Heranças ancestrais e conhecimentos técnicos, uma potente união pela manutenção da saúde mental das comunidades quilombolas da Amazônia

Por Anna Suav*  e Tamara Mesquita*

 

Na construção do bem-viver e no movimento de luta pela dignidade social, é importante considerarmos as particularidades, ainda que façamos parte de um coletivo. Ao se pensar em saúde mental quilombola no território da Amazônia, é fundamental abrirmos o olhar para as heranças ancestrais, os saberes tradicionais de quem é descendente da diáspora afroamazônida e como esse rico contexto, totalmente abraçado pelo território, é visceral no firmamento e na manutenção do propósito de vida de quem o ocupa. 

Aliado a esse propósito e na busca de compreender como contribuir com essas particularidades, é que o projeto Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência, uma realização do Baobá – Fundo para Equidade Racial, com apoio da Johnson & Johnson, chegou ao seu terceiro encontro na Região do Baixo Tocantins, nas comunidades de Igarapé Preto à Baixinha, passando por Baião e Oeiras, no Estado do Pará. 

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no território brasileiro há  5.972 comunidades quilombolas, sendo o Pará um dos quatro estados com maior contingente populacional, com 42.439 pessoas. Com a pandemia da Covid-19, de acordo com a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), o Pará registrou o maior número de mortes pelo vírus. Tais dados nos convocam a contribuir com essas comunidades, uma vez que elas ainda estão no processo de se recuperar e reverter as diversas consequências a que foram expostas durante esse cenário.  

Diante disso, o projeto Saúde Mental Quilombola chega com sensibilidade e equipado de uma equipe multidisciplinar, da Enfermagem ao Direito, bastante interessada em buscar soluções junto das comunidades e considerando os seus modos de operação. Uma vez identificados os problemas, a vivência no território traz profundidade e a mostra de como as tecnologias ancestrais associadas a novos conhecimentos e métodos podem contribuir na apresentação de diferentes perspectivas e no reforço identitário, extremamente potente no que tange o estímulo à saúde mental.

Para Vanessa Souza, moradora da Comunidade de França, “O projeto trouxe conhecimento, porque quando a pessoa não sabe da sua origem, ela fica sem identidade, a gente tem muita dificuldade de ser vista e ouvida, mas ao falarmos, mostramos que existimos, que somos cidadãos”. Essa dificuldade de se enxergar para se reconhecer, uma das violências promovidas pelo racismo, é algo que faz parte da história das comunidades quilombolas, afetando a noção de pertencimento.  

É preciso negritar que os atravessamentos raciais e territoriais são fundamentais ao falarmos de comunidades quilombolas. Que tem acesso aos direitos básicos? Entender os fenômenos dentro de cada espaço é fundamental para enxergar que os rios, as ruas, os ramais* são os caminhos para que as informações cheguem nessas comunidades. “A dificuldade é como a de sair daqui para vender nossos produtos, aí também tem a dificuldade da saúde, é difícil sair daqui com ramal assim, é ruim para ir no posto”, explica Márcia Martins, Coordenadora Samba de Cacete e conselheira fiscal da Associação das Comunidades Remanescente de Quilombo de Igarapé Preto (ARQIB), sobre dificuldades de locomoção, principalmente durante o inverno amazônico, e da ausência de atenção do poder público que não entende as dificuldades locais e que não fornece uma equipe múltipla nos postos de atendimento.  

E é na necessidade que se reforça o originário, a importância do tradicional. Em todas as atividades desenvolvidas pela equipe de saúde que foram executadas nas comunidades, a equipe pode observar que as mulheres quilombolas desenvolvem suas ciências diante de um enfrentamento, principalmente em termos de saúde pela falta de políticas públicas, a precariedade de exames, mostra de resultados e o acesso à consultas no território. 

É nesse contexto que as heranças ancestrais, aliadas a conhecimentos técnicos, se tornam uma fórmula visando a sobrevivência. “As mulheres utilizam muito remédios caseiros para prevenção de algumas infecções, principalmente na região íntima, chás tradicionais como forma de amenizar os agravos de alguma patologia, de alguma doença, e isso é de uma sabedoria enorme. Elas até nos passaram uma lista com todos os chás que usam e pra quê servem, a equipe toda aprendeu!”, relata Fátima Carrera, integrante da equipe interdisciplinar na área de enfermagem do projeto. A enfermeira também destaca o preciosimo do trabalho das parteiras no acompanhamento das mulheres no pré-natal, e das benzedeiras que, segundo ela, “associam o medicamento que o médico passa às rezas e aos chás. Elas fazem essa junção dos saberes tradicionais com a ciência contemporânea”

Os determinantes sociais são essenciais para entendermos da saúde quilombola, das dificuldades do cuidado, e das dificuldades de ser quilombola na Amazônia. No Pará, por exemplo, estão ativos apenas 91 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), segundo a Organização Mundial da Saúde, um número pequeno para oferecer estrutura e atenção necessária à população que carece.  

Tendo em vista essas lacunas, é que as comunidades subvertem as lógicas de descaso e atuam na própria costura de uma rede de afeto e de cuidados entre si, já que sabem das suas doenças, uma vez que lidam diariamente com casos envolvendo tentativas de suicídio e o bullying, o que exige uma atuação especializada para o redirecionamento da situação. Segundo Sandra Maria, parteira e conselheira fiscal da ARQIB, “A atuação do projeto é muito importante, devido às pessoas que têm dificuldades e precisam de ajuda, ter esse suporte gera uma mudança em nós”. 

A saúde mental quilombola merece estar no foco das atenções, as comunidades precisam estar munidas de instrumentos e conhecimentos que permitam e promovam de forma satisfatória a sua resistência, garantindo assim o repasse de um legado saudável às gerações vindouras. O Fundo Baobá, em conjunto com a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) e a Coordenação Estadual das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Pará – MALUNGU, seguem juntos e de forma contínua no movimento de proteção às comunidades quilombolas da Amazônia.  

¹ Anna Suav é MC, poeta, jornalista, produtora cultural e audiovisual. Hoje integra a equipe da Negritar Filmes e Produções, na função de coordenadora de comunicação. 
² Tamara Mesquita é Jornalista, produtora audiovisual, educadora e comunicadora popular. Hoje integra a equipe da Negritar Filmes e Produções, na função de coordenadora de produção.
Negritar Filmes e Produções é uma produtora de impacto social, composta por pessoas negras.

*Ramal é uma entrada, um caminho, geralmente uma pequena estrada de terra. 




Luiz Alberto Oliveira Gonçalves: Um Legado de Luta pela Equidade Racial

O Conselho Deliberativo do Baobá – Fundo para a Equidade Racial, com pesar, lamenta o falecimento do Professor Luiz Alberto Oliveira Gonçalves.

O Professor Luiz Alberto foi um dos fundadores da nossa instituição e, por mais de uma década, integrou os principais órgãos de governança do Fundo Baobá.

Foi um dos mais brilhantes intelectuais da sua geração, introduzindo o debate sobre as relações étnico raciais na Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, coordenou o Programa de Pós-graduação em Educação na mesma universidade e foi Presidente do Comitê Científico do Centro de Estudos Africanos da UFMG.

Sua dissertação de mestrado, intitulada “O silêncio: um ritual pedagógico a favor da discriminação racial”, defendida e aprovada em 1985, se tornou referência no debate sobre o racismo no Brasil. Seu percurso acadêmico o levou a obter o Doutorado em Sociologia na prestigiada “École des Hautes Études en Sciences Sociales”, na França.

Luiz Alberto foi membro do Comitê Científico do Observatório Europeu da Violência Escolar, sediado em Bordeaux, e professor visitante na Universidade Agostinho Neto, em Angola. Também coordenou o Programa de Mestrado e de Doutorado em Educação na Universidade Onze de Novembro, no mesmo país. A relevância dos seus estudos, pesquisas e da sua atuação docente foram reconhecidos pela UFMG com a concessão do título de professor titular, no ano de 2015. 

Sua militância política no Movimento Negro Unificado – MNU é lembrada pela firmeza e pela coerência das teses que defendeu, além da liderança na realização de fóruns de discussões que embasaram a luta pela implementação das ações afirmativas no Brasil, especialmente no campo da educação.

A sua atuação na esfera pública inclui a participação no Conselho de Ciência e Tecnologia da Fundação Cultural Palmares – FCP e o exercício do cargo de Secretário Adjunto na Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República – SEPPIR/PR.

Neste momento de profunda tristeza, lembramos da dedicação com a qual Luiz Alberto abraçou a proposta de criar a nossa instituição, há quase 15 anos atrás. Ele participou, ao lado de Luiza Bairros, Sueli Carneiro, dentre outros e outras, do “Grupo Impulsor” que mobilizou o movimento negro e diversas instituições parceiras ao longo de 3 anos, cujo trabalho resultou no conceito que orienta a nossa atuação.

Seremos eternamente gratos ao Professor Luiz Alberto e expressamos as nossas condolências a sua família, aos seus amigos, aos seus alunos e a todas as pessoas que tiveram o privilégio de conhecer, conviver e aprender com Luiz Alberto Oliveira Gonçalves.

Que o seu legado continue a inspirar e a guiar todas as pessoas que lutam em prol da equidade racial no Brasil. 

 

Conselho Deliberativo do Baobá – Fundo para a Equidade Racial

Baobá participa do Fórum Interconselhos para elaboração de diretrizes orçamentárias para políticas públicas

  Por Wagner Prado

O Baobá – Fundo para Equidade Racial é uma das organizações da sociedade civil que fizeram parte da cerimônia de reedição do Fórum Interconselhos, evento que marca o início dos trabalhos de elaboração do Plano Plurianual Participativo (PPA), que define diretrizes e metas do governo para o período 2024 a 2027. O Fórum Interconselhos foi criado em 2011 e funcionou até 2017, quando foi interrompido. Sua retomada tem como objetivo promover maior participação da sociedade civil nas decisões sobre investimentos de recursos públicos. 

Essa medida atende a uma diretriz do governo federal que busca ouvir as demandas da sociedade em relação à alocação de recursos. A interrupção das atividades do Fórum impossibilitou essa escuta e sua retomada é considerada de extrema importância para a implementação de políticas públicas que atendam diretamente às necessidades da população.

Um dos representantes do governo federal na cerimônia foi o ministro Márcio Macedo, da Secretaria-Geral da Presidência da República. Ele falou sobre a importância da participação social na adoção de políticas públicas. “Participação e diálogo são as palavras-chave da Secretaria-Geral nesse processo de diálogo institucional permanente entre o Governo Federal e a sociedade civil”,  afirmou. 

A coordenadora de Administração e Finanças do Fundo Baobá, Hebe Silva, definiu a importância de a organização fazer parte do Fórum Interconselhos. “Este fórum é um veículo de escuta das demandas da sociedade civil. Foi uma oportunidade para colocarmos a questão racial na pauta de todos os debates e apresentar sugestões que direcionam as políticas públicas para reduzir os danos causados pelo racismo imperativo na sociedade brasileira”, disse. 

 

Fórum Interconselhos

O Fórum Interconselhos foi criado com a missão de reunir periodicamente representantes dos diversos conselhos nacionais e entidades representativas da sociedade civil para colaborarem na elaboração e no monitoramento da execução dos Planos Plurianuais (PPA).

Desde sua criação, foram realizados seis encontros como Fórum Interconselhos e três como Fórum Dialoga Brasil, até a interrupção do processo, em 2017. A partir de então, não houve mais encontros, e o PPA 2020–2023 foi elaborado sem participação social.

O Fórum Interconselhos foi premiado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2014. O prêmio United Nations Public Service Awards apontou a importância da iniciativa na contribuição para o Plano Plurianual no Brasil.

 

PPA Participativo

O PPA é uma das três leis orçamentárias do Brasil, ao lado da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) e da LOA (Lei Orçamentária Anual). É elaborado de quatro em quatro anos, sempre no primeiro ano e com vigência a partir do segundo ano de um mandato presidencial. Ele define os eixos, as diretrizes e os objetivos estratégicos do governo para o período e aponta os programas e metas que permitirão atingir esses objetivos. O PPA deve ser entregue ao Congresso até 31 de agosto do primeiro ano do mandato presidencial, juntamente com a Lei Orçamentária Anual.

O PPA do ciclo 2024-2027 voltará a ser construído com participação social, por meio de 27 plenárias estaduais (uma em cada unidade da federação), além de três fóruns interconselhos. Além dessas instâncias, nas quais a participação da sociedade se dará também por meio de entidades de representação, como conselhos, associações, sindicatos e ONGs, o PPA contará com uma plataforma digital aberta para acolher propostas de cada cidadã ou cidadão.

Documentário Corpos Invisíveis, de Quézia Lopes, estreia no próximo semestre

 Por Mariane Euzebio

O projeto, contemplado pelo edital Negras Potências, realizado pelo Fundo Baobá para Equidade Racial, em fevereiro de 2018, teve como objetivo apoiar soluções de impacto que contribuíssem para o empoderamento de meninas e mulheres negras e que ajudassem na visibilidade de agentes da sociedade civil que trabalham para redução das desigualdades raciais e sociais.

