Fundo Baobá na impresa em outubro

Os editais organizados pelo Fundo Baobá para Equidade Racial foram destaques na imprensa no mês de outubro

Por Ingrid Ferreira

O Programa Já É: Educação e Equidade Racial, lançado em julho de 2020 tem o intuito de apoiar jovens negros, residentes em bairros periféricos de São Paulo e outros municípios da região metropolitana, a acessarem o ensino de nível superior, foi matéria especial na edição impressa do Estadão, no dia 19 de outubro. A reportagem Bolsas ajudam jovens negros a entrar e – a permanecer – na universidade, entrevistou a jovem apoiada Anna Beatriz Garcia, 19 anos, e a diretora de programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes. Moradora da região de São Miguel Paulista, Anna Beatriz mostrou-se  muito grata à oportunidade dada pela organização através do Programa Já É. A jovem ressaltou que: “A experiência tem ajudado muito a continuar estudando nesse momento caótico da pandemia.”

Anna Beatriz Garcia, aluna apoiada do Programa Já É  | Foto: Taba Benedicto / Estadão

Em sua fala, Fernanda Lopes reiterou a importância das atividades propostas pelo Programa Já É, que além de custear a mensalidade do curso pré-vestibular, alimentação e transporte, conta com  mentorias, coach e apoio psicossocial para enfrentar os efeitos do racismo: “As estratégias para superar alguns desafios também podem ser coletivas”. A reportagem também foi compartilhada no site da Revista Istoé e também nos portais Dom Total, Fundacred e Jornal de Brasília.

Outro edital que ganhou destaque na imprensa foi o Vidas Negras: Dignidade e Justiça, que teve a sua lista final das iniciativas selecionadas divulgada no mês de setembro, mas que ainda segue reverberando e gerando matérias, como foi o caso do portal A Serviço do Bem, que divulgou os selecionados. Por outro lado, a reta final das inscrições do Edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça foi destaque no portal da Agência Brasil, repercutindo em mais de 20 veículos regionais, entre eles: BH de Fato (MG), Repórter Maceió (AL), Norte Play (Região Norte), 3 de Julho (AC), Portal Mato Grosso (MT), Midia News (MS), entre outros.

O Edital Quilombolas em Defesa também foi destaque no site da Revista Raça e nos portais do Gife, ABCR, Filantropia, Pernambuco Transparente e Observatório do Terceiro Setor.

Apoiados do Fundo Baobá

No campo das iniciativas apoiadas pelo Fundo Baobá que ganharam destaques na imprensa no mês de outubro, temos o lançamento do livro “Voz Imune: 18 anos em movimento”, que narra os 18 anos de trajetória do Instituto de Mulheres Negras de Mato Grosso (Imune), grupo apoiado no Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. A divulgação do lançamento de “Voz Imune” foi destaque no portal RD News, do Mato Grosso.

Instituto de Mulheres Negras de Mato Grosso (Imune) | Foto: Divulgação

Ainda sobre as apoiadas do Programa Marielle Franco, a mestre em Psicologia Social, coordenadora da Rede de Atenção às Pessoas em Situação de Violência Doméstica e Sexual de Suzano (SP) e ganhadora do Prêmio Viva, promovido na parceria entre o Instituto Avon e a Revista Marie Claire, Magna Barboza Damaceno, escreveu um artigo na Folha de S.Paulo intitulado O cenário caótico x saúde mental = potência na resistência.

Enquanto a doutora em História, professora na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e escritora Giovana Xavier escreveu um artigo sobre a compositora e musicista Chiquinha Gonzaga, com o título “Escrevendo na Lua Branca: Mulheres na Primeira República”, que foi publicado no portal do Itaú Cultural e replicado no site da Prefeitura de Curitiba.

Coletiva Negras que movem

Enquanto isso, a tradicional coluna Coletiva Negras que Movem,  publicada no portal do Instituto Geledés da Mulher Negra, com as lideranças apoiadas do Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, trouxe o texto O sonho cresceu! Livro “Negra Sou: a ascensão da mulher negra no mercado de trabalho” chega a sua segunda edição, de autoria da escritora, jornalista e finalista do Prêmio Jabuti 2020, Jaqueline Fraga.

A assistente social e especialista em gestão pública, Brígida Rocha dos Santos, escreveu o artigo É de nós para Nós.

Por fim, a psicóloga doutoranda e mestre em Psicologia, gestora de Políticas Públicas de Juventude, Gênero e Raça e integrante da atual gestão do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG), Larissa Amorim Borges, escreveu o texto O que pode acontecer com a chegada de pessoas negras, periféricas, não heterossexuais nas universidades? O que a presença negra e favelada gera ou pode gerar na universidade?

Giovanni Harvey, presidente do Conselho do Fundo Baobá, participa do Fórum Brasil Diverso

 

Harvey falou do papel da organização no enfrentamento à Covid-19

Por Ingrid Ferreira

Na quinta-feira (18), ocorreu o segundo dia do evento “Fórum Brasil Diverso”. Em seu sétimo ano, o Fórum discutiu  assuntos como: Estudos e impactos da pandemia em pessoas negras; Acordos coletivos e inclusão social no mundo do trabalho; Investimento público e privado na inclusão social,  finalizando com uma entrevista especial de encerramento. 

O Brasil Diverso contou com as participações de nomes relevantes para as causas abordadas, entre eles: Alexis Mootoo (vice-presidente assistente para Gestão de Recursos e Desenvolvimento Comunitário da Universidade do Sul da Flórida – USF); José Vicente (reitor da Universidade Zumbi dos Palmares); Paulo Batista (CEO do Alicerce Educação); Douglas Izo (presidente da Central Única dos Trabalhadores de São Paulo – CUT-SP); Ricardo Patah (presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT); Thais Dumét Faria (oficial técnica em Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho da Organização Internacional do Trabalho – OIT), além da participação do presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá para Equidade Racial, Giovanni Harvey. 

Harvey integrou a mesa “Investimento público e privado na inclusão social”, que também teve a participação da Assessora Sênior da Divisão de Gênero e Diversidade do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Judith Morrison e da fundadora e CEO da DIMA Consult Luana Ozemela.

Em sua fala inicial, Giovanni Harvey citou como foi o surgimento da organização, a sua parceria com a Fundação Kellogg e o quanto já foi investido financeiramente no país: “O Fundo Baobá é a primeira iniciativa voltada especificamente para alavancar outras iniciativas lideradas por pessoas e por organizações negras, em enfrentamento à discriminação étnico racial no Brasil. Essa iniciativa foi viabilizada a partir do apoio da Fundação Kellogg, uma importante instituição filantrópica e com uma atuação ao longo de décadas aqui no nosso país. A Kellogg encerrou operações e decidiu deixar como legado um mecanismo que pudesse preencher a lacuna caracterizada pela ausência de investimento institucional para a organização do movimento negro. A partir,  então, desse impulsionamento, constituiu o mecanismo que se tornou o Fundo Baobá que, ao longo desses dez anos, doou  R$14 milhões através de editais para iniciativas lideradas por pessoas e organizações negras.”

Ao ser questionado sobre como o Fundo Baobá tem trabalhado no enfrentamento à pandemia da Covid-19 e quais são os planos para o próximo ano, Giovanni Harvey falou da atuação da organização no combate à pandemia, além de apresentar o plano de desenvolvimento de dez anos do Fundo Baobá.  “Durante a Pandemia,  que, de fato impactou a nossa operação, o Fundo Baobá,  por cerca de 20 dias no mês de abril, mobilizou recursos, um pouco menos de R$ 1 milhão, para uma ação emergencial de enfrentamento aos riscos de contaminação por Covid. Nós atendemos pessoas e organizações, aproximadamente 135 organizações e um pouco mais de 200 iniciativas feitas por pessoas, numa época em que não havia ainda nenhuma política pública estruturada.”

O presidente do Conselho Deliberativo do Baobá também disse  que a pandemia não afetou os planos futuros da organização, tanto que citou que a meta do Fundo é chegar aos R$ 250 milhões em recursos para o fundo patrimonial, para que haja uma incidência, ainda maior, nas causas que o Baobá dedica-se a atuar. Além de destacar que vê a ação filantrópica das empresas para o combate ao racismo de forma muito positiva e que a sociedade civil e a iniciativa privada têm ocupado um lugar muito importante nesse momento.

Em suas palavras finais, Giovanni Harvey citou  a participação de pessoas brancas no evento Fórum Brasil Diverso, disse que ficou impressionado com suas falas, mas também ressaltou a importância do exercício do indivíduo de acordo com a estrutura racial da construção da sociedade. 

Para acompanhar a participação do Giovanni Harvey no Brasil Diverso na íntegra, basta acessar o link

 

Fundo Baobá, em parceria com a General Mills, lança edital de alimentação na Região Metropolitana de Recife

Fundo Baobá, em parceria com a General Mills, lança edital de apoio a empreendedores(as) negros(as) do ramo da alimentação na Região Metropolitana do Recife


Para as pessoas negras que empreendem, o ramo alimentício está entre as 10 áreas de maior presença no mercado. Entretanto, com a crise econômica agravada pela pandemia do COVID-19, muitos pontos de venda fixos foram impactados negativamente, em especial, os negócios cujos donos eram mulheres.

Pensando em contribuir na recuperação econômica desses negócios e promover aos empreendedores e empreendedoras negros(as) a ampliação de suas capacidades de planejar, fazer gestão, inovar, ampliar ou estabelecer uma infraestrutura mínima para sustentabilidade do seu negócio, o Fundo Baobá para Equidade Racial, com o apoio da General Mills, empresa global de alimentos dona de marcas como Yoki, Kitano e Häagen-Dazs no país, promove o edital Negros, Negócios e Alimentação, uma iniciativa que vai apoiar 12 (doze) empreendimentos negros do ramo da alimentação de consumo imediato, formalmente instalados há 2 anos ou mais na Região Metropolitana de Recife. O edital contempla microempresas, microempresas individuais e empresas de pequeno porte.

As(os) empreendedores(as)  selecionadas(os) receberão um aporte financeiro de R$ 30.000 (trinta mil reais), além de assessoria e suporte técnico, e terão 09 (nove) meses para executar os seus projetos  e apresentar a prestação de contas final.

Serão priorizadas propostas que envolvam negócios negros situados em Recife, Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Paulista, Cabo de Santo Agostinho e Camaragibe, dado que essas cidades concentram 90% dos negócios deste setor. Também serão propostas apresentadas por mulheres negras cis ou trans e de empreendedores(as) negros(as) que nunca foram apoiadas(os) pelo Fundo Baobá para Equidade Racial.

O objetivo da General Mills no apoio ao projeto é criar condições para que os empreendedores escolhidos conheçam a fundo os seus negócios e as suas capacidades a fim de gerar um impacto positivo em toda a comunidade, a partir da expansão dos seus empreendimentos e para que sejam, num futuro próximo, geradores de novos empregos por meio da ampliação dos serviços, aumento das vendas e crescimento de antigas e novas relações de negócios. Além disso, com a iniciativa, a empresa tem o intuito de fortalecer e ampliar a sua jornada de diversidade e inclusão étnico-racial no Brasil. 

Inscrições

As inscrições para o edital Negros, Negócios e Alimentação estarão disponíveis a partir do dia 18 de novembro e vão até 15 de dezembro. As(os)  interessadas devem preencher  um formulário eletrônico disponível exclusivamente neste link.  

Vale lembrar que o processo de seleção contará com três etapas eliminatórias. O resultado final será divulgado no dia 18 de fevereiro de 2022, no site oficial do Fundo Baobá.

Para entender melhor os critérios de elegibilidade do programa, basta acessar o edital através deste link. 

Realizadores

Criado em 2011, o Fundo Baobá para Equidade Racial é o primeiro e único fundo dedicado, exclusivamente, para a promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. Orientado pelos princípios de ética, transparência e gestão, mobiliza recursos financeiros e humanos, dentro e fora do país, e investe em iniciativas da sociedade civil negra para o enfrentamento ao racismo e promoção da justiça social.

A General Mills é uma empresa líder global em alimentos e trabalha “fazendo os alimentos que o mundo ama”. Com sede em Minneapolis, Minnesota, EUA, a companhia chegou ao Brasil em 1997. Em novembro de 2020, assumiu publicamente o compromisso de ser um instrumento importante de mudança promovendo iniciativas práticas para equidade racial. Ao reconhecer que o racismo deixa marcas todos os dias em diversas sociedades, há séculos, a empresa se mobiliza e busca contribuir para os avanços em políticas de inclusão e, sobretudo, de preservação da vida de pessoas negras.

Serviço

O quê? Lançamento do edital Negros, Negócios e Alimentação

Período: 18 de novembro a 15 de dezembro

CLIQUE AQUI PARA SE INSCREVER

Público-alvo: empreendedoras(es) negras(os) da área de alimentação de pronto consumo da região metropolitana do recife com registro formal até 2019.

Fundo Baobá reúne equipe para planejar 2022

 Encontro marcou  primeiro olho no olho entre colaboradoras e colaboradores desde o início da Pandemia 

Por Wagner Prado

O Fundo Baobá para Equidade Racial reuniu  seus times de Programas e Projetos, Administrativo-Financeiro, Comunicação (Branding/Marketing/Criação, Imprensa e Divulgação) e Captação para estabelecer um plano de trabalho e metas para o ano de 2022. A ideia foi levar a equipe a realizar exercícios de criação sobre cenários e soluções para superar um de seus principais  desafios: motivar mais pessoas físicas e jurídicas a doarem em prol da busca pela equidade racial no Brasil. 

Os times do Fundo Baobá foram reunidos entre  os dias 1 e 6 de novembro no Ipê (Instituto de Pesquisas Ecológicas), localizado na cidade de Nazaré Paulista, interior de São Paulo. A cidade bucólica também abriga a Represa de Nazaré, considerado um dos locais mais bonitos do interior do estado. Esses detalhes contribuíram para que as criatividades estivessem afloradas, o que motivou ainda mais a jornada de trabalho.

Um fato importante marcou os dias do time Baobá em Nazaré Paulista. Muitos(as) das e dos colaboradores(as) não se conheciam pessoalmente. Por conta da Covid-19, o Baobá vem trabalhando no sistema de home-office desde a decretação da pandemia, em março de 2020, portanto há um ano e oito meses. Quem se juntou à equipe nesse período só havia tido contato virtual com as e os colegas. O contato físico, seguindo protocolos e  determinações de cuidado com a saúde, foi alcançado durante o encontro.    

Equipe do Fundo Baobá

Ao longo da semana, os times foram integrados e levados a rodas de conversa. Na sexta-feira (5), porém, todos trabalharam em conjunto. Duplas e trios de criação foram montados, juntando pessoas de diferentes áreas. Vários cenários foram levantados e cabia às equipes levantarem soluções práticas que possam ser implementadas em 2022. 

O encontro do Fundo Baobá foi encerrado no sábado (6) com uma confraternização iniciada com um passeio de barco pela Represa de Nazaré Paulista, algo apreciado por todas as pessoas envolvidas devido ao dia maravilhoso naquela região. Após o passeio de barco, um churrasco foi servido. Agora é transformar em ações tudo o que foi pensado para que as metas sejam alcançadas. 

Frases: 

“Eu me senti livre, segura e em família. Afinal,  morar em SP tendo poucas pessoas pretas ao lado não é muito confortável.”
Mariana Brito (Captação)

“O encontro foi uma oportunidade de aprendizado, reflexão e conexão com meus pares e com o Baobá. Foi fundamental para construirmos uma atuação em equipe cada vez mais sólida e em sintonia.”
Tainá Medeiros (Programa)

“O Encontro Baobá foi um momento muito importante de escuta, acolhimento, afeto, aprendizagem e intelecção de como todos que estiveram presentes estão comprometidos com a missão do Fundo Baobá.”
Mara Pereira (Programa)  

“O encontro foi a junção do fortalecimento das relações e interações em equipe com o compartilhamento mútuo do que queremos em termos de ações futuras e permanentes para o Fundo Baobá.”
Marcos Rodrigues (Projetos)

“Estar junto a pessoas que trabalham com o mesmo objetivo é sempre mágico. Saí do encontro ainda mais apaixonado pelo propósito que nos une e com a certeza de que grandes feitos ainda estão por vir.”
Douglas Baster (Marketing)

“Foi uma oportunidade incrível de nos conhecermos pessoalmente, depois de um ano e sete meses de trabalho remoto, e também de integrar os nossos setores e as nossas ações em conjunto para o fortalecimento da principal premissa do Fundo Baobá, que é a promoção da equidade racial.”
Vinicius Vieira (Imprensa)

“O retiro de planejamento trouxe a certeza de que estamos todas, todos e todes em sintonia.  Comprometid@s com a missão e valores da instituição. Dispost@s a trabalhar para/com o coletivo.”
Fernanda Lopes (Diretora de Programa)

“Encontrar, planejar em equipe e celebrar. Este foi o tom do nosso encontro presencial de planejamento e, para mim, esses verbos foram ressignificados durante o contexto da pandemia. Portanto, foi ainda mais incrível poder encontrar todo time presencialmente, planejar nossos próximos passos e celebrar as conquistas e aprendizagens acumulados em 10 anos de história da nossa organização. Saio revigorada e segura de que estamos conectados e comprometidos com as transformações que o Fundo Baobá apresenta para toda sociedade.”
Selma Moreira (Diretora Executiva)

Confira a lista de organizações selecionadas para a segunda fase do edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça

O Fundo Baobá para Equidade Racial, em parceria com a Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas), lançou no dia 23 de setembro o edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça. Com o objetivo de apoiar iniciativas de organizações quilombolas para promover a sustentabilidade econômica e geração de renda; a soberania e a segurança alimentar, e a defesa dos direitos quilombolas’, o edital recebeu 145 inscrições em menos de um mês.

