do Estado do Amapá. A iniciativa estendeu para além do eixo sul-sudeste do Brasil a questão do cuidado que merecem ter as populações menos favorecidas. Nesse caso, comunidades quilombolas do estado do Amapá, em especial as gestantes negras. Agora, com a ação Saúde Mental e Resiliência em Comunidades Quilombolas no Estado do Pará  o que se pretende é promover a educação em saúde, com ênfase em saúde mental; contribuir para que estratégias de resiliência sejam estabelecidas; levar esse conhecimento a pelo menos cinco comunidades negras quilombolas; democratizar o acesso a informações sobre direito à saúde e contribuir para que o diálogo entre profissionais da saúde e comunidades quilombolas seja ampliado. 

O projeto está em fase de planejamento, com reuniões envolvendo o Fundo Baobá, a Coordenação Estadual das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Pará – MALUNGU, e outros atores locais estratégicos. O ano de 2023 vai marcar o início da ação Saúde Mental e Resiliência em Comunidades Quilombolas no Estado do Pará. Sobre ela, o gerente de Impacto na Comunidade Brasil da Johnson & Johnson, Ewerton Nunes, deposita as mais positivas expectativas.  

Ewerton Nunes – Gerente de Impacto na Comunidade Brasil da Johnson & Johnson

Lideranças quilombolas e parceiros locais, em parceria com o Fundo Baobá,  irão implementar a ação Saúde Mental e Resiliência em Comunidades Quilombolas no estado do Pará. O que levou  a Johnson & Johnson a voltar sua atenção para essa localidade e para essas comunidades? 

Ewerton Nunes – A Johnson & Johnson, por meio do seu centro em inovação para trabalhadores da saúde, está comprometida a apoiar o bem-estar e resiliência de enfermeiros e agentes comunitários de saúde em todo o mundo. Assim, a empresa está trabalhando para combater a injustiça racial e social no planeta, especialmente na saúde pública.

A Johnson & Johnson se comprometeu a investir US$ 100 milhões nos próximos cinco anos para promover soluções de equidade racial e social em saúde.

Junto com o Fundo Baobá, identificamos o impacto negativo que a pandemia do COVID-19 teve na saúde mental das comunidades quilombolas e assim co-criamos esta iniciativa de promoção de saúde mental e resiliência com foco na instrumentalização das lideranças comunitários de saúde,  agentes de influência positiva para promoção de saúde e bem estar mental dos residentes destas comunidades.   

A escolha da população quilombola foi realizada pelo próprio Fundo Baobá,  que fez a análise dos dados de vulnerabilidade social e acesso à saúde pela população negra em diversas regiões do Brasil. O Pará foi escolhido tendo em vista ser um dos estados com a maior concentração de populações quilombolas do Brasil, e o estado onde houve maior número de vítimas fatais por COVID-19.

Vocês têm ideia de quantas pessoas serão alcançadas por essa ação no Pará? 

Ewerton Nunes – Esperamos que o projeto promova educação em saúde mental e contribua para estratégias de resiliência em 5 comunidades negras quilombolas rurais localizadas no Pará. Com base nos dados apresentados pelas lideranças locais foi escolhida  a região Tocantina como o foco das atenções do projeto.

Essa iniciativa tem um lado educacional forte, que é promover a educação popular em saúde. Existe carência desse tipo de conhecimento no Brasil?  Essas informações que serão passadas poderão levar as pessoas a lidar melhor, conhecer e talvez evitar que tipos de doenças?

Ewerton Nunes – As práticas de promoção a educação popular em saúde levam em conta a produção de novos conhecimentos e a sistematização de saberes com diferentes perspectivas teóricas e metodológicas, produzindo ações comunicativas, conhecimentos e estratégias para o enfrentamento dos desafios.

Neste sentido, o projeto Saúde Mental e Resiliência em Comunidades Quilombolas no Estado do Pará tem muito a ganhar ao propor espaços para que os usuários da rede de saúde,  junto aos profissionais desse segmento, possam elaborar novas formas de organização em saúde, em práticas que consideram outros saberes de cura e cuidado.  

Os quilombolas descendem dos povos negros escravizados aqui no Brasil. A J&J enxerga essa iniciativa como, também, uma ação reparadora? 

Ewerton Nunes – A Johnson & Johnson entende que ações reparatórias são urgentes e necessárias para alcançarmos a equidade racial e social. Nosso esforço é focado na área da saúde, que como em todas as áreas da sociedade no Brasil e no mundo é também desigual com as populações negras. Por isso, criamos globalmente o programa Our Race to Health Equity (Nossa Corrida pela Equidade na Saúde), que engloba diversas ações que a J&J está executando em diferentes locais do mundo, com foco em gerar mais acesso à saúde a populações afrodescendentes.

Localmente, nós também contamos com outras iniciativas que buscam reparar as iniquidades raciais. Como o nosso grupo de colaboradores que trabalham para implementar processos e políticas de inclusão e equidade para pessoas negras, chamado SoulAfro. Este grupo criou a iniciativa Axé, que tem como objetivo contribuir com o desenvolvimento educacional e profissional de pessoas negras, oferecendo oportunidade de treinamento, empregabilidade e carreira. O programa está trabalhando com 60 estudantes negros, de ensino médio e universitário, e 30 profissionais negros, que são colaboradores da companhia.