O tema é abordado no projeto Corpos Invisíveis, de Quézia Lopes, um documentário construído a partir da experiência de onze mulheres que, imersas nas suas subjetividades, dividem conosco um pouco da sua humanidade, intimidade, afeto, empoderamento e ancestralidade. Além dos diversos tipos de violência de gênero ao qual foram expostas no decorrer das suas vidas. A ideia inicial parte das experiências individuais de Quézia juntamente com o incômodo da prevalência de mulheres negras nos piores índices de violência e violação de direitos. O documentário também responde à falta de representatividade de mulheres negras na mídia e no audiovisual brasileiro.

Créditos: Naira Soares / Pam Nogueira

Promover a equidade racial é combater arduamente um dos maiores problemas do país, o racismo estrutural, que diariamente mata nesse silêncio retratado por Quézia, em Corpos Invisíveis. Incidir o olhar para essas maiorias minorizadas é uma das metodologias para desorganizar as estruturas discriminatórias desse país e se comprometer com a resolução desse problema social complexo, onde a raça define quem vive e quem morre.

Quézia, que não tinha incentivo e nem perspectiva de políticas públicas que viabilizem projetos voltados para o audiovisual negro brasileiro, ao ser contemplada com o Edital Negras potências, pôde construir parte da sua subjetividade no decorrer desse processo. Segundo Quézia, a chamada do Edital Negras Potências, em 2018, foi um grande achado, pois proporcionou viabilidade naquele momento e tornou o longa-metragem possível. Além disso, ela relata a inconstância na continuidade de editais, o que é um quadro diário na política brasileira diante desse cenário desigual de editais de cultura de modo geral e os de cinema em especial, tanto em âmbito federal quanto estadual e municipal, o que torna a captação de recursos cada vez mais árdua e complexa.

“A gente fica sempre sem saber com qual edital contar para financiar um projeto, quando aplicar etc., se terá nova edição ou não, porque a falta de continuidade, de regularidade é generalizada, principalmente nos editais de políticas afirmativas”, relata Quézia.


Atualmente, a diretora e roteirista está num processo de apresentar o documentário a distribuidoras, salas de exibição e equipamentos culturais e já foi possível agendar sessões em alguns estados do Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, de onde é ou mora a maioria da equipe envolvida no filme. A previsão é que a estreia aconteça no segundo semestre deste ano, de 2023.

Para Hebe Silva, coordenadora de Administração e Finanças do Fundo Baobá para Equidade Racial, foi uma experiência de muitos desafios, pois foi possível entender as especificidades da produção de um filme. “Ao analisar a execução financeira de um projeto, nosso empenho é que nossos donatários se visualizem como gestores financeiros do recurso, que é de fato o que são. Gerir o recurso, prezar pela transparência e atingir a execução das atividades propostas”, afirma Hebe.

 

O projeto, num sentido amplo, deixa sua contribuição às gerações atuais e futuras ao visibilizar histórias, trajetórias e vivências de mulheres negras tão potentes.
Construir referenciais e boas representações das nossas e dos nossos na frente e por trás das telas é fundamental para o processo de cura e emancipação da população negra, que como bell hooks fala, é coletivo, não pode se dar apenas individualmente. “A população negra não é invisível; existe um esforço do sistema para inviabilizá-la. Cabe a nós, e a outros atores políticos responsáveis com a construção de uma sociedade justa, ampliar essas oportunidades”, relata Fernanda Lopes, diretora do Programa do Fundo Baobá.

Fundo Baobá para Equidade Racial marca presença no 12º Congresso GIFE – “Desafiando estruturas de desigualdades”.

 Por Mariane Euzebio

Entre os dias 12 e 14 de abril, o GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas – promoveu o congresso Desafiando estruturas de desigualdades, no Memorial da América Latina, em São Paulo. O congresso teve como objetivo aprofundar o debate sobre o Investimento Social Privado  (ISP), uma modalidade de contribuições financeiras feitas por instituições privadas para projetos com o objetivo de gerar mudanças positivas e duradouras para a sociedade.

O diretor executivo do Baobá – Fundo para Equidade Racial, Giovanni Harvey, e a diretora de Programa, Fernanda Lopes, estiveram presentes no evento, contribuindo com o debate.

Giovanni participou da mesa O investimento social está pronto para promover equidade racial? juntamente com Anielle Franco – Ministra da Igualdade Racial, Douglas Belchior – Fundador da Uneafro e Ricardo Henriques – Superintendente Executivo no Instituto Unibanco, mediada por Paula Miraglia – Diretora Geral do Nexo Jornal e da Gama Revista.

Giovanni afirma que há uma inclinação de empresas brancas em definir quais organizações e projetos merecem receber aportes, mas defende que é fundamental fomentar a autonomia do movimento negro em suas decisões. Ele ainda acrescenta:  “O movimento negro serviu para construir a visibilidade da causa, mas não serve pra ditar os critérios de como realizar a transformação.”

Fernanda Lopes esteve na mesa Democracia e Interseccionalidades de gênero, raça e clima, refletindo sobre quais premissas e estratégias precisam ser incorporadas para que a questão de gênero e suas interseccionalidades estejam presentes na agenda que busca fortalecer a democracia. Segundo ela “as pessoas e seus direitos são interdependentes, indivisíveis e inegociáveis”.

A presença do Fundo Baobá no evento reforça a importância de combater práticas que perpetuam desigualdades, discriminação e pobreza, entre outras questões urgentes.

Divulgada a lista final de organizações selecionadas pelo edital Educação em Tecnologia

Com o intuito de fornecer suporte a organizações e empresas negras que atuam no desenvolvimento e/ou expansão das habilidades técnicas de negros, negras e negres na área de tecnologia, o Baobá – Fundo para Equidade Racial, em parceria com o MOVER (Movimento pela Equidade Racial), lançou o Educação em Tecnologia. O objetivo do edital é ampliar o potencial de empregabilidade de pessoas negras nos setores público, privado e terceiro setor. Hoje, em 26 de abril, o Baobá anuncia as 5 organizações selecionadas.

Para conhecê-las, clique aqui.

Organizações de cinco estados brasileiros – Bahia, Ceará, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo – foram selecionadas por sua habilidade em elaborar e implementar programas de formação e qualificação profissional em áreas como gestão e segurança da informação, proteção de dados e privacidade, tecnologia da informação, monitoramento e controle de tecnologias, desenvolvimento, desenvolvimento de produtos analíticos e programação em diversas linguagens

Cada organização selecionada vai receber aportes que variam de R$ 250.000,00 a R$ 475.000,00, além de  assessoria e suporte técnico para desenvolvimento institucional. 

 

Sobre o Baobá – Fundo para Equidade Racial:

O Baobá – Fundo  para Equidade Racial é o primeiro e único fundo patrimonial dedicado, de forma exclusiva, à promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. Criado em 2011, o Baobá é uma organização sem fins lucrativos cujo objetivo é  mobilizar pessoas e recursos, no Brasil e no exterior, para apoiar projetos e iniciativas negras para o enfrentamento ao racismo e a promoção da equidade racial. 

Sobre o Mover: 

Com o objetivo de extinguir a desigualdade e o racismo no mercado de trabalho, um grupo de empresas com atuação em vários setores da economia juntou-se para criar ações de promoção da diversidade, da equidade e da inclusão. Esse foi o início do Mover (Movimento pela Equidade Racial), que atualmente agrupa 47 empresas que proporcionam postos de trabalho para 1,3 milhão de pessoas. 

21 de março: Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial

Por Ingrid Ferreira

Escolhida pela ONU (Organização das Nações Unidas), a data do dia 21 de março representa o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial. Nesse mesmo dia no ano de 1960 na cidade de Joanesburgo, na Africa do Sul, mais de 20 mil pessoas da comunidade negra africana marchavam em protesto contra a Lei do Passe, criada pelo Partido Nacional como uma das medidas racistas projetadas pelo Apartheid. No dia em questão as tropas militares do governo abriram fogo contra a população, matando quase 70 pessoas e ferindo cerca de 180. O fato é historicamente conhecido como o Massacre de Shaperville.

O Brasil não passou pelo Apartheid, mas na sociedade é evidente a influência do período escravocrata que marcou a sua formação como nação. Em pleno século XXI, as estatísticas brasileiras são alarmantes, como é possível ver nos dados apresentados pela Agência Brasil: “Foram 3.290 mortes em operações policiais em 2021 na Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo. Dessas, 2.154 vítimas (65%) eram negras – utilizando como referência o critério do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que considera negros a soma de pardos e pretos”.

A Lei 7.716 (Lei de Crime Racial) existe desde 1989, quando foi decretado como crime qualquer ação resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, mas só em 2023 foi que a Lei 14.532 foi sancionada e Injúria Racial também passou a ser considerada como crime de racismo. Como consta no site do Senado: “Enquanto o racismo é entendido como um crime contra a coletividade, a injúria é direcionada ao indivíduo”.

O Baobá – Fundo para Equidade Racial, procurando trabalhar em seus editais uma forma de mudar os direcionamentos sociais através dos projetos contemplados, contou com o Vidas Negras: Dignidade e Justiça, com foco em atuar pelo enfrentamento à violência racial sistêmica, proteção comunitária e promoção da equidade racial, enfrentamento ao encarceramento em massa entre adultos e jovens negros e redução da idade penal para adolescentes e reparação para vítimas e sobreviventes de injustiças criminais com viés racial. A discriminação,  ainda que seja um crime em lei, assola a vida da população negra em todos os campos, marginalizando grupos e indivíduos. 

Todo trabalho alcançado pelo Fundo Baobá, só se faz possível pelo caminho da filantropia, como no caso do edital Vidas Negras, mencionado acima, que foi apoiado pelo Google.Org. Todas as empresas que se colocam como apoiadoras de projetos em prol da comunidade negra provam o seu compromisso com a quebra da lógica escravocrata em que a sociedade foi construída, promovendo condições dignas, sociais e financeiras, para pessoas negras que passam a ter mais possibilidade de reconhecimento por seus méritos diante da ótica social, o que tende a quebrar as barreiras da discriminação racial que fazem a realidade de pessoas negras destoar da realidade sócioeconomica de pessoas brancas.

Dos valores que são agregados enquanto grantmaker, o Fundo,  além de aplicar recursos direto nos projetos, oferece assessoria técnica, psicológica e o acompanhamento durante todo o processo do edital. Seguindo a explicação do site Direção Cultura: “Grantmaking é a ação filantrópica voltada ao repasse de recursos financeiros, de forma estruturada, a iniciativas, projetos ou programas – sociais, ambientais, culturais ou científicos. 

O Fundo Baobá para equidade racial conta com fundo patrimonial em ampliação, o endowment. O endowment é uma fonte de financiamento de longo prazo composta por doações que apoiam a missão do Baobá. Anualmente, os rendimentos dessa conta são distribuídos para viabilizar as ações da organização em prol da equidade racial. Os rendimentos provenientes do endowment proporcionam à organização a liberdade e a agilidade necessárias para investir em ações consideradas fundamentais para a promoção da equidade racial no Brasil em diferentes áreas de atuação. As doações para o endowment são essenciais para garantir a perenidade e sustentabilidade financeira do Fundo.

Ao realizar a sua contribuição, você está investindo no futuro da instituição e na continuidade do seu impacto transformador na sociedade. Como se tornam permanentes, as doações asseguram recursos financeiros contínuos para a organização, possibilitando o planejamento a longo prazo e o desenvolvimento de projetos de maior impacto social, pois enquanto outras fontes de financiamento podem ser afetadas por crises econômicas, inflação ou outras situações imprevisíveis, o endowment se mantém estável, garantindo recursos para o Fundo Baobá mesmo em cenários complexos.

Para mais informações sobre o trabalho que o Fundo Baobá realiza em luta contra o racismo estrutural, você pode acessar o site clicando aqui

 

O legado de Marielle Franco na história das mulheres brasileiras

Marielle Franco
Por Fernanda Lopes, Diretora de Programa e Giovanni Harvey, Diretor Executivo no Baobá – Fundo Para Equidade Racial.  

 

Uma tragédia brasileira que tomou conta da mídia nacional e internacional completa cinco anos: o ataque brutal que vitimou a vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, ocorrido no bairro do Estácio, região central do Rio de Janeiro, na noite de 14 de março de 2018. Um crime hediondo, que causa repulsa na opinião pública até hoje, gerando a recusa de um libelo que não encontrou responsáveis até o momento. A sociedade exige que o crime seja solucionado. Marielle Franco tornou-se um símbolo da luta pelos direitos humanos e fonte inspiracional para um sem número de mulheres que, a partir do exemplo dela, estão mudando seus horizontes.

Euclides da Cunha escreveu que o sertanejo é forte. O favelado também o é. Marielle Franco cresceu como favelada na Maré, uma das comunidades que compõem o Complexo da Maré. Em suas aparições públicas ou no púlpito da Câmara do Rio de Janeiro, ela sempre se apresentava como mulher negra, mãe, socióloga e cria da Maré. Para ocupar o púlpito e um gabinete na Câmara, foi eleita em 2016 com 46.502 votos para um mandato de quatro anos que não chegou a concluir. Uma mulher negra eleita, parte da comunidade LGBTQIAP+. 