Cada organização inscrita deveria apresentar apenas uma proposta que versasse sobre um dos eixos temáticos propostos:

1 – Recuperação e sustentabilidade econômica nas comunidades quilombolas;

2 – Promoção da soberania e segurança alimentar nas comunidades quilombolas;

3 – Resiliência comunitária e defesa dos direitos quilombolas.

Das 145 inscrições recebidas, foram selecionadas 116 iniciativas para a etapa 2. As organizações cujos projetos serão analisados por especialistas são compostas, sem exceção, por membres e diretoria que se autodeclara quilombola e negra. A maioria foi constituída há 6 anos ou mais, nunca teve apoio do Fundo Baobá e estão distribuídas nas seguintes regiões:

71 Nordeste
29 Sudeste
11 Sul
4 Centro-Oeste
1 Norte  

Em relação aos eixos temáticos propostos pelo edital, foram selecionados da seguinte forma:

Eixo 1 – 61 propostas
Eixo 2 – 33 propostas
Eixo 3 – 22 propostas

Na próxima etapa, as propostas selecionadas serão avaliadas por especialistas, com base nos critérios de relevância; coerência; consistência e sustentabilidade.

A pontuação máxima a ser atingida nesta etapa será 50 pontos. Serão eliminadas as propostas que atingirem 25 pontos ou menos. Será de responsabilidade dos especialistas recomendar para o comitê selecionador até 70 propostas.

O resultado desta etapa do processo seletivo será publicado no site do Fundo Baobá no dia 03 de dezembro, após as 19h.  

Agora acesse o link que leva à lista das organizações selecionadas no edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça.

Editais marcam uma década de trajetória do Fundo Baobá (Parte I)

Por Vinícius Vieira

No mês de outubro de 2021, o Fundo Baobá para Equidade Racial celebra 10 anos de atuação. As primeiras sementes da organização foram plantadas no ano de 2006, pelo movimento negro nordestino, aliadas e aliados em diálogo com a Fundação Kellogg. 

Mas foi em 2011 que o Fundo Baobá foi criado formalmente. Com um ambicioso modelo, que inclui um fundo patrimonial, demonstrando ser essencial desenvolver formas de funcionamento específicas para gestão e estratégias de autogestão.

Inicialmente o Fundo Baobá assumiu o compromisso de apoiar iniciativas de curta duração que tenham fins coletivos dentro da temática da promoção da equidade racial. Essa ação também é conhecida como apoio pontual. O primeiro apoio pontual realizado pela organização aconteceu no ano de 2012, por meio da 6ª edição do Prêmio “Educar para a Igualdade Racial”.

Após uma série de apoios pontuais, em 2014 o Fundo Baobá lançou o seu primeiro edital:  1ª Chamada para projetos de Organizações Afro-Brasileiras da Sociedade Civil teve como objetivo apoiar, por 12 meses, 22 organizações pequenas e médias da sociedade civil afro-brasileira de todo o país na implementação de projetos para a promoção da equidade racial. 

Desde então, ao longo de uma década de história, os números confirmam a atuação da organização na promoção da equidade racial no país, através de eixos programáticos em áreas priorizadas para doação, como viver com dignidade, educação, desenvolvimento econômico, comunicação e memória.  

Foram ao todo:

14 milhões investidos
21 parcerias conquistadas
16 editais realizados
553 iniciativas individuais apoiadas
279 organizações apoiadas

Como forma de celebrar os 10 anos de atuação do Fundo Baobá, vamos relembrar alguns editais e ouvir histórias de pessoas e organizações que receberam o apoio da entidade, no passado recente.

A Cidade que Queremos

Lançado no dia 9 de maio de 2018, o edital A Cidade que Queremos, teve a parceria da Fundação OAK e era voltado para grupos e organizações Pró Equidade Racial com projetos que visavam fomentar e desenvolver cidades mais inclusivas e justas para todes.

O edital foi exclusivo para as regiões metropolitanas do Nordeste brasileiro, incluindo os nove estados da região. Foram selecionadas 10 organizações que receberam um aporte financeiro, totalizando R$ 450 mil de investimento.

Entre os selecionados estava a “Associação Artística Nóis de Teatro”, de Fortaleza (CE), que foi apoiada com o projeto “Periferias Insurgentes”. O grupo realizou diversos eventos artísticos, entre eles noites culturais, saraus e seminários, que reuniram vozes que compõem as resistências das periferias de Fortaleza, construindo paralelo com o trabalho da associação. Desses encontros, surgiu a peça Ainda Vivas, com três horas de duração.

Para o ator, diretor, produtor e coordenador do Nóis de Teatro, Altemar Di Monteiro, o suporte do Fundo Baobá tem sido fundamental, até hoje, para as ações do grupo na periferia de Fortaleza, considerando que este apoio foi realizado em três oportunidades distintas: “Em uma delas fizemos a circulação do espetáculo Todo Camburão Tem Um Pouco de Navio Negreiro pelas periferias de Fortaleza, contribuindo para o debate sobre o extermínio da juventude negra e a militarização da nossa polícia e da nossa política”. Na sequência veio Ainda Vivas, segundo Altemar, inspirado nesse giro pela periferia da capital: “Circular pelas diversas favelas de Fortaleza foi importante para que pudéssemos compreender o grande número de jovens e práticas culturais que pulsam nas periferias e sua forte contribuição para desativar o pensamento militarizado que habita a cidade. São saraus, rolezinhos, movimentos do passinho, do reggae, do teatro que inventam outras cidades, outras periferias. A partir da grande força dessa juventude foi que o espetáculo ‘Ainda Vivas’ nasceu”.

Nóis de Teatro, grupo da periferia de Fortaleza (CE)

Para Altemar, receber o apoio do Fundo Baobá para a realização do espetáculo foi muito importante porque contribuiu para a continuidade das ações do grupo e do fortalecimento de práticas antirracistas na cidade: “Num contexto de escassez de políticas públicas da cultura, além de contribuir para a manutenção de um grupo de teatro que resiste há 20 anos na periferia, o Baobá reafirma a cultura como um valor de desenvolvimento social e humano, a arte como direito de todos e todas”.

Com a chegada da pandemia da Covid-19, o grupo recebeu o terceiro aporte financeiro e deu continuidade ao espetáculo Ainda Vivas, mas dessa vez no formato virtual. Para Altemar, esse processo contribuiu para o fortalecimento do elo com o movimento de saraus da periferia, além da valorização da cultura diante do contexto de isolamento social: “Destaco a importância da arte e da cultura na luta antirracista no momento que vivemos. Acredito fortemente que é pelo sensível, pela articulação de outros saberes e práticas que poderemos construir um outro mundo. E sobre isso, me parece que o Fundo Baobá tem entendido bem”, finaliza.

Editais voltados para o desenvolvimento e fortalecimento de mulheres negras

O fortalecimento das mulheres negras sempre foi uma pauta trabalhada no Fundo Baobá. Em duas oportunidades, a organização lançou editais voltados para o público feminino negro: Empodera, lançado em 2016 em parceria com o Instituto Lojas Renner e ONU Mulheres, apoiou 15 empreendimentos de mulheres negras cujos negócios estivessem vinculados à cadeia produtiva do setor têxtil e de moda. Enquanto o edital Negras Potências, lançado em 2018, em parceria com Instituto Coca-Cola Brasil, Movimento Coletivo e Benfeitoria, apoiou 16 iniciativas de impacto para o empoderamento de meninas e mulheres negras, focados na redução das desigualdades raciais e sociais.

Mas foi no dia 2 de setembro de 2019 que o Fundo Baobá lançou o seu edital mais ousado, o primeiro do Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, que contou com a parceria com a Fundação Kellogg, Ford Foundation, Instituto Ibirapitanga e Open Society Foundations. Concebido  para acontecer ao longo de cinco anos, incluindo 2 editais de apoio individual e 2 editais de apoio a organizações, grupos e coletivos, a principal premissa do Programa é que as mulheres negras apoiadas tenham mais subsídios para acessar espaços de poder e tomada de decisão, atuar contra o racismo e em defesa da justiça, equidade social e racial e transformar o mundo a partir de suas experiências.

Em 53 dias de inscrições abertas foram recebidas 314 candidaturas individuais e 86 coletivas de mais de 20 estados do país e do Distrito Federal. No dia 10 de dezembro de 2019 foram anunciadas as 63 lideranças e 15 organizações selecionadas pelo edital. Entre elas estava a produtora musical, Andressa Ferreira, do Rio Grande do Sul, que foi selecionada com o projeto Mulheres Negras e Tecnologia – Produção Musical Enegrecida: “Este período em que tive o apoio do Fundo Baobá, através do Programa Marielle Franco, foi de muito crescimento e de muita colheita. Esse apoio me ajudou a passar pela pandemia,  conseguindo enxergar novos horizontes e possibilidades”, afirma.

Andressa Ferreira, produtora musical

O projeto de Andressa foi fundamentado diante da baixa representação feminina (cis/trans), negra e indígena no campo da produção musical, sua principal área de atuação: “A possibilidade de acessar os conhecimentos em relação a áudio e tecnologia é algo que atualmente está mais acessível, porém ainda existem vários desafios que enfrentamos diariamente para poder ocupar esse espaço que é majoritariamente branco e masculino”, descreveu Andressa Ferreira no relatório final do Programa Marielle Franco.

Com o apoio fornecido pelo edital, Andressa Ferreira fez um curso de produção musical, iniciou os estudos de inglês, comprou equipamentos para produção de áudio, como computador, microfones, interface de áudio, cabos, entre outros, esteve à frente da “Oficina Online Mulheres Afro-amerindias: Áudio e Tecnologia”, voltada para mulheres negras e indígenas (cis/trans), além de ter trabalhado na produção musical do disco Força e Fé, do grupo Imani, formado por quatro mulheres negras de Florianópolis e ter feito também a mentoria musical no projeto AMPLIA+, no qual envolvia a produção de showcases de quatro artistas LGBTQIAP+ de Porto Alegre.

Com todas essas atividades realizadas, Andressa ressalta a importância de participar também das formações políticas junto com as outras lideranças apoiadas: “Esses encontros foram de extrema importância para que eu alcançasse meu objetivo e conseguisse realizar meu Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) com sucesso, além de fortalecer a minha caminhada profissional e pessoal”. 

Andressa Ferreira afirma que o Programa Marielle Franco cumpre o seu papel de fortalecer lideranças femininas negras em espaços de tomadas de decisões: “Termino esse ciclo estando cada vez mais atenta às questões raciais e de gênero. Mais conectada e consciente do legado que carrego, muito agradecida a todas as mulheres negras que abriram os caminhos para que hoje, eu e todas as mulheres contempladas por esse edital,  pudéssemos estar aqui construindo o nosso futuro e potencializando não só a nossa trajetória como as das próximas gerações”.

Hoje, Andressa integra uma equipe preta de uma agência de publicidade de São Paulo, sendo contratada como freelancer para realizar a produção musical de vídeos publicitários. Sendo assim, ela demonstra gratidão ao trabalho do Fundo Baobá na promoção da Equidade Racial: “Agradeço imensamente a organização e friso a importância das ações realizadas por esse Fundo, que realiza mudanças efetivas na nossa sociedade, conseguindo fomentar projetos que contribuem de fato na construção de uma sociedade mais equânime”.

Já É: Educação e Equidade Racial

A educação é uma das áreas priorizadas para receber investimentos do Fundo Baobá.

No ano de 2014, a organização, em parceria com o Instituto Unibanco, com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e com a colaboração técnica do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), lançou o edital Gestão Escolar para a Equidade – Juventude Negra, com o objetivo de promover a implementação de práticas de gestão escolar voltadas para a elevação de indicadores como acesso, conclusão, frequência e rendimento escolar. O edital, voltado para escolas públicas de Ensino Médio, recebeu a inscrição de 124 projetos de todas as regiões do Brasil. Destes, foram selecionadas 10 iniciativas. No ano de 2016, houve a segunda edição do edital, que recebeu 184 propostas e no final contemplou mais 10 projetos de sete estados do país.

Porém, foi com a premissa de apoiar a entrada de jovens negros no ensino superior que, no dia 10 de julho de 2020, o Fundo Baobá lançou o Programa Já É: Educação e Equidade Racial.  Ele conta com apoio do Citi Foundation, Demarest Advogados e Amadi Technology. Além de custear um curso pré-vestibular, as despesas comtransporte e alimentação para jovens negros da cidade de São Paulo e Região Metropolitana, o edital prevê também atividades voltadas para o enfrentamento dos efeitos psicossociais do racismo e para a ampliação das habilidades socioemocionais e vocacionais, bem como mentoria com profissionais de diferentes formações acadêmicas e vivências.

Em um mês, o programa recebeu 245 inscrições, desse número foram selecionados 84 jovens de 12 municípios da região metropolitana. Entre eles, estava Isaque Rodrigues, de São Paulo, que soube da sua aprovação no programa faltando dois dias para seu aniversário de 22 anos: “Quando recebi o e-mail de aprovação para participar do Programa Já É, eu percebi que uma grande oportunidade tinha surgido para mim, oportunidade essa de escrever uma nova história e ter um novo começo”.

Isaque Rodrigues, aluno apoiado

Hoje, aluno do curso pré-vestibular, Isaque afirma que a bolsa de estudos tem sido de grande valia, considerando que a cada dia se aprende algo diferente: “São conteúdos que de fato irão me auxiliar a tirar boas notas em provas e nas atividades que eu irei fazer um dia”. Porém, ele faz questão de dizer que o que mais tem agregado valor são as interações com a equipe do próprio Fundo Baobá: “A Tainá Medeiros [assistente de projetos] é muito proativa e sempre se prontificou a nos auxiliar em qualquer coisa, e a Fernanda Lopes [diretora de programa] me proporcionou uma nova visão, que me fez entender que o nosso lugar de protagonistas neste mundo existe e precisamos ocupá-lo”.

Isaque reforça também a importância das mentorias realizadas e o quanto isso é inspirador em sua vida: “Hoje me sinto inspirado, motivado a fazer a diferença, a ajudar os meus e todos os que estão ao meu redor. Meus olhos brilham cada vez que lembro que olharam para mim e perceberam um potencial de ir além do que eu imaginava ir. Posso dizer que encontrei a minha identidade e hoje tenho orgulho de contar a minha história de vida e de superação”.

Com planos de cursar Publicidade e Propaganda, Isaque Rodrigues é muito grato ao Programa Já É: “Eu vejo que esse edital tem em sua essência transformar a vida de pessoas, que como eu sofrem pela desigualdade, sofrem por serem julgadas pela sua cor, não enxergando a nossa grandeza. É justamente isso que nossa juventude precisa entender: somos grandiosos e só conseguimos derrubar as barreiras juntos”, finaliza.

Editais marcam uma década de trajetória do Fundo Baobá (Parte II)

 Por Wagner Prado

Ao longo dos seus 10 anos de atuação no campo da filantropia, completados neste 2021, o Fundo Baobá para Equidade Racial tem procurado o protagonismo no que se refere ao trabalho pela busca de uma sociedade equânime no Brasil, onde a equidade racial esteja presente e as oportunidades estejam, o mínimo, em equilíbrio para todos. Essa é a busca. E persegui-la requer muito esforço. A resiliência pede isso: esforço, adaptação e antevisão. O Fundo Baobá tem sido resiliente. No esforço de chegar e ouvir as vozes do campo. Na adaptação de seu modo de gestão.  Na antevisão das áreas prioritárias em que pode atuar e melhorar pessoas.

Foi no sentido de antever questões prioritárias que em abril de 2020, um mês após a decretação da Pandemia pela Organização Mundial da Saúde  (OMS), em 11 de março, que o Fundo Baobá lançou o edital Doações Emergenciais, em parceria com a Ford Foundation. Com uma dotação de R$ 870 mil, o edital foi destinado ao suporte a comunidades vulneráveis, mulheres, população negra, idosos, povos originários e comunidades tradicionais. O Doações Emergenciais recebeu 1.037 inscrições e teve 350 selecionados (215 indivíduos e 135 organizações). 

Uma das apoiadas foi Amanda Queiroz de Moraes, de Ananindeua, no estado do Pará. Ela faz parte da Associação Centro Social Estrela Dalva e ressalta a importância da iniciativa naquele momento. “A ajuda veio em um momento em que a comunidade estava, mais do que nunca, necessitando de apoio social, visto que estávamos em um período muito crítico da Pandemia”, afirmou. 