Como a J&J tem trabalhado o tema do Racismo e da Equidade Racial com seu público interno (colaboradores e terceirizados) e com os diferentes públicos externos que alcança? 

Ewerton Nunes – A J&J promove ações e debates internos por meio do SoulAfro, grupo de afinidade da Johnson & Johnson que busca a equidade étnico-racial, atuando nos pilares de cultura, comunicação e carreira.

Em 2022, uma de suas iniciativas foi o lançamento do programa SoulAfro Axé. A iniciativa surgiu como uma forma de enfrentamento ao racismo existente no país e sua proposta é desmontar a pirâmide de desigualdade e promover equidade racial.

O programa é destinado a estudantes de ensino médio e graduação, residentes na cidade de São Paulo, e profissionais negros que são colaboradores da empresa. O intuito é dar todo suporte para que essas pessoas possam crescer no âmbito educacional e profissional. Para isso, a J&J oferece um suporte 360º aos participantes, disponibilizando as ferramentas necessárias para seu desenvolvimento. Os benefícios ofertados são:

Para estudantes: 

Educação e Saúde: reforço escolar, orientação vocacional, aulas de inglês, incentivo à cultura, acompanhamento psicológico e incentivo à atividade física.

Infraestrutura e Segurança: fornecimento de mobiliário, acesso à internet, computador, suporte de TI, auxílio alimentação, auxílio farmácia e auxílio maternidade/paternidade.

Empregabilidade e Desenvolvimento: palestras, mentoria para PDI (Plano de Desenvolvimento Individual), trilhas de desenvolvimento, visita às fábricas da J&J e engajamento em grupo.

Para colaboradores:

Os colaboradores têm direito a passar por uma trilha de aprendizado com foco em aceleração de carreira, desenvolvido em parceria com a área de treinamento da J&J e a Tree, empresa de consultoria e educação em Diversidade e Inclusão.

Edital Vidas Negras Apoia Organizações que Defendem os Direitos de Pessoas Privadas de Liberdade e de seus Familiares

Por Ingrid Ferreira

Lançado em 5 de maio de 2021 pelo Fundo Baobá para Equidade Racial com o apoio do Google.org, o edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça é voltado para apoiar entidades negras que atuam no enfrentamento do racismo, da violência racial e incorreções que ocorrem dentro do sistema de Justiça Criminal no Brasil. 

Entre as organizações cujo projeto foi aprovado no eixo III do edital “Enfrentamento ao encarceramento em massa entre adultos e jovens negros e redução da idade penal para adolescentes”, encontram-se o Instituto Negra do Ceará e a Associação de Mães e Familiares de Vítimas de Violências do Estado do Espírito Santo. 

Segundo o G1 “Em 15 anos, a proporção de negros no sistema carcerário cresceu 14%, enquanto a de brancos diminuiu 19%. Hoje, de cada três presos, dois são negros”. E a BBC News Brasil, publicou uma matéria no ano de 2021 sobre o sistema socioeducativo no país, em que consta que: “Segundo o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), 46 mil menores de idade em conflito com a lei foram atendidos pelo órgão no ano de 2020. Ao todo, 59% dos adolescentes eram negros e 22%, brancos”.

O Instituto Negra que, em parceria com o Coletivo Vozes de Mães e Familiares do Socioeducativo e Prisional, implementa o projeto Levante Pretas: Resistências Coletivas, e a Associação de Mães e Familiares que implementa o projeto Rede de Familiares em Luta Contra a Violência de Estado e Racismo tiveram suas vozes ampliadas em um diálogo com a equipe do Fundo Baobá. Alêssandra Félix fundadora e Coordenadora do Coletivo Vozes e a Patrícia Oliveira integrante da Rede, foram entrevistadas. Confira abaixo:

Fundo Baobá: O que motiva pessoas/familiares a se organizar em associações como a que vocês integram?

Alessandra Félix,  Coletivo Vozes

Nós nos organizamos para combater a pauta narrativa que o Estado prega. Existe um conjunto de leis, aplicado pelo judiciário nas pessoas que cometem alguma infração e existe os espaços de privação de liberdade que é para onde essas pessoas são mandadas. Mas qual é a narrativa do Estado? O Estado recorre por uma questão de ordem social, e a proposta é que essas pessoas percam a liberdade, se repensem e saiam melhores, só que a proposta que existe lá, é completamente diferente da que é colocada em prática, porque a punição piora as pessoas. E, quando nós familiares passamos a visitar, a gente vê o desserviço dos espaços. Começa na falácia da proposta da educação, ali não está para ressocializar os adolescentes, o espaço os transforma em futuros moradores de presídios. Os adolescentes, quando não são assassinados voltando para os seus territórios, que é uma outra discussão, eles vão morar em presídios. Então nós nos organizamos para desconstruir essa narrativa e também porque entendemos que o Estado, dentro de suas práticas,  nega, oprime, viola e destrói toda condição de sociabilidade que existe dentro dessas pessoas. Nós somos a humanização, é preciso que se ressalte que somos nós, mulheres negras. Existe uma cor da mulher que visita e que humaniza os espaços de privação de liberdade; a gente se organiza a partir daí. Nossa experiência começou na socioeducação do Coletivo Vozes, e vimos que o Estado nos devolvia um outro filho, um adolescente sem sonhos, sem perspectivas, mais violento. Então, quando nos tornamos mães do sistema prisional nós nos percebemos, dentro dessa construção de defensoras dos direitos humanos, por conta de todas as violações de direitos que existem dentro desses espaços, então a gente passou a se organizar para a desconstrução dessa narrativa e dessa falácia do Estado.