A opressão funciona como o lodo e suas impurezas, em meio às quais coisas boas podem florescer. Na natureza, a flor de lótus é um exemplo. Na história de Marielle, foi o assassinato da amiga Jaqueline que a fez decidir por um trabalho voltado à defesa e promoção dos direitos humanos, à vida digna e sem violência nas favelas e por uma crítica acirrada aos métodos e processos de trabalho das Unidades de Polícia Pacificadora, as UPPs. Ao decidir militar em prol dos direitos humanos, em ser a voz dos migrantes nordestinos menos favorecidos e peitar o sistema de discriminação e morte contra os que têm orientação sexual oposta àquela considerada norma, Marielle Franco sabia que teria que batalhar em inúmeros fronts. Mas ela era uma guerreira ímpar. Era figura que vergava, mas não quebrava, como o bambu. Ela se impunha, reivindicava e não descansava enquanto não obtinha resultados. Gente com esse perfil é taxada de incômoda. Marielle era a linguagem do povo, por ser sua representante legítima. 

 A representatividade de Marielle Franco ganhou corpo nas eleições municipais de 2020. A tradução do empenho das mulheres negras em ter suas vozes sendo ouvidas, suas ações definindo agendas e influenciando o cenário político, foi estampada em números: concorreram a postos nas Câmaras Municipais do país 84.418 mulheres negras, 856 concorreram ao cargo de prefeitas em suas cidades. O movimento Eu Voto Em Negra surgiu de articulações femininas e se baseou em uma frase dita por Marielle Franco: “podemos ser diversas, mas não somos dispersas!”. Os dizeres da vereadora geraram uma onda de afeto e solidariedade feminino-negra que, até então, não havia sido vista em termos de presença política. 

O nome de Marielle já tinha alcançado projeção internacional por ser ela uma defensora dos direitos humanos. A sua morte, porém, o elevou a um fenômeno mundial. A repercussão internacional foi muito grande. Alguns dos principais veículos da imprensa mundial, como The New York Times, The Wall Street Journal e Washington Post (Estados Unidos), The Guardian e BBC (Inglaterra), Le Monde e Le Figaro (França), El País (Espanha) e Der Spiegel (Alemanha) abriram e abrem seus noticiários para falar do agressivo acontecimento com a vereadora e seu motorista. E a história não fica por aí: todos os anos esses veículos cobram um desfecho conclusivo da investigação criminal. Isso tornará a acontecer neste 2023. 

O fenômeno no qual o seu legado se transformou é uma força da natureza, influenciando todo lugar por onde passa. Nos Estados Unidos, a Universidade Johns Hopkins, em sua Escola de Estudos Internacionais Avançados, criou a Bolsa Marielle Franco, após receber uma doação anônima. O programa é voltado aos estudos de relações internacionais, com foco na América Latina. O Marielle Franco Community-Design Award é um prêmio de 10 mil euros criado em Portugal para incentivar arquitetos que trabalham com favelas ou áreas em que vivem pessoas em vulnerabilidade social. Uneafro, Pré Vest Comunitário, Emancipa e outras iniciativas educacionais criaram cursinhos pré-vestibulares voltados a alunos, alunas e alunes negros, negras e negres visando facilitar o caminho de acesso ao ensino superior.  

O Fundo Baobá para Equidade Racial, em 2019, baseou-se no impulso influenciador que a atuação da mulher negra, vereadora, favelada e LGBTQIAP+ havia deixado como legado e criou o Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. Seu objetivo: ampliar e consolidar a participação de mulheres negras em posições de poder e influência, por intermédio de investimentos em seus planos de desenvolvimento individual, formações políticas e técnicas, além da promoção do fortalecimento das organizações, grupos e coletivos liderados por elas. Isso ressalta a importância do financiamento com foco no desenvolvimento social, cujo impacto está nas transformações pelas quais as pessoas passam e, por consequência, são transmitidas a outras pessoas de seus territórios. O programa, que está em andamento, tem como parceiros Kellogg Foundation, Ford Foundation, Instituto Ibirapitanga e Open Society Foundations. Na primeira edição, selecionou 59 mulheres e 14 organizações, sendo que cada uma recebeu diretamente R$ 40 mil para investir em seu projeto e cerca de R$ 20 mil em investimentos indiretos (assessorias, coach, apoio psicossocial, formação política). Considerando os apoios coletivos e individuais, foram cerca de 200 beneficiárias diretas, 520 mil pessoas indiretamente impactadas e R$ 4 milhões de investimento direto. 

Organizações como a Abayomi – Grupo de Juristas Negras, de Pernambuco, por exemplo, têm o objetivo de ampliar a participação de mulheres negras no sistema nacional de Justiça. Hoje, após um início com cinco mulheres, já congrega quase uma centena de mulheres negras com atuação no Judiciário e lidera a mobilização nacional em defesa de mulheres negras no STF (Supremo Tribunal Federal). Esses espaços e cargos são, atualmente, ocupados por homens e mulheres brancos. 

Pesquisa feita pelo Conselho Nacional de Justiça em 2020 apontou a porcentagem de negros e negras nas diferentes esferas do Judiciário: entre os magistrados, a Justiça do Trabalho tem 15,9%; entre os servidores, a Justiça Eleitoral tem 34,7% e entre os estagiários, a Justiça Federal tem 59,4% de pessoas negras. 

Clara Marinho, graduada em administração e mestre em Desenvolvimento Econômico, é outra profissional apoiada pelo Programa Marielle Franco. Ela elaborou o projeto Construindo a Liderança na Administração Pública Federal, recentemente foi convidada a assumir o cargo de Coordenadora-Geral de Estudos e Acompanhamento de Temas Transversais e Investimentos Plurianuais no Ministério do Planejamento e Orçamento. Outra que se inspirou nos ventos deixados por Marielle foi a jornalista Jaqueline Fraga, autora do premiado livro-reportagem “Negra Sou”, que narra a ascensão da mulher negra no mercado de trabalho. O Instituto Marielle Franco foi criado por iniciativa da família da vereadora para manter acesa a chama de seu legado e ampliar o processo de valorização das vidas negras, femininas e periféricas e ainda funcionar como um espaço de educação transformadora onde também se oferece auxílio psicológico, legal, se promove arte e literatura, se realiza oficinas e outras ações voltadas para a herança de luta pelos direitos humanos deixada pela vereadora. Anielle Franco, irmã de Marielle e ministra da Igualdade Racial, Marinete da Silva, mãe de Marielle e Anielle, que é advogada popular, além de Luyara Santos, filha de Marielle, que é estudante de educação física, tiveram os projetos de ampliação de suas habilidades de liderança apoiados pelo Fundo Baobá. 

 A sociedade brasileira, e as mulheres em especial, está convicta do que quer, pode e deve fazer com o legado de Marielle Franco. Ela se foi, mas como herdeira de Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento, Elza Soares, Benedita da Silva, Esperança Garcia, Conceição Evaristo, Sueli Carneiro e tantas outras, plantou sementes que germinaram, florescem e dão frutos. Permanece ativa, por intermédio de ideias e causas que defendia. Suas certezas e ideais seguem vivos em mulheres, homens e pessoas não binárias que ela inspira. Marielle está e estará, sempre, PRESENTE! 

 

Artigo originalmente publicado no Nexo em 13/03/2023 

  • Fernanda Lopes é bióloga, mestre e doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP). Co-coordenou o Programa de Combate ao Racismo Institucional, uma parceria entre o governo brasileiro, o governo britânico e a ONU Brasil. Por 11 anos compôs a equipe do Fundo de População das Nações Unidas, escritório Brasil. Desde 2019 lidera a área de programas e projetos do Fundo Baobá para Equidade Racial e foi a responsável pela elaboração da teoria da mudança que orienta a implementação do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco. 
  • Giovanni Harvey é diretor-executivo do Fundo Baobá para a Equidade Racial e tem 30 anos de experiência como executivo na iniciativa privada, na administração pública e no terceiro setor. Foi presidente do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal Fluminense (1988 a 1989), empresário no setor de seguros e previdência privada (1994 a 2004), fundador da Incubadora Afro-Brasileira (2004) e consultor do Programa de Incubadoras do Ministério da Economia de Cabo Verde (2007). Exerceu funções estratégicas nos três níveis da administração pública nas áreas de direitos humanos, trabalho, ciência e tecnologia, assistência social, governança e igualdade racial. Foi secretário nacional de Políticas de Ações Afirmativas (2008 a 2009) e secretário-executivo (2013 a 2015) da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República. 

 

Baobá na Imprensa

Por Ingrid Ferreira

No mês de janeiro o site da Aliança Entre Fundos foi lançado, uma parceira  entre o Fundo Baobá para Equidade Racial, Fundo Casa Socioambiental e Fundo Brasil de Direitos Humanos, criada em 2021 como uma ação estratégica de trocas e diálogos entre os Fundos sobre as agendas por justiça social durante a pandemia da COVID-19.

O IDIS mencionou o Diretor Executivo, Giovanni Harvey, como um dos membros do painel “Metodologias e Redes para o Fortalecimento da Filantropia”, presente na “11ª edição do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais”, que aconteceu em setembro de 2022.

Foi realizada menção ao Fundo Baobá na matéria “CEO da Mondelez e membro do Mover: Sem equidade racial, Brasil não crescerá na máxima potência” da Exame, em que o entrevistado Liel Miranda se refere ao Baobá como parceiro recente do Mover.

A  UNESCO lançou o “II Relatório sobre intolerância religiosa: Brasil, América Latina e Caribe”, em que o Baobá foi citado por apoiar um dos projetos que integraram o relatório.

Apoiadas do Fundo Baobá:

Confira os posts sobre oficinas realizadas no edital “Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça”, no Instagram da @quilombosanto: “Agroecologia – Trocas e Construção de Saberes”, “Como ser Antiracista em Território Quilombola – A História” e “Masculinidade Positiva – Estrutura e Desafios”.

O site “Blogueiras Negras” que é apoiado pelo Fundo Baobá, fez a publicação de dois textos, sendo eles: “Praticando Afrofuturos: aqui e agora, com todes” e “O AFROPUNK NYC e suas questões”.

Na Coletiva Negras que Movem do Portal Geledés três textos foram publicados: “Brasil precisa se comprometer com representatividade no campo profissional” da autora Jaqueline Fraga; “Dissimular e ferir: verbos conjugados pela branquitude no cotidiano racista” da Josi Souza e “A democracia do discurso, imagens e símbolos que ainda faltam ser vistos no Diário Oficial – desafios postos aos gestores antirracistas” da Luciane Reis.

Edital Educação em Tecnologia: Resultado da primeira fase é divulgado

O Fundo Baobá divulga a lista de organizações e empresas selecionadas para a Primeira Etapa do edital Educação em Tecnologia hoje (27/02). A previsão da lista da Segunda Etapa para o dia 05 de abril. Entre as 45 propostas que nos alcançaram, 17 foram validadas e seguem para a etapa 2 do processo seletivo. O objetivo do edital é apoiar organizações e empresas negras que atuam no desenvolvimento ou  ampliação das capacidades técnicas das pessoas negras na área de tecnologia. O MOVER – Movimento pela Equidade Racial é o parceiro do Fundo Baobá nessa iniciativa, investindo o valor de R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais)  que serão  destinados a apoiar até 16 iniciativas negras de educação em tecnologia.

Os projetos selecionados receberão um aporte financeiro que pode variar de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais) a R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), além de assessoria e suporte técnico para o desenvolvimento e fortalecimento institucional. Para conferir a lista do resultado da primeira etapa do edital clique aqui, no site do Fundo Baobá para Equidade Racial é possível conferir mais informações sobre o edital e suas fases. 

Estão sendo valorizadas as propostas que venham de organizações e empresas das regiões Nordeste e Norte, e que tenham como foco jovens negres periféricos, pessoas com 40 anos ou mais, população LGBTQIAP+, pessoas com deficiência, jovens em cumprimento de medida socioeducativa, pessoas egressas do sistema prisional, migrantes e refugiados africanos ou afrodescendentes, população quilombola, ribeirinha ou outras comunidades tradicionais.

Sobre o Fundo Baobá:

O Fundo Baobá para Equidade Racial é o primeiro e único fundo patrimonial dedicado, de forma exclusiva, à promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. Criado em 2011, o Baobá é uma organização sem fins lucrativos cujo objetivo é  mobilizar pessoas e recursos, no Brasil e no exterior, para apoiar projetos e iniciativas negras para o enfrentamento ao racismo e a promoção da equidade racial. 

Sobre o Mover:

Com o objetivo de extinguir a desigualdade e o racismo no mercado de trabalho, um grupo de empresas com atuação em vários setores da economia juntou-se para criar ações de promoção da diversidade, da equidade e da inclusão. Esse foi o início do Mover (Movimento pela Equidade Racial), que atualmente agrupa 47 empresas que proporcionam postos de trabalho para 1,3 milhão de pessoas. 

Quilombolas da região do Baixo Tocantins no Pará, criam estratégias coletivas para a promoção da saúde mental

Por Tayna Silva¹ e Tamara Mesquita²

 

É no aquilombamento que as comunidades compartilham práticas de autocuidado. Não há dúvidas que os saberes tradicionais, a cultura e a arte são ferramentas de transformação dentro dessas comunidades. O samba de cacete, por exemplo, é uma das maiores riquezas dentro do território. E é nesse movimento de resistência que as doze comunidades localizadas na região do Baixo Tocantins, no Pará, se movimentam na busca de soluções para melhoria da qualidade de vida.

