Quilombolas em Defesa: Em busca de seus direitos, organizações compartilham o saber

        Por Wagner Prado 

Eu tenho uma casinha lá na Marambaia

Fica na beira da praia, só vendo que beleza

Tem uma trepadeira, que na primavera

Fica toda florescida de brincos de princesa

Quando chega o verão eu sento na varanda

Pego o meu violão e começo a cantar

E o meu moreno que tá sempre bem disposto

Senta ao meu lado e começa a cantar

Casinha na Marambaia / autores: Henricão e Rubens Campos

Os versos da canção Casinha na Marambaia, ilha do litoral fluminense, levam a mente a imaginar um lugar bucólico (e isso é mesmo!), de vida acontecendo de forma lenta e quase sem  esforço. A realidade não está muito longe do que a letra da música diz. Mas deve ser acrescentado a isso muito trabalho, busca pelo desenvolvimento e luta pelos direitos da comunidade quilombola do local. Eles descendem de africanos escravizados, levados de forma forçada àquele local para trabalhar no plantio e colheita de café, atividade agrícola que lá era desenvolvida no Século 19. Hoje, a Marambaia está sob posse das Forças Armadas do Brasil, mais precisamente da Marinha Brasileira, com quem os moradores travam briga jurídica secular, uma vez que reivindicam a posse coletiva do território da   Marambaia, que é deles por direito.

Na Marambaia está a Associação da Comunidade dos Remanescentes de Quilombo da Ilha de Marambaia (Arqimar), que tem em Jaqueline Alves uma de suas lideranças. A comunidade sobrevive da agricultura e da pesca. Com apoio do Baobá pretende alcançar um melhor desenvolvimento de sua produção agrícola, e  um  incremento de seus produtos de pesca visando geração de renda  e autossustentabilidade. 

Jaqueline Alves -Associação da Comunidade dos Remanescentes de Quilombo da Ilha de Marambaia – RJ

A vida é semelhante para a Associação dos Remanescentes de Quilombos de Alto Alegre, a Arqua, da cidade de Horizonte, no Ceará. A luta dos quilombolas da Arqua, liderada por Cícero Luiz da Silva, é praticamente a mesma: salvaguardar os direitos da comunidade sobre suas terras, proteger seu modo de vida e costumes da predação cultural. 

A necessidade de buscar o conhecimento, o desenvolvimento e a manutenção de suas existências levou as duas associações a inscreverem-se no edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça, do Fundo Baobá para Equidade Racial em parceria com a Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas). O edital conta com financiamento da IAF (Inter American Foundation) e beneficia 35 organizações formadas e dirigidas por quilombolas. Cada uma recebe R$ 30 mil.  

A Associação da Comunidade dos Remanescentes de Quilombo da Ilha de Marambaia e a Associação dos Remanescentes de Quilombos de Alto Alegre (Arqua) estão em pleno exercício do aprendizado de novas habilidades para pôr em curso suas estratégias de sobrevivência. Desse aprendizado fazem parte treinamentos sobre como desenvolver uma proposta de projeto, elaboração de um plano de ação, cronograma de atividades, planejamento financeiro, letramento digital (uso das ferramentas digitais em prol do aprendizado), entre outros conhecimentos. 

Para Cícero Luiz da Silva, da Arqua, o objetivo que buscam é “promover a igualdade racial em direitos para a população quilombola de Alto Alegre, buscando fortalecer,  juntamente com as comunidades do estado do Ceará, a luta pela titulação dos territórios, elaborar e sugerir políticas, inclusive de ações afirmativas, promover trabalhos e estabelecer estratégias para proporcionar desenvolvimento sócio econômico, educacional e cultural, além de proteção ao meio ambiente e aos saberes e fazeres quilombola desta comunidade, além do combate às ações racistas e discriminatórias”, revela.

Cícero Luis da Silva – Associação de Remanescentes de Quilombos de Alto Alegre – CE

Quase na mesma linha, Jaqueline Alves, da Associação da Comunidade dos Remanescentes de Quilombo da Ilha de Marambaia, dá seu depoimento: “Nossa luta é  por melhores condições para a comunidade. Promover o desenvolvimento sustentável do povo quilombola e da atividade pesqueira. A produção social e econômica dos pescadores artesanais e de maricultura da Ilha da Marambaia. Defender juridicamente a comunidade, instituir e executar programas de salvaguarda dos saberes ancestrais, promovendo a preservação do meio ambiente e recursos naturais”, diz. 

Atividades Implementadas

As atividades de aprendizado para que as associações fortaleçam a sua resistência institucional já estão sendo implantadas. A Arqimar realizou no mês de maio uma Oficina sobre Direitos Quilombolas. Já no mês de junho o tema será Políticas Públicas. Em setembro, dando continuidade ao aprendizado sobre Políticas Públicas, os participantes da Oficina vão fazer uma visita ao MPF (Ministério Público Federal) do Rio de Janeiro. A área Ambiental e a Cultural também vão ter uma agenda de eventos e atividades formativas. 

A Arqua também já está em pleno exercício do plano de ação proposto e revisado  depois dos encontros  realizados pelo Fundo Baobá. Vai utilizar rodas de conversa para difundir saberes e fortalecer a memória quilombola com fatos históricos. Também utilizará as rodas para incutir nos jovens a importância sobre o que é estar no território do Alto Alegre,  além de já ter estabelecido três oficinas: Café com Manjeiroba – Sabores e Saberes Ancestrais; Miolo de Pote – Miolando os Saberes das Mulheres e Educação Escolar – Caminhos Percorridos para implementar a Educação Quilombola na Comunidade de Alto Alegre.  As duas primeiras aconteceram no mês de maio. A terceira, acontece em junho. 

Saberes têm que ser compartilhados e a luta em defesa de direitos reforçada. 

Vidas Negras, Dignidade e Justiça: as transformações que vêm do aprendizado

Duas organizações participantes do edital,  ao mesmo tempo que se 

transformam, mudam também o que está no seu entorno

Por Wagner Prado

O significado do verbo “transformar” tem uma explicação até que simples no dicionário: “é o ato de fazer tomar nova feição ou caráter; fazer passar de um estado ou condição a outro. Alterar, modificar, converter”. E é sobre a transformação que vamos tratar aqui. Tudo, porém, começa de uma intenção, um objetivo ou um desejo. Intenção, objetivo ou desejo que moveram duas organizações a participar do edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça, iniciativa do Fundo Baobá para Equidade Racial com apoio do Google.org. Como parte integrante do Programa Equidade Racial e Justiça, o Vidas Negras: Dignidade e Justiça tem como foco fortalecer o ativismo do povo negro, a resiliência em busca de justiça, além do engajamento de comunidades, vítimas, sobreviventes e aliados. O edital está voltado ao apoio a organizações que promovem ações de enfrentamento ao racismo. 

Entre essas organizações estão a Associação de Mães e Familiares de Vítimas de Violência do Estado do Espírito Santo (AMAFAVV), da cidade de Vitória,  e a Tenda de Umbanda e Caridade Caboclo Flecheiro  D´Araroba, da cidade de Olinda, em Pernambuco. O edital foi dividido em quatro eixos temáticos e as organizações deveriam apresentar projeto relacionado a um deles, a saber: Eixo 1 – Enfrentamento à Violência Racial Sistêmica; Eixo 2 – Proteção Comunitária e Promoção da Equidade Racial; Eixo 3 – Enfrentamento ao Encarceramento em Massa entre Adultos e Jovens Negros e Redução da Idade Penal para Adolescentes e Eixo 4 – Reparação para Vítimas e Sobreviventes de Injustiças Criminais com Viés Racial.  A  AMAFAVV, inscreveu-se e foi selecionada com projeto no Eixo 1. A  Tenda de Umbanda e Caridade Caboclo Flecheiro  D´Araroba, no Eixo 2. 

Os Projetos

O projeto da Associação de Mães e Familiares de Vítimas de Violência do Estado do Espírito Santo ultrapassa o limite do estado. Ele junta pessoas espalhadas por todo Brasil, unidas por uma dura realidade comum: a violência sofrida. Uma de suas líderes, Maria das Graças Nascimento Nacort, fala sobre ele: “O projeto se chama  Rede de Familiares em Luta contra a Violência de Estado e o racismo. O objetivo é o fortalecimento, em nível nacional, da rede de familiares contra o terrorismo de Estado. Seus integrantes estão atuando no sentido de articular ações de promoção da campanha pública sobre violência de Estado, genocídio negro e os direitos humanos”, afirma. 

Maria das Graças Nascimento Nacort – Associação de Mães e Familiares de Vítimas de Violência do Estado do Espírito Santo

O principal objetivo da AMAFAVV para 2022 era a realização do Encontro Nacional de Mães e Familiares de Vítimas de Terrorismo de Estado. O encontro, cuja última edição havia ocorrido em 2019 e deixou de ser realizado por dois anos devido à pandemia da Covid-19,  aconteceu em Fortaleza, no Ceará, entre os dias 17 e 20 de maio e reuniu cerca de 150 pessoas de 12 estados brasileiros. O lema das mães presentes foi “Transformar Luto em Luta”. A maioria delas  tinha em comum o fato de terem perdido filhos em ações da Polícia Militar.  A realização do encontro consagrou uma das metas da AMAFAVV: “O objetivo principal é o fortalecimento em nível nacional da rede de familiares contra o terrorismo de Estado na sua luta pela verdade, memória e justiça racial”, disse Maria das Graças. 

A Tenda de Umbanda e Caridade Caboclo Flecheiro  D´Araroba é representada por Edson Araújo Nunes, na religião conhecido como Pai Edson de Omolu. Dentro do que se propõe no Eixo 2 do edital: Proteção Comunitária e Promoção da Equidade Racial, está trabalhando na viabilização do projeto Racismo Religioso: Respeita Minha Fé! A busca pelo exercício do direito à liberdade de praticar e difundir uma vertente de religião de matriz africana, foi o que impulsionou a Caboclo Flecheiro D’Araroba. “Destacar a autonomia e autoconhecimento dos povos de terreiro é essencial para a manutenção do direito fundamental à liberdade religiosa. Nossa instituição já sofreu e sofre ataques violentos contra a liberdade de crença e culto. Identificar os territórios de violência religiosa, o perfil dos agressores e suas práticas comuns de agressão e difundir o conhecimento sobre os direitos religiosos é necessário para promover ações de defesa e impedir novos ataques”, afirma Edson Araujo Nunes. 

Edson de Araújo Nunes (Pai Edson de Omolu) – Tenda de Umbanda e Caridade Caboclo Flecheiro D`Araroba – PE

Os Resultados

A estratégia da Tenda de Umbanda e Caridade Caboclo Flecheiro D’Araroba para levar, ao maior número de pessoas possível, o conhecimento sobre o direito a sua prática religiosa foi centrada na Comunicação. Primeiro, foi estabelecido um questionário para levantamento de dados etnográficos dos terreiros afroreligiosos. Mas o que é isso? Dados etnográficos são  informações que levam ao conhecimento sobre aspectos culturais e comportamentais de  determinados grupos dentro de uma sociedade. Em curta definição, é a descrição cultural. 

A estratégia surtiu efeito. A pesquisa realizada pela Caboclo Flecheiro, quando divulgada,  foi repercutida pela mídia. A TV Pernambuco noticiou em reportagem do programa Notícia da Hora a questão da perseguição pelos quais os diferentes terreiros em Recife, seus fiéis e frequentadores estavam passando. A mesma estratégia alcançou o site Obirin, o Correio Nagô,  apenas para restringir em três exemplos, evidências sobre a eficácia da estrategia estabelecida. Para movimentar ainda mais a adesão popular à causa, foi feita uma página no Instagram visando a divulgação de todas as ações envolvendo o projeto Racismo Religioso: Respeita Minha Fé.  

A liderança da AMAFAVV centrou seus esforços na realização de reuniões de articulação visando o Encontro Nacional de Mães e Familiares de Vítimas de Terrorismo de Estado. Além de trabalhar a questão dentro de seu próprio estado, o trabalho também incluiu o contato com associações de mães e familiares de outras partes do Brasil para o estabelecimento das ações que aconteceram em Fortaleza durante o encontro nacional. Para lá, as representantes capixabas levaram uma realidade que não é muito diferente de outros estados do país. Entre 2018  e 2021, de acordo com dados da Sesp (Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa do Espírito Santo), 149 pessoas foram mortas durante ações policiais. Um dos casos que mais chamou a atenção foi o de Weliton da Silva Dias, de 24 anos, morto por um policial com dois tiros no peito. No momento dos disparos, Weliton estava com os braços levantados e as mãos na  parte de trás do pescoço. 

As transformações são importantes. Tão importante quanto elas são os caminhos perseguidos até alcançá-las. o Edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça  do Fundo Baobá para Equidade Racial foi lançado em maio de 2021 em parceria com o Google.org,  destinou R$ 100 mil para cada uma das 12 organizações selecionadas, além de investimentos indiretos em treinamento e assessorias técnicas para o fortalecimento institucional. As mudanças promovidas por estas duas organizações são também fruto  desse investimento e treinamento. O legado do Baobá está refletido no trabalho realizado pelas organizações que ele apoia. 

Encontro com estudantes do Já É marca a história do Programa

Equipe e participantes estiveram juntos durante o dia 21 de Maio de 2022 e os laços foram ainda mais fortalecidos

Por Ingrid Ferreira

Gratidão, felicidade, satisfação, inspiração, motivação e esperança… Essas foram algumas das palavras ditas em alto e bom tom por estudantes do Programa Já É,  para descrever o encontro presencial que aconteceu no sábado, dia 21 de maio de 2022. O encontro contou com a presença de jovens apoiados desde 2021, que estão no cursinho pré-vestibular ou já ingressaram na universidade, diretoria e equipe do Fundo Baobá e representantes da empresa MetLife, que está financiando o segundo ano do Programa.

O dia rendeu e foi repleto de atividades. Teve café da manhã, dinâmicas, almoço e lanche da tarde.  Giovanni Harvey, diretor executivo do Fundo Baobá, falou para os presentes. Além disso, aconteceu uma conversa com Thais Catucci,  Gerente de Comunicação Interna e Responsabilidade Social da MetLife Brasil, Edna Alcântara, diretora do Afro Presença, que é o comitê afro da empresa e Tatiane Santos que ocupa o cargo de Controller.  Além de um momento com Ellen Piedade e equipe Black Coach, falando sobre a mentoria coletiva e seus pilares de desenvolvimento emocional e de técnica, que será oferecida aos alunos.

O encontro durou o dia todo e teve como intuito aproximar estudantes, equipe e financiadores,  gerando muita emoção a todos os presentes, como é possível perceber na fala da Thais Catucci: “Após dois anos de distanciamento e reuniões virtuais, conhecer as pessoas ao vivo faz toda a diferença e gera maior identificação ​entre nós, as e os jovens que recebem nosso apoio por meio de projetos como este. Sabemos que o Programa Já É é uma oportunidade incrível e pudemos perceber como ela está sendo bem aproveitada. Que vocês possam servir de inspiração para todos nós”.

Thais Catucci – Gerente de Comunicação Interna e Responsabilidade Social da MetLife Brasil

Realmente, foram muitas inspirações na conversa com a Thais. O microfone ficou aberto para jovens que quisessem falar um pouco sobre suas experiências no Programa. O depoimento de Thauany Christina Gabriel Aniceto de Souza, 26 anos,  contagiou a todos, principalmente ao revelar um pouco sobre sua realidade:

“Eu me inscrevi pelo site, mas sem muitas expectativas e quando eu fui selecionada (em 2021), foi algo muito importante para mim. Eu tenho uma filha de 3 anos, então acaba sendo um desafio ainda maior me dedicar aos estudos. Mas eu tenho muito apoio, tanto dos meus colegas quanto do Fundo Baobá. Estou no Programa desde o ano passado, mas não tive uma nota satisfatória para tentar as faculdades que eu almejava. Quero cursar enfermagem e este ano estou procurando equilibrar melhor meu trabalho, meus estudos e os cuidados com a minha filha. Até mesmo porque eu quero ser um exemplo para ela. Eu serei a segunda filha da minha mãe a entrar na faculdade. É um desafio enorme, tem dias que eu acordo e acho que não conseguirei e, ao chegar no cursinho,  os meus colegas me apoiam a continuar.  Sei que hoje estou mais fora de casa pra quando minha filha for adolescente ela poder ter conforto, estudar e trabalhar para ela e não pra ajudar em casa”.