Alêssandra Félix – Fundadora e Coordenadora do Coletivo Vozes – Ceará

Patrícia Oliveira, Associação de Mães e Familiares de Vítimas de Violências do Estado do Espírito Santo

As  pessoas são atingidas  pela  violência  do Estado  e  muitas  não  sabem  como  agir, por isso é tão importante o trabalho realizado pela Rede.

Fundo Baobá: O que está em jogo caso um movimento como este não seja forte?

Alessandra Félix,  Coletivo Vozes

O que sempre esteve colocado é esse projeto político de encarceramento dos nossos. Se nós não estivermos fortes, se não tivermos essa coragem de ceder voz e corpo para essa luta… Eu costumo dizer que somos as vozes e corpos silenciados pelo Estado e suas práticas. Somos os ecos das violações e das desumanizações que acontecem nas senzalas modernas que são os presídios. E nisso o que fica em jogo também é o futuro dos adolescentes autores de atos infracionais. Existe um filme que eu gosto de referenciar: “O Ódio que Você Semeia”. Eles falam que o ódio que você semeia nas crianças, prejudica a todos. E esse  projeto de punitivismo, do encarceramento que segue seu curso livre porque temos uma sociedade punitivista; se nós enfraquecemos, não há esse debate, que inclusive algo que nos tem deixado assustadas é a discussão da redução da maioridade penal; se enfraquecemos, essas pautas não são levadas para a academia, para os fundos, projetos e que inclusive politiza as mulheres, porque hoje nós não queremos socialização para essas pessoas, queremos prevenção. Queremos que essas crianças não cheguem nesses espaços, queremos chegar antes da bala e da algema. Essa é nossa coletividade que debate o encarceramento do povo preto, falamos muito sobre muitas coisas, inclusive que os nossos tenham a possibilidade de sonhar e estar em outros espaços de afirmação que não seja só esse da privação.

Patrícia Oliveira, Associação de Mães e Familiares de Vítimas de Violências do Estado do Espírito Santo

O que  está  em jogo em  primeiro  lugar são  as  vidas  das pessoas. Em  segundo plano  o tratamento igualitário.

Patrícia Oliveira (Coordenadora de Projeto) e Maria das Graças Nascimento Nacort (Presidenta) da Associação de Mães e Familiares de Vítimas de Violências do Estado do Espírito Santo

Fundo Baobá: E existe o direito ao direito de defesa?

Alessandra Félix,  Coletivo Vozes

Dentro da estrutura do sistema judiciário, há muitas injustiças e violações, que começam desde a apreensão do adolescente ou a prisão de uma pessoa porque é permeada pela violência por parte da polícia. Essas pessoas passam pelo seu julgamento, são sentenciadas e mandadas para lá (presídios), e eu sempre trago as duas idades, da adolescência, e da fase adulta, porque são os caminhos carcerários que nós conhecemos então, quando você pergunta se há o direito ao direito de defesa, pelo caminho da socioeducação, é possível. Tem algumas pautas que conseguimos bater, tem um grande parceiro nosso que é o Centro de Defesa a Criança e ao Adolescente, onde a gente consegue, de fato, legitimar que ali há um espaço de defesa dos direitos da criança e do adolescente, mas no sistema prisional a gente tem mais dificuldade. Tem as especializadas que são direcionadas para presos provisórios e sentenciados, e existe a estrutura da defensoria pública. Em sua maioria somos assistidos por ela, mas precisamos de uma defensoria mais atuante e combatente. Existe um número muito assustador de presos provisórios que poderiam estar em casa aguardando essa sentença. São presos com sentenças vencidas mas que, pela lentidão do sistema, não têm o direito de defesa. Eu e muitas mães somos assistidas pelo sistema de defensoria pública, só que a gente deseja, dentro de todas as nossas pautas, que seja mais atuante e combatente, porque o que prevalece é o punitivismo, são poucas as portas de saída.

Fundo Baobá: Os grupos se articulam localmente? Existe uma articulação nacional?