Contrariando a produção de injustiças que promovem condições desiguais de adoecimento, cuidado, tratamento, recuperação e morte, as comunidades estão pensando soluções coletivas, entendendo as desigualdades e complexidades que atravessam seus corpos e territórios. Como bem ilustra Sandra Martins, parteira e quilombola ribeirinha da comunidade de Pampelônia e uma das representantes da ARQIB – Associação dos Quilombolas de Igarapé Preto à Baixinha: “Nós precisamos combater esse racismo que nunca vai acabar, mas se cada um de nós fizer diferença e assumir quem nós somos, nós vamos humanizar”. 

O racismo que desumaniza e desvaloriza as pessoas por sua origem, cultura e pela cor da pele, naturaliza a violação de direitos, por isso deve ser combatido em ações de promoção à saúde integral (física, mental e espiritual) para a população quilombola, população negra em geral e outras populações tradicionais.

A ausência de uma equipe completa de saúde da família é recorrente dentro das comunidades, que são atravessadas por especificidades de práticas de saúde que desconsideram os saberes comunitários e ancestrais como esse mecanismo de autocuidado entre as pessoas; a participação ativa de seus representantes; o estabelecimento de metas de melhoria e monitoramento dos indicadores de saúde, além de desconsiderar a cultura popular, tecnologias de existência, conflitos agrários e o cotidiano de cada comunidade. Não reconhecer ou valorizar estes elementos singulares, dificilmente a equidade em saúde será alcançada.  Segundo a Organização Panamericana de Saúde (OPAS), a equidade é apontada como o “princípio básico para o desenvolvimento humano e a justiça social” (Viana e col. 2001, p. 16).

Isso nos faz pensar que pautar equidade é ressaltar que o racismo atravessa diretamente as incompletudes da equipe, o que causa consequências danosas à saúde mental tanto dos usuários, quanto dos próprios profissionais da saúde. O racismo que atinge a vida de lideranças e afeta as práticas tradicionais, fazendo com que  desapareçam ou sejam totalmente esquecidas pelas equipes de saúde;  dificulta o amadurecimento das ações, programas, estratégias e das  políticas públicas governamentais de promoção e atenção à saúde das populações tradicionais, em especial  a quilombola

Para Claudelene Rocha, mulher empreendedora, liderança quilombola e uma das coordenadoras da ARQIB, é indispensável valorizar as  práticas ancestrais de cuidado em saúde mesmo após o atendimento médico especializado. Ela conta sobre sua preocupação com o desaparecimento destas práticas, “antes nossos antepassados só sobreviviam através de remédios caseiros e a gente sempre fala que estamos perdendo esses antigos, esses senhores e senhoras, que sabem que no tempo delas […] viviam só de remédios caseiros, só de remédios do mato”. As ferramentas de apagamento da história também são uma das facetas do racismo estrutural e que deve ser combatida dentro de um projeto político, ético e eficaz. 

Dessa forma, considerar equidade como pilar principal para o bem-viver, é reforçar que não há justiça social sem direitos econômicos, sociais, culturais, ambientais e políticos, cuja garantia é responsabilidade do Estado e dos agentes que atuam em diversos setores das políticas públicas, na esfera federal, estadual ou municipal, incluindo o setor da saúde.  

Evidenciar as ausências do Estado enquanto responsável, a partir sobretudo,  do SUS – Sistema Único de Saúde, da garantia do direito fundamental à saúde e bem estar dos indivíduos e dos coletivos, é lançar olhos para a equipe de profissionais que também adoecem nesse sistema que negligencia a realidade quilombola. Como nos conta Joisiane Santo, Agente Comunitária de Saúde – ACS e liderança da comunidade do Trevo da Pampelônia afirma: “eu quero muito que seja visto com muito cuidado a respeito da saúde mental, porque são coisas que vão além. Vai desde a falta de dinheiro para comprar comida. E o que acaba com o psicológico da pessoa, é a falta de poder ajudar alguém. Impossibilitada, às vezes eu me sinto assim, então são vários fatores.”

Assim, a ARQIB,  junto com a Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Pará – Malungu-PA, o Fundo Baobá Para Equidade Racial e uma equipe multiprofissional das áreas da saúde e comunicação, integram este projeto “Saúde Mental Quilombola: Direito, Resistência e Resiliência”, no intuito de impactar diretamente na vida de cada pessoa e junto da comunidade garantir o acesso à saúde, isso será feito através da permanência e da importância das tecnologias ancestrais de existência e reiterando a necessidade do setor da saúde em reconhecer o valor destes saberes e práticas para promover o bem viver das comunidades. 

 

¹ Tayna Silva é comunicadora social e colaboradora da Negritar Filmes e Produções.
² Tamara Mesquita é Jornalista, produtora audiovisual, educadora e comunicadora popular. Hoje integra a equipe da Negritar Filmes e Produções, na função de coordenadora de produção.
Negritar Filmes e Produções é uma produtora de impacto social, composta por pessoas negras.

Primeiro ícone negro da imprensa brasileira, morre no Rio a jornalista Glória Maria

A jornalista Glória Maria, primeira repórter negra a ser conhecida e reconhecida nacionalmente no Brasil, morreu na manhã desta quinta-feira, 2 de fevereiro, no Rio de Janeiro. Glória estava internada desde o início deste ano para tratamento de complicações de um câncer de pulmão que atingiu o seu cérebro.

Glória Maria Matta da Silva era carioca de Vila Isabel e morou também no Méier. Filha de um alfaiate (Cosme Braga da Silva) e uma dona de casa (Edna Alves Matta), trabalhou como telefonista na Empresa Brasileira de Telecomunicação (Embratel) enquanto concluía seus estudos de Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio).

A jornalista iniciou sua carreira no Grupo Globo na função de radioescuta no ínício dos anos 1970. A radioescuta é uma função inicial básica da carreira. Como radioescuta, o profissional sintoniza, principalmente, as faixas utilizadas pela polícia para saber em primeira mão o que está ocorrendo e alertar a redação. Sua primeira grande reportagem ocorreu na queda do Elevado Paulo de Frontin, em 20 de novembro de 1971, há 51 anos. Com isso, ela se tornava a primeira repórter negra a aparecer no Jornal Nacional.

A partir daí, Glória passou a ser repórter obrigatória na cobertura dos principais fatos do cotidiano, da cultura, do esporte e da política do Brasil. Entrevistou inúmeras personalidades dos mais variados segmentos. Fez reportagens em visita a mais de 100 países. Tornou-se, também, uma personalidade nacional.

A menina negra, torcedora do Botafogo, que teve sua formação em escolas públicas, queria apenas ser jornalista e não tangibilizava a notoriedade que isso poderia trazer e que ela refutava. Enfrentou o racismo sempre de frente. Em 1981, por ser negra, foi impedida de entrar em um hotel em sua própria cidade. Não teve dúvidas. O ato racista virou matéria que foi para o ar no Jornal Nacional.

Em recente entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, ela foi questionada sobre mazelas que o racismo poderia ter causado nela. Glória respondeu: “Hoje, isso não dói. Nessa altura da vida, não posso sentir dor por conta do racismo quer está no outro. Ele que se corroa com seu racismo”.

Glória deixa as filhas Laura e Maria.

Aliança entre Fundos lança site oficial e infográfico com resultados da estratégia inédita no campo da filantropia para justiça social

A Aliança entre Fundos – iniciativa que reúne o Fundo Baobá para Equidade Racial, o Fundo Brasil de Direitos Humanos e o Fundo Casa Socioambiental – está lançando o site oficial (aliancaentrefundos.org.br) onde reúne as narrativas sobre os primeiros projetos apoiados pelo grupo em 19 estados brasileiros.  Também está disponível na página o infográfico “Aliança entre Fundos: uma nova proposta de filantropia colaborativa no país”. O documento mostra numa linguagem acessível resultados alcançados ao longo de 2022.

A nova página traz informações estratégicas para que investidores, parceiros/as e sociedade civil entendam como surgiu a iniciativa, o que motivou os 3 Fundos a estarem em aliança e qual o conceito de filantropia colaborativa tem norteado essas ações.

Também fortalece as narrativas dos quilombolas e indígenas, ampliando a visibilidade das ações e estratégias dos projetos apoiados para superar os obstáculos socioeconômicos agravados durante a pandemia da COVID-19. Os primeiros resultados podem ser conferidos no Infográfico disponibilizado no site.

Governança

Ao navegar pelo site da Aliança entre Fundos, entende-se o porquê esta iniciativa oferece um novo caminho para a governança colaborativa no campo da filantropia para a justiça social:  “esta ação colaborativa é inédita por colocar a colaboração como eixo estratégico desde a captação dos recursos financeiros até a governança a fim de alcançar eficiência e potencializar os resultados com foco na transformação social. Unidos no propósito de contribuir para a justiça social, racial e ambiental, criamos um modelo de governança, em constante aprimoramento, com base em esforços e resultados coletivos. Tudo pensado e implementado em conjunto, respeitando as singularidades de operação grantmaker de cada Fundo e a relação que temos com os donatários”, afirmam os 3 Fundos que compõem esta iniciativa.

De acordo com os Fundos, trata-se de uma proposta de longo prazo. “Num primeiro momento, elegemos trabalhar com povos indígenas e quilombolas, vislumbrando reduzir os danos e o impacto das desigualdades agravadas pela pandemia. Sabemos que caminhos colaborativos necessitam de tempo para sua construção; e esta pandemia não é a primeira e nem a última crise aguda que tem ameaçado o mundo e afetado de forma diferenciada essas populações, basta pensarmos no lugar que ocupam as necessidades e expectativas destes grupos na agenda de mudanças e justiça climática”, explicam.

Infográfico

O infográfico “Aliança entre Fundos: uma nova proposta de filantropia colaborativa no país”, disponível no site, mostra como o que foi construído pelos Fundos em aliança, as oportunidades geradas, as inovações e os investimentos. Também mostra o resultado de uma ação inédita de comunicação, liderada pelo Coletivo de Comunicação da CONAQ e Coletivo de Comunicação Mídia Índia. Respectivamente, esses coletivos representam os principais protagonistas da comunicação quilombola e indígena atualmente no país.

A Aliança entre Fundos surgiu em 2021 no âmbito da Rede de Filantropia para a Justiça Social, atualmente identificada como Rede Comuá. A ação estratégica e inovadora foi forjada nas trocas e diálogos entre os Fundos sobre os obstáculos e aprendizados surgidos no fortalecimento da agenda para justiça social durante a pandemia da COVID-19. Atualmente, a iniciativa apoia 78 projetos de comunidades quilombolas e povos indígenas localizados em 19 estados brasileiros.

Navegue no novo site www.aliancaentrefundos.org.br

Conheça o infográfico “Aliança entre Fundos: uma nova proposta de filantropia colaborativa no país” disponível aqui

Saiba mais sobre os Fundos que compõem esta aliança:

Fundo Baobá para Equidade Racial https://baoba.org.br/

Fundo Brasil de Direitos Humanos https://www.fundobrasil.org.br/

Fundo Casa Socioambiental https://casa.org.br/

Conversa com donatárias (os): Evidências da importância do Fundo Baobá na realização de sonhos

Por Ingrid Ferreira

Começar um novo ano é sempre um momento  de relembrar o que foi feito no ano que se passou e desenhar as perspectivas do que está por vir e, dentro de uma organização como o Fundo Baobá para Equidade Racial, isso não poderia ser diferente.  

A missão do Baobá de mitigar os impactos do racismo, ampliando oportunidades para o desenvolvimento da população negra, impõe à instituição uma atuação diversa, que vai do apoio a jovens estudantes para o acesso e permanência em universidades e organizações quilombolas em defesa de terra, direitos, renda, saúde e desenvolvimento sustentável. Apoio a organizações, grupos, coletivos, movimentos que atuam no enfrentamento ao racismo religioso e às injustiças raciais no sistema criminal até as pessoas negras que empreendem.  Compreender como, por meio de diferentes editais, o Fundo Baobá contribui para promover mudanças individuais e coletivas no ano que se findou, influenciando o presente e o futuro, é o objetivo desta matéria.  

Confira as entrevistas com donatárias e donatários dos editais Negros, Negócios e Alimentação; Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial e Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça, que foram lançados ou que tiveram sua execução iniciada em 2022.

Conte para nós sobre o seu negócio. 

Edital  Negros, Negócios e Alimentação

Rivaneza Silva – Dona Terra 

Rivaneza Silva – Dona Terra – Recife/PE

Somos a Dona Terra, produzimos alimentos fermentados com uso de técnicas ancestrais para enriquecimento nutricional e conservação dos alimentos, como a kombucha, requeijão vegetal fermentado, mel e melitos, iogurtes naturais, biomassa de macaxeira.

