Memória e cultura negra nos desfiles das escolas de samba

Escolas de samba e seus grandes espetáculos reforçam a sabedoria e resistência de grandes nomes da história do povo preto brasileiro

Por Gabi Coelho

O Carnaval brasileiro, além de ser considerado um dos maiores eventos do mundo, também contribui para a movimentação da economia a partir do turismo e do comércio, visto que a última estimativa feita pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro aponta que, somente em relação à cidade, o carnaval movimentou aproximadamente R$ 4 bilhões no ano de 2020

O Carnaval, como uma das manifestações populares ligadas à cultura negra, está inserido em um dos eixos trabalhados pelo Fundo Baobá para Equidade Racial, que é o da Comunicação e Memória. Nele, o Baobá incentiva a valorização e a difusão de bens culturais materiais e simbólicos, com música, dança, teatro,  literatura, canto, vertentes presentes no Carnaval. 

Para a História, a memória atua como um importante mecanismo de compreensão não só dos acontecimentos, mas também do cotidiano, dos hábitos e das culturas dos mais diversos povos. Dessa forma, podemos entender que as escolas de samba, enquanto manifestações culturais extremamente ricas, também possuem seu lugar na memória nacional.  Historiadores que voltam suas pesquisas para o carnaval tomaram como “marco inicial” das escolas de samba a fundação do que inicialmente seria um bloco carnavalesco, a “Deixa Falar”, no ano de 1928 no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro, ainda que existam agremiações fundadas anteriormente.

Mas e a grande questão: onde a memória e cultura negra se encaixam nesse cenário? Em uma entrevista, o escritor e sambista Haroldo Costa afirmou para o jornal O Globo  que na época do Entrudo (um tipo de festa popular que antecedeu o carnaval moderno,   onde pessoas lançavam farinha, água, areia etc umas nas outras e entrou em declínio no ano de 1854 por repressão policial),  os ex-escravizados não possuíam participação nas brincadeiras carnavalescas. Isso só foi acontecer no momento em que senhoras negras vestiram-se de branco e entoaram canções em procissões religiosas, o que teria dado origem às alas de baianas do atual carnaval. Apesar disso, diz Haroldo, somente após a virada do século XIX para o século XX, os negros passaram de fato a  ter destaque na festa, uma vez que os blocos de subúrbio surgiram e deram origem a escolas como a Estação Primeira de Mangueira (década de 1920). 

A temática da negritude apareceu de fato em 1950 até que, em 1960, a Acadêmicos do Salgueiro homenageou o primeiro negro na história do carnaval, Zumbi dos Palmares, com o samba enredo “Quilombo dos Palmares. De lá para cá, diversas outras escolas de samba compreenderam a importância e necessidade de falar sobre a vida, história e cultura do povo preto, o que mais colaborou para o enriquecimento do carnaval. E é justamente por tamanha contribuição que o carnaval, lá no início, foi ganhando a fama de uma festa popular, uma festa que podia ser frequentada por todas as classes, mas que era majoritariamente preta em sua frequência e elaboração. 

Rafael Rezende, estudante de mestrado e integrante do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF),  ao falar sobre sua pesquisa em relação ao carnaval afirmou: “A maior contribuição do negro nesse processo creio ter sido na elaboração de gêneros musicais apropriados para a folia, como o samba, o samba-enredo, o maracatu, o afoxé e o axé”, afirmou. Ademais, “os negros ainda participaram ativamente das várias modalidades da festa, criando os cordões, as escolas de samba e muitos blocos famosos, além da temática negra ser comumente explorada nos enredos das escolas de samba”. 

A efeito de exemplificação da representação dessa cultura negra escolas de samba de São Paulo, como Colorado do Brás, Vai-Vai, Mocidade Alegre e Unidos de Vila Maria voltam a  mostrar na avenida enredos que preservam a cultura e a memória da história negra. A Colorado vai mostrar Carolina, a Cinderela Negra do Canindé, sobre a escritora, cantora e atriz Carolina Maria de Jesus.  O Vai-Vai leva para a avenida o conceito africano  da Sankofa, que é a busca do passado para trabalhar melhor o futuro. A Mocidade Alegre mostrará a obra e a vida de Clementina de Jesus (Quelémentina, cadê você?), uma das grandes damas do samba,  e a Unidos de Vila Maria enaltece a igualdade entre as raças (O Mundo precisa de cada um de nós). 

Ainda em São Paulo, mais especificamente na Praça da Liberdade, a fundadora da Sociedade Recreativa Beneficente Esportiva da Escola de Samba Lavapés Pirata Negro, Deolinda Madre, mais conhecida como Madrinha Eunice ou tia Eunice, recebeu uma linda homenagem no dia 2 de abril de 2022: uma estátua de bronze de aproximadamente 1,70m de altura. Fundada na fronteira entre o bairro da Liberdade e Cambuci, a Lavapés que conta com a atuação do ator, sambista  e grande defensor da cultura sambística, Ailton Graça na presidência desde o ano de 2019. A informação que circula entre a população paulistana em relação ao nome escolhido por Madrinha Eunice seria de que as pessoas negras descalças vinham de diferentes lugares da cidade e utilizavam o chafariz daquele local para lavar seus pés e assim dar continuidade à sua rotina que poderia incluir ir à igreja, ao samba ou ao trabalho.

 No caso do Rio de Janeiro, a escola de samba Beija-Flor de Nilópolis trará para a Sapucaí neste carnaval o samba enredo “Empretecer o Pensamento é Ouvir a Voz da Beija-Flor” cujo tema central é a contribuição intelectual negra como ferramenta para contribuir para um Brasil mais africano. Outra novidade deste ano é a presença de Helena Theodoro, intelectual negra, que está à frente do enredo da Escola de Samba Salgueiro, mostrando a resistência e sabedoria da mulher preta. 

Já no grandioso carnaval de Salvador, três blocos afro se destacam: Bankoma, Cortejo Afro e Ilê Aiyê. O último, por exemplo, traz forte inspiração do movimento negro norte-americano. Todos esses blocos são retratados no documentário “Samba de Santo – resistência afro-baiana”, que foi dirigido pelo músico e produtor Betão Aguiar e sua estreia aconteceu na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo entre os dias 22 de outubro e 4 de novembro de 2020.

Diretor Executivo do Fundo Baobá Participa da Série Grantmaking do Podcast GIFE

Giovanni Harvey conta como funciona os grantmakers e grantees na estrutura do Fundo Baobá

Por Ingrid Ferreira

O Diretor Executivo do Fundo Baobá para Equidade Racial, Giovanni Harvey, participou da Série Grantmaking, do Podcast GIFE, um podcast destinado a discutir temáticas de investimento social privado, falando sobre dinâmicas de poder entre grantmakers e grantees – doadores e apoiados, buscando discutir a temática da prática de doação para o fortalecimento da sociedade civil.

A apresentadora Danielle Prospero convida Giovanni a refletir sobre os desafios diários no relacionamento de grantmakers e grantees, e as oportunidades para o fortalecimento das organizações financiadas e o impacto socioambiental positivo a partir da prática de grantmaker.

Danielle ainda explica que: “Grantmaker participativo é a prática que consiste em compartilhar ou transferir o poder de decisão sobre a gestão dos grants, ou seja, dos recursos doados pelos filantropos e investidores sociais às iniciativas e organizações beneficiárias, os grantees”.

A apresentadora ressalta também que a perspectiva é de reconhecer que as pessoas afetadas pelos problemas de determinadas comunidades, possuem legitimidade para falar de suas vivências e assim determinar quais são as prioridades para o uso dos recursos financeiros que lhe são acessados. O que contempla o modelo de trabalho do Fundo Baobá através de seus editais.

Giovanni explica como essas diretrizes são aplicadas no Fundo Baobá: “Essa experiência no Baobá, está conectada com o próprio processo de criação do Fundo, que foi construído a partir de uma mobilização, estimulada pela Fundação Kellogg no processo de retorno dos investimentos da Kellogg no Estados Unidos há cerca de 15 anos, e a Fundação mobilizou instituições e pessoas do movimento negro, principalmente concentradas na região Nordeste a constituir mecanismo impulsor, que pudesse desenvolver o papel de financiar as iniciativas de base do movimento negro no Brasil”.

O Diretor Executivo também ressalta que o Fundo Baobá tem investido em uma ferramenta de contato com as comunidades beneficiadas através dos projetos, para construir um modelo de feedback e assim tornar possível a visão dos resultados dos trabalhos propostos, aperfeiçoando a capacidade do Baobá na hora de gerir seus recursos, para impactar no ecossistema e relações sociais no Brasil.

Danielle pergunta a respeito dos desafios enfrentados na prática e o que ainda precisa ser mudado nesse cenário, e Giovanni responde: “Nós temos uma grande preocupação, que é de criar indicadores de impacto real do que o Baobá está fazendo, precisamos mostrar pra sociedade onde esse recurso vem sendo aplicado, onde e como o recurso está chegando, quais os resultados que estão sendo alcançados; o diálogo da participação é o que permite à sociedade cobrar do Baobá, o que permite o Fundo destinar uma melhor aplicação desses recursos”.

Giovanni explica que o Baobá procura ser um Fundo com uma atuação especializada em um determinado tema, sendo ele um tema em transformação, que muito tem sido tratado em sociedade, pautando que as pessoas tem tomado para si e falado da questão racial em todos os meios, coisa que antes ocorria dentro dos grupos engajados na militância racial; cita também como exemplo, o caso do assassinato de Moïse e o fato de sua família fazer essa ligação do que aconteceu com a discriminação racial, pautando que há cerca de 30 anos atrás, as famílias muitas vezes não conseguiam construir essa ligação, ficando a encargo do movimento negro, que era rechaçado socialmente por levantar essas pautas.

Harvey levanta a questão acima para falar que, em sua percepção, o caso de Moïse, entre tantos outros que ocorrem diariamente, prova que a ação das famílias das vítimas tem assumido o protagonismo liderando os movimentos sociais, pois são essas famílias que têm tomado a iniciativa para as movimentações sociais; além de que em alguns outros casos, as próprias vítimas tem assumido esse papel, ao realizar denúncias de violências as quais foram expostas.

Ligando diretamente ao assunto de oportunidades, caminhos e tendências na direção do grantmaker participativo, Giovanni coloca que o Baobá como instituição tem o dever de se preparar, para que em situações como essa, saiba atuar dando a visibilidade para que essas pessoas possam ter protagonismo do seu lugar de legitimidade.

Para acessar o episódio do podcast que contou com a participação do Diretor Executivo, Giovanni Harvey, clique aqui.

Tour por São Paulo conecta estudantes do Programa Já É à história negra da cidade

Alunes do Já É participaram de ação que conta a história e contribuição negra na cidade de São Paulo

Por Ingrid Ferreira

O Programa Já É, uma iniciativa do Fundo Baobá para Equidade Racial, está em seu segundo ano de execução e,  no dia 19 de março, um grupo de estudantes participou de uma ação de reconhecimento da história e presença negra em pontos da cidade de São Paulo, aos quais visitou.

A atividade fez parte do encerramento do ano um do Programa. Em sua primeira edição o Já É, contou com o apoio da Citi Foundation,  Demarest Advogados e Amadi Technology; em que o programa foi dirigido a jovens de 17 a 25 anos que já tivessem concluído ou estivessem cursando o 3º ano do ensino médio em escolas públicas e que residissem no município de São Paulo e região metropolitana.

O responsável por guiar o grupo nesse percurso foi Allan da Rosa, que é escritor, poeta, dramaturgo, historiador e angoleiro (capoeirista). Allan também é mestre e doutor em Educação pela USP. 

Autor de Pedagoginga, Autonomia e Mocambagem, sobre culturas negras e educação popular, Allan também coordenou seminários e publicações referentes às obras e trajetórias de Jorge Ben, Muniz Sodré, Itamar Assumpção, entre outros. Ainda, como editor, criou o clássico selo Edições Toró no princípio do Movimento de Literatura Periférica de SP.

Allan da Rosa também apresentou oficinas, conferências, recitais e cenas em todas as regiões do Brasil, universidades, bibliotecas e centros comunitários de Moçambique, Cuba, México, Estados Unidos, Colômbia, Argentina e Bolívia. Recentemente publicou a obra  Águas de Homens Pretos (2021), que é o resultado de sua tese de doutorado.

Allan da Rosa – Responsável pelo tour do Programa Já É

O encontro de todes ocorreu no escritório do Fundo Baobá, localizado no centro histórico de São Paulo,  e de lá deu-se início às descobertas pela cidade. Pontos pelos quais as pessoas  sempre andaram, mas não conheciam a história contida por trás de cada uma das casas de comércio, ruas, monumentos, praças e prédios antigos com que se deparavam.

Durante todo o trajeto, iniciado na Praça da República, as associações entre os locais e seus elementos históricos   foram feitas, enquanto o percurso se desenhava até o Largo do Arouche, onde se  encontra a estátua de Luiz Gama; passando pela Igreja da Irmandade da Nossa Senhora dos Homens Pretos, no Largo do Paissandu e terminando no bairro da Liberdade, onde estão a Igreja Santa Cruz das Almas dos Enforcados e a Capela Nossa Senhora das Almas dos Aflitos.

Luiz Gama foi advogado, escritor e jornalista, ele nasceu em Salvador no dia 21 de junho de 1830, de uma mãe negra liberta e um pai fidalgo português, por quem foi vendido como escravo e levado para São Paulo; Gama, entre outros títulos, detém o de patrono da abolição da escravidão no Brasil.

A Igreja da Irmandade da Nossa Senhora dos Homens Pretos representa um ponto de encontro de resistência, pois as irmandades de homens pretos surgiram no período colonial escravocrata e era uma forma de socialização, resistência e cooperação entre escravizados, libertos e aliados, bem como de mobilização de recursos para compra de cartas de alforria, para realização de funerais dignos, casamentos, ou mesmo batizados.

Já o bairro da Liberdade, apesar de ser conhecido por ser um bairro japonês, carrega muito viva a presença negra em seu território, tanto que Allan explica que o local onde hoje ocorre a feirinha, era chamado de quadrilátero do terror no século XIX, pois a composição do cenário consistia na delegacia, local onde acontecia os espancamentos, a forca e o cemitério; não por acaso a Igreja Santa Cruz das Almas dos Enforcados encontra-se ali presente.