Alessandra Félix,  Coletivo Vozes

O Coletivo Vozes surgiu em 2013, foi um coletivo matriarcal durante muito tempo, mas com o tempo fomos abrindo para os familiares que precisavam de acolhimento, e a gente se organizou para discutir a respeito do direito da criança e adolescente. A nossa primeira bandeira surge decorrente a violência contra os corpos dos nossos filhos, que era de garantia de direitos, para que parassem de bater neles, que garantisse as visitas, que se cessasse aquelas opressões que aconteciam. Em 2014 e 2015 foi um ano de perversas rebeliões aqui no estado do Ceará, inclusive com mortes nos centros, com isso precisamos de fato nos manter organizadas e dialogar sobre o que estava acontecendo; porém em 2016 e 2017 quando os meninos foram saindo (dos Centros socioeducativos), foi o período que os grupos armados e facções chegaram no Ceará e eles começaram a ser assassinados, os que não foram assassinados, migraram para o sistema prisional, e nesse período a gente sai do luto pra ir pra luta, porque os nossos filhos foram para o sistema prisional, e lá foi preciso a gente debater, porque no socioeducacional a gente ainda tem mais entrada, no sistema prisional é mais difícil. Então nós nos encontramos mensalmente para nos fortalecer, indicamos para as mulheres os espaços onde elas podem recorrer para acompanhar o processo, a gente direciona onde são as defensorias, as especializadas. Localmente, por conta da legitimidade da nossa fala e entrada no debate, a gente construiu o Fórum Popular de Segurança Pública, a Rede de Mulheres Negras do Ceará, estamos na frente estadual pelo desencarceramento, compomos o conselho estadual de direitos humanos. Agora, no âmbito nacional estamos inseridas na Rede Nacional de Mães e Familiares de Vítimas do Terrorismo do Estado, porque o que acontece também dentro dos espaços da privação de liberdade é terrorismo. E, enquanto discussão do desencarceramento, a gente compõem a agenda nacional.

Patrícia Oliveira, Associação de Mães e Familiares de Vítimas de Violências do Estado do Espírito Santo

A associação  vem  se  articulando com  varios  outros  coletivos, inclusive  faz  parte  da Rede Nacional de Mães e Familiares Vitímas de Terrorismo do estado.

Fundo Baobá: Ao longo destes anos de atuação, quais foram as conquistas? 

Alessandra Félix,  Coletivo Vozes

Eu costumo sempre dizer que éramos mães convencionais, e passamos a ser mães institucionais. Uma das nossas maiores conquistas foi nos politizar, entender nosso lugar de mãe nesses espaços, nos tornamos defensoras dos direitos humanos, a partir daí fomos ganhando reconhecimento na nossa caminhada, na academia quando vão  pautar segurança pública ou alguma coisa voltado para o aprisionamento, sempre somos chamadas e, para nós, isso é uma conquista, pois nos tira do lugar de marginalização que o Estado nos coloca. Também hoje temos o apoio do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente, um lugar de muito respeito aos nossos olhos e nós conseguimos nos reunir lá mensalmente, acolhemos mulheres dos dois sistemas, socioeducativo e prisional. E a nossa maior conquista, foi nos submeter aos editais, nosso primeiro edital foi com o Fundo Brasil e agora estamos com o Fundo Baobá, quando o recurso vem, ele nos possibilita segurança de passagem, alimentação e de formação. Nós somos divididas, nós temos familiares, pioneiras que vem desde o início do grupo, temos mães da memória, que perderam seus filhos em 2015, 2016 e infelizmente vem perdendo, e temos mães com filhos tanto em medida socioeducativa quanto no sistema prisional, e essas mães nunca nos deixam, têm as mães que se identificam com a nossa luta e para nós isso é uma vitória. 

Patrícia Oliveira, Associação de Mães e Familiares de Vítimas de Violências do Estado do Espírito Santo

Nossa  conquista vem da  articulação e do  fortalecimento  do  coletivo, ao levar  um  pouco  da  nossa  experiência para o fortalecimento da  nossa luta.

Fundo Baobá:  Quais são as principais  pautas e os principais desafios desse movimento hoje?

Alessandra Félix,  Coletivo Vozes

As nossas principais pautas são: a prevenção, desenternamento de adolescentes autores de atos infracionais e a problematização do sistema prisional. Os nossos maiores desafios são permanecer nessa luta, ter saúde mental e seguridade. Inclusive para pautar isso aqui no Ceará. A gente não tem direito a cidade, somos perseguidas e marginalizadas. Algumas de nós está no programa de proteção, o atual governo piorou muito nosso lugar de defensoras dos direitos humanos.

Patrícia Oliveira, Associação de Mães e Familiares de Vítimas de Violências do Estado do Espírito Santo

Recursos e a articulação nacional dos  familiares de pessoas privadas de liberdade, muitos não  conhecem  seus  direitos e não sabem como recorrer a apoio.

Fundo Baobá:Sabemos que vocês listaram desafios, mas é possível imaginar os desafios futuros?

Alessandra Félix,  Coletivo Vozes

Sim, é possível! Poucas são as conquistas, mas a gente fica feliz quando um deles volta vivo e consegue se reerguer. Mas para os desafios futuros, nós temos muito receio do endurecimento das leis e das pautas de segurança pública que os políticos podem apresentar. Nós como abolicionistas desejamos um mundo sem prisões, mas o Ceará é um estado extremamente violador e encarcerador, temos só em Fortaleza mais de 8 centros  socioeducativos, no complexo de Taitinga temos quase 14 presídios, e o empecilho é essa legitimidade que ele nos tiram, porque nós temos, nós perdemos nossos filhos, muitas dessas mães enterraram seus filhos.