Manoelly Vera Cruz – Mamê Comidinhas 

Manoelly Vera Cruz – Mamê Comidinhas – Paulista/PE

MaMê surgiu em 2017, da necessidade de obter uma renda e participar da educação de meus filhos de perto. Começamos eu e Gabriel, meu filho mais velho, vendendo Brownies e bolos, depois seguimos acompanhando o calendário das festas e participando de feiras e eventos na região metropolitana do Recife. Atualmente a produção e administração da empresa é toda feita por mim. Confeccionamos itens da confeitaria tradicional pernambucana, entre outros produtos doces e salgados sob encomenda ou personalizados para venda em feiras e eventos.

Marileide Alves de Lima – Xêro Café e Arte 

Marileide Alves de Lima – Xêro Café e Arte – Olinda/PE

Trata-se de uma cafeteria que tem como proposta trazer um cardápio de comida afetiva, café especial e atendimento humanizado. Costumo dizer que a cafeteria Xêro Café é um lugar de carinho e afeto.

Isamara Costa Cruz – Acarajé da Tia Joana 

Lucivânia (tia Joana) – Fundadora do Acarajé da Tia Joana  – Recife/PE

O Acarajé da Tia Joana é uma empresa familiar, localizada no bairro da Madalena no Recife. Ele foi fundado há mais de 20 anos pela minha mãe Lucivânia (mais conhecida como tia Joana), na praça da Várzea. Força inspiradora para que eu conquistasse espaços que antes eu achava que não poderia. Mulher negra, recém separada e com dois filhos para criar. Após uns 4 anos, ela recebeu um convite para se mudar para o bairro da Madalena, onde trabalhou mais de 15 anos sozinha. Em 2018, perto de concluir a graduação em Engenharia de Produção, decidi aplicar meus conhecimentos para continuar o legado de minha mãe.

Maria da paixão de Brito – Capibaribe Doces e Salgados 

Maria da paixão de Brito – Capibaribe Doces e Salgados – São Lourenço da Mata/PE

O meu  projeto  é o Capibaribe  Doces  e Salgados. Começou  com a venda de lanches  na  rua, mas logo as solicitações de encomendas passaram a ser feitas, então a partir desse desejo dos meus clientes, eu fui me aprofundando  e estudando para  oferecer  o serviço  e atualmente trabalho inclusive com serviços  de buffet.

Conte-nos um pouco sobre o seu projeto.

Edital Quilombolas em Defesa

Vanusia Santos – Associação Comunitária dos Moradores das Comunidades de Carrapicho, Mutuca, Sítio Dos Pereiras e Capão

Vanusia Santos –  A Casinha do Licuri – Piatã/BA

A ideia do Projeto A Casinha do Licuri surgiu nas atividades de Cartografia Social realizada na comunidade. O projeto foi escrito com objetivo de valorizar o trabalho das mulheres quilombolas, aumentar a renda e gerar autonomia através da produção de derivados do licuri. Durante o ano de 2022, houve oficinas sobre a potencialidade e a viabilidade econômica dos produtos e cozinha experimental. Foi realizado um workshop de empoderamento feminino e, em parceria com o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), realizamos o curso Negócio Certo Rural, que incentivou as mulheres a elaborarem o seu próprio negócio.

Francisca das Virgens Fonseca – Associação Comunitária De Desenvolvimento Do Candeal II

Francisca das Virgens – Feira das Marias – Feira de Santana/BA

O projeto Feira das Marias tem como principal objetivo fortalecer e fomentar a produção de alimentos realizada por mulheres rurais quilombolas, visando a autonomia financeira feminina. Dessa forma, com o apoio financeiro do Fundo Baobá se tornou possível a realização da Feira das Marias, que é um projeto comunitário. 

Edital Educação e Identidades Negras

Irailda Leandro de Carvalho – Associação dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo

Irailda Leandro de Carvalho – Educação Quilombola do Mundo Novo para o Fortalecimento da Identidade Negra –  Buíque/PE

Pretendemos com o Projeto “Educação Quilombola do Mundo Novo para o Fortalecimento da Identidade Negra” construir uma proposta pedagógica de educação  quilombola em conjunto com professores quilombolas, que possuem formação superior, mesmo que não estejam lecionando no território atualmente, com a participação dos mais  velhos, as lideranças e jovens da comunidade, estudantes de graduação que fazem parte no núcleo de estudos da Autarquia de Ensino Superior de Arcoverde, e aplicar as atividades no contraturno da escola. A proposta será vivenciada por professores quilombolas em formação e pelas crianças quilombolas que frequentam a escola localizada no território.

Dario Pereira – Associação Cultural de Tradição Afro-Brasileira Afoxé Omô Nilê Ogunjá 

Dario Pereira – Projeto Agogô: o enunciado que faz acontecer – Recife/PE

O “Projeto Agogô: o enunciado que faz acontecer”, é uma iniciativa do Afoxé Omô Nilê Ogunjá, uma associação cultural de tradição afro-brasileira. Em nossa proposta objetivamos a formação da Rede de Vivências Formativas Agogô, sob a perspectiva da Lei 10.639 de 2003, que completa 20 anos de existência (lei que estabelece a obrigatoriedade do ensino de “história e cultura afro-brasileira” dentro das disciplinas que já fazem parte das grades curriculares dos ensinos fundamental e médio), a partir da articulação de instituições inseridas em contextos formais e não formais, que atuam no enfrentamento ao racismo, na comunidade do Ibura (Recife/PE).

Almerinda de Souza Cunha Oliveira – Associação de Mulheres Negras do Acre e seus Apoiadores 

Almerinda de Souza Cunha Oliveira – Educação na Desconstrução do Racismo – Rio Branco/AC

O nosso projeto vem em resposta a nossa luta pela implementação da Lei 10.639 /11.645 (lei que estabelece a obrigatoriedade do ensino de “história e cultura afro-brasileira” dentro das disciplinas que já fazem parte das grades curriculares dos ensinos fundamental e médio). O projeto visa sensibilizar e articular parceiros para a criação dos Fóruns de Educação Étnico Racial nos municípios do Acre. Nosso sonho é combater o racismo, o machismo , a homofobia e a intolerância religiosa através da educação, lutamos por isso desde 2003 através de vários movimentos sindicais, CUT, e hoje através da Associação de Mulheres Negras. 

Qual foi a importância de ter o seu projeto selecionado pelo Fundo Baobá e a execução dele no ano de 2022?

Edital Negros, Negócios e Alimentação

Rivaneza Silva – Dona Terra 

O apoio do Fundo Baobá foi primordial para que conseguíssemos avançar enquanto negócio, nos possibilitou tirar do papel as ideias para melhoria da produção com a aquisição de equipamentos novos e com maior capacidade, contratar uma consultoria para nos orientar nas diretrizes para implementação de uma unidade de beneficiamento e fábrica de Kombucha de acordo com a legislação. E as orientações para gestão de negócios através da jornada formativa que nos fez repensar e buscar reestruturar nosso administrativo e financeiro para que a empresa caminhe de acordo com as metas que planejamos. A formação possibilitou a construção de uma rede de relacionamentos com os demais participantes do Programa, e nos impulsionou na busca por novas parcerias com pessoas e instituições, o que enriqueceu em muito nossa prática e nos possibilitou um novo olhar sobre o negócio.

Manoelly Vera Cruz – Mamê Comidinhas 

Em 2022, devido a algumas dificuldades, eu estava prestes a desistir do negócio. Quando através de amigos, recebi informações sobre o edital Negros, Negócios e Alimentação e me veio a esperança de que dias melhores estavam por vir. A cada etapa que eu passava, pude ter mais certeza que o trabalho tinha que continuar, esse projeto ampliou meus horizontes em vários aspectos. Só o fato de ter sido entrevistada por uma pessoa preta durante a seleção, já me deu uma satisfação e uma sensação de pertencimento, que só confirmavam que o sucesso também nos pertence, me fazendo sentir contemplada mesmo que não chegasse até a etapa final. Toda estrutura do processo formativo, os profissionais envolvidos, poder compartilhar as experiências com os demais contemplados, e tudo que tenho vivenciado, proporcionaram para mim e para o negócio, oportunidades que provavelmente não se apresentariam sem o apoio do Fundo Baobá. Dito isso, não me refiro apenas ao apoio financeiro que é de fato muito importante, principalmente depois do período de pandemia, mas através dessa oportunidade, pude contratar o trabalho de pessoas, seguindo a linha do edital. Priorizando mulheres pretas, pequenos negócios e pessoas da comunidade LGBTQIA+.

Marileide Alves de Lima – Xêro Café e Arte

Foi de grande importância, pois o comércio é um universo que ainda não domino completamente. E com o projeto foi possível fazer uma formação em áreas essenciais para um bom gerenciamento do meu negócio, como a área financeira. Tenho aprendido bastante sobre temas que não tinha muito conhecimento e isso tem me ajudado a organizar minha cafeteria.

Isamara Costa Cruz – Acarajé da Tia Joana 

O Fundo Baobá para o Acarajé tem sido um divisor de águas, o apoio financeiro deu condição ao Acarajé de realizar compras diretamente com fornecedores, pois antes não se tinha em caixa o valor mínimo para efetuar as compras com preço de atacado, o que levou a termos uma margem de lucro maior e, consequentemente, um capital de giro. Além das aquisições com maquinário e utensílios, o que facilita a produção diária dos quitutes. Sem falar do apoio de mentoria que tivemos durante alguns meses, os professores das aulas foram de suma importância para o desenvolvimento e organização da empresa.

Maria da paixão de Brito – Capibaribe Doces e Salgados 

Quanto a ser selecionada pelo Fundo Baobá, está sendo uma grande oportunidade  na minha vida de empreendedora, tanto no investimento  como nas capacitações.

Edital Quilombolas em Defesa

Vanusia Santos – Associação Comunitária dos Moradores das Comunidades de Carrapicho, Mutuca, Sítio Dos Pereiras e Capão 

O Fundo Baobá ter aprovado o nosso projeto em  2022 foi providencial, pois estávamos passando por momentos delicados na comunidade.

Francisca das Virgens Fonseca – Associação Comunitária De Desenvolvimento Do Candeal II 

A seleção do Projeto Feira das Marias, para nossa instituição revela a importância de iniciativas que possibilitem a geração de renda familiar, fortalecimento de organização comunitária e melhor organização na gestão da instituição.

Edital Educação e Identidades Negras

Irailda Leandro de Carvalho – Associação dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo

Eu não tenho palavras que consigam expressar o tamanho da importância de nosso projeto ser selecionado neste edital. E são vários os motivos que me possibilitam dizer o quanto foi, é, e será importante conseguir chegar até aqui. Primeiro, o tema tem a nossa cara porque há alguns anos estamos lutando por educação escolar quilombola no território. Não conseguimos até agora sensibilizar o poder público para acessar esse direito. Segundo, acreditamos que a nossa liberdade acontecerá quando todos tivermos acesso a educação formal de qualidade e específica quilombola para ocupar os postos de poder da sociedade. Terceiro, construir a identidade quilombola das nossas crianças e jovens, passando pelo conhecimento da força e da história dos nossos antepassados. Quarto, a política pública, garantida por lei, demora décadas para chegar até nós,  precisamos sempre procurar outros caminhos e esse edital nos oferece todas essas possibilidades para driblar o sistema, duelar com o racismo institucional e estrutural da sociedade brasileira e oferecer oportunidades ao povo preto quilombola do Mundo Novo, em Buíque-PE.

Dario Pereira – Associação Cultural de Tradição Afro-Brasileira Afoxé Omô Nilê Ogunjá

A nossa instituição vem trabalhando no desenvolvimento de ações educativas que exaltam a cultura, história e identidades negras. Nesse sentido, o projeto contribui para o fortalecimento de ações de enfrentamento ao racismo, articulando grupos coletivos e instituições de educação formal e não formal, empoderando a cultura e identidade afro-brasileira, além de promover a articulação entre instituições, na comunidade do Ibura (Recife/PE). 

Quais são as expectativas para o ano de 2023?

Edital Negros, Negócios e Alimentação

Rivaneza Silva – Dona Terra 

Nesse ano de 2023 a meta é finalizar a fábrica e unidade de beneficiamento, faltam 30% para deixar o espaço estruturado, posteriormente seguir com as licenças e aumentar a produção. Planejamos aumentar nossa presença nas redes, espalhar nossa filosofia e inspirar uma alimentação saudável e consciente.

Manoelly Vera Cruz – Mamê Comidinhas 

Para 2023, além da ampliação do negócio, também pretendo garantir a presença da Mamê Comidinhas na elaboração de ações que estejam ligadas ao incentivo do empreendedorismo preto e/ou indígena e de pessoas da minha comunidade.

Marileide Alves de Lima – Xêro Café e Arte 

As expectativas para 2023 são as melhores possíveis. Tenho certeza que, com o que aprendi até o momento, poderei organizar melhor meu estoque, fichas técnicas de produtos, meu fluxo de caixa, entre outras coisas, além de otimizar meu tempo para alavancar as vendas e me tornar mais conhecida na área de cafeteria. 

Isamara Costa Cruz – Acarajé da Tia Joana 

A expectativa para esse ano de 2023 é que possamos continuar aplicando tudo o que foi adquirido em questão de conhecimento com as mentorias que o Fundo Baobá nos proporcionou e não parar por aí. Ir em busca de mais conhecimentos e novidades para que o nosso negócio venha alavancar ainda mais.