E a  Capela Nossa Senhora das Almas dos Aflitos, era uma capela cemitério destinada às pessoas excluídas da sociedade, tudo que está construído em seu entorno, recobre corpos que ali foram enterrados.  O cemitério é de 1774 e a capela de 1779.

A emoção foi tamanha que o aluno Victor dos Passos Moreira disse em seu relato: “Eu tinha conhecimento sobre a história da Liberdade, mas sobre Luiz Gama me chocou bastante, ao saber que ele foi um dos advogados mais importantes do país e ainda é. Eu não tinha ouvido falar de Luiz Gama no ensino fundamental, no ensino médio e tampouco no cursinho pré vestibular”.

Victor dos Passos Moreira – Aluno do Programa Já É

A fala de Victor evidencia como o apagamento histórico acontece, apesar de as pessoas caminharem sempre pelos mesmos lugares, muitas vezes elas não sabem o que realmente se passou ali.

A  aluna Caroline Cristina Santos ressaltou a importância da atividade para o processo de pertencimento: “Acho que ter esse tipo de informação interfere no ponto de vista que temos da cidade. Por exemplo, eu tinha vontade de ir conhecer a feirinha da Liberdade, um dos pontos mais visitados de São Paulo e eu nunca iria imaginar o que aconteceu lá. Isso me faz ter mais curiosidade e vontade de pesquisar e buscar cada vez mais informações”.

Caroline Cristina Santos – Aluna do Programa Já É

A aluna Karine Lopes dos Santos disse: “O encontro foi muito bom, eu já havia feito um parecido em 2018, mas o Allan citou coisas que passavam despercebidas por mim antes. Agora,  tenho um novo olhar ao sair de casa. Além disso, eu gostaria de ouvir também sobre os bairros mais extremos e periféricos”.

Karine Lopes dos Santos – Aluna do Programa Já É

Além de ser um momento muito especial de reconhecimento da cidade para as e os estudantes, foi a chance de se conhecerem pessoalmente, já que muites só haviam tido contato virtual, por estudarem em horários e unidades diferentes do cursinho pré-vestibular.

Allan da Rosa contou: “Realizo esse trabalho há vários anos, com turmas de contextos e proveniências diferentes. Atuamos pedagogicamente nas ruas, tanto as do Centro quanto das periferias. Trabalho com várias organizações e movimentos sociais profissionalmente, mas também faço “por conta”, ou seja, como militância e prática pedagógica, que ocorre sem recebimento financeiro”. 

Trabalhos como o de Allan são fundamentais para que as pessoas possam construir um olhar crítico sobre suas realidades, conhecendo a história que as cerca a todo  momento.

Vidas Negras, Dignidade e Justiça: as organizações e seus trabalhos de campo

O edital destinou apoio financeiro de R$ 100 mil a 12 organizações. O Instituto Negra do Ceará e a Elas Existem, por exemplo, têm implantado fortes ações junto a seus públicos 

                                              Por Wagner Prado

Em maio de 2021, o Fundo Baobá para Equidade Racial fez o lançamento do edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça, em parceria com a Google.org. O edital é parte do programa Equidade Racial e Justiça. O Vidas Negras: Dignidade e Justiça constitui-se em uma oportunidade para que organizações negras fortaleçam estratégias de ativismo, resistência e resiliência diante das injustiças raciais recorrentes. Ele é  destinado ao apoio a organizações  que desenvolvem  ações práticas de enfrentamento ao racismo, à violência e às injustiças criminais de perfil racial. 

Com o apoio da Google.org o Fundo Baobá pode financiar projetos de 12 (doze) organizações, cada uma recebendo R$ 100 mil.  Os projetos dialogam com três grandes temas: a) Enfrentamento à violência racial sistêmica; b) Proteção comunitária e promoção da equidade racial; c) Enfrentamento ao encarceramento em massa entre adultos e jovens negros e redução da idade penal para adolescentes; d) Reparação para vítimas e sobreviventes de injustiças criminais com viés racial. 

O investimento programático do Fundo Baobá, ou seja, a destinação de suas doações está voltada para quatro eixos de atuação: 1) Viver com Dignidade; 2) Educação; 3) Desenvolvimento Econômico e 4) Comunicação e Memória. O edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça está sob o eixo Viver com Dignidade, que incentiva ações de promoção da saúde e qualidade de vida; prevenção de doenças e seus agravos; prevenção e atenção às vítimas e pessoas afetadas pela violência racial; enfrentamento ao racismo religioso e proteção de suas vítimas; acesso à terra; acesso à infraestrutura; proteção e defesa dos direitos das comunidades quilombolas em geral.

Aqui, vamos colocar foco em duas organizações que apresentaram projetos dentro do eixo temático c) Enfrentamento ao encarceramento em massa entre adultos e jovens negros e redução da idade penal para adolescentes. As organizações são o INEGRA-CEe a Elas Existem – Mulheres Encarceradas, do Rio de Janeiro, mas que desenvolve seu projeto no estado do Acre.  O INEGRA-CE apresentou o projeto Levante Pretas: Resistências Coletivas. Seu objetivo é promover o desinternamento e o desencarceramento, além de estimular propostas de enfrentamento às violências e violações sofridas por pessoas em situação de encarceramento. O projeto tem foco também nos familiares dessas pessoas. Já o Elas Existem – Mulheres Encarceradas trouxe o projeto O Acre Existe: Mulheres Negras Resistem e Se Fortalecem – Pelo Desencarceramento Feminino, que vai atuar na diminuição das desigualdades de raça e gênero dentro do sistema de Justiça Criminal do estado do Acre. 

A atuação do INEGRA-CE e da Elas Existem leva a uma reflexão sobre a questão da Necropolítica no Brasil. A Necropolítica, conceito definido  pelo filósofo africano nascido em Camarões, Achille Mbembe, no início deste século, evidencia a forma como diferentes governos administram a morte. O conceito é simples e terrível: consiste na promoção de políticas restritivas a determinadas populações no acesso a condições mínimas de sobrevivência; também consiste na criação de áreas, territórios em que a morte é algo autorizado. Isso é como marcar com um símbolo na testa aqueles que devem morrer, quando devem morrer e como devem morrer. A descrição tem alguma similaridade com o que ocorre com as populações em estado de abandono no Brasil? Analise! 

Entrevistamos Cícera Maria da Silva, líder do INEGRA-CE, e Caroline Mendes Bispo, da Elas Existem – Mulheres Encarceradas. 

Cícera Silva – INEGRA-CE

 

Caroline Bispo – Elas Existem – Mulheres Encarceradas

Fundo Baobá – O INEGRA-CE trabalha na busca pela igualdade de gênero e etnicorracial. O que vocês têm desenvolvido para chegar a isso?

Cícera Maria da Silva (INEGRA-CE)Todas as nossas ações, desde nossa fundação, têm como objetivo a construção da igualdade e da equidade de gênero e raça como horizonte. Nesse sentido, temos desenvolvido ações de formação política em gênero, raça, direitos humanos e justiça, bem como apoio a grupos produtivos de mulheres negras, ações educativas em escolas e apoio a comunidades quilombolas. Também participamos de espaços diversos como apoio ao movimento de mulheres negras, associações de mulheres, e lugares que fomentam a criação e monitoramento das políticas públicas, contribuindo com metodologias, instigando e potencializando os debates que impulsionam essas transformações.

Fundo Baobá – Descreva os locais onde vocês têm atuado? 

Cícera Maria da Silva (INEGRA-CE) –  Atuamos na cidade de Fortaleza, especialmente com as comunidades periféricas, bem como junto a associações de moradores/as, grupos produtivos e comunidades quilombolas de municípios mais próximos. 

Temos inserção no Instituto Penal Feminino Auri Moura Costa, na Central de Alternativas Penais, nas Audiências de Custódia, Seminários Acadêmicos e Populares e, atualmente, dentro dos territórios com adolescentes que cumpriram medidas socioeducativas, sobreviventes do sistema prisional, na Frente Estadual pelo Desencarceramento, etc.

Fundo Baobá – O racismo tem sido agente operante quando se fala na condenação e encarceramento do povo negro (homens adultos, mulheres adultas e jovens). Que realidade vocês têm encontrado nesse sentido no Ceará? 

Cícera Maria da Silva (INEGRA-CE) – No Ceará, temos uma realidade perversa, que tem como alvo de suspeição a população negra, empobrecida e periférica. Com 95% da população carcerária feminina sendo composta por mulheres negras, o Ceará é um estado encarcerador, além do agravante de que a grande maioria das prisões são provisórias. Vale ressaltar ainda o contexto pandêmico que reduziu as visitas no sistema prisional, o que piora muito as condições materiais e a saúde psicológica da população encarcerada. Embora lutemos por isso, não podemos esperar com otimismo por políticas de segurança pública que assegurem e respeitem os direitos humanos quando o biopoder e a necropolítica são os parâmetros do próprio Estado.

Fundo Baobá – Entre tantos objetivos de vocês junto às populações encarceradas, vocês também levam a cultura. De que forma?  

Cícera Maria da Silva (INEGRA-CE) –  A cultura para nós é, para além de festividades, uma forma de resistência. É também um meio para levar alegria, entretenimento e conhecimento para nossas irmãs negras encarceradas. Nossas ações com a população encarcerada incluem a presença do Maracatu, batuque, poesias, livros, músicas, cantigas populares, oficina de tranças e turbantes. Ter encerrado um projeto no presídio feminino Auri Moura Costa com a presença do Maracatu Nação Fortaleza, além de inovador, foi muito potente, marcante e emocionante para nós e, sobretudo, para as mulheres encarceradas.

Fundo Baobá – O trabalho não envolve apenas as mulheres apenadas, envolve o entorno delas também (familiares, amigos…). Esse contato é feito como? Parentes e amigos têm abraçado a causa de vocês?

Cícera Maria da Silva (INEGRA-CE) – Para alcançar os familiares realizamos ações/ conversas com eles em dias de visita no sistema prisional e no socioeducativo. Além disso, estabelecemos parceria com o Coletivo Vozes, de mães e familiares do sistema socioeducativo e prisional, o qual  reúne e desenvolve ações com os familiares. Os familiares e sobretudo as mães são os porta-vozes de seus entes presos/as. Trazem as denúncias de violências e violações contra os mesmos no cárcere. Então, diante disso sentem a necessidade de aderir à causa e à luta, embora essa tarefa organizativa não seja fácil, haja vista as demandas mais urgentes com seus entes aprisionados, tais como assessoria jurídica, manutenção da saúde psicológica e preocupações com a integridade física e com a própria vida.

Fundo Baobá – Além do Ceará, vocês pretendem atuar em outros estados?

Cícera Maria da Silva (INEGRA-CE) – Por enquanto não, diante dos desafios apresentados à nossa atuação coletiva, nos deixando vulneráveis frente ao sistema de justiça que ameaça, persegue e criminaliza as defensoras de direitos humanos.

Contudo, reconhecemos ser importante firmar parcerias com outras organizações e coletivos que trabalham no enfrentamento ao desencarceramento e desinternamento, para pensar em estratégias seguras e eficazes de atuação coletiva. 

Fundo Baobá – Para o Instituto Negra do Ceará,  qual a importância de ter sido selecionado pelo edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça? 

Cícera Maria da Silva (INEGRA-CE) –  Para o Instituto Negra do Ceará, ser selecionado por alguns financiadores, incluindo o Fundo Baobá, além de honroso, soa para nós como reconhecimento de nossa maturidade e competência, o que nos fortalece e nos traz confiança.

O Edital “Vidas Negras: Dignidade e Justiça”, em especial, nos é importante por várias razões, mas sobretudo por proporcionar aos adolescentes/jovens do sistema socioeducativo assistência jurídica e atendimento psicológico, dois campos de grande carência junto a esse público e que lhes traz o sentimento de proteção, segurança e cuidado. Então,  para nós isso traz uma grande dimensão simbólica. 

Outro aspecto muito relevante desse edital é nos permitir a ampliação do debate com familiares e a sociedade civil sobre o desencarceramento e desinternamento, via realização do seminário estadual e outras ações de caráter mais lúdico. Portanto, algumas coisas não conseguimos mensurar ainda, mas temos a certeza de que o edital é de suma importância para o nosso público e para a construção da dignidade, da justiça e do bem viver que almejamos para o nosso povo preto.

Associação Elas Existem 

Fundo Baobá – A Elas Existem já desenvolvia o trabalho no Rio de Janeiro e no Mato Grosso. Efetivamente, os trabalhos no Acre já estão acontecendo? 

Caroline Mendes Bispo (Elas Existem) – Nosso trabalho teve início em outubro de 2021, com a minha vinda para o Acre, onde comecei a fazer um mapeamento não só dos trabalhos que poderiam ser efetuados, mas também da equipe que seria contratada para me ajudar nessa empreitada aqui. A Elas Existem continua as atividades no Rio de Janeiro, de forma online em Cuiabá (MT) e iniciou os trâmites também para iniciar as atividades em Porto Alegre. Desde janeiro, efetivamente, a gente está dentro das unidades prisionais aqui no Acre. Tanto em Cruzeiro do Sul como em Tarauacá e aqui em Rio Branco, 

Fundo Baobá – Que ações vocês têm desenvolvido lá? 

Caroline Mendes Bispo (Elas Existem) – Nós estamos realizando o plantão de orientação,  onde uma advogada, uma assistente social e uma estagiária realizam a escuta ativa de todas as presas da unidade de Cruzeiro do Sul e Tarauacá, a fim de fazer uma análise que vai para além do crime e das condições que elas vivem naquele lugar. Através dessa análise a gente pode perceber se o acesso aos direitos para essas mulheres  está sendo efetivo e de que maneira nós podemos encaminhar para outros órgãos e instituições. A gente está realizando também as oficinas de empoderamento e fortalecimento para que essas mulheres sejam reintegradas à sociedade após o cumprimento de suas penas. Por fim, estamos fortalecendo as redes que trabalham e discutem a situação das mulheres dentro dos espaços de privação de liberdade, tanto com as mulheres cis e trans nas unidades prisionais quanto com as adolescentes nas unidades socioeducativas, de forma online.  

Fundo Baobá – O racismo tem sido agente operante quando se fala na condenação e encarceramento do povo negro (homens e mulheres). Que realidade vocês encontraram no estado do Acre? 