Thauany Christina Gabriel Aniceto de Souza – Membra do grupo que se prepara para os vestibulares com apoio do Programa Já é

A fala de Thauany revela a realidade de muitas mulheres pretas no Brasil, que são responsáveis por cuidar de suas famílias. Além disso, prova como a ação da educação é transformadora para toda a comunidade.

Além do depoimento de Thauany, Joyce Cristina Nogueira, 21 anos, também emocionou a todos ao contar que, através do Já É,  conseguiu ingressar na universidade e hoje cursa Lazer e Turismo na USP (Universidade de São Paulo).

Joyce fala que: “Nada na vida me deu tanto suporte quanto o Baobá. Hoje eu faço Lazer e Turismo na USP. Eu passei quatro anos tentando. Tentei a Fuvest uma vez, fui para a segunda fase e não passei. Agora, finalmente eu consegui pelo SISU (Sistema de Seleção Unificada). Foi uma coisa que eu quis a minha vida toda e foi muito difícil, inclusive com documentação para minha matrícula. Mesmo depois de passar, eu fui no cursinho durante uns cinco dias, porque lá eu recebia muito apoio do pessoal. Eu sempre digo que a minha base é a família, mas não a família à qual eu fui destinada. Mas sim a família que eu construí, e o Baobá faz muito parte disso. Eu sinto a necessidade de fazer por mim e pelas outras pessoas que, como eu, estão lutando. Sou a primeira filha da minha mãe a entrar na faculdade e eu quero possibilitar abrir as portas para as pessoas que ainda estão por vir”.

Joyce Cristina Nogueira -Membra do grupo de universitárias(os) do Programa Já é.

Após o evento, alguns jovens também comentaram as suas percepções sobre o encontro. Um deles foi Taynara Silva Santos, 22 anos, que está cursando Ciências Sociais na Unifesp. Ela falou o seguinte: “O encontro representou para mim, no geral, o firmamento de ideias e iniciativa, que só trouxe resultado bom para quem faz parte, apesar das adversidades da rotina. Houve o estreitamento de laços, que é ótimo, depois de passar por esse período horroroso da pandemia, com o distanciamento social. Foi muito bom ver algumas das pessoas que estão por trás do projeto, que são as engrenagens para tudo isso acontecer. Deixo registrado,  inclusive, o meu agradecimento por tudo que fizeram e permanecem fazendo por nós!”.

Taynara Silva Santos – Membra do grupo de universitárias(os) do Programa Já é

O aluno João Gabriel Ribeiro dos Santos, 21 anos, que está no cursinho pré-vestibular, falou: “O encontro foi simplesmente fortificante e inspirador, por poder ouvir as histórias dos meus colegas que já passaram pelo cursinho pré-vestibular e dos que estão também na tentativa de ingressar na faculdade. Foi também uma oportunidade de começar novas amizades e estreitar laços com quem eu já tinha. Me deu novos olhares sobre como lidar com os empecilhos que, às vezes,  desanimam e me fazem pensar em desistir. O encontro mostrou que o futuro será melhor. Não que o presente não esteja bem, mas que as barreiras de hoje me dão experiência para que a superação das de amanhã sejam mais fáceis”.

João Gabriel Ribeiro – Membro do grupo que se prepara para os vestibulares com apoio do Programa Já é

A corrente de apoio construída no Já É não é só do Programa para com o estudante, envolve as trocas entre participantes, o apoio de um para com o outro e o retorno que eles trazem para a equipe, como uma espécie de feedback, ajuda o time do Fundo Baobá a sentir a realização, vendo os frutos do seu trabalho em prol de mais e melhores oportunidades para que pessoas negras alcancem seu pleno potencial sendo colhidos.

Baobá na imprensa em Abril

imprensa

Por Ingrid Ferreira

No mês de abril o Fundo Baobá teve uma grande repercussão na mídia internacional por ter sido uma das organizações selecionadas pela bilionária MacKenzie Scott para receber uma doação de parte de sua fortuna, a notícia se estendeu para o mês de maio, e foi tema de uma matéria do UOL com o seguinte título: “Ex de Bezos, MacKenzie Scott doa milhões para incentivar ONGs pelo Brasil”.

E o portal Geledés e o GIFE também falaram sobre o assunto na matéria “Doações de Mackenzie Scott fortalecem sociedade civil brasileira”, em que relata que: “A contribuição financeira de Mackenzie fortalece o trabalho de organizações da sociedade civil atuantes na área de educação, saúde, desenvolvimento urbano, ambiental, mulheres e equidade racial, que é a pauta trabalhada pelo Baobá”.

O Valor publicou a matéria “Quantos e-mails valem US$ 5 milhões?”, em que conta a diligência pela qual a Brazil Foundation, como as demais instituições passaram para receber a doação milionária de Mackenzie Scott, e cita o Fundo Baobá como um recebedores, acompanhado do comentário da Rebecca Tavares CEO da instituição: “Ela escolheu entidades que estão fazendo um trabalho excelente, com uma atuação mais estratégica em direito das mulheres, direitos humanos e em educação para cidadania”.

A Folha de Pernambuco deu destaque ao edital Negros, Negócios e Alimentação, com o título “Empreendedores negros do ramo alimentício receberão aporte de R$ 30 mil”, em que explica que Baobá anunciou os 14 empreendedores (as) negros (as) do ramo alimentício, que receberão R$ 30 mil para crescimento de suas empresas.

Além disso, o Portal Alyne Kaiser falou sobre a participação do estado do Amapá no edital Vidas Negras, Dignidade e Justiça, na matéria “Associação de jovens quilombolas é contemplada com edital do Fundo Baobá”. E o IDIS citou o Baobá na matéria: “Advocacy presencial pelos fundos patrimoniais é retomado em Brasília”.

Organizações e lideranças apoiadas pelo Fundo Baobá:

O artigo  “Pureza e o filme, no enfrentamento ao Trabalho Escravo no Brasil”, publicado no Portal Geledés, é de autoria de Brígida Rocha dos Santos, uma das lideranças apoiada na primeira edição do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, uma iniciativa do Fundo Baobá para Equidade Racial com apoio da Fundação Kellogg, Fundação Ford, Instituto Ibirapitanga e Open Society Foundations. 

No instagram do Portal Geledés, encontra-se também o artigo “Políticas antirracistas no Governo Federal em 2023: O quê se entrevê em um governo de centro?”, em que a autora Clara Marinho Pereira, fala sobre Lei de Cotas no ensino superior federal, a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) das Domésticas e a Lei de Cotas no Serviço Público.

E a página contou também com o artigo “Celebrar nossas conquistas também é ser antirracista”, em que a autora Jaqueline Fraga, fala sobre diversas formas de modificar o ambiente ao qual pessoas pretas estão expostas.

Clara Marinho e Jaqueline Fraga também foram apoiadas pelo Fundo Baobá na primeira edição do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. 

Entrevista com Tiago Borba do Instituto Unibanco

Por Ingrid Ferreira

No dia 24 de outubro de 2016, acontecia o II Seminário Gestão Escolar para a Equidade – Juventude Negra, e nele foi lançado o II Edital Gestão Escolar para a Equidade – Juventude Negra, atualmente, seis anos depois, conversamos com Tiago Borba que é Gerente de Gestão Estratégica no Instituto Unibanco, que foi o responsável por financiar o edital.

Ao ser questionado a respeito do que o Instituto Unibanco pode dizer sobre a questão racial no Ensino Médio, Tiago fala que: “Não é possível avançar no sentido de uma educação de qualidade sem o enfrentamento às desigualdades. No contexto brasileiro, a racial é a estruturante. Enfrentamento só se faz compreendendo e atacando as alavancas que mantêm e fortalecem a discriminação e a perpetuação do racismo no processo educativo”.

Tiago Borba – Gerente de Gestão Estratégica do Instituto Unibanco

Tiago ressalta: “A gestão tem grande importância, como identificar as fragilidades das escolas e redes, promovendo ações que incidam na implementação da Lei 10.639/2003 que fala a respeito das práticas de diversidade étnico-racial na educação. Institucionalizar ações concretas que valorizem a episteme e cultura africana nas atividades pedagógicas, formando os profissionais da educação, ou gerar dados robustos racializados e a capacidade de analisá-los para tomada de decisão e desenho de políticas públicas são exemplos de ações que são de responsabilidade da gestão, que podem gerar transformações e equidade”.

Como é possível observar, o tema segue sendo muito atual, e a busca da  equidade racial na educação formal deve prevalecer, tanto que Tiago comenta a respeito da importância de a doação ter sido destinada ao Fundo Baobá, ele fala que o fortalecimento institucional de agentes relevantes no campo social e de educação é uma das frentes de atuação do Instituto Unibanco e que no campo do combate às desigualdades raciais, o Fundo Baobá é central, legítimo e possui potência de transformação.

O Gerente de Gestão Estratégica preocupa-se também em falar que o Instituto Unibanco possui missões equivalentes ao Fundo Baobá, como o objetivo de promover a promoção da equidade racial para a população negra no Brasil, e a forma que isso é feito, segundo ele, fortalecendo e investindo em organizações e lideranças negras comprometidas com o enfrentamento ao racismo.

O Instituto Unibanco apóia outras instituições também, sendo elas: ABPN (Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as), CDINN (Coletivo de Intelectuais Negras e Negros), Ação Educativa, IMJA (Instituto Maria João Aleixo) / Uniperiferias e agenda de equidade racial no mundo fundacional. Além do principal programa do Instituto Unibanco, que é o Jovem de Futuro, desenvolvendo e aplicando uma estratégia que envolve formação, autoavaliação e indicação de ações voltadas para a ERER (Educação para as relações étnico-raciais) que as escolas parceiras incluem em seus planos.

Programa de apoio a lideranças femininas negras e narrativas de mudança

Fundo Baobá cria vídeo com resultados do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Negras: Marielle Franco

Por Ingrid Ferreira

O Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, com duração prevista até 2023, busca ampliar e consolidar a participação de mulheres negras em posições de poder e influência, através de investimento em seus planos de desenvolvimento individual, formações políticas e técnicas e ainda no fortalecimento das organizações, grupos e coletivos liderados por elas. O Programa é dividido em  dois editais, realizados pelo Fundo Baobá para Equidade Racial em parceria com a Kellogg Foundation, Ford Foundation, Instituto Ibirapitanga e Open Society Foundations. São eles: Edital de Apoio Individual e Edital de Apoio Coletivo.

A 1ª edição do Programa apoiou 59 lideranças e 14 organizações, grupos e coletivos de mulheres negras de todo Brasil. Foram mais de R$4 milhões de investimento direto e cerca de R$400 mil de investimento indireto, através de assessorias, jornadas formativas e treinamentos realizados por especialistas e membros da equipe.

Considerando ambos os editais foram 520 mil beneficiários indiretos; mais de 1000 atividades realizadas pelas apoiadas para o compartilhamento de conhecimentos; 300 sessões de coach individual, sendo 5 por liderança; 45 sessões de coach institucional, sendo 3 por organização; e em ambos os editais, 100% das apoiadas reconhecem o Programa como decisivo para o enfrentamento dos impactos da pandemia.

Grande parte das apoiadas encontra-se na região Nordeste do país. No Edital de Apoio Individual, 26 das 59 apoiadas residem nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, e esse quadro se repete no Edital de Apoio Coletivo, em que 9 em um total de 14 organizações estão localizadas nos estados Maranhão, Pernambuco, Bahia, Piauí e Paraíba.

A faixa etária das apoiadas individualmente variou entre 22 e 69 anos, atuantes nas áreas de Arte e Cultura; Ciência e Tecnologia; Comunicação; Desenvolvimento Humano; Desenvolvimento Sustentável; Direitos da População Jovem; Direitos da População Quilombola; Direitos das Mulheres; Direitos Humanos; Educação; Empreendedorismo e Saúde. Eram mulheres cis e trans, residentes na zona urbana e rural; 2% das  apoiadas tinham ensino fundamental; 13% ensino médio; 7% ensino técnico e 78% ensino superior.

A maioria das lideranças que recebeu apoio por meio do edital individual dedicou os recursos do Programa para seus estudos, sendo elas 92%. 76% adquiriram equipamentos. 61% insumos materiais, 56% buscaram atenção à saúde mental e 46% incluíram ainda o custeio de despesas pessoais. Além disso, no exercício de liderança, os recursos recebidos também foram utilizados para a realização de ações comunitárias e atividades com público diverso.

Uma boa fotografia dos esforços, resultados, mudanças vividas pode ser vista no site do Programa e no vídeo, elaborado em parceria com a Revista Afirmativa. Você pode saber das trajetórias, ouvir as mulheres negras apoiadas e ver essas e outras informações por meio de gráficos, depoimentos, vídeos e podcasts na página do edital, clicando aqui.

Futebol brasileiro continua sem dar chance a treinadores negros e fora do campo crescem os casos de racismo contra jogadores e torcedores 

No futebol feminino os casos de racismo também estão crescendo

Por Wagner Prado

Ao longo dos 128 anos (1894) em que foi introduzido e popularmente consolidado no Brasil, o futebol tornou-se um dos grandes produtos de exportação. Em 2021, segundo dados do relatório Raio X do Mercado, elaborado pela Diretoria de Registro, Transferência e Licenciamento da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), o volume de transferências de jogadores e jogadoras brasileiros para o exterior alcançou mais de um bilhão de reais. Exatamente: R$ 1.012.919.149,00. Somadas as transferências internas, a conta ultrapassa os R$ 2,2 bilhões. 

O sucesso do futebol dentro de campo -o país é o único a ostentar o título de cinco vezes campeão em Copas do Mundo- é que faz dele um sucesso comercial em termos de negociação de atletas. Mas esse sucesso não é refletido em termos de respeito à diversidade racial.

O Brasil gerou inúmeros e lendários craques negros. Ao mesmo tempo, o Brasil tem apenas um treinador negro orientando uma equipe da Série A, a principal do futebol no país. Jair Ventura é responsável pelo Goiás. As demais 19 equipes que disputam a competição nacional em 2022 não têm técnicos negros. Na Série B, também com 20 equipes, os únicos negros são Hélio dos Anjos, orientador da Ponte Preta, equipe de Campinas, e Roger Machado, do Grêmio, de Porto Alegre. 

O Brasil tem, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 56,2% de sua população formada por negros. Maioria absoluta. Mas a discussão sobre a não presença de treinadores de futebol de origem negra em suas principais equipes não é feita. O diretor  executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho, opina sobre o fato.  “O mais impressionante desses dados não é que não existam treinadores negros, mas que esse debate nem exista no futebol brasileiro. A sociedade brasileira não se surpreende por não ter negros nesses espaços, porque no Brasil não é comum ter negros nessas posições. O futebol acaba sendo uma repetição da sociedade racista”, disse ele em entrevista à AFP (Agência France Presse).

Seleção Brasileira

De 1930, quando disputou sua primeira Copa do Mundo, até 2022, a  Seleção Brasileira foi dirigida apenas por dois técnicos negros. O primeiro, Gentil Cardoso, em 1959. O segundo, Vanderlei Luxemburgo, de 1998 a 2000. Para o atual técnico da Seleção, Tite, isso se deve ao racismo. “Eu vou me posicionar. Luto e lutei minha vida toda contra minha ignorância. Procurei ler, aprender e estudar. E continuo. E contra a hipocrisia que é brincar de faz de conta, prefiro responder:  Há sim um preconceito. E ele é arraigado, estrutural, sim”, disse em entrevista coletiva em outubro de 2021, antes do jogo Brasil x Venezuela pelas Eliminatórias da Copa 2022. 

Um guerreiro

Roger Machado, atual técnico do Grêmio e que já treinou Bahia, Palmeiras,  Fluminense e Atlético Mineiro, tem se transformado em um dos mais atuantes agentes contra o racismo no futebol brasileiro. Ele é contundente ao falar sobre a questão dos técnicos negros. “O futebol revela o que somos como sociedade. A representatividade da população negra em outras áreas é muito parecida com a do futebol. Quando negros e brancos decidem ascender na pirâmide social, os filtros começam a aparecer. São os filtros da ideologia que criou o racismo e que atribui ao negro uma condição de menor inteligência, menor capacidade de liderança e gestão, justamente as competências de um treinador de futebol”, disse ao jornal Zero Hora.