Maria da Paixão de Brito – Capibaribe Doces e Salgados 

E para  o ano de 2023 continuarei trabalhando e crescendo para melhorar cada dia mais a minha vida e da minha família.

Edital Quilombolas em Defesa

Vanusia Santos – Associação Comunitária dos Moradores das Comunidades de Carrapicho, Mutuca, Sítio Dos Pereiras e Capão 

O ano de 2023, com certeza será um ano marcante para o projeto. Agora no mês de janeiro será o lançamento dos nossos produtos “Balai, o licuri da Bocaina”, na feira da VII Jornada de Agroecologia da Bahia. Ainda este ano iremos levar o projeto de lei de preservação da área de licuri para a câmara de vereadores do município de Piatã.

Francisca das Virgens Fonseca – Associação Comunitária De Desenvolvimento Do Candeal II

Para o ano de 2023, estamos com o propósito de aumentar nossas atividades produtivas, ampliando a feira para os formatos virtual e presencial, assim como criar fundos de trocas de produtos da roça, a exemplo de aproveitar as frutas sazonais para fazer polpas, bem como sementes naturais existentes na comunidade. Com isso, objetivamos dinamizar a produção e comercialização da comunidade, proporcionando melhor geração de renda para as Marias do Quilombo.

Edital Educação e Identidades Negras

Irailda Leandro de Carvalho – Associação dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo  

As expectativas são muitas, 2023 será o ano de receber as maiores parcelas do recurso para investir e colocar em prática as principais ações do projeto. O meu principal compromisso será com o sucesso do trabalho.

Dario Pereira – Associação Cultural de Tradição Afro-Brasileira Afoxé Omô Nilê Ogunjá 

Desenvolver nossas ações educativas com estrutura financeira, para materializar produtos e ferramentas que edifiquem a formação de uma rede de produção de conhecimento anti-racista, que constam nas diretrizes da lei 10.639/03.

Almerinda de Souza Cunha Oliveira – Associação de Mulheres Negras do Acre e seus Apoiadores 

Em 2023 pensamos em executar o projeto e consolidar o nosso sonho. Acabamos de realizar a Jornada de Formação em Gênero e Raça em todos os municípios do Acre. Nosso projeto consiste em sensibilizar gestores e movimentos sobre a necessidade da implementação da Lei 10.639 da forma correta, através de ações online e algumas presenciais. Criar parcerias e formar um comitê de criação dos fóruns municipais, realizar um seminário estadual com dois representantes por município, dos que criarem os Fóruns. Nesse processo vamos fortalecer lideranças negras no protagonismo de combater o racismo através da educação. Essa é a nossa luta pela vida e direitos das mulheres.

Tendo a possibilidade de falar em um local acolhedor sobre suas vivências, algumas das pessoas donatárias dos editais sentiram-se à vontade para complementar as suas respostas, falando sobre os seus sentimentos ao participar dos editais do Fundo Baobá. Confira abaixo: 

Edital Negros, Negócios e Alimentação

Rivaneza Silva – Dona Terra 

Gratidão por todo apoio e que mais empresas de sucesso se inspirem em apoiar projetos que possibilitem a transformação na vida das pessoas.

Manoelly Vera Cruz – Mamê Comidinhas 

Quero agradecer a todes envolvides, sejam pessoas ou empresas pela oportunidade, exaltar a organização e estrutura do projeto, que traz para o povo preto, mulheres e pessoas da comunidade LGBTQIA+, a possibilidade de se potencializar e potencializar seus negócios, gerando emprego, renda e a acima  de tudo combater o racismo e o preconceito. 

Marileide Alves de Lima – Xêro Café e Arte 

Quero dizer o quanto fiquei impressionada e satisfeita com o tratamento que recebemos de todos os profissionais que fazem o Fundo Baobá. A atenção recebida, o material disponibilizado, as dicas. O aprendizado que adquirimos vai do campo profissional ao campo pessoal e isso é algo que não tem preço.

Edital Quilombolas em Defesa

Francisca das Virgens Fonseca – Associação Comunitária De Desenvolvimento Do Candeal II 

A partir da realização da Feira das Marias na Comunidade Quilombola de Candeal II, percebemos a importância de atividades como essa para contribuir para o fortalecimento da identidade quilombola. Com isso, notamos a necessidade de ampliar a discussão sobre o reconhecimento do território quilombola para as demais comunidades que compõem o distrito de Matinha, em Feira de Santana, visando o fortalecimento e preservação de todo território quilombola de Matinha.

Baobá na Imprensa 

Por Ingrid Ferreira

No mês de novembro e dezembro de 2022 o Fundo Baobá para Equidade Racial teve presença notável na mídia a começar pela participação de Hélio Santos, membro da Assembleia Geral do Baobá, no Programa Roda Viva da TV Cultura, sendo notícia no Portal TV Streaming, O Universo da TV, Africas e Z1 Portal. A TV Cultura também contou com a participação da Diretora de Programa, Fernanda Lopes falando, entre outros temas, sobre como as políticas afirmativas podem trazer grandes transformações para a população negra no Brasil e para o país como um todo.

A Diretora de Programa também foi citada pelo Jornal da USP na matéria “Medicina da USP participa de edição especial de revista científica discutindo racismo e xenofobia na saúde”, no evento que lançou a série de materiais desenvolvidos por pesquisadores brasileiros e internacionais debatendo a saúde a partir de uma perspectiva humanizada.

O Jornal Dia Dia, Times Brasilia, Geledés, Observatório do Terceiro Setor e a Revista Raça noticiaram o lançamento do nosso edital em materias intituladas “Fundo Baobá e MOVER investem R$ 4 milhões em educação tecnológica visando ampliação de oportunidades para a população negra”. E o site Ponto da Pauta mencionou um dos projetos apoiados pelo Fundo Baobá no edital  “Vidas Negras, Dignidade e Justiça”.

O Fundo Baobá esteve presente na COP 27 que aconteceu no Egito e foi mencionado nas publicações dos seguintes veículos: D24am Amazônia, Clima Info, Fundação Amazônia Sustentável, Amazonas Notícias, Fato Amazônico, Tupi.fm / 96.5, Portal Amazônia, Correio Paraense, Nexo Jornal e Mercado de Notícia.

A Rede Comuá publicou a matéria “O metaverso da Filantropia: construindo realidades transformativas a partir de justiça social”, e dedicou uma página para falar a respeito do Baobá como parceiro, além de mencionar o Baobá na publicação “Aliança entre Fundos: por uma outra filantropia colaborativa em construção no Brasil”; o site Brasil 247 mencionou o Baobá na matéria “Transição sem retrocesso” e a General Mills mencionou o Fundo como seu parceiro em seu site oficial.

A Imaginable Futures citou o edital “Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial” na publicação Renovando Nosso Compromisso com a Equidade Racial no Brasil. O edital é uma parceria entre a Imaginable, Fundação Lemann e Fundo Baobá e também foi citado pelo Portal C3.

O Estadão e o site Head Topics publicaram a matéria “Fundo Baobá: Investimento em equidade racial não é aposta, é respeito”. Na matéria o Diretor Executivo, Giovanni Harvey, fala sobre investimento social privado e a agenda da equidade racial. Giovanni também foi mencionado pelo Mundo Negro como um dos palestrantes na “1ª Conferência Empresarial ESG Racial”.

O blog Juruá Online, mencionou o Fundo Baobá como um dos integrantes da Aliança Entre Fundos no título “Com sistema agroflorestal, indígenas apostam em projeto para recuperar 305 hectares de área degradada no AC”. E a Gabacom citou o Fundo como uma das três organizações de enfrentamento ao racismo no Brasil para conhecer.

O Insper comunicou a participação de Hélio Santos no debate “Persistência histórica da desigualdade racial”. O Meio e Mensagem referiu-se ao Fundo como uma das 11 instituições que apoiam e incentivam os negócios de pessoas negras. A Folha referiu-se ao Baobá em seu matéria “Estados mais ricos veem desequilíbrio de renda entre negros e brancos piorar”.

O Clube de Criação, ND Mais, Revista Marie Claire e Vermelho comunicaram o título de Personalidade do Ano” recebido por Sueli Carneiro, Presidente do Conselho Deliberativo do Fundo Baobá. 

Apoiadas do Fundo Baobá:

O site Todas as Notícias apresentou o livro “História Social da Beleza Negra” escrito pela Giovana Xavier, uma das mulheres apoiadas pelo Baobá no Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras Marielle Franco. A Casa da Cultura de Canaã dos Carajas em seu evento Cinema na Casa, exibiu o documentário  “Não Serei Interrompida”, projeto apoiado pelo Fundo.

O Centro Feminista de Estudos e Assessoria divulgou o Lançamento – Racismo, Violência e Estado: Três faces, uma única estrutura de dominação articulada, realizado por CRIOLA com financiamento do Baobá no edital Vidas Negras. A Casa da Cultura de Canaã dos Carajas em seu evento Cinema na Casa, exibiu o documentário  “Não Serei Interrompida”, projeto apoiado pelo Fundo.

Na Coletiva Negras que Movem, foram publicados os seguintes artigos: “A hora é agora! Apoie a realização do 1º Festival Pernambucano de Literatura Negra” da autora Jaqueline Fraga e “Fim do pesadelo: Mulheres Negras e as eleições presidenciais” escrito por Josi Souza.

“Brasil volta a ser território no qual todas as expressões democráticas terão fala”

Giovanni Harvey, diretor Executivo do Fundo Baobá para Equidade Racial, acaba de retornar da edição 2023 do Fórum Social Mundial, realizada entre 23 e 27 de janeiro na cidade de Porto Alegre (RS). Harvey participou de várias edições do FSM, no Brasil e no exterior. Neste ano, o tema principal do FSM foi o envelhecimento da população mundial.  

Estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU) dão conta de que em 2047 (menos de 25 anos), o mundo terá 2 bilhões de pessoas com 60 anos ou mais. Esse número, ainda com base em estimativas da ONU, vai saltar para 3,1 bilhões de idosos em 2100, o que vai significar 30% da população em todo mundo. A reviravolta da pirâmide etária criou o que o mercado publicitário classificou como “Gray Power” (Poder Grisalho, em português). São as pessoas com 50 anos ou mais, hoje representando quase ¼ da população do planeta.

Lançando um olhar mais específico sobre o Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2021, pessoas com 60 anos ou mais representavam 14,7% da população. Isso era o equivalente a 31,23 milhões de pessoas.  Desse total, 48% são pessoas idosas negras. 

O principal fator para o envelhecimento da população é a queda na taxa de natalidade. Porém, por mais paradoxal que possa parecer, o decréscimo na taxa de natalidade está ligado a um fator positivo: o aumento da longevidade das pessoas. Dentro de 77 anos, portanto em 2100, a expectativa de vida no mundo vai subir para 82 anos. No Brasil, essa mesma expectativa será de 88 anos. Portanto, alcançar objetivos será algo mais tangível. Mas essa longevidade também poderá marcar um compromisso mais extenso de contribuição das pessoas no que se refere aos avanços sociais.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do IBGE, a população idosa no Brasil no segundo semestre de 2022 era de 31,7 milhões de pessoas. Entre essas 31,7 milhões, 48% são pessoas idosas negras. Devido às discrepâncias sociais que ocorrem e marcam a existência negra, nem todas as pessoas pretas têm experienciado o direito de envelhecer. A culpa por isso está no racismo estrutural, tão arraigado na sociedade brasileira. Além disso, fatores discriminatórios como dificuldade de acesso a serviços de saúde pública, o machismo, atendimento discriminatório nos locais que prestam atendimento em saúde e a falta de políticas públicas protetivas para a população negra contribuem para mortes precoces e para o não envelhecimento negro. 

O  diretor, um homem de 59 anos, falou um pouco sobre  as  perspectivas de fortalecimento e incidência dos movimentos sociais tendo em vista o cenário político e social que se desenha no Brasil para os próximos anos. 

O que o Fórum Social Mundial significa para você?

Giovanni Harvey – O Fórum Social Mundial é uma das principais plataformas de articulação, mobilização e troca de experiências por parte dos movimentos sociais, tanto sob o ponto de vista nacional quanto sob o ponto de vista internacional. A realização do FSM em 2023 foi produto do esforço de várias pessoas e instituições que tiveram o entendimento de que era preciso dar uma inequívoca sinalização para os movimentos sociais que o ambiente, de fato, mudou e o Brasil voltou a ser um território no qual todas as expressões sociais democráticas terão espaço para fala e serão ouvidas. O diálogo e a troca de experiências entre as gerações será imprescindível para alcançar as mudanças que queremos. 

O Fundo Baobá participou de alguma atividade específica?

Giovanni Harvey – Sim. Fomos convidados para participar da mesa “Lutas Antirracistas, Populares e Periféricas”, que aconteceu em 26 de janeiro. A mesa reuniu várias expressões do movimento negro e do movimento indígena. Ativistas de várias gerações, gêneros e origens territoriais. O Fundo Baobá mantém estreitos laços com os movimentos sociais desde que o “grupo impulsor”, responsável pela sua fundação, articulou-se há 15 anos. A instituição participa de várias redes e dialoga com todos os setores do movimento social negro e tem buscado garantir, por meio de seus editais,  que os recursos alcancem as comunidades e as periferias. 