Patrícia Oliveira, Associação de Mães e Familiares de Vítimas de Violências do Estado do Espírito Santo

Os desafios são muitos, é a falta  de  trabalho, vulnerabilidade alimentar, além da questão psicológica, pois muitos familiares ficam doentes depois da  perda de seus filhos e isso é um grande desafio para  todos nós.

Fundo Baobá: Como o edital contribuiu com a  causa?

Alessandra Félix, Coletivo Vozes:

Tudo que nos possibilita resistir é muito bem-vindo, e é preciso que se referencie a Inegra que topou estar conosco, a importância que há para a gente é a garantia de que podemos executar algumas ações e no período da pandemia, muitas de nós ficaram desempregadas, e muitas encontram-se em vulnerabilidade social, e o projeto nos apoia nessas ações, fortalecendo como é chegar nessas mulheres, nessas famílias, porque também não é só sobre assistência, a maioria das atividades desenvolvidas foi de fortalecimento, politização, discussão sobre o que está acontecendo. Como a partir dessa dor a gente ressignifica e administra a ida aos presídios, como a gente se porta lá, como a gente fortalece uma mulher preta que está ao nosso lado, como levamos essa pauta para dentro das nossas famílias e nossa comunidade, então o projeto auxiliou no fortalecimento dessa árdua pauta e no fortalecimento enquanto organização, porque quando conseguimos receber um recurso que nos auxilia a apoiar famílias, isso retorna para a gente. E a gente vai construindo outros caminhos que não seja o cárcere ou o cemitério.

Patrícia Oliveira, Associação de Mães e Familiares de Vítimas de Violências do Estado do Espírito Santo

O projeto veio num momento muito importante para o fortalecimento da associação  e  dos  coletivos  de  familiares de pessoas privadas de liberdade em  todo  o Brasil.

Programa  “Recuperação Econômica de Pequenos Negócios”: Dois anos depois, donatários e donatárias falam de suas conquistas 

Coletivo Pretá, de Pernambuco e ConectAfro, do Paraná, foram organizações selecionadas e falam aqui sobre vitórias e transformações

Por Wagner Prado

Em junho de 2020, momento em que crescia a pandemia da Covid-19 no Brasil, o Fundo Baobá para Equidade Racial lançou um olhar sobre questões cruciais que estavam envolvendo o empreendedorismo negro no país. Era necessário promover uma ação que pudesse dar a esses empreendedores e empreendedoras negras o incentivo necessário para que pudessem tocar seus negócios e influenciar o meio-ambiente em que estavam localizados. Em parceria com a The Coca-Cola Foundation, o Instituto Coca-Cola Brasil, o Banco BV e o Instituto Votorantim foi lançado o Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de  Empreendedores Negros e Negras, que destinou R$ 30 mil para cada uma das 46 iniciativas selecionadas. As iniciativas tinham que ser formadas por 3 (três) emprendedimentos negros que atuassem em um mesmo territorio. Cada um recebeu R$ 10 mil. 

O edital Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores Negros e Negras, assim como todos os outros elaborados pelo Fundo Baobá, não se caracterizou por apenas transferir o recurso para os donatários. O objetivo foi além disso. O que se buscou foi a construção de uma trajetória de conhecimento para que empreendedores e empreendedoras pudessem melhorar a gestão de seus negócios, a divulgação de seus produtos e, a médio e longo prazos, aumentar seu faturamento. 

O Programa está completando dois anos desde seu lançamento em 2020. O aporte financeiro foi de R$1,6 milhão. As iniciativas selecionadas foram 46, com 137 pessoas que empreendem beneficiadas. 

Durante a realização do edital, alguns números foram levantados: 46 iniciativas e 137 empreendedores(as) foram impactados diretamente; 3020 pessoas ligadas às comunidades dos empreendimentos foram impactadas indiretamente; 77% das iniciativas estavam concentradas nas periferias e 88% dos empreendedores afirmaram utilizar parte do recurso para aquisição de equipamentos eletrônicos para participação nas atividades virtuais do programa e para as vendas. 

Dois desses empreendimentos foram procurados para uma conversa. O objetivo foi saber das transformações que experimentaram no período da pandemia, que dificultou o estabelecimento de negócios em vários setores. Como esses negócios e seus administradores estão agora? 

A primeira organização procurada foi o Coletivo Pretá, do estado de Pernambuco, uma associação entre Johne Roberto de Souza Santos (que empreende na gastronomia com um restaurante delivey),  Maria Izadora Silva Sousa (que produz pães de diversos tipos, geleias e compotas a partir de fermentação natural) e  Taylla Alves Gomes (fotógrafa que atua com design e vídeos). Johne falou pelo grupo. “O apoio recebido do Fundo Baobá foi muito bom para nós todos. Tivemos muita instrução e o apoio financeiro foi de suma importância. Minha empresa vai fazer dois anos e consegui abrir um espaço físico, mas ainda enfrento alguns problemas por conta da crise econômica, que é real”, afirma o empreendedor. 