Falando sobre sua trajetória no futebol e as coisas que teve de enfrentar, Roger Machado relata fatos do seu caminho para se firmar na profissão.  “O racismo velado, à brasileira, construiu falso mito de uma “democracia racial” na qual, em teoria, não havia racismo nem preconceitos no Brasil. A discriminação sistemática, estrutural, é outra, mais complexa. Nos meus primeiros trabalhos como treinador, muitas vezes, quando era demitido, questionavam a minha capacidade de gerir grupos, sendo que essa era uma das grandes capacidades que eu sempre tive como jogador, como liderança, como capitão”, afirmou Roger. . 

Futebol Feminino

O futebol feminino ainda está em fase de consolidação no Brasil. Já existe um Campeonato Brasileiro organizado, as transmissões na tevê estão se popularizando e as mazelas são quase as mesmas do futebol masculino, principalmente no que se refere ao desrespeito às jogadoras. As ofensas raciais e as de gênero são as mais frequentes. 

Um caso marcante ocorreu em novembro de 2021 durante jogo do Campeonato Brasiliense, conhecido como Candangão. O Cresspom (Clube Recreativo e Esportivo de Sub-Tenentes e Sargentos da Polícia Militar do Distrito Federal) enfrentava a Aruc (Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro). No Cresspom joga Thamires da Conceição, a Buga. Ela sofreu ataque verbal racial por parte de um torcedor durante a partida e fez a denúncia policial. “Na hora do jogo, segurei a onda por ser profissional. Joguei, me dediquei ao clube, mas depois quando coloquei a cabeça no travesseiro foi um baque, chorei bastante. Doeu, rasgou a pele. De vez em quando me pego pensando no que aconteceu e me vem uma tristeza, mas a manifestação de apoio de várias pessoas me fez seguir para continuar meu trabalho e ir atrás de justiça”, disse Buga em entrevista ao Brasil De Fato. Entre 2014 e 2020 foram contabilizados 163 casos de ofensas raciais  no futebol feminino. Eles foram tipificados como casos de Injúria Racial. 

O caso envolvendo a jogadora Buga, do Cresspom, não é único. Ainda em 2021, durante jogo válido pela Taça Libertadores da América Feminina, o Corinthians enfrentou o Nacional, do Uruguai. A jogadora Adriana, do Corinthians, foi chamada de macaca por uma adversária. O Corinthians, à época, lançou uma nota de repúdio e o caso ficou apenas nisso. Não se tem notícia de qualquer punição à jogadora agressora. 

Impunidade em 2022

A disputa da Taça Libertadores da América começou em fevereiro. Em três meses de jogos, sete casos de racismo contra equipes brasileiras foram vistos. As torcidas e os jogadores de Bragantino, Corinthians, Flamengo, Fluminense, Fortaleza e Palmeiras foram xingados por torcedores na Argentina, Chile, Colômbia, Equador e Paraguai. Mas o grande absurdo  ocorreu em plena Neo Química Arena, estádio do Corinthians, quando o time da casa enfrentou o Boca Juniors, da Argentina. Leonardo Ponzo, torcedor do Boca, passou boa parte do jogo imitando o jeito de andar de um macaco.  Acabou detido pela Polícia Militar e enquadrado por crime de Injúria Racial. Ponzo pagou fiança de R$ 3 mil, foi solto e, ainda em território brasileiro, fez um post nas redes sociais dizendo: Aqui não aconteceu nada!

A tiração de sarro de Ponzo leva à constatação de que a Lei não vem sendo aplicada no Brasil. Racismo é crime. Quem o pratica é criminoso ou criminosa. Criminosos devem ser detidos e apenados. Afinal, é a Lei. 

Revolta dos Malês: com ela o povo preto acreditou na luta pela liberdade

Considerada o maior levante urbano da América Latina no século 19, a revolta não alcançou seu objetivo mas reforçou, nos negros, o desejo de liberdade 

   Por Wagner Prado

O ano era 1979. O mês, fevereiro e, no Brasil, era Carnaval. A escola de samba Mocidade Alegre, de São Paulo, ousou na avenida com um desfile afro fantástico. 

Algo não visto até então. Muita empolgação de seus componentes para falar da que é considerada, até hoje, a maior e mais forte revolta negra ocorrida no país: a Revolta dos Malês. A Mocidade Alegre não ficou com o título de campeã, que foi para o Camisa Verde e Branco com o enredo Almôndegas de Ouro. Informações dão conta de que a Mocidade Alegre teria sofrido um boicote por parte dos militares (o Brasil estava sob a ditadura militar), que não digeriram a ousadia de se falar em uma revolta negra por liberdade. 

Surge em 25 de janeiro, um novo sol de esperança” 

Visto pelo ponto de vista militar, o desfile da Mocidade Alegre era subversivo já no primeiro verso de seu samba. Falar em “sol de esperança” era algo muito mal visto. Poderia dar cadeia. Mas o primeiro verso do samba enredo retratava o que será contado agora, utilizando outros versos marcantes sobre a Revolta dos Malês. 

“Vindos da Mãe África distante, ostentados em toda fidalguia, eles estavam em Salvador, Bahia”

Malê vem de Imalê, palavra yorubá que significa muçulmano. Os malês eram africanos que professavam a fé islâmica. Trazidos à força para o Brasil, foram fixados na Bahia. Lá, continuaram professando sua religião de origem e comunicando-se entre si na língua árabe. Em seus países de origem, muitos deles eram nobres e, dada essa condição, não se conformavam em ser escravizados e expostos a toda sorte de castigos impostos pelos seus senhores. O desejo de liberdade foi crescendo. 

Allah ‘akbar  (Deus é maior) 

A liberdade de professar a religião muçulmana era latente. Os malês passaram a tramar um levante. Oito nomes lideravam as ações: Ahuna, Pacífico Licutan, Manoel Calafati, Sule, Gustardi, Dassalu,  Luis Sanim e Elesbão do Carmo. O principal ideário era transformar a cidade de Salvador em uma nação islâmica.  Isso significava pôr fim ao catolicismo. As pessoas brancas e mestiças teriam seus bens confiscados e, em caso de resistência, seriam mortos. Os não islâmicos também seriam mortos ou escravizados. 

“Num lamento triste e solitário, negro pedia a Alah seu protetor, forças e coragem nessa hora, que a vitória seria em seu louvor”

Os líderes programaram a revolta para a madrugada do dia 25 de janeiro de 1835. A data coincidia o último dia do Ramadã (período sagrado para os muçulmanos, quando eles jejuam buscando o equilíbrio entre corpo e espírito) com o dia de Nossa Senhora da Guia. A cidade de Salvador estaria em festa, muita gente nas ruas e um certo relaxamento por parte das forças de segurança. A ideia era sair do Alto da Vitória até chegar ao prédio onde ficava a sede do governo e tomá-lo. 

“E na hora da razão, foguetes alvorada e traição, da vitória nada resta mais, revolta teve outra solução”

Os revoltosos, porém, não contavam com um fator que mudou tudo: a traição. Movida por um drama pessoal, a escravizada Guilhermina Rosa de Souza delatou o plano dos malês. Guilhermina fora abusada quando jovem e deu à luz uma filha, Teresa. A menina estava com idade por volta dos 13 anos quando o fazendeiro, seu proprietário, decidiu que Teresa seria vendida. Guilhermina não queria ter a filha separada dela e viu na delação a única forma de dar um fim a esse processo. Contou tudo ao fazendeiro que, por sua vez, levou a informação às autoridades. A marcha dos malês foi interceptada e contida no bairro de Água dos Meninos depois de fortes combates.  

Setenta dos malês foram mortos. 200 aprisionados e condenados a penas de açoite, degredo e morte. Alguns líderes foram mortos em 12 de maio de 1835.  

“E na Bahia se comemora assim, tem festas e danças e a lavagem do Bomfim”

A Revolta dos Malês foi frustrada em seus objetivos de tomar a cidade de Salvador e transformá-la em uma república islâmica. Mas o seu grande mérito foi transformar-se no embrião da liberdade. A articulação conseguida por seus líderes em 1835 repercutiu pelo país. Os escravizados perceberam que tinham o poder de articular-se e trabalhar visando a liberdade, que acabou vindo em 1888.  

                  PARA SABER MAIS SOBRE A REVOLTA DOS MALÊS

 

    Livro Documentário / Filme                Live
Rebelião Escrava no Brasil

João José Reis

https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=11221

Revolta dos Malês

Direção: Belisario França / Jefferson De 

https://sesctv.org.br/programas-e-series/revolta-dos-males/

 

Revolta dos Malês 

(História em Minutos) 

https://www.youtube.com/watch?v=JdAo-FMATMg&t=5

 

Mais médicos e médicas pretos no Brasil poderiam  melhorar o atendimento de saúde da população negra 

Por Wagner Prado

A população preta brasileira seria melhor atendida em termos de saúde se os médicos e médicas fossem também pretos? A questão não é de fácil resposta. O Brasil é incipiente em termos de estudos ou pesquisas nesse sentido. A  existência da Lei 12.288, de 20 de julho de 2.010, que instituiu o Estatuto da Igualdade Racial, garante à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos individuais e coletivos, além do combate ao racismo, à discriminação e às demais formas de intolerância correlatas. Portanto, a criação do Estatuto da Igualdade Racial é o reconhecimento de que o racismo e a discriminação advinda dele existem no Brasil. 

Nos Estados Unidos, um questionamento sobre um melhor atendimento médico à população preta foi obtido a partir da constatação ocorrida em uma pesquisa. A George Washington University, localizada na capital Washington, indicou ter encontrado disparidades na forma de tratamento dispensada ao 1,8 milhão de bebês nascidos no estado da Flórida. As chances de sobrevivência dos recém-nascidos sofrem variações significativas se comparados os atendimentos feitos por médicos e médicas brancos aos feitos por médicos e médicas pretos. Os Estados Unidos e o Reino Unido destacam-se no que se relaciona à produção científica sobre racismo e inequidades raciais no setor da saúde. 

De acordo com o relatório que acompanha a pesquisa da George Washington University, os recém-nascidos negros que foram cuidados por médicos e médicas também negros tiveram redução de 39% a 58% na taxa de mortalidade. No universo oposto, ou seja, os bebês negros cuidados por médicos e médicas brancos tiveram três vezes mais possibilidades de vir a óbito. O relatório sugere que médicos e médicas negros cuidam bem dos bebês que têm a sua etnia e, ao mesmo tempo, cuidam bem de recém-nascidos brancos.

Presença de médicos e médicas negras no Brasil

Jurema Werneck, médica e diretora da Anistia Internacional no Brasil, foi moradora de favela no Rio de Janeiro. Seu sonho era cursar algo voltado para o mundo das artes. Porém, uma quase imposição de seu pai, gerada pela indecisão de Jurema sobre o que cursar na faculdade, acabou levando-a à Medicina da Universidade Federal Fluminense. Sobre a presença de médicos e médicas negros, ela diz: “Ainda é pouco, mas para mim é uma riqueza que não se compara. Quando eu me formei médica e fui trabalhar na Prefeitura do Rio de Janeiro, escolhi trabalhar na favelaMas por que eu fui trabalhar na favela? Eu nasci na favela. Não fiz nada assim: ‘Ahhh, eu escolhi ser uma pessoa legal e vou trabalhar em favela’. Não, gente! Na favela moram meus amigos, meus parentes e um montão de gente que eu não conheço. Mas lá é o meu ambiente, eu conheço aquele lugar. Eu só voltei para casa”, disse ela ao portal Nós, Mulheres da Periferia.  

O Código de Ética Médica,  do Conselho Federal de Medicina, em seu capítulo IV Artigo 23, proíbe médicos de “tratar o ser humano sem civilidade ou consideração, desrespeitar sua dignidade ou discriminá-lo de qualquer forma sob qualquer pretexto”. Mesmo assim, é evidente que casos de discriminação podem ocorrer. Difícil é chegar a eles. A maioria das denúncias são feitas diretamente nos sites do Conselho Federal de Medicina ou nos sites dos Conselhos Regionais de Medicina e arbitradas por um conselho interno. 

O Fundo Baobá tem como missão promover a equidade racial. Um dos seus  quatro eixos de atuação é o Viver com Dignidade. Nele, ações de promoção da saúde e qualidade de vida, a prevenção de doenças, bem como os seus agravos, são prioridades. Ter um atendimento de saúde digno é fundamental para o equilíbrio psicossocial de qualquer  ser humano. 

A falta de atendimento digno, porém, foi o que motivou pesquisa feita pelo Instituto AzMina em 2021. 100 mulheres foram ouvidas para relatar casos de racismo ocorridos  dentro de consultórios ou em unidades de saúde. O cenário é estarrecedor. Dentre as 100, 82% eram mulheres de pele escura: pretas – 60,6%; pardas – 19,2% e indígenas – 3%.  68% foram unânimes em afirmar que já haviam enfrentado racismo em seus atendimentos médicos. 16% disseram que talvez tivessem sofrido. As ocorrências aconteceram durante atendimentos ginecológicos (43), clínicos (40), dermatológicos (19) e obstétricos (10). 

O Brasil alcançou em 2020 a marca de 500 mil médicos. A Universidade de São Paulo (USP) realizou em 2019 um estudo batizado de Demografia Médica, que delineou como os médicos que estavam se formando naquele ano se declararam em relação a suas cor e raça, 67,1% se autodeclararam brancos; 24,3% disseram ser pardos; como negros, apenas 3,4% definiram-se. As políticas de ações afirmativas, a política de cotas, o maior acesso e permanência da população preta em cursos superiores, como medicina, poderão fazer com que os cenários mostrados aqui mudem. As escutas estão sendo feitas e as ações de transformação estão sendo implantadas e acontecendo na sociedade. Vai levar um tempo, mas a mudança está vindo. 

 Primeiro Encontro com empreendedoras(es) selecionadas(os) no Edital Negros, Negócios e Alimentação

Por Ingrid Ferreira

O Edital Negros, Negócios e Alimentação – Recife e Região Metropolitana, uma iniciativa do  Fundo Baobá para Equidade Racial em parceria com a General Mills, teve seu primeiro encontro online com as e os 14 empreendedores(as) selecionados(as), o Diretor Executivo, Giovanni Harvey, a diretora de Programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes, e membros das equipes  programática, financeira e de comunicação.

O grupo selecionado é prioritariamente composto por mulheres, tendo também uma travesti e um homem; a maioria tem entre 25 e 44 anos de idade, mas também conta com pessoas de 55 a 64 anos; 9 das pessoas que empreendem têm ensino superior completo, as demais possuem ensino médio e/ou fundamental. O grupo selecionado tem residência na zona urbana, em territórios periféricos, mas seus negócios não necessariamente estão localizados na periferia. 

O encontro teve como intuito falar sobre  o Fundo Baobá, suas áreas de atuação, apresentar a metodologia de trabalho e as regras adotadas pela instituição para o edital em questão,  dar detalhes sobre como o Baobá irá acompanhar as e os selecionados no período em que estiver vigente a parceria e tirar dúvidas. Além disso, o encontro foi uma ponte para criar uma rede de relacionamentos.

As empreendedoras e os empreendedores  ao se apresentarem, falaram um pouco sobre seus negócios, uma delas foi Angélica Nobre de Lima Silva fundadora do empreendimento Angú das Artes, que tem uma proposta de aproveitamento integral dos alimentos, utilizando a casca das frutas e vegetais para fazer parte das suas receitas, o que além de ser uma forma de negócio também possui uma preocupação ambiental: diminuir a produção de lixo orgânico.

Durante o encontro também foi apresentado um perfil geral do grupo selecionado:  vários negócios são familiares e surgiram a partir de um momento de dificuldade, transformando-se em renda principal de uma família toda, além de contar com um forte apoio da comunidade para o seu funcionamento. 

Os empreendimentos possuem diversos formatos. Há restaurantes, cozinhas industriais, delivery, buffet e comida de rua, e cada proposta receberá o valor de R$30 mil dividido em parcelas. As pessoas negras que empreendem e foram selecionadas também receberão apoio técnico através de jornadas formativas. 

Fernanda Lopes, diretora de Programa do Fundo Baobá, fala sobre a importância desse apoio e construção coletiva, ressaltando a necessidade de manter viva a memória histórica das realizações de pessoas negras, e como grandiosos são esses feitos. Trazendo isso para o Baobá, ela explica que:  “Ao longo desses anos, o Fundo já doou mais de R$15 milhões e estimamos que já tenhamos  impactado  indiretamente quase 1 milhão de vidas. Nossa missão é promover oportunidades justas para que as pessoas e as organizações se desenvolvam e tenham autonomia para alcançar os seus objetivos, por isso nos nossos editais não apoiam apenas com recursos financeiros. No caso do Negros Negócios, as jornadas formativas vão contribuir para que vocês se fortaleçam na gestão dos seus empreendimentos e para que o sucesso, os maiores ganhos, cheguem mais rápido”.