Caroline Mendes Bispo (Elas Existem) – Em 2014 foi feito o primeiro levantamento sobre as  mulheres presas no Brasil como um todo. Em 2016 foi publicado esse primeiro relatório, que demonstrou que no estado do Acre 100% das mulheres encarceradas eram mulheres negras. Em 2017, no segundo estudo, esse número mostrou que 97% das mulheres encarceradas eram pretas ou pardas. Quando cheguei aqui, o número de  mulheres que se autodeclaravam como pardas era extremamente grande. Inclusive mulheres negras/pretas que tinham vergonha de se reconhecerem como negras, tentando colocar o moreninha ou mesmo o parda. Então, se a gente para para tentar entender um pouco a situação racial aqui no estado do Acre, é muito mais o apagamento e a necessidade de discutir sobre isso, bem como trazer de que forma o racismo vem atacando a vida dessas mulheres a ponto de elas não quererem se reconhecer. Esse foi o que nós acabamos encontrando aqui: um apagamento e uma invisibilidade das discussões, onde a maioria das pessoas no estado do Acre são brancas, onde as mulheres negras não se vêm como mulheres negras e as mulheres encarceradas acabem encontrando esse duplo estigma, de serem encarceradas e de serem, majoritariamente, de mulheres negras. Dessa forma, discutir a racialidade aqui nesse lugar tem sido fundamental. 

Fundo Baobá – Entre tantos objetivos de vocês junto às mulheres encarceradas, quero destacar um objetivo cultural, que é o de elaborar e distribuir material educativo a ser entregue no ambiente carcerário. 

Caroline Mendes Bispo (Elas Existem) – Atualmente, uma das questões mais importantes para a Elas Existem é o acesso a direitos e facilitar o acesso a direitos. Inclusive, facilitar no entendimento das questões. Hoje, nossa comunicação é uma comunicação rápida, é uma comunicação que alcança principalmente o entendimento. Hoje, preparar materiais mostrando que essas mulheres possuem direitos, elas têm deveres também, mas com informações de forma segura, céleres e com linguajar simples faz muita diferença. Ainda não preparamos o material. Fizemos um estudo e faremos outros ao longo do ano. Mas preparar um material com linguagem rápida e acessível faz com que o acesso a direitos fique ainda mais fácil na vida delas.  

Fundo Baobá – Além do Rio, Mato Grosso e Acre, vocês pretendem atuar em outros estados? 

Caroline Mendes Bispo (Elas Existem) – Sim. Atualmente estamos conversando com o estado do Rio Grande do Sul, para realizar algumas atividades em conjunto com uma organização do próprio território. No estado da Bahia, desde 2016, a gente realiza algumas atividades pontuais e estamos com planos de, no próximo ano, ter uma sede também na cidade de Salvador, fazendo assim cinco pontos do Brasil, como uma forma de demonstrar a importância de ter um olhar diverso sobre as mulheres encarceradas. 

Fundo Baobá – Você mudou-se para o Acre. Pessoalmente, como tem sido encarar essa nova realidade? A causa pela qual você trabalha vale a mudança? 

Caroline Mendes Bispo (Elas Existem) – Vale muito a mudança. Não se trata de ter desistido de tudo no Rio, pelo contrário: é ter exposto todas as coisas que fizemos no Rio e conseguimos amadurecer num estado que é tão pioneiro. O Acre durante muito tempo lutou para mostrar sua existência. Então, ele vem se construindo. E as construções que são feitas são muitas construções que nós, da capital, já estamos fazendo há algum tempo. Então, estar aqui dialogando com portas tão abertas… Hoje a Elas Existem faz parte do Comitê de Prevenção e Combate à Tortura, tem parceria com o Instituto de Administração Penitenciária, tem feito diálogos com o Ministério Público e a Defensoria Pública. Então, dessa forma, não só as parceria como os diálogos fizeram com que valesse mais a pena ainda todas as atividades que executamos tanto no Rio de Janeiro quanto aqui no Acre.   

Fundo Baobá – Para a Elas Existem, qual a importância de ter sido selecionada pelo edital Vidas Negra: Dignidade e Justiça?

Caroline Mendes Bispo (Elas Existem) –  Foi muito importante para a gente ter sido selecionada nesse edital, pois ele nos deu a possibilidade de ter vindo para o Acre. A nossa Associação, apesar dos seis anos de existência,  sempre se manteve presencialmente no Rio de Janeiro. Então, estar atuando aqui no Acre também  faz com que a gente consiga colocar nossa experiência, nosso trabalho  de forma prática, para além da teoria, em outros lugares, com outras perspectivas. Então, ter condições financeiras para ter uma equipe no Norte do país, no interior do Norte do país, onde as discussões não são feitas, mas clarear e abrir a visão para o sistema de justiça criminal e das mulheres também no socioeducativo faz  toda uma diferença. Ser uma das organizações contempladas mudou gradativamente nossa existência como um todo. Poder estar discutindo que o Acre Existe e Elas Resistem mudou ainda mais. 

Baobá na imprensa em Fevereiro

Por Ingrid Ferreira

No mês de fevereiro o Fundo Baobá para Equidade Racial teve participação na mídia com diversos temas, entre estudos, trabalhos de pessoas que foram apoiadas e participação de representantes em eventos.

No Festival 3i, teve a participação da líder no Programa Marielles do Fundo Baobá no evento “Diversidade no jornalismo – Como fazer?”. O Baobá foi comentado na pesquisa “Monitor IDIS de Fundos Patrimoniais no Brasil – Levantamento Completo” do site IDIS. 

O Fundo Brasil, citou o Baobá, ao falar da Aliança entre Fundos em seu site, enquanto isso o veículo Alma Preta fez um compilado de matérias e relembrou o edital Negros, Negócios e Alimentação, lançado em novembro de 2021 do Fundo Baobá em parceria com a empresa alimentícia General Mills.

Coletiva Negras que movem – Portal Geledés

No texto “Por quem eu luto?” do Coletiva Negras que movem, a autora faz uma reflexão a respeito da gratidão que sente pelos seus familiares que lhe asseguraram o direito a tornar-se quem ela é atualmente. 

Em outra postagem, acompanhada pelo título “Servidora negra exonerada pela UFPE luta para reaver o cargo, conquistado pelo sistema de cotas raciais”, a bióloga Nívia Tamires de Souza Cruz conta em artigo o episódio citado no título.

Enquanto na postagem “Sobre Futuros Colecionáveis” a autora fala da importância de construir o universo da tecnologia para que ele seja um ambiente acolhedor e livre de racismo.

Ainda na coluna Coletiva Negras que Movem, foi postada a matéria “Todo dia um golpe diferente. Mas todo dia a mesma dor.”, em que a autora fala como a fere saber o quanto o racismo bloqueia, o quanto humilha e o quanto mata constantemente.

Apoiadas (os) do Fundo Baobá

O Jornal Vida Brasil Texas citou o Baobá como o responsável pelo primeiro edital ao qual o coletivo Quilombo Aéreo foi contemplado, como encontra-se no título “Crônica – Quilombo aéreo: “quantos pretos precisam pra mudar a cor do céu?”.

Já no Diário do Rio encontra-se a matéria “Coletivo Mulheres da Parada, de São Gonçalo, fortalece a comunidade do bairro de Sacramento com distribuição de alimento”, que fala a respeito da donatária Letícia, que através de um dos editais do Baobá, conseguiu auxiliar sua comunidade na luta contra a disseminação do coronavírus.

Fundo Baobá e Empresa MetLife em Parceria no Segundo Ano do Programa Já É

Thais Catucci,  Gerente de Comunicação Interna e Responsabilidade Social da MetLife Brasil,  fala sobre colaboração em programa do Fundo Baobá

Por Ingrid Ferreira

A empresa de seguros MetLife é a mais nova parceira do Fundo Baobá para Equidade Racial e responsável por financiar o segundo ano do Programa Já É, que tem como intuito apoiar jovens negros da grande São Paulo e capital a ingressarem na universidade e manterem-se no primeiro ano do curso.

Thais Catucci, Gerente de Comunicação Interna e Responsabilidade Social da MetLife Brasil em entrevista ao Fundo Baobá, fala um pouco sobre o que essa parceria representa e como ela se desenha.

Thais Catucci – Gerente de Comunicação Interna e Responsabilidade Social da MetLife Brasil

Ao ser questionada do porquê do apoio da MetLife ao segundo ano do Programa Já É, do Fundo Baobá, Thais explica que: “A MetLife busca continuamente apoiar iniciativas que façam sentido para a sociedade e que estejam em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS), com os quais ela se comprometeu. Contribuir com a redução das desigualdades é um deles e este projeto contribui para isso”.

O Programa Já É tem apresentado resultados muito positivos do seu primeiro ano, como é possível visualizar na matéria “Já É: Programa de acesso à educação pública de nível superior começa a dar seus primeiros resultados”, em que alunas contam um pouco sobre o que representa para elas e suas famílias a notícia de suas aprovações para ingressarem nos cursos de suas escolhas.

A empresa MetLife disponibilizou o aporte financeiro de R$ 1 milhão para apoio aos jovens, e Thais fala que: “Este valor é destinado ao Fundo Baobá para que possa custear o financiamento das despesas dos jovens com transporte, alimentação e acesso à internet. Mas, nosso apoio vai além do valor destinado ao Programa, também iremos participar com atividades voltadas para a ampliação das habilidades socioemocionais e vocacionais em esquemas de mentoria com o apoio de nossos colaboradores”.

A Gerente conta que a empresa participa de outros projetos sendo realizados fora do Brasil, inclusive nos EUA, e que a decisão pela parceria com o Fundo Baobá se deu pelo fato de o Baobá ser o primeiro fundo exclusivo para a promoção da equidade racial para a população negra no Brasil, o que é de extrema importância no conceito da empresa.

Fundo Baobá divulga lista final do edital Negros, Negócios e Alimentação com surpresa no número de empreendimentos escolhidos

Edital selecionaria 12 iniciativas gastronômicas. Direção do Fundo decidiu aumentar o número para 14, ampliando ainda mais o apoio aos empreendedores (as) 

                                   Por  Wagner Prado

O dia tão esperado chegou. O Fundo Baobá para Equidade Racial divulga hoje, 31 de março, a lista de 14 empreendimentos agraciados, cada um, com um aporte de R$ 30 mil destinado pelo edital Negros, Negócios e Alimentação. Voltado para empreendedores negres, negros e negras do segmento da gastronomia, o edital foi lançado em novembro de 2021, dirigido especificamente para Recife e Grande Recife. O apoio financeiro irá auxiliar  na recuperação econômica e/ou aceleração desses negócios, nas suas mais diferentes formas: buffets, comida por encomenda, comida delivery, barracas em pontos fixos ou volantes, docerias, restaurantes e outras.  

 

Quando do lançamento do edital, em novembro de 2021, estava previsto que 12 empreendimentos seriam escolhidos. Porém, o Fundo Baobá decidiu ampliar o número para 14. “Estamos bem felizes  com esta possibilidade de agregar recursos próprios ao edital. É o Baobá fazendo o que deve ser feito. Sendo estratégico e consonante com as necessidades e expectativas do campo nos seus investimentos”, afirmou Fernanda Lopes, diretora de Programa do Fundo Baobá.

 

 O Fundo Baobá tem como parceira nesta iniciativa a empresa alimentícia General Mills. O edital Negros, Negócios e Alimentação integra o Programa de Resiliência, Recuperação Econômica e Equidade Racial, lançado no contexto da pandemia da Covid-19. Nano, micro e pequenos negócios das seguintes cidades: Recife, Abreu de Lima, Araçoiaba, Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe, Igarassu, Ilha de Itamaracá, Ipojuca, Itapissuma, Jaboatão dos Guararapes, Moreno, Olinda, Paulista e São Lourenço puderam se inscrever.

 

O edital contou com três etapas seletivas. Na última etapa, uma comissão formada pela chef e empreendedora no segmento gastronômico Priscilla Novaes; pelo gestor de projetos sociais da Aliança Empreendedora,  Ariel Pascke; pelo diretor executivo do Instituto C&A, Gustavo Narciso; pelo historiador com pós-graduação em Política e Gestão Cultural, Lindivaldo Leite Júnior e pelo engenheiro, proprietário e diretor de uma empresa de consultoria focada em gestão de investimento verde e sustentável, com e sem alocação de capital, Marco Antonio Fujihara, esteve responsável por fazer a análise das propostas e posterior escolha dos finalistas. Lindivaldo Júnior e Marco Antonio Fujihara representaram os órgãos de governança do Fundo Baobá. 

 

O trabalho da comissão foi gratificante, mas também árduo. Para a chef Priscilla Novaes, que comanda em São Paulo o restaurante Kitanda das Minas, os empreendimentos inscritos tinham um ponto em comum: “Todos os negócios são bons. Mas identifiquei o domínio do empreendedor sobre seu próprio negócio. Esse aspecto de dominar o negócio e saber o que é preciso nele. Também identifiquei aqueles que se interessaram pela formação. Todo aspecto formativo é importante. Os momentos em que meu negócio conseguiu se desenvolver foi quando tive apoio não apenas financeiro, mas apoio na gestão, apoio no maketing”, afirmou.

 

Para o historiador Lindivaldo Leite Junior, de Recife, fazer parte de uma comissão julgadora sempre traz um desafio: “Participar de comissões de avaliação é sempre um desafio, é uma responsabilidade muito grande. Porque você está, de alguma forma, julgando os trabalhos de gente que tem uma batalha cotidiana para organizar. A gente se preocupa em não ser injusto,  já que, em tese, todos que acessaram o edital são merecedores do apoio. Mas nossa tarefa é escolher só alguns. De alguma forma,  tenho sempre satisfação em contribuir com o trabalho do Fundo Baobá e ajudar a manter sua missão, fortalecer seu compromisso com a inclusão racial”, disse. 

 

Ariel Pascke, gestor de projetos sociais, afirmou que a emoção também fez parte do critério de escolha: “Uma grande emoção e responsabilidade, pois chegaram até as minhas mãos iniciativas incríveis. Influenciar na decisão sobre quem seria contemplado pelo edital é se envolver com a história de cada uma das pessoas, negócios, famílias e suas respectivas comunidades. Foi um prazer fazer parte desta seleção. Agora,  estou curioso para saber os próximos passos destes empreendedores e sobre como será o futuro dos seus negócios. Parabéns pela iniciativa, Baobá”, comentou. 