Johne Roberto Santos -Coletivo Pretá

Johne Roberto Santos coloca as mentorias feitas pelo Fa.Vela, parceiro implementador do Baobá na jornada formativa, como essenciais para o seu desenvolvimento pessoal. “As mentorias me edificaram. Consigo desempenhar todas as funções dentro do meu negócio. Minha expectativa futura é analisar todos os déficits que estão fazendo a crise econômica ficar cada vez mais difícil, e conquistar um público que pague o nosso trabalho da maneira que ele vale”, afirma.  Johne,  do Coletivo Pretá,  fez questão de lembrar o momento que mudou sua trajetória no empreendedorismo. “Eu soube do edital pelo Google. Minhas parceiras não acreditaram a princípio, porque um benefício para um empreendimento negro e do interior do sertão, tendo mulheres gays, era quase que uma utopia. Mas nós insistimos e conseguimos”, diz. 

A segunda organização foi a ConectAfro, do estado do Paraná, que juntou em parceria Carolina de Fatima Monteiro, Olenka Borba dos Santos e Roberta Kisy Lourenço. A ConectAfro é uma plataforma digital com o objetivo de ampliar a visibilidade de empreendedores visando a geração de renda entre profissionais negros e negras. Carolina Monteiro fala sobre o atual momento da plataforma. “Estamos buscando uma reestruturação para o ConectAfro, que é um projeto lançado em parceria com o meu coletivo. Mas poder iniciar um novo empreendimento, sem sombra de dúvidas,  foi o passo mais importante que demos. Contudo, descobrimos também que empreender não é fácil. Por esse motivo estamos reprojetando nossa ConectAfro”, afirma. 

Carolina Lopes Monteiro – ConectAfro

Para Olenka Borba dos Santos, o aprendizado que recebeu foi a principal ferramenta para enxergar e empreender de forma mais assertiva. “A principal transformação pela qual passei foi ter adquirido conhecimento sobre gestão do negócio e  finanças. A mentoria que tivemos foi incrivelmente útil”, diz.

Olenka Borba dos Santos – ConectAfro

Roberta Kisy Lourenço define a importância do edital Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de  Empreendedores Negros e Negras para as três. “É a primeira vez que o nosso projeto é contemplado. A transformação foi de acreditar. Veio uma força. Uma fé maior. Acreditar no projeto, que é de inovação e voltado para um público bem nichado, que é o afroempreendedor. Então, isso nos deu um gás. Uma vontade de continuar”, relata. 

Roberta Kisy Lourenço – ConectAfro

Fundo Baobá divulga organizações selecionadas para Etapa 2 do edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial

O Fundo Baobá para Equidade Racial divulga a primeira lista de classificados para o edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial, após análise das propostas feitas até 6 de setembro, última data de inscrições. 

 

O Educação e Identidades Negras tem como objetivo prioritário o enfrentamento ao racismo que vem impedindo que ações voltadas ao estabelecimento da equidade racial no segmento da Educação sejam estabelecidas. O edital é apoiado pela  Imaginable Futures e Fundação Lemann que, juntas, vão aportar R$ 2,5 milhões. Estes recursos,  ao final do processo seletivo, irão apoiar 10 organizações, grupos ou coletivos negros que atuem na Educação e realizem ações de enfrentamento ao racismo, valorização das identidades negras e outras. 

 

O edital foi criado para oferecer apoio a organizações, grupos e coletivos negros na identificação e enfrentamento ao racismo no segmento educacional;  valorizar e promover as diferentes identidades culturais negras dentro desse segmento; além de fortalecer a liderança e representação de negros que atuam nos espaços de poder e de tomada de decisão dentro da esfera educacional.

 

Para Fabio Tran, Venture Partner da Imaginable Future, o racismo tem impacto total no desempenho educacional de estudantes negros. “Em todos os estados brasileiros, a diferença entre o percentual de estudantes negros e brancos com níveis adequados de aprendizagem é significativa e se mantém mesmo dentro do mesmo nível socioeconômico (dados do SAEB). Está evidente que a desigualdade racial tem afetado o direito à aprendizagem e, por diversos motivos, o estudante negro tem sido levado a aprender menos. O racismo, enraizado enquanto modelo mental na sociedade, impacta os estudantes negros e suas famílias e os submetem ao preconceito cotidianamente. Esses e outros fatores, que são reflexo do racismo estrutural, afetam diretamente a autoestima e o senso de pertencimento de estudantes negros, impactando na sua performance acadêmica”, afirma.  

 

Foram recebidas 181 propostas, das quais 83 foram consideradas válidas. Todas as organizações que avançaram para a Etapa 2 do processo seletivo declararam ser formadas e coordenadas/dirigidas por 85% ou mais de pessoas negras; comprovaram atuação no setor Educação desde 2019 ou antes; por meio de um video, explicaram a importância do apoio ao fortalecimento institucional; elaboraram propostas cujos objetivos dialogam com o edital e enviaram planos de ação e orçamento seguindo as orientações.  

 

Neste link você poderá ter acesso à lista de selecionados para a Etapa 2 do edital Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial. As próximas etapas classificatórias acontecem em 24 de outubro (Etapa 2); 07 de novembro (Resultado Final). 