O edital Negros, Negócios e Alimentação: Recife e Região Metropolitana,  deixará seu legado, apoiando empreendedoras e empreendedores, gerando renda no estado onde nasceu o Fundo Baobá. Desde a sua criação, até 2019, a sede do Baobá estava localizada em Recife. Nada mais justo que este olhar cuidadoso para um terreno que é tão fértil. 

Resultados do Primeiro Ano do Programa Já É superam expectativas

Alunas aprovadas em universidades contam como foi o processo de preparo para o vestibular e a alegria de estar realizando um sonho

Por Ingrid Ferreira

O Programa Já É do Fundo Baobá para Equidade Racial está no seu segundo ano de execução, mas os frutos do primeiro ano continuam a serem colhidos com excelência, a cada dia que se passa, chegam as notícias das (os) alunes que estão sendo aprovades em universidades públicas e particulares, o segundo grupo composto por PROUNIstas, com bolsas de 100% e 50%.

O Programa tem apresentado metas e indicadores surpreendentes, por exemplo, a meta de permanência era de 75%, mas o resultado obtido foi de 88%; a taxa esperada de aprovação era 20%, superando as expectativas, ela foi de 32%; a meta dos alunos aprovados em faculdades privadas via PROUNI ou com bolsa de estudos (integral ou parcial) era de 50%, o que temos é  58% dos aprovados com bolsa que variam de 100 a 50% e de 42% aprovados para universidades públicas.

O Fundo Baobá conversou com alguns alunes para saber como está sendo viver esta realização. Uma das pessoas entrevistadas foi Caroline Vitória Rocha dos Santos, 18 anos, aprovada em Gestão de Políticas Públicas pela Universidade de São Paulo – USP.

Caroline Vitória Rocha dos Santos

Caroline conta que: “No início dos estudos, a USP não estava dentro dos meus planos, nem passava na minha cabeça colocá-la como uma das opções no SISU. Mas depois de um tempo, com os encontros, mentoria, eu me questionava,  “Mas por que você não pode estar lá?”, “Por que você não pode colocar como uma das suas opções?”, “O que te impede de fazer isso?”, “Se fulano conseguiu, por que você não conseguiria?”’.

Em sua fala, Caroline traz a tona muitas questões sociais que perpassam a realidade de jovens negros e periféricos, em que é possível visualizar a necessidade de reconhecer a USP e outros espaços acadêmicos e de excelência, como aqueles em que pessoas pretas podem e devem estar, ocupando o seu lugar de direito, como estudantes.

A aluna da USP continua a contar a sua história declarando como através de seus questionamentos internos, conseguiu mudar a sua perspectiva sobre si mesma: “Comecei a estudar, fazendo pequenas metas e usando estratégias, percebi que meu desempenho estava melhorando, mas ainda estava insegura e pesquisando outras opções de universidades. Foi quando fiz a prova e infelizmente não consegui alcançar a nota de corte, mas como estava próxima, manifestei interesse no curso de Gestão de Políticas Públicas da USP. A lista de espera saiu, e minha colocação não era tão boa, mas ainda tinha 3 listas de chamada, em meio a isso tudo, consegui um bom desconto no curso da UNIP e escolhi fazer. Depois de 3 semanas, já tinha esquecido das listas de espera da USP. Quando menos esperava recebi um e-mail dizendo “bem-vinda a USP”’.

Além de Caroline, temos diversos outros exemplos que reiteram a importância de oportunidades justas, da valorização dos sonhos e provam a grandiosidade do Programa Já É. A aluna Thais Sousa, de 22 anos, também foi aprovada na USP para cursar Pedagogia e ela conta que sente uma grande felicidade por esse momento e que aprendeu a importância de não desistir dos seus sonhos e metas.

Thais Sousa Silva

Thais conta que seu irmão foi o primeiro da família a ingressar na faculdade, mas que ela é a primeira a entrar numa universidade pública. Ao ser questionada do porque ela escolheu cursar Pedagogia, ela conta que: “Era um sonho de criança e principalmente eu percebi que aprendo ensinando para outra pessoa”.

O processo de aprendizado é contínuo, e em todos os campos ele se faz essencial, como é possível ver na fala da Jakeline Souza Lima, que tem 22 anos e foi aprovada na Unesp (Instituto de Artes), para cursar arte – teatro, e contou que: “O Programa de mentoria agregou muito, principalmente a mentoria coletiva – o Black Coach. Acho que, primeiramente, o fato de ouvir pessoas que passaram pelo mesmo processo que nós, ouvir as dicas que eles tinham para oferecer e também ouvir as pessoas que estavam no processo comigo, foi algo que ajudou muito a não me sentir só e me dar coragem para continuar”. 

Jakeline Souza Lima

Outra entrevistada também foi a Mayza Silva Dias, de 19 anos, que começou a cursar Gestão Hospitalar, na Universidade de Santo Amaro. Mayza conta que, ao escolher a universidade, levou em conta a questão da logística e método de ensinar que a mesma aplica; falou que as mentorias individuais e coletivas trouxeram muita sabedoria e ensinamento para sua vida, agregando conhecimentos que ela nunca tinha visto. Ao ser questionada sobre o atual momento de sua vida, ela fala: “Estou em um momento de mudanças e emoções muito grande, me sinto lisonjeada por tudo isso”.

Mayza Silva Dias

O Programa Já É segue no seu segundo ano de execução e, em breve, muitas outras histórias serão contadas, provando que iniciativas que promovem oportunidades justas reiteram a força e o poder transformador que a educação possui.

Organizações participantes do Vidas Negras: Dignidade e Justiça não se detêm diante de perseguições e desafios

O CEAP, do Rio de Janeiro, e a Associação do Jongo Dito Ribeiro, de Campinas, enfrentam a perseguição religiosa, mas não desistem de seus objetivos de justiça

Por Wagner Prado

Em 2019, levantamento feito pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Especializada) apontou que 222 mil pessoas moravam pelas ruas do Brasil. Em 2021, a população carcerária no Brasil era de 682 mil pessoas, incluindo aí presos provisórios. Ou seja, pessoas presas e não julgadas. Os casos de intolerância religiosa registrados entre janeiro e junho de 2019 pelo disque 100 do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos foi de 354. Dentro desses, as religiões de matriz africana foram as mais atacadas. A insegurança alimentar aumentou de forma mais que significativa no Brasil. A pandemia da Covid-19 agravou esse quadro, mas o processo de crescimento da pobreza alimentar é anterior à pandemia. 

O quadro descrito acima mostra uma sociedade em declínio em vários aspectos sociais. Saúde, Educação e Trabalho que, juntos compõem o tripé da sustentação em qualquer sociedade,  nem foram explorados mas o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em fevereiro de 2022, divulgou que a taxa de desemprego era de 8,8%  atingindo 12 milhões de pessoas. 

Existe urgência no sentido de fazer com que a igualdade seja alcançada de fato e de direito  e provoque um equilíbrio social entre os detentores do poderio econômico e aqueles que não têm acesso aos benefícios que o dinheiro pode trazer. Há muito se fala em uma distribuição de renda mais equânime e sobre o potencial impacto no exercício dos direitos. Mas o jogo político nunca permite que isso aconteça. 

A sociedade civil vem se movimentando  no sentido de provocar o equilíbrio social. Algo que possa gerar uma melhor distribuição de renda, além de um sem número de melhores oportunidades para todos, nos mais diferentes segmentos, orientadas pelos princípios da justiça. Uma movimentação no sentido de fazer com que o fosso de desigualdade  existente entre ricos e pobres não aumente ainda mais. o que tem contribuído para o crescimento de injustiças nos mais diferentes setores. 

Um dos editais do Fundo Baobá para Equidade Racial, o Vidas Negras: Dignidade e Justiça  foi lançado em maio de 2021 em parceria com o Google.org,  destinou R$ 100 mil para 12 organizações, além de investimentos indiretos de treinamento e assessorias técnicas para o fortalecimento institucional. Os projetos inscritos tiveram que versar sobre um desses quatro temas:   a) Enfrentamento à violência racial sistêmica; b) Proteção comunitária e promoção da equidade racial; c) Enfrentamento ao encarceramento em massa entre adultos e jovens negros e redução da idade penal para adolescentes; d) Reparação para vítimas e sobreviventes de injustiças criminais com viés racial. 

A Associação do Jongo Dito Ribeiro, de Campinas, inscreveu o projeto que leva o mesmo nome da Associação, dentro do eixo da “Proteção Comunitária e Promoção da Equidade Racial. Já o CEAP (Centro de Articulação de Populações Marginalizadas), do Rio de Janeiro, trabalha o eixo “Reparação para vítimas e sobreviventes de injustiças criminais com viés racial”.  O CEAP inscreveu o projeto Observatório da Liberdade Religiosa. 

Líder da Associação do Jongo do Dito Ribeiro,  Alessandra Ribeiro Martins, exalta a luta que eles têm enfrentado no caminho da construção de uma rede comunitária para enfrentamento da discriminação racial, de gênero, religiosa e sexual. A união em torno de objetivos comuns, segundo ela, é que trará força às diferentes comunidades. “Nós vimos a necessidade de consolidar uma rede de segurança, proteção, visibilidade e engajamento coletivo em pautas comuns, de forma que possibilite a proteção de nossos territórios, a proteção dessas lideranças e um combate efetivo frente às discriminações, intolerâncias e perseguições. E para isso é necessário pautas comuns e ações que sejam no âmbito das redes sociais, seja no âmbito das intervenções territoriais comuns. Uma pauta comum”, disse. 

Alessandra Martins – Associação Jongo Dito Ribeiro

Para Marcelo Santos, do CEAP, a questão da preservação da cultura negra dentro do ambiente escolar é uma das pautas comuns citadas por Alessandra Ribeiro Martins.  A aceitação por parte dos estudantes negros, negras e negres é boa. O mesmo não se nota entre os alunos não negros. “São percepções que variam de acordo com os territórios  e níveis de maturidade dos alunos, negros e não negros. Para os alunos negros, em geral, a recepção é boa e quase sempre conecta a atenção ao conteúdo. Mas para os alunos não negros a recepção, em geral, é vista como algo supérfluo  em um primeiro momento, mas quando provocados com a metodologia aplicada aos valores civilizatórios africanos e afrobrasileiros, conseguimos incentivar reflexão crítica sobre o racismo estrutural que vivemos”,  afirma.

Marcelo Santos – CEAP

As duas organizações realizam um forte trabalho em defesa das religiões de matriz africana, que sofrem grande perseguição, mesmo no Rio de Janeiro, onde a presença negra é muito forte. “O CEAP defende a liberdade de crença e culto, garantidos na Constituição Federal, mas ainda há sim muita resistência, fundamentada no preconceito racial e influenciada pelo conservadorismo de algumas lideranças religiosas neopentecostais”, revela Marcelo. “Nós sofremos aqui, diretamente em nossa comunidade, um ataque. Porque a nossa casa de cultura é uma casa de cultura de matriz africana que,  para além da manutenção e salvaguarda do Jongo,  temos um terreiro de umbanda,  temos um espaço de exposição da memória do Jongo, falando das diversas comunidades,  e a gente sabe que a gente demarca essa cultura de matriz africana, essa afrodescendência, e sabemos que isso traz uma exposição. Então,  a gente construiu ao longo do nosso trabalho uma rede que já trava a luta frente às discriminações no âmbito da cultura”, afirma Alessandra. 

O ano eleitoral de 2022 e a polarização política têm açodado disputas.  “A polarização política evidenciou o racismo e, consequentemente, a intolerância religiosa. Não sei se o fato incentivou ainda mais o CEAP, mas certamente fez com que pudéssemos adaptar as formas e ações pedagógicas dos nossos projetos”, disse Marcelo Santos. 

Alessandra Ribeiro Martins, da Associação Jongo Dito Ribeiro, destaca que a cidade de Campinas tem o racismo bem evidenciado. “O racismo em Campinas, para além de físico – a gente não vê preto no centro da cidade, parece que não tem preto aqui -, e aí,  quando você vai para as regiões mais periféricas,  você vê uma grande aglutinação. Ele (o racismo)  também tem a ver com território. Existe um lado da cidade que sempre recebeu investimentos, que sempre foi desenvolvido, que sempre teve bons equipamentos, acesso, mobilidade e um outro lado que ficou esquecido. Então, temos tentado junto com outros atores, como assistência social, como a saúde e a própria Secretaria da Educação, levar cultura, mesmo que pontual, nesses territórios. A gente sabe que não daremos conta de unir a cidade em um projeto antirracista, mas a gente sabe que vai dar conta de semear o antirracismo em vários lugares. E é nesse sentido que a gente tem atuado”, afirmou. 

Ambos finalizam falando da importância de estarem parte do grupo contemplado pelo edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça. “Ser acolhido por uma instituição como o Baobá, que mais do que compartilhar um recurso ela nos forma concretamente. Cada relatório que eles mandam a gente revisar, cada pergunta que eles refazem nos ajuda a compreender qual é a lógica desse universo e nos deixa mais fortes também para esse novo momento”, conclui Alessandra Ribeiro Martins. “A importância da nossa seleção se dá na oportunidade de profissionalizarmos alguns serviços de apoio para garantir melhores resultados”, afirma Marcelo Santos.

A costura da sobrevivência

Como comunidades quilombolas estão se movimentando para manter a sua existência por intermédio da manutenção de sua cultura e da sua agricultura

Por Wagner Prado

A cidade de Cristália, em Minas Gerais, e a localidade de Jacarequara, no Pará, estão distantes uma da outra em 2.318 km. Cristália tem 5.760 habitantes, de acordo com o Censo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2010. Por estimativa, não teria chegado a 6.000 pessoas nos últimos 12 anos. Jacarequara, no município de Santa Luzia do Pará, tem  55 famílias em 2022.  Poucas semelhanças. Mas uma delas aproxima muito as duas localidades: a presença de comunidades quilombolas.

O Brasil tem cerca de 6 mil comunidades quilombolas, conforme dados da Conaq (Coordenação Nacional de Articulação de Comunidades Negras Rurais Quilombolas) e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Mais de 70% delas estão concentradas em quatro estados brasileiros: Maranhão, Minas Gerais, Bahia e Pará. A agricultura e a pecuária são a principal atividade econômica nos quilombos. Além disso, os quilombolas procuram preservar sua cultura por intermédio da oralidade ancestral, ou seja: ouvir os antepassados, aprender com o legado deixado por eles, cultuá-los e disseminar o conhecimento por eles passado. 

Em outubro de 2021, o Fundo Baobá para Equidade Racial lançou, em parceria com a Conaq e tendo apoio da IAF (Inter-american Foundation), o edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça com o objetivo de apoiar iniciativas de organizações quilombolas na recuperação e sustentabilidade econômica, promoção da soberania e segurança alimentar e defesa dos direitos.   

O edital faz parte das ações da Aliança entre Fundos por Justiça Racial, Social e Ambiental, que reúne o Fundo Baobá, o Fundo Brasil de Direitos Humanos e o Fundo Casa Socioambiental. O Quilombolas em Defesa: Vidas,  Direito e Justiça selecionou 35 organizações para serem apoiadas com R$ 30 mil cada para a realização de atividades e investimentos indiretos por meio de treinamentos, encontros e  assessorias técnicas para o fortalecimento institucional . 

O estado de Minas Gerais, por exemplo, teve cinco projetos selecionados. Um deles, o da Associação da Comunidade Quilombola do Paiol. Os trabalhos ainda estão sendo iniciados, embora o pessoal do Paiol já esteja na estrada de realizações há mais de 10 anos. A ação que será implantada pelas mulheres quilombolas do Paiol é a Costura, atividade que está ligada à história humana desde a era Paleolítica ou era da Pedra Lascada. Isso é muito mais que muito tempo. 

Estabelecer as oficinas de costura vai redundar em movimentação intensa na comunidade. De primeira, terão que ser comprados máquinas de costura, tecidos, agulhas, cadeiras e mesas, entre outros. Os cursos de capacitação em corte e costura serão dados pelas anciãs da comunidade (oralidade ancestral). A elaboração da trajetória produtiva das quilombolas está toda estruturada visando orientação sobre finanças e empreendedorismo para que as costureiras possam ser as gestoras de seus próprios negócios. 