Qual é o papel do Fundo Baobá neste contexto?

Giovanni Harvey – O papel institucional do Fundo Baobá é financiar iniciativas lideradas por pessoas, movimentos sociais, coletivos e instituições negras que fazem a luta cotidiana de enfrentamento ao racismo e promoção da equidade racial. A retomada das políticas públicas de Promoção da Igualdade Racial, das Políticas para as Mulheres e todas as demais políticas públicas de promoção e garantia dos Direitos Humanos nos impõe uma reflexão sobre a natureza das demandas que iremos priorizar, dentro do entendimento de que o Fundo Baobá não deve concorrer com as políticas públicas existentes e sim contribuir para o fortalecimento das demandas sociais que ainda não foram contempladas, inclusive aquelas que são apresentadas há anos, por pessoas que iniciaram seu ativismo na década de 1970, 1960, e que hoje são idosas. O reconhecimento destas demandas amplia e qualifica o enfrentamento e define estratégias de superação do racismo, nas mais variadas dimensões da vida social.

Retrospectiva de 2022 do Fundo Baobá para equidade racial

Por Ingrid Ferreira

Ano novo pode significar novas oportunidades, novas chances, novas metas, mas olhar para o ano que se despede e analisar os desafios superados, as mudanças experimentadas, os acontecimentos e feitos que o marcaram, é crucial. É  nesse clima de ano novo que o Fundo Baobá para Equidade Racial relembra alguns dos momentos importantes para a instituição no ano de 2022.

Já no começo do ano, o Fundo passou por uma grande mudança, com Sueli Carneiro assumindo a presidência do conselho deliberativo da organização, e Giovanni Harvey assumindo como Diretor Executivo

Giovanni representou o Fundo Baobá na “Live do Valor”: “Engajamento com causas é tendência no setor”. E o Fundo também foi destaque nos canais de televisão Globo Roraima e SBT Pará ao falar sobre o edital Negros, Negócios e Alimentação. Ainda na televisão, o Baobá foi representado pela Diretora de Programa, Fernanda Lopes, no programa Estação Livre, da TV Cultura falando sobre equidade racial em várias áreas.

Em 2022, dois editais foram lançados pelo Fundo Baobá: O  Negros, Negócios e Alimentação, voltado para o apoio de empreendimentos gastronômicos de Recife e Região Metropolitana e o Educação e Identidades Negras: Políticas de Equidade Racial, que apoia iniciativas de enfrentamento ao racismo e consolidação de práticas de promoção da equidade racial no setor Educação (espaços formais e não formais). 

Alguns editais foram iniciados e outros continuados em 2022. O Quilombolas em defesa, teve seu “Primeiro Encontro com Organizações Selecionadas no edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça”; o Programa Já é teve atividades presenciais; assim como participaram de um encontro presencial realizado em REcife/PE, donatárias (os/es) do edital Negros, Negócios  e Alimentação, a equipe do Fundo Baobá e da Futuros Inclusivos. 

Também estivemos presentes no evento da comunidade quilombola Associação dos Moradores Amigos e Amigas da Fazenda Santa Justina no Rio de Janeiro; e terminamos o ano no interior no Pará, com a primeira atividade do projeto Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência.

O Fundo Baobá deu segmento ao seu projeto do Círculo de Doação liderado por pessoas negras no Brasil, fortalecendo a importância do ato de doar para transformar e promover justiça social. Em 2021, o resultado de nossas ações de captação junto a indivíduos foi uma arrecadação de R$ 276.889,46 — (US$ 49.822,66).

O Fundo também fechou uma parceria com o MOVER, Verizon, Imaginable Futures (apoiador do edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial), Fundação Lemann (apoiador do edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial), Wellspring, Silicon Valley e com a Johnson & Johnson (apoiador do projeto Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência). 

O Baobá filiou-se ao GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas),  organização  que congrega 160 associados. A filiação levou o Baobá a ser convidado para a COP 27,  que aconteceu no Egito. A Diretora de Programa, Fernanda Lopes, esteve presente em duas mesas, sendo a “#PhilanthropyForClimate: Um movimento global da filantropia para enfrentar a crise climática” e no Debate sobre mulheres na ação climática,   que abriu as atividades do Brazil HUB na COP 27. O site Brazil Climate Hub também disponibilizou material com avaliações sobre os resultados da Conferência do Clima do Egito. O Fundo Baobá aderiu ao movimento global sobre filantropia para mudança climática, reiterando que, no Brasil, a população negra, os povos originários e outros grupos racializados, são os que mais perdem com as injustiças climáticas, por isso a importância estratégica de incorporar mais esta dimensão entre as prioridades de investimento programático. 

O ano também foi marcado pela doação da filantropa Mackenzie Scott, que destinou um aporte financeiro de US$ 5 milhões para o Fundo Baobá, doação que gerou grande repercussão na mídia nacional e internacional e deflagrou, no ecossistema de investimento social privado nacional, uma reflexão sobre confiança, movimentos disruptivos no exercício do poder econômico e filantropia.

População quilombola do Pará será priorizada em projeto de promoção da saúde mental

Por Wagner Prado

O Fundo Baobá para Equidade Racial, com apoio da  Johnson & Johnson, deu início a uma ação colaborativa em torno de comunidades quilombolas do estado do Pará. O projeto, intitulado Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência, foi elaborado frente a uma demanda da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) e juntou, pela primeira vez, uma equipe multidisciplinar que vai atuar em 12 comunidades da região Tocantina com a missão de promover a educação em saúde, fortalecer as estratégias de resistência e resiliência nessas comunidades negras quilombolas. 

Equipe multidisciplinar montada pelo Fundo Baobá no aeroporto Val de Cans, em Belém (Pará) – Crédito: Tay Silva

Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil há  5.972 comunidades quilombolas. O número exato será divulgado quando forem  revelados oficialmente os dados do Censo 2022, cuja coleta de dados foi encerrada em 31 de dezembro. Até agosto, porém, os números já coletados pelo IBGE indicavam três estados liderando o contingente populacional quilombola no Brasil: Bahia, com 116.437 pessoas; Maranhão, com 77.683 e Pará, com 42.439. 

A equipe multidisciplinar conta com profissionais das áreas de Enfermagem, Psicologia, Jornalismo, Publicidade, História, Administração e Direito. Profissionais do Pará juntaram-se e, no mês de janeiro, darão início às ações que vão acontecer até o mês de maio de 2023. A região Tocantina abrange as seguintes localidades: Abaetetuba. Acará, Baião, Barcarena, Cametá, Igarapé-Miri, Limoeiro do Ajuru, Mocajuba, Moju, Oeiras do Pará, Tailândia e Tucuruí, o equivalente a, aproximadamente, 35 mil km2. 

O projeto Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência objetiva promover o protagonismo e a soberania quilombola em defesa de sua cultura, tradições e saberes. Para isso, faz-se necessário e essencial a adoção de políticas públicas governamentais e não governamentais também, principalmente políticas como essa estabelecida pelo Fundo Baobá  e apoiada pela Johnson & Johnson, que possam fortalecer as comunidades formadas pela população quilombola. 

O líder quilombola Magno Nascimento, representante do Quilombo África,  é coordenador de projetos da Coordenação Estadual das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Pará – MALUNGU, organização que vai articular toda a ação que será feita no campo. Magno ressalta a importância do projeto.  “Discutimos muito para qual território faríamos a parceria. Tivemos casos de suicídio na região em que o projeto vai  ser aplicado. Em meio à pandemia, mas também devido ao empobrecimento, houve muita dificuldade de deslocamento e tudo. As comunidades quilombolas da região Tocantina estão entre as que têm a menor assistência por parte do Estado. Por muitos motivos. Porque é uma pena dizer isso, mas o estado do Pará sempre teve esse tamanho desde que o Brasil é Brasil. Não sabemos por que os políticos vivem alegando dificuldade logística e limitação de recursos. Na prática, isso é o racismo institucionalizado e muito latente contra os direitos dessa população. Esse trabalho que será feito vai ser muito importante para reverberar, como denúncia, aquilo que nós, infelizmente, passamos”, afirmou.   

A diretora de Programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes, enaltece a importância das comunidades para o alcance dos resultados esperados. “Trata-se de uma iniciativa que vai contribuir com as estratégias de resistência da comunidade e, ao mesmo tempo, promover saúde, estimular e valorizar as diferentes práticas de cuidado. Todas as pessoas importam. O projeto também reforça o que chamamos de força de trabalho em saúde pública, que não é composta  só por pessoas com nível superior de ensino. Envolve as parteiras, benzedeiras, agentes comunitários de saúde, auxiliares de enfermagem, técnicos, aquelas pessoas que fazem comunicação para promover saúde. Usar a arte e a educação, junto à comunicação, para democratizar o acesso à informação em saúde é muito importante”, afirmou. Ao longo da execução da ação, espera-se que, além da melhoria da qualidade da saúde mental,  núcleos de influência sejam formados ou fortalecidos nas comunidades, núcleos que saibam ainda mais sobre o direito à saúde, reivindiquem por acesso e melhores serviços   para a população quilombola.”, completou Lopes.

A fala da diretora do Fundo Baobá vai ao encontro do que é descrito pelo estudante de  Enfermagem Djalma Pereira Ramalho, que trabalha como técnico na Unidade Básica de Saúde na comunidade do Igarapé Preto. Djalma, que também é secretário de Cultura da  Associação dos Remanescentes Quilombolas de Igarapé Preto a Baixinha (ARQIB), iniciou na saúde a partir de conhecimentos práticos que depois foram incrementados com uma formação técnica. Atualmente ele também se dedica ao ensino superior na área de enfermagem e obstetrícia. “Quero continuar meu trabalho aqui na comunidade, porque fomos abandonados aqui, principalmente no período da Pandemia. Acredito muito nessa ação. Ela vai dar um norte sobre os primeiros passos que devemos dar com relação à melhora da saúde. A nossa integração, como profissional, como o conhecimento daqueles que vêm com o conhecimento técnico, vai melhorar bastante a situação da saúde aqui”, afirmou Djalma Ramalho.

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Primeira Pessoa

Até chegar à Comunidade Quilombola do Igarapé Preto, uma das 12 que fazem parte da Associação das Comunidades Remanescente de Quilombo de Igarapé Preto a Baixinha (ARQIB), eu nunca havia pisado em um quilombo, embora a trajetória do povo preto, meu povo, esteja ligada a eles. Para chegar lá, percorremos 265km de Belém à cidade de Baião, que fica às margens do Rio Tocantins. Baião é uma cidade pequena, com menos de 50 mil habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Representantes quilombolas reunidos na comunidade do Igarapé Preto com equipe multidisciplinar montada pelo Fundo Baobá

Para quem é urbano e criado em São Paulo, maior cidade do país, algumas coisas acabam não fazendo parte do nosso cotidiano, como fazer a travessia de um rio. E que rio é o Tocantins! Um mundo de água. Já estávamos em uma das margens antes da 6h da manhã. A travessia duraria uma hora. A temperatura era agradável, o que dava um sabor meio romântico àquela travessia em uma balsa de nome Camila. 

Quando alcançamos a margem oposta, fizemos um percurso de mais 30 minutos de carro por uma estrada de terra batida. A sede da ARQIB, que fica na comunidade de Igarapé Preto, tem um grande galpão, que logo soube ser uma construção quase comum nos quilombos. É no galpão da Associação que são feitas as reuniões, os comunicados que devem ser ouvidos e sabidos por todos e as grandes festas. A nossa chegada estava envolta em um clima de festa. As lideranças das comunidades atenderam de pronto ao chamado da ARQIB. 

Conversa no Galpão da Comunidade do Igarapé Preto, em Baião (Pará)

Fomos recebidos com um super e calórico café da manhã: sucos de cupuaçu e maracujá; bolo de chocolate, mandioca cozida, pão de queijo, bananas colhidas na plantação do local. Enfim, uma verdadeira festa. E como a conversa iria ser longa, o negócio foi comer bem para conseguir aguentar até a hora do almoço. 

A conversa para levantar as expectativas das lideranças comunitárias quilombolas sobre a ação de saúde foi bem produtiva. As experiências vividas por eles no período mais forte da pandemia da Covid-19 foram expostas e vão servir para balizar o que será feito na implantação da ação Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência. Os quilombolas tiveram perdas irreparáveis por conta da dificuldade de acesso ao teste diagnóstico, aos serviços, ao tratamento, aos kits de higiene e proteção individual, da demora em receber a vacinação.

Enquanto a conversa sobre experiências, expectativas e diretrizes acontecia, na cozinha o trabalho corria a todo vapor. Um feijão com mocotó foi preparado, com arroz branquinho, macarronada, guisado de pato e farofa. Difícil foi conter o sono depois de comer tudo isso, que estava muito bom. 

Deixamos a comunidade do Igarapé Preto por volta das 16h para retornar a Belém. A gama de informações colhidas foi muito grande. Ficam a expectativa da volta ao Pará para rever as pessoas e dar início às ações do projeto. Que será gratificante, não tenho a menor dúvida! 