Aliança entre Fundos participa do evento de 10 anos da Rede de Filantropia para a Justiça Social

Iniciativa que reúne Fundo Baobá para Equidade Racial, Fundo Brasil de Direitos Humanos e Fundo Casa Socioambiental abordará sobre ação colaborativa para apoiar quilombolas e indígenas na pandemia

A Aliança entre Fundos, iniciativa que reúne Fundo Baobá para Equidade Racial, Fundo Brasil de Direitos Humanos e Fundo Casa Socioambiental, vai apresentar a experiência de filantropia colaborativa no evento comemorativo dos 10 anos da Rede de Filantropia para Justiça Social (RFJS). Desde 2021, a Aliança entre Fundos apoia projetos quilombolas e indígenas para o enfrentamento dos impactos dos problemas agravados pela pandemia da COVID-19.

O Seminário Filantropia, Justiça Social, Sociedade Civil e Democracia, que ocorre nos dias 20 e 21 de setembro, propõe incentivar o debate sobre a contribuição da filantropia para o fortalecimento de organizações e movimentos da sociedade civil. Além de comemorar os 10 anos da RFJS, o encontro também se propõe a fomentar o debate sobre a relevância de doações para a sociedade civil e o papel da filantropia para a justiça social,

Uma intensa programação será desenvolvida ao longo dos dois dias do seminário, da qual participam dezenas de organizações da sociedade civil, nacionais e internacionais. A mesa coordenada pela Aliança entre Fundos integra a programação das mesas colaborativas e vai trazer, por exemplo, reflexões sobre a razão pela qual os Fundos escolheram essa forma de enfrentamento dos impactos da COVID-19 e quais os principais aprendizados desta iniciativa de Aliança entre Fundos para fomentar a justiça social.

Participam desta mesa Cristina Orpheo (Fundo Casa Socioambiental, Fernanda Lopes (Fundo Baobá para Equidade Racial), Juliane Yamakawa (Fundo Brasil de Direitos Humanos) e Fernanda Meister (Instituto Meraki). A mediação será feita por Érika Sanches (ACP).

Comemoração dez anos

No primeiro dia do encontro (20/09) será exibido um painel sobre a trajetória e papel da Rede no ecossistema filantrópico nacional e internacional ao longo dos seus 10 anos de atuação.

“A Rede completa dez anos de fundação, e o evento é uma excelente oportunidade para reafirmarmos nossa atuação junto ao ecossistema filantrópico nacional e internacional com foco na promoção da ampliação da mobilização de recursos a organizações da sociedade civil que atuam pela justiça social”, avalia Graciela Hopstein. Participam do painel Harley Nascimento (Fundo Positivo), Giovanni Harvey (Fundo Baobá) e Ana Valéria Araújo (Fundo Brasil de Direitos Humanos) e Roberto Vilela (Tabôa) A mediação fica por conta de Cristiane Azevedo (ISPN – Instituto Sociedade População e Natureza).

Na sequência, a mesa sobre Filantropia de Justiça Social, Sociedade Civil e Democracia no Brasil propõe a reflexão em torno da filantropia como agente de transformação.  Por meio do apoio financeiro às lutas de organizações, coletivos, movimentos e lideranças que atuam pelo reconhecimento e o acesso a direitos, com foco na diversidade e minorias políticas, a filantropia independente comprometida com essas agendas procura fortalecer a sociedade civil, entendida como um ator chave da democracia brasileira.

Participam desta mesa Cássio França (GIFE), Amália Fischer (Fundo ELAS+), Henrique Silveira (Casa Fluminense), Iara Rolnik (Ibirapitanga) e David Fleischer (IAF – Inter-American Foundation). A mediação será feita por Ana Toni (iCS – Instituto Clima e Sociedade).

Novos arranjos

A quarta-feira, dia 21/09, começa com o olhar voltado para o repensar das práticas tradicionais e hegemônicas da filantropia, propondo uma reflexão sobre como a filantropia pode fomentar transformação ao fortalecer a sociedade civil. Para isso, é preciso mudar a forma como se doa, observando as organizações e territórios que recebem apoio financeiro não como meros beneficiários, mas sim como agentes ativos da transformação.

A mesa Filantropia decolonial – caminhos e desafios no Brasil terá a participação de Cassio Aoqui (ponteAponte), Diane Pereira Sousa (Instituto Comunitário Baixada Maranhense), Allyne Andrade (Fundo Brasil de Direitos Humanos) e Ese Emerchi (GFCF – Global Fund for Community Foundations).

O Brasil tem avançado na desconstrução de práticas coloniais a partir da promoção da agenda da filantropia comunitária e de justiça social, com foco no reconhecimento de minorias políticas. Entretanto, os recursos para organizações e movimentos da sociedade civil que trabalham nesse campo são escassos e majoritariamente provenientes de financiamento internacional.

Esse modo de fazer filantropia pressupõe transformar as relações de poder, evitando a imposição de soluções de cima para baixo e reconhecendo os ativos das comunidades em busca de soluções próprias para os problemas existentes e na construção de um bem comum maior.

O segundo dia traz também o painel Democratizar a filantropia – confiança e novos arranjos, que abordará novas iniciativas no campo, formas de comunicação e olhares que despontam em diferentes territórios e grupos da sociedade civil e têm impacto na realidade, potencializando a transformação do país.