No Pará

O estado do Pará teve um projeto selecionado, o da Associação Quilombola Vida para Sempre Jacarequara, do município de Santa Luzia do Pará. Em mais de 10 anos de existência, a Vida para Sempre vem se dedicando à defesa do patrimônio físico, social e cultural dos quilombolas, em busca da valorização das expressões ancestrais da cultura afro-brasileira e a promoção do uso sustentável e preservação dos recursos naturais, estimulando atividades de manejo e cultivo de práticas agrícolas. 

O projeto inscrito pela Associação Quilombola Vida para Sempre Jacarequara está ligado ao Eixo 2 do edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça, que versava sobre Promoção da Soberania e Segurança Alimentar nas Comunidades Quilombolas. Ele foi batizado de “Flor da Pedra: práticas agroecológicas e fortalecimento sociocultural”. 

Com a implantação do projeto, que está sendo iniciado e passa a ganhar corpo, a Vida para Sempre pretende implantar tecnologias de sistemas agroflorestais para garantir que a produção agrícola permaneça como fonte de renda para a manutenção econômica e segurança alimentar. 

A forma como isso será alcançado, como bem acontece entre quilombolas, será iniciada pela conversa. Rodas de conversa e cursos formativos relacionados a práticas agrícolas; curso prático sobre plantio; curso sobre identificação e produção de canteiro de mudas de espécies madeireiras e frutíferas; formação de mutirões para a construção de viveiros de mudas, além de capacitação para identificação de áreas que tenham potencial para plantio. 

O Fundo Baobá para Equidade Racial foi buscar as palavras de Anne Karine Pereira Quaresma, líder da Associação da Comunidade Quilombola do Paiol, em Crisália (MG) e de Manoel Venil Barros Nogueira, da Associação Quilombola Vida para Sempre Jacarequara, em Santa Luzia do Pará, para saber como tem sido esse planejamento depois de terem sido selecionados e como isso tem impactado suas comunidades. 

Anne Karine Pereira Quaresma – Associação Quilombola do Paiol
Manoel Barros Nogueira – Associação Vida Para Sempre Jacarequara

Entre os  objetivos de vocês está o desenvolvimento de ações de resgate cultural. Que ações, especificamente, são essas? 

Anne Karine Pereira Quaresma (Comunidade Quilombola do Paiol) – Produção de peças de vestuário que remetam à cultura Quilombola, contendo, por exemplo,  símbolos e frases sobre resistência e resiliência. Promover também momentos de troca de experiência em volta de fogueiras, para que as mulheres engajadas no projeto compartilhem a vivência no processo de corte e costura artesanal. 

A partir do termo “resgate” é possível deduzir que a cultura quilombola está sendo esquecida?

Anne Karine Pereira Quaresma (Comunidade Quilombola do Paiol) – Infelizmente, sim. Muito da nossa cultura tem se perdido com o tempo. 

Vocês falam em “Valorização da identidade dos sujeitos quilombolas”. Essa identidade tem sido desvalorizada de que forma? 

Anne Karine Pereira Quaresma (Comunidade Quilombola do Paiol) – Por um tempo, nós quilombolas da comunidade Paiol fomos vítimas de muito preconceito no município por sermos quilombolas. Por isso,  temos destacado sempre a importância em valorizar nossa identidade. 

O desenvolvimento econômico sustentável vocês vão realizar por intermédio de um programa voltado ao exercício do Corte e Costura.  Quantas pessoas vão trabalhar com isso? Serão apenas mulheres ou homens também estão incluídos? Qual o maquinário e em que quantidade vocês terão que conseguir? 

Anne Karine Pereira Quaresma (Comunidade Quilombola do Paiol) – Nosso projeto foi pensado apenas para mulheres Quilombolas da nossa comunidade. A princípio com a quantidade de 15 mulheres. Para tanto vamos precisar da compra de todo o material necessário para a costura. Como máquina de costura, tecidos, agulhas, tesouras, dentre outros. 

A produção do trabalho de Corte e Costura será comercializada apenas dentro da comunidade ou vocês vão buscar o público externo também?

Anne Karine Pereira Quaresma (Comunidade Quilombola do Paiol) – Vamos buscar um público externo também. Por isso,  parte do recurso será disponibilizado para o marketing e publicações acerca do processo de corte e costura. Para alcançarmos um público maior. 

O aprendizado que vocês estão recebendo dentro da jornada de conhecimento será utilizado como? Já é possível ter uma ideia? 

Anne Karine Pereira Quaresma (Comunidade Quilombola do Paiol) – Todo o aprendizado será utilizado para potencializar as vendas dos produtos. 

Qual a importância de vocês terem sido escolhidos para ser beneficiados pelo edital Quilombolas em Defesa, do Fundo Baobá para Equidade Racial?  

Anne Karine Pereira Quaresma (Comunidade Quilombola do Paiol) – Ter sido escolhido pelo edital foi uma conquista incrível. Este é nosso primeiro projeto aprovado. Sentimos que enquanto Associação estamos no caminho certo na defesa dos direitos do nosso povo e também na busca por melhores condições de vida dos quilombolas a partir do trabalho e da geração de renda.

Há algo que vc gostaria de falar e que não tenha sido perguntado aqui? Se sim, fique à vontade. 

Anne Karine Pereira Quaresma (Comunidade Quilombola do Paiol) – Gostaria apenas de expressar nossa felicidade em poder contar com o apoio de toda a equipe do Baobá. 

A preservação de recursos naturais por meio do manejo e cultivo de práticas agrícolas, florestais, artesanais. Isso está dentro dos conceitos mais modernos sobre preservação ecológica. Por que a natureza é tão importante para os quilombolas? 

Manoel Venil Barros Nogueira (Vida para Sempre): A nossa territorialidade, isto é, a identidade que temos como comunidade quilombola, envolve a relação existente entre nós e com a natureza presente no território da comunidade. Assim, a natureza está envolvida em todo nosso cotidiano e nosso modo de vida, a nossa cultura envolve a natureza. Desse modo, a natureza é essencial para o nosso modo de vida quilombola.

Quando vocês falam em “implantação de tecnologia de sistemas agroflorestais, unindo uma alternativa de fonte rentável para subsistência econômica e segurança alimentar da comunidade”. Em termos práticos, que tecnologia é essa? Qual é alternativa de fonte rentável? 

Manoel Venil Barros Nogueira (Vida para Sempre) –  A Sistema Agroflorestal é uma tecnologia social com grande potencial em aliar conservação ambiental com subsistência e fonte renda para agricultores familiares. É um tecnologia inovadora frente ao modo de produção hegemônico convencional, a exemplo do monocultivo. Esta tecnologia refere-se à transferência de conhecimento e técnicas de cultivos sustentáveis e de base agroecológica, que dialogam com os saberes tradicionais dos agricultores familiares. Esta tecnologia se constitui em um projeto de vida, buscando gerar produção e renda agrícola a partir de cultivos de curto, médio e longo prazos de forma integradas.

O projeto de vocês procura dar mais modernidade aos seus sistemas de produção. É isso? A comunidade está preparada para isso?:  

Manoel Venil Barros Nogueira (Vida para Sempre) – Será um processo de aprendizagem e formação contínua, e no decorrer do desenvolvimento do projeto, os participantes terão oportunidades de unir experiencias anteriores, que tiveram por articulação com o movimento negro estadual e cooperativa de agricultores  do município, com a possibilidade de implementação prática dessa tecnologia social.

O acesso a elementos que fazem parte da chamada vida moderna, como o acesso às mídias digitais, é fundamental hoje para a sobrevivência quilombola?

Manoel Venil Barros Nogueira (Vida para Sempre) –  Sim, as mídias digitais é de fundamental importância, por ser um dos meios que utilizamos em prol de mantermos a comunicação ativa e também de nos oferecer a oportunidade de  participarmos de articulação com outras entidades e movimentos e, também, conseguir financiamentos, como foi o caso deste Edital.

Vocês já conseguiram identificar que tipos de estratégias serão usadas para fortalecer os produtos que são produzidos por vocês. 

Manoel Venil Barros Nogueira (Vida para Sempre) – Esperamos que, com esse projeto, tenhamos a possibilidade que construir estratégias de fortalecimento de nossa produção.

Quão importante é para vocês terem sido beneficiados pelo programa Quilombolas em Defesa, do Fundo Baobá para Equidade Racial? 

Manoel Venil Barros Nogueira (Vida para Sempre) – É de suma importância para o momento atual, pois estamos em processo de fortalecimento de nossa Associação. Assim, o edital possibilita construir estratégias que poderão tornar-se  fonte de renda na  produção agrícola. Mas também no fortalecimento da identidade da comunidade com a importância da Associação como organização coletiva e que luta pela melhoria da comunidade.

Existe algo que não foi perguntado e você gostaria de falar? Se sim, fique à vontade.

Manoel Venil Barros Nogueira (Vida para Sempre) – Uma entidade que fortalece a nossa identidade negra e quilombola possui suma importância para nós. Esperamos que esta parceria com o Fundo Baobá possa render grandes frutos para nossa comunidade.

O acesso de negros ao ensino superior  e a importância de programas como o Já É

O Fundo Baobá traz uma reflexão sobre o caminho trilhado por jovens estudantes negros, negras e negres até finalmente sua tão sonhada entrada na universidade

Por Gabi Coelho

O acesso de pessoas negras à universidade é um acontecimento recente quando comparado com as demais dificuldades que essa porcentagem da população brasileira enfrenta. Retomando a constante discussão sobre o uso do termo “negro”, cabe destacar que o mesmo é a junção dos grupos autodeclarados pretos e pardos. De acordo com o cientista político Cristiano Rodrigues em entrevista ao jornal Estado de Minas, a adoção do termo possui um caráter sociológico onde as desigualdades sociais e raciais experienciadas por ambos os grupos os aproximariam. 

Hoje, 28 de abril, é o Dia da Educação e é de suma importância falar que, por mais que o total de negros nas universidades tenha crescido nos últimos anos – entre 2010 e 2019 o aumento percentual foi de 400% -, o acesso ainda é desigual levando em consideração a informação de que em torno de 56% do total da população brasileira é composto por negros.  Além disso, conforme a professora e advogada Tainan Maria Guimarães Silva e Silva em seu artigo “O colorismo e suas bases históricas discriminatórias”, o processo de miscigenação forçada que ocorreu no Brasil a partir da colonização e o posterior apoio do Estado a fim de incentivar a vinda de imigrantes europeus para o país com o intuito de promover o “clareamento” da população são exemplos de como os negros sempre foram vistos como indesejados.

Também é importante ressaltar que essa mistura trouxe consequências. As diferenças de tratamento acabaram fragmentando a unidade dentro do grupo racial e, consequentemente, dificultando o reconhecimento da negritude por parte dos sujeitos entendidos como “mestiços”, os pardos, enquanto empurravam os negros de pele retinta para as margens da sociedade: “A valorização do mestiço em detrimento do negro de cor escura, a sua tolerância no ambiente de predominância branca e conservadora e a propagação de que o clareamento poderia melhorar e fazer evoluir a raça negra permanecem até hoje no imaginário social, ainda que disfarçados”, afirma Silva na página 17 do texto citado. 

Baseado nos argumentos da professora e advogada, é possível compreender como o colorismo trata das diferentes tonalidades de pele e como isso é capaz de impactar na autodeclaração dos sujeitos e, por consequência,  nos dados sobre cor/raça do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)  e nas diferentes formas de articulação do movimento negro a fim de fazer com que os negros percebam como o racismo estrutural se articula com o objetivo de promover conflitos entre eles usando de elementos pautados pela discriminação e embranquecimento dos indivíduos de cor de pele não-retinta.

 A Política de Cotas, ou ações afirmativas, trata da Lei nº 12.711, sancionada em agosto de 2012. Foi a partir dela que 50% do total das vagas nas universidades e institutos federais passaram a ser reservadas para alunos oriundos integralmente do sistema público de ensino. Dentro desses 50%, há também “subdivisões”, onde podemos encaixar as vagas destinadas para pretos, pardos e indígenas. Sendo assim, esse sistema foi atrelado ao Sistema de Seleção Unificada (SiSu), um programa governamental já existente desde 2010, cujo intuito inicial era o de reservar vagas para estudantes que realizassem o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2012-2019, 56,2% da população brasileira comporia a categoria de negros (9,4% de pretos e 46,8% de pardos). A partir dessas informações é importante refletir sobre o caminho trilhado por essas pessoas até finalmente sua tão sonhada entrada na universidade, daí a necessidade de projetos como o Programa Já É, do Fundo Baobá para Equidade Racial, que visa promover o acesso de jovens negros, negras e negres ao ensino de nível superior. 

O caminho percorrido por essas pessoas pode ser percebido a partir de diferentes óticas: desde a Educação Básica precarizada, passando por questões familiares que batem à porta devido condições sociais historicamente explicáveis pela ineficiência do Estado em lidar com as consequências da realidade pós-abolição da escravatura, até a realização de um vestibular conteudista, cuja estrutura tradicionalmente acentua a disparidade entre a presença de negros e brancos nas universidades utilizando-se da enorme diferença entre o ensino público e o ensino privado no Brasil.

Enquanto um Programa voltado para auxiliar jovens negros e periféricos a entrarem na universidade através da promoção de um curso pré-vestibular e da concessão de vale-transporte e vale-alimentação após o retorno presencial das aulas, o Já É foi lançado em fevereiro de 2021 e selecionou 85 jovens, dos quais 75 seguiram matriculados e 69 participaram ativamente de todas atividades até  o final de 2021. Além disso, as e os estudantes receberam computadores e chips de internet para que seguissem com os estudos participando das aulas online. Aulas presenciais não estavam acontecendo devido às  limitações impostas pela pandemia da Covid-19. Em seu primeiro ano, o Fundo Baobá para Equidade Racial contou com o apoio de três instituições para a realização do Programa Já É: Citi Foundation, Demarest Advogados e Amadi Technology.  

As ações afirmativas no ensino superior devem ir além das cotas para garantir o acesso, é necessário garantir a permanência. Segundo o site do QueroBolsa, a taxa de evasão no Ensino Superior entre pessoas negras foi de aproximadamente 28% no ano de 2019. Dentre os principais motivos que levam à evasão temos: “(…) turno integral que impossibilita trabalhar, textos em inglês; professores na área de saúde que pedem para alunos comprarem materiais e equipamentos caros; funcionários despreparados para lidar com negros.” Quando falamos sobre permanência e evasão de jovens negros nas universidades, podemos relembrar um dos pilares do Programa Já É: Entrada e permanência no ensino superior (investimentos em alunos, alunas e alunes do ensino médio, em cursos preparatórios para o vestibular e nos primeiros meses do curso de graduação). 

Do grupo de 75 estudantes do Ja é, 24 tiveram sucesso nos vestibulares, o que significa um percentual de aprovação de 32%. A presença de estudantes negros nas universidades brasileiras também irá possibilitar, futuramente, que profissionais da Educação negros adentrem em espaços como esses, visto que a formação de indivíduos negros se faz necessária para que os mesmos sejam profissionalmente qualificados a fim de ocupar os mais diferentes cargos. Sem esquecer de mencionar a importância da universidade em relação à transformação pessoal e profissional a qual esses estudantes estarão sujeitos, dado que o ambiente universitário, além de proporcionar o enriquecimento profissional, também estará possibilitando o estabelecimento de vínculos de amizade e experiências capazes de  transformar a perspectiva desses jovens.