Amanda de Moraes, de Ananindeua, no estado do Pará

Cada organização ou indivíduo recebeu R$ 2,5 mil.  Amanda conta o que foi possível fazer com o recurso recebido. “No Centro Social Estrela Dalva nós atendemos crianças e mães adolescentes. Promovemos rodas de conversa sobre sexualidade e fazemos distribuição de gêneros alimentícios, material de higiene e limpeza e máscaras de proteção. Aquele foi um momento desafiador para nossa comunidade. Não é fácil se aproximar de adolescentes grávidas, sem nenhum tipo.de assistência, seja ela na área da saúde ou familiar”, disse. Apesar dos problemas, a experiência de Amanda Queiroz de Moraes foi única: “Apesar de toda dificuldade e desafios que nos foram postos, foi uma experiência que ficará marcada na história do Centro Estrela Dalva”, finalizou. 

Ainda dentro do contexto de quem estava sofrendo com os dissabores causados pela Pandemia do Coronavírus, temos os pequenos empreendedores que foram atingidos diretamente em seus negócios. Muitos fecharam de forma definitiva. Outros tantos tiveram que fechar temporariamente, o que fez cessar a entrada de recursos. O edital Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores Negros e Negras foi lançado em novembro de 2020, para apoiar esses negócios e seus proprietários. 

Com apoio do Instituto Coca-Cola Brasil, Instituto Votorantim e Banco BV, o  Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores Negros e Negras teve dotação de R$ 1,6 milhão, alcançou 700 inscrições e deu apoio a 47 iniciativas, cada uma composta por 03 empreendimentos. Como premissa do edital, os empreendimentos deviam ser constituídos por três associados, cabendo a cada um deles o valor de R$ 10 mil, perfazendo R$ 30 mil por iniciativa. Todas as pessoas empreendedoras receberam mentoria técnica para que pudessem atualizar processos e incrementar a gestão, com o objetivo de alcançar melhores resultados.  

Uma das iniciativas apoiadas pelo Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores Negros e Negras foi a Casas Ecológicas e Sustentáveis, do Rio de Janeiro. O objetivo os associados é baixar o custo de construção de moradias populares com o uso de tijolos ecológicos. Porém, fato comum entre empreendedores, o fôlego inicial sempre é o mais difícil de se obter. Ronaldo Lemos, um dos três empreendedores da  Casas Ecológicas e Sustentáveis. “Nos buscávamos iniciar a nossa fabricação de tijolos ecológicos, mas o custo do maquinário era muito alto. Graças ao Fundo Baobá,  nós pudemos fazer a compra do maquinário e montar uma estrutura para a fabricação dos tijolos. Nosso maior objetivo é nos consolidarmos como um dos grandes fabricantes de tijolos ecológicos do Brasil.  Já fechamos com alguns parceiros e iniciamos a fabricação”, afirmou Ronaldo Lemos. “A equipe Casas Ecológicas e Sustentáveis é imensamente grata ao Fundo Baobá”, completou. 

Ronaldo Melo, Casas Ecológicas e Sustentáveis

Em maio de 2021. o Fundo Baobá para Equidade Racial e o Google.org, braço financeiro do Google para apoios filantrópicos, fecharam acordo para o lançamento do edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça. Acima de tudo, o Vidas Negras é uma oportunidade para a população negra brasileira reforçar planos de ativismo e resistência diante das injustiças advindas do racismo. O público foco foram organização que mantêm trabalhos voltados ao combate contra a violência sistêmica sobre o povo negro e injustiças criminais que ocorrem dentro do sistema jurídico do Brasil. 

O Google.org destinou R$ 1,2 milhão para a escolha de 12 organizações. Cada uma irá receber R$ 100 mil ao longo de 12 meses. As organizações apresentaram inciativas a serem desenvolvidas nas seguintes áreas:  a) Enfrentamento à violência racial sistêmica; b) Proteção comunitária e promoção da equidade racial; c) Enfrentamento ao encarceramento em massa entre adultos e jovens negros e redução da idade penal para adolescentes; d) Reparação para vítimas e sobreviventes de injustiças criminais com viés racial. 

Um dos projetos selecionados dentro do eixo “Enfrentamento ao encarceramento em massa entre adultos e jovens negros e redução da idade penal para adolescentes” foi o da Associação Elas Existem – Mulheres Encarceradas. A iniciativa foi inscrita pelo estado do Rio de Janeiro, mas está de mudança para o Acre, onde o projeto será desenvolvido. “O maior impacto do edital nesse momento,  em nossa organização,  é que estamos iniciando nossa segunda sede no local em que o racismo é predominante, assim como a ausência de discussões sobre direitos humanos e acesso a direitos. O Norte do país, fronteira com diversas nações, possui um alto índice de prisões por  tráfico de drogas,  sendo urgente questionar essas e outras situações que fazem com que o Brasil permaneça no ranking dos que mais encarceram mulheres”, afirmou Caroline Mendes Bispo. da Associação Elas Existem. Na semana em que conversamos com Caroline,  ela estava de mudança para Cruzeiro do Sul (AC), onde vai se estabelecer para coordenar as ações do projeto.

Caroline Bispo, Associação Elas Existem

A Associação Elas Existem vai utilizar a destinação que irá receber para promover as ações que já implementa nos estados do Rio de Janeiro e Mato Grosso. “A Associação atua buscando promover discussões sobre  a situação das pessoas privadas de liberdade e a melhoria das condições intramuros, além de incentivar o debate sobre as causas e consequência do encarceramento em massa, principalmente de mulheres (cis e trans), observando como o racismo opera na seletividade do sistema de justiça criminal de jovens negras. Desse modo, desde 2016 organizamos eventos em que arrecadamos doações de absorventes e demais materiais de higiene, que são entregues nas unidades prisionais, de acordo com a disponibilidade e necessidade de cada instituição. Fazemos também diversas campanhas virtuais para demonstrar que um rolo de papel higiênico faz muita diferença na vida de uma mulher.”, disse Caroline Mendes Bispo.

O trabalho da Associação Elas será intenso no Acre. Já estão listadas oito atividades fundamentais para projeto: Estudo sobre o efetivo carcerário;  Mapear e acompanhar normativas, ações e projetos de lei, além de outros instrumentos de políticas públicas; Elaborar e distribuir materiais educativo em ambiente carcerário intramuros e extramuros; Fazer o intercâmbio de conhecimento e aprendizado entre as equipes que atuam no estado do Rio e no estado do Acre;  Promover Rodas de Conversa sobre direitos e oficinas para o desenvolvimento de potencialidades (intramuros); Promover plantões de orientação sociojurídicas (intra e extramuros); Promover grupos de leitura e rodas de conversa (extramuros).    

 

 

10 Anos do Baobá: Selma Moreira e Fernanda Lopes projetam a próxima década

Por Wagner Prado

Duas mulheres com uma grande missão: ajudar a transformar. Ambas exercem isso para muito além dos cargos que ocupam, porque contribuir na transformação não é um trabalho, é uma missão. Selma Moreira é a diretora executiva. Fernanda Lopes, a diretora de programa. Ambas trabalham para o Fundo Baobá para Equidade Racial. Ambas se alternam na função de arco e flecha do primeiro fundo exclusivo para a promoção da  equidade racial para a população negra no Brasil. Arco e flecha porque têm a função de impulsionar e sair ao ataque certeiro na busca por recursos, pois sem eles as coisas não acontecem. 

O Fundo Baobá para Equidade Racial está completando 10 anos. O que irá acontecer nos próximos dez está sendo plantado pela governança do Fundo e orquestrado por Selma e Fernanda, que estão à frente de uma equipe de 14 pessoas entre colaboradores diretos e indiretos. 

Os desafios têm sido muitos nesses 10 anos de busca pela consolidação do Baobá. A busca vai continuar pelos próximos anos. Os desafios não serão menores. Neste encontro com Selma Moreira e Fernanda Lopes temos a visão de ambas sobre os caminhos traçados para a gestão futura do Fundo Baobá, sua importância no trabalho de busca pela equidade racial e por uma sociedade igualitária no Brasil. 

Selma Moreira (diretora executiva) e Fernanda Lopes (diretora de programa)

Conte como você chegou ao Baobá ou como o Baobá chegou até você?  

Selma Moreira – Eu conheci o Fundo Baobá em função de uma conexão feita pelo Fábio Santiago, atual membro do Conselho Fiscal, no período do processo seletivo para a posição de diretora executiva, cargo que ocupo hoje na organização.

Fernanda Lopes – Cheguei ao Fundo Baobá como consultora. Em 2018 fui responsável pela elaboração do plano estratégico do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. Em 2019,  após aprovação do plano estratégico do Programa e após avaliação do Conselho Deliberativo, recebi o convite, aceitei e passei a compor o time. 

 

Que desafios você enxergou à época? 

Selma Moreira – Prioritariamente,  desafios de gestão, com foco em governança interna e externa (pessoas) e administração de finanças. A consequência dos itens anteriores conectarem-se com o desenho de estratégia para constituição do endowment (recurso financeiro). 

Fernanda Lopes – Naquele momento tínhamos desafios de gestão relacionados ao aprimoramento dos processos, fluxos, instrumentos e mecanismos de monitoramento.  Precisávamos aprimorar nossa comunicação, reposicionar nossa marca e fazer do Baobá uma instituição conhecida e reconhecida,  no campo da filantropia por justiça social, como a única a atuar neste ecossistema exclusivamente para apoiar e ampliar oportunidades de desenvolvimento para organizações e lideranças negras. Era necessário reafirmar os editais como o mecanismo mais eficiente para ampliar oportunidades de apoio para organizações, grupos, coletivos e lideranças negras de todo o Brasil.  Também se apresentava como desafio produzir mais e melhores evidências e ampliar nosso diálogo com o campo para subsidiar nossas decisões acerca dos investimentos prioritários.

Esses desafios se concretizaram?

Selma Moreira – Sim. Governança: o Fundo Baobá é benchmarking (referência) no terceiro setor com um robusto corpo de governança. Temos Assembleia Geral, Conselho Deliberativo, Conselho Fiscal, Comitê de Investimentos, Comitê de Ética, Comitê Executivo e Diretora Executiva. Este desenho demonstra um conjunto de mecanismos de compliance (observância) para garantir pesos e contrapesos nas tomadas de decisão, de forma a zelar pelas melhores práticas de governança, cumprindo os princípios de transparência, equidade na  comunicação das informações, prestação de contas e responsabilidade institucional com todos os públicos de relacionamento

Fernanda Lopes –  Trata-se de um processo. E todas as vezes que superamos alguns desafios, passamos a enfrentar novos. Porque a filantropia responsiva se dá desta forma. É preciso muita atenção aos contextos para atuar de modo tempestivo e responsivo. Sempre há algum ponto a ser melhorado. Em 2019, tínhamos dois editais em fase de finalização, 23 projetos no total, todos implementados por organizações formais (com CNPJ). Iniciamos 2020 com 78 projetos sendo implementados por organizações e, pela primeira vez na história do Baobá, também por grupos, coletivos informais e ainda por indivíduos. 2020 foi um ano de muitos aprendizados. Foram seis editais lançados, mais de 470 projetos selecionados, a maioria iniciativas de ações coletivas executadas por indivíduos.  Adotamos o meio eletrônico para receber os projetos, iniciamos o processo de gestão de dados e produção de informações para subsidiar a tomada de decisões, fomos revisando os fluxos, definindo políticas, processos, procedimentos. Criamos diferentes espaços de diálogo com o campo e outros atores estratégicos e investimos em comunicação.  Eu diria que o mais importante ganho, até agora, foi tornar nítido que a forma de o Baobá atuar como grantmaker (concedente)  é diferenciada. A natureza do Baobá não permite ser visto, ou se ver, como um ator que capta e repassa recursos. Nosso modo de operar precisa deixar nítido que, para organizações e lideranças negras vivenciarem a transformação social justa, sustentável e sistêmica, os recursos financeiros e orçamentários são extremamente necessários, mas não são suficientes. É preciso desenvolver competências, habilidades, capacidades. 

Quais desafios ainda estão por se concretizar? 

Selma Moreira –  Expandir e aprofundar o diálogo com toda sociedade brasileira; programa de doação individual recorrente; aprimorar a  comunicação estratégica,  potente e diversa nas redes sociais e outras mídias;  encontro de organizações e lideranças apoiadas pelo Fundo Baobá no período dos últimos 10 anos; influência no setor nacional e internacional acerca do contexto de relações raciais no Brasil. 

Fernanda Lopes – Neste momento, outubro de 2021,  temos dois editais em fase de finalização, quatro editais em curso e dois para serem lançados. Os aprendizados estão sendo convertidos em medidas corretivas. Estamos avançando em análises de dados e produção de informações para evidenciar os valores agregados pelo Baobá no campo. Sabemos que a pandemia, apesar de toda a sua crueldade, gerou alguns efeitos positivos. Em um único edital, lideranças femininas negras apoiadas por 18 meses realizaram ações que alcançaram mais de meio milhão de pessoas. Isso é semeadura. Há muitos solos férteis e, com certeza, muitas sementes foram fertilizadas em todo o país, na zona rural ou urbana; nas periferias ou nos centros. Nas instituições públicas governamentais ou privadas; nas comunidades ou nas universidades. E, embora eu tenha dado um exemplo quantitativo, ele não é suficiente. Para fazer filantropia para justiça social, para promover equidade racial por meio de ações filantrópicas, é preciso ir além. Relatar esforços, narrar pequenas ou grandes mudanças, mobilizar e engajar mais pessoas e instituições. Estes seguem sendo desafios cotidianamente experimentados por nós.  

Como você avalia os caminhos percorridos pelo Baobá nestes 10 anos? 

Selma Moreira – O caminho é de fortalecimento, amadurecimento no diálogo com o campo das organizações e lideranças negras.  Aprimoramos os diálogos com representantes de organizações que investem em ações sociais via Fundações, Institutos e Empresas. Estamos promovendo editais em todo território nacional e esses editais são estratégicos. Investimos na formação de equipe interna e parceiros estratégicos para a operação.  Até o momento temos números bem interessantes, que comprovam nosso crescimento, abrangência e influência nesses 10 anos de atividades: R$ 14 milhões investidos; 21 parcerias conquistadas; 16 editais realizados; 553 iniciativas individuais apoiadas e 279 organizações apoiadas. 

 Fernanda Lopes – Cheguei há pouco no Baobá,  mas conheço a instituição e sua missão desde o início. Muitas das pessoas que participaram de sua criação foram de suma importância para minha formação como pessoa, militante e profissional. Estamos crescendo e nos consolidando. Estamos nos aproximando, a meu ver, daquilo que era a proposta inicial, quando ainda não estava definido o formato, o modo de operar e de ser governado.  Não se trata apenas de ampliar o volume captado, o volume investido no campo. Trata-se do modo como nos apresentamos e como somos vistos pela sociedade. O modo como operamos, a forma como escutamos, como realizamos nossos ajustes de rota, como compartilhamos nossos aprendizados, como influenciamos,  como transformamos e nos deixamos transformar. Tudo isso tem relação direta com os 10 anos de atuação do Baobá como grantmaker (concedente de apoios financeiros).

O grande gargalo para o Baobá é a captação de recursos?  

Selma Moreira – Captação para o endowment (fundo patrimonial) é um gargalo nacional e internacional. 

Fernanda Lopes – Os impactos do racismo são vivenciados em todas as dimensões do desenvolvimento – individual, social, econômico, político, cultural e ambiental. O Baobá se propõe a atuar como grantmaker (concedente),  apoiando iniciativas negras que respondam a todas estas dimensões.  A captação de recursos é a via para garantir que estes apoios ocorram. Contudo, sabemos que,  para que a ação filantrópica do Baobá seja sustentável, ela não pode ser apenas para ações programáticas. Precisamos captar para o endowment (fundo patrimonial). Os recursos captados para o endowment nos permitem autonomia de investimento, de acordo com necessidades e expectativas advindas do campo. Por exemplo, no auge da pandemia todos os recursos captados tinham destino certo. A liberdade oferecida,  tanto para organizações quanto para lideranças, em nosso primeiro edital de apoio emergencial no contexto da pandemia, só foi possível porque utilizamos recursos oriundos dos rendimentos do fundo patrimonial. Ou seja,  recursos próprios do Baobá. Com isso,  pudemos receber propostas com demandas por ações e insumos que melhor respondessem às necessidades e expectativas das bases. Não nos vimos motivados a indicar o que poderia constar ou o que priorizar. Era livre. As comunidades, as organizações, as lideranças decidiam o que e como fazer naquele momento. Ter recursos captados para o endowment, além de garantir autonomia nos investimentos programáticos  permite tempestividade e sustentabilidade em nossa ação de grantmaker (concedente).  

Financiadores do exterior têm uma visão mais apurada socialmente sobre o que venha a ser o trabalho de filantropia para equidade racial? 

Selma Moreira – A cultura de doação está mais consolidada no exterior (Estados Unidos e Europa), no que tange a diversos temas. Mas a equidade racial ainda é incipiente. De todo modo, há  mais abertura para construção de soluções perenes, assim como o endowment.

Fernanda Lopes – No Brasil, a negação do racismo e de seus efeitos nas condições de vida e saúde e nas oportunidades efetivamente disponíveis para as pessoas negras, em diferentes setores, impede o reconhecimento estratégico da filantropia para a equidade racial como instrumento para o alcance do desenvolvimento com equidade no país e para consolidação da democracia. No exterior, ainda que haja uma suposta maior abertura, as instituições e pessoas desconhecem as iniquidades raciais que existem no Brasil. Logo, há uma certa dificuldade em reconhecer a importância estratégica da filantropia para equidade racial entre aqueles que doam.    