“O desafio está em entender como fazer com que a filantropia no país tenha maior abrangência, democratizando o acesso a recursos para organizações de base de maneira mais ágil e com confiança para, assim, contribuir para o fomento a uma transformação real e sustentável”, propõe Graciela.

Participam do debate Marcelle Decothé (PIPA), Aline Odara (Fundo Agbara), Larissa Amorim (Casa Fluminense) e Inimá Krenak (Fundo Casa Socioambiental), com mediação de Fernanda Lopes (Fundo Baobá).

Mesas colaborativas

O seminário promoverá também mesas colaborativas, com temáticas propostas por organizações da sociedade civil.

Após curadoria da equipe executiva da Rede de Filantropia para a Justiça Social, foram selecionadas propostas que debaterão, durante os dois dias, sempre na parte da tarde, temas como: Filantropia colaborativa e fortalecimento de territórios; Campanhas comunitárias do Dia de Doar; Filantropia na agenda de proteção de defensores e defensoras do meio ambiente; e Fortalecimento comunitário e luta por justiça ambiental. As mesas acontecem ao longo dos dois dias de evento.

A programação completa está disponível no site do evento.

Serviço:

Seminário Filantropia, Justiça Social, Sociedade Civil e Democracia 

Data: 20 e 21 de setembro de 2022.

Local: Unibes Cultural – Rua Oscar Freire, 2500 – São Paulo/SP.

Inscrições: https://seminariofilantropia.com.br/inscricoes/

Idealização e organização: Rede de Filantropia para a Justiça Social.

Produção: Necta.

Sobre a Rede

Criada em 2012, a Rede de Filantropia para a Justiça Social reúne fundos e fundações comunitárias, organizações doadoras (grantmakers) que mobilizam recursos de fontes diversificadas para apoiar grupos, coletivos, movimentos e organizações da sociedade civil que atuam nos campos da justiça social, direitos humanos, cidadania e desenvolvimento comunitário. A organização tem por propósito promover e diversificar uma cultura filantrópica no Brasil que garanta e amplie os recursos para a justiça social.

Integram o quadro de sócios fundadores as seguintes organizações membros: Fundo Baobá, Fundo Elas+, Fundo Brasil, Fundo Casa Socioambiental, ICOM (Instituto Comunitário da Grande Florianópolis), Instituto Baixada, Fundo Positivo, Casa Fluminense, ISPN (Instituto Sociedade População e Natureza), Redes da Maré, iCS (Instituto Clima e Sociedade), FunBEA (Fundo Brasileiro de Educação Ambiental), Tabôa e Instituto Procomum.

O Seminário Filantropia, Justiça Social, Sociedade Civil e Democracia – 10 anos da RFJS é promovido pela Rede de Filantropia para a Justiça Social. Tem o apoio financeiro do Instituto Clima e Sociedade, do Fundo Brasil, do Fundo Casa Socioambiental, do Fundo Baobá e da Porticus, e conta com apoio institucional das seguintes organizações: ABCR, Alliance Magazine, Comunalia, Cese, FutureBrand SP, GIFE, Global Fund for Community Foundation, Ibirapitanga, Fundação Micaia, Movimento Bem Maior, Movimento por uma cultura de doação, Philanthropy for Social Justice and Peace, Sitawi Finanças do Bem, ponteAponte, Social Docs, Stanford  Social Innovation Review Brazil, VMCA advogados e Wings.

Sobre a Aliança entre Fundos

A Aliança entre Fundos é formada pelo Fundo Baobá para Equidade Racial, Fundo Brasil Direitos Humanos e Fundo Casa Socioambiental. Iniciativa inédita surgida a partir da mobilização comunitária pela justiça racial, social e ambiental, propõe um novo modo de atuação no ecossistema da filantropia no Brasil: a filantropia colaborativa para a justiça social.  A ideia é reduzir os impactos da crise no país, especialmente junto a grupos que vivem em contextos de vulnerabilidade agravada pela pandemia da COVID-19.

Fundo Baobá para Equidade Racial

Criado em 2011, o Fundo Baobá para Equidade Racial é o primeiro e único fundo dedicado, exclusivamente, para a promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. Orientado pelos princípios de ética, transparência e gestão, mobiliza recursos financeiros e humanos, dentro e fora do país, e investe em iniciativas da sociedade civil negra para o enfrentamento ao racismo e promoção da justiça social.

Fundo Brasil

O Fundo Brasil de Direitos Humanos é uma fundação independente e sem fins lucrativos, instituída em 2006. Tem como missão promover o respeito aos direitos humanos no país, criando mecanismos sustentáveis, inovadores e efetivos para fortalecer organizações da sociedade civil e para desenvolver a filantropia de justiça social.

Fundo Casa Socioambiental

​O Fundo Casa Socioambiental é uma organização que busca promover a conservação e a sustentabilidade ambiental, a democracia, o respeito aos direitos socioambientais e a justiça social por meio do apoio financeiro e fortalecimento de capacidades de iniciativas da sociedade civil na América do Sul.