Veja a lista de jovens que ingressaram na universidade com apoio do Programa Já É:

           Aluno/Aluna       Instituição / Curso Modelo
Ana Claudia Rocha de Souza Universidade São Judas / Psicologia                         Privado
Ana Maria Silva Oliveira UNIFESP / Administração                             Público
Anna Beatriz da Silva Garcia SENAC / Fotografia                         Privado
Antonio Gustavo Ribeiro Universidade Santo Amaro / História Privado
Breno Oliveira Ribeiro UNIFESP / Ciências Sociais                         Público
Caroline Vitória R. dos Santos USP / Gestão Pública                         Público
Carlos Eduardo de Castro Cerqueira UFRJ / Administração                             Público 
Isaque Rodrigues de Oliveira Anhembi-Morumbi / Publicidade e Propaganda                             Privado
Jakeline Souza Lima UNESP / Artes  Público 
Joselaine Romão Soares Centro Universitário Cidade Verde / Engenharia de Software                       Privado
Joyce Cristina Nogueira  USP / Lazer e Turismo                              Público
Karina Leal de Souza USP / Arquitetura                            Público
Karine Lopes dos Santos Anhembi-Morumbi / Relações Públicas                      Privado
Larissa Araujo Aniceto USP / Letras Público
Laysa Stefani de Almeida Brito UNIP / Enfermagem                         Privado
Luiz Felipe Motta da Silva Faculdade Americana / Enfermagem                         Privado
Mayza Silva Dias Universidade Santo Amaro / Gestão Hospitalar                       Privado
Melissa de Jesus Calixto Costa Universidade São Judas Tadeu / Direito Privado
Natalia dos Anjos Oliveira FMU / Engenharia Química                         Privado
Nicholas W.Crisólogo. Gonçalves Centro Universitário Ítalo Btasileiro / Educação Física                        Privado
Raphaela dos Santos UNIP ou Estácio / Biomedicina Estético ou Estética e Cosmetologia Privado
Taynara Silva Santos UNIFESP / ABI – Ciências Sociais Público
Thais Sousa Silva USP / Pedagogia                           Público
Vitória Nunes Martins Anhembi-Morumbi / Design Gráfico                       Privado

 

 

 

Doadores Individuais do Fundo Baobá

Entrevistados falam da importância de criar uma cultura de doação e unificar a sociedade em prol de causas sociais

Por Ingrid Ferreira

O Fundo Baobá é o primeiro fundo dedicado, exclusivamente, para a promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. Ao longo de seus 11 anos de atuação, além de ser apoiado por grandes empresas, tem contado com parcela da população que está abraçando a causa e comprometendo-se em contribuir com essa questão tão crucial.

O Fundo conversou com dois doadores individuais que, ao conhecerem o Baobá, decidiram se engajar para que a sociedade seja mais justa e, para que, através dos editais promovidos pelo Fundo, haja mais qualidade de vida para a população negra.

Uma dessas pessoas é a Ana Maria Assis, ou dona Ana, como ela prefere ser chamada. Dona Ana era funcionária da Justiça Federal e se aposentou há um ano, durante a pandemia ela sentiu a necessidade de auxiliar a população de alguma forma e ao conhecer o trabalho do Fundo Baobá, ela decidiu apoiar a causa por meio da doação para a instituição.

Ana Maria Assis

Ao ser questionada sobre o que a fez interessar-se em dirigir a sua doação para o Baobá, ela diz o seguinte: “Achei interessante a perspectiva de formar lideranças negras, pois acho que esse é o caminho, a educação e organização, para superar a enorme desigualdade do país e as dificuldades enfrentadas pelo povo negro”.

Dona Ana traz pontos de extrema importância em sua fala, como a excelência de criar uma cultura de doação na população brasileira e como isso repercute socialmente. A doadora destaca que, ainda que não seja de imediato, os resultados podem ser observados a curto, médio e longo prazo.

Ela também fala que: “Cada pessoa de condição social e econômica inferior que consegue entrar numa faculdade, completar o ensino médio, ou participar de iniciativas como a do Fundo Baobá, consegue mudar sua vida e a de outras pessoas no entorno, isso representa uma esperança para todos nós”.

As falas de dona Ana destacam a importância do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco cujo objetivo é ampliar a participação de mulheres negras em espaços de poder e tomada de decisão e do Programa Já É que visa apoiar jovens a acessarem o ensino superior e a se manter na universidade.  Em ambos os Programas, pessoas jovens e mulheres têm valorizado e estimulado o direito de sonhar com um futuro melhor e caminhar em direção a ele.

O segundo doador entrevistado é o Thiago Alvim, atualmente Diretor Executivo do Prosas. Thiago conta que não se lembra exatamente quando conheceu o Fundo, mas que uma data muito marcante foi o lançamento da iniciativa em homenagem a Marielle Franco no Congresso do Gife há alguns anos atrás.

Thiago Alvim

Thiago atua na área de investimento social privado e, em sua fala, traz a importância da contribuição para o Baobá: “Acredito que a causa da igualdade racial é um dos temas mais importantes, da atualidade, no Brasil e ainda temos muito para avançar. Somo a isso o formato de atuação do Fundo, que permite que diversas novas vozes sejam ouvidas, valorizando o protagonismo de pessoas negras como parte da solução. Em um país continental e tão diverso, precisamos ampliar o número de atores que conseguem se expressar e ser ouvidos”.

Thiago também fala da importância da coletividade nesse processo de mudança social, o que traz aquele velho ditado do trabalho de formiguinha: apenas uma pessoa doando, pode parecer pouco, mas se cada uma fizer sua parte, contribuindo para o conjunto, grandes coisas poderão ser feitas. 

E como ele disse: “Somando diversas outras pequenas contribuições e contando com a legitimidade e capacidade técnica da equipe do Baobá, milhares de iniciativas em prol da igualdade racial podem ser desenvolvidas pelo Brasil. Problemas complexos, como a desigualdade racial, somente serão resolvidos ou minimizados com a participação de muita gente e, por isso, fico satisfeito de dar minha pequena contribuição. Se valorizo o protagonismo negro, também considero fundamental a conscientização e participação dos brancos na busca de soluções”.

O Fundo Baobá é grato a todas as Donas Anas e Thiagos que acompanham o trabalho que é feito por aqui, enfrentar o racismo e promover a equidade racial no Brasil é um trabalho árduo, porém, contando com o apoio e compromisso de pessoas como vocês, podemos caminhar com mais firmeza, na certeza de que, a cada dia, contribuímos para que mais pessoas negras se desenvolvam e dêem passos à frente.

Baobá na imprensa em Março

Por Ingrid Ferreira

No mês de março o Fundo Baobá para Equidade Racial foi citado em muitas matérias, de diversos veículos, inclusive, veículos de comunicação internacionais, isso decorreu de acordo com a decisão da bilionária Mackenzie Scott, acionista da Amazon, que decidiu doar 3,8 bilhões de dólares a 465 organizações espalhadas pelo mundo, e entre essas, encontra-se o Fundo Baobá.

Na mídia internacional o Baobá foi citado pelo Blog da MacKenzie Scott, Tech Startups, Red Lake Nation News e Spletnik, todos os veículos falando sobre a doação de Mackenzie Scott, já no Brasil, o assunto teve repercussão na Veja, MSN, Meio e Mensagem, Metrópoles, Terra, Isto É Dinheiro, Folha, Suno Notícias, Diário do Centro do Mundo e hojediário.com

Outro assunto que também repercutiu na mídia, foi do Programa Já É, que está no seu segundo ano de execução e dessa vez, contando com a parceria da empresa de seguros MetLife, e o assunto foi tema de matérias no Jornal Empoderado, Valor Econômico, Exame, Sonho Seguro, Segs e Sindseg.

O Guia SP 24 Horas e a Redação RG do Uol falaram sobre um projeto dos artistas “Os Gêmeos”, que criaram uma camiseta para celebrar os 10 anos do selo musical, também chamado de camiseta do bem, 100% do lucro obtido com a venda do produto será destinado às instituições sociais Fundo Baobá e Cambuci Solidário.

A Mixvale e o Yahoo!Notícias falaram sobre o Mover, movimento de empresas pela equidade racial iniciado após o assassinato de João Alberto Silveira Freitas por seguranças no estacionamento do Carrefour em 2020 e sua parceria com o Fundo Baobá.

O GIFE também citou o Fundo Baobá em sua matéria “Recém lançado, estudo traz histórico e panorama dos fundos patrimoniais no Brasil”, que contou com a fala do atual Diretor Executivo da instituição, Giovanni Harvey, que falou a respeito da criação do Baobá, suas metas e focos enquanto organização voltada a equidade racial no país.

No site Criola, o Fundo foi indicado como apoiador de um projeto que busca informações para ampliar diálogo sobre estratégias para avançar na luta contra o racismo sistêmico, na matéria “Consulta pública de Criola irá mapear movimentos e organizações brasileiras voltadas à justiça racial e criminal”.

Apoiadas (os) do Fundo Baobá

No mês de março, a coluna Coletiva Negras que Movem do Portal Geledés, contou com o artigo Cinco Formas de Exercer seu Antirracismo, em que a escritora Jaqueline Fraga fala sobre como o racismo age de forma diferente no Brasil, levando em conta questões como pigmentação da pele e traços marcantes de pessoas negras.

A autora citada acima também escreveu o artigo Na Paz e na Guerra, Continua-se Negro, em que ela cita o episódio ocorrido na Ucrânia, onde há semanas o mundo todo teve conhecimento através das redes sociais que no processo de fuga do país, pessoas brancas estavam tendo privilégios, mediante pessoas negras, para entrarem nos trens.

A Coletiva Negras que Movem é uma iniciativa de mulheres apoiadas na primeira edição do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas: Marielle Franco. O programa é uma realização do Fundo Baobá para Equidade Racial com apoio da Fundação Kellogg, Fundação Ford. Instituto Ibirapitanga e Open Society Foundations. 

O Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis de Bocaina publicou a matéria “Cooperação entre Fiocruz e Embrapa fortalece comunidades na promoção da saúde e da agroecologia”, e o Baobá foi citado na fala de Laura Braga, liderança do Quilombo da Fazenda, que é apoiado no edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça, uma iniciativa do Fundo Baobá em parceria com a Fundação Interamericana.

O Correio Nagô mencionou o Fundo Baobá em sua matéria “Projeto “Racismo Religioso: Respeita Minha Fé!” mapeia violência racial contra terreiros na região metropolitana do Recife”, pois o projeto que está finalizando sua primeira etapa, iniciada em dezembro de 2021, com apoio do Baobá por meio do edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça.

O site  Voe News e o gov.br publicaram a matéria “Evento reúne profissionais mulheres do setor aéreo brasileiro para bate-papo sobre gênero e aviação”, que contou com a participação da Laiara Amorim, idealizadora do Quilombo Aéreo e do projeto “Voe Como uma Garota Negra”, além de instrutora no projeto “Pretos que Voam”. Laiara foi apoiada na primeira edição do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. O evento reuniu profissionais mulheres do setor aéreo brasileiro para bate-papo sobre gênero e aviação.

Benedita da Silva e a importância de mais mulheres na política

Ela completa 80 anos no dia 26 de abril e segue atuante na política. Organizações apoiadas pelo Programa Marielle Franco fazem trabalho firme na formação política de mulheres 

Por Gabi Coelho

Em um país onde a população é composta por 51,8% de mulheres (dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2019), a representação feminina torna-se cada vez mais um assunto recorrente ao falarmos sobre política. Foi somente no ano de 1932, a partir do Decreto 21.076 assinado pelo então presidente Getúlio Vargas, que as mulheres brasileiras conquistaram o direito a votar e serem votadas, e ainda assim somente em 1965 é que o voto feminino passou a ser obrigatório. Para os que se interessarem pelo contexto histórico da luta feminina pelo voto, a Câmara dos Deputados publicou, em 2019, a segunda edição da obra O voto feminino no Brasil.

Neste 26 de abril, a deputada federal Benedita da Silva completa 80 anos. Benedita é um ótimo exemplo da importância da presença de mulheres em cargos políticos. Ela foi a primeira mulher negra a governar um estado brasileiro em abril de 2002 e renunciou ao cargo em dezembro do mesmo ano para assumir como  Ministra da Ação Social no governo Lula. Ainda falando sobre pioneirismo, podemos citar Antonieta de Barros, a terceira mulher eleita no Brasil e a primeira mulher negra a assumir um mandato (Deputada Estadual em Santa Catarina, 1934), além de ter sido a autora do projeto de Lei nº145 (12 de outubro de 1948),  que deu origem ao Dia do Professor.

Existe uma forte sub-representatividade da mulher na política brasileira. Segundo a ONU Mulheres (Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento da Mulheres) e o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o Brasil ocupa o antepenúltimo lugar entre países latino-americanos no ranking de paridade política entre homens e mulheres. 

A organização Mulheres Negras Decidem (MND) surgiu no estado do Rio de Janeiro, o estado que foi governado por Benedita da Silva, em 2018. Seu foco: a promoção de um número significativo de mulheres negras no cenário político daquele estado. Colocá-las em evidência e, através do voto, no campo da tomada de decisões. A organização MND foi apoiada na primeira edição do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, do Fundo Baobá em parceria com a Fundação Kellogg, o Instituto Ibirapitanga, a Fundação Ford e a Open Society Foundations. 

Diana Mendes, uma das líderes do MND, falou para o Fundo Baobá sobre a importância de terem sido selecionadas para o Programa Marielle Franco em 2019  e o impulso que isso deu em sua organização. “Nesse processo de desenvolvimento institucional, comunicação e ações de incidência da organização, o Fundo Baobá foi primordial, porque desde o início do movimento a gente tem feito muitas ações, mas eram ações com o nosso investimento pessoal”, afirmou. 

A organização Rede de Mulheres Negras de Pernambuco também está levando o aprendizado para as mulheres, visando fazer com que elas ocupem espaços políticos de importância. “A Rede de Mulheres Negras de Pernambuco organizou processos de formação políticas para qualificar sua própria atuação e apoiar o surgimento de outras lideranças e referências; tem realizado processos de formação política junto a mulheres das entidades Espaço Mulher e Cidadania Feminina e executou um projeto coletivamente pela primeira vez;  fez despertar o desejo de liderança em suas representantes, que  superaram  o receio de trabalhar de maneira virtual, manuseando as plataformas digitais”, respondeu Rosita Maria Marques, da liderança da Rede Mulheres Negras de Pernambuco.   

Quando abordamos diretamente a importância das mulheres na política, podemos falar também sobre a criação de políticas públicas direcionadas para essa grande parcela da população e sobre a identificação e solução de problemas a partir da compreensão das necessidades coletivas partindo das experiências de vida das eleitas enquanto um elemento fundamental para a elaboração de projetos e para o exercício da empatia durante seus mandatos. Outro ponto que merece destaque é que a representação feminina nos cargos políticos precisa de fato abarcar a pluralidade que acompanha esse grupo: mulheres negras, mulheres LGBTQIA+ e demais individualidades, como mulheres com deficiência.

A partir da premissa de diminuir a escassez da participação feminina foi aprovada a Lei nº 9.504/1997, que sofreu uma alteração após a resolução do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Enquanto a lei em questão estabelece que “cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada sexo”, a resolução 23.607/2019 estabelece também que os partidos devem destinar 30% do Fundo Eleitoral (Fundo Especial de Financiamento de Campanha) para campanhas femininas.

Em entrevista para a Câmara Municipal de Piracicaba (SP), a professora de Economia Helena Berlato falou sobre a relevância dessa medida: “A mulher não é incentivada desde pequena a chegar na política, então esses 30% são o mínimo para garantir esta presença, porque quando a gente fala da mulher e de outras figuras também, trazemos um outro olhar, olhares de outros grupos que são importantíssimos para fazer políticas públicas”.

Infelizmente, no último dia 5 de abril, o Congresso Nacional aprovou uma emenda constitucional que isenta de punições os partidos políticos que desrespeitaram a exigência de uma cota mínima de recursos para candidaturas de mulheres e negros em eleições anteriores ao ano de 2022. “A emenda veda, nesses casos, a condenação, pela Justiça Eleitoral, nos processos de prestação de contas de anos anteriores que ainda não tenham transitado em julgado (sentença definitiva) até a data da promulgação”, é o que diz a matéria publicada no G1 Política.

Já no que se refere às eleições municipais de 2020, tivemos, segundo o Tribunal Superior Eleitoral, 651 prefeitas  (12,1%) contra 4.750 prefeitos (87,9%) e 9.196 vereadoras (16%) contra 48.265 vereadores (84%). Apesar de admitir o aumento no total de mulheres eleitas, o então presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Luís Roberto Barroso, fez um adendo: “Mas também tivemos um aumento nos ataques físicos ou morais a mulheres candidatas. Esse tipo de agressão a mulheres é pior que machismo, é covardia. Precisamos de mais mulheres na política e, portanto, precisamos enfrentar essa cultura do atraso, da discriminação, do preconceito e da desqualificação

Já no que se refere às eleições municipais de 2020, tivemos, segundo o Tribunal Superior Eleitoral, 651 prefeitas  (12,1%) contra 4.750 prefeitos (87,9%) e 9.196 vereadoras (16%) contra 48.265 vereadores (84%). Apesar de admitir o aumento no total de mulheres eleitas, o então presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Luís Roberto Barroso, fez um adendo: “Mas também tivemos um aumento nos ataques físicos ou morais a mulheres candidatas. Esse tipo de agressão a mulheres é pior que machismo, é covardia. Precisamos de mais mulheres na política e, portanto, precisamos enfrentar essa cultura do atraso, da discriminação, do preconceito e da desqualificação”.