Qual a grande satisfação em executar o trabalho feito pelo Fundo Baobá? 

Selma Moreira – O Fundo Baobá é uma organização essencial para promoção de uma sociedade mais justa e equânime. Fazer parte das estratégias de mudança e transformação, com as lentes e ações de liderança desta organização, é um desafio ímpar e uma alegria imensa em cada passo dado por um mundo melhor.

Fernanda Lopes – O Baobá é uma instituição que incide no ecossistema de filantropia para garantir que mais recursos, de diferentes fontes, sejam canalizados para o reconhecimento e o desenvolvimento da população negra como sujeito de direito e agente de sua própria história e destino. Uma instituição orientada pelas lentes da justiça racial, cuja missão e propósito estão voltados para promover mudanças estruturais, para intervir na raiz das desigualdades sociorraciais que é o racismo.  Mas para isso tudo é preciso inovar e aprimorar todos os dias, e aqui não falamos de tecnologia, falamos de sociologia, antropologia, política, relações institucionais, relações interpessoais.  Porque esta é a base para a mudança que vem do e para o coletivo. Isso é algo que, particularmente, me anima. É um lugar onde posso colocar à disposição tudo o que aprendi nos diferentes espaços por onde passei e, sobretudo, que me dá oportunidade de aprender, trocar, me revisitar, reorientar, reordenar, cocriar. Não deixa de ser um espaço de militância. Você pode ter uma bagagem técnica e muitas articulações, conexões, mas aqui só se dispõe a enfrentar toda sorte de desafios quem está disposto a defender a causa.

Formação de lideranças femininas, Primeira Infância, Recuperação Econômica, Direito à Cidade, Auxílio a Populações em Situação de Vulnerabilidade, Apoio à População Quilombola, Acesso a Cursos Superiores em Universidades Públicas, Dignidade e Justiça. Falta algum segmento em que o Baobá ainda não atuou com seus editais? 

Selma Moreira – Não consegui identificar. Mapeamos nossas estratégias a fim de sermos responsivos para todas as áreas de atuação da população negra. De todo modo, vale ressaltar que ainda há muito aprimoramento no que tange à construção de estratégias que permitam alianças estruturantes e mudanças sistêmicas na sociedade, envolvendo os diversos atores do sistema.

Fernanda Lopes – Cada área que priorizamos tem um leque de possibilidades. Ter diferentes editais não significa que estamos contemplando tudo o que pode estar contido dentro de uma área.  Por exemplo, investir em equidade racial na educação exige que atuemos na educação básica (educação infantil, ensino fundamental e médio), no ensino superior, na pós-graduação e na formação de quadros. Tem iniciativas que podem focar a gestão, o corpo docente, o corpo discente; podem acontecer em unidades escolares, instituições de ensino, pesquisa e extensão  ou outros espaços onde as ações educativas ocorrem.  Se focamos na comunicação podemos pensar na mídia negra, na educomunicação, no fortalecimento da pauta e ampliação da participação de profissionais negros nos veículos tradicionais e nas mídias independentes nao negras. Naquilo que se faz em diferentes plataformas e formatos.  Arte e Cultura é um nicho no qual ainda não conseguimos  investir e sabemos que a representação social do negro e o imaginário coletivo se transformam por meio do estímulo ao conjunto de sentidos, tão bem explorado por pessoas, organizações, grupos e coletivos que atuam nessa área e também navegam pela comunicação, arte e cultura, as mais eficientes estratégias de buscar o que, por ventura, pode-se ter esquecido. A memória que nos orienta a ver o hoje, construir um futuro diferente, pautado pelas conquistas, pelos erros e acertos do passado. Isto sem contar a ciência e a tecnologia.  Enfim, temos muito a fomentar. E o campo cada dia tem deixado isso mais nítido. A transformação e o desenvolvimento para a população negra têm diferentes matizes e matrizes.

Como instituição, o Baobá vem se internacionalizando. Qual a importância disso? 

Selma Moreira – Apoios internacionais com foco nos investimentos programáticos e na construção do fundo patrimonial são de importância estratégica fundamental. Essa internacionalização do Fundo Baobá, que vem já da sua fundação, é uma forma de levar para os países do exterior um maior conhecimento sobre o Brasil. E isso é uma via de mão dupla, pois ter conhecimento envolve o saber de fatos negativos e de fatos positivos também. 

Fernanda Lopes – Para além de ampliar a sua capacidade de mobilização de recursos, estabelecimento de parcerias estratégicas e, por consequência, contribuir para mudanças sustentáveis no processo de desenvolvimento integral da população negra, acredito que a internacionalização do Baobá contribua para ampliar a discussão sobre equidade racial no sul global,  dentro e fora do ecossistema filantrópico.

O Baobá já alcançou o propósito para o qual foi criado? 

Selma Moreira – Avançamos muito em 10 anos, mas ainda há muito a ser feito.  Infelizmente,  o contexto de desigualdade e racismo recrudesceu com a pandemia. As soluções precisam ser cada vez mais sob medida para as diferentes demandas, tempos e especificidades dos públicos apoiados.

Fernanda Lopes – O Baobá ainda tem muito a realizar. O Baobá pode contribuir para transformar o imaginário coletivo. Pode contribuir influenciando a tomada de decisão das instituições públicas, privadas e do terceiro setor e,  sobretudo, fortalecer a sociedade civil organizada negra, o movimento social negro, o movimento de mulheres negras, o movimento LGBTQIA+, o movimento de pessoas negras com deficiência, o movimento quilombola na busca por equidade racial  e justiça social.

Que projeção você faz para os próximos 10 anos do Baobá?

Selma Moreira – Dez anos de inúmeros desafios. Desejo que o Baobá se consolide como referência e possa expandir seu impacto a partir da execução da sua missão em apoio a organizações e lideranças negras, a fim de contribuir para uma sociedade mais justa. Ainda desejo que tenham mais organizações engajadas em parceria com o Baobá para promoção de ações para e com a população negra em todo Brasil. E, por fim, desejo que tenhamos possibilidade de expandir os diálogos no eixo sul / sul, a fim de trocar, aprimorar e fortalecer alianças estratégicas conectadas com a nossa missão.

Fernanda Lopes – O plano de ação de Durban completa 20 anos neste 2021. Houve avanços,  mas há desafios persistentes. As reparações são parte deste conjunto que, os compromissos assumidos no âmbito da Década de Afrodescendentes ou mesmo da Agenda de Desenvolvimento Sustentável, não contemplam. O Baobá foi criado como um mecanismo capaz de captar recursos e convertê-los em benefícios para a população negra, financeiros e outros. Na vigência do racismo,  a ausência de proteção e garantia de direitos é reiterada e esta ausência afeta pessoas e coletivos. Os efeitos são generalizados. Por isso trago o tema reparações. Quando falamos em reparações estamos falando em políticas afirmativas, em investimentos das mais diversas ordens, em recursos financeiros. Para os próximos 10 anos sonho com o Baobá sendo um ator relevante na cena global de enfrentamento ao racismo e promoção da equidade racial, além de ser  um mecanismo por meio do qual se possa concretizar  ações ou políticas de reparação.

Outubro Rosa e a saúde da mulher negra

Por Vinícius Vieira

No mês de abril de 2020, durante a gestação da sua segunda filha, a empresária e esteticista Zarah Flor Rizzo descobriu um nódulo no seio esquerdo enquanto fazia um auto exame durante o banho: “Relatei para minha médica obstetra que havia encontrado um nódulo, a médica me examinou e me tranquilizou falando que era um nódulo de leite empedrado, não me senti confortável pois eu conhecia meu corpo e sabia que tinha algo errado”.

A insistência da empresária em relação àquele nódulo levou Zarah a pedir a realização de um exame ultrassom: “Eu sabia que tinha algo de errado, mas a médica achou melhor não fazer porque poderia afetar as glândulas mamárias”. Zarah não desistiu e decidiu ligar no laboratório solicitando o exame: “A atendente também informou que era melhor não realizar o exame pelo mesmo motivo”. Zarah ligou novamente em outra oportunidade e insistiu com a ideia até que o exame fosse feito: “A médica realizou o exame de mama e falou que não era nada, apenas a mama que estava com uma pequena inflamação e com um pouco de líquido por conta das minhas próteses mamárias”.

Após o nascimento da filha, Zarah Flor retornou à obstetra para realização de exames de rotina pós parto e comentou sobre o aumento do nódulo. A médica pediu para ela não se preocupar, mas mesmo assim ela não desistiu de investigar: “Saí do consultório e no estacionamento mesmo eu liguei no meu convênio e perguntei se poderia marcar um mastologista sem encaminhamento médico. A resposta foi sim. Marquei uma consulta com o mastologista e marcamos a biópsia”. Em novembro de 2020, saiu o resultado da biópsia.  Zarah Flor estava com câncer de mama. 

Zarah Flor Rizzo, empresária e esteticista

Segundo um estudo apresentado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de mama é o segundo tipo que mais acomete as mulheres brasileiras, representando em torno de 25% de todos os tipos de câncer que afetam o sexo feminino no país. Por isso, o mês de outubro é dedicado à conscientização e controle do câncer de mama, conhecido popularmente como Outubro Rosa.

O movimento foi criado no início da década de 1990 pela Fundação Susan G. Komen for the Cure, nos Estados Unidos e é celebrado anualmente no mundo todo. O Brasil aderiu à campanha do Outubro Rosa em 2010, com o apoio do Inca, como forma de conscientizar a população feminina sobre a importância do autocuidado. 

Ao aprofundar as estatísticas da doença no país, desagregando os dados por raça/cor, no ano de 2019 o Inca apresentou evidências de que a taxa de mortalidade por câncer de mama entre as mulheres negras era maior: 10% superior à observada para  mulheres não negras. O Instituto classifica uma das causas que leva a mais mortes, o diagnóstico tardio da doença.

No caso de Zarah, mesmo com todas as interpelações médicas, o diagnóstico precoce da doença proporcionou a ela um tratamento em tempo hábil: “Hoje eu estou curada! Fiz cirurgia, que foi realizada no quadrante. Sigo em tratamento ainda. Ele acaba em Fevereiro de 2022”.

Câncer de mama e as mulheres negras

Para a médica ginecologista Ligia Santos, é preciso compreender que os estudos mostram que o câncer de mama não acomete mulheres negras de forma mais prevalente que as não negras. Porém, quando uma mulher negra apresenta câncer de mama precocemente (antes dos 50 anos, mais especificamente antes dos 45 anos),  a doença tende a ser mais grave e com prognóstico pior,  e isso está atrelado ao fator social: “Os determinantes sociais de saúde são importantes fatores para a pior evolução da doença,  pois eles atuam dificultando o diagnóstico e o tratamento precoce das mulheres negras. Sabemos que a maioria das mulheres negras está na base da pirâmide social e dependem muito do SUS,  que é um sistema fundamental para a nossa sociedade, mas possui muitas falhas. Logo, essas mulheres tendem a fazer menos mamografias de rastreamento, passam em menos consultas médicas e com especialistas e com isso podem ter o diagnóstico mais tardio e, consequentemente, mais mortes”.

Ligia Santos, médica ginecologista

Mariana Ferreira, outra médica que atua na área da ginecologia e obstetrícia, também afirma que, no que diz respeito a diagnóstico precoce, a partir do rastreio com mamografia, ainda há uma grande disparidade quando avaliamos o acesso por raça/cor e classe: “Mulheres negras e com escolaridade mais baixa são aquelas que mais têm dificuldade em acessar o rastreio. Isso acaba atrasando o diagnóstico e, consequentemente, o prognóstico se torna mais reservado”.

Os dados do Inca mostram que, enquanto 66,2% das mulheres brancas fizeram o exame da mamografia, somente 54,2% das negras fizeram no mesmo período. Para a médica Ligia Santos, o acesso à saúde é um benefício que embora seja legal é negado a muitas pessoas: “Os mais pobres vivem nas periferias que, geralmente, acabam ficando para segundo plano quando se pensa em políticas públicas em geral ou que não possuem a estrutura que deveriam ter para que o atendimento seja equânime”, segundo a médica. Isso é visível na escassez de equipes, de especialistas e equipamentos de saúde em alguns bairros: “Como a falta de mamógrafos, além da dificuldade em agendar consulta com especialista, entre outros tantos fatores. Sendo assim, uma mulher que deveria fazer o diagnóstico/tratamento precoce acaba perdendo muito tempo entre idas e vindas para poder ‘entrar’ no sistema”.

Para a empresária Zarah Flor, a falta de acesso a direitos básicos por parte da população negra, sendo eles cada vez mais escassos, impacta diretamente no aumento do índice de mortalidade de doenças como o câncer de mama: “A falta da inclusão acaba refletindo na comunidade negra e limitando o mínimo para viver em sociedade. E os números estão aí para comprovar que somos as mais afetadas pela desigualdade onde não temos o mínimo para sobreviver”.

Mariana Ferreira também acredita que, para a mulher que ainda se encontra ativa economicamente, o acesso vai impactar. Por outro lado, a médica também afirma que o medo do diagnóstico também afasta algumas mulheres: “Por se tratar de uma doença ainda cercada de muitos estigmas, acaba fazendo com que muitas mulheres, mesmo após apalparem tumor na mama, acabam por postergar a busca por atendimento. Por isso que estratégias e campanhas que tragam conscientização sobre a doença são tão importantes”.

Cuidado com a saúde da mulher negra para além do Outubro Rosa

Apesar de outubro ser dedicado à prevenção e à conscientização sobre o câncer de mama, tanto Mariana quanto Ligia reforçam a importância dos cuidados de outras enfermidades que são letais para a população negra de modo geral: “Não podemos esquecer que a população negra é mais suscetível à hipertensão e diabetes,  que contribuem para o surgimento e piora das doenças cardiovasculares, que são as que mais matam no mundo, além da depressão, que é a doença que mais incapacita pessoas”, afirma Ligia.

Mariana Ferreira, ginecologista e obstetra – Foto: Gabriella Maria

Mariana reforça a importância de campanhas preventivas como a do Outubro Rosa, considerando que as estratégias de prevenção em saúde da mulher negra passam por vários aspectos: “Desde avaliação de risco para doenças cardiovasculares, tentativa de controle de fatores de risco como diagnóstico e controle de condições como hipertensão, diabetes, obesidade, estímulo à prática de atividade física”. Porém, a médica afirma que ainda há campos na saúde da mulher que também requerem atenção e conscientização:  “O rastreio de acordo com a faixa etária para câncer de colo do útero e mama; a garantia dos direitos sexuais e reprodutivos, através do acesso a métodos contraceptivos, assim como acesso à pré-natal de qualidade e acompanhamento ao parto,  para desta forma prevenir desfechos negativos. São várias as intervenções que podem ser feitas no que diz respeito à saúde da mulher negra”, finaliza.

Recentemente, Zarah Flor integrou uma campanha publicitária de uma famosa loja de departamentos, no qual ela e outras mulheres reais contam como venceram a doença. No vídeo, Zarah diz:

“Eu fui me reconectando, eu consegui trazer a minha autoestima de volta, eu quero estar sempre presente, não deixo nada pra depois, eu quero fazer hoje e agora, eu me sinto uma nova mulher”

Para o Fundo Baobá, Zarah explica o significado desta frase: “Essa afirmação eu levo para vida. Com ela, eu me renovo todos os dias e com a cura do câncer de mama, só me fez enxergar ainda mais o quanto as coisas simples da vida precisam ser valorizadas. Estar com a família, com meu marido e minhas filhas, acabam nos encorajando para lutar contra a doença”. Finaliza.

Edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça consolida parceria entre Fundo Baobá e Google.org

Por Wagner Prado

O estado de ebulição em que o mundo entrou quando do assassinato do negro George Floyd pelo então policial, o branco Derek Chauvin, na cidade de Minneapolis, no estado de Minnesota (Estados Unidos), provocou posicionamentos sociais por parte de várias empresas em todo mundo. O assassinato de Floyd, infelizmente, fez despertar em milhões a atenção sobre os problemas causados pelo racismo, muito mais observado pelos que são vítimas dele no cotidiano. 

Uma das corporações mundiais a se manifestar foi o Google, por intermédio de seu  CEO, Sundar Pichai. “No ano passado, o CEO Sundar Pichai falou sobre a importância de reconhecer o racismo como um problema global e sistêmico e assumiu compromissos de aumentar a proporção de pessoas negras em cargos de liderança e dedicar esforços não só no processo de contratação, mas de retenção e promoção. Na ocasião, nos comprometemos globalmente a investir cada vez mais esforços  em equidade racial, por meio de iniciativas internas e externas de combate à injustiça racial e construção de sustentabilidade social”, afirmou Flavia Garcia, Head de Diversidade, Equidade e Inclusão do Google na América Latina. 

O comprometimento global do Google fez com que ações no sentido do combate ao racismo e busca pela equidade fossem realizadas também no Brasil. Uma dessas ações foi o apoio dado ao Fundo Baobá para Equidade Racial no edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça, lançado em maio de 2021 com dotação de R$ 1,2 milhão. Os recursos vieram do Google.org, braço filantrópico do Google, que tem como uma de suas premissas apoiar entidades negras cuja atuação no enfrentamento ao racismo seja o foco. 

O edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça selecionou 12 organizações negras brasileiras que apresentaram projetos com os seguintes direcionamentos:  Enfrentamento à Violência Racial Sistêmica; Proteção Comunitária e Promoção da Equidade Racial; Enfrentamento ao Encarceramento em Massa entre Adultos e Jovens Negros e Redução  da Idade Penal para Adolescentes; Reparação para Vítimas e Sobreviventes de Injustiças Criminais com Viés Racial

O objetivo do Vidas Negras é ir de encontro a inúmeras arbitrariedades que têm sido relatadas e documentadas dentro do sistema de Justiça do Brasil, que em inúmeros casos procura desqualificar o povo negro impondo a ele decisões sem embasamento que culminam em penas injustificáveis. “Reforçamos nosso compromisso em continuar avançando na redução das desigualdades estruturais raciais, por meio de ações de equidade de oportunidades de acesso, desenvolvimento e liderança para a comunidade negra. Trabalhamos promovendo oportunidade econômica para a população negra e apoiando o trabalho de organizações que atuam no front,  realizando ações de combate ao racismo e à desigualdade racial, como é o caso do apoio do Google.org ao Fundo Baobá, primeiro e único fundo filantrópico brasileiro dedicado exclusivamente à equidade racial”, disse Flavia Garcia. 

Flavia Garcia, Head de Diversidade, Equidade e Inclusão do Google na América Latina

Um dos objetivos do Google como único apoiador do edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça foi o de alcançar o maior número de pessoas possível com as ações implementadas. O objetivo foi alcançado. “Por meio do Fundo Baobá, o apoio do Google se multiplicou, beneficiando 12 organizações com trabalhos com foco no enfrentamento ao racismo em suas regiões de atuação. Além do Fundo Baobá, o Google.org destinou recursos para o Núcleo de Pesquisa em Justiça Racial e Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV) com o objetivo de apoiar a pesquisa e coleta de informações sobre o estado da justiça racial no Brasil, a partir da análise de estudos de caso, dados e visualização das dimensões raciais da violência policial no país”, revelou a executiva de Diversidade, Equidade e Inclusão do Google para a América Latina. 

As organizações selecionadas estão recebendo um amplo treinamento para que alcancem 100% da potencialidade de seus projetos. Como apoiador, o Google vem monitorando e tem apreciado o trabalho que vem sendo feito pelo Baobá. “O Google.org entende que as pessoas mais próximas do problema são as que estão em melhor posição para resolvê-lo. E esse é o caso dos treinamentos que o Fundo Baobá disponibilizou para todo o ecossistema de organizações, o que inclui ferramentas de governança, recursos humanos, monitoramento e avaliação de programas, finanças, saúde e sustentabilidade, estratégia de comunicação e desenvolvimento de competências digitais; essenciais para seu fortalecimento institucional. Estamos entusiasmados em ver que as organizações selecionadas criarão uma rede onde terão interações mais profundas para compartilhar as lições aprendidas umas com as outras, com o objetivo de fortalecer uma rede nacional com representantes de organizações lideradas por pessoas negras de cada região”, finalizou Flavia Garcia.

Fundo Baobá na Imprensa em Setembro

Por Vinícius Vieira

Dois editais do Fundo Baobá para Equidade Racial foram destaques na imprensa no mês de setembro em momentos distintos. Enquanto o Edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça, divulgava a sua lista final com as 12 iniciativas selecionadas, no dia 9, o Edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça, por sua vez, foi lançado no dia 23.

Com apoio do Google.Org, braço filantrópico do Google, o edital Vidas Negras teve a sua lista de selecionados noticiada em portais de notícias como: Valor Econômico, Terra, Metrópoles, Correio Braziliense, IP News, Capital Digital, Tribuna do Agreste e Tribuna do Sertão, e também nos portais da mídia negra como: Revista Raça, Cultura Preta, Ceará Criolo e Instituto Geledés da Mulher Negra. Além do próprio Google que destacou o tema no seu blog institucional.

Enquanto isso, o Quilombolas em Defesa, lançado em parceria com a Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas), apoio da Fundação Interamericana (IAF) e ação integrada da Aliança Entre Fundos, foi destaque no Yahoo, Cedefes, Bahia.ba, Jornal do Sudoeste, Notícias de Contagem, Rede GN e no portal Notícia Preta.

A participação da diretora executiva e do presidente do conselho deliberativo do Fundo Baobá em eventos virtuais, também foi tema na imprensa no mês de setembro. O Correio Braziliense divulgou a presença do presidente do conselho deliberativo da organização, Giovanni Harvey, no webinar “Políticas Públicas para a Igualdade Racial”, organizado pelo Insper – Centro de Gestão e Políticas Públicas.

O evento, que aconteceu no dia 21 de setembro, contou também com as participações de Rosane Borges (ECA-SP) e Ricardo Henriques (Instituto Unibanco), teve a mediação de Laura Machado (Insper) e a abertura institucional feita pelo coordenador do Núcleo de Estudos Raciais, Michel França.

Em sua fala, Giovanni Harvey ressaltou a percepção que as pessoas brancas tem em relação a desigualdade racial no Brasil e o quanto que ela é estruturante nas relações sociais: “Na condição de um velho militante do movimento negro, eu sempre procuro refletir à respeito da capacidade que o racismo no Brasil tem de se transformar para preservar os privilégios da branquitude. Entendendo a branquitude não como uma característica fenotípica, mas como uma forma de pensar a organização da sociedade brasileira”.

Giovanni afirmou que não acredita na implementação da agenda antirracista por pessoas brancas de forma imediata: “A gente tem que tomar cuidado com iniciativas de grupos que, em busca da manutenção de seus privilégios, tem aderido formalmente a agenda antirracista. De uma hora pra outra, todas as pessoas que nunca falaram de desigualdade racial estão colocando nas suas redes sociais que são antirracistas. Eu não acredito em gente antirracista da noite pro dia”.

O presidente do conselho deliberativo do Fundo Baobá também fez uma crítica a chamada mercantilização da militância negra: “Eu tenho 57 anos de idade e sou militante do movimento negro desde a adolescência. De repente, todo esse conhecimento que nós adquirimos, em anos de luta, começa a ser negociado com ofertas de prestação de serviço de gestão de crise de empresas”, disse Giovanni, fazendo uma revelação: “Eu não vou fazer gestão de crise de empresa racista e, muito menos, mitigação de dano de reputação de instituição racista. É muito mais fácil eu utilizar o que eu aprendi nesses anos de militância, à serviço do movimento social, justamente para denunciar isso. Porque senão nós corremos o risco de esquecer tudo que aconteceu e criar uma democracia racial de faz de conta”, finaliza.

O evento completo pode ser assistido na íntegra aqui.

No dia 20 de setembro, foi a vez do portal do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) divulgar o evento virtual “ESG na Prática: Parcerias e Negócios para um mundo em transformação”, que contou com a participação da diretora-executiva do Fundo Baobá, Selma Moreira, e também com as presenças de Adriana Machado (Fundadora do Briyah Institute), Ricardo Batista (CEO do Tribanco),  Tarcila Ursini (EB Capital), além da mediação de Graziella Comini (professora associada da FEA/USP e vice-presidente do IPÊ).

A cobertura completa da mesa virtual “Como evitar o ESG Washing?” pode ser conferida na matéria especial no site do Fundo Baobá.

Selma Moreira também ganhou destaque no portal Estágios e Mercado de Trabalho, que divulgou, no dia 27, a sua participação na Conferência Juntos, que aconteceu entre os dias 2 e 3 de outubro. Realizada pela McKinsey & Company, a conferência virtual tinha a premissa de influenciar a formação de uma geração de jovens profissionais negros no ambiente corporativo. A diretora-executiva do Fundo Baobá participou da mesa “Governança ambiental, social e empresarial: impacto holístico e responsabilidade corporativa”, que também teve a participação de Alberto Cordeiro (McKinsey & Company) e Valquíria Tonello (Superintendente no Jurídico do Itaú Unibanco).

Coletiva Negras que Movem – Portal Geledés 

Enquanto isso, a tradicional coluna “Coletiva Negras que Movem”, do Instituto da Mulher Negra Geledés, com as apoiadas do Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, publicou no dia 4, o texto Filosofia da Lata Vazia – O Peso de Todas as Coisas, de autoria da dançarina, DJ e performer, Laura Sancos.

A psicóloga doutoranda e mestre em Psicologia, gestora de Políticas Públicas de Juventude, Gênero e Raça e integrante da atual gestão do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG), Larissa Amorim Borges, com a graduanda em Ciências Aeronáuticas, pilota em formação, comissária de voo gestora da página Voe Como Uma Negra, membro do Comitê de Tripulantes negros do SNA e cofundadora do Quilombo Aéreo, Laiara Amorim Borges, ao lado da bacharel em Direito, coach de desenvolvimento pessoal afrocentrado, defensora popular, coordenadora cultural e de eventos e integrante do coletivo Juventude de Terreiro Cenarab (MG), Lorena Amorim Borges, escrevam juntas o artigo Intersecção de saberes: Movimento Negro, Direito, Psicologia, Terreiro e outras Pretitudes

Outro artigo escrito em parceria foi Precisamos olhar com carinho para nossas trajetórias, antes que o racismo acabe com o que resta de nós, de autoria de Carolina Brito, pós-graduanda em História e Cultura Afro-brasileira, MBA em produção de conteúdo para mídias digitais e Bacharela em Arte e Mídia, produtora cultural, além de diretora e idealizadora da Enegrecida, em parceria com historiadora, mestranda em História, Coordenadora do Grupo de Estudos Literários em Escrituras Negras e a autora do livro O Pensamento de Angela Davis, Bruna Santiago. 

Por fim, o texto Lutemos pela educação, ela é espaço de luta e resistência!, foi escrito pela graduada em Serviço Social, pós-graduada em Política de Assistência Social e MBA em Administração Pública e Gerência de Cidades, Sibele Gabriela dos Santos.

Fundo Baobá discute ESG

Por Vinícius Vieira

No dia 4 de outubro, conhecido como o Dia da Natureza, o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), em parceria com o LinkedIn, realizou o evento virtual “ESG na Prática: Parcerias e Negócios para um mundo em transformação”, que contou com a participação de profissionais de diversas áreas para falar da prática do ESG (Environmental, Social and corporate Governance – Governança Ambiental, Social e Corporativa) em seu ramo de atuação.

A diretora executiva do Fundo Baobá para Equidade Racial, Selma Moreira, foi uma das palestrantes na mesa de encerramento do evento. Com o tema “Como evitar o ESG Washing?”,  a sessão foi mediada pela professora associada da FEA/USP e vice-presidente do IPÊ, Graziella Comini, e contou com as  participações de Adriana Machado (Fundadora do Briyah Institute), Ricardo Batista (CEO do Tribanco) e Tarcila Ursini (EB Capital).

ESG na prática. Sentido horário: Graziella Comini (FEA/USP e IPÊ), Adriana Machado (Briyah Institute), Selma Moreira (Fundo Baobá), Tarcila Ursini (EB Capital) e Ricardo Batista (CEO do Tribanco)

No dia do evento, três redes sociais muito utilizadas tiveram problemas de instabilidade e ficaram sete horas sem funcionamento, gerando caos no mundo todo. Selma Moreira fez questão de iniciar a sua exposição fazendo conexões entre o ocorrido e a prática do ESG: “Se cai a internet, todo mundo enlouquece. Então por que a gente não sente a mesma coisa quando cai uma árvore ou quando a gente perde uma vida?”, perguntou.

Falando sobre ESG na prática, Selma destaca a necessidade de a discussão sobre o tema começar pela letra G, que representa a Governança Corporativa: “A governança é a chave, o espírito, sendo, talvez, o tema mais forte e que a gente tenha que apertar a caneta. Porque você precisa trabalhar a importância internalizada no alto escalão da empresa, para garantir que todos os trabalhos sejam feitos na perspectiva de promover a questão ambiental e a questão social. Muito além de uma simples propaganda”, afirmou.

A expressão ESG Washing é conhecida no meio corporativo como a implementação do ESG, sem o comprometimento real com todas as pautas que compõem a sigla. Neste contexto, Selma Moreira frisou a importância do engajamento e da discussão em torno dos fundamentos estratégicos do ESG; de não ficar apenas em modismos, citando, inclusive, a comoção virtual pela morte do norte-americano George Floyd em junho de 2020: “No ano passado nós vimos todo mundo falando sobre o Black Lives Matter [movimento ‘Vidas Negras Importam’] o tempo todo nas redes sociais. Eu acho muito importante as pessoas dialogarem sobre isso, mas eu quero que seja de verdade, para além de um post nas redes sociais. É preciso que essas pessoas se importem com isso e que todas as decisões tomadas, na vida pessoal ou profissional, estejam conectadas com essa temática também”.

A diretora executiva do Fundo Baobá, o primeiro fundo dedicado à promoção da equidade racial para a população negra no país, fez questão de afirmar que é necessário um olhar cuidadoso para as organizações e Fundos de justiça social e aprender com a experiência de atuação de cada um deles, nas causas mais urgentes: “O nosso trabalho está diretamente ligado ao Brasil profundo, escutando e respondendo às demandas dos diversos públicos. Assim como o Baobá, existem outros Fundos com outras temáticas que atuam para garantir que organizações de base comunitária, rurais, quilombolas, além da população mais afastada e vulnerável, tenham direito de viver com dignidade e de seguir se desenvolvendo”.

Por fim, Selma Moreira reitera que é necessário se permitir colocar em dúvida as nossas certezas: “As crianças têm o chamado ‘cantinho da disciplina’, os adultos precisam ter o cantinho da dúvida, antes de tomar qualquer decisão. É nessa hora da dúvida que se permite dialogar, experimentar e tentar outros caminhos, porque o que falta é conhecer mais do Brasil, falta conhecer mais das necessidades e falta, inclusive, desenhar os nossos planos a partir das escutas”, afirmando que não significa apenas investir o dinheiro em uma causa, baseado nas próprias estratégias, mas ter a sensibilidade de ouvir as demandas de cada um: “É muito do ser humano achar que tem a solução de tudo, no entanto, eu diria que é preciso fazer tudo com intencionalidade”, finalizou. 

No final do evento, a artista gráfica Camila G.MW. fez uma arte com todos os participantes da mesa digital e retratou Selma Moreira com os cabelos em formato de baobá, a árvore nativa da África, pertencente à família das malváceas, com um tronco que pode chegar a nove metros de diâmetro e 30 metros de altura e que deu origem ao nome da organização.

O vídeo está disponível no perfil do IPÊ no LinkedIn e pode ser assistido aqui.

Nasce uma Aliança para fortalecer o apoio a grupos comunitários no enfrentamento da covid-19

Como a filantropia está apoiando o enfrentamento da pandemia

Publicado originalmente no site da Rede de Filantropia para Justiça Social

Por Cristina Orpheo e Joyce Maria Rodrigues

A pesquisa Emergência Covid-19, realizada pelo GIFE, apresenta uma análise da atuação emergencial de diferentes organizações do campo da filantropia e de investimento social, e revela que houve uma forte resposta desse setor na construção de ações para minimizar os impactos da pandemia. No que confere à alocação de recursos, num grupo de 98 organizações entrevistadas, 78% afirmaram que investiram em iniciativas finalísticas de enfrentamento à Covid-19. No que se refere ao montante alocado, a pesquisa apresenta que a somatória de 69 organizações resultou num valor total de R$ 2 bilhões. No comparativo com o valor investido em outras iniciativas e na gestão dessas organizações, esse valor é 1,9 vezes superior.

Nesse contexto, os fundos e fundações comunitárias reunidas na Rede de Filantropia para a Justiça Social (RFJS) têm desempenhado também um papel estratégico para viabilizar a doação de recursos. Ao longo de 2020 as organizações da Rede doaram de forma direta um montante de R$ 14.019.120,70 para mais de 1.200 iniciativas da sociedade civil. As doações indiretas (cestas básicas, kit higiene e ajuda humanitária, de forma geral) somam aproximadamente 2,9 milhões de reais, totalizando mais de 16,9 milhões de reais.

Além disso, a RFJS, por meio de seu Programa de Apoio, doou um montante de R$ 210.000 para fortalecimento dos seus membros no enfrentamento da pandemia a partir de três linhas de atuação: mobilização comunitária e campanhas de doação e de comunicação, informação e produção de conhecimento.

Como demonstra o estudo O Papel e o protagonismo da sociedade civil no enfrentamento da pandemia da covid-19 no Brasil, embora o montante das doações dos fundos locais que integram a RFJS não seja comparável aos recursos mobilizados pelas grandes fortunas, a atuação da Rede foi e continua sendo estratégica no contexto da pandemia pela capacidade de reagir de forma ágil e assertiva, atendendo a múltiplas demandas, com foco nas minorias políticas e grupos vulneráveis.

Esses dados demonstram que a urgência por respostas ao cenário da pandemia do coronavírus promoveu uma prioridade de investimentos entre as organizações do universo da filantropia e do investimento social no Brasil.