Equipe multidisciplinar inicia projeto sobre saúde mental quilombola na tríplice fronteira nos municípios de Baião, Oeiras do Pará e Mocajuba

Equipe multidisciplinar inicia projeto sobre saúde mental quilombola na tríplice fronteira nos municípios de Baião, Oeiras do Pará e Mocajuba.

por Tayna Silva*

 

Com o intuito de promover saúde, em seu sentido mais amplo, nas comunidades quilombolas, a principal estratégia é a composição multidisciplinar da equipe de execução do projeto. Os principais eixos podem ser entendidos como: 1) saúde mental; e 2) comunicação popular. Entendendo que a nossa saúde mental é atravessada por ações coletivas e individuais, diretas e subjetivas, serão realizadas atividades de fortalecimento das estratégias de  desenvolvimento comunitário e outras que  interseccionam comunicação, prevenção de doenças e agravos, proteção dos direitos e cuidados em saúde integral da população.

O projeto Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência, como  conta Fernanda Lopes, diretora de programa do Fundo Baobá para Equidade Racial, “surge frente à necessidade de  enfrentamento ao racismo estrutural e considerando os impactos da pandemia da COVID-19. A pandemia traz um efeito duradouro, agrega novos desafios às comunidades que já vivenciavam a ausência do Estado brasileiro”. A diretora  reforça que o objetivo do projeto é, também, potencializar a compreensão de que as comunidades “têm uma fortaleza, os muitos desafios podem ser redimensionados e convertidos em experiências de transformação. Para mitigar os riscos e impactos psicossociais, as respostas da própria comunidade precisam ser consideradas”.

Bianca Santos, psicóloga clínica e social que integra a equipe do projeto, chama a atenção para a abordagem sobre saúde mental nessas comunidades e afirma que vai para o território com a expectativa de entender “o que significa saúde para eles, pois a saúde que a gente entende como saúde mental […] pode não fazer sentido, já que o significado de saúde é muito diverso. Saúde pode ser um rio, pode ser a floresta, pode ser tomar café na porta da casa dos vizinhos” e acrescenta que a psicologia tem o compromisso político e não colonizador de “não levar os preceitos que a gente entende e constrói na academia para o território. Afinal, o território possui suas próprias dinâmicas, seus próprios saberes e saúde é, necessariamente, considerar tudo isso”. A fala de Bianca afirma o compromisso coletivo de fazer com que o projeto seja, acima de tudo, um espaço de respeito à diversidade, às comunidades e saberes ancestrais que irão atravessar todos os espaços de execução.

É nesse sentido que Magno Nascimento, liderança quilombola do Quilombo África e coordenador de projetos da Malungu-PA, nos conta sobre a expectativa da ação em amparar a comunidade, mas também, e sobretudo, de chegar a outras camadas sociais, onde a expectativa é que “seja principalmente benéfico para a comunidade, uma vez que é um projeto que permite entender a realidade local e realizar controle social, e advogar por direitos”. 

 

Encontro realizado em 17 de dezembro de 2022 no Pará,  com as lideranças das comunidades quilombolas de Igarapé Preto, e membros das equipe multidisciplinar envolvida no projeto.

 

O projeto se volta para as 12 comunidades quilombolas que hoje fazem parte da ARQIB – Associação dos Remanescentes Quilombolas de Igarapé Preto e Baixinha, instituição com aproximadamente 2 mil associados, que integra comunidades quilombolas localizadas em 3 municípios do Pará: Baião, Oeiras do Pará e Mocajuba, o que alcança um entorno de 3 mil famílias, com sede em Igarapé Preto, onde acontecem as principais organizações e mobilizações entre as comunidades. A Associação é quem detém o título coletivo de posse que alcança as 12 comunidades em volta. É um espaço de integração fortalecido, sobretudo, durante o período pandêmico, onde casos alarmantes de restrição de acesso à saúde básica e mobilidade fizeram com que as comunidades registrassem números altos de mortalidade e sequelas da COVID-19, ao passo que se aproximaram e tiveram um amadurecimento de articulação interna, criando tecnologias de sobrevivência frente ao que estava acontecendo, como as barreiras estruturadas e fiscalizadas pelos próprios moradores, e que foram estratégia focal na proteção coletiva; ações que hoje impactam diretamente na saúde mental e bem viver dos moradores.

Em entrevistas com lideranças locais, foi possível compreender que, fruto da articulação direta com o território, o projeto tem expectativas positivas dada à boa receptividade na comunidade. Para Marinilva Martins, presidenta da ARQIB, o projeto chega em um momento importante para as comunidades e afirma: “trabalhar na organização desse projeto, junto com o Fundo Baobá, é muito importante para o nosso território e tenho certeza que isso vai ajudar muito a nos fortalecer como pessoa, como mulher, como liderança”. E em complemento da fala de Marinilva, Sandra Martins, parteira e quilombola ribeirinha da comunidade de Pampelonha e representante da ARQIB no seu território, também nos conta a expectativa diante do projeto e diz que é “ver algo no futuro melhorar, que a gente vai começar que nem um bebê, e a gente já começou a querer levantar com vocês trazendo o projeto aqui pra nós […] e a gente vai chegar lá, falando bonito do projeto que a gente começou. A expectativa é de dias melhores”. 

E assim o projeto vem tecendo as primeiras construções, no intuito de promover educação em saúde mental e contribuir para estratégias de resiliência em comunidades que compõem a Associação dos Remanescentes de Quilombo de Igarapé Preto e Baixinha, região Tocantina, estado do Pará, fortalecendo lideranças comunitárias, ampliando canais de diálogo que fortaleçam a democratização do acesso à informação sobre direito à saúde e contribuam com estratégias de promoção da saúde mental e resiliência comunitária. Ressaltando que somente junto das comunidades que lutam, resistem e constroem diariamente seus territórios é que todo o processo de execução irá acontecer, fortalecendo nossos fazeres, mutuamente tecidos e compartilhados, afirmando que a garantia de saúde e vidas quilombolas é uma necessidade e dever coletivo que não podem ser negligenciados. É uma questão de justiça. 

*Tayna Silva é comunicadora social e integrante da equipe da Negritar Filmes e Produções, produtora de impacto social, cultural e ambiental da Amazônia, que é parceira do Fundo Baobá na implementação do projeto  “Saúde Mental Quilombola: Direitos, Resistência e Resiliência”.



Conheça as organizações selecionadas e os seus projetos

Por Wagner Prado

Projetos de 8 estados brasileiros e Distrito Federal, representando 12 organizações, grupos e coletivos negros estão selecionados pelo edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial. As organizações selecionadas representam os estados do Acre e  Amapá (Norte); Bahia, Ceará e Pernambuco (Nordeste); Goiás (Centro Oeste); Rio de Janeiro (Sudeste); Rio Grande do Sul (Sul) e o Distrito Federal. Todas, ao longo dos próximos 18 meses, vão desenvolver projetos  que têm como ponto comum o combate ao racismo na Educação. O edital Educação e Identidades Negras: Politicas de Equidade Racial é uma iniciativa do Fundo Baobá, que tem como apoiadores na iniciativa a Imaginable Futures e a Fundação Lemann. 

O enfrentamento ao racismo por meio de políticas, ações e programas governamentais e não governamentais; a valorização da cultura das identidades negras, e o aumento de pessoas negras nos espaços de decisão e poder dentro do setor formal e não formal da educação, são as metas do edital. A Imaginable Futures e a Fundação Lemann, parceiros do Fundo Baobá, fizeram, em conjunto, um aporte de R$ 2,5 milhões no edital para que as 12 selecionadas recebam, cada uma, R$ 175 mil.  O recurso restante será utilizado na realização de atividades formativas, assessoria técnica e reuniões de ajustes. para ajustes e trocas de experiências. Todas essas atividades serão promovidas e coordenadas pelo Fundo Baobá. 

Perfil dos Selecionados

Há uma grande diversidade quando são pinçados os dados que fazem a composição das 12 organizações selecionadas pelo edital. Como dito acima, elas fazem parte de 8 estados brasileiros mais o Distrito Federal. Se formos analisar o tempo de atividade de cada uma, vamos encontrar, 2 (duas) delas já têm mais de 16 anos de atuação (Associação Cultural de Tradição Afro-Brasileira Afoxé Omô Nilê Ogunjá e Pesquisadores e Associação Retratores da Memória de Porteiras); 3 (três) atuam entre 11 e 15 anos (Articulação Nacional de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadores – Anpsinep, Cineclube Bamako e Coletivo Negro(a) Tia Ciatá; 5 (cinco) atuam de 6 a 10 anos (Associação de Mulheres Negras do Acre e Seus Apoiadores, Centro Comunitário de Audiovisual Luiz Orlando, Coletivo Atinúké, Movimento Nação Marabaixeira e Ponto de Cultura Grupo EX 13) 2, finalizando, 2 (duas) estão constituidas e atuam de 2 a 5 anos (Associação dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo e Oficina de Inovação e Ancestralidade). 

Olhando o recorte da influência geográfica, 3 (três) desenvolvem suas atividades de forma nacional; uma concentra seu trabalho em uma região do Brasil; cinco trabalham em seus estados de origem e três especificamente nos municípios em que estão localizadas. Com relação ao perfil do corpo diretivo, oito têm pessoas com 30 anos ou mais no seu corpo diretivo; três têm equilíbrio entre jovens (29 anos ou menos) e adultos (30 anos ou mais) e uma tem corpo diretivo composto por jovens (29 anos ou menos). 

No quesito gênero, os grupos diretivos de nove organizações têm em sua composição diretiva pessoas de grupo LGBTQIAPN+. Três não têm.  Pessoas especiais estão presentes na direção de três organizações. Dez dos grupos selecionados possuem parceiros que os auxiliam em termos financeiros e dois deles têm parceiros pontuais, que dão suporte para ações programáticas. 

Para se habilitarem ao edital as organizações que se inscreveram tiveram que fazer uma análise apurada sobre o que pretendiam propor, além das respostas que serão dadas frente aos desafios previamente mapeados. Em termos de desafios, os seguintes tópicos foram apontados pelas organizações: Logística, transporte e alimentação para profissionais, estudantes e membros; impactos emocionais psicológicos na saúde mental de educadores e estudantes; invisibilidade das mulheres negras nas ciências e tecnologias; negação e desvalorização das identidades e culturas negras e quilombolas; pouca aplicação da Lei 10.639/03 nas ciências exatas e da natureza; falta de ferramentas para efetivação de políticas públicas; falta de ações voltadas para a elevação da autoestima de estudantes; baixa formação de novas lideranças femininas negras que atuam na educação; racismo religioso de educadores e das comunidades ao entorno.   

Vencidas as dificuldades previstas, o caminho leva à busca dos resultados esperados ao final do projeto. E as perspectivas vislumbradas pelas organizações, grupos e coletivos participantes do edital são bem animadoras: Escolas sensibilizadas para implantação da Leis 10.639/2003 e 11.645/2008; perspectiva racial introduzida dentro do sistema socioeducativo; mais mulheres negras na pós-graduação; docência universitária e cargos de alto escalão; parcerias e maior articulação com comunidades e grupos locais; aprendizados dos projetos incorporados pelos espaços de educação; jovens, pais, professores e gestores da educação interessados no terma do projeto; lideranças negras juvenis fortalecidas e engajadas com o tema da educação; metodologias que fortaleçam processos de atendimento, escolarização e escuta; uso da tecnologia ampliado na periferia e em comunidades tradicionais para enfrentar o racismo e fortalecer as identidades negras; jovens negros com uma percepção positiva sobre si e sua comunidade. 

Toda essa interação e desenvolvimento ao longo do projeto são vistas como geradoras de transformações pessoais e institucionais marcantes. Entre elas, foram apontadas as seguintes como focos: Habilidades gerenciais potencializadas; capacidade de intervenção ampliada; aumento do interesse por saberes científicos; fortalecimento das relações; ampliação do engajamento político; qualificação na produção e disseminação de conteúdos e na realização de processos formativos;fortalecimento de nossas relações com comunidades e com nossos parceiros. Tudo isso irá fortalecer no corpo diretivo das instituições o desenvolvimento de habilidades de liderança como:  Comunicação estratégica e assertiva; ação em rede e atuação junto a parceiros; visão crítica e tomada de decisões; cursos e treinamentos técnicos específicos; gestão de tempo e priorização; análise de contextos complexos, mapeamento de atores e riscos. 

As associações, grupos e coletivos selecionados consideram o trabalho com educação fundamental para que questões relativas às diferenças sociais sejam corrigidas, assim como a difusão da cultura negra. A fala de Irailda Leandro, da  Associação Dos Quilombolas e Descendentes do Mundo Novo, da cidade de Buíque, em Pernambuco, revela isso: “Só vamos sair desse ciclo de pobreza e desigualdade com Educação”. Carlos Peru, líder do Movimento Nação Marabaixeira, de Macapá, no Amapá, fala sobre uma particularidade do seu estado. “50% da população do Amapá se declara negra. Com a nossa participação nesse edital, vamos chegar ao nosso objetivo de difundir a cultura negra em nosso estado.”

As Organizações e seus Projetos

Para conhecer mais de perto os projetos das organizações selecionadas, acesse este link