 

Jornada Formativa

Definido o grupo, agora ampliado e composto por 14 empreendimentos, seus responsáveis iniciam uma jornada formativa introdutória, que terá quatro momentos: 1)  Reunião de orientações gerais;  b) Sessões relacionadas à gestão de negócios, com temas diversos; c) Oficina para elaboração do plano orçamentário e cronograma de execução; d) Oficina de orientações sobre como se preparar para prestar contas.  Para a jornada formativa introdutória é necessário que cada empreendedor reserve cerca de 15 (quinze) horas de dedicação. 

 

A lista com os 14 empreendimentos selecionados pode ser conferida AQUI

Giovanni Harvey, diretor Executivo do Fundo Baobá, fala em live sobre direitos humanos no Brasil de 2022

Encontro promovido pelo Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE) teve  participação da psicóloga Cinthya Ciarallo e mediação de Yuri Silva  

Por Flavio Carrança

O que esperar da luta pelos direitos humanos no Brasil neste ano tão importante para o país?  Este foi o tema da live promovida em fevereiro pelo Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa, o IREE Direitos Humanos.     No período recente, houve no Brasil um desmonte das políticas públicas para a área desses direitos, com cortes de orçamento e o abandono de instrumentos elaborados para uma política nacional no setor. O diretor executivo do Fundo Baobá para Equidade Racial, Giovanni Harvey, foi um dos participantes, junto com a psicóloga Cinthya Ciarallo, que atua como docente e desenvolve trabalhos técnicos voltados para a defesa dos direitos humanos em diferentes áreas.  A mediação foi de Yuri Silva, coordenador do IREE.

Lembrando que falas muito graves e ofensivas feitas por ocupantes do governo tiveram até certo momento suas gravidades relativizadas, Harvey destacou o fato de que, mesmo com certa demora, a truculência, a brutalidade e o grotesco de diversas declarações feitas por ocupantes de cargos no primeiro escalão do atual governo acabaram por provocar uma reação em determinados setores. ”Eu sempre convivi em espaços majoritariamente constituídos por pessoas brancas e comecei a ver  pessoas brancas que nunca se manifestaram sobre essa questão, ou que pensam a partir da branquitude, se manifestarem de uma forma que eu nunca vi ao longo de décadas. O que quero dizer com isso: que nosso desafio é resgatar o fio da história e não perder essas alianças que foram estabelecidas nesses últimos tempos. Acho fundamental. Nesse aspecto, o papel das empresas privadas, das organizações sociais e da sociedade civil é extremamente importante.”

Cinthya Ciarallo destacou a importância de se discutir a comunicação, diante do grande desafio representado pelo mundo digital, lembrando a importância do papel da informação no resultado da eleição de 2018. Ressaltou ainda que mesmo pessoas que têm um mínimo de compreensão sobre o que é uma postura ética com relação aos direitos humanos têm medo de serem constrangidas ou canceladas em suas bolhas caso vistam a camisa dessa causa. “Falar de direitos humanos é muito bonito, porque é um palco, é super panfletário, dentro dos pares, mas em que medida realmente as pessoas conseguem compreender que a gente está falando de violências estruturais? Então,  acho que o grande desafio que a gente tem é que hoje, como ainda seguimos numa lógica muito polarizada – ‘ele é do mal, eu sou do bem’ –  ela não tem nos permitido discutir efetivamente que lugar nós ocupamos nessa história toda, do quanto que a gente está disposto a abrir mão, do quanto que gente está disposto, numa disputa de poder numa sociedade desigual, a abrir mão de parcela do que a gente chama de privilégio, do que a gente chama de poder.”   

Giovanni Harvey reiterou ver um avanço com relação aos direitos humanos no campo da iniciativa privada e do terceiro setor, lembrando que existe um desafio para quem atua nesse campo: fazer com que tais pessoas permaneçam mobilizadas em torno dessa agenda, de maneira a possibilitar a construção de uma aliança mais qualificada do que existiu anteriormente.  Segundo o diretor executivo do Fundo Baobá, antes, o ambiente na iniciativa privada não era tão permeável a esse debate. Enfrentava-se muita resistência de atores e atrizes que hoje têm um comportamento diferente.  Para ele, o desafio hoje colocado é de como resgatar o fio da história sem que essas pessoas se retraiam: “Eu sempre falo que temos que construir uma visão de onde queremos chegar. Não podemos ficar o tempo inteiro apenas com uma pauta de reivindicação. O que a equidade constrói? Sem desconsiderar toda essa barbárie, a gente consegue fazer esse enfrentamento e ao mesmo tempo construir um ideário de desenvolvimento que contemple a diversidade como um elemento central de um projeto de desenvolvimento do país em todas as suas dimensões”.

Axé Zumbi Tutu

Desmond Tutu, um dos responsáveis pela queda do apartheid na África do Sul, veio ao Brasil há 34 anos deixando seu legado de luta contra o racismo 

Por Wagner Prado

Há  quase três meses, exatamente em 26 de dezembro de 2021, o mundo perdia um de seus maiores ícones na luta contra o racismo. Acometido por inúmeras infecções originárias de um câncer de próstata, o arcebispo da igreja anglicana Desmond Mpilo Tutu morria aos 90 anos. Laureado com o Prêmio Nobel da Paz em 1984, Tutu foi um lutador incansável pela igualdade racial em seu país, a África do Sul, e viveu para espalhar pelo mundo o seu legado pela luta em favor da liberdade.para o povo negro.

O regime de Apartheid vigorou na África do Sul por 40 anos, de 1948 a 1988, quando foram iniciadas as negociações para seu banimento. Nele, a minoria branca detinha o poder do voto, o poder econômico e o poder político. A maioria negra tinha que se submeter às imposições da minoria. Os negros não podiam ser donos de terras e tinham que viver em zonas residenciais separadas, em total confinamento. Os casamentos entre homens negros e mulheres brancas ou mulheres negras e homens brancos eram proibidos por lei. O Apartheid é considerado uma das maiores atrocidades cometidas pelo Homem, pois separa, oprime, aprisiona, tortura e mata.   

Desmond Tutu esteve no Brasil pela primeira vez em maio de 1987, durante o governo presidente José Sarney. Três anos antes, em 1984, Tutu havia recebido do Comitê Norueguês do Prêmio Nobel, o Nobel da Paz. 

Desmond Tutu saiu da África do Sul e chegou ao Rio de Janeiro onde o Movimento Negro iniciava uma corrida em busca da igualdade racial. Se na África do Sul a segregação era algo institucionalizado, o Brasil da propalada democracia racial separava, oprimia, aprisionava e matava por baixo dos panos. O maior alvo, como demonstram as estatísticas até hoje: a gente preta. No Brasil, assim como na África do pré-apartheid, o Estado não reconhece, não protege, não efetiva e viola os direitos de pessoas negras, incluindo o direito à vida. 

Tutu foi recebido por personagens que têm o nome cravado na história da luta pela liberdade de raça, credo e cor no Brasil. Benedita da Silva, Abdias Nascimento, Januário Garcia (Janu), José (Zé) Miguel, Justo de Carvalho e Milton Gonçalves foram alguns dos que estiveram no Colégio Sion, no Cosme Velho, na recepção a Desmond Tutu. 

Vestindo calça cinza e camisa clerical vermelha, o então bispo anglicano mostrou-se encantado com o que via. Sua primeira palavra na saudação aos presentes no auditório do colégio foi “obrigado”, dito em português. Cada manifestação dele era sucedida de muitas palmas e gritos de protesto contra o racismo também existente no Brasil. Desmond Tutu começou sua fala dizendo: “Nunca imaginei que alguém tivesse que brigar para chegar perto de mim e me beijar. Venho aqui em nome de milhões de pessoas vítimas do sistema que é conhecido como o pior sistema depois do nazismo. Quero agradecer ao povo brasileiro pelo apoio que nos deu em nome da paz e da justiça”, disse. 

Abdias Nascimento, que ocupava a presidência da mesa em homenagem a Tutu foi enfático: “Estou altamente  honrado pela tarefa conferida a mim pelos meus companheiros do Movimento Negro do Rio de Janeiro, para saudá-lo e dar boas vindas nesse encontro. A comunidade afro-brasileira tem lutado arduamente por essa oportunidade de se encontrar com o irmão Tutu, pois para nós você simboliza uma luta que também é a nossa. Por essa razão, honrando a resistência afro-brasileira, que organizou os quilombos, culminando na República dos Palmares, permita-me batizá-lo hoje, Bispo Tutu,  com o maior título que os negros desse país poderiam outorgar: ‘Zumbi da África do Sul’. Não nos calaremos até que o mundo esteja livre do Apartheid. Axé Zumbi Tutu!”

O regime do Apartheid foi oficialmente banido da África do Sul em 1994, depois de negociações que foram iniciadas em 1988/1989, ainda com Nelson Mandela na prisão. Em 1990, Mandela foi libertado após cumprir 27 anos de prisão, em 1994 Mandela venceu as eleições e foi declarado presidente da África do Sul. Quem o conduziu para seu primeiro discurso após a posse foi o arcebispo Desmond Tutu. 

Fundo Baobá divulga lista de classificados na segunda etapa do edital Negros, Negócios e Alimentação

Lista traz 24 nomes de organizações que empreendem na área da gastronomia na região metropolitana de Recife

                                   Por  Wagner Prado

A tão aguardada lista final do edital Negros, Negócios e Alimentação será divulgada no dia 31 de março. Hoje, 10 de março, porém, o Fundo Baobá para Equidade Racial divulga a lista de 24 empreendimentos da área gastronômica, liderados por negros e negras,  atuantes na região metropolitana de Recife, território para o qual o edital está voltado.  

O edital Negros, Negócios e Alimentação foi criado pelo Fundo Baobá em novembro de 2021.  A proposta dele  é promover apoio financeiro que impulsione a recuperação econômica de negócios dirigidos ao segmento gastronômico em suas formas mais variadas, como bares, buffets, comida delivery, food trucks, docerias,  restaurantes e outras.  A lista final, que sairá em 31 de março, trará os 12 empreendimentos selecionados. Cada um deles receberá R$ 30 mil.   

Impulsionar a recuperação abrange algo ainda maior. Além do apoio financeiro, os proprietários e proprietárias responsáveis vão ser envolvidos em uma jornada de aprendizado para aprimorar os conhecimentos de gestão, planejamento, inovação e busca de parcerias.

O acesso a estes conteúdos vai se dar por meio de atividades formativas, mentorias e compartilhamento de experiências promovidas pelo Fundo Baobá e uma parceria apoiadora. As atividades formativas acontecerão durante a implementação do projeto, de maio a novembro. Nos meses de julho e dezembro vão ocorrer as atividades de compartilhamento de experiências.   

O edital Negros, Negócios e Alimentação é uma parceria entre o Fundo Baobá e a General Mills e integra o Programa de Resiliência, Recuperação Econômica e Equidade Racial lançado no contexto da pandemia da COVID-19. O edital surge para apoiar nano, micro e pequenos negócios de gastronomia da região metropolitana do Recife, que compreende as cidades de Abreu de Lima, Araçoiaba, Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe, Igarassu, Ilha de Itamaracá,  Ipojuca, Itapissuma, Jaboatão dos Guararapes,  Moreno, Olinda,  Paulista, Recife e São Lourenço da Mata. 

A pesquisa “O Impacto da Pandemia do Coronavírus nos Pequenos Negócios”, realizada pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas)  e FGV (Fundação Getúlio Vargas) em março/2021,  revelou, entre outros dados, que  79% desses estabelecimentos, em nível nacional, tiveram seu faturamento diminuído; 34% tinham dívidas e/ou empréstimos em atraso; 49% haviam buscado empréstimos em instituições bancárias tradicionais e 19% foram obrigados a promover demissões. Foram ouvidos 6.228 empresários em 26 estados brasileiros mais o Distrito Federal.

Se, para quem atua na formalidade o quadro estava complicado, para quem atua no mercado informal as dificuldades foram ainda mais gritantes. O edital Negros, Negócios e Alimentação dá oportunidade para empresas formalizadas (com CNPJ) e não formalizadas (sem CNPJ), que estejam atuando no mercado há,  no mínimo, três anos. 

Foram recebidas 60 inscrições. A primeira lista de classificados, divulgada em 8 de fevereiro, selecionou 46 empreendimentos. As propostas foram analisadas e entrevistas foram realizadas com todos os e as proponentes. A lista divulgada hoje, 10 de março, elege 24 empreendimentos. O projeto será novamente avaliado, agora por um comitê composto por membros dos órgãos de governança do Baobá e especialistas. A lista final será divulgada  em 31 de março,  com 12 empreendimentos que serão apoiados. 

Acesse aqui a lista de classificados para a terceira fase.

Fundo Baobá cria, no Brasil, o primeiro Círculo de Doação liderado por pessoas negras 

Filantropia negra deve se mobilizar no sentido de exercer a doação, visando promover projetos que trabalhem a equidade racial e a justiça social para a população negra

Por Wagner Prado 

O dia 30 de novembro de 2021 é considerado uma marca histórica para o Fundo Baobá para Equidade Racial. No ano em que completou 10 anos de atividades, o Baobá, único fundo dedicado, exclusivamente, para a promoção da equidade racial para a população negra no Brasil, lançou o seu Círculo de Doação. E por que a marca é histórica? O Fundo Baobá é uma organização comandada por pessoas negras e engajadas nas questões relativas ao povo preto brasileiro. O Círculo de Doação criado pelo Baoba é o primeiro no país e o único que conta com  negros na liderança. 

O Baobá está plantando uma semente para que a filantropia negra se eleve e se fortaleça no Brasil. A missão do Fundo Baobá é prover recursos financeiros, que propiciem apoio para que programas, projetos, iniciativas de organizações, grupos e coletivos negros ou pelo próprio Baobá sejam implementados. De 2014 a 2021, o Baobá investiu cerca de R$ 15 milhões em 833 iniciativas negras, incluindo apoio emergencial no contexto da pandemia da COVID-19. Indiretamente, impactou mais de meio milhão de vidas em todo o território nacional.

Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco –  objetiva fazer com que coletivas e grupos de mulheres negras sejam fortalecidos em todas as suas capacidades, além de desenvolver as potencialidades para fortalecer a liderança de mulheres negras. Os parceiros apoiadores são Ford Foundation,  Instituto Ibirapitanga, Kellogg Foundation e Open Society Foundation.  

Programa Já É: Educação e Equidade Racial – objetiva fornecer bolsas de estudo em cursinho preparatório para o vestibular. O programa também oferece orientação vocacional e suporte suporte psicossocial, vale transporte, refeição e internet, para jovens negros, com idade entre 17 e 25 anos, residentes no município de São Paulo ou na Grande São Paulo. A trajetória escolar desses estudantes tem que ter sido feita em escola pública. No primeiro ano de apoio, os parceiros foram Citi Foundation, Demarest Advogados e Amadi Technology.

Vidas Negras, Dignidade e Justiça –  destina-se a apoiar iniciativas de organizações, movimentos sociais, coletivos negros que busquem desenvolver ações práticas para o enfrentamento ao racismo, à violência sistêmica e às injustiças criminais no Brasil. 

Os três exemplos de editais, lançados entre 2019 e 2021, dão ideia da importância de realizar o ato da doação para que um número incalculável de pessoas possa ser beneficiada por ações sociais responsáveis. 

Objetivo do Círculo de Doação

O Programa Filantropia para Equidade Racial é uma iniciativa que visa promover os valores da filantropia para equidade racial e será baseado nos seguintes critérios: Consistência, Sustentabilidade,  Coerência e Confiança. Serão convidados a fazer parte lideranças negras nacionais e internacionais, influentes em suas áreas de atuação. Elas serão responsáveis por liderar o primeiro Círculo de Doação para Equidade Racial no Brasil. Além disso, vão desempenhar papel fundamental para elevar o protagonismo de pessoas negras na filantropia brasileira. Caberá também a essas lideranças apoiar o Fundo Baobá na expansão do relacionamento e engajamento de doadores individuais em potenciais doações  entre R$ 5 mil e R$ 50 mil,  de acordo com o nível de engajamento.  O objetivo será fazer crescer o impacto transformador do investimento em organizações negras atuantes em todo território brasileiro e que contribuam para o combate ao racismo. Serão realizados encontros periódicos com os doadores para:
fortalecer a cultura de doação em prol do combate ao racismo,
promover lideranças negras,
inspirar novos doadores,
compartilhar histórias e celebrar os resultados alcançados a partir das doações. 

O Selo Filantropia pela Equidade Racial será disponibilizado para todas as lideranças negras que fizerem parte do Círculo de Doação.

Sinônimo de engajamento e de grande doador

Para a maioria das pessoas, o heptacampeão mundial de Fórmula 1 Lewis Hamilton é um piloto que já colocou seu nome na história. No final de 2021, ele recebeu do governo da Inglaterra o título de Sir, passando oficialmente a ser reconhecido como Cavaleiro da Ordem do Império Britânico, o que confere a ele um status de nobreza. Hamilton foi o oitavo esportista mais bem pago do mundo em 2021, segundo levantamento da revista Forbes, tendo alcançado a casa dos US$ 82 milhões em faturamento (quase R$ 425 milhões). 

O ativismo político de Hamilton e sua condição de esportista milionário se juntam no sentido da co-responsabilidade social. O astro do esporte investe parte do que ganha em Educação. O objetivo de Lewis Hamilton é contribuir para que questões estruturais que impedem o acesso igualitário aos meios educacionais sejam erradicadas, principalmente no que diz respeito a alunos negros. “Qualquer jovem do planeta merece ter o mesmo direito de receber uma ótima educação. As famílias não devem considerar carreiras para seus filhos pensando: Bem, essa carreira não serve, porque não tem como mu filho entrar nesta área. Não tem ninguém que se parece com a gente nesta área. Então, a representatividade é uma conquista importante”, afirmou o heptacampeão em entrevista em novembro, quando disputou e venceu em São Paulo o GP Brasil.

Uma ideia que tem maior sentido se você fizer parte do elo 

O tema continua sendo filantropia. Primeiro, porém, vamos recorrer à etimologia: estudo que define a origem e a evolução das palavras. Então, a origem de filantropia está na junção de duas palavras gregas. Filos, que significa amizade, amor, e  Antropo, humanidade. 

O amor pela humanidade pode ser exercido de várias formas. A reunião de pessoas  visando o bem estar de outras é uma delas. E o privilégio dessa reunião não envolve unicamente gente de melhor poder aquisitivo. Quem não pode contribuir financeiramente pode fazê-lo  de outras formas. A isso se dá o nome de doação. 

A doação pode ser definida como uma das ferramentas de colaboração que aproveita pequenas, médias e grandes quantias oferecidas e são direcionadas para ações de cunho social. Mas não é apenas com dinheiro que se faz doação. Ela pode ocorrer também com horas de trabalho voluntário das mais diferentes formas. 

Filantropia para Justiça Social e Equidade Racial

O modelo de desenvolvimento econômico que acabou se arraigando pelo mundo ao longo da história fez  enfraquecer as pessoas individualmente. Aspectos como justiça, dignidade e igualdade foram esquecidos para que outros, de infinitamente menor  valor, tomassem os seus lugares. A desigualdade em vários setores está fazendo com que as pessoas voltem a se unir buscando um fortalecimento comum. Elas estão, inclusive, procurando fugir do assistencialismo oficial, que dirige e destina uma ajuda, mas não tira as pessoas da vala comum. Isso está mudando. 

As comunidades estão tomando ciência de seu poder de movimentação e articulação. Elas não querem mais receber verbas que são utilizadas para manter o status de quem já detém o poder e vê os vulneráveis, como eternamente beirando a exclusão. As massas também querem o poder. 

O que a filantropia para justiça social e equidade racial pretende é fazer com que o poder volte a essas massas e chegue às massas negras. Por intermédio das doações todo um contingente de excluídos passará a ser valorizado e vai alcançar o bem-estar na educação, o bem-estar no trabalho, o bem-estar na saúde, o bem-estar na moradia. Acima de tudo, vai alcançar o respeito e passará a ser respeitado. 

Histórico dos Círculos de Doação

Uma das formas elaborados por filantropos para juntar quantias que pudessem patrocinar o bem comum são os Círculos de Doação. A partir do início do Século 19 (1800 a 1899), a sociedade dos Estados Unidos passou a se movimentar em torno da formação de associações que visassem o bem social. O pai desse ideário foi o pensador e político francês Alexis Tocqueville (1805-1859). Para ele, a igualdade entre as pessoas era a principal característica da democracia e o desenvolvimento igualitário da sociedade seria um processo que não poderia ser detido.  

O empresário e autor norte-americano Kevin Eikenberry definiu assim os Círculos de Doação: “Os círculos de doação são grupos voluntários que permitem aos indivíduos reunir seu dinheiro (e às vezes seu tempo como voluntários) para apoiar organizações de interesse mútuo. Eles também oferecem oportunidades de educação e engajamento entre os participantes sobre filantropia e mudança social, conectando-os a instituições de caridade, suas comunidades e uns aos outros”. 

Quando Eikenberry fala em oportunidades de educação, isso remete diretamente à formação das Universidade e Instituições Comunitárias Historicamente Negras (Historically Black Colleges and Universities – HBCU), que passaram a ser formadas na segunda metade dos anos 1800 nos Estados Unidos. Elas foram instituídas para levar a população afro-americana ao ensino de nível superior. Hoje, são mais de 100, a maioria delas originárias a partir de Círculos de Doação. 

Um fato que ilustra bem a ação dos Círculos de Doação e de filantropos ligados a eles  ocorreu na Morehouse College (uma HBCU), em Atlanta (Geórgia), em 2020. O bilionário negro norte-americano Robert F. Smith, proprietário da Vista Equit Partnes, qua atua no ramo da tecnologia, militante da causa antirracista e cujo patrimônio pessoal ultrapassa os US$ 7 bilhões, esteve na formatura dos alunos da Morehouse. Lá, ele anunciou a doação de US$ 40 milhões para quitar as dívidas estudantis de todos os formandos.  

Quadro brasileiro

Embora o mundo esteja sofrendo com a pandemia da Covid-19 há dois anos, alguns aspectos positivos devem ser ressaltados. A cultura de doação no Brasil cresceu nos últimos cinco anos, de acordo com pesquisa divulgada pelo Instituto do Desenvolvimento Social (IDIS). O impacto da pandemia, que obrigou, algumas pessoas a se recolher em seus lares acabou prejudicando principalmente aqueles que optam por doar trabalho e não finanças. De qualquer forma, a sociedade brasileira está mais consciente sobre o trabalho das instituições que buscam a filantropia para obter recursos e poder ativar seus projetos.   

O Fundo Baobá para Equidade Racial, atuando há 10 anos buscando ampliar as  oportunidades de desenvolvimento individual e coletivo para a população negra brasileira nas áreas de Educação, Trabalho, Emprego e Renda, Saúde, Acesso à Justiça,  acredita que a sua contribuição é fundamental para que possamos transformar mentalidades e gerar oportunidades justas. Os investimentos feitos por meio de programas e projetos pelo Fundo Baobá, seus resultados  e a forma de doar para que esta transformação social siga sendo realizada estão no site baoba.org.br

Baobá na imprensa em Janeiro

imprensa

Por Ingrid Ferreira

O mês de janeiro foi marcado pelo grande número de matérias sobre o edital gastronômico Negros, Negócios e Alimentação, exclusivo para a região metropolitana de Recife.

O edital foi lançado pelo Fundo Baobá para Equidade Racial em parceria com a General Mills no dia 18 de novembro de 2021. Tem como intuito beneficiar  empreendedores e empreendedoras selecionados com um aporte financeiro de R$ 30.000 (trinta mil reais), além de assessoria e suporte técnico na realização de seus projetos.

Veículos de comunicação como o Farofa Magazine, Revista Menu, UOL e Tudo do Bem publicaram matérias dando destaque ao aporte financeiro de R$ 30.000, que os donatários receberão ao longo do processo de conclusão de seus projetos. 

Enquanto isso,  Diário de Pernambuco,  Revista Raça, portal Terra, Notícia Preta, Trace, Alma Preta, Folha de Pernambuco, Geledés, Giro MT Notícias, Segs, Observatório 3º Setor, Rede Filantropia, Ceert, o Twitter da Agência Retruco e o site Reflexões do dia falaram sobre  a prorrogação do prazo de inscrição para o BNegros, Negócios e Alimentação, que ocorreu em janeiro. A prorrogação do prazo de inscrição deu possibilidade para que mais empreendedores do ramo da gastronomia participassem do edital.

Nos últimos dias do período de inscrição, houve uma mobilização da equipe interna do Fundo Baobá, que saiu de São Paulo com destino a Recife (respeitando todas as normas sanitárias vigentes), para conversar com os interessados em inscrever-se no edital. A equipe do Baobá apoiou e passou todas as informações. O  Twitter de Eduarda Nunes teve postagem sobre isso.

Além disso, uma das principais regras do edital também foi alterada ao final do processo. Anteriormente era obrigatório possuir CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) ativo desde 2019. Com a nova regra, as pessoas interessadas não mais precisariam ter o cadastro. Isso ampliou a possiblidade de participação de um grupo maior de pessoas, e o Blog Edgard Homem noticiou a informação, além do programa Notícia da Hora, da TV Pernambuco, retransmitido no Youtube, que contou com a fala da Diretora de Programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes, que deu entrevista também para Rádio Cidade em dia, falando como Empreendedorismo Negro se torna alavanca para a equidade racial.

Coletiva Negras que movem – Portal Geledés

Na coluna Coletiva Negras que Movem,  do Portal Geledés em parceria com o Fundo Baobá, duas matérias ganharam a mídia, sendo a 1ª “Em 2022, apoiem escritores negros… Mas apoiem de verdade!” falando sobre a importância de dar visibilidade para o trabalho de escritores negros e negras, mulheres e profissionais independentes.

Na 2ª matéria com o título “Rendendo o assunto sobre: Como ser “arrimo” de família sem se comprometer financeiramente?”, o texto trata de como apoiar as pessoas a não se anularem nesse processo, cuidando dos seus e de si, aprendendo assim a respeitar-se.

Apoiadas (os) do Fundo Baobá

Nos apoiados do Fundo Baobá encontra-se a matéria “O Rio Grande do Sul também é terra de negros”, escrita por Jorge Maia, apoiado pelo Fundo Baobá em 2018. A matéria enviada ao Portal Geledés aborda desconstrução de que o Sul é exclusivamente povoado por brancos. Fala da população negra e de sua importância cultural na região.

Já É: Programa de acesso à educação pública de nível superior começa a dar seus primeiros resultados 

Estudantes negros, negras e negres da periferia de São Paulo foram selecionad@s em 2021. Primeiras aprovações na Unesp, USP e Unicamp já aconteceram 

Por Wagner Prado

Está lá na lista da Unesp (Universidade Estadual Paulista), na da USP (Universidade de São Paulo) e Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) para quem quiser conferir. Os cursos são os de Artes Cênicas (Unesp), Arquitetura e Urbanismo (USP), Letras (USP) e Pedagogia (Unicamp). Os nomes das alunas?: Jakeline Souza Lima, Karina Leal, Larissa Araújo Aniceto e Thais Sousa Silva. Ver nomes em uma lista de aprovação para uma universidade tem um grande significado, principalmente se formos pensar sobre o que está por trás de cada uma dessas aprovações. É possível imaginar algumas coisas como determinação, garra e, acima de tudo, a gana por mudar uma realidade de vida. É sobre isso que vamos falar aqui. A gana pela mudança. 

Larissa Araújo Aniceto, aprovada na FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) da USP

Para que as populações escolares em diferentes faixas etárias possam ter acesso à Educação, o Fundo Baobá promove apoio a esse ideário: 

➤ Enfrentamento ao racismo institucional no ambiente escolar, tanto na educação infantil, no ensino fundamental e no ensino médio

Projetos de vida e ampliação de capacidades socioemocionais entre adolescentes e jovens 

Entrada e permanência no ensino superior (investimentos em alunos, alunas e alunes do ensino médio, em cursos preparatórios e nos primeiros períodos do curso de graduação)

Formação de lideranças 

➤ Formação de novos quadros técnicos com atuação no poder executivo, legislativo, judiciário, em organizações da sociedade civil organizada, no setor privado, instituições multilaterais.

Em fevereiro de 2021, o Fundo Baobá para Equidade Racial, atuando na base de trabalho Educação, lançou o Programa Já É.  Um número de 84 jovens negros, negras e negres, entre 17 e 25 anos, foi selecionado para estudar em um curso preparatório para o vestibular. Além de não terem que pagar as mensalidades, cobertas pelo programa, também receberam vale transporte e vale alimentação, quando as aulas passaram do sistema remoto para o presencial. O Programa Já é, em seu primeiro ano de funcionamento, contou com o apoio da Citi Foundation, Demarest Advogados e Amadi Technology.  

Aprovações em universidades públicas durante o segundo trimestre de 2021 e/ou as diferentes situações familiares, pautadas por dificuldades de várias ordens,  fez com que alguns desses estudantes tivessem que se afastar do Programa. De 84, 75 continuaram matriculados e 69 permaneceram efetivos em todas as atividades, mesmo com o planejamento tendo sido alterado por conta da pandemia.  Sem poder frequentar as aulas presencialmente, alunos, alunas e alunes receberam computadores portáteis e chip telefônico/internet de dados para que pudessem acompanhar as aulas de forma remota. O objetivo do Programa foi fazer com que os jovens com esses perfis alcançassem instituições públicas de ensino, pela qualidade e nível de excelência que as mesmas possuem. Pessoas negras, pobres e de periferia, normalmente, estão alijadas de frequentar esses ambientes de excelência, embora tenham e possuam os mesmos direitos de qualquer outra pessoa em frequentá-los. 

O acesso à Educação no Brasil é balizado pelo poder aquisitivo das pessoas. Quem goza de boa condição financeira vai ter acesso às melhores escolas e, dentro delas, a todas as ferramentas de última geração que as diferenciam: tecnologia, laboratórios, troca de informações com instituições do exterior, intercâmbios. Alunos negros têm consigo a crernça de que por não terem tido acesso a um ensino básico de qualidade, o nível de excelêna das universidades públicas não é para eles. Um Programa como o Já É, além de outras iniciativas negras, surge para derrubar esses muros de separação. Estigmas têm que ser rompidos. 

Estudo e Pobreza

A OSC (Organização da Sociedade Civil) Todos pela Educação divulgou nota na primeira quinzena de fevereiro/2022 sobre a alfabetização de crianças brasileiras de 6 a 7 anos. Se levarmos em conta que a falta de alfabetização na tenra idade será  prejudicial para tentativas de aprendizado no futuro, isso é estarrecedor e limita o futuro de muitos jovens.

Alfabetizar é o objetivo buscado nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental, de acordo com a BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Entre 2019 e 2021, o número de crianças brasileiras entre 6 e 7 anos que não sabem ler e escrever aumentou 66,3%. Para que isso seja melhor compreendido, em 2019 era 1,4 milhão de crianças. Em 2021, houve aumento de 1  milhão e o número de crianças brasileiras entre 6 e 7 anos que não sabem ler subiu para 2,4 milhões. Os dados foram colhidos na última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, que  ainda identificou que entre crianças brancas e pretas/pardas há uma grande diferença na alfabetização. O número de crianças pretas e pardas que não sabiam ler em 2019 era de 28,8% e 28,2%, respectivamente.  Em 2021, o número subiu para 47,4 e 44,5. Entre as crianças brancas, no mesmo período, o número subiu de 20,3% para 35,1%.     

Continuidade

Independentemente do número de aprovações obtidas, o Programa Já É terá continuidade em 2022. As aprovações de 2022 têm e devem ser analisadas pela sua qualidade. Serão espelhos para outros alunos que vierem dispostos a encarar o desafio de alcançar uma instituição pública de ensino superior. 

Resiliência

No início do texto perguntamos sobre o que está por trás de uma aprovação no vestibular. As alunas aprovadas na Unesp e na USP falam sobre o nascer de um sonho, a batalha para se alcançar um objetivo e a emoção da recompensa. 

Quando e como se estabeleceu o seu sonho de chegar à faculdade? Que profissão você pensou em seguir e o que motivou isso? 

Jakeline Souza Lima –   Comecei a sonhar em entrar em uma universidade quando entendi a importância da educação em nossas vidas e que a educação pode ser uma ferramenta de libertação e de luta. Meus pais sempre me incentivaram a estudar, sempre me ajudaram nas lições de casa.  Eu decidi que realmente queria entrar na universidade quando percebi que meus pais já não estavam mais conseguindo me ajudar nos deveres, não por falta de tempo ou vontade, mas porque eles não tinham chegado naquele conteúdo e nem naquela série que eu estava. Ali eu entendi que precisava romper o ciclo de falta de acesso à educação, pois eles sempre precisaram trabalhar desde muito cedo. 

O curso que escolhi foi Licenciatura em Teatro. Eu decidi fazer teatro,  pois  comecei a sentir que todas as minhas opções anteriores não eram o que eu realmente queria e todas tinham algo em comum: uma tentativa inconsciente de me esconder. O teatro surgiu na tentativa de me provar que eu podia estar à frente das coisas, que não precisava me esconder. Fiz curso técnico em teatro na etec de artes e essa experiência só me fez ter certeza de que era isso mesmo que eu queria fazer para minha vida. Foi então que decidi o curso da faculdade. Também escolhi a licenciatura por uma questão de me abrir mais possibilidades de trabalho e porque eu amo muito o fato de poder ser professora e ensinar. Acho que ser professor é um ato artístico e político também.

Larissa Araujo Aniceto – O sonho de chegar à faculdade iniciou com o apoio de familiares, amigos e professores, ao identificar que as oportunidades seriam abrangentes para quando eu iniciasse a graduação. A profissão que seguirei é em Letras para, futuramente, ser professora de Português, porque acredito no poder de transformação da educação para o Brasil. 

Larissa Araújo Aniceto, aprovada na FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) da USP

Karina Leal – Desde pequena fui incentivada aos estudos pelos meus pais, até para diminuir um problema de ansiedade decorrente de uma doença crônica de pele. Então,  a paixão pelo desenho e o esforço me levaram a escolher a  faculdade de Arquitetura e Urbanismo.

Quais as dificuldades para alcançar isso? 

Jakeline – As dificuldades foram ter que lidar com a falta de acesso à educação. Por ter estudado sempre em escola pública, eu  me vi numa defasagem gigante com os conteúdos do vestibular. A questão da pandemia também dificultou muito as aulas on-line, pois na minha casa eu tinha que me dividir em auxiliar meus pais, ajudar nas coisas de casa e estudar. Tinha dias que era bem difícil,  porque eles (meus pais) achavam que por eu estar em casa podia ser solicitada a todo tempo. Então,  foi bem complicado em alguns momentos. E uma das grandes dificuldades foi a persistência. Manter-me confiante durante todo o percurso de estudos,  porque vira e mexe eu sentia que não estava aprendendo nada e que não ia conseguir.  Chorava muito depois das aulas de exatas,  principalmente, porque tenho muita dificuldade e muitas vezes não conseguia entender. 

Larissa – Diversas dificuldades surgiram, tanto no âmbito socioeconômico como na questão de inteligência emocional. Mas todos foram amenizados com a minha rede de apoio.

Karina –  A rotina turbulenta de consultas médicas e os horários de trabalho dos meus pais trouxeram grande empecilho quanto à presença nas aulas. Porém,  essas dificuldades foram superadas pela minha família ter a noção da importância e das consequências positivas da educação.  

Como você chegou ao Já É ou o Já É chegou a você? 

Jakeline –  Uma amiga me indicou o Programa, pois sabia que eu estava querendo muito começar estudar,  mas que não tinha dinheiro para pagar um cursinho. Ela viu no instagram e lembrou de mim. No mesmo instante que ela me enviou a mensagem eu já fui correndo me inscrever.

Larissa – Conheci o Já É por meio de indicação de um colega e o Programa foi essencial para a minha aprovação, pois a equipe do Fundo Baobá é extraordinária e, com diversos incentivos, nos auxiliou a ingressar na universidade pública. 

Karina – O programa Já É chegou até mim por meio de uma prima que estava me ajudando a encontrar uma bolsa em um cursinho, já que procurava uma forma de diminuir o impacto da pandemia no meu ensino.

Karina Leal, aprovada na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP

Conte sobre sua emoção ao ver seu nome na lista de aprovação do vestibular? 

Jakeline – Eu fiquei muito emocionada, muito mesmo, principalmente porque além da aprovação eu fui aprovada em 8º lugar. Apesar de ser só um número, significou muito pra mim essa colocação. Também significou muito a minha nota na prova de habilidades, porque apesar de ter uma certa experiência na área eu ainda sou muito insegura e ter a maior nota em habilidades também significou muito para mim enquanto artista.

Larissa – A emoção de ser aprovada no vestibular foi semelhante à de ser aprovada no Já É: muita felicidade e orgulho de toda a trajetória que está sendo construída. 

Karina– Saber que eu fui aprovada no curso desejado e na primeira tentativa de entrar na USP trouxe muita felicidade para mim e para todas as pessoas que me apoiaram nessa jornada árdua, que teve como agravante a pandemia. Porém, com os diversos auxílios da Baobá esse problema conseguiu ser revertido.

O que você espera para seu futuro?

Jakeline – Eu espero aproveitar todas as oportunidades que a universidade me proporcionar. As aulas nem começaram e eu já tenho sentido como a universidade abre um leque gigante de possibilidades. Eu espero criar e estabelecer relações, fazer contatos, aprender muito. Eu espero conseguir fazer intercâmbio por meio da faculdade  e começar a dar aula. Quero muito trabalhar com crianças e adultos. Nossa, eu espero muita coisa. Está sendo um sonho muito grande. 

Larissa – Para o futuro, desejo uma sociedade mais igualitária e que mais jovens possam ter acesso à universidades de excelência, assim como desejo o meu sucesso profissional e realização pessoal como professora de Português.

Karina – Eu desejo que eu continue perseverante e otimista, conseguindo ultrapassar barreiras e consolidar uma boa carreira como arquiteta.

Trajetória do Edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça 

Comunidades quilombolas vulnerabilizadas pela pandemia da COVID-19 têm a oportunidade de fortalecer suas estratégias de resistência através de projetos selecionados em edital

Por Ingrid Ferreira

O edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça lançado no dia 01 (um) de outubro de 2021, foi pensado e realizado pelo Fundo Baobá para Equidade Racial, em parceria com a Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas). Com objetivo de apoiar organizações quilombolas nas áreas de sustentabilidade econômica e geração de renda, soberania e segurança alimentar e defesa dos direitos quilombolas, o edital integra a Aliança entre Fundos e vai financiar os projetos de 35 organizações. Cada uma receberá o valor de R$ 30.000 (trinta mil reais), perfazendo R$ 1.050.000 (Um milhão e cinquenta mil reais).

No dia 01 de fevereiro aconteceu o primeiro encontro com as organizações selecionadas no edital, o evento contou com a participação dos donatários, do Diretor Executivo do Fundo Baobá, Giovanni Harvey,  e da Diretora de Programa, Fernanda Lopes, membros e membras da equipe de Programa, Administrativo-Financeiro e de Comunicação.

Segundo entrevista com representantes que tiveram seus projetos aprovados nos três diferentes eixos é possível verificar que a iniciativa irá agregar conhecimento e experiências para as organizações quilombolas que estão tendo a oportunidade de participar pela primeira vez de um edital em parceria com o Fundo Baobá, contribuindo no conhecimento em gestão de projetos. Como diz José Gaspar, Sócio da Associação Quilombola de Boa Vista Rosário no estado do Maranhão, inscrito no eixo 1 (Recuperação e sustentabilidade econômica nas comunidades quilombolas) do edital.

José Brandão Costa Gaspar – Sócio da associação quilombola de Boa Vista Rosário – MA

E José ainda ressalta que: “A ideia do edital é de grande relevância pois as comunidades Quilombolas na grande maioria não têm oportunidades de receber nenhum incentivo e  necessitam de reconhecimento pelos trabalhos desenvolvidos que, na grande maioria, são trabalhos hereditários das comunidades remanescentes de quilombo. Além de que as comunidades  integrantes do projeto proposto buscam valorização, igualdade de gênero e independência financeira”.

O projeto que será desenvolvido pela Associação Quilombola de Boa Vista do Rosário (MA), tem como objetivo o desenvolvimento social, cultural, ambiental e econômico do território quilombola de Boa Vista e adjacências, fortalecendo a produção agroextrativista e artesanal das famílias quilombolas. A organização tem mais de 11 anos e destinará as ações a produção culinária de bolos, doces e biscoitos com produtos do agroextrativismo, além da produção de Biojóias tendo como base o Coco babaçu.

No eixo 2 (Promoção da soberania e segurança alimentar nas comunidades quilombolas),  Evânia  Antonia  de Oliveira, artesã  e professora em sua comunidade e representante da Associação Quilombola de Conceição das Crioulas – AQCC, de Salgueiro, no Pernambuco, fala que o edital vai apoiar no fortalecimento do trabalho coletivo, na geração de renda das pessoas que residem do território. Segundo a líder, ao se engajar no projeto as pessoas terão acesso a informações e novos aprendizados.

Evânia Antonia de Oliveira Alencar – Artesã e professora – Associação Quilombola de Conceição das Crioulas – AQCC, de Salgueiro (PE)

O projeto ao qual Evânia responde, tem o intuito de garantir a segurança alimentar e o fortalecimento da perspectiva agroecológica quilombola: sendo baseado na produção agrícola associada a práticas ecológicas, éticas, culturais, econômicas, políticas e sociais. A organização tem cerca de 11 anos de formalização e possui o intuito de fortalecer e qualificar a produção de horticultura em quintais produtivos.

Mais contribuições nos foram dadas por Tatiana Ramalho, vice presidente da Associação dos Remanescentes de Quilombos de Alto Alegre e Adjacências (inscrito no eixo 3 – Resiliência comunitária e defesa dos direitos quilombolas), Para Tatiana “o edital nos trouxe a possibilidade de pensar em uma atividade para fortalecimento da identidade quilombola, pois nesse momento pandêmico e no processo das vacinas percebemos em alguns momentos que algumas pessoas têm dúvidas sobre nossa história, sobre o ser quilombola. E nesse sentido, o projeto apoiado pelo edital vai nos trazer a possibilidade de fortalecer através das narrativas, vivências, saberes e sabores as potencialidades do quilombo”.

Tatiana Ramalho da Silva – Vice presidente da Associação dos Remanescentes de Quilombos de Alto Alegre e Adjacências – Na cidade Horizonte (CE)

O projeto tem o objetivo de promover a igualdade racial em direitos para a população quilombola de Alto Alegre, buscando fortalecer juntamente com as comunidades do estado do Ceará a luta pela titulação dos territórios, elaborar e sugerir políticas inclusive de ações afirmativas, promover trabalhos e estabelecer estratégias para proporcionar desenvolvimento sócio econômico, educacional e cultural, além de proteção ao meio ambiente, aos saberes e fazeres quilombolas da comunidade, combatendo as ações racistas e discriminatórias. 

A organização possui mais de 11 anos e tem como proposta fortalecer a identidade quilombola com memórias, histórias, saberes, fazeres e sabores ancestrais, colocando as práticas que fortalecem as raízes africanas e afro-brasileiras; para além das especificidades que é de utilizar de rodas de conversas que ocorrem na comunidade para alcançar os objetivos citados acima.

O Fundo Baobá, o Fundo Brasil de Direitos Humanos e  o Fundo Casa Socioambiental que, juntos, constituem a Aliança entre Fundos, atuam em prol da justiça racial, justiça social e justiça ambiental. As ações da Aliança são financiadas pela Fundação Interamericana (IAF).  Os três, com editais independentes, têm o intuito de contribuir na redução dos impactos que as crises sanitária e econômica ocasionam nos povos indígenas, comunidades quilombolas e outros povos tradicionais mais vulnerabilizados pela pandemia da COVID-19. 

Primeiro Encontro com Organizações Selecionadas no edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça

O evento online contou com a participação de lideranças quilombolas de todo o Brasil.

Por Ingrid Ferreira

No dia 01 de fevereiro aconteceu o primeiro encontro com as organizações selecionadas no edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça, lançado pelo Fundo Baobá para Equidade Racial em parceria com a Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) e com apoio da Fundação Interamerica (IAF). O encontro teve inicio com uma apresentação geral das pessoas presentes. Representantes das organizações selecionadas tiveram espaço para falar sobre suas funções e sobre os projetos que serão apoiados pelo Baobá.

O edital foi lançado no dia 01 de outubro de 2021, e tem como objetivo apoiar iniciativas de organizações quilombolas para promover a sustentabilidade econômica nas comunidades, a geração de renda, a soberania e a segurança alimentar, além da defesa  dos direitos quilombolas.

A premissa do edital é apoiar, ao longo de 2022, organizações lideradas e constituídas por quilombolas. Foram selecionadas 35 (trinta e cinco) iniciativas, que vão receber aporte financeiro de R$ 30.000 (trinta mil reais), perfazendo R$ 1.050.000 (Um milhão e cinquenta mil reais). Além disso, as organizações selecionadas contarão com investimentos indiretos por meio de assessoria e apoio técnico visando seu fortalecimento institucional.

Dentre os presentes, além dos donatários do edital, estavam o Diretor Executivo, Giovanni Harvey e a Diretora de Programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes, membros e membras da equipe de Programa, Administrativo-Financeiro e de Comunicação. O encontro teve início com todos os participantes apresentando-se, sendo que os representantes das organizações selecionadas tiveram espaço para falar de suas funções e informações a respeito dos projetos que serão apoiados pelo Baobá.

Das propostas selecionadas 23 encontram-se na região Nordeste do Brasil, 7 no Sudeste, 2 no Centro-Oeste, 2 no Sul e 1 no Norte; sendo que, o eixo 1 de Recuperação e Sustentabilidade Econômica corresponde a 54% dos projetos inscritos. No eixo 2 de Soberania e Segurança Alimentar concentra-se 34% e no eixo 3, que é de Resiliência e Defesa de Direitos 12%. A maioria das organizações tem suas diretorias compostas por mulheres quilombolas cis ou trans, e há um certo equilíbrio de gerações, varias diretorias tem pessoas adultas e jovens.

A Diretora de Programa Fernanda Lopes falou sobre a importância das conexões, parcerias com as organizações e destacou o quão cara para o movimento negro e para o Baobá é a narrativa de resistência, e de apoio à ação, o que coincidiu profundamente com o depoimento dos donatários: muitos declararam que esta é a primeira vez que participam de um edital de apoio financeiro para seus quilombos. 

Em sua finalização, o evento contou com microfones abertos, para que os representantes e integrantes das organizações selecionadas pudessem expor suas dúvidas. Após dúvidas sanadas, Fernanda Lopes relembrou as regras e o passo a passo de como o edital irá transcorrer. Ela destacou que, ainda em fevereiro, terá inicio a jornada formativa e, em seguida, as organizações irão assinar o contrato e receber a primeira parcela.

Diretor Executivo do Baobá faz encontro com a Associação Brasileira de Bancos 

Aproximação com organizações do mercado financeiro é importante para a viabilização de projetos futuros do fundo na área social 

Giovanni Harvey deixou a presidência do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá para, no dia 9 de dezembro e em substituição a Selma Moreira, assumir a Diretoria Executiva.  Homem com forte experiência na administração pública e na administração privada, uma de suas atribuições é estabelecer relações com o mercado e, a partir delas, alcançar os investimentos que possibilitam ao Baobá elaborar projetos e destinar recursos para os mesmos, a partir de seus donatários. 

Um dos primeiros grandes desafios de Harvey começou em um encontro com membros e membras da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), entidade que representa os interesses de bancos de controle nacional e estrangeiro, financeiras, cooperativas, instituições de pagamento, sociedades de crédito privado, sociedades de empréstimo pessoal e fintechs. 

O encontro, para o qual Giovanni Harvey foi convidado, ocorreu de forma virtual, e aconteceu de forma muito objetiva: 30 minutos no total. Nesse tempo,  Harvey fez a apresentação do Fundo Baobá, falou da importância de alcançar o suporte que poderá ser dado por algumas das organizações que a Associação Brasileira de Bancos congrega.  “Eu quero que o Baobá seja o fundo com a melhor performance. Mas acho importante que  outras instituições também façam o investimento no trabalho pela equidade racial”, afirmou a seus interlocutores. 

Harvey usou da contundência para fazer um esclarecimento aos representantes da Associação Brasileira de Bancos. A equidade racial que é buscada pelo Fundo Baobá não é uma missão só do povo preto.  “A desigualdade racial não é um problema só de nós, as pessoas negras, é de todas as outras. As instituições têm que ter esse compromisso também”, afirmou.

Após o encontro, representantes da ABBC afirmaram que o que foi exposto por Giovanni Harvey como objetivos do Fundo Baobá na busca por parcerias e oportunidades no mercado vêm ao encontro das diretrizes de atuação da associação. 

Edital Negros, Negócios e Alimentação: Confira a lista com os classificados da primeira etapa 

O Fundo Baobá para Equidade Racial divulga hoje (terça, 08) a lista de propostas aprovadas para a 2a fase do processo seletivo do edital Negros, Negócios e Alimentação. O edital é específico para a região metropolitana de Recife e foi lançado na segunda quinzena de novembro de 2021, com apoio da General Mills. 

O objetivo do edital Negros, Negócios e Alimentação é promover a recuperação econômica de negócios voltados para o ramo da gastronomia e, ao mesmo tempo, fortalecer as e os proprietários negros ou negras em sua atuação. A sustentabilidade de um negócio depende de fatores como planejamento, gestão, inovação, parcerias e outros. Porém, para que isso seja atingido, também é necessário promover o saber dentro dessas áreas e não apenas prover o apoio financeiro.

No que tange à promoção do saber, as pessoas negras  responsaveis pelos 12 (doze) negócios selecionados após as 3 (três) etapas classificatórias, irão participar de atividades formativas, além de mentorias e trocas de experiências com outros empreendedores e especialistas do setor da alimentação e do comércio. Cada um dos projetos receberá R$ 30 mil. 

Este edital voltado para o desenvolvimento econômico se mostra necessário frente à crise econômica, agravada durante este período de pandemia da Covid-19 que impactou, de forma negativa e severa, os negócios de alimentação comandados por negros e negras na região metropolitana de Recife,  composta pelas seguintes cidades: Jaboatão dos Guararapes, Olinda Paulista, Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe, Abreu de Lima, Ipojuca, São Lourenço da Mata, Igarassu, Moreno, Itapissuma, Ilha de Itamaracá e Araçoiaba.

Para que o edital fosse conhecido e para que houvesse maior adesão por empreendedoras e  empreendedores locais, além das ações de mobilização comunitária que estavam sendo realizadas nos territórios, uma missão do Fundo Baobá foi deslocada até Recife, onde permaneceu por cinco dias promovendo encontros com comerciantes locais que tinham dúvidas sobre a forma de participar do edital. Para mobilizar empreendedores e empreendedoras negros e negras, obter visibilidade na mídia com ampla divulgação do edital Negros, Negócios e Alimentação, o Fundo Baobá contou com apoio da Retruco, agência de jornalismo independente, idealizada por jovens jornalistas, cineastas  e designers de Pernambuco. Dúvidas dirimidas, foram recebidas 60 inscrições. Para a segunda etapa do processo seletivo foram classificadas 46 propostas. A lista pode ser acessada neste link

 

Perfil das Propostas

As propostas selecionadas estão concentradas em 8 dos 14 municípios da Grande Recife e envolvem, prioritariamente, negócios liderados por mulheres ou pessoas de gênero feminino (76,08%), com  escolaridade que varia do fundamental incompleto à pós-graduação. Os negócios estão mais na zona urbana (97,82%) e alguns funcionam desde a década de 1970.

 

Município dos projetos selecionados para a 2ª Fase do Edital:

  • Recife – 29 (63, 04%)
  • Olinda – 8 (17,39 %)
  • Paulista – 2 (4,34%)
  • São Lourenço da Mata – 2 (4,34%)
  • Ipojuca – 2 (4,34%)
  • Cabo de Santo Agostinho – 1 (2,17%)
  • Camaragibe – 1 (2,17%)
  • Jaboatão dos Guararapes – 1 (2,17%)

 

Atuação no ramo alimentício do(a) empreendedor(a)  selecionades para a 2ª Fase do Edital:

  • Bares – 3 (6,52%)
  • Buffet, comida para festas e outros eventos – 7 (15,21%)
  • Comida por encomenda ou para entrega (delivery) – 25 (54, 34%)
  • Food trucks – 1 (2,17%)
  • Restaurantes – 7 (15,21%)
  • Delivery e na feira de orgânicos – 1 (2,17%)
  • Tapiocaria itinerante – 1 (2,17%)
  • Doceria e delicatessen – 1 (2,17%)

 

Próximas listas classificatórias

Seguindo o que determina o cronograma do edital Negros, Negócios e Alimentação, a lista com os classificados na segunda etapa será divulgada no dia 10 de março de 2022 após as 19 horas. A lista final, por sua vez, sairá em 31 de março, também após as 19 horas

Para acompanhar todas as atualizações e novidades do Edital Negros, Negócios e Alimentação, clique aqui.

Caso Moïse Kabagambe: “A dor negra não gera empatia no imaginário nacional”

Por  Wagner Prado

A República Democrática do Congo é um país localizado no centro da África e entrou no imaginário da população brasileira da forma mais bizarra em 24 de janeiro de 2022. Naquele dia, o imigrante congolês refugiado Moïse Kabagambe foi morto por espancamento nas dependências do quiosque Tropicália, na praia da Barra da Tijuca. Moïse foi espancado após ter ido cobrar o pagamento por um serviço que havia prestado. 

Moïse Kabagambe saiu da República Democrática do Congo, um país convulsionado por guerras civis onde chacinas são algo frequentes. O homem jovem, cuja vida foi ceifada, chegou ao país há oito anos. A família veio buscar paz e tranquilidade. Encontrou a tragédia. Entre 2009 e 2019, 333.330 pessoas entre 15 e 29 anos foram mortas no Brasil. A maioria, homens negros e jovens. Os dados estão no Atlas da Violência 2021.  

Em maio de 2021, o Fundo Baobá para Equidade Racial lançou  o edital Vidas Negras, Dignidade e JustiçaO intuito do edital é apoiar entidades negras que atuem no enfrentamento do racismo e incorreções que ocorrem dentro do sistema de Justiça Criminal no Brasil.

O Caso Moïse está mobilizando a comunidade negra. Pelo menos três das maiores capitais brasileiras vão realizar manifestações no sábado, 5 de fevereiro: Belo Horizonte. Rio de Janeiro e São Paulo.  

Felipe Freitas, professor do Programa de Pós Graduação em Direito Constitucional do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) e membro do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá,  acompanha a equipe executiva na implementação do edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça,  dá nessa entrevista seu posicionamento sobre mais um assassinato de um homem negro no Brasil. 

O caso pode ser tipificado como crime de racismo? Por quê?

Felipe Freitas – É evidente que estamos diante de um caso de racismo. Do ponto de vista jurídico,  é preciso apurar o que foi dito para saber se a situação pode ou não ser enquadrada no tipo penal de racismo previsto na lei. Todavia, do ponto de vista político, não resta dúvida de que o caso está relacionado ao fato de Moïse ser um homem negro.

Só o racismo é capaz de normalizar práticas tão cruéis e violentas quanto estas. A forma pela qual aquele jovem foi tratado é uma expressão dramática de como a sociedade brasileira costuma tratar gente negra. Tratam-nos como lixo, como coisa que se descarta e se mata na porrada,  como têm dito, inclusive, os familiares de Moïse em declarações  muito lúcidas  prestadas à imprensa brasileira.

Na entrevista concedida ao jornal O Globo, a mãe de Moïse dá a intepretação correta dos fatos: “Eles mataram o meu filho porque ele era negro, porque era africano”, disse  Lotsove Lolo Lavy Ivone.

O fato de ser um cidadão negro, estrangeiro, dá mais visibilidade ao caso do que quando a vítima é negra e brasileira, como o João Alberto Freitas?

Felipe Freitas – O fato de ser estrangeiro adiciona complexidade à situação. Além do racismo temos também uma brutal expressão de xenofobia no caso, de modo que estamos falando aí de violências que se sobrepõem para produzir mais sofrimento e morte.

Não acho produtivo discutir qual morte gerou maior ou menor comoção (pensando nos casos de Beto Freitas, morto por espancamento em novembro de 2020,  ou Moïse Kabagambe). O que me parece central é pensar como tanto na violência praticada contra um negro brasileiro quanto na violência contra um negro estrangeiro há um regime de invisibilidade que impede o debate público sobre o tema e que limita a extensão do luto imposto ao país. 

Quem se recorda de Ágatha Vitória Sales Félix, 8 anos, alvejada por um disparo efetuado pela Polícia Militar na comunidade da Fazendinha, Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro em 2019? Quem lembra do nome dos 12 jovens mortos pela Polícia Militar da Bahia, em 2015, na conhecida Chacina do Cabula? Quem se recorda da Chacina da Condor, ocorrida em Belém, no Pará, no ano de 2017, quando cinco pessoas foram mortas e 14 pessoas ficaram feridas após a ação de um grupo de matadores profissionais?

São casos que nos revelam, de modo muito cruel, que a vida negra vale muito pouco no Brasil e que chacinas, massacres, linchamentos e execuções de corpos negros não são capazes sequer de impor momentos de luto nacional. Os corpos seguem no chão e o país continua funcionando, ou melhor, é como se o próprio funcionamento das instituições e dos seus arranjos com o poder privado se alimentasse destas violências.

A comoção não passa de uma ou duas semanas de matérias na imprensa e atos promovidos solitariamente pelo movimento negro. Não há uma sensibilidade social coletiva e ampla em torno destas mortes. A dor negra não gera empatia no imaginário nacional e o Brasil passa a contar os dias para que a próxima tragédia seja registrada. É algo enlouquecedor.

Manifestações públicas de protesto, como as que estão programadas para sábado no RJ e em SP, são capazes de mudar esse estado de coisas?

Felipe Freitas – É evidente que tem de haver manifestação. Não é possível admitir que morramos em silêncio ou que nossos corpos caídos no chão sejam esquecidos como matéria sem nome. É preciso nomear a violência, registrar a história de cada vítima, inscrever nas ruas demonstrações de repúdio que possam desarticular o pacto de silêncio instituído pelo poder branco em relação à morte negra no Brasil.

E, neste sentido, acho que as manifestações não podem se limitar às meras demandas judiciais. Não basta exigir que haja investigação e que os responsáveis pela morte de Moïse Kabagambe sejam punidos, ainda que esse seja um primeiro passo fundamental. Todavia, é preciso que se ponha em debate todo o sistema que produz essa violência e que autoriza cenas como esta. Como se produz uma política de memória que permita que este fato não seja esquecido? Como fazer com que, na geografia carioca, se inscrevam registros que não permitam que alguém passe por aquele lugar e não saiba que ali uma pessoa negra, congolesa, trabalhadora foi espancada até a morte na suposta vigência do Estado Democrático de Direito?

É preciso debater como deixar exposto nas cidades os registros de que absurdos aconteceram e, ao mesmo tempo, afirmar que não vamos deixar que isso aconteça novamente. Penso que as manifestações políticas precisam fazer com que isso aconteça.

Quem fiscaliza as condições de trabalho em barracas como essa em que Moïse trabalhava? Como funciona a expedição de alvarás para estes estabelecimentos? Por que ninguém fez nada para impedir aquele linchamento? Por que a guarda civil não interveio? Por que a polícia não chegou? Por que o Estado não assegurou condições dignas de sobrevivência para essa família de refugiados? Por que mortes como essa não ocupam o centro das preocupações nacionais? Por que o governo brasileiro não respondeu às várias solicitações de informação apresentadas pela Embaixada do Congo sobre a morte de outros congoleses nos anos anteriores?

São muitas perguntas que permanecem sem qualquer resposta efetiva por parte dos governos, das instituições públicas e do conjunto da sociedade. Penso que essa deve ser a pauta das manifestações: indagar sobre o estado de coisas que produz a violência racial

Acontecimentos como esse estão ligados à falta de investimentos em Educação, Trabalho e Saúde no Brasil?

Felipe Freitas – Naturalmente que um absurdo como este não decorre de uma ou outra coisa isoladamente. Há sempre vários elementos se retroalimentando no âmbito de um país racista e desigual. Três aspectos me parecem importantes de serem ressaltados no caso da morte de Moïse: a falta de políticas de apoio aos refugiados no Brasil, a precariedade nas relações de trabalho naquela região de comércio na orla do Rio e a indiferença das pessoas que circulavam naquela região diante de uma pessoa negra sendo executada a pauladas.

Foram 20 minutos de espancamento, provavelmente após duras ofensas verbais, e ninguém interveio para parar as agressões ou nenhum agente público aproximou-se do fato para evitar que a tragédia acontecesse.

Além disso, merece destaque também o relato que circulou na imprensa de que alguns daqueles trabalhadores vivem em situação de trabalho tão abusiva que passam a noite ali mesmo na região da praia porque não têm condições de voltar para casa após a extenuante jornada. Ou seja, são vários elementos que dão conta de um quadro estrutural de violência,  de omissão do poder público.

A quase inexistência de políticos negros, homens e mulheres, nas esferas estadual e federal, torna inócua qualquer tentativa de que leis protetivas para os negros e punitivas para quem age contra negros sejam aprovadas?

Felipe Freitas – A ausência de pessoas negras nos espaços de decisão política é um entrave central da democracia brasileira. Não há democracia enquanto o sistema de justiça, o executivo e o legislativo não representarem a pluralidade racial da sociedade brasileira. No entanto, é muito oneroso pensar que negras e negros precisam estar nos espaços de decisão para viabilizar que as decisões públicas operem para combater o racismo e proteger a vida de mulheres e homens negros; a vida de pessoas negras.

É preciso que os agentes públicos (independentemente do pertencimento racial) aprendam a produzir decisões em favor da justiça e da igualdade racial. É óbvio que é fundamental ampliar radicalmente o número de negras e negros nos espaços de poder,  mas não podemos esperar que estas pessoas negras ingressem e ascendam nas instituições para que se adotem medidas de enfrentamento ao racismo. Simultaneamente às políticas para democratização do acesso a estes espaços é necessário que as pessoas brancas assumam suas responsabilidades e ajam para garantir direitos para todas e todos.

Dignidade e Justiça

O edital Vidas Negras: Dignidade e Justiça é uma oportunidade para a população negra fortalecer estratégias de ativismo, resistência e resiliência frente às injustiças raciais recorrentes, envolvendo e engajando comunidades, vítimas, sobreviventes e aliados. 

As entidades selecionadas apresentaram propostas dentro desses quatro eixos: 

a) Enfrentamento à violência racial sistêmica; b) Proteção comunitária e promoção da equidade racial; c) Enfrentamento ao encarceramento em massa entre adultos e jovens negros e redução da idade penal para adolescentes: d) Reparação para vítimas e sobreviventes de injustiças criminais com viés racial.

Fundo Baobá na Imprensa em Dezembro

A organização teve participação em retrospectivas do ano de 2021

Por Ingrid Ferreira

Em dezembro de 2021, o Fundo Baobá para Equidade Racial foi destaque na mídia com o edital Negros, Negócios e Alimentação. Os sites Prosas, Pernambuco Transparente, Negrê, Cidades do Meu Brasil e Rede Filantropia fizeram matérias falando sobre a iniciativa, que teve as suas inscrições prorrogadas até o dia 27 de janeiro de 2022, além da participação da Diretora de Programa do Baobá, Fernanda Lopes, que deu entrevista para a Rádio Folha falando sobre o edital.

Divulgação do Edital Negros, Negócios e Alimentação

Dezembro também é o mês das famosas retrospectivas, e o Fundo Baobá, que faz parte da história de inúmeras pessoas e empresas, com certeza não ficaria fora desse momento de lembranças. A organização foi citada na matéria Retrospectiva 2021 do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), no artigo Celebrating Bright Spots and Joyous Moments of 2021, da Imaginable Futures, organização parceira do Fundo Baobá no Programa Primeira Infância, lançado em 2020. E, por fim, na Retrospectiva da Abayomi no portal  Abayomi – Coletivo de Mulheres Negras na Paraíba, organização apoiada no Programa de Aceleração e Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco.

O site Isto é Dinheiro publicou no dia 10 de dezembro uma nota sobre o Giving Circle (Círculo de Doação), criado como parte das comemorações de 10 anos do Fundo Baobá. O projeto tem como parceiro o The Wise Fund. Seu propósito é  criar uma iniciativa em que pessoas negras liderem redes de doação para financiar novos editais do Fundo em apoio a iniciativas de organizações, coletivos e lideranças negras. A Rádio Nova Manhã, também entrevistou a Diretora de Programa, Fernanda Lopes, que falou novamente sobre os 10 anos de Baobá e como funcionam os projetos dos editais.

O Estadão e o Money Times publicaram a matéria ‘Não fazer nada é perpetuar os privilégios brancos e o racismo’, em que o Fundo Baobá é citado como um dos parceiros do projeto Mover. Enquanto isso, o Fundo Casa também fez menção ao  Fundo Baobá em sua matéria Fundo Casa fecha o ano de 2021 com mais de R$ 17 milhões doados,  no qual cita a inédita junção que deu origem à Aliança entre Fundos, união entre o Fundo Baobá para Equidade Racial, Fundo Brasil de Direitos Humanos e Fundo Casa Socioambiental. O portal Página 22  comenta a parceria com o Fundo Baobá na criação de empregos, bolsas de estudos e programas de mentorias com as comunidades para a valorização da diversidade social.

Apoiadas do Fundo Baobá

A página oficial da  Universidade Federal do Tocantins – Ministério da Educação na internet, publicou a matéria Professora da UFT recebe prêmio nacional por artigo científico, que tem como destaque a professora Solange Nascimento, coordenadora de Ações Afirmativas da UFT, que foi premiada nacionalmente pelo seu artigo científico selecionado no edital Chamada Para Artigos – Filantropia para Promoção da Equidade Racial no Brasil no Contexto Pós-pandemia da Covid-19, promovido pelo Fundo Baobá para Equidade Racial em parceria com a Fundação Ford.

O site Desenvolvimento Rural – SDR publicou a matéria Comunidade quilombola de Campo Formoso acessa edital que vai fortalecer ações do Pró-Semiárido. Nela,  a Associação Comunitária Quilombola Patos III, em Campo Formoso (BA), comemora a seleção do projeto “Quintais produtivos: fortalecimento de iniciativas agroecológicas realizadas por jovens e mulheres”, escrito pela Agente Comunitária Rural (ACR), Aliete Alves, juntamente com dois outros membros da associação, Antônio Marcos e William,  no edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça, do Baobá, em parceria com a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq).

Coletiva Negras que Movem – Portal Geledés

Na coluna Coletiva Negras que Movem, do Portal Geledés, o texto ‘Rendendo o assunto sobre: como ser “arrimo” de família sem se comprometer financeiramente?’, escrito por Larissa Amorim Borges, fala sobre as responsabilidades que são destinadas às pessoas negras em suas famílias de forma histórica. Trazendo pontos que permeiam as questões do campo psicológico e emocional, a autora fala da necessidade de as pessoas pretas se cuidarem.

Banco BV no Projeto de Recuperação Econômica

Tiago Soares, gerente executivo de sustentabilidade e patrocínios no BV  fala sobre a participação da instituição no Programa de Recuperação Econômica.

Por Ingrid Ferreira

O Programa de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores (as) Negros (as), criado em 2020 durante a pandemia, foi uma ferramenta de urgência que teve como objetivo apoiar nano e pequenos empreendedores(as) negros(as) que tiveram os seus negócios afetados pela pandemia da covid-19, em especial pelo lockdown que ocorreu na tentativa de barrar a disseminação do vírus.

Essa iniciativa do Fundo Baobá para Equidade Racial contou com apoio da Coca-Cola Foundation, Instituto Coca-Cola Brasil, Banco BV e Instituto Votorantim. Para além do apoio financeiro de R$30 mil por iniciativa (R$ 10 mil por empreendedor/a), as e os participantes tiveram formações sobre empreendedorismo, gestão e planejamento dos negócios, controle de finanças, marketing, precificação, entre outros temas, para auxiliá-los na administração de seus negócios. Na matéria Fundo Baobá divulga a Avaliação do Programa de Recuperação Econômica  de Pequenos Negócios de Empreendedores(as) Negros(as) é possível ver os resultados alcançados pelo Programa. 

Pensando em compreender um pouco mais a experiência das instituições que fazem o investimento social privado no segundo ano em que o mundo ainda se encontra nesta grave pandemia, o Fundo Baobá entrevistou Tiago Soares, gerente executivo de sustentabilidade e patrocínios no Banco BV, para compreender a visão de impacto adotada pelo BV nesta parceria para apoiar empreendedoras negras e empreendedores negros e estimular pequenos arranjos produtivos locais em todo o país.

Tiago Soares – Gerente Executivo de Sustentabilidade e Patrocínios no Banco BV

Ao ser questionado sobre o motivo do apoio do BV ao edital de Recuperação Econômica de Pequenos Negócios de Empreendedores Negros e Negras do Fundo Baobá, Tiago diz: “O propósito do BV é levar leveza para a vida financeira das pessoas. Por isso, entende que seu papel é ser viabilizador do sucesso de empreendedores que, com a ajuda do Baobá, estão oferecendo informação e subsídio e podem promover um país com menos desigualdade”. 

Tiago Soares também explicou que, recentemente, o BV anunciou publicamente o  projeto que carrega o nome: “Compromissos para um futuro mais leve 2030”. Segundo ele, esse projeto encontra-se alinhado aos pilares ESG (sigla usada para se referir às melhores práticas ambientais, sociais e de governança de um negócio), em que a instituição compromete-se com metas de inclusão social.

De forma muito responsável, o gerente executivo  faz uma ressalva valiosa ao afirmar que “a parceria do BV com a Baobá tem o poder de impactar a vida de muitas pessoas, não apenas dos empreendedores, mas de toda a comunidade de pessoas ao redor. O apoio vai auxiliar os empreendedores a ampliarem seus negócios, e em um futuro próximo geram novos empregos nas comunidades onde atuam”. Tiago acredita que o aporte financeiro oferecido no Programa de Recuperação Econômica tem esse intuito, de apoiar pessoas negras para que elas também possam apoiar as pessoas à sua volta e assim criar  uma corrente em que um possa apoiar o outro.

Além da parceria com o Fundo Baobá, o BV também conta com outro projeto, lançado no ano de 2021,  o Edital Cultural , que tem como objetivo selecionar projetos que fomentem as produções culturais criadas e realizadas por mulheres negras de todo o Brasil: “O edital prioriza iniciativas das regiões norte e nordeste a fim de, não só ampliar as possibilidades de acesso a uma cultura mais representativa e diversa, mas também produzir desenvolvimento social por meio da produção e acesso à cultura de e para populações em situação de vulnerabilidade social e econômica”, afirma. 

Ainda sobre o Programa de Recuperação Econômica, Tiago Soares finaliza falando sobre como o edital do Fundo Baobá se alinha aos  ideais do BV: “Tanto pelo fato de que, cada projeto apoiado, precisava ter pelo menos 3 pessoas empreendedoras envolvidas, reforçando assim alguns dos princípios do BV, como o de ser correto e parceiro. Além de atender à  pauta de dar visibilidade a pessoas negras”, finaliza.