Se a imprevisibilidade de uma pandemia mundial explicou o deslocamento de prioridades e a maior mobilização por recursos ao longo do ano de 2020, após um ano e meio de seu início percebemos que as urgências não findaram, mas se transformaram.

O país se encontra imerso em um cenário de retrocessos na garantia direitos humanos e ambientais, aumento da taxa de desemprego em consonância com o encarecimento do custo de vida, que somados às inúmeras ausências de políticas públicas para minimizar os impactos da covid-19 têm agravado as condições de vida da população mais vulnerável, em especial os povos indígenas, quilombolas e outros povos tradicionais.

Parafraseando os autores Luiz Antônio Simas e Luiz Rufino, como combater a mortandade quando ela se torna algo corriqueiro? Se seguirmos as trilhas da resposta à pergunta dos autores, precisamos exercitar a política da vida, o encantamento.

O encantamento como uma capacidade de transitar nas inúmeras voltas do tempo, invocar espiritualidades de batalha e de cura, primar por uma política e educação de base comunitária entre todos os seres e ancestrais, inscrever o cotidiano como rito de leitura e escrita em diferentes sistemas poéticos e primar pela inteligibilidade dos ciclos é luta frente ao paradigma de desencanto instalado aqui. Ou seja, o encante é fundamento político que confronta as limitações da chamada consciência das mentalidades ocidentalizadas. (SIMAS E RUFINO, 2020, p.8).

Portanto, o atual contexto demanda ações destinadas à (re)construção, fortalecimento e principalmente de reconhecimento do protagonismo das organizações de base comunitária e tradicionais. Infelizmente, não vemos a construção de políticas públicas que dê conta de atender essas populações para essa reconstrução.

Passamos de um momento de apoios humanitários para apoios com ações mais estruturantes, e com eles o desafio dos recursos da filantropia chegarem de fato às comunidades mais impactadas.

Aliança entre Fundos

Diante desse contexto é consolidada a Aliança entre Fundos, composta pelos Fundos Baobá, Brasil de Direitos e Casa Socioambiental.

Os diálogos e as trocas entre essas organizações ocorridas no ano de 2020 para aprendizados sobre mobilização, coordenação, alocação e gestão dos recursos emergenciais durante o período mais crítico da pandemia resultaram numa aliança estratégica direcionada a apoiar iniciativas de comunidades tradicionais frente aos impactos causados pela covid19.

A Aliança foi lançada no dia 26 de agosto e tem como objetivo principal contribuir para a autonomia e o protagonismo das populações tradicionais, organizações, grupos e coletivos na construção de soluções para os impactos provocados pela pandemia por meio de apoio a projetos em três eixos temáticos; (1) Fortalecimento da resiliência, (2) soberania e segurança alimentar (3) defesa de direitos.

A iniciativa tem ainda como objetivos fortalecer o ecossistema da filantropia pela justiça racial, social e ambiental por meio de estratégia de atuação conjunta entre os Fundos, gerando aprendizados e reforçando a importância da colaboração para enfrentar emergências, potencializando o apoio aos grupos comunitários.

Assim, a Aliança se inscreve como apoio e ponte para a construção da política de vida plantada nas margens, capoeiras, sambaquis, quilombos, mangues, sertões, gameleiras, esquinas e matas daqui. O “encantamento” se torna metáfora, mas também estratégia colaborativa onde os Fundos que buscam apoiar ações de alicerce, de (re)construção e enfrentamento aos desafios impostos pela pandemia para as comunidades quilombolas e povos indígenas.

A Rede de Filantropia para a Justiça Social foi campo fértil para o nascimento dessa Aliança, criando um importante espaço de diálogo no pior momento da pandemia em 2020, fomentando ações criativas para o apoio aos grupos de base para ações emergenciais de enfrentamento a covid19. Acreditamos que a Aliança e a Rede podem seguir na trilha de gerar aprendizagem, em especial nos temas de estratégias colaborativas para mobilização de recursos e em monitoramento e avaliação dos apoios aos grupos de base.

Próximos Passos

Os Fundos que compõem a Aliança começaram a lançar os editais de apoio a projetos no mês de setembro, com previsão inicial de aporte de 2,5 milhões de reais para apoios a grupos quilombolas e indígenas. O edital Em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas, lançado pelo Fundo Brasil. A Chamada de Projetos para Apoio às Comunidades Quilombolas no Enfrentamento dos Impactos Causados pela Covid-19, lançada pelo Fundo Casa Socioambiental. E o edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça, lançado pelo Fundo Baobá para Equidade Racial.

Para 2022, está sendo construída uma agenda de fortalecimento de capacidades e trocas e intercâmbios entre os grupos comunitários que serão selecionados nos editais.

Referências

Observatório da Covid-19 nos Quilombos – https://quilombosemcovid19.org/

Pesquisa Emergência Covid-19: levantamento de dados e informações da resposta da filantropia e do investimento social privado no enfrentamento à pandemia – https://sinapse.gife.org.br/download/pesquisa-emergencia-covid-19-levantamento-de-dados-e-informacoes-da-resposta-da-filantropia-e-do-investimento-social-privado-no-enfrentamento-a-pandemia

O papel e o protagonismo da sociedade civil no enfrentamento da pandemia da covid-19 no Brasil – https://www.redefilantropia.org.br/publicacoes/o-papel-e-o-protagonismo-da-sociedade-civil-no-enfrentamento-da-pandemia-da-covid-19-no-brasil%E2%80%89

SIMAS, Luis Antônio e RUFINO, Luis. Encantamento, sobre a política de vida. Rio de Janeiro. Mórula Ed.2020.

Joyce Maria Rodrigues – Mestra em Planejamento e Gestão do Território pela UFABC, especialista em políticas públicas pela USP e Licenciada em ciências sociais pela UNESP Marília. Atua como consultora técnica da iniciativa Aliança entre Fundos.

Cristina Orpheo é Diretora Executiva do Fundo Casa Socioambiental. É formada em Administração, com pós-graduação em gestão de projetos sociais, terceiro setor e gestão ambiental. Tem 20 anos de experiência em elaboração e gestão de projetos, gestão de recursos humanos, elaboração de projetos, planejamento estratégico e mobilização de recursos. Nos últimos 10 anos atua em Grantmaking e apoios a grupos comunitários de base.

Pessoas com deficiência, o esporte e as estratégias de afirmação

Por intermédio de suas conquistas no Esporte, as PcDs (Pessoas com Deficiência) mostram para os capacitistas que são capazes de fazer qualquer coisa

Por Wagner Prado

Em 1944, o mundo ainda estava sacudido pelo flagelo da II Guerra Mundial, que terminaria um ano depois. Um neurologista de origem alemã, Ludwig Guttmann, recebeu do governo do Reino Unido o aval para abrir um centro de reabilitação para tratar lesões na coluna. O público eram os soldados feridos em batalha. Ludwig Guttman acreditava na prática esportiva como principal forma de reabilitação. Aquilo foi o embrião para o que havia começado como recreação visando reabilitação,  se transformasse em competitividade entre pessoas com deficiências. 

Como muitas ideias evoluem, Ludwig Guttmann levou seu desejo de promover uma competição entre cadeirantes para a organização dos Jogos Olímpicos de 1948 em Londres. Nascia ali a intenção de promover jogos exclusivos para PcD, chamados então de Jogos Paraolímpicos. A realização dos primeiros Jogos Paraolímpicos ocorreu em Roma, em 1960 e, desde então, acontecem a cada quatro anos após os Jogos Olímpicos.

Competir esportivamente foi e é uma grande conquista das pessoas com deficiência. Porém, algumas conquistas acabam por esconder tantas outras batalhas que estão sendo travadas por este segmento da população e a sociedade, em sua quase totalidade, não tem conhecimento. 

Uma dessas batalhas é contra o que se denomina Capacitismo, que é a atitude de discriminar, tratar com preconceito e opressão qualquer pessoa com deficiência física e motora, visual, auditiva, intelectual e de aprendizado. Criou-se o conceito de que pessoas com deficiência são inferiores. Dar a elas tratamento de comiseração é, também, uma forma de capacitismo.

O Brasil tem 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para combater o capacitismo, foi instituída a Lei Federal 13.146, em 6 de julho de 2015, que é o Estatuto da Pessoa com Deficiência. Em seu artigo 4º, a Lei diz que  “toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação”.

Ainda no terreno das leis federais, a Lei 8.213 de 1991, batizada como Lei de Cotas, determina que empresas que tenham de 100 a 200 funcionários reservem 2% das vagas para PcD. Essa porcentagem vai crescendo de acordo com o número de empregados/as e chega ao máximo de 5% para empresas que tenham mais de 1001 colaboradores/as. 

A fuga da invisibilidade, a ocupação de espaços que movam a  opinião pública, a busca pela conscientização sobre os direitos das pessoas com deficiência,  têm sido uma missão para muites. O movimento Vidas Negras com Deficiência Importam (VNDI) foi criado por negros para combater os impactos das intersecções entre racismo, capacitismo e a discriminação a pessoas negras com deficiência. O grupo está bem ativo nas redes sociais e fora delas também.

A prática esportiva tem sido uma forma de afirmação encontrada por PcDs para trazer o olhar da sociedade sobre suas conquistas e também  reivindicações. Na última edição da Paraolimpíada de Tóquio, realizada em agosto de 2021, o Brasil levou 253 atletas, sua maior delegação. Um deles, o nadador estreante Gabriel Geraldo Araújo, o Gabrielzinho, de 19 anos. Competindo na categoria S2 (o “S” é de Swimming/Natação e o 2 classifica nadadores com limitações físico motoras). Gabrielzinho nasceu com Focomelia, um tipo de anomalia que provoca a má formação de braços, mãos, pernas e pés. A mãe de Gabriel, Eneida Magna dos Santos,  descobriu o problema quando estava em seu quinto mês de gravidez. 

Gabriel Geraldo Araújo, o Gabrielzinho

A vida não foi fácil e ninguém disse que seria. Gabriel desde muito cedo, antes de completar um ano, já estava em um centro de reabilitação para aprender a dar os primeiros passos e, com o crescimento, ganhar autonomia. A natação competitiva veio aos 13 anos, quando foi inscrito nos Jogos de Minas Gerais para Deficientes por um professor de Educação Física. De lá até Tóquio o caminho foi de muitas vitórias, mas, acima de tudo, muito esforço visando o próprio aperfeiçoamento. Gabriel Araujo alcançou três medalhas na  Paralimpíada japonesa: dois ouros e uma prata. Pela competência de atleta e pelo carisma, ganhou fama e aproveitou para levantar bandeiras: “Na minha vida sempre foi assim, ‘vai lá e faz’. As pessoas, todas, têm que entender que nós somos deficientes, mas nós somos capazes de fazer tudo”, afirmou o campeão paralímpico em entrevista ao site ge.com .

Fundo Baobá e Conaq lançam o edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça

O Fundo Baobá para Equidade Racial em parceria com a Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) lançam o edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça.  O objetivo do  edital é apoiar iniciativas de organizações quilombolas para promover a sustentabilidade econômica nas comunidades, a geração de renda, promover a soberania e a segurança alimentar, além de defender os direitos quilombolas nas comunidades. 

Fundo Baobá, Fundo Brasil de Direitos Humanos e Fundo Casa Socioambiental que, juntos, constituem a Aliança entre Fundos, atuam em prol da justiça racial, justiça social e justiça ambiental. As ações da Aliança são financiadas pela Fundação Interamericana (IAF).  Os três, com editais independentes, pretendem contribuir na redução dos impactos que as crises sanitária e econômica vêm ocasionando nos povos indígenas, comunidades quilombolas e outros povos tradicionais mais vulnerabilizados pela pandemia da COVID-19.

De acordo com a Conaq e o IBGE,  o Brasil conta com cerca de 6 mil comunidades quilombolas. Dessas, apenas 2.819 já foram certificadas, estando 1.727 localizadas no Nordeste, 450 no Sudeste, 300 no Norte, 191 no Sul e 151 no Centro-Oeste.. Mais de 70% das comunidades quilombolas certificadas, que têm direito à terra coletiva, estão em quatro estados: Maranhão, Minas Gerais, Bahia e Pará.   Segundo a Fundação Cultural Palmares, responsável pela emissão das certidões para as comunidades quilombolas e inclusão das mesmas em um cadastro geral, 3.475 comunidades quilombolas foram reconhecidas, porém ainda aguardam certificação (2196 no Nordeste, 547 no Sudeste, 369 no Norte, 193 no Sul e 169 no Centro-Oeste). Os quilombolas têm, em sua maioria, a agricultura e a pecuária como principais atividades econômicas. A preservação de sua cultura vem da oralidade ancestral e da resistência que têm exercido ao longo de suas existências. 

“Para nós do Fundo Baobá este edital é um marco. Estamos celebrando 10 anos e será a primeira vez que teremos um edital exclusivo para quilombolas. O edital foi todo desenhado em parceria com a Conaq e se apresenta como uma grande oportunidade para fortalecer as estratégias de ativismo, resistência e resiliência das comunidades quilombolas no contexto da pandemia da covid-19.  Sabemos que as organizações de base comunitária nem sempre conseguem acessar recursos, em especial organizações comunitárias lideradas e constituídas por povos tradicionais, por isso o edital também é uma oportunidade para contribuir no aprimoramento da filantropia para justiça social”, afirmou a diretora de Programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes.  

Entidades e valor do apoio

Apenas organizações  lideradas e constituídas por quilombolas poderão se inscrever.  Essa é a principal premissa do edital. Os recursos financeiros e o apoio técnico irão para a base comunitária.  Serão apoiadas  até 35 (trinta e cinco) iniciativas. Para cada uma caberá um montante de  R$ 30.000 (trinta mil reais), perfazendo R$ 1.050.000 (Um milhão e cinquenta mil reais). As organizações selecionadas também irão receber investimentos indiretos por meio de assessoria e apoio técnico visando seu fortalecimento institucional. O edital completo poderá ser lido neste link.

Inscrições

As inscrições para o edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça começam no dia 23 de setembro e vão até as 23h59 do dia 25 de outubro (horário de Brasília).  As demais fases do processo seletivo estão descritas no edital. 

Para se inscrever basta acessar o site oficial do edital.

Eixos Temáticos

Cada organização deve apresentar apenas uma proposta que verse sobre um dos eixos temáticos propostos: 

  1. Recuperação e sustentabilidade econômica nas comunidades quilombolas; 
  2. Promoção da soberania e segurança alimentar nas comunidades quilombolas; 
  3. Resiliência comunitária e defesa dos direitos quilombolas. 

Setembro Amarelo e a saúde mental dos adolescentes e jovens negros

Por Vinícius Vieira

Desde 1996 o Brasil celebra o Dia de Adolescentes (21). Setembro também é o mês em que se celebra o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio (10). Em alusão a esta data, desde 2014 acontece a campanha nacional Setembro Amarelo, por iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e do Conselho Federal de Medicina (CFM) e sendo aderida em 2015 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV).

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), no Brasil, todos os anos, cerca de 12 mil pessoas tiram a própria vida. Isso representa quase 6% da população. A OMS também informa que o suicídio é a terceira causa de morte de jovens brasileiros entre 15 e 29 anos. 

Dados do Ministério da Saúde, revelam que, em 2019, a taxa de jovens negros entre 10 e 29 anos de idade que cometeram suicídio foi 45% maior que a observada entre jovens brancos na mesma faixa etária. A pergunta que fica é: Qual são os possíveis motivos que levam o adolescente/jovem negro brasileiro a experimentar este risco acrescido de suicídio?

Para a psicóloga, mestre em Saúde Comunitária, doutora em Saúde Pública, docente na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e idealizadora da página Saúde Mental da População Negra, Jeanne Saskya Campos Tavares, é preciso voltar no tempo e analisar que o suicídio funciona como estratégia política da população negra no Brasil desde a colonização: “No passado, por diferentes meios, pessoas negras davam fim a sua própria vida e de seus filhos para que não mais fossem submetidos aos horrores da escravização”.

Nos tempos atuais, Jeanne afirma que o racismo continua diretamente ligado à ideação e comportamento suicida, uma vez que este não é um problema individual, mas um processo coletivo: “Ele se relaciona com a necessidade do jovem negro de cessar um intenso sofrimento através da morte e à percepção de que não há esperança de que, em algum momento, terá uma vida que valha a pena viver. Neste sentido, o racismo está diretamente relacionado às questões sociais, de baixa auto-estima e de violência no ambiente escolar desde a infância”.

Jeanne faz questão de salientar que o racismo é um importante fator que vulnerabiliza os adolescentes e jovens negros brasileiros e pode ser entendido como um fator predisponente para o suicídio: “Pois ele impede o acesso aos direitos de cidadania, expõe as pessoas negras a múltiplas violências cotidianas  que envolvem  desde situações continuadas de humilhação pública, até a possibilidade de sua própria morte e encarceramento ou encarceramento de conhecidos e familiares. Essas experiências comprometem  significativamente a saúde mental da maioria das pessoas negras,  pois relacionam-se com a  baixa qualidade de vida e impossibilidade de receber apoio social em diferentes contextos”.