Outra figura importante a ser mencionada é Maria Regina Sousa. Filha de um trabalhador rural e de uma dona de casa, Regina teve 13 irmãos e nasceu em União, uma cidade que fica a 52 km de Teresina (Piauí). Aos 71 anos, Regina assumiu o cargo de governadora do Piauí, tornando-se a primeira mulher a assumir efetivamente esse posto. Filiada ao PT e formada em Letras pela Universidade Federal do Piauí, Sousa também foi a primeira mulher do estado a assumir o cargo de Senadora entre os anos de 2015 e 2018. 

Por fim, mas não menos relevante, o projeto Agenda Marielle, criado pelo Instituto Marielle Franco, é um exemplo de iniciativa voltada para a construção de campanhas eleitorais cujos princípios baseiam-se em Compromissos com práticas e pautas antirracistas, feministas e populares a partir do legado de Marielle, o que incluiria pautas como Justiça Racial e Defesa da Vida, Gênero e Sexualidade, Justiça Econômica, Saúde Pública Gratuita e de Qualidade, entre outros.

Baoba Fund announces the Evaluation of the Economic Recovery Program for Black Entrepreneurs

The black population has always undertaken it. Faced with so many challenges and structural racism itself, he had to learn in practice how to create his own businesses, even without incentives or public policies that could meet so many needs.

Blacks and blacks are protagonists when it comes to innovation and a way of undertaking. With business models that really impact the communities where they are inserted, they make a difference with more circular and community formats that run away from traditional capitalist logic.

But have these entrepreneurs managed to keep their businesses active in the midst of the pandemic? What were the biggest challenges? What incentive policies were created or not to support these business leaders working in the communities that were most impacted by the pandemic?

Thinking about the most diverse challenges that were presented and that still extend throughout the country, the Baobá Fund for Racial Equity, in partnership with Coca Cola Foundation, Coca Cola Brazil Institute, BV and Votorantim Institute, launched in November 2020 the Program for Economic Recovery of Small BusinessEs of Black Entrepreneurs.

Together with Fa.vela – an entrepreneurial, innovative, digital and inclusive education and learning hub – we followed 46 initiatives and 137 entrepreneurs from all over Brazil throughout 2021, and they received financial support of R$30,000 per initiative.

With consultancies, workshops and processes of exchange and learning in a virtual way, we understand the power to financially support these enterprises, reaching the end of 2021 celebrating the permanence of these small businesses, which not only strengthen the ecosystem of Afroentrepreneurship in Brazil, but also of all the territorialities where they operate.

 

Why support black enterprises?

With a wide diversity of business, we can once again notice the creative powers that come from the edges of both cities and countryside, which still suffers from racism in our country.

More than half of the Brazilian population is black, composed of about 56% black and brown. Of these, ibge (Brazilian Institute of Geography and Statistics) estimates that at least 14 million are entrepreneurs. A market that moves up to 1.73 trillion of the country’s economy annually.

With the pandemic, the entire business ecosystem has been shaken. The Global Entrepreneurship Monitor Survey (GEM 2020), conducted in Brazil in partnership with Sebrae (Brazilian Service for Support to Micro and Small Enterprises) and IBPQ (Brazilian Institute of Quality and Productivity), showed that, from 2019 to 2020, the number of entrepreneurs in Brazil fell from 53.4 million to 43.9 million.

But if there is a niche that suffered even more, this was certainly that of small entrepreneurs, especially black and peripheral:

The research “The impact of the coronavirus pandemic on small businesses”, developed by Sebrae in partnership with the Getúlio Vargas Foundation (FGV) with 7,403 entrepreneurs, in June 2020, shows that businesses led by the black population were the most impacted, mainly because they serve essentially in person (45%). Among whites, the proportion was 36%.

Of all the interviewees, 70% of the businesses were conducted by blacks who lived in municipalities where the partial or total closure of the establishments occurred. In this scenario, the majority were young, women and with a low level of education.

The necessary isolation to brake the new coronavirus came full of difficulties for the maintenance of the business itself. The same survey indicates that 46% of black-led enterprises had to temporarily stop operating.

In the midst of a crisis scenario, black entrepreneurs still had more refusal when borrowing (61%) when compared to whites (55%), even the amount requested by blacks ($28,000) was 26% lower than whites ($37,000).

Taking this scenario into consideration, our goal with the Economic Recovery Program was to support black entrepreneurs and entrepreneurs from the peripheries to go through this moment of crisis caused by the Covid-19 pandemic.

At the end of the program, we carried out a process of evaluation of results, with the objective of telling how these women and men, distributed throughout all corners of Brazil, are making a difference in their territories. Even in the face of an economic crisis, they continue to turn the local economy, in addition to multiplying their knowledge and services to others and new entrepreneurs.

 

Evaluation paths

To arrive at the results of the program, we have the support of an external consultancy, Window 8, and we have traveled some paths together with supporters, performers and participants of the program. The first step was the analysis of information and documents collected during the program, such as the survey of registrations and other databases of participants in the production processes, narrative reports and accountability prepared by the entrepreneurs themselves.

The reports prepared by the Fa.vela Hub were also important references to arrive at the details of the evaluation, and also to define the main points of transformation desired by the program through a Theory of Change.

The Theory of Change allowed delimiting the desired impact of the program: the promotion of a dignified life for black subjects and families through the improvement of their financial conditions. In addition, the main results, products, interventions and target audience were highlighted, as well as the premises of the program.

From there, interviews were conducted with stakeholders and listening groups with program participants. The data and information collected were analyzed and consolidated in a full report and in an executive summary (available for download here).

 

Profile of participants

“There are no edicts that support the northeast and the black population,” was a recurring phrase in the evaluation process of the program.

Understanding the importance of geographic diversity and the reality of initiatives located in the north and northeast, with support below what they need, the Economic Recovery Program prioritized these regions in the selection of entrepreneurs.

The Northeast is the place where most of the selected initiatives are concentrated, especially Bahia (37%). To speak in territory at this time of pandemic is to remember that Covid-19 has not affected populations only in the highest peaks of the disease, but also economically, including in the post-first wave of the disease.

With unemployment hitting record highs in 2021, many people have had to resort to formal work or else raise their own means of survival and sustainability. The program was important for supporting businesses of people who work mainly alone (44%) or with their families (31%). In addition, more than 60% of the supported enterprises employed at least one (one) person in their activity (informally or formally) during the implementation of the Program.

 

Black women: business leaders

We selected 46 initiatives composed of three black entrepreneurs and entrepreneurs throughout Brazil, covering a whole 137 entrepreneurs. The main age group of participation is between 25 and 35 years (43%), followed by people who are between 36 and 50 years old (36%). More than half of the enterprises (56%) are made up exclusively of women, showing how the program mainly impacted black women.

In relation to schooling, there was an important distribution among people with different levels of education: 25% have completed high school, 24% have completed higher education and 26% have completed higher education.

 

Entrepreneurship from the peripheries

Among the businesses supported by the program, most fall into four segments:

food (19%), crafts (13%), agriculture (12%), sewing (12%) and beauty (8%). The Program also supported initiatives in the areas of fashion and clothing, tourism, health, communication, culture and events, education, fishing and service delivery.

The contemplated initiatives are located mainly in urban areas (73%) and in the peripheries (77%), showing the importance, once again, of local businesses.

Being in the peripheries also symbolized a challenge, given the long distances, since some initiatives opted for the delivery format, requiring thinking means of transport for these deliveries, as we can see in this statement.

“We had already started the project and the project gave an incentive for us to continue. In this time of pandemic we had to take a break from the service because of the agglomerations. We had to pause a year and a half. Another idea came up that we had so as not to be totally stopped. We had the idea to deliver cake, but the city is 8 km from our community. The project came about in an hour of great challenge, improved the initiative.”

 

The impact on communities

The entrepreneurs related to their communities in the most different ways, either by disseminating content, by sharing the learning acquired throughout the program or, then, supporting the donation of basic baskets in the face of food insecurity that was imposed through out the Brazilian territory in the midst of the health crisis.

According to the reports of entrepreneurs, at least 16% say that their communities are an important consumer public. In addition, 27% of businesses generate jobs in the territory, as we can see when we hear some reports like this: “We were able to give more visibility, increase the workforce and increase the space. With the larger space, it gave more visibility and attracted more audience. It made a big difference. Today our initiative is more able to receive the public that we are receiving today. We can also help more people in the community,” they point out.

The program was a great promoter of the feeling of belonging in relation to the community, since there was an incentive to look around and think about the business through the local population, in addition to strengthening the territories themselves, as one of the entrepreneurs says: “For us, it is important the impact of our activities and enterprises on the community,   because we believe we can grow together. Therefore, we carry out workshops, trainings, conversation wheels improving the techniques of each entrepreneur and dialoguing knowledge with the community.”

 

Program findings and powers

From the arrival of the program to the evaluation process, black and black entrepreneurs were acquiring several learnings, able to ensure the survival of their business and also expand the impact they already had on their locations.

According to the business leaders themselves, 3,020 people living in the communities close to the projects were indirectly benefited, as the program positively fostered the spirit of belonging to the communities where they are inserted and encouraged local actions.

Throughout the program, formative processes were the heart of the journey. In total, 447 hours were dedicated to learning, 282 of which were dedicated to mentoring customized each business.

Since the peripheries are already known spaces of knowledge sharing – a practice inherited by the experience lived in community by quilombos and indigenous territories – in the program this experience of sharing learning was also evident in the testimonies collected.

Entrepreneurs narrated the realization of actions to disseminate content and resources to the communities where they are inserted, which contributed to this expansion on a larger scale of the program, also strengthening the ties of business, especially among black women.

Mentoring was also beneficial to broaden understanding of projects, defines priorities, ask questions and also carry out longer-term planning, since the program has brought these people tools about entrepreneurial practice.

According to the participants’ reports, 69% stated that they had overcome the main challenges they had at the beginning of the program. In addition, there was a 22% increase in business formalization.

All this occurred from the expansion of awareness about the importance of key elements for the maintenance and continuation of the business, such as documentation, accountability and communication planning.

 

Far beyond the program: subjectivities under construction

If there is one element that has crossed the entire Brazilian society in the midst of the pandemic, this was certainly internet access. Whether to be close to family or friends or, to access basic rights, such as Emergency Assistance, the internet proved fundamental.

The country, however, still has a great challenge when we talk about access, especially in territories further away from the central regions. This scenario was no different when we looked at the reality of the entrepreneurs contemplated in the program.

At least 82% of them claim that, with the program, they managed to overcome the challenges and inserted their business into the virtual universe, making digital inclusion one of the great gains of the program, since it was allowed to invest in the purchase of computers or internet points.

It is possible to understand the importance of the program when listening to the entrepreneurs themselves. “We had no prospect of anything. We had a business that started gradually. With the edict I went a long time without believing what had happened. We bought raw materials, equipment we needed.”

 

The challenges of black women who undertake

When we talk about entrepreneurship, it is important to remember that, even full of creativity and great ideas, the black population still faces structural challenges to access the entrepreneurship market.

This fact could also be noticed during the realization of the project, given the fact that many people could not devote themselves entirely to their business, because they needed to supplement the income in various ways, not having time to focus on their personal project. Of the entrepreneurs and entrepreneurs supported, 53% had in the enterprise a complementary source of income and for 47% the business was the main source of income. Somehow, the program also managed to support these people, who in some cases were about to give up investing time in their ideas.

About this, they reflect on the difficulties of living in their own business. “We know that black women making money, we are often there trying to make our business become our main source of income, but we have other employment relationships to be able to supplement the income.”

 

Mental Health and Self-Esteem of the Black Population

The mental health and self-esteem of black women are also unmeasured impacts that are worth noting, because they say about the personal strengthening of these leaders and the possibility of continuing their projects with autonomy.

“We didn’t believe that a project could target black and poor people without wanting anything in return. We didn’t believe we’d have visibility,” says one of the entrepreneurs heard.

When we heard the public supported by the project, the racial issue was also in evidence. For them and them, the program was a way to reflect once again on the racial prejudices they experience as black people, including to undertake, becoming a limiting person of their own work.

For one of them, if there’s a way to “hit the system in the face” is when black women can show their abilities. “It is when we put the face to the slap and prove that it is possible, especially us, women, black, young, rural, maroons. It has a whole baggage that is out of the pattern of a society that is prejudiced the way it is ours,” he points out.

 

Impact and continuous learning process

More than financial resources, it is confirmed the importance of uniting entrepreneurs with tools that enable them to continue their business, even after the end of resources equal to those of the program.

“The edict did not only give money, also taught how to follow, showed other paths,” pointed out some of the entrepreneurs heard and heard.

Showing paths of autonomy, especially financial, and ways of undertaking that continue the central idea is a way to continue impacting both the enterprises and the communities themselves. Among the preferred courses are those related to financial issues, in addition to sales and digital marketing. At least 68% of the participants stated that they had learned from the program.

“Money was something we lacked. Having an edict that would allow us to move in some way was very good. When we found out that the formative processes were still going to take place, it was very much married to what we had already been talking about. The project has already come with a complete package. They were the three ideal routes that we didn’t even expect, but it was in the package. “

 

Final reflections

The program met a real demand for increased vulnerability of the small and nano entrepreneur, caused by the worsening of the pandemic, and may realize that, even the objective being economic recovery, the project also had indirect and personal impacts for each selected person.

Even though it is not possible to measure how financial resources will continue to collaborate for the maintenance of the business, with the end of the program, it is possible to say that mentors and consultancies have mainly strengthened entrepreneurs and entrepreneurs with essential knowledge to continue following with their ventures.

We highlight that it is always important to consider the aspects of development of personal skills and abilities, as these are the greatest highlights at the end of the project, also influencing the continuity of entrepreneurial activities after intervention.

 

We highlight some of the greatest results:

# 46 initiatives and 137 entrepreneurs directly impacted

#3,020 people linked to the communities of the enterprises were impacted indirectly, with 77% of the initiatives concentrated in the peripheries.

# 88% of entrepreneurs said they use part of the resource to acquire electronic equipment to participate in the virtual activities of the program

#40% of the expenses included in the category other expenses are related to courses and /or technical consultancies to support the business, which demonstrates how these and these entrepreneurs are thinking about their business also in the medium and long term.

# At least 68% of participants stated that they had learned from the program. There were 447 hours of training, 282 of which were dedicated to mentoring customized to each business.

# 69% of entrepreneurs overcame the main challenges they had at the beginning of the program.

# There was a 22% increase in business formalization.

# At least 82% of them said that, with the program, they managed to overcome the challenges and inserted their business into the virtual universe.

# 78% acquired raw material and performed acquisition or maintenance of equipment.

# 75% bought from community suppliers and 57% declared that the clientele increased considerably.

# The Baobab Fund Notice was, for many, the first opportunity to mobilize external resources, impacting the participants’ self-confidence.

# The statements of strengthening among black women appeared spontaneously in the evaluation process, showing the importance of actions to increase self-esteem and self-confidence.

# The creation of networking networks among entrepreneurs from different locations in this time of crisis can be seen as one of the greatest subjective and qualitative gains of the project.















Baoba Fund creates, in Brazil, the first Giving Circle led by black people

Black philanthropy must mobilize to exercise the donation, aiming to promote projects that work racial equity and social justice for the black population.

By Wagner Prado

 November 30, 2021 is considered a historic mark for the Baoba Fund for Racial Equity. In the year it completed 10 years of activities, Baoba Fund, the only fund dedicated exclusively to the promotion of racial equity for the black population in Brazil, launched its Giving Circle. And why is the brand historic? The Baoba Fund is an organization commanded by black people and engaged in issues related to the Brazilian black people. The Giving Circle created by Baoba is the first in the country and the only one that has blacks in the lead. Baoba Fund is planting a seed so that black philanthropy can be up and strong in Brazil. The mission of the Baoba Fund is to provide financial resources, which provide support so that programs, projects, initiatives of organizations, groups and collectives black or by Baoba itself are implemented. From 2014 to 2021, Baoba invested approximately R$ 15 million in 833 black initiatives, including emergency support in the context of the COVID-19 pandemic. Indirectly, it has impacted more than half a million lives nationwide.

Black Women’s Leadership Development Acceleration Program: Marielle Franco – aims to make collectives and groups of black women strengthened in all their capacities, in addition to developing the potential to strengthen the leadership of black women. The supporting partners are Ford Foundation, Ibirapitanga Institute, Kellogg Foundation and Open Society Foundation.

➜ Program JA É: Education and Racial Equity – aims to provide scholarships in preparatory courses for the entrance exam. The program also offers vocational guidance and psychosocial support, transportation voucher, meal and internet, for black youth, aged between 17 and 25 years, living in the city of São Paulo or Greater São Paulo. The school trajectory of these students has to have been done in a public school. In the first year of support, the partners were Citi Foundation, Demarest Lawyers and Amadi Technology.

➜ Black Lives, Dignity and Justice – is intended to support initiatives of organizations, social movements, black collectives that seek to develop practical actions to combat racism, systemic violence and criminal injustices in Brazil. The three examples of edicts, launched between 2019 and 2021, give an idea of the importance of carrying out the act of donation so that an incalculable number of people can benefit from responsible social actions.

 

Giving Circle

The Philanthropy for Racial Equity Program is an initiative that aims to promote the values of philanthropy for racial equity and will be based on the following criteria: Consistency, Sustainability, Coherence and Trust. They will be invited to be part of national and international black leaders, influential in their areas of activity. They will be responsible for leading the first Giving Circle for Racial Equity in Brazil. In addition, they will play a fundamental role in raising the prominence of black people in Brazilian philanthropy. It will also be up to these leaders to support the Baoba Fund in expanding the relationship and engagement of individual donors in potential donations between R$ 5,000 and R$ 50,000, according to the level of engagement.  The goal will be to increase the transformative impact of investment in black organizations that work throughout Brazil and that contribute to the fight against racism. Periodic meetings will be held with donors to:– strengthen the culture of donation in favor of combating racism,– promoting black leaders,– inspiring new donors,– sharing stories and celebrating the results achieved from donations. The Philanthropy for Racial Equity Seal will be made available to all black leaders who are part of the Giving Circle.

 

Synonymous with engagement and big donor

For most people, formula one world champion Lewis Hamilton is a driver who has already put his name into history. At the end of 2021, he received the title of Sir from the Government of England, and was officially recognised as a Knight of the Order of the British Empire, which confers on him a status of nobility. Hamilton was the eighth highest-paid sportsman in the world in 2021, according to a survey by Forbes magazine, having reached $82 million in revenues (nearly $425 million).  Hamilton’s political activism and status as a millionaire sportsman come together in the sense of social co-responsibility. The sports star invests part of what he earns in Education. Lewis Hamilton’s goal is to contribute to structural issues that prevent equal access to educational means, especially with regard to black students. “Any young person on the planet deserves the same right to receive a great education. Families should not consider careers for their children thinking: Well, this career does not serve, because there is no way to mu son enter this area. There’s no one who looks like us in this area. So, the representation is an important achievement”, said the heptacampeão in an interview in November, when he competed and won in São Paulo the Brazilian GP.

 

An idea that makes greater sense if you’re part of the link

The theme remains philanthropy. First, however, let us resort to etymology: a study that defines the origin and evolution of words. So the origin of philanthropy lies in the junction of two Greek words. Phylums, which means friendship, love, and anthropo, humanity. Love for humanity can be exercised in many ways. The gathering of people aiming for the well-being of others is one of them. And the privilege of this meeting does not involve only people with better purchasing power. Those who cannot contribute financially can do so in other ways. That’s what the donation is called. The donation can be defined as one of the collaboration tools that takes advantage of small, medium and large amounts offered and are directed to social actions. But it’s not just money that makes a donation. It can also occur with hours of volunteer work in the most different ways.

 

Philanthropy for Social Justice and Racial Equity

The model of economic development that has become entrenched in the world throughout history has weakened people individually. Aspects such as justice, dignity and equality were forgotten so that others, of infinitely lesser value, would take their places. Inequality in various sectors is causing people to reunite seeking a common strengthening. They are even trying to escape official assistance, which directs and directs a help, but does not take people out of the mass grave. That’s changing. Communities are taking science of their power of movement and articulation. They no longer want to receive funds that are used to maintain the status of those who already hold power and see the vulnerable as eternally bordering on exclusion. The masses want power too. What philanthropy for social justice and racial equity aims at is to get power back to these masses and reach the black masses. Through donations, a whole contingent of excluded people will be valued and will achieve well-being in education, well-being at work, well-being in health, well-being in housing. Above all, you will achieve respect and will be respected.

 

Giving Circles History

One of the ways philanthropists have designed to gather sums that could sponsor the common good are the Giving Circles. From the beginning of the 19th century (1800 to 1899), American society began to move around the formation of associations that aimed at the social good. The father of this is the French thinker and politician Alexis Tocqueville (1805-1859). For him, equality between people was the main feature of democracy and the egalitarian development of society would be a process that could not be stopped. American entrepreneur and author Kevin Eikenberry defined The Giving circles: “Giving circles are voluntary groups that allow individuals to raise their money (and sometimes their time as volunteers) to support organizations of mutual interest. They also offer opportunities for education and engagement among participants about philanthropy and social change, connecting them to charities, their communities, and each other.” When Eikenberry talks about education opportunities, this refers directly to the formation of Historically Black Colleges and Universities (HBCU), which began to be formed in the second half of the 1800s in the United States. They were instituted to lead the African-American population to higher education. Today, there are more than 100, most of them originating from Giving circles.  A fact that illustrates well the action of Giving circles and philanthropists linked to them occurred at Morehouse College (an HBCU) in Atlanta (Georgia) in 2020. Black American billionaire Robert F. Smith, owner of Vista Equit Partnes, who is a technology activist who campaigns for the anti-racist cause and whose personal assets exceed $7 billion, attended morehouse students’ graduation. There, he announced a $40 million donation to pay off the student debts of all graduates.  

 

Brazilian painting

Although the world has been suffering from the Covid-19 pandemic for two years, some positive aspects should be highlighted. The culture of donation in Brazil has grown in the last five years, according to research published by the Institute of Social Development (IDIS).” The impact of the pandemic, which forced some people to retire in their homes ended up harming mainly those who choose to donate work and not finances. In any case, Brazilian society is more aware of the work of institutions that seek philanthropy to obtain resources and be able to activate their projects.    The Baoba Fund for Racial Equity, working for 10 years seeking to expand the opportunities for individual and collective development for the black Brazilian population in the areas of Education, Labor, Employment and Income, Health, Access to Justice, believes that its contribution is fundamental so that we can transform mentalities and generate fair opportunities. The investments made through programs and projects by the Baobá Fund, its results and the way to donate for this social transformation to continue being carried out are on the baoba.org.br

Experience of three organizations selected in the notice, launched in 2019, shows the efficiency of the Program and its influence in its territories of operation

For the market, the effectiveness of a project can be scaled in several ways: grandeur, profitability, reach, number of involved (direct and indirect beneficiaries). In the projects and programs created by the Baobab Fund for Racial Equity, the analysis is based on factors that are far beyond the coldness of spreadsheets, huge numbers, sometimes lifeless and without history. The fact that Baobab’s projects and programs are focused on development and social justice makes the eye on the eye, the personal relationship, the small and the great individual changes, and so many other aspects, into something much more than relevant.

The Black Women’s Leadership Acceleration Program: Marielle Franco, launched in September 2019, in its first edition, had two edicts. The first, aimed at the support of groups, collectives and organizations of black women. The second, individual support for black leaders. Here, we will focus on the 14 organizations chosen from the 15 that were selected. Here we will focus on 3 of the 14 organizations that followed until the end of the Program (originally 15 organizations, groups and collectives selected).

The objective of the edict is to make the collectives, organizations and groups of black women strengthened in all their capacities, know and further develop their potential, increasing the leadership of black women. From this, mobilize and engage other people and institutions in the search for justice, racial and social equity. The Program is a partnership of the Baobab Fund with the Kellogg Foundation, Ibirapitanga Institute, Ford Foundation and Open Society Foundations.

To exemplify the transformations that occurred with the organizations that participated in the Program, we invited three of them to dialogue: Abayomi – Collective of Black Women in Paraíba; Ginga Suburb Women’s Movement (Salvador, Bahia) and the Black Women’s Network of Pernambuco. 

Abayomi/PB acts in the protection and promotion of women’s rights. including confronting violence. Ginga/BA and the Black Women’s Network of Pernambuco are aligned with the same thematic area. The variation is in the design that each presented.

The Paraiba press conference Abayomi signed up with the Project Obirim Dudu: Moving Structures Against Racism.  It consists in the production and dissemination of information on the conditions of black women in Paraíba, with the objective of contributing to the fight against racial issues, ensuring intellectual support and, consequently, material, and strengthening the institutional of organizations. Ginga brought the Project Black Women, Elaborating Strategies, Strengthening Knowledge, which sought to instrumentalize entities to compete, more equitably, to raise funds through edicts. The general objective was to train women working in social movements and leaders of entities in favor of other women, especially black women, in fundraising, through training in the elaboration of social intervention projects in Salvador and the metropolitan region. The Black Women’s Network of Pernambuco implemented Olori: Black and Peripheral Women Producing Leadership, whose focus was to promote a process of political formation for several women aiming at the construction of a collective project in the future. The first step was the institutional strengthening of three organizations that already operated in partnership so that they could be able to offer these courses of political training and technical training to the militants, who will be future leaders. 

 

Transformation

Applying in an edict from the Baobab Fund is not simply getting the rating and receiving the financial allocation. The organization knows from the first moment that it will undergo an intense process of transformation.  In the case of the Black Female Leadership Acceleration Program: Marielle Franco, the goal at the end of five years, the expected time for the duration of the Program, is to have a range of organizations, collectives and groups of black women strengthened in its most diverse functionalities, which will enhance and generate greater prominence of entities commanded by black women.

In order to enhance the action of these organizations and promote networkaction, formative activities were implemented. The Ngo Criola and the Amma Psique and Negritude Institute were facilitators of this implementation.  With Criola there were 14 meetings, lasting 3 hours each, from April to November 2020, which were about racism, sexism, lesbo and transphobia, public policies and social control, black female leadership, activist security. Each of these meetings had an average audience of 90 people. Amma, on the other hand, worked on the issue of confronting racism and its psychosocial effects. There were 5 meetings, also lasting 3 hours each, with an average audience of 20 people per class in each of them. Three classes were made available.

For the leaders of the individual support notice, coach sessions were offered to support and ensure the implementation of their individual development projects, in addition to the training activities mentioned above.

The Baoba Fund also scheduled and held virtual meetings (individual and group) to meet to awaken and strengthen potentials. From March to December 2021, there were 190 individualized visits and another 700, by message and telephone, denigring doubts, overturning insecurity and clarifying uncertainties arising mainly in the context of the pandemic. The meetings and attendances contributed so that they could create favorable conditions to achieve their individual and collective goals.

 

Partnerships

Achieving excellence requires effort, focus, resilience and unity.  For barriers that arise in journeys of transformation to be overcome, acting in isolation is not the best way. Establishing partnerships is extremely important. The leaders supported individually or collectively by the Black Female Leadership Acceleration Program: Marielle Franco reiterated that the search for partners (or the strengthening of established partnerships) is something that can enable the achievement of results, given the experiences that can be shared, responsibilities that can be shared, skills that can be complemented, external connections that can be achieved,  financial contribution that can be generated, in addition to many other variables. Among the 14 organizations chosen, 43% acknowledged having expanded their capacity to mobilize new partners; 36% said this capacity was under full construction and 7% were unanimous in the diagnosis that the ability to mobilize new partners was full.

Among the individually supported black female leaders, the establishment of partnerships aimed at achieving the intended objectives was total.  365 supported firmed partnerships with institutions; 187, with individuals and 85% reported having joined others also supported.

 

Looking to the future

After the journey of learning and transformation and aware of its new potentialities, making future projections of growth and achievements became the goal of these organizations.

 

Abayomi:

“The support of the Baobab Fund designed us as an organization capable of executing projects and showed us to other supporters. Therefore, we intend to follow this path of claiming other financing to sustain our political action. Our plans for the next 12 months are, from the project (approved) of the FBDH (Brazil Human Rights Fund), the continuity of actions in the territories, institutional strengthening and the maintenance of political articulations and mobilizations together with local, regional and national organizations and movements. In our planning is the sending of project proposals for the production of content and information and conducting courses and training. We also intend to incorporate the issue of violence against black women and black health as priorities for the next two years,” said Durvalina Rodrigues Lima, the organization’s representative.

 

Ginga Suburb Women’s Movement: 

“Based on the learning acquired with the execution of this project, we will launch ourselves in more complex edicts, with greater security about management. This experience also provided us with new articulations and networkactions, which we intend to continue, such as the realization of monthly lives with representatives of the entities that make up this new established network, for dialogue on themes aligned with the objectives of our collective. We are starting the community garden project, with the support of Terra Vida Soluções Ecológicas, from the urban composting system, which can contribute so that our group can become a reference point in the territory, as a multiplier of sustainable practices”, says Carine Lustosa, member of Ginga.

 

Network of Black Women of Pernambuco:

“Female Citizenship – maintain dialogue with the women who participated in the formations, to contribute to the strengthening of these leaders in their territories. Exercise the learning about organizational planning in the activities and actions of the institution. Seek and compete for notices for presentation of projects. Women’s Space – seek partnerships. With the possibility of the CNPJ we will seek edicts for our financial sustainability. And we will continue what we already do: caring, welcoming, supporting and strengthening women not only in the group, but also in the community of Passarinho,” says Rosita Maria Marques, of the Network’s management.

 

Impacts

The actions promoted by the organizations Abayomi – Collective of Black Women in Paraíba;  The Ginga (Salvador) Women’s Movement and the Black Women’s Network of Pernambuco give the idea of the impact that they and the other 11 organizations have had on the communities of the territories in which they operate.  The work carried out by them reached 20,066 people, 17,056 women (85%) and 3,010 men (15%). Knowledge sharing and learning actions reached 9,741 black people (women and men – 74%) and 3,370 non-black (26%).

 

Indirect Beneficiaries – collective support notice

Among other achievements, Abayomi has achieved: a) greater circulation of information about the black population to subsidize the fight against racism; b) strengthened communities and the broadening of the debate on the conditions of black women in the context of the pandemic; c) maintained the articulation with different activists and organizations, including the Aya Minicourse.

Ginga promoted: a) training of women working in social movements and leaders of entities for women, especially black women; b) training in the preparation of social intervention projects in Salvador and metropolitan region; c) the course promoted by Ginga was adapted to the remote format, due to the pandemic of Covid-19, making it possible to reach entities from the interior of the state.

The Black Women’s Network of Pernambuco organized: a) political training processes to increasingly qualify their own activities and support the emergence of other leaders and references; b) political training process with women of the entities Espaço Mulher e Cidadania Feminina and executed a project collectively for the first time; c) the awakening of leadership in their leaders, who overcame the fear of working virtually, handling digital platforms.

The projects conceived by the organizations, groups and collectives of black women supported by the Black Women’s Leadership Acceleration Program: Marielle Franco indirectly benefited 20,505 people, at different stages of the life cycle, inside and outside the country, living in urban and rural areas, with or without access to formal education. These, of course, will have the power to influence many others, from the relationships that have been established and from the knowledge they have managed to achieve.

 

Gratitude

Sulamita Rosa da Silva, graduated in Pedagogy and Master’s degree in Education from the Federal University of Acre (Ufac) and phD student in Education from the University of São Paulo, was awarded the individual support notice of the Black Women’s Leadership Acceleration Program: Marielle Franco. Leader of the Women’s Network – Network of Formations for Black, Afro Indigenous and Indigenous people of Acre, demonstrates his gratitude for the support received: “I shared learning and knowledge in the form of courses, events, podcasts, publications among others, contributing to the communication and memory of black intellectuals, who contributed so much to the understanding of Brazilian culture in a decolonial way. I also developed podcasts as a way of popularizing scientific knowledge, in addition to beginning to articulate academic writing with black feminist thinking, aiming at an emancipatory and self-defined education. I had a short narrative published in the book – Carolinas: the new generation of Brazilian black writers, the result of the formative process of the Literary Festival of the Periphery (Flup), with 180 black authors from all over Brazil”, he said.

In the notice that selected 63 women and, in the end, had 59 supported, the states of the Northeast (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraiba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte and Sergipe) concentrated the largest number of supported: 26. Supported black female leaders shared learning sprees with more than 500,000 people in their professional, study and militancy networks. Among the people reached are non-binary, transgenic and transvestite people, maroons, migrants, refugees, adults, adolescents, young and old.

Baobab Fund for Racial Equity did a work of analysis and tabulation of data of the Program of Acceleration of Female Leaders: Marielle Franco. For more details, please visit this link.