Jeanne Saskya Campos Tavares, psicóloga, mestre em Saúde Comunitária, doutora em Saúde Pública, docente na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e idealizadora da página Saúde Mental da População Negra

Em 2020 e 2021, tivemos que lidar (e estamos lidando) com um fato que afetou diretamente a vida e a saúde mental das pessoas do mundo inteiro: a pandemia da Covid-19. Durante este período, Jeanne Tavares realizou uma série de lives intituladas Saúde mental da  população negra em tempos de pandemia, que dialogavam diretamente com os mais afetados nesta crise sanitária. Jeanne diz que o novo coronavírus impactou diretamente na saúde mental dos adolescentes e jovens negros: “A saúde mental foi afetada porque foram expostos à maior insegurança do que já viviam. Não era apenas o risco de contaminação pelo vírus, pois muitos continuaram desenvolvendo atividades laborais, geralmente informais, junto com suas famílias, mas tiveram que lidar com a morte e adoecimento dos seus familiares e conhecidos que, em sua  maioria, não puderam estar em trabalho remoto”. Jeanne frisa que, em um ano de pandemia, os jovens experienciaram todas as dificuldades relacionadas à perda de emprego entre os seus e ao empobrecimento coletivo, além da paralisação de suas atividades escolares com comprometimento do apoio que a comunidade escolar pode oferecer, “ainda que tendo muitas limitações, é um contexto reconhecido como protetor e  de acesso à alimentação e contatos sociais diários”.

Diante de todo esse cenário, fica evidente que o cuidado com a saúde mental de adolescentes e jovens negros é essencial. Políticas, programas, iniciativas para enfrentar o racismo no ambiente escolar, dialogar sobre orientação sexual, identidade de gênero, entre outras intersecções que contribuem para a vulnerabilidade e podem levar ao suicídio de jovens negres. Trabalho de base realizado em um ambiente escolar, educação básica de qualidade, manutenção de jovens negres na escola, todos estes pontos estão em jogo quando falamos sobre saúde integral e saúde mental, em especial. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em  2018 um terço dos brasileiros entre 19 e 24 anos não havia conseguido concluir o ensino médio. Entre os que não conluíram esta etapa, 44,2% eram homens jovens negros. Um dos motivos da evasão escolar entre  negros do sexo masculino, com menos de 18 anos,  é o ingresso no mercado de trabalho. O relatório  Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, divulgado em 2019 pelo IBGE, mostra que as pessoas negras representam 75% entre os mais pobres. A educação de má qualidade, o ambiente que segrega e a carência econômica contribuem para a busca por emprego em detrimento à formação escolar. 

Sobre esta conexão entre situação  socioeconomica e educacional, Jeanne acredita que as políticas de redistribuição de renda e as políticas afirmativas, não apenas as cotas como também as que garantam a permanência de crianças, adolescentes e jovens do ensino fundamental ao superior, podem ser interpretadas também como políticas promotoras de saúde mental: “É importante salientar que a saúde mental da população negra está diretamente associada à nossa qualidade de vida, por isso todas as políticas que nos permitam viver numa sociedade equânime, com acesso à alimentação, água, justiça, paz, trabalho, moradia, liberdade de trânsito nas cidades, saúde, educação, descanso, dentre  tantos outros direitos humanos, são também produtoras de saúde mental e nos protegem  em relação ao suicídio”. Finaliza.

 

Já É: Promovendo educação, equidade racial e qualidade de vida

Compreendendo as conexões entre educação de adolescentes e jovens, qualidade de vida, saúde mental e  justiça racial, o Fundo Baobá lançou em 2020 o Programa Já É: Educação e Equidade Racial. Em parceria com a Citi Foundation, Demarest Advogados e Amadi Technology, o Programa Já É foi criado pelo Baobá com a premissa de impulsionar o ingresso de jovens negros e periféricos nas universidades, através do custeamento dos gastos em um curso pré-vestibular e também transporte e alimentação.

Jakeline Souza Lima, 22 anos, é uma das jovens apoiadas pelo Já É e uma das defensoras da promoção de uma educação de qualidade para o fim do racismo estrutural: “A educação é a ferramenta mais potente para transformar as estruturas, para sanar os problemas que estão enraizados há tanto tempo na nossa sociedade”. Apesar desta certeza, Jakeline também acredita que a educação precisa ser crítica e empoderadora, principalmente no que diz respeito a história negra: “É preciso que nossa história seja passada como realmente foi: cheia de lutas, com muita potência, inventividade, riqueza e orgulho, e não como tem sido desde sempre, quase nos ensinando a termos vergonha e aceitar tudo que nos dizem”.

Jakeline Lima, apoiada no “Programa Já É: Educação e Equidade Racial”

Foi a falta dessa educação crítica e empoderadora, que fez Jakeline sofrer racismo dos 7 aos 14 anos no ambiente escolar: “Os alunos zoavam tudo em mim: o meu cabelo, a cor da minha pele, o meu nariz e o meu peso. Essas ofensas afetaram demais minha autoestima, passei a me sentir feia, achar que eu nunca seria amada; passei a não ter mais vontade de sair e ter medo de ser vista demais, queria ficar escondida e chamar o mínimo de atenção possível”.

Mesmo com a saúde mental abalada pelos ataques racistas na adolescência, durante o ensino médio, Jakeline Lima teve contato com o movimento dos estudantes secundaristas, com o teatro e também com o grêmio estudantil. Montou uma chapa com alguns amigos e realizou  um trabalho de conscientização, enfrentamento  ao racismo, e outras formas de discriminação: “Realizamos a Semana da Alteridade, levando os alunos mais novos para a biblioteca para contarmos as nossas experiências e explicar o porquê não era bom ofender o amigo, além de várias outras questões”, 

Hoje no Programa Já É, Jakeline quer cursar artes cênicas e credita ao teatro um divisor em sua vida: “No teatro eu lidei, e sigo lidando, com as questões mais pessoais, passei a trabalhar minha relação com a imagem e transformar minhas dores em criações, juntar minhas dores com as de muitas pessoas e lutar, criar um coro, forte e potente”.

Jakeline Lima: “No teatro eu transformo minhas dores em criações”

 

Assim, Jakeline Lima faz questão de reforçar a importância da educação como sendo caminho de potencialização e transformação: “Através da educação a gente se enxerga na história e tem orgulho dela, tanto da que escreveram antes de nós, mas também da que estamos escrevendo”, afirma a estudante, também frisando que o Fundo Baobá, através do Programa Já É, tem permitido que outros adolescentes e jovens escrevam a sua própria história: “O Programa Já É, é um desses caminhos que usa a educação para nos devolver, para nos dar perspectiva, para nos fazer acreditar que somos capazes e também para nos mostrar que, quase cem jovens estão juntos e, se apenas um passar na universidade, todos passam, porque representamos a nós mesmos, mas também toda nossa família que muitas vezes não tiveram a mesma oportunidade que nós”.

Edital Vidas Negras e a potencialização da dignidade e justiça

Por Vinícius Vieira

No dia 9 de setembro, o Fundo Baobá para Equidade Racial divulgou a lista das organizações selecionadas no edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça, iniciativa lançada no dia 5 de maio, com apoio do Google.Org, braço filantrópico do Google, e que tem a premissa de apoiar entidades negras que atuam no enfrentamento do racismo e incorreções que ocorrem dentro do sistema de Justiça Criminal no Brasil.

Ao todo foram selecionadas 12 iniciativas, divididas pelos seguintes eixos: 

I – Enfrentamento à violência racial sistêmica
II – Proteção comunitária e promoção da equidade racial
III – Enfrentamento ao encarceramento em massa entre adultos e jovens negros e redução da idade penal para adolescentes
IV – Reparação para vítimas e sobreviventes de injustiças criminais com viés racial

Entre as organizações selecionadas temos organizações de mulheres negras e que atuam no enfrentamento à violência racial contra as mulheres, aquelas que atuam no enfrentamento ao racismo religioso, outras que dão visibilidade à situação de encarceramento de mulheres negras, organizações quilombolas que atuam na defesa dos direitos quilombolas, sobretudo o direito à terra. Organizações antiproibicionistas, outras que atuam na defesa do direito à moradia  para famílias sem teto de baixa; aquelas que congregam familiares e vítimas de violência do Estado e outras que prestam assistência biopsicossocial e jurídica a familiares de pessoas privadas de liberdade.

As organizações selecionadas estão localizadas nas regiões Sudeste, Norte e Nordeste do país, oriundas dos estados de Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Amapá, Pernambuco e Ceará.

O edital contou com três etapas de seleção sendo que, na última fase, as organizações  participaram de um painel de entrevistas conduzido por especialistas e membros da governança do Fundo Baobá. As entrevistas foram realizadas considerando o eixo temático escolhido pela organização no momento da inscrição e cada eixo contava com 2 ou 3 entrevistadores(as).

Para a graduanda em direito, monitora das disciplinas de Sociologia Geral e Assessoria Jurídica Popular na FND/UFRJ, também monitora no curso de extensão Promotoras Legais Populares e liderança comunitária na Baixada Fluminense, Thuane Nascimento, ter atuado no comitê de seleção entrevistando as e os representantes de organizações que inscreveram seus projetos no eixo III Proteção Comunitária e Promoção da Equidade Racial, dialoga perfeitamente com a sua área de atuação, desde quando ela entrou na universidade: “Essa lógica da proteção comunitária junto com a promoção da equidade racial tem tudo a ver com o trabalho que eu desenvolvo. Nós sabemos que quando um território está seguro, a pessoa que mora lá se sente segura naquele território. Entendemos que é a comunidade que consegue dar uma segurança e um aporte para a pessoa que está morando ali”.

Segundo Thuane, essa proteção que a comunidade oferece aos seus moradores, de maioria negra e pobre, faz parte do senso coletivo que está enraizado desde a construção desse local: “As favelas, os assentamentos e as ocupações são construídos numa lógica de coletividade. Isso é muito importante, porque na coletividade as pessoas aprendem a respeitar um ao outro e aprendem a proteger um ao outro”.

Thuane Nascimento, graduanda em direito, monitora das disciplinas de Sociologia Geral e Assessoria Jurídica Popular na FND/UFRJ, também monitora no curso de extensão Promotoras Legais Populares e liderança comunitária na Baixada Fluminense

Thuane atuou em um projeto chamado Circuito Favela por Direito, onde ela pôde vivenciar de perto o senso de coletividade existente nas comunidades do Rio de Janeiro: “Em muitas comunidades existe um grupo de WhatsApp para poder falar onde estava acontecendo um tiroteio, para avisar qual lugar que estava perigoso, além dos grupos de WhatsApp entre as mães. Proteção comunitária tem tudo a ver com o território”, afirma.

Quem também atuou no comitê de seleção do edital Vidas Negras, em diálogo com organizações que apresentaram suas propostas no eixo IV: Reparação para vítimas e sobreviventes de injustiças criminais com viés racial, foi a doutora e mestra em Direito Constitucional e Teoria do Estado; Professora do Departamento de Direito da PUC-Rio; Coordenadora Geral do NIREMA – Núcleo Interdisciplinar de Reflexão e Memória Afrodescendente – e professora visitante Jr. no African Gender Institute, University of Cape Town, Thula Pires, que também vê ligação entre a sua área de atuação e o eixo em que realizou entrevistas: “O eixo de Reparação é aquele que mais evidencia a necessidade do Estado se responsabilizar pelas violências que (re)produz e, nesse sentido, dialoga muito intrinsecamente com o campo do Direito Constitucional e da Teoria do Estado”.

No eixo IV foram selecionadas três organizações, todas da região Sudeste. Thula analisou e traçou o perfil característico de cada uma: “As organizações selecionadas no eixo IV nos oferecem a possibilidade de incidir em diferentes dimensões na reparação às vítimas de injustiças raciais. Do direito à moradia, em toda sua complexidade, aos desafios da política de drogas e da política prisional, passando pelo racismo religioso, temos distintas e estratégicas áreas de enfrentamento às violências promovidas, sobretudo, pelo Estado brasileiro”.

Thula Pires, doutora e mestra em Direito Constitucional e Teoria do Estado; Professora do Departamento de Direito da PUC-Rio; Coordenadora Geral do NIREMA – Núcleo Interdisciplinar de Reflexão e Memória Afrodescendente – e professora visitante Jr. no African Gender Institute, University of Cape Town

Ao relembrar a sua atuação no eixo II, Thuane fala dos diferentes perfis das quatro organizações selecionadas que, segundo a própria, deixou a escolha dos projetos ainda mais interessante. Entretanto, ela fez questão de destacar um dos projetos selecionados: “Uma organização da Região Norte que está situada em uma  comunidade quilombola e eles queriam expandir o trabalho para dezenas de comunidades, em um lugar que o principal meio de transporte é o fluvial. Eu fico imaginando a dificuldade: já trabalhavam com algumas comunidades e querem expandir ainda mais o trabalho. Isso é de uma importância imensa”. No caso, Thuane se refere à organização selecionada Associação de Jovens Moradores e Produtores Rurais de Santa Luzia do Maranum I (Ajomprom), localizada em Macapá, no Amapá.

Ao lembrar dessa organização, Thuane Nascimento fala sobre as potencialidades dos projetos e das organizações selecionadas;  as expectativas em relação às mudanças que poderão ser geradas na sociedade, além da importância da realização do edital Vidas Negras: “Se as organizações conseguem fazer um trabalho tão bom e chegar até aqui, mesmo sem tanto apoio financeiro e sem um apoio de rede, imagina onde que elas vão conseguir chegar com esse apoio do Fundo Baobá? Eu acredito que teremos muitas mudanças, talvez não seja uma mudança como a gente pensa, que vai abranger a todos, porque nem é essa a proposta, mas vai mudar a comunidade local, vai avançar no sentido dela se sentir protegida, se sentir conscientizada e conseguir avançar nas pautas e demandas que elas precisam para poder se manter e produzir em seu território”.

Para Thula Pires, os projetos selecionados têm a potencialidade de produzir impactos importantes na sociedade brasileira: “Não apenas na redefinição e monitoramento de políticas já existentes, como também na possibilidade de ampliarmos as ações de organizações negras em comunidades e grupos historicamente negligenciados pelas políticas públicas. Em tempos de acirramento da violência e da produção da morte em escala, medidas de enfrentamento às injustiças raciais são não apenas bem-vindas, mas efetivamente necessárias”. Ela também faz questão de ressaltar a importância da realização do edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça: “através deste edital, o Fundo Baobá cumpre um papel fundamental na viabilização de ações promovidas por pessoas negras no enfrentamento concreto às injustiças raciais. O apoio financeiro para o desenvolvimento das ações, ao ser acompanhado pelo suporte técnico para o fortalecimento institucional, é capaz de preparar as organizações para intervenções futuras e para ampliar o acesso a outros editais e programas. Nesse sentido, atua tanto no fortalecimento das comunidades, vítimas e sobreviventes das injustiças raciais, como na ampliação da capacidade de incidência das organizações negras de promoção da justiça racial”, finaliza.

10 Anos do Baobá: Trabalho em Busca da Sustentabilidade Social

Rosana Fernandes e Helio Santos lançam um olhar sobre a sociedade brasileira diante do segmento da filantropia para justiça social

Por Wagner Prado

Dois profundos analistas da sociedade brasileira. Ambos com trabalhos que envolvem a observação das movimentações sociais e a influência dos diferentes fatores econômicos no dia a dia das pessoas. O passado de ambos está ligado à formação do Fundo Baobá para Equidade Racial. A historiadora Rosana Fernandes e o administrador e professor Helio Santos falam sobre doações, consciência social, futuro e a atuação do Baobá dentro desses contextos. 

Rosana Fernandes é formada em História pela Universidade Católica de Salvador e faz parte da CESE (Coordenadoria Ecumênica de Serviço), onde atua no Setor de Projetos e Formação. A CESE foi criada há 48 anos e sua atuação está voltada para a defesa e garantia de direitos das pessoas no Brasil. Essa defesa de direitos é motivada por questões de injustiças e desigualdades tão presentes no cotidiano dos brasileiros. A CESE foi criada pela união de várias igrejas cristãs. 

Helio Santos é doutor em Administração e  mestre em Finanças. O doutorado foi obtido na  Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP). Atuou como professor na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) e Universidade São Marcos. Atualmente é professor convidado na Universidade do Estado da Bahia (Uneb). 

O ano de 2022 será de transformações políticas no Brasil. A eleição poderá mudar o ocupante do cargo de presidente da República, além de 27 governadores de Estado. Com certeza, novas diretrizes serão adotadas, e elas sempre impactam todos, principalmente os cidadãos e cidadãs comuns. O país encontra-se entre as 19 maiores economias do planeta, mas isso não é visto como positivo em relação à política por equidade racial e o incentivo a doações. “Por mais de uma década o Brasil esteve entre as dez maiores economias do mundo. Então, até um dia desses estávamos junto com China, Japão, Alemanha, Estados Unidos e Canadá. Ao mesmo tempo, estivemos também no banco dos mais desiguais. Se quando estávamos entre os dez  mais ricos, sempre houve uma escassez de recursos, o que dará uma vantagem para nós não é essa colocação do Brasil em 19º lugar, esqueça dela,  e sim  a mudança da sociedade”, disse Helio Santos.  

Helio Santos, doutor em Administração, mestre em Finanças e professor convidado na Universidade do Estado da Bahia (Uneb)

Rosana Fernandes é ainda mais reticente ao analisar a tão propalada posição brasileira no ranking da economia mundial. “ Eu questiono muito os índices de crescimento econômico,  quando analiso o desemprego e o subemprego. A Pandemia trouxe um número muito grande de pessoas em situação de rua. Está havendo uma migração para cidades menores para se ter uma garantia de vida. Mas não há políticas públicas para a garantia de um lugar de qualidade de vida e de melhoria de vida para essa população. E a fome aumentou. E quem está passando fome?  A gente sabe que a fome tem cor”, falou a historiadora. 

Mudanças de consciência e engajamento das pessoas em causas que favoreçam populações em situação de vulnerabilidade não acontecem de uma hora para a outra. Mas uma cultura que leve a isso deve ser apoiada, mesmo que a mudança venha de forma lenta. “Se a pessoa acredita e pensa numa sociedade justa,  colocar recursos financeiros no Baobá, que luta pelo enfrentamento ao racismo,   significa você querer um outro Brasil, uma sociedade melhor. O apoio ao Baobá é fundamental para equilibrar a balança um pouco mais a favor da maioria nesse país. E a maioria é negra. Quem quer fazer a diferença deve colocar recursos no Baobá”, disse Rosana Fernandes. 

Iniciativas como as que o Fundo Baobá empreende no ecossistema filantrópico com seus editais voltados para o apoio a comunidades quilombolas, para o acesso de jovens negres à universidade e incentivo ao empreendedorismo estão modificando o pensar sobre engajamento social. “A filantropia racial hoje é o tema da sociedade brasileira. O Fundo Baobá tem muito a ver com isso, porque ele é o primeiro fundo criado com essa vertente e organização. A missão dele é exatamente transferir e fomentar recursos para as organizações negras. O Fundo Baobá tem uma responsabilidade direta nessa mudança. Isso é resultado do esforço  da sociedade civil, da qual o Baobá faz parte. E hoje se entende o investimento social como uma mola para o desenvolvimento com sustentabilidade. Então, a vantagem de se doar para o Fundo Baobá é você investir no segmento da equidade racial”, define Helio Santos. 

A fidelização, palavra muito usada no segmento corporativo, é o grande desafio para o Fundo Baobá e para o segmento da filantropia para equidade racial, no entender de Rosana Fernandes: “Precisamos ter um discurso direto e respostas objetivas. Mas este é o grande desafio. Como atrair voluntários doadores? Acho que a capacidade de dialogar com a sociedade é que talvez nos dê a independência e a autonomia necessárias. Se a gente trouxer a sociedade para o enfrentamento ao racismo, a gente pode estar trazendo a fidelização para uma estrutura”, afirmou. 

Rosana Fernandes, historiadora e integrante da CESE (Coordenadoria Ecumênica de Serviço)

O Baobá trabalha com a empatia. Analisa os movimentos da sociedade brasileira e faz a escuta sobre as necessidades das populações menos favorecidas. Neste período de  Pandemia da Covid-19, essas carências ficaram muito evidenciadas.  Hélio Santos analisa: “Solidariedade e generosidade. São elas que permitem sentir a qualidade de uma sociedade. Às vezes,  a solidariedade e a generosidade estão acima da própria ética. É arriscado dizer isso, mas muitas vezes tenta-se estruturar ética  onde não há nem solidariedade nem generosidade.  Essas duas características são eminentemente humanas.  Elas são o resultado da empatia e da capacidade que se  tem de  estar no lugar do outro.  Eu hoje meço a qualidade de uma sociedade não só pela renda per capta, não só por parâmetros econométricos. Eu meço pela capacidade que ela tem de produzir empatia. Pela capacidade de estar no lugar do outro. O homem pode,  a partir do seu corpo masculino,  entender o que significa para uma mulher o estupro. Uma pessoa branca pode muito bem entender o que é a pessoa ser discriminada pelo exclusivo motivo de ser negra, da mesma forma que uma pessoa que tem posses  pode muito bem se posicionar e se colocar na situação desses 19 milhões de brasileiros que acordam pela manhã sabendo que não terão ao longo do dia como se alimentar.  Então eu acho que radicalizar na empatia é fundamental, é uma forma de demonstrar a qualidade de uma sociedade. Mas que qualidade? A qualidade moral”, declarou.

Fundo Baobá na imprensa em agosto

O lançamento da Aliança Entre Fundos, iniciativa composta pelo Fundo Baobá para Equidade Racial, Fundo Brasil de Direitos Humanos e Fundo Casa Socioambiental, que tem como meta promover o maior aporte de recursos diretos para os povos indígenas, comunidades quilombolas e outros povos tradicionais mais vulnerabilizados pela pandemia da COVID-19, foi destaque na imprensa no mês de agosto.

A iniciativa ganhou uma matéria especial no jornal Valor Econômico, no portal Brasil de Fato e na coluna diária “Café com ESG” do portal Expert XP.

O Pacto de Promoção da Equidade Racial, lançado em julho, é outra iniciativa que conta com a participação do Fundo Baobá, com contribuições importantes de membros do Conselho Deliberativo e Assembleia Geral, além da diretora executiva. Assim como no mês anterior, o Pacto segue reverberando na mídia, sendo tema da coluna da sócia-fundadora da Wright Capital Wealth Management, Fernanda Camargo, no eInvestidor, dentro portal do Estadão e também destaque no site do Grupo de Institutos Fundações e Empresas GIFE.

Falando no GIFE, o evento online Black Philanthropy Month (Mês da Filantropia Negra) organizado pelo Grupo e que contou com a participação da diretora-executiva do Fundo Baobá, Selma Moreira, como principal expositora, foi destaque no portal do Observatório do Terceiro Setor.  O portal publicou uma matéria completa, no dia 5 de agosto, registrando os principais acontecimentos do evento.

Duas matérias produzidas pelo Fundo Baobá e publicadas originalmente no site oficial da organização foram compartilhadas em outros portais. O texto “A contribuição negra para a comunicação no Brasil”, que traz uma entrevista com o jornalista, mestre em Comunicação Social, doutor em Educação e membro do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá, Edson Cardoso, foi compartilhado no portal Nação Z. Enquanto a matéria “Por que celebramos hoje o Dia Internacional das Pessoas Afrodescendentes?”, referente a data celebrada no dia 31 de agosto, contando com a entrevista do doutorando em Saúde Coletiva (PPGSCM/IFF/Fiocruz), mestre em Políticas Públicas em Direitos Humanos (UFRJ), psicólogo, pesquisador da Fiocruz e coordenador do Plano Fiocruz de Enfrentamento à Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro, Richarlls Martins, foi publicada também no portal Neo Mundo.   

 

Apoiadas do Fundo Baobá

Sobre organizações, grupos, coletivos e lideranças apoiadas pelo Fundo Baobá, no dia 8 de agosto, tivemos uma entrevista com Dandara Rudsan Sousa de Oliveira, formada em Direito e com especialização em Diálogos e Mediação de Conflitos, atuante na Rede de Mulheres Negras Amazônicas e no Núcleo de Mobilização de Recursos dos Movimentos Negros e LGBTQI+ unificados em Altamira, no Pará. Dandara, que é uma das apoiadas no edital 1 do Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas: Marielle Franco, conversou com a revista Trincheira Democrática, falando sobre os direitos das pessoas LGBQIA+.

Outra apoiada do Programa de Aceleração, a advogada, responsável pelo projeto Justiça Juvenil do programa Prioridade Absoluta do Instituto Alana e criadora da página “Sonhe alto, Pretinha”, Mayara Silva de Souza, escreveu o artigo “Esporte na infância é direito, liberdade e diversão”, dentro da coluna no portal UOL Ecoa, falando da importância da prática esportiva na infância, citando a adolescente Rayssa Leal, que aos 13 anos de idade foi medalha de prata no skate nas olimpíadas de Tóquio.

O projeto Rodas de Conversa, que abordou questões sobre racismo e povos indígenas do Acre, aconteceu nos dias 17, 19, 24 e 26 de agosto e contou com a participação da pedagoga, mestra em Educação pela UFAC e fundadora da Rede Mulher Ações Neabi-UFAC, Sulamita Rosa, que esteve no último dia de evento virtual palestrando sobre o tema “A importância das ações afirmativas na superação de racismo estrutural”. Sulamita também é uma das apoiadas no Programa de Aceleração de Lideranças Femininas Negras. O evento foi divulgado no portal da Defensoria Pública do Estado do Acre.

Outras apoiadas deste Programa ganharam destaques na imprensa. O Grupo de Mulheres Lésbicas e Bissexuais Maria Quitéria, de João Pessoa (PB), apoiado no edital coletivos, foi matéria no portal Brasil de Fato, sobre a divulgação do I Encontro Municipal de Mulheres Lésbicas e Bissexuais, realizado entre os dias 27 a 29 de agosto, no Centro de Atividades e Lazer Padre Juarez Benício (Cejube), em João Pessoa.

Grupo de Mulheres Lésbicas e Bissexuais Maria Quitéria, de João Pessoa (PB)

E, por fim, o portal Meio e Mensagem fez a reportagem “Com coletivo 100% preto, Janga chega ao mercado”, abordando a produtora de áudio que quer impulsionar a equidade racial nas trilhas de publicidade e entretenimento. Fundada pelos sócios Tatiana Nascimento e Antonio Pinto, a Janga conta com a produtora musical, ativista afro-indígena, LGBTQIA+ e nossa apoiada, Dessa Ferreira.

Apoiados no edital “A Cidade que Queremos”, o Grupo Nóis de Teatro, que atua no Grande Bom Jardim, periferia de Fortaleza, celebra seus 19 anos de atividades ininterruptas em 2021. Para comemorar realizou no mês de agosto uma programação especial com apresentação, seminário, sarau e a defesa da tese de doutorado do coordenador geral do grupo, Altemar Di Monteiro. A agenda de atividades do grupo foi divulgada no portal Papo Cult.

Grupo Nóis de Teatro – Grande Bom Jardim, Fortaleza

 

Coletiva Negras que Movem – Portal Geledés

A já tradicional coluna “Coletiva Negras que Movem”, no portal do Instituto da Mulher Negra Geledés, com as apoiadas do Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, trouxe no dia 7 de agosto o texto “O que aprendemos com as pretinhas da ginástica artística nessas olimpíadas”, de autoria da pós-graduanda em História e Cultura Afro-brasileira, MBA em produção de conteúdo para mídias digitais, Bacharel em Arte e Mídia, Artvista, produtora cultural e empreendedora, Carolina Brito.

No dia 23, foi a vez do artigo “Não seja tão dura com você! Um texto de amor em tempos tão difíceis”, de autoria da escritora, jornalista e autora do livro-reportagem “Negra Sou: a ascensão da mulher negra no mercado de trabalho”, finalista do Prêmio Jabuti 2020, Jaqueline Fraga.

No Dia de Adolescentes, é essencial reconhecer a importância da promoção da educação em nosso país

Por Marcos Furtado e Mônica Moreira, do Perifa Connection,  em parceria com Vinícius Vieira 

Hoje é celebrado no Brasil o “Dia de Adolescentes”, uma data instituída no país no ano de 1996.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui uma população de 211 milhões de pessoas, dos quais 69,8 milhões são crianças e adolescentes entre zero e 19 anos de idade, o que representa 33% da população total do país.

Mais da metade de todas as crianças e adolescentes brasileiros são afrodescendentes e um terço dos cerca de 820 mil indígenas do país é criança. A região onde se concentra a maior população nessa faixa etária é a Sudeste, com mais de 89 milhões de crianças e adolescentes.

Entretanto, mesmo com esse número elevado no país, há adolescentes vivendo em situação domiciliar de extrema pobreza. Um levantamento realizado pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), em 2019, relacionado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), mostra que 9,1 milhões de adolescentes vivem em lares com uma renda per capita mensal inferior ou igual a um quarto de salário mínimo.

Outro dado alarmante envolvendo os adolescentes, é relacionado ao aumento da taxa de homicídos entre adolescentes e jovens no país. Segundo os dados do Atlas da Violência 2020, feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), mostra que 30.873 jovens na faixa etária entre 15 e 29 anos foram mortos em 2018 no Brasil, quantidade que equivale a 53,3% dos registros da pesquisa.

Quando o assunto é educação, trazendo para o recorte racial, uma pesquisa do IBGE, de 2018, mostrou que um terço dos brasileiros entre 19 e 24 anos não havia conseguido concluir o ensino médio naquele ano. Entre os que não conluíram esta etapa, 44,2% são homens jovens negros. Muitos dos motivos que mostram a evasão escolar corresponde ao fato de o adolescente negro, com menos de 18 anos, ingressar mais cedo no mercado de trabalho.

Pensando nisso, que o Fundo Baobá para Equidade Racial lançou em 2020 o Programa Já É: Educação e Equidade Racial, em parceria com a Fundação Citi, com a premissa de potencializar a educação dos jovens negros de regiões vulneráveis, impulsionando para ajudá-los a ultrapassar o estreito gargalo que impede seu acesso a boas universidades e, posteriormente, a postos de trabalho mais altos na hierarquia das empresas.

Quem faz parte do Programa Já É é a adolescente Mayara Maria Malta, de 17 anos, moradora do bairro de Itaquera, na Zona Leste de São Paulo. Antes mesmo de ela terminar o ensino médio, ela ingressou em um curso técnico em administração. No entanto, após alguns cortes, a instituição em que a jovem estuda teve sua carga horária reduzida e concentrou as matérias da formação geral nos dois primeiros anos, deixando para o terceiro apenas a profissional. “A gente aprendeu tudo (do ensino médio) no primeiro e no segundo ano. Foi tudo muito rápido e puxado”, explica. 

Além das alterações na estrutura do ensino de sua escola, a vestibulanda também teve que lidar com os impactos do isolamento social que a pandemia da Covid-19 trouxe para o sistema de ensino. Com a mãe desempregada, o pai afastado do trabalho por questões de saúde, as irmãs com seus filhos em casa e a instabilidade do sinal da internet em alguns cômodos, a vestibulanda precisou se reinventar para estudar. “Eu cheguei a estudar na cozinha e é aquele vai e vem de criança correndo e gritando. Foi bem complicado”, conta.

Mayara Maria Malta, 17 anos

E mesmo diante de todas as adversidades, Mayara encontrou na produção de conteúdo para as redes sociais uma maneira de melhorar o seu estado de saúde emocional. “Eu consegui controlar toda essa ansiedade na internet. Acredito que muitos jovens entraram na internet por conta disso. Então eu consegui sair dessa situação não me distraindo, mas produzindo conteúdo para alcançar outras pessoas.” O que começou como uma forma de driblar toda a pressão dos estudos no ano pandêmico se converteu na identificação de uma carreira: o marketing digital. “No curso técnico de administração, eu tive contato com marketing. E sabe quando você se apaixona? E aí no ano passado eu fui buscar mais sobre isso. Foi quando eu comecei a falar sobre o assunto no meu perfil no Instagram.”

Caminhando para se tornar uma influenciadora digital, Mayara tem consciência da importância do que é produzido na internet. Tanto é que outras temáticas presentes em suas publicações são os cuidados com a aparência e autoestima. “Eu já me autosabotei muito, principalmente no mundo em que a estética é muito importante. Comecei a ir para frente nesse assunto quando comecei a me aceitar, a cuidar de mim e conhecer a Mayara de verdade”, conta.

Do outro lado da capital, mais precisamente em Interlagos, bairro localizado no extremo da zona sul da cidade de São Paulo, vive Luiz Felipe Motta da Silva, junto com os pais e seus quatro irmãos. Com 18 anos de idade, Luiz teve a experiência do ensino médio integrado ao técnico de nutrição, que foi importante para que o jovem descobrisse o gosto que tinha pela área da saúde. Mas, durante a pandemia, o amor pela Medicina falou mais alto e Luiz decidiu que não queria ser nutricionista. “Eu já pensei em vários cursos, Biomedicina, Enfermagem, Biologia. Mas aceitei que Medicina é algo que eu quero muito e estou disposto a tentar passar, mesmo que eu fique alguns anos tentando”.

Por amar praticar esportes, como vôlei, Felipe gostaria de seguir uma especialização que trabalhe diretamente com atletas. Porém, ele diz estar aberto a conhecer outras áreas da Medicina até definir o que seguir.

Luiz Felipe Motta da Silva, 18 anos

Luiz também conta que tinha o plano de fazer intercâmbio no exterior, mas por alguns problemas, não deu certo. Agora ele pretende realizar esse sonho antigo durante a faculdade. “Fico triste até hoje por não ter ido para os Estados Unidos, mas quero tentar fazer um semestre da faculdade fora do país. Eu quero muito viajar e conhecer outros lugares. Meu destino dos sonhos é ir pra Cidade do Cabo, na África do Sul, eu vi que eles falam vários dialetos e quero aprender mais inglês com eles”, afirma o jovem.

O Brasil ainda tem muito o que avançar na proteção dos adolescentes e na promoção dos seus direitos. Acompanhando a trajetória de adolescentes negros como a de Mayara e de Luiz Felipe, além dos outros 82 jovens selecionados no Programa Já É, fica evidente o quanto a educação é essencial para construção de uma sociedade